Daniela Cristina Miyagaki
AVALIAÇÃO DA BIOCOMPATIBILIDADE
DE CIMENTOS ENDODÔNTICOS EM
TECIDO SUBCUTÂNEO DE RATOS,
E SUA RELAÇÃO COM O SUBTIPO
DE MACRÓFAGO M1
Uberlândia, 2011
Dissertação apresentada à Faculdade
de Odontologia da Universidade
Federal de Uberlândia, para obtenção
do Título de Mestre em Clínica
Odontológica, Área de Concentração
em Endodontia.
Daniela Cristina Miyagaki
Avaliação da biocompatibilidade de cimentos
endodônticos em tecido subcutâneo de rato e
sua relação com o subtipo de macrófago M1
Orientador: Prof. Dr. João Carlos Gabrielli Biffi
Co-Orientadora: Profa. Dra. Camilla Christian Gomes Moura
Banca Examinadora:
Prof. Dr. João Carlos Gabrielli Biffi
Profa. Dra. Camilla Christian Gomes Moura Profa. Dra. Paula Dechichi
Profa. Dra. Izabel Cristina Fröner
Uberlândia 2011
Dissertação apresentada à Faculdade de
Odontologia da Universidade Federal de
Uberlândia, para obtenção do Título de
Mestre em Clínica Odontológica, Área de
Concentração em Endodontia.
DEDICATÓRIA
Dedico mais esta conquista a meus queridos pais,
Olímpio e Márcia, que com muito carinho
sempre me apoiaram nesta trajetória
e acima de tudo acreditaram em mim.
Muito obrigada !!!
I
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
“A DEUS, que nos presenteou com a liberdade, nos abençoou com a
inteligência, nos deu a graça de lutarmos para a conquista de nossas
realizações!” Sem Ele nada seria possível!
“Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a
vida e viver com paixão, perder com classe e viver com ousadia,
pois o triunfo pertence a quem mais se atreve.”
Charles Chaplin
Aos meus pais, MÁRCIA E OLÍMPIO, que sempre estiveram ao meu
lado, apoiando nos momentos difíceis, confortando e guiando meus passos. Se
hoje estou aqui é porque nunca mediram esforços para minha formação
profissional e educação. Muito obrigada pelo carinho, dedicação e atenção que
sempre tiveram comigo! Amo vocês!!!
“Não se mede o valor de um homem pelas suas roupas
ou pelos bens que possui, o verdadeiro valor do homem é seu
caráter, suas idéias e a nobreza de seus ideais”
Charles Chaplin
Aos meus irmãos, GRAZI E ANDRÉ, obrigada pelo apoio, carinho e
incentivo que sempre tiveram comigo.
Ao meu sobrinho ANDREZINHO, que mesmo de longe, me faz sorrir
e com seu jeitinho doce enche meu coração de alegria.
Aos meus parentes de Uberlândia: Tia Nê, tia Kaori, tio Márcio e
minha prima Fer, pela inestimável ajuda durante minha estadia em
II
Uberlândia, obrigada pelos almoços de domingo, pelas risadas, pela
compania!!!
A toda minha FAMÍLIA, pelo carinho, amor durante toda vida.
Não há palavras que definam como vocês foram
importantes nessa caminhada!!!
Ao PROF. JOÃO CARLOS GABRIELLI BIFFI, meu orientador, pela
paciência, dedicação e confiança em mim depositadas durante a execução
deste trabalho. Um exemplo de competência, profissionalismo e mestre!
Levarei seus ensinamentos por toda vida!
À CAMILLA C. GOMES MOURA, minha co-orientadora, minha
sincera gratidão pela imensa dedicação para concetrização deste estudo.
Obrigada pelo constante incentivo, por não medir esforços para me ajudar no
que fosse preciso, e com quem aprendi muito!
“Uns são homens;
Alguns são professores;
Poucos são mestres.
Aos primeiros, escuta-se;
Aos segundos, respeita-se;
Aos últimos, segue-se.
Se hoje enxergo longe, é porque fui
colocado em ombros de gigantes!”
Autor desconhecido
À PROFa. PAULA DECHICHI, um exemplo de pessoa, por quem
tenho imensa admiração, sempre disposta a apoiar, dar conselhos, ajudar,
ensinar, principalmente durante as dificuldades do trabalho! Obrigada por tudo!
III
Ao PROF. CARLOS JOSÉ SOARES, pelo constante estímulo à
pesquisa, pela sua competência, dedicação, determinação em busca de seus
objetivos. Agradeço pela ajuda no momento que mais precisei!
Aos professores da pós-graduação, pelos ensinamentos durante
minha formação de mestre.
À Marlete, pela amizade, companheirismo e pela oportunidade
cedida para participar no centrinho de oclusão.
Aos colegas do mestrado Flaviana, George, Danilo e as alunas de
iniciação Talita e Carla, pela valiosa colaboração durante a execução do
procedimento cirúrgico.
Aos amigos do mestrado: Karla Zancopé, Lucas Dantas, João
Paulo Lyra, George Soares, Ana Cristina Campos, Ronaldo Almeida, Maíra,
Anísio, Andréia Valdívia, Bruno Reis, Mariana Pereira, Flaviana Rocha, Luciana
Zaramela, e, em especial, Renata Gil, Germana Camargos, Marília Cherulli,
Marina Roscoe, Érice França e Thaís Cunha que dividiram essa caminhada,
compatilhando as dificuldades, e que com certeza deixarão muita saudade!
À Germana, que se tornou uma grande amiga e que com certeza
continuará durante a realização de mais um sonho, o doutorado. Sua amizade,
senso de humor e companheirismo em todos os momentos são incomparáveis!
À Thaís, minha companheira de pesquisa, obrigada pelos
conselhos, pela ajuda no momento que mais precisei! Espero que a distância
não impeça que nossa amizade continue! Sentirei muita saudade de você!
“Depois de algum tempo você aprende que verdadeiras amizades
continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e o que importa
não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.”
W. Shakespeare
IV
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao Curso de pós-graduação da Faculdade de Odontologia
da Universidade Federal de Uberlândia, pela oportunidade oferecida.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) pela concessão da bolsa de estudos.
À Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG)
pelo auxílio financeiro e financiamento desta pesquisa.
Ao Prof. Marcelo Beletti e Prof. Paulo César pela valiosa
contribuição durante processo de qualificação.
Ao laboratório de histologia e patologia por gentilmente ceder as
instalações e equipamentos para a realização deste estudo.
Ao departamento de prótese por carinhosamente me acolher durante
esses dois anos.
Aos funcionários: Fabrício, Marcelo, Sr. Advaldo e Sr. Hélio, sempre
dispostos a ajudar durante a execução da pesquisa.
Às secretárias da pós-graduação Graça e Abigail, pela atenção e
carinho que sempre tiveram comigo!
A todas as pessoas que estiveram comigo durante esses dois anos
e que de alguma forma contribuíram para a realização deste trabalho!!!
“A gratidão é uma forma singular de
reconhecimento, e o reconhecimento é uma
forma sincera de gratidão”
Alan Vaszatte
V
“De tudo ficaram três coisas:
A certeza de que estamos sempre começando...
A certeza de que precisamos continuar...
A certeza de que seremos interrompidos
antes de terminar...
Portanto, devemos:
Fazer da interrupção, um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro...”
Fernando Pessoa
VI
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS 1
RESUMO 3
ABSTRACT 4
1. INTRODUÇÃO 5
2. REVISÃO DE LITERATURA 9
2.1. Cimentos endodônticos – endodontia contemporânea 10
2.2. Biocompatibilidade 15
2.3. Implante subcutâneo 18
2.4. Tecido conjuntivo normal versus inflamação 20
2.5. Papel dos macrófagos no padrão de resposta- subtipos
de macrófago
24
3. PROPOSIÇÃO 29
4. MATERIAL E MÉTODOS 30
4.1. Materiais 31
4.1.1. Animais 31
4.1.2. Cimentos Endodônticos 31
4.1.3. Corpos de prova 32
4.2. Métodos 33
4.2.1. Da implantação subcutânea dos tubos 33
4.2.2. Sacrifício dos animais e remoção das peças cirúrgicas 36
4.2.3. Processamento histológico 37
4.2.4. Análise em HE 38
4.2.5. Avaliação imunohistoquímica dos macrófagos M1 38
4.2.5.1. Análise estatística 39
5. RESULTADOS 41
5.1. Análise histopatológica descritiva 42
5.1.1. Sealer 26 e Epiphany 42
5.2. Análise da imunomarcação de macrófagos M1 50
6. DISCUSSÃO 56
VII
6.1. Metodologia 57
6.2. Períodos experimentais empregados e método de
análise dos resultados
61
6.3. Cimentos utilizados e resultados obtidos 62
6.4. Relação macrófagos M1 e reação inflamatória 66
7. CONCLUSÕES 70
REFERÊNCIAS 72
ANEXO 82
VIII
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
% Por cento
< Menor
= Igual
cm Centímetro
DNA Ácido desoxirribonucléico
EUA Estados Unidos da América
g Grama
H2O2 Peróxido de hidrogênio
HE Hematoxilina e Eosina
IL Interleucina
iNOS Óxido nítrico sintase indutível
LPS lipopolissacáride
M1 Macrófago do tipo 1
M2 Macrófago do tipo 2
mg/kg Miligramas por quilo
ML Microscópio de luz
ml Mililitro
mm Milímetro
n° Número
NO Óxido nítrico
p Nível de significância
PBS Tampão salina-fosfato
pH Potencial hidrogeniônico
ROIS Radicais livres de oxigênio
Th Célula T helper
TNF Fator de necrose tumoral
μm Micrômetro
1
RESUMO
Considerando que o contato entre componentes tóxicos presentes em alguns
cimentos endodônticos e os tecidos perirradiculares podem conduzir a uma
reação inflamatória mais prolongada, e assim aumentar o período necessário
para cicatrização. O objetivo deste estudo foi avaliar a resposta tecidual dos
cimentos Sealer 26 e Epiphany, recém-manipulados, em períodos iniciais, após
implantação em subcutâneo de ratos e analisar a relação entre macrófagos M1
e reparo tecidual. Tubos de polietileno foram preenchidos com os materiais
teste e implantados em duas diferentes lojas cirúrgicas localizadas no dorso de
21 ratos wistar. Após 7, 14 e 21 dias, sete animais foram sacrificados e os
implantes removidos. Metade dos cortes foi corada com hematoxilina e eosina
e o restante submetido à imunohistoquímica. Para cada período experimental e
cimento, a intensidade da resposta inflamatória foi classificada segundo
critérios da FDI, e as células positivas para iNOS foram analisadas qualitativa e
quantitativamente, e então feita a análise estatística. A resposta tecidual na
lateral dos tubos correspondeu ao controle negativo do estudo. Observou-se,
para ambos os cimentos, uma reação inflamatória severa, a qual diminuiu com
o tempo. A imunomarcação mostrou uma marcação citoplasmática variável
para ambos os cimentos, ao longo do campo e em função do período de
análise. Houve diferença estatística significativa entre os cimentos Sealer 26 e
Epiphany aos 7 e 14 dias (p=0.0079 e p=0.0115, respectivamente), mas em 21
dias não houve diferença significativa (p=0.6545). Ao longo do tempo,
Epiphany mostrou maior número de células positivas para iNOS aos 14 dias,
apresentando diferenças significativas quando comparado aos períodos de 7
(p=0.0246) e 21 dias (p=0.5212). Já o Sealer 26 demonstrou ausência de
significância (p=0.3126). Foi possível concluir que Sealer 26 e Epiphany
apresentaram padrões de aceitabilidade dentro dos períodos iniciais avaliados.
Embora a marcação para M1 não possua relação direta com a intensidade da
inflamação e velocidade do reparo, sugerimos que a composição dos cimentos
resulte em formas diferentes de conduzir ao reparo.
Palavras-chave: Biocompatibilidade, materiais odontológicos, cimentos à base
de resina metacrilato, macrófagos, obturação do canal.
2
ABSTRACT
Consedering that the contact between the toxic components present in some
endodontic sealers and periradicular tissues can lead to a longer inflammatory
reaction, increasing the time required to repair, resulting in postoperative pain
and even reactions of delayed type hypersensitivity.The purpose of this study
was to evaluate the tissue response of freshly mixed Sealer 26 and Epiphany
root canal sealers in early periods after implantation in subcutaneous tissue of
rats and analyze the relationship between macrophages M1 and tissue repair.
Polyethylene tubes were filled with the test materials and implanted into two
different pockets of the dorsum of twenty-one Wistar rats. After 7, 14 and 21
days, seven animals were killed and the implants were removed. Half of the
histological sections were processed for hematoxilin and eosin and the rest
were stained by means of immunohistochemistry. For each experimental period
and sealer, the intensity of inflammatory response was classified according to
criteria stablished by the FDI, and the cells positive for iNOS were analized
qualitatively and quantitatively, and then subjected to the statistical analysis.
The connective tissue response along the lateral wall outside of each tube
served as a negative control for the study. A severe inflammatory reaction was
observed for both sealers which diminished with time. The immunolabeling
showed a variable cytoplasmatic staining for both sealers, along the field and
according to the period of analysis. There was a statistically significant
difference between Sealer 26 and Epiphany at 7 and 14 days (p = 0.0079 and p
= 0.0115, respectively), but in 21 days no significant difference was found (p =
0.6545). Over time, Epiphany showed a greater number of cells positive for
iNOS at 14 days, presenting significant differences when compared to periods
of 7 (p= 0.0246) and 21 days (p= 0.5212), while Sealer 26 showed no
significance (p= 0.3126). It was possible to conclude that Epiphany and Sealer
26 demontraded patterns of acceptability within the initial periods evaluated.
Although the immunolabeling for M1 has no direct relationship with the intensity
of inflammation and velocity of repair, we suggest that the composition of the
sealers results in different ways pf conducting to repair.
3
1. INTRODUÇÃO
O sucesso na terapia endodôntica depende de uma adequada
limpeza e modelagem do sistema de canais radiculares, seguido por uma
obturação tridimensional (Estrela, 2004; Leonardo, 2005). Para alcançar tal
objetivo, os materiais obturadores de canais radiculares devem apresentar
propriedades físicas e biológicas adequadas a fim de evitar possíveis irritações
aos tecidos perirradiculares (Sousa et al., 2004), propiciando estímulo para o
reparo apical e periapical (Leal et al., 1988).
Cimentos endodônticos são utilizados com o propósito de obter um
selamento o mais hermético possível por um longo período, impedindo assim, a
comunicação tanto da cavidade bucal, quanto da região periapical, com o
interior do canal radicular (Hauman & Love, 2003b; Imai & Komabayashi,
2003).
Estão disponíveis no mercado vários cimentos endodônticos com
diferentes bases: óxido de zinco e eugenol, hidróxido de cálcio, resinas epóxica
ou metacrilato, e ionômero de vidro. Estes devem preencher vários requisitos,
afim de que os resultados alcançados ao fim do tratamento sejam satisfatórios,
como por exemplo, apresentar boa tolerância tecidual, estimular ou permitir
deposição de tecido mineralizado, ter ação antimicrobiana, não sofrer
contrações e não ser solubilizado dentro do canal radicular (Leonardo, 2005;
Desai & Chandler, 2009).
No entanto, até o presente momento, ainda não há um cimento que
preencha todos esses requisitos, o que vem estimulando o desenvolvimento de
novos materiais com o objetivo de aumentar a efetividade de preenchimento do
canal radicular (Susini et al., 2006).
Para que um novo material obturador seja introduzido no mercado,
suas propriedades devem ser cuidadosamente averiguadas a fim de assegurar
clinicamente sua eficácia e indicar seu uso. As metodologias recomendadas
pela Federação Dentária Internacional - FDI (1980) e International Standards
Organization - ISO (1984) para avaliar a biocompatibilidade dos materiais
endodônticos incluem testes iniciais, testes secundários e testes de aplicação.
A avaliação por meio de testes iniciais é realizada utilizando ensaios in vitro, os
5
quais analisam o perfil de toxicidade do material; os testes secundários são
executados in vivo, utilizando animais de laboratório e podem incluir
experimentos de implantação; e, por fim, os testes de aplicação são realizados
em seres humanos ou primatas (Hauman & Love, 2003a).
Várias pesquisas têm sido realizadas em roedores para verificar a
biocompatibilidade de materiais obturadores (Bernath & Szabo, 2003; Sousa et
al., 2006; Onay et al., 2007; Zafalon et al., 2007; Gomes-Filho et al., 2008; de
Oliveira et al., 2010; Zmener et al., 2010) e retro-obturadores (Holland et al.,
1999; Sousa et al., 2004; Shahi et al., 2006).
Na última década, foi introduzido no mercado um sistema obturador
modificado chamado Epiphany-Resilon®, com o objetivo de formar um
monobloco no interior dos canais radiculares (Teixeira et al., 2004; de Oliveira
et al., 2006; Ezzie et al., 2006; Versiani et al., 2006). Epiphany® é um cimento
dual cuja matriz é uma mistura de bisfenol A metacrilato glicídio, etoxilato Bis-
GMA, resina dimetacrilato uretano e metacrilatos hidrofílicos disfuncionais
(Teixeira et al., 2004). Este cimento pode ser utilizado juntamente com os
cones sintéticos de polímero de poliéster Resilon® (Research LLC, Madison,
CT), os quais interagem quimicamente formando um conjunto, que se adere às
paredes do canal radicular (Shipper et al., 2004; Teixeira et al., 2004; Versiani
et al., 2006).
Embora vários estudos tenham investigado as propriedades
biológicas deste cimento quanto à citotoxicidade (Key et al., 2006; Susini et al.,
2006; Eldeniz et al., 2007; Lodiene et al., 2008; Al-Hiyasat et al., 2010) e
biocompatibilidade tecidual (Sousa et al., 2006; Onay et al., 2007; de Campos-
Pinto et al., 2008; Garcia Lda et al., 2010), até o momento nenhum estudo se
propôs analisar a relação entre fenótipo de macrófagos presentes na região de
implantação e o padrão de reparo tecidual promovido por este material em
subcutâneo de ratos. A importância de se analisar este tipo celular em testes
subcutâneos, reside no fato de que os macrófagos predominam no infiltrado
inflamatório em reposta a implantação de cimentos endodônticos (de Oliveira
Mendes et al., 2003). Estes participam tanto da fase inflamatória, onde
predominam atividades inflamatórias e/ou citotóxicas, como na fase tardia em
6
que predominam atividades anti-inflamatórias e regeneração tecidual (Stout et
al., 2005; Rezende et al., 2007; Brown et al., 2009; de Oliveira Mendes et al.,
2010).
Na última década, alguns pesquisadores relataram a hipótese de
que os macrófagos se desenvolvem em dois grandes subgrupos funcionais,
chamados M1 e M2, os quais desempenham padrões inflamatórios versus anti-
inflamatórios (Stout et al., 2005; Laskin, 2009). Esses subtipos podem ser
encontrados simultaneamente no tecido, mas geralmente a predominância de
M1 está associada a uma reação inflamatória de maior porte e liberação de
mediadores pró-inflamatórios (Rezende et al., 2007), além de participarem da
destruição e reorganização da matriz extracelular (Kou & Babensee, 2011). O
subtipo M2 tem caráter anti-inflamatório e modulatório participando da
remodelação tecidual, angiogênese e reparo (Deonarine et al., 2007).
Apesar da importância da composição dos biomateriais na atividade
dos macrófagos (Bhardwaj et al., 1997; Brown et al., 2009) apenas alguns
estudos avaliaram in vitro os efeitos de cimentos endodônticos sobre a
atividade dessas células (de Oliveira Mendes et al., 2003; Rezende et al., 2007;
de Oliveira Mendes et al., 2010), já que podem influenciar a magnitude, o tipo e
duração da resposta inflamatória imune (Bhardwaj et al., 1997). Além disso,
fenótipos funcionais de macrófagos podem ser alterados em consequência da
alteração em seu micro-ambiente (Stout et al., 2005; Laskin, 2009), como por
exemplo, as propriedades dos materiais (Bhardwaj et al., 1997; de Oliveira
Mendes et al., 2003; Rezende et al., 2007; Brown et al., 2009; de Oliveira
Mendes et al., 2010).
Diante disso, o presente estudo objetivou avaliar a reação tecidual
provocada pelo cimento Epiphany, tendo como padrão de comparação outro
cimento resinoso, Sealer 26® (Dentsply Ind. And Com. Ltda,- Petrópolis- RJ,
Brasil), o qual é um cimento endodôntico à base de resina epóxica, contendo
óxido de bismuto e hidróxido de cálcio (Tanomaru-Filho et al., 2006). Devido à
toxicidade inicial que cimentos apresentam antes de tomarem presa, optou-se
por avaliar o efeito desses materiais recém-manipulados, analisando também a
7
presença de macrófagos M1 de acordo com tipo de cimento, e a relação entre
subtipo de macrófagos M1 e o reparo tecidual.
8
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Cimentos Endodônticos – Endodontia Contemporânea
A terapia endodôntica tem como objetivo realizar a adequada
limpeza e modelagem do sistema de canais radiculares, possibilitando assim,
uma obturação o mais hermética possível. Para este propósito, têm-se utilizado
materiais de preenchimento como cones de guta-percha ou cones de resina
sintética termoplástica (Resilon) associados a cimentos endodônticos, os quais
devem possuir adequadas propriedades físicas, químicas e biológicas
(Leonardo et al., 2008).
Os materiais obturadores endodônticos devem apresentar vários
requisitos biológicos, dentre os quais podemos citar: apresentar boa tolerância
tecidual, ser reabsorvido no periápice em casos de extravasamentos
acidentais, estimular ou permitir a deposição de tecido mineralizado no nível do
ápice, ter ação antimicrobiana e não desencadear resposta imune nos tecidos
apicais e periapicais (Leonardo, 2005; Bernardes et al., 2010). Já, quanto às
propriedades físicas, deve ser de fácil manipulação e inserção, apresentar-se
plástico no momento da inserção e tornando-se sólidos posteriormente, possuir
bom tempo de trabalho, não deve sofrer contrações e nem ser permeável, deve
apresentar bom escoamento, viscosidade e aderência, não ser solubilizado
dentro do canal radicular, possuir pH próximo ao neutro, ser radiopaco, não
manchar as estruturas dentais, ser passível de esterilização e ser de fácil
remoção (Leonardo, 2005; Schwartz, 2006; Desai & Chandler, 2009).
Os cimentos endodônticos mais freqüentemente utilizados na prática
clínica são os cimentos à base de óxido de zinco e eugenol, ionômero de vidro,
os que contêm hidróxido de cálcio, à base de resina, silicone e, mais
recentemente, à base de agregado trióxido mineral (Zmener et al., 2005;
Bernardes et al., 2010).
Os cimentos à base de óxido de zinco e eugenol foram bastante
utilizados durante muitas décadas, apesar de não apresentar uma resposta
biológica favorável como demonstrado em estudos in vitro (Guigand et al.,
10
1999) e in vivo (Barbosa et al., 1993; Mittal & Chandra, 1995; Figueiredo et al.,
2001; Zmener et al., 2010). A baixa tolerância tecidual desse cimento
provavelmente está relacionada à lenta e prolongada liberação de eugenol
(Kolokouris et al., 1998; Hauman & Love, 2003b; Kaplan et al., 2003). O efeito
irritante do eugenol pode estar relacionado à sua capacidade de penetração
nas células, causando desnaturação protéica, levando a uma subsequente
perda da função e desintegração celular (Kozam & Mantell, 1978; Silva et al.,
1997). Além disso, os íons zinco parece ser a causa secundária dessa
atividade deletéria (Economides et al., 1995).
Na tentativa constante de obter um melhor resultado biológico após
o tratamento, cimentos à base de óxido de zinco e eugenol foram substituídos
pelos cimentos que continham hidróxido de cálcio (Leonardo et al., 1997; Silva
et al., 1997), os quais têm sido amplamente empregados. O hidróxido de cálcio
possui inúmeras propriedades entre elas, a atividade antimicrobiana devido ao
seu alto pH (Hauman & Love, 2003a) e a capacidade de estimular ou promover
reparo através de formação de tecido mineralizado (Seux et al., 1991;
Economides et al., 1995). Para que esses cimentos tenham efetividade
terapêutica, o hidróxido de cálcio deve ser dissociado em íons Ca2+ e OH-,
devendo ser liberados ao longo do tempo (Hauman & Love, 2003b). Porém,
essa liberação de íons pode afetar a integridade estrutural dos cimentos além
de comprometer o selamento ao longo do tempo (Hauman & Love, 2003b).
Portanto, cimentos como Sealapex e CRCS podem facilmente se desintegrar
no tecido (Soares et al., 1990) e assim causar inflamação crônica (Hauman &
Love, 2003b). No entanto, os mecanismos reais pelos quais o hidróxido de
cálcio irá agir nos tecidos circundantes ainda não está claro (Economides et al.,
1995). No geral, esses cimentos apresentam boa citocompatibilidade (Mittal &
Chandra, 1995; Kolokouris et al., 1998; Ersev et al., 1999; Gomes-Filho et al.,
2007)
Sealer 26® também é um cimento endodôntico que contém
hidróxido de cálcio, porém com base resinosa, cuja modificação em sua
fórmula é baseada na substituição da prata da fórmula original (AH 26) pelo
hidróxido de cálcio (Batista et al., 2007). Sealer 26 é composto de resina
11
epóxica, óxido de bismuto e hidróxido de cálcio (Tanomaru-Filho et al., 2006),
sendo conhecido por suas excelentes propriedades de selamento, quando
usado como material obturador de canais (Siqueira et al., 2001b) ou retro-
obturador (Siqueira et al., 2001a). Além disso, possui ótima capacidade de
prevenir microinfiltração bacteriana (Siqueira et al., 1999; Siqueira et al.,
2001a), boa radiopacidade (Tanomaru-Filho et al., 2008), baixa solubilidade
quando comparados ao CRCS e Sealapex (Fidel et al., 1994) e menor
capacidade antimicrobiana quando comparado aos cimentos Endomethazone,
Endomethazone N, AH Plus e Endofill (Gomes et al., 2004).
Em testes de citotoxicidade, Sealer 26 demonstrou resultados
bastante satisfatórios onde foi considerado o menos tóxico entre os materiais
testados por não liberar quantidades significantes de substâncias tóxicas
(Barbosa et al., 1993).
Em estudos in vivo realizados com Sealer 26, observou-se uma
reação inflamatória leve ou ausente (Leonardo et al., 1997; Figueiredo et al.,
2001), podendo resultar na formação de tecido mineralizado em tecido
conjuntivo de ratos (Holland et al., 2002). Segundo Tanomaru-Filho et al.
(2006), um aumento da proporção pó/líquido do cimento Sealer 26 resulta em
boa resposta tecidual, proporcionado pelo aumento da quantidade de hidróxido
de cálcio, conduzindo a um satisfatório reparo apical e periapical. Entretanto,
outros estudos demonstraram resultados desfavoráveis para este cimento
(Silva et al., 1997; Veloso et al., 2006) mesmo após um maior período de
observação.
Além dos cimentos à base de resina epóxica como Sealer 26 e AH
Plus, os cimentos resinosos também incluem cimentos à base de metacrilato
(Epiphany®), polivinil (Diaket-A®, ESPE-Premier, Norristown, EUA) e
polidimetilsiloxano (Roeko-Seal®, Langenau, Germany) (Hauman & Love,
2003b).
Em geral, os cimentos resinosos apresentam adequadas
propriedades, como bom escoamento e tempo de presa (Versiani et al., 2006),
radiopacidade (Carvalho-Junior et al., 2007), resistência adesiva (Eldeniz et al.,
12
2005), baixa microinfiltração coronária (Kim et al., 2010) e boa compatibilidade
tecidual (Leonardo et al., 1999).
Segundo Kim et al. (2010), os cimentos à base de resinas
metacrilato podem ser divididos em 4 gerações: Hydron® (Hydron
Technologies, Inc, Pompano Beach, FL) pertence à primeira geração e surgiu
em meados da década de 70; EndoRez® (Ultradent Products Inc, South
Jordan, UT) que é um cimento hidrofílico dual da segunda geração; FibreFill
R.C.S (Pentron Clinical Technologies, Wallingford, CT), Epiphany ou RealSeal
(SybronEndo, Orange, CA) os quais são auto-condicionantes da terceira
geração; e por fim, os cimentos MetaSeal (Parkell Inc) ou RealSeal SE
(SybronEndo) os quais são auto-adesivos.
Entre os cimentos classificados, definidos da terceira geração,
podemos citar o Epiphany, que tem ganhado considerável popularidade entre
endodontistas e clínicos gerais (Shipper et al., 2004; de Oliveira et al., 2006),
devido às suas características hidrofílicas que os possibilitam penetrar nos
túbulos dentinários (Zmener et al., 2008), sua adesividade à dentina radicular
através do uso de primers auto-condicionantes e aos materiais obturadores
(Shipper et al., 2004). Este apresenta uma matriz constituída por uma mistura
de bisfenol A metacrilato glicídio, etoxilato Bis-GMA uretano de metacrilato e
metacrilatos hidrofílicos (Teixeira et al., 2004). No entanto, alguns estudos
demonstraram que alguns destes cimentos à base de resina, apresentaram
toxicidade e mutagenicidade (Huang et al., 2002; Hauman & Love, 2003b).
Porém, foi lançado como um sistema formado por um polímero de
resina sintética termoplástica (Shipper et al., 2004) denominado Resilon®
(Pentron clinical Technologies, LLC, Wallingford, CT, EUA), associado ao
cimento polimerização dual e um primer auto-condicionante.
A combinação Resilon-Epiphany forma rapidamente um bloco único
ou monobloco no interior do canal radicular (Shipper et al., 2004), interage
quimicamente com a dentina formando um monobloco de resina que se adere
às paredes do canal radicular por meio de tags intratubulares (Ezzie et al.,
2006; Versiani et al., 2006). Quanto às suas propriedades físicas, Souza et al.
(2009), constataram que Epiphany apresentou alto escoamento, baixa
13
resistência adesiva à dentina e maior stress de polimerização que AH Plus.
Estudos prévios têm verificado que o monobloco Resilon-Epiphany apresenta
significativamente menor microinfiltração que a guta-percha (Shipper et al.,
2004; Shipper et al., 2005), além de uma melhor expansão flexural e ser
removido por meio de solventes ou calor (Ezzie et al., 2006). Canais obturados
com Resilon-Epiphany também têm mostrado serem mais resistentes à fratura
quando comparados àqueles obturados com guta-percha (Teixeira et al., 2004).
No entanto, outros estudos verificaram que a adesão deste sistema à dentina
radicular não foi superior quando comparado a outros tipos de cimentos
resinosos (Gesi et al., 2005; Ungor et al., 2006; Ribeiro et al., 2008), além de
apresentar baixa resistência adesiva ao Resilon (Hiraishi et al., 2005).
Adicionalmente, outros autores concluíram que nenhuma das associações
guta-percha com o cimento AH Plus ou Resilon com Epiphany proporcionaram
um selamento apical completamente hermético, embora tenham sugerido que
uma vantagem do uso de Resilon-Epiphany é o seu imediato selamento
coronal, devido à sua característica de polimerização dual (Tay et al., 2005).
Em um estudo recente, Epiphany foi associada a uma menor
quantidade de periodontite apical (Shipper et al., 2005; Leonardo et al., 2007),
o que pode estar associado à maior resistência à microinfiltração coronária
(Shipper et al., 2004). A alta liberação de cálcio pelo Epiphany também pode
explicar a redução da periodontite apical observada clinicamente (Shipper et
al., 2005). Além disso, a liberação de íons cálcio tem demonstrado favorecer
um pH mais alcalino do meio levando a efeitos bioquímicos que culminam na
aceleração do processo de reparo (Seux et al., 1991).
Imai & Komabayashi (2003) apontam como uma desvantagem desse
sistema a possível dificuldade de retratamento nesses casos, porém outros
estudos não apontaram tal dificuldade demonstrando boa efetividade de
remoção (de Oliveira et al., 2006; Ezzie et al., 2006).
Mais recentemente, versões auto-adesivas (“self-adhesive”) desses
cimentos têm sido introduzidas a fim de eliminar a aplicação do primer
(Resende et al., 2009), permitindo facilitar e agilizar o uso.
14
Em testes iniciais de citotoxicidade, realizados por diversos autores
(Key et al., 2006; Eldeniz et al., 2007; Lodiene et al., 2008; Al-Hiyasat et al.,
2010), o cimento Epiphany exibiu respostas severas de toxicidade em todos
intervalos de tempo, o que pode ser explicado pela liberação de altas
quantidades de componentes resinosos para o meio de cultura (Wataha et al.,
2003; Eldeniz et al., 2007). No entanto, segundo o fabricante, este cimento não
é mutagênico nem citotóxico, é absorvível e conseqüentemente menos irritante
que as resinas epóxicas convencionais e cimentos de óxido de zinco e
eugenol. Outro fator que poderia contribuir para a alta toxicidade desses
cimentos seria a liberação de partículas de carga do cimento resultantes de sua
degradação (Versiani et al., 2006).
Já com relação à sua histocompatibilidade, os resultados variam de
inflamação severa a leve, variando em função da metodologia utilizada e tempo
de análise (Scarparo et al., 2009). Diante disso, mais estudos precisam ser
realizados para auxiliar a compreensão de suas propriedades biológicas.
2.2 Biocompatibilidade
O termo biocompatibilidade refere-se ao conjunto de propriedades
desejáveis a um material que será inserido em um organismo vivo, como por
exemplo, os materiais obturadores e retro-obturadores. A biocompatibilidade
abrange vários aspectos do material, incluindo seu potencial citotóxico,
alergênico e mutagênico, não devendo apresentar efeitos tóxicos ou causar
danos teciduais (Costa, 2001). Está relacionado a vários fatores sendo a
composição e estabilidade, de extrema importância.
Os materiais que preenchem os requisitos biológicos são
denominados biomateriais, termo que se refere a qualquer substância que
possa ser usada por qualquer período de tempo como parte de um sistema e
que objetive o tratamento ou a reposição de qualquer tecido, órgão ou função
do corpo (Anusavice, 2005). Poucos materiais odontológicos, ou talvez
nenhum, são totalmente inertes sob ponto de vista fisiológico, visto que a
15
grande maioria pode apresentar em sua composição alguns componentes com
potenciais tóxicos ou irritantes. Adicionalmente, as reações químicas que
ocorrem durante a presa do material podem também produzir efeitos
indesejáveis (Anusavice, 2005). Embora esses materiais sejam geralmente
referidos como biomateriais, nem sempre apresentam todos os requisitos para
essa classificação.
Para a verificação das características citadas anteriormente, os
materiais de uso odontológico devem ser submetidos a testes específicos
(Schmalz, 2002), os quais se baseiam nas recomendações da International
Organization for Standardization (ISO) e a American National Standards
Institute/American Dental Association – ANSI/ADA (1972; 1997). Os testes de
biocompatibilidade propostos por estes órgãos reguladores baseiam-se em
uma seqüência de protocolos de pesquisa e possuem como objetivo final
determinar in vitro e in vivo, a segurança de aplicação clínica dos materiais
teste em seres humanos (Costa, 2001).
Estes testes podem ser de três níveis: testes iniciais, testes
secundários e testes de aplicação. Os testes iniciais pertencem ao primeiro
nível, e determinam de maneira preliminar, o comportamento biológico de
materiais e de seus componentes de modo a simular as reações biológicas
desencadeadas pelos materiais quando são colocados em ou dentro dos
tecidos do corpo (Hanks et al., 1996). Para este propósito, têm-se utilizado
parâmetros como crescimento celular, morfologia celular, conteúdo protéico
das células e liberação de mediadores como citocinas e quimiocinas (Hauman
& Love, 2003a).
Os testes de citotoxicidade são os mais comumente utilizados para
esta finalidade e oferecem a oportunidade de estudar a toxicidade promovida
pelo material diretamente ou através da liberação de seus componentes
(Hauman & Love, 2003a). São considerados rápidos, baratos e reprodutíveis
(Rezende et al., 2005).
Existem vários métodos disponíveis para avaliar a citotoxicidade de
um material odontológico como, por exemplo, o estudo das reações celulares
provocadas por cimentos endodônticos e dos mediadores liberados pelas
16
células após o contato (Rezende et al., 2005). Estes testes podem ser
realizados em células obtidas de linhagem (Susini et al., 2006) ou de cultura
primária (Eldeniz et al., 2007), o que inevitavelmente influi nos resultados.
Embora sejam testes de extrema importância, auxiliando na determinação da
citotoxicidade e compreensão dos mecanismos biológicos desenvolvidos pelos
cimentos, seus resultados não podem ser extrapolados para condições clínicas
(Costa, 2001).
De acordo com Spangberg & Langeland (1973), quando um material
for considerado tóxico in vitro, sempre causará irritação tissular, entretanto,
uma baixa toxicidade in vitro não implica em baixa irritação tecidual in vivo, pois
há muitos fatores envolvidos como a reabsorbilidade, solubilidade nos tecidos,
fragmentação pelos fagócitos ou até reação inflamatória induzida.
Desta forma, é fundamental a execução dos testes secundários os
quais são realizados em animais de pequeno porte como roedores. Neste nível,
os materiais teste podem ser injetados diretamente (Figueiredo et al., 2001) ou
implantados por meio de dispositvos, em tecido subcutâneo (Nassri et al.,
2003; Zafalon et al., 2007; Gomes-Filho et al., 2008; de Oliveira et al., 2010) ou
intra-ósseo (Sousa et al., 2004; Zmener et al., 2005; Sousa et al., 2006). São
realizados no intuito de informar sobre o padrão de resposta tecidual
desenvolvido no organismo frente a um material, com a vantagem de poder
comparar as respostas teciduais desencadeados por diferentes materiais
implantados num mesmo animal (Costa, 2005).
No terceiro nível, estão os testes de aplicação que envolve o uso de
animais, principalmente cães (Torabinejad et al., 1995; Leonardo et al., 1999)
ou macacos (Torabinejad et al., 1997; Bernath & Szabo, 2003), onde os canais
radiculares são preenchidos até a junção cemento-dentina ou são
deliberadamente extruídos para determinar a reação do tecido periapical
(Hauman & Love, 2003a). No entanto, são testes considerados caros,
demorados e difíceis de serem controlados (Hauman & Love, 2003a). Por fim,
no intuito de determinar a biocompatibilidade de materiais endodônticos
permanentes, é necessário realizar estudos em humanos, estudos clínicos
retrospectivos ou prospectivos controlados (Hauman & Love, 2003a).
17
Diante do exposto, nota-se a importância dos testes biológicos, visto
que um material para ser usado na cavidade oral deve ser atóxico, não
absorvível pelo sistema circulatório e não deve provocar danos nos tecidos
orais. Materiais não biocompatíveis podem mostrar-se mutagênicos ou ainda
influenciar na expressão e secreção de mediadores da inflamação causando
reações locais e mesmo sistêmicas (Schmalz, 1997; Geurtsen, 2001;
Anusavice, 2005).
No entanto, apesar de a análise da biocompatibilidade ser um pré-
requisito para o uso clínico de materiais dentários, ainda não foram realizados
testes básicos na maioria dos materiais odontológicos (Sousa et al., 2006).
Tendo em vista que os materiais à base de resinas encontram-se em constante
desenvolvimento, é crescente a preocupação quanto às suas propriedades
biológicas, o que têm estimulado sua avaliação.
2.3 Implante subcutâneo
Os testes secundários avaliam a potencialidade de um material
odontológico gerar toxicidade sistêmica e à inalação, irritação e sensibilidade
na pele, e reação em tecido conjuntivo subcutâneo (Anusavice, 1998). Dentre
estes, os implantes intraósseos ou conjuntivos são os mais utilizados, sendo
considerados testes válidos nas etapas preliminares da pesquisa da
histocompatibilidade de diversos materiais (ADA,1972), como os utilizados na
obturação dos canais radiculares.
No entanto, diferentes variações metodológicas foram descritas para
avaliar a biocompatibilidade dos materiais endodônticos. A injeção do material
a ser testado diretamente no tecido subcutâneo (Yesilsoy et al., 1988; Mittal &
Chandra, 1995) ou no peritônio de roedores (Silva et al., 1997) é um método
reconhecido na avaliação da biocompatibilidade, apresentando incovenientes
como a capacidade de dispersão dos mesmos, gerando respostas mais amplas
do que o esperado pelo contato com a região periapical.
O uso de técnicas de implantação in vivo permite que sejam
consideradas as características físicas do produto, como forma, densidade e
18
dureza, as quais podem influenciar na caracterização da reação tecidual
apresentada (Anusavice, 1998). Desta forma, implantes no conjuntivo
subcutâneo realizados com materiais “a fresco”, logo após sua manipulação,
podem desencadear respostas diferentes das produzidas pelo material após a
presa (Pertot et al., 1992).
Os implantes de materiais contidos no interior de tubos de teflon
(Economides et al., 1995; Kolokouris et al., 1998; Sousa et al., 2006; Zafalon et
al., 2007), polietileno (Torneck, 1961; Torneck, 1966; Molloy et al., 1992; Costa,
2003; de Campos-Pinto et al., 2008; Scarparo et al., 2009), silicone (Zmener et
al., 1990; Zmener et al., 2005; de Oliveira et al., 2010; Zmener et al., 2010), e
até mesmo em tubos produzidos a partir de dentina humana (Mauricio, 1980;
Gomes-Filho et al., 2008; Garcia Lda et al., 2010) são descritos na literatura.
Implantes realizados diretamente no tecido ósseo também são utilizados,
principalmente na análise de materiais retro-obturadores (Pertot et al., 1992).
O implante de cápsulas de colágeno contendo o material a ser
avaliado (Zambuzzi et al., 2006) é uma metodologia recente, porém de uso
restrito na avaliação de materiais endodônticos, uma vez que, após a
dissolução do colágeno, os cimentos ou pastas escoariam para todo tecido
conjuntivo, dificultando assim a avaliação do material testado (Bortolo, 2009).
Os tubos de dentina (Holland et al., 1999; Holland et al., 2002;
Gomes-Filho et al., 2008), utilizados desde 1928, , apresentam boa tolerância
tecidual. Este método utiliza raízes dentais humanas autoclavadas (Holland et
al., 2002; Gomes-Filho et al., 2008) buscando mimetizar condições clínicas.
Além disso, permite simular a anatomia de raízes humanas e avaliar a ação
dos materiais testados nas paredes dentinárias (Horsted et al., 1980).
Já os implantes subcutâneos de materiais contidos em tubos de
teflon ou polietileno caracterizam-se por serem de fácil manipulação e
implantação, quimicamente estáveis e não sofrem influência das substâncias
que possam ser acondicionadas em seu interior (Makkes et al., 1977). Segundo
Yaltirik et al. (2004), este modelo também permite simular condições clínicas,
estabilizar a posição do material e padronizar a interface cimento-tecido. Esta
técnica de implantação tem sido usada em inúmeros trabalhos (Leal et al.,
19
1988; Costa, 1997; Nassri et al., 2003; Onay et al., 2007; Scarparo et al., 2009;
Garcia Lda et al., 2010) onde comprovaram que provoca pouca ou nenhuma
inflamação tecidual, permitindo avaliar a reação promovida na interface
cimento/tecido, a qual é classificada de acordo com a intensidade e duração da
inflamação promovida pelos materiais.
A reação aos materiais implantados é classificada como aguda ou
crônica, e subdividida em leve, moderada, severa ou ausente. Porém, existe
uma ampla variedade de critérios utilizados na classificação histológica para
determinação da biocompatibilidade de um material (Figueiredo et al., 2001;
Shahi et al., 2006; Onay et al., 2007). O tipo de célula predominante em cada
período pós-implantação avaliado, o aspecto da matriz extracelular e a
presença de cápsula conjuntiva são importantes fatores a serem avaliados
(Zafalon et al., 2007; de Campos-Pinto et al., 2008; Garcia Lda et al., 2010).
2.4 Tecido conjuntivo e inflamação
Embora idealmente a obturação deva ficar contida no interior do
sistema de canais radiculares, obedecendo aos limites da junção cemento-
dentina-canal (Siqueira, 2005), nem sempre se consegue atingir tal objetivo. Ao
extravasar ou ultrapassar o limite em um a dois milímetros além do ápice
radicular, o material obturador entra em contato com o tecido conjuntivo
presente no peridonto (Bernath & Szabo, 2003), local onde reside uma enorme
quantidade de fibroblastos e células de defesa (Siqueira, 2005). Os
componentes químicos dos cimentos, em contato com o conjuntivo da região
periapical desencadeiam o início de uma resposta imunológica inata,
caracterizada pela presença de um infiltrado inflamatório geralmente transiente
(Sjogren et al., 1997). A persistência da reação inflamatória local é indesejável,
podendo ocasionar dor local, edema, desintegração da matriz extracelular e
atraso no processo de reparo (Mittal & Chandra, 1995; Huang et al., 2005).
Deste modo, o tecido perirradicular é tal como um tecido conjuntivo
que apresenta diversos tipos de células como fibroblastos, macrófagos,
20
mastócitos, plasmócitos, células adiposas e leucócitos, separadas por um
abundante material extracelular na qual se encontram vasos sanguíneos e
linfáticos (Junqueira & Carneiro, 2004).
Os fibroblastos sintetizam as fibras colágenas, reticulares e elásticas
além das glicoproteínas e proteoglicanas da matriz extracelular (Junqueira &
Carneiro, 2004). Porém, também podem participar da resposta imune
desencadeada pela presença de um agente estranho como, por exemplo, um
cimento endodôntico (Azar et al., 2000).
Os mástocitos são células residentes do tecido conjuntivo, que se
caracterizam por apresentar o citoplasma repleto de grânulos que se coram
intensamente (Junqueira & Carneiro, 2004), os quais contêm mediadores
químicos importantes para o processo inflamatório, como vasodilatadores
(Consolaro, 2009). São células que desempenham importante função nas
reações inflamatórias agudas e persistentes (Cotran et al., 2000), assim como
na hipersensibilidade imediata e nas doenças alérgicas (Abbas et al., 2002).
Essas células também participam no processo de reparação de feridas onde
estimulam a proliferação de fibroblastos e síntese de colágeno (Jordana, 1993;
Garbuzenko et al., 2002).
Os neutrófilos e macrófagos são células residentes do tecido
conjuntivo, embora aí permaneçam em constante vigília para que a resposta
imune seja rápida e efetiva ao encontrar o agente agressor (Kou & Babensee,
2011). Ambas provêm da corrente sanguínea, sendo que os macrófagos
diferenciam-se a partir dos monócitos. Os neutrófilos fazem parte da primeira
linha de defesa, atuando na fagocitose e também na liberação de mediadores
quimiotáticos, que irão recrutar mais neutrófilos ou outras células como
linfócitos e monócitos para o conjuntivo (Consolaro, 2009; Kou & Babensee,
2011). Os monócitos/macrófagos também são importantes fagócitos presentes
no conjuntivo, sendo as células predominantes na interface material/tecido
(Kawashima et al., 1996; Bhardwaj et al., 1997), além de desempenharem um
papel importante na imunomodulação e apresentação de antígenos a outras
células de defesa que migram para a região frente a estímulos (Mantovani et
al., 2004; Fujiwara & Kobayashi, 2005).
21
Alguns estudos mostraram que os macrófagos possuem importante
papel no desenvolvimento e reparo das lesões periapicais (Kawashima et al.,
1996; Toriya et al., 1997). Segura & Jimenez-Rubio (1998) observaram que o
eugenol, liberado por cimentos à base de óxido de zinco e eugenol, pode inibir
a função dos macrófagos além de poder influenciar na reparação inflamatória
no tecido periapical. Um estudo realizado recentemente (de Oliveira Mendes et
al., 2010), demonstrou que cimentos endodônticos podem afetar
negativamente a resposta imune in vitro, podendo inibir a atividade de
macrófagos (de Oliveira Mendes et al., 2003).
Embora plasmócitos e basófilos também possam ser encontrados no
conjuntivo, são células que apresentam menor importância para o
desenvolvimento das reações inflamatórias desenvolvidas pelo contato com um
“biomaterial”. De maneira geral, pode-se definir inflamação como uma reação
defensiva, celular e vascular contra elementos estranhos que possam vir a
penetrar no tecido conjuntivo ou algum tipo de substância química que possa
agredir e irritar este tecido (Junqueira & Carneiro, 2004; Fujiwara & Kobayashi,
2005).
Esta se caracteriza por uma série de reações celulares que levam à
coagulação sanguínea, ativação plaquetária, infiltrado celular inflamatório,
formação de tecido de granulação, que em fases posteriores apresentará
deposição de uma nova matriz extracelular, seguido por contração da ferida e
remodelação (Diegelmann & Evans, 2004). Deste modo, a inflamação visa
destruir, diluir ou circunscrever o agente agressor, conduzindo ao processo de
reparo tecidual (Baumann & Gauldie, 1994). Em situações patológicas, a
inflamação pode resultar em destruição tecidual e levar à perda da função
(Fujiwara & Kobayashi, 2005).
Sob ponto de vista cronológico, as reações que ocorrem no tecido
conjuntivo inflamado são caracterizadas pela chegada de neutrófilos, os quais
se tornam predominantes dentro de 24 horas e são responsáveis por remover
material estranho, bactérias e matriz danificada (Diegelmann & Evans, 2004).
Em até 48 horas, os macrófagos chegam ao local, onde além de produzirem
citocinas e fatores de crescimento (Cotran et al., 2000), também possuem
22
importante papel no desbridamento, atuando como fagócitos para limpar restos
da matriz (Fujiwara & Kobayashi, 2005). O final da fase inflamatória e o começo
da fase proliferativa é marcada pelo aparecimento dos macrófagos ativados e
linfócitos (Deonarine et al., 2007).
Na fase proliferativa há produção de colágeno, proteoglicanas e
fibronectina para formar uma nova matriz extracelular, continuar a epitelização
e angiogênese. Os fibroblastos são as células predominantes nesta fase onde
produzem matriz e colágeno (Deonarine et al., 2007). Finalmente, a
remodelação, fase final do reparo, envolve a degradação do colágeno por
enzimas proteolíticas produzidas pelos fibroblastos, neutrófilos e macrófagos.
Outra característica seria a presença de mastócitos, os quais gerenciam o
reparo por meio de uma maior sinalização inflamatória (Diegelmann & Evans,
2004).
O processo inflamatório pode ser dividido em agudo e crônico. A
inflamação aguda é caracterizada por ser de curta duração (alguns minutos,
horas ou poucos dias) e principalmente pela exsudação de fluidos e proteínas
plasmáticas (edema) e migração de leucócitos, predominantemente neutrófilos.
Já a inflamação crônica possui duração maior e está associada
histologicamente com a presença de linfócitos e macrófagos, proliferação de
vasos sanguíneos, fibrose e tecido necrótico (Fujiwara & Kobayashi, 2005).
A inflamação crônica é frequentemente associada à destruição
irreversível do parênquima, sendo esta lesão preenchida por tecido conjuntivo
fibroso (Consolaro, 2009). Células inflamatórias, principalmente neutrófilos e
macrófagos, recrutados durante a resposta inflamatória inicial, produzem
citocinas e quimiocinas, os quais são mediadores responsáveis pela migração
e proliferação de células de reparo como fibroblastos e pela neo-angiogênese
(Mantovani et al., 2002). Portanto, para que ocorra reparo, é necessário a
formação de novos vasos e formação de brotos nos já existentes, fenômenos
chamados de neo-angiogênese e neo-vascularização, e também deposição de
nova matriz e remodelação (Singer & Clark, 1999).
Cabe ressaltar a presença persistente dos macrófagos nos sítios
inflamados, seja na fase aguda ou crônica, e mesmo durante a fase reparatória
23
(de Oliveira Mendes et al., 2003; Rezende et al., 2007). Tal fato chamou a
atenção dos pesquisadores na última década, os quais estabeleceram
inicialmente o conceito de macrófagos ativados e não ativados (Celada &
Nathan, 1994). Porém, após diversos estudos, foi comprovado que se tratava
da mesma célula com um perfil de ativação gênica diferente (Stout et al., 2005).
Em outras palavras, o conjunto de genes expressos pelos macrófagos
modificava-se em função do ambiente, possuindo características mais
inflamatórias, ou relacionadas à liberação de mediadores ligados ao reparo
(Stout et al., 2005). Postulou-se então, a existência de dois grandes subgrupos
de macrófagos, chamados M1 e M2, sendo os do tipo M1 ligados à fase
inflamatória (Stout et al., 2005). Tal conhecimento tem-se refletido na forma de
avaliar a biocompatibilidade dos materiais, já que o tipo de macrófago presente
está relacionado à manutenção do processo inflamatório ou sua evolução para
o reparo (Kou & Babensee, 2011).
2.5 Papel dos macrófagos no padrão de resposta – subtipos de
macrófago
Diante de um quadro de inflamação, há intensa migração de
monócitos, os quais apresentam um aumento considerável nas primeiras
horas, podendo permanecer elevado até a resolução da inflamação (de Oliveira
Mendes, 2007). Estes são potentes produtores de citocinas e fatores de
crescimento e desempenham importante papel na autoimunidade, defesa
contra infecção, câncer, reparo tecidual, remodelação tecidual e angiogênese
(Deonarine et al., 2007). Pode-se fazer uma distinção inicial entre macrófagos
inflamatórios e macrófagos residentes, baseada no aumento da capacidade
fagocítica e aumento da habilidade de gerar metabólitos tóxicos de oxigênio e
nitrogênio (Fujiwara & Kobayashi, 2005).
Porém, os macrófagos ditos inflamatórios são melhor
compreendidos pelo termo “macrófagos ativados” o qual descreve o estado em
que esta célula sofre uma série de alterações morfológicas e metabólicas,
24
como aumento da capacidade fagocítica, bactericida e citotóxica, aumento do
conteúdo enzimático e secreção de produtos biologicamente ativos (Mosser,
2003; Fujiwara & Kobayashi, 2005), atraindo leucócitos e estimulando a
atividade de outras células. Podem se fusionar formando as células gigantes
multinucleadas (Fujiwara & Kobayashi, 2005). São os maiores constituintes de
lesões periapicais e seu estado de ativação pode persistir por longos períodos
após a remoção do fator irritante, podendo atrasar a resolução e reparo da
lesão (Metzger, 2000; Berbert et al., 2002).
No entanto, esta classificação foi refeita, e hoje se considera não
apenas os macrófagos ativados ou não, mas uma subdivisão em função do seu
padrão de ativação gênica, dos mecanismos moleculares envolvidos na
inflamação e reparo (Mosser, 2003; Rezende et al., 2005; Kou & Babensee,
2011). Trata-se dos macrófagos M1 e M2 (Mantovani et al., 2002; Kou &
Babensee, 2011).
Os macrófagos do tipo M1 são fagócitos potentes, considerados
importantes na inflamação. Estes são ativados pela via clássica desenvolvida
em resposta a TNF-α, juntamente com produtos microbianos como
lipopolissacarídeo - LPS (Mosser, 2003), sendo caracterizada pela alta
capacidade de apresentar antígenos às células T, alta produção de radicais
intermediários de nitrogênio (NO), e oxigênio (ROIs), alta produção de citocinas
pró-inflamatórias IL-12 e IL-23 (Verreck et al., 2004; Kou & Babensee, 2011) e
capacidade de matar células cancerígenas e microrganismos (Mantovani et al.,
2004).
Os macrófagos M1 podem tranformar-se em macrófagos M2, o que
ocorre por meio de um programa distinto de ativação denominado de “ativação
alternativa”(Gordon, 2003), induzidos pelas citocinas IL-4 e IL-13. A exposição
a estas citocinas leva a um aumento de IL-10 e fatores de crescimento como
TGF-β, associada a uma baixa produção de citocinas pró-inflamatórias como
IL-12, IL-1, TNF e IL-6 (de Oliveira Mendes, 2007; Kou & Babensee, 2011).
Essas mudanças desempenham importante papel na resolução da inflamação,
conduzindo a um aumento na síntese de mediadores importantes na
remodelação tecidual, angiogênese e reparo (Laskin, 2009). Pode-se dizer que
25
25
estas mudanças são controladas pelo micro-ambiente no qual a célula se
encontra, e possuem papel importante no restabelecimento da homeostasia
(Celada & Nathan, 1994). Porém, é importante enfatizar que M1 e M2
apresentam dois extremos dentro de uma sequência contínua de ativação de
genes relacionados à evolução do processo inflamatório (Stout et al., 2005).
Dessa forma, dependendo do estímulo local durante o processo de reparo, M1
e M2 respondem diferentemente aos padrões de ativação e expressam
programas metabólicos distintos (Mills et al., 2000; Mosser, 2003). Dentre os
vários estímulos existentes pode-se citar a degradação de produtos do
material, citocinas e agentes microbianos (Brown et al., 2009).
Deonarine et al. (2007), utilizando tecnologia de DNA microarrays,
sugeriram que durante a fase inflamatória estão presentes os macrófagos do
tipo 1 e 2, os quais sofrem uma alteração na expressão gênica durante a fase
de reparo, passando a predominar os macrófagos do tipo 2. Segundo de
Oliveira Mendes et al. (2010), M1 e M2 diferem quanto aos receptores de
superfície da membrana, tipos de moléculas efetoras e citocinas produzidas. O
metabolismo da arginina em macrófagos M1 é caracterizado por altos níveis de
óxido nítrico sintase indutível (iNOS) resultando na produção de NO e citrulina.
Os macrófagos M2 caracterizam-se pela presença de arginase, levando à
produção de ornitina e uréia (Bogdan et al., 1991; Mosser, 2003).
Apesar da importância atribuída a esses subtipos de macrófagos no
controle do processo inflamatório, poucos estudos têm avaliado a capacidade
dos materiais odontológicos estimularem M1 ou M2, e qual sua relação com
processo de reparo.
Na literatura, encontramos vários estudos que avaliaram in vitro o
perfil de citocinas e viabilidade de macrófagos frente a cimentos endodônticos
(de Oliveira Mendes et al., 2003; Perassi et al., 2004; Rezende et al., 2005;
Melegari et al., 2006; Rezende et al., 2007), porém há poucos estudos
(Rezende et al., 2005; Rezende et al., 2007; de Oliveira Mendes et al., 2010)
que se propuseram avaliar o padrão de resposta de acordo com subtipo de
macrófago e até o momento foi encontrado somente um relato (Brown et al.,
2009) na literatura deste tipo de estudvo in vivo, porém com outro tipo de
26
26
material. Dessa forma, avaliando a presença de macrófagos pró-inflamatórios e
sua associação com a manutenção do processo ou reparo, podem contribuir na
avaliação de cimentos endodônticos, constituindo um parâmetro adicional a ser
avaliado ao se classificar a biocompatibilidade desses materiais.
27
3. PROPOSIÇÃO
O presente estudo teve como objetivos:
•Avaliar histologicamente o padrão de resposta inflamatória aos
cimentos Sealer 26 e Epiphany, recém-manipulados, nos períodos de 7, 14 e
21 dias.
• Analisar a presença do subtipo de macrófagos M1, de acordo com
tipo de cimento e período experimental.
• Analisar a relação entre macrófagos M1 e reparo tecidual.
29
4. MATERIAL E MÉTODOS
4.1. Materiais
4.1.1 Animais
Foram utilizados neste estudo 21 ratos Wistar machos (Rattus
Norvegicus), da mesma linhagem, adultos-jovens, pesando de 300 a 400 g,
provenientes do Biotério Central da Unicamp. Os animais foram mantidos em
gaiolas plásticas coletivas, devidamente identificadas, e foram alimentados com
ração sólida comercial balanceada e água ad libitum. Previamente, ao início do
presente estudo, o projeto de pesquisa foi submetido à avaliação do Comitê de
Ética na utilização de Animais (CEUA- Protocolo N° 016/09 - Anexo 1), da
Universidade Federal de Uberlândia, o qual foi aprovado no dia 21 de janeiro
de 2009.
4.1.2 Cimentos Endodônticos
Os cimentos endodônticos analisados encontram-se na Tabela 1 e
Figura 1.
Tabela 1. Composição dos cimentos endodônticos.
Cimentos Endodônticos Composição química
Epiphany® –Soft Resin Endodontic Obturation
System – (Pentron Clinical Technologies, Wallingford,
USA)
Pasta- resinas UDMA (uretano de metacrilato), PEGMADMA, EBPADMA, BIS-GMA (bisfenol glicidilmetacrilato), sulfato de bário, sílica, hidróxido de cálcio, bismuto, aminas, peróxidos, fotoiniciados e pigmentos. Resilon primer- canforoquinona, água, AMPS, HEMA (hidroximetilmetacrilato), monômeros resinosos.
Sealer 26®
(Dentsply Ind. And Com. Ltda,- Petrópolis- RJ, Brasil)
Hidróxido de cálcio, óxido de bismuto, dióxido de titânio, resina epóxica bisfenol, hexametileno tetraminico
31
1- Sealer 26
2- Epiphany
4- Endofill
Figura 1. Ilustração dos cimentos endodônticos; A. Epiphany; B. Sealer 26.
Os cimentos foram manipulados de acordo com as recomendações de
cada fabricante, utilizando placa de vidro e espátula estéreis. Porém, para o
Epiphany, o primer não foi utilizado. Os cimentos endodônticos teste foram
dispostos nas lojas cirúrgicas, de acordo com o esquema a seguir:
Figura 2. Demonstração da disposição dos cimentos nas lojas cirúrgicas
4.1.3 Corpos de Prova
Foram confeccionados 42 corpos de prova com dimensões de
0,6mm de diâmetro interno e 10 mm de comprimento, a partir de uma sonda
uretral estéril (Embramed Ind. Com. Ltda- São Paulo-SP, Brasil). Os cimentos
foram injetados no interior das sondas, com auxílio de uma seringa descartável
de 5 ml para então serem cortados com uma lâmina de bisturi estéril n° 15
1 2
32
(Lamedid Ltda, Tamboré-SP, Brasil). As extremidades dos tubos
permaneceram abertas, sendo que em uma das pontas, no momento da
inserção dos corpos de prova em suas respectivas lojas cirúrgicas, completou-
se com cimento, local em que estará em íntimo contato com o tecido adjacente
e onde será observada a reação tecidual (figura 3). A lateral do tubo serviu
como controle negativo do estudo. Os tubos foram posicionados de modo que
a extremidade que continha a complementação era voltada para a cabeça do
animal, permanecendo assim no lado oposto da incisão, para que a reação
inflamatória formada na área da incisão não interferisse na análise
microscópica da região onde foi colocado o cimento.
Figura 3. Esquema mostrando preenchimento dos tubos com os cimentos
4.2 Métodos
4.2.1 Da implantação subcutânea dos tubos
Foi realizada anestesia geral, via intra-peritoneal, com auxílio de
seringas descartáveis de insulina de 1ml (BD Plastipak®, Becton Dickinson Ind.
Cirúr. Ltda, Curitiba, Brasil). Utilizou-se o anestésico Cloridrato de Cetamina
10% (Cetamin®- Rhobifarma indústria farmacêutica Ltda), na dosagem
0,1ml/100gr/rato, associado ao cloridrato de xilazina 2% (Anasedan®-
Vetbrands Saúde Animal) na dosagem 0,07ml/100gr/rato, o qual é um agente
sedativo, relaxante muscular e analgésico. Após a administração anestésica,
os animais foram mantidos em suas respectivas gaiolas individuais até que os
mesmos estivessem devidamente sedados. Quando necessário,
Extremidade superior do corpo de prova:
complementação com cimento
Tubo de polietileno
Cimento teste
33
complementou-se a anestesia. A demonstração da sequência cirúrgica
encontra-se na figura 5.
Posteriormente, foi realizada a tricotomia manual na região dorsal
dos animais a fim de evitar a penetração de pêlos nas lojas cirúrgicas e
antissepsia do local com gaze embebida em digluconato de clorexidina 0,5%.
Procedeu-se ao posicionamento do gabarito (figura 4) no dorso dos animais e
foram feitas as marcações dos locais das duas incisões. Após, foram
realizadas duas incisões escapulares de 1 cm de largura em cada animal com
auxílio de uma tesoura romba, seguida por uma pequena divulsão com uma
pinça hemostática reta, aprofundando-se 2 cm acima da linha da incisão, para
confecção de 2 lojas cirúrgicas. Os corpos de prova, contendo os cimentos
teste, foram inseridos cuidadosamente nas devidas lojas cirúrgicas, de acordo
com a ordem estabelecida. Para esta finalidade, utilizou-se um porta-amálgama
para que o corpo de prova fosse devidamente protegido durante sua inserção,
evitando assim, quaisquer possíveis contaminações nas paredes laterais.
Todos os procedimentos foram realizados sob rigorosas condições
de assepsia. As bordas da ferida foram fechadas com cianoacrilato de etila
(Super Bonder, Loctite, Itapevi, SP, Brasil). Após o procedimento cirúrgico, os
animais foram mantidos em gaiolas plásticas individuais para que a ferida
cirúrgica pudesse cicatrizar adequadamente. Além disso, os animais
permaneceram sob constante observação diária, quanto à intercorrências que
pudessem vir a acontecer, comprometendo assim, o experimento. Os animais
não receberam medicação pós-operatória com o objetivo de não provocar
possíveis alterações nos resultados.
Figura 4. Gabarito contendo posicionamento exato das incisões
Tubo de polietileno
Ponto de incisão
Incisão 2,5 cm
2 cm
34
Figura 5. Sequência do procedimento cirúrgico. A. Tricotomia da região
dorsal; B. Marcação das incisões; C. Antissepsia da área
cirúrgica; D. Incisão; E. Divulsão; F. Inserção dos corpos de
prova; G. Cianoacrilato de etila; H. Fechamento das bordas da
ferida com cianoacrilato de etila
35
4.2.2. Sacrifício dos animais e remoção das peças cirúrgicas
Após os períodos de 7, 14 e 21 dias de implantação, foram
sacrificados sete ratos, escolhidos aleatoriamente, para cada período, para que
fossem feitas as análises. Para o sacrifício, os animais foram adequadamente
pré-medicados e, em seguida, administrado uma overdose de tiopental de
sódio (150 mg /kg).
A localização dos corpos de prova foi feita por meio de palpação e
uma nova tricotomia foi realizada. As peças cirúrgicas foram removidas
cuidadosamente, de tal modo que abrangesse tecido normal adjacente além da
área a ser estudada (figura 6). Em seguida, foram fixadas com alfinete em
placas de parafina para que a peça ficasse distendida facilitando assim, o
processo de fixação.
Figura 6. Remoção da peça cirúrgica. A. Dissecação do tecido para obtenção
das peças cirúrgicas. B. Visualização dos corpos de prova
36
A B
4.2.3. Processamento histológico
Os espécimes foram fixados em formol a 10% em PBS 0,1M,
durante 48 horas, em seguida, o excesso de tecido foi removido, mantendo-se
cerca de 3 mm em torno do implante. As amostras devidamente identificadas
foram acondicionadas em grades para realização do processamento histológico
em que foram desidratadas em concentrações crescentes de etanol,
diafanizados em xilol e incluídos em parafina. O espécime foi posicionado de
forma que a face de corte do bloco ficasse paralelo ao longo eixo do implante
(figura 7 A). Os cortes até a região do tubo de polietileno foram descartados, e,
em seguida, o tubo foi cuidadosamente removido e o espaço por ele ocupado
foi preenchido com parafina líquida. Após 24 horas, a microtomia (Micrótomo
Leica RM 2145, Leica microsystems, Wetzlar, Germany) foi realizada, obtendo-
se 20 cortes com 5µm de espessura, longitudinais à região do tubo, passando
pela interface cimento endodôntico/tecido conjuntivo. Metade dos cortes foi
corada em Hematoxilina e eosina (figura 7 B), para análise qualitativa ao
microscópio de luz (ML- Olympus Optical Co. LTD, Brasil), segundo critérios
apresentados a seguir. E a outra metade foi processada para
imunohistoquímica.
Figura 7. Demonstração inclusão das amostras em parafina e lâmina contendo
cortes corados em HE.
37
4.2.4. Análise em HE
De acordo com as respostas teciduais observadas pelos cimentos
testados, foram realizadas análises microscópicas das amostras, comparando-
as entre si. Para a avaliação histopatológica, foi utilizado microscópio óptico,
com conjunto ótico para aumentos de 20, 40, 100, 400 e 1000X. Para cada
espécime, foram analisadas três lâminas histológicas, na interface
cimento/tecido conjuntivo.
Foram avaliados, por meio de análise histopatológica descritiva,
diferentes eventos microscópicos, tais como:
1. Tipo do infiltrado inflamatório.
2. Atividade fagocitária (macrófago e células gigantes multinucleadas).
3. Presença de necrose.
4. Material residual.
5. Presença de fibroblastos no local, compondo um tecido conjuntivo fibroso.
A intensidade da reação inflamatória foi estabelecida seguindo os
critérios (FDI) descritos a seguir. E a partir destes, escores também foram
atribuídos:
1- Ausente: Ausência de reação inflamatória.
2- Leve: Escassas células inflamatórias dispersas no tecido conjuntivo.
3- Moderada: Grande quantidade de células inflamatórias dispostas
focalmente.
4- Severa: Grande quantidade de células inflamatórias difusas no tecido
conjuntivo adjacente.
4.2. 5 Avaliação Imunohistoquímica dos Macrófagos M1
As lâminas foram previamente silanizadas para realização da
imunohistoquímica. A reação foi feita em cinco cortes de cada espécime, a fim
de avaliar a presença de macrófagos iNOS positivos, fenótipo M1, em torno da
interface implante/tecido conjuntivo de cada cimento avaliado. Estas foram
desparafinizadas em xilol, re-hidratadas em álcool etílico, lavadas em PBS (pH
7,2), seguido por resgate antigênico, utilizando tripsina de pâncreas suína
38
0,25% (Sigma-Aldrich Co., St Louis, MO, USA) por 30 minutos. Em seguida, as
laminas foram lavadas em PBS e então, realizou-se a incubação em solução
de H2O2 3% em metanol durante 1 hora em temperatura ambiente, para
extinguir a atividade da peroxidase endógena. As lâminas foram lavadas
novamente em PBS e incubadas com o Rodent Block R (Biocare Medical,
Concord, CA, EUA) por 30 minutos para bloquear a ligação inespecífica do
anticorpo primário, seguido por aplicação de uma mistura de XR Factor
(Biocare) e anticorpo primário para M1 anti-iNOS, produzido em coelho na
diluição de 1:80 (Neomarkers, Fremont, CA, EUA) por 1 hora. As lâminas
foram visualizadas com cromógeno DAB (DAKO, Carpenter, Califórnia, EUA),
contrastadas com hematoxilina, e montadas em Ervmount ® (Erviegas, São
Paulo, Brasil). Os controles negativos foram preparados pela substituição do
anticorpo primário pelo PBS (figura 13 A, C)
A análise imunohistoquímica qualitativa e quantitativa foi realizada
qualitativamente por um investigador experiente considerando-se o padrão de
marcação para os macrófagos M1, e a quantidade de células marcadas por
campo, para cada cimento e período experimental. Em cada corte foram
capturadas imagens de cinco campo, utilizando um microscópio Nikon Eclipse
E200 (Nikon Instruments Inc. New York, USA) conectado a uma câmera
Evolution MP Color Camera (Media Cybernetics Inc. Bethesda, MD, USA)
fazendo uso do programa Image-Pro Plus 7.0 (Media Cybernetics Inc.
Bethesda, MD, USA). A quantidade de células imunopositivas (citoplasma
corado com anticorpo primário anti-iNOS) foi analisada próxima à interface
cimento/tecido conjuntivo, no aumento de 400 x, e contadas com auxílio do
programa gratuito de análise de imagens ImageJ (desenvolvido por Wayne
Rasband, National Institute of Mental Health, Bethesda, EUA). A partir desses
dados foi realizada a análise estatística do número de células iNOS positivas.
4.2.5.1 Análise estatística
Os dados foram analisados utilizando o sofware GraphPad Prism 5®
(Graphpad software, LaJolla,CA, EUA). A normalidade da amostra foi testada
por meio do teste D’Agostino e Pearson. Uma vez comprovada a ausência de
39
distribuição normal foi aplicado o teste não paramétrico de Mann Whitney,
sendo p<0.05 considerado estatisticamente significante.
40
5. RESULTADOS
A análise macroscópica das peças cirúrgicas revelou que houve uma
cicatrização satisfatória da ferida em todos os espécimes, com ausência de
exsudato, mostrando aspecto de normalidade do tecido circundante ao tubo.
5.1. Análise histopatológica descritiva (HE)
A análise microscópica de todas as amostras mostrou ausência de
inflamação na lateral do tubo (interface tubo polietileno/tecido conjuntivo), a
partir de 14 dias, local considerado como controle negativo do estudo.
Observou-se formação de uma cápsula fibrosa em toda sua extensão, de
variadas espessuras, com ausência de reação inflamatória tanto em HE (figura
8A, C) como na imunohistoquímica (figura 8B, D), para os dois cimentos.
Figura 8. Imagens representativas em HE e imunohistoquímica mostrando
ausência de marcação na parede lateral do tubo (400 x aumento),
no Sealer 26 (A,B) e Epiphany (C,D)
42
A B
C D
5.1.1. Sealer 26 e Epiphany
Nas tabelas 2 e 3 encontram-se os achados da intensidade da
resposta inflamatória observada de acordo com os implantes e tempo de
observação, para cada cimento.
Tabela 2. Relação dos implantes subcutâneos e a intensidade das respostas
inflamatórias observadas para o Sealer 26, em função do período experimental
Material Sealer 26
Dias 07 14 21
Implantes 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
Infl
amaç
ão
Ausente Leve x x x x x x x
Moderada x x x x x x x Severa x x x x x x x
Tabela 3. Relação dos implantes subcutâneos e a intensidade das respostas
inflamatórias observadas para Epiphany, em função do período experimental
Material Epiphany
Dias 07 14 21
Implantes 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
Infl
amaç
ão
Ausente
x x x x x x x
Leve x x x x x x Moderada x
Severa x x x x x x x
43
7 dias
Neste primeiro período de observação, percebe-se uma inflamação
severa, dependendo da quantidade do material residual e pode-se também
observar focos de necrose (figuras 9A e B). Nota-se a presença das células do
infiltrado inflamatório com predomínio de linfócitos e macrófagos (figuras 9F e
10C, D), podendo também verificar, em alguns campos, células gigantes
multinucleadas de corpo estranho. Havia material residual em todas as
amostras. O controle lateral apresentou ausência de inflamação e em alguns
campos inflamação leve, mas já fica nítida a presença de uma organização do
tecido junto à parede lateral do tubo.
14 dias
Observa-se uma inflamação desde suave a moderada, porém ainda
a quantidade de resíduos em contato com o tecido vai delimitar focos maiores
ou menores de reação inflamatória. Já se percebe a tentativa do organismo em
isolar o contato com o material residual com o resto do tecido, formando uma
faixa de tecido conjuntivo fibroso. Nota-se uma resposta melhor com relação ao
cimento Epiphany, já neste período, verificou-se em um caso a ausência de
inflamação e formação de barreira separando o cimento residual do tecido
(figura 12E e F), resposta semelhante ao controle lateral. O controle, a partir
desse período de observação, apresentou-se sem inflamação, caracterizada
por uma faixa de tecido conjuntivo fibroso, e ausência de células inflamatórias.
21 dias
Aos 21 dias, observou-se desde inflamação crônica suave a
moderada até ausência de inflamação. Porém nesta fase, já se verifica a
barreira de tecido conjuntivo fibroso isolando o material residual. No caso do
Sealer 26, fica evidente que a intensidade da inflamação estava relacionada
mais à quantidade do cimento residual (figura 13), pois, no mesmo campo, fica
explícita uma melhor reparação tecidual em áreas com menos material
residual. Já com Epiphany, em algumas regiões é nítida a presença dacápsula
fibrosa livre de inflamação. O controle lateral se mantém sem inflamação.
44
Figura 9. Cimento Sealer 26 aos 7 dias. A. Vista panorâmica evidenciando o espaço ocupado pelo corpo de prova caracterizando as laterais do tubo (seta lateral) utilizado como controle do experimento, e a área de contato do cimento com o tecido subcutâneo (seta inferior) 20X; B. Maior aumento de A, focos de necrose associados ao cimento residual 40X; C e D. Reação inflamatória severa evidenciando células do infiltrado inflamatório 100X e 400X; E Vasos sanguíneos dilatados (setas) e presença de células do infiltrado inflamatório 400X; F. Maior aumento de E destacando a presença de um macrófago 1000X.
A B
C D
E F
D
E F
45
Figura 10.
Epiphany – 7 dias. A. Vista panorâmica (20X) evidenciando o contato do material residual, B. Maior aumento de A, 40X. C. Presença de células do infiltrado inflamatório 400X; D. Maior aumento de C 1000X, mostrando material mineralizado (estrela branca) densamente permeado por infiltrado de células mononucleares, por vezes com morfologia compatível com macrófagos (seta branca), inclusive com formações sinciciais (seta preta) compatíveis com células gigantes multinucleadas tipo corpo estranho contendo partículas do material em seu interior (estrela preta).
46
A B
C D
Figura 11. Sealer 26 – 14 dias. Em A. vista panorâmica do material residual em contato com o tecido 20X; em B. Maior aumento de A, caracterizando uma inflamação moderada 100X; C. Presença moderada de células inflamatórias dispostas focalmente 400X; D. Maior aumento de C, evidenciando calcificações distróficas 1000X.
47
A B
C D
E F
Figura 12. Epiphany – 14 dias. A. Vista panorâmica 20X. B. Maior aumento de A destacando o contato do material residual com o tecido 40X; C. Maior aumento de B (seta fina), D. (seta vazada) chamando a atenção para a formação da cápsula fibrosa, em condição igual ao controle 100X; E,F. Destacando, em maior aumento, a presença do material residual em um tecido livre de inflamação 400X.
48
A B
C D
Figura 13. Sealer 26 – 21 dias. A. Vista panorâmica 20X. B. Maior aumento da área de contato do corpo de prova com o tecido, caracterizando uma área sem contato com o material residual e a sua organização tecidual adiantada (seta) 40X; C. Presença de células inflamatórias dispostas focalmente relacionadas com a quantidade do material residual 100X. D. Maior aumento de C, evidenciando infiltrado inflamatório da região (círculo) 400X.
49
5.2 Análise da imunomarcação de macrófagos M1
A avaliação qualitativa das células positivas para iNOS reflete o
número de macrófagos designados como M1. No geral, observou-se uma
marcação citoplasmática de intensidade variável ao longo do campo e em
função do período de análise, para ambos os cimentos Sealer 26 e Epiphany.
A análise estatística do número de células positivas para iNOS em 7
e 14 dias mostrou diferença estatística significativa entre Sealer 26 e Epiphany
(p=0.0079 e p=0.0115, respectivamente, Figuras 14A e 15A). Já em 21 dias,
não houve diferença significativa entre os dois cimentos avaliados (p=0.6545,
Figura 16A). A análise de cada cimento, ao longo do tempo demonstrou
ausência de significância para o cimento Sealer 26 (p=0.3126, Figura 17A). O
cimento Epiphany (Figura 17B) apresentou maior número de células iNOS
positivas em 14 dias, com diferenças significativas, quando comparado ao
período de 7 dias (p=0.0246) e 21 dias (p=0.5212).
50
Sea
ler 26
Epip
hany
0
10
20
30
40 p=0.0079
AC
els
iN
OS
+ p
or
cam
po
Figura 14. A. Número de células positivas para iNOS por campo em 7 dias; B,C. Imagem imunohistoquímica ilustrativa das células marcadas (seta branca) no grupo Sealer 26 (B) e Epiphany (C), p=0.0079; D. Controle negativo.
B
C D
51
Figura 15. A. Número de células positivas para iNOS por campo em 14 dias. B,C. Imagem imunohistoquímica ilustrativa das células marcadas (seta branca) no grupo Sealer 26 (B) e Epiphany (C), p=0.0115. D. controle negativo.
B
C D
52
Figura 16. A. Número de células positivas para iNOS por campo em 21 dias (seta branca). B,C. Imagem imunohistoquímica ilustrativa das células marcadas no grupo Sealer 26 (B) e Epiphany (C), p=0.6545. D. controle negativo.
B
C D
53
Figura 17. Análise estatística de cada cimento avaliado ao longo do tempo. A. Sealer 26 (p=0.3126); B. Epiphany (p=0.0246 e p=0.5212).
54
6. DISCUSSÃO
6.1 Metodologia
Neste estudo, foram utilizados implantes subcutâneos de polietileno
para avaliação da biocompatibilidade dos cimentos Sealer 26 e Epiphany, a
qual é recomendada por órgãos como a FDI (1980) e ADA (1972). Embora os
materiais utilizados no presente estudo tenham sido previamente avaliados
quanto as suas propriedades físicas, químicas e biológicas, os resultados são
controversos. Tendo em vista a ausência de consenso quanto à irritabilidade
promovida por ambos, decidiu-se avaliar os mesmos recém-manipulados, sem
a administração conjunta do primer e cone de resilon, no caso do cimento
Epiphany. Desta forma isolou-se uma variável: efeitos dos componentes
químicos dos cimentos recém-manipulados sobre o perfil de resposta
inflamatória promovida por ambos.
Segundo Browne (1994), o uso de animais para avaliação da
biocompatibilidade de materiais odontológicos apresenta resultados
controversos em razão da grande variedade de metodologias adotadas por
diferentes pesquisadores, não estandardizadas, o que dificulta a interpretação
dos resultados de estudos in vivo realizados em diferentes laboratórios.
Contudo, esta ainda é uma metodologia amplamente difundida e aceita pela
comunidade científica, embora outros métodos mais sofisticados de análise
tenham sido introduzidos na última década, como a utilização de microsondas
de DNA (DNA Microarray) para verificação do perfil da resposta imunológica
produzida (Deonarine et al., 2007) ou a reação em cadeia de polimerase em
tempo real (RT-PCR).
Os testes in vivo para avaliação da biocompatibilidade podem ser
realizados em vários animais, como cães (Tanomaru-Filho et al., 2006;
Leonardo et al., 2007; Leonardo et al., 2008), carneiros (Gosain et al., 2002),
porcos da índia (Yesilsoy et al., 1988; Sousa et al., 2004; Sousa et al., 2006),
macacos (Bernath & Szabo, 2003) e ratos de laboratório (Zmener et al., 2005;
Onay et al., 2007; Garcia Lda et al., 2010).
56
Dentre esses animais, o rato (Rattus norvegicus) é frequentemente
utilizado, sendo o animal de escolha neste estudo. Além de ser um modelo
experimental que representa satisfatoriamente o organismo de um mamífero,
ele apresenta dimensões adequadas proporcionando um manejo fácil e seguro,
e também apresenta um metabolismo mais acelerado, quando comparado a
outros animais, o que permite a obtenção de resultados relevantes em um curto
período de tempo (Rodrigues Sosa, 2004). Adicionalmente, possuem ciclo vital
relativamente pequeno, além de se conhecer bem a anatomia, bem como suas
variações genéticas e fisiológicas (Ribeiro et al., 1995).
Segundo Costa (2001), os testes de implantação em subcutâneo de
ratos apresentam vantagens como o uso de área limitada para manutenção
dos animais; facilidade de limpeza e higienização da área reservada à
manutenção dos animais no pós-operatório; metodologia de execução
relativamente simples possibilitando o trabalho em vários animais em curto
período de tempo; dispensa a descalcificação dos espécimes, o que acelera o
processamento laboratorial; possibilita comparar a resposta tecidual num
mesmo animal, para diversos materiais experimentais inclusive os materiais
usados como controle.
Um dos dispositivos mais comumente utilizados para este propósito
é o tubo de polietileno, que possui a vantagem de imitar as condições do canal
radicular uma vez que o material entra em contato com o tecido apenas nas
porções terminais do tubo (Friend & Browne, 1968; Zmener et al., 1988). Esse
é considerado um material atóxico, não provoca danos teciduais, além dos
introduzidos pelo próprio ato cirúrgico (Stanford, 1980; Standardization, 1997),
como foi comprovado no presente estudo pela ausência de reação inflamatória
na lateral do tubo de polietileno em todos os tempos de observação. Além
disso, a parede lateral do tubo serve como parâmetro básico de modelo
evolutivo reacional ideal (Costa, 2001) e controle para avaliação da severidade
do trauma cirúrgico (Olsson et al., 1981), permitindo comparar com segurança
os padrões de reação tecidual, de acordo com tipo de cimento empregado.
Os tubos de polietileno são considerados apropriados para manter
os materiais teste em contato com tecido conjuntivo, embora cuidados
57
adicionais devam ser tomados para evitar o extravasamento, uma vez que este
apresenta ambas as extremidades abertas. Para evitar que o material teste
escape em direção ao tecido adjacente em diferentes graus, gerando resposta
inflamatória na área, pode-se fechar uma das extremidades do tubo com calor
ou esperar a presa dos cimentos. No entanto, ao esperar a presa dos cimentos,
elimina-se a avaliação da toxicidade transitória, que acontece com a maioria
dos materiais endodônticos “a fresco” (Olsson et al., 1981; Hauman & Love,
2003b). Diante disso, os cimentos endodônticos foram implantados
imediatamente após a manipulação, seguindo as recomendações do
fabricante, o que pode mimetizar as condições clínicas que ocorrem durante a
obturação do canal.
Outro fator a ser considerado é o diâmetro interno do tubo, embora
não haja uma padronização na literatura, pode-se presumir que quanto menor
o diâmetro, menor a chance de extravasar para o tecido, por isso optamos pelo
diâmetro interno de 0,6mm. Apesar de alguns autores preconizarem o
fechamento de uma das extremidades para evitar extravasamentos, optamos
por prencher todo o tubo, deixando uma delas sobre retração inicial e
complementando a outra para que não ficasse espaço vazio. Observamos que
apesar das duas extremidades estarem abertas, não houve correlação com
maior ou menor extravasamento do material, e recomendamos tal modificação
metodológica.
Apesar da ampla literatura apresentada sobre os implantes
subcutâneos em teste de compatibilidade, existem poucos relatos sobre as
dificuldades técnicas (Torneck, 1961; Makkes et al., 1977). Tal metodologia
deve ser criteriosamente definida antes da sua realização, como verificado em
nosso estudo piloto. Neste, foi realizada uma única incisão, duas divulsões
laterais no tecido, uma de cada lado, para implantação de dois tubos contendo
cimento, porém constatou-se a proximidade dos tubos e o deslocamento dos
mesmos, o que interferiria nos resultados. Diante disso, decidimos realizar
duas incisões e duas divulsões mínimas, apenas o suficiente para acomodação
dos tubos, com o propósito de tentar minimizar a movimentação dos mesmos
no interior do tecido, reduzindo a possibilidade de ocorrer uma resposta
58
inflamatória devido a essa movimentação. Além disso, a opção pela
implantação na região escapular se deve ao fato de que na região pélvica há
maior quantidade de tecido adiposo, o que poderia aumentar a tendência de
deslocamento do corpo de prova (Makkes et al., 1977). A formação de cápsula
fibrosa envolvendo toda a lateral do tubo confirma que houve limitação do
movimento (Olsson et al., 1981).
Adicionalmente, a experiência obtida no experimento piloto também
foi importante para que escolhêssemos o uso de cianocrilato de etila (Super
Bonder, Loctite, Itapevi, SP, Brasil) para fechamento das lojas cirúrgicas no
dorso dos animais. A realização de suturas, mesmo por equipes experientes,
tensiona a pele do rato, podendo interferir nos resultados. Sabe-se que o
cianocrilato de etila é um material que possui comprovada segurança para ser
utilizado em suturas (Bocca et al., 1999; Borba et al., 2000), além de estudos
comprovarem sua biocompatibilidade tanto in vivo (Bhaskar et al., 1972),
quanto in vitro (de Azevedo et al., 2003). Além disso, recomenda-se seu uso
devido as suas características hemostáticas e antiinflamatórias, assim como
também sua alta capacidade de adesão em ambientes úmidos (Naves, 1999).
Como já recomendado previamente por outros autores (Olsson et
al., 1981), a remoção dos tubos foi realizada somente após a inclusão da peça
em parafina, já que relatam que os tubos, contendo o material, devem ser
cortados in situ pois, se os mesmos forem removidos antes de serem feitos os
cortes histológicos, há possibilidade de removermos a interface tecidual
adjacente ao implante, o que prejudicaria a posterior avaliação deste local
considerado de maior importância. Os cortes foram feitos de modo semi-
seriados, ao longo eixo do tubo como recomendado pela ADA (1972).
Apesar de amplamente utilizadas na análise de biocompatibilidade, é
importante ressaltar que os resultados obtidos nesse tipo de estudo não podem
ser diretamente extrapolados para a prática clínica, especificamente para o que
ocorre nos tecidos humanos periapicais.
59
6.2 Períodos experimentais empregados e método de análise dos
resultados
A literatura apresenta uma enorme variedade de tempos
experimentais, os quais se baseiam tanto nos critérios definidos pela ISO
10993-6 (1994) e ADA (1972, 1982), como pelos objetivos pretendidos.
A ISO 10993-6 (1994) recomenda que o período inicial para
avaliação histológica seja de, no mínimo, 7 dias pós-cirurgia para que a análise
dos resultados não fique prejudicada devido ao efeito do trauma operatório
(Xavier et al., 1974). Já as recomendações da ADA (1972, 1982) sugerem que
esses períodos podem variar entre 7-10, 21-35, 60-80 dias. Porém, encontra-se
na literatura avaliações das reações inflamatórias, após períodos de 10, 30 e
90 dias (Zmener et al., 2010); 7 e 30 dias (Holland et al., 1999; Holland et al.,
2002; Gomes-Filho et al., 2008); 3, 7 e 21 dias (Shahi et al., 2006); 7, 30 e 60
dias (Gomes-Filho et al., 2007; Scarparo et al., 2009); 5, 15, 60 e 120 dias
(Kolokouris et al., 1998); 7, 21 e 42 dias (Garcia Lda et al., 2010). Observa-se
que não há um consenso na literatura quanto aos tempos de avaliação
utilizados em estudos de biocompatibilidade de materiais em tecido subcutâneo
de ratos.
Para o presente estudo, optamos pelos períodos de 7, 14 e 21 dias
pela possibilidade de acompanhar, tanto em HE como na avaliação
imunohistoquímica, a evolução da reação inflamatória, a qual era
particularmente interessante nos períodos sabidamente anteriores ao completo
reparo, fase inflamatória, a fim de podermos avaliar também o número de
macrófagos M1, no decorrer do experimento. A técnica de imunohistoquímica
foi introduzida como ferramenta complementar de análise, objetivando refinar
achados histológicos, como o número de macrófagos presentes no campo.
Esta permite identificar se os mesmos são células com caráter pró-inflamatório.
As análises histológicas podem ser feitas por métodos qualitativos
ou quantitativos. Em nosso estudo, a análise dos resultados em HE não
considerou a contagem celular já que, como afirmado por Sousa (2000), o
objetivo da análise microscópica é qualificar a reação tecidual em contato com
60
o material implantado. Além disso, levando em consideração que as reações
teciduais são processos tridimensionais, seria impossível realizar avaliações
precisas de modo quantitativo, pois devemos considerar que a análise deve ser
feita camada por camada em secções finas de cortes bidimensionais, o que
permite uma interpretação subjetiva. Estudos recentes têm avaliado as reações
morfometricamente, no entanto, resulta em dados subjetivos, já que dependem
da interpretação dos tipos celulares observados.
Olsson et al. (1981) relataram que a quantificação da resposta
tecidual somente será possível em materiais que apresentem graus de
irritabilidade bem distintos, o que não era esperado neste estudo, já que ambos
são cimentos resinosos, embora com bases distintas. As análises quantitativas
não permitem uma observação de cada e todo evento que caracteriza o
processo inflamatório, neste tipo de tecido, e esses eventos são considerados
essenciais para avaliação dos materiais. Porém a análise descritiva em si não
permite uma comparação exata entre os cimentos ou entre os diferentes
períodos experimentais para um mesmo material. Segundo Zmener et al.
(2005), medidas histológicas e histométricas não podem prever o resultado de
uma terapia endodôntica, são apenas indicadores da biocompatibilidade do
material.
Os critérios utilizados para avaliação histológica basearam-se nas
normas da FDI (1980), segundo a qual as reações são consideradas leves,
moderadas e severas, utilizando-se para tal de características como proporção
de determinados tipos celulares como neutrófilos e macrófagos, e integridade
ou necrose da matriz extracelular. Já as análises imunohistoquímicas foram
realizadas de maneira qualitativa e quantitativa, por meio da contagem de
células marcadas por campo, já que apenas um tipo de célula estava sendo
avaliada.
6.3 Cimentos endodônticos utilizados e resultados obtidos
Apesar de não existir um único cimento que reúna todas as
propriedades consideradas ideais, os cimentos resinosos apresentam
61
vantagens quanto as suas propriedades físicas, como maior estabilidade, fácil
manipulação, bom escoamento e baixa infiltração. Tanto o Sealer 26, quanto o
cimento Epiphany apresentam extensa literatura, no entanto, a utilização de
ambos, recém-manipulados, no mesmo animal (controle intrínsico) não foi
reportada nas bases de dados pesquisadas em nosso estudo.
O cimento Epiphany é um cimento relativamente novo, desenvolvido
para utilização em associação com adesivo dentinário e um tipo especial de
cone denominado Resilon® (Pentron clinical Technologies, LLC, Wallingford,
CT, EUA). Alguns trabalhos atribuem, ao cimento Epiphany, características
como: hidrofilia, que permite penetrar nos túbulos dentinários (Zmener et al.,
2008) e adesividade tanto à dentina radicular, através do uso de primers auto-
condicionantes como aos materiais obturadores (Shipper et al., 2004).
No entanto, a avaliação das propriedades biológicas do cimento
Epiphany in vivo apresenta resultados dicotômicos (Sousa et al., 2006; Onay et
al., 2007; de Campos-Pinto et al., 2008; Garcia Lda et al., 2010). Shipper et al.
(2005) observaram clinicamente uma menor quantidade de periodontite apical
observada neste cimento, o que pode estar associado à maior resistência à
microinfiltração coronária e à alta liberação de cálcio. Esta liberação de íons
cálcio favorece um pH mais alcalino do meio levando a efeitos bioquímicos que
culminam na aceleração do processo de reparo (Seux et al., 1991).
Por outro lado, Garcia et al. (2010) mostraram que a resposta
biológica foi menos favorável no grupo Epiphany-Resilon sem primer auto-
condicionante, quando comparado ao grupo com aplicação de primer. Isso
poderia ser explicado pela capacidade de selamento proporcionado pelo primer
na superfície dentinária, prevenindo contato de monômeros não reagidos com
o tecido conjuntivo (Zmener, 2004; Versiani et al., 2006). Esses resultados
sugerem que, quando o primer não é usado, os produtos tóxicos liberados
promovem uma resposta biológica menos favorável, porém transitória, já que
no 42° dia observou-se uma leve reação inflamatória crônica (de Campos-Pinto
et al., 2008).
Em nosso estudo, ambos os cimentos apresentaram reação
inflamatória severa no período inicial, de 7 dias, a qual reduziu gradativamente
62
em 14 dias, com inflamação moderada a suave no período de 21 dias, o que
confirma uma toxidade transitória e focal destes cimentos, como apresentado
por outros estudos (Sousa et al., 2006; Onay et al., 2007; de Campos-Pinto et
al., 2008; Garcia Lda et al., 2010).
Em relação ao cimento Sealer 26, a destruição tecidual provocada
pelo contato deste, nas áreas de extravasamento, demonstra que “a fresco”
este material é potencialmente irritante, já que aos 21 dias persistem alguns
focos de desorganização tecidual em áreas onde o material não foi
completamente fagocitado. Embora a adição do hidróxido de cálcio nas
formulações dos cimentos endodônticos objetivem melhorar as propriedades
biológicas dos materiais obturadores, devemos lembrar que este é um produto
de pH elevado (Hauman & Love, 2003a) e que o contato direto com o tecido
pode levar à necrose.
Estudos apresentando diferentes resultados quanto a avaliação da
resposta ao cimento Sealer 26 não podem ser comparados, devido à utilização
de modelos biológicos completamente distintos, como implantes subcutâneos e
avaliação da resposta no tecido conjuntivo periapical pós obturação retrógada
(Barbosa et al., 2003; Tanomaru-Filho et al., 2006). Porém, independente da
metodologia empregada, um fator a ser considerado é o maior
proporcionamento de pó durante o preparo do material (Tanomaru-Filho et al.,
2006), o que pode diminuir a fluidez do cimento e influenciar a compatibildiade
do mesmo.
Embora não tenha sido possível identificar com precisão o grau de
neutrofilia, no presente estudo, devido à imensa destruição da matriz aos 7
dias, a severidade da inflamação inicial é ponto comum em todos os animais
avaliados no presente estudo.
Cabe ressaltar que, tanto o Sealer 26, como com Epiphany atuaram
como corpo estranho nas áreas extravasadas, nas quais observamos a
presença de macrófagos, linfócitos e células gigantes multinucleadas do tipo
corpo estranho, o que caracteriza o estágio final da resposta inflamatória e
reparo (Kou & Babensee, 2011). Além disso, ambos induziram o
desenvolvimento de cápsula fibrosa, indicando que o organismo foi capaz de
63
isolar o material dos outros tecidos, devido à presença e persistência local do
agente agressor. Segundo St John (2007), a presença de cápsula fibrosa, que
se espessa gradualmente, sugere que o organismo está continuando a produzir
tecido fibroso em resposta a um irritante contínuo que ainda não foi minimizado
pela formação da cápsula. Embora não tenha sido realizada a mensuração da
cápsula, foi evidente sua maior organização ao longo dos períodos
experimentais. Há autores que afirmam que a espessura da cápsula fibrosa é
diretamente proporcional à intensidade da resposta inflamatória (Alle &
Marchesano, 1988), e a presença de uma cápsula fibrosa mais organizada
limitando a área da inflamação previne que a reação inflamatória se extenda
para regiões distantes da área em contato com o material (Scarparo et al.,
2009) .
Aos 21 dias, embora não seja possível identificar um completo
reparo da área, os dois grupos experimentais caminharam neste sentido. O
grupo implantado com o cimento Epiphany parece estar ligeiramente
adiantado, com maior organização da matriz neoformada, que já inicia essa
diferenciação aos 14 dias.
Como previsto, a quantidade de material extravasado para interior
do tecido foi variável, desde pouco a muito, independente do tipo de cimento
utilizado. De modo geral, foi observada uma resposta tecidual mais intensa nas
extremidades que continham maior quantidade de cimento extravasado, o que
coincide com os achados de outros autores (Bernath & Szabo, 2003; Batista et
al., 2007). Um maior extravasamento do material para o interior do tecido irá
proporcionar uma maior irritação física e química, devido ao aumento da
extensão do contato do cimento com o tecido (Siqueira, 2005). Desta maneira,
pode-se supor que componentes irritantes podem ser liberados em maior
quantidade, causando inflamação de maior porte, ao contrário de quando o
cimento está confinado no diâmetro do tubo (Bernath & Szabo, 2003).
64
6.4 Relação macrófagos M1 e reação inflamatória
Como mencionado na revisão da literatura, os macrófagos são
células do tecido conjuntivo com papel fundamental na evolução do processo
inflamatório e estabelecimento do reparo. Embora durante muitos anos esses
tenham sido vistos como células estritamente ligadas ao perfil Th 1, ou seja, a
destruição de microorganismos, eliminação de agentes estranhos, como
biomateriais e liberação de mediadores pró-inflamatórios, hoje, sabe-se que
essa é uma célula com múltiplas funções (Kou & Babensee, 2011).
Devido a sua plasticidade funcional, os macrófagos foram divididos
em diferentes subtipos, identificados com base nas suas propriedades
funcionais distintas, marcadores de superfície e perfil de citocinas liberadas no
microambiente onde vivem (Mills et al., 2000; Mantovani et al., 2004; Kou &
Babensee, 2011). Esses são de dois tipos principais, macrófagos M1, pró-
inflamatórios, e macrófagos M2, anti-inflamatórios, moduladores e reparadores.
Hoje se sabe que essa divisão em extremos é falha, já que um tipo transforma-
se em outro, ou seja, é um processo dinâmico em que sofrem uma adaptação
funcional influenciados pelas mudanças no micro-ambiente (Stout et al., 2005),
além de existirem fases intermediárias, durante a evolução do processo
inflamatório até o reparo.
Em nosso estudo, optamos por avaliar os macrófagos do subtipo
M1, os quais apresentam elevada capacidade de processar antígenos, além de
serem essenciais na destruição da matriz e reorganização tecidual em tecidos
que sofreram agressão (Kou e Babensee, 2011). Considerando que este
estudo foi conduzido apenas nas fases iniciais pós-implantação, período no
qual os componentes presentes no cimento podem ser responsáveis por uma
toxicidade transitória, a quantificação do subtipo M1 visa auxiliar o método
histopatológico na análise da compatibilidade dos cimentos. Isso não quer dizer
que não haja macrófagos do subtipo M2 na região analisada, porém optamos
por não avaliá-los, tendo em vista que o reparo inevitavelmente ocorrerá como
verificado previamente no experimento piloto, em períodos de 42 e 60 dias.
Dessa forma, a persistência dos macrófagos M1 é o fator de interesse em
65
nosso estudo, já que levantamos a hipótese de que a persistência desta célula
poderia estar relacionada à manutenção do processo inflamatório, com
características mais ou menos severas nos grupos estudados.
Os resultados de nosso estudo surpreendem quanto ao padrão de
imunomarcação. O grupo Epiphany apresentou um maior número de células
positivas para iNOS, marcador do subtipo M1, em 7 e 14 dias, quando
comparado ao cimento Sealer 26. No entanto, este grupo apresentou na
avaliação histopatológica uma melhor organização da matriz e menor
destruição tecidual, sobretudo em 14 dias. Tais resultados podem estar ligados
ao papel dessas células na liberação de enzimas relacionadas à destruição da
matriz, como colagenases e metaloproteinases (Metzger, 2000; Kou &
Babensee, 2011), e seu influxo para as regiões inflamadas, visando à limpeza
de debris (Laskin, 2009; Kou & Babensee, 2011). Portanto, um aumento destas
células possibilitou um rápido remodelamento e remoção dos restos de
cimento, o que poderia estar relacionado a uma reorganização tecidual mais
rápida nos cortes corados em HE. Porém devemos lembrar que essa
classificação em M1 e M2 representa dois extremos dentro de funções
contínuas desempenhadas pelos macrófagos (Kou & Babensee, 2011). Em
outras palavras, mais células M1 no grupo Epiphany não significa
necessariamente que estas estejam produzindo os mesmos mediadores que as
células M1, no grupo Sealer 26. Podemos especular que o excesso de debris e
tecido necrótico no grupo Sealer 26 poderia ter levado a uma dificuldade de
essas células limparem a área, o que prolonga a ativação dos macrófagos,
liberando mediadores pró-inflamatórios e retardando o reparo.
Um dado interessante foi observado aos 21 dias, período no qual os
dois grupos não apresentaram diferenças estatítisticas significativas quanto à
marcação imunohistoquímica e quanto à intensidade da reação inflamatória,
sendo ambos classificados como suave a moderada.
Quando avaliados ao longo do tempo, o grupo Epiphany apresentou
maior quantidade de macrófagos em 14 dias, período mais favorável para o
mesmo na avaliação histopatológica. Este dado reforça a hipótese de que o
subtipo M1, apesar de essencialmente pró-inflamatório, é essencial para que
66
ocorra o processo de reparo. Já o cimento Sealer 26 não apresentou
diferenças significativas no número de macrófagos M1, ao longo do tempo,
demonstrando que este equilíbrio pode ter prejudicado o reparo nas fases
iniciais.
No entanto, diante dos múltiplos papéis dos macrófagos durante a
inflamação e da variedade de mediadores que esta célula pode liberar, mais
estudos são necessários para compreender a relação entre macrófagos M1 e a
evolução do processo de reparo em estudos, envolvendo cimentos
endodônticos. Este é um campo de estudos relativamente novo na área de
biomateriais, o qual precisa ser mais explorado. Embora a quantificação de
macrófagos M1 não seja uma ferramenta complementar na análise da
biocompatibilidade, avaliações imunohistoquímicas podem ajudar a entender
como se processam as pequenas diferenças observadas em avaliações de
biocompatibilidade dos cimentos.
67
7. CONCLUSÕES
Diante da metodologia empregada e dos resultados obtidos, foi
possível concluir que:
A intensidade da reação inflamatória dos materiais testados
diminuiu ao longo dos períodos avaliados.
Todos os cimentos testados resultaram em uma resposta
inflamatória em tecido subcutâneo de ratos, mesmo que suave.
A intensidade da resposta inflamatória pode estar relacionada ao
tipo de cimento endodôntico utilizado, à quantidade de material extruído e ao
período de análise.
Os materiais testados apresentaram padrões de aceitabilidade
biológica.
Embora a marcação para M1 não possua relação direta com a
intensidade da inflamação e velocidade do reparo, sugerimos que a
composição dos cimentos resulte em formas diferentes de conduzir ao reparo.
69
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