UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
CURSO DE ODONTOLOGIA
Avaliação da estabilidade de cor de resinas compostas submetidas a desafio corante
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Maria Cristina Speroni Simone Ropke
Santa Maria, RS, Brasil 2015
AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DE COR DE RESINAS
COMPOSTAS SUBMETIDAS A DESAFIO CORANTE
por
Maria Cristina Speroni Simone Ropke
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Odontologia da Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Cirurgião-Dentista
Orientadora: Profª. Drª. Letícia Borges Jacques
Santa Maria, RS, Brasil 2015
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências da Saúde Curso de Odontologia
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso
AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DE COR DE RESINAS
COMPOSTAS SUBMETIDAS A DESAFIO CORANTE
elaborado por Maria Cristina Speroni
Simone Ropke
como requisito parcial para obtenção do grau de Cirurgião-Dentista
COMISSÃO EXAMINADORA:
Letícia Borges Jacques, Profª. Drª. (UFSM) (Presidente/Orientadora)
André Mallmann, Profº Drº. (UFSM)
Magali Beck Guimarães, Profª Drª. (UFSM)
RESUMO
Trabalho de Conclusão de Curso Curso de Graduação em Odontologia Universidade Federal de Santa Maria
AVALIAÇÃO DA ESTABILIDADE DE COR DE RESINAS
COMPOSTAS SUBMETIDAS A DESAFIO CORANTE
AUTORAS: MARIA CRISTINA SPERONI SIMONE ROPKE
ORIENTADORA: PROF. DRª. LETÍCIA BORGES JACQUES Data e Local da Defesa: Santa Maria, 2 de dezembro de 2015.
O objetivo do estudo foi avaliar a estabilidade de cor de duas resinas
compostas microhíbridas, ambas na cor EA2, armazenadas em vinho tinto,
suco de uva ou água destilada (grupo controle). Foram confeccionados 60
corpos de prova (cps) para cada resina utilizando uma matriz metálica com 10
mm de diâmetro x 2 mm de espessura. Imediatamente após a foto-ativação
com LED (800mW/cm2) por 40s, os cps foram polidos com discos de lixa e
feltro com pasta diamantada, lavados em água e secos. As amostras foram
divididas em três grupos (n=20) de acordo com o meio de imersão. As leituras
de cor foram realizadas com o espectrofotômetro SP60 empregando o sistema
CIEL*a*b* em dois tempos: imediatamente após a confecção dos cps (T0) e
após 30 dias de imersão nos meios de armazenamento (T1). Os dados foram
analisados pelo teste de Análise de Variância para medidas repetidas e teste
de Tukey (p<0,05). Os resultado do estudo demostraram diferença estatística
tanto para as resinas compostas, quanto para os meios de imersão. Em ambas
as resinas, a água destilada foi o meio que teve os menores valores de ∆Eab,
seguido pelo suco de uva. Enquanto que no vinho tinto foi detectada a maior
alteração de cor. Ambas as resinas estudadas sofreram alterações de
coloração, quando imersas nos meios de armazenamento. Dentre os meios de
imersão, o vinho tinto apresentou maior potencial de pigmentação, seguido
pelo suco de uva e água destilada.
Palavras-chave: resinas compostas, cor, corantes.
ABSTRACT
Color stability of composite resins after staining challenge
The aim of the study was to evaluate the color stability of two microhybrid
composite resins, both in EA2 color, stored in red wine, grape juice or distilled
water (control group). Sixty specimens (sp) were made for each resin using a
metal matrix with 10mm diameter x 2mm thick. Immediately after
photoactivation with a LED source (800mW/cm2) for 40s, sp were polished
with sandpaper and felt disks with diamond paste, washed with water and dried.
The samples were divided into 3 groups (n=20) in accordance with the
immersion medium. The color readings were taken with a spectrophotometer
SP60 using the CIEL*a*b* system in two steps: immediately after the
preparation of sp (T0) and after 30 days of storage in the immersion medium
(T1). Statistical analyses were performed using Analysis of Variance (ANOVA)
to repeated measures and Tukey’s test (p<0,05). Results demonstrated
significant differences for composite resins and for the immersion medium. In
both composites, distilled water presented the lower ΔEab value, followed by
grape juice. While in red wine the greatest color change was detected. Both
studied resins suffered color variations when immersed in the storage medium.
Among the immersion solutions red wine showed the greater potential for
pigmentation, followed by grape juice and distilled water.
Keywords: composite resins, color, staining.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Resina Llis (A) e Resina Opallis (B) ................................................. 14 Figura 2 - Incremento de resina composta sendo levado à matriz metálica ..... 15 Figura 3 - Espectrofotômetro SP60 .................................................................. 16
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Materiais utilizados no estudo ......................................................... 13
Tabela 2 - Médias e desvios-padrão dos valores de ΔEab para os grupos
testados ............................................................................................................ 18
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 10
2 MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................... 13
2.1 Desenho do estudo ........................................................................... 13
2.2 Confecção dos corpos de prova ...................................................... 14
2.3 Desafio do manchamento e avaliação dos parâmetros de cor. .... 16
3 RESULTADOS .......................................................................................... 18
4 DISCUSSÃO ............................................................................................. 19
5 CONCLUSÃO ............................................................................................ 23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 24
1 INTRODUÇÃO
Na época atual, onde as restaurações estéticas assumem um papel de
destaque, a estabilidade de cor tornou-se um dos principais requisitos dos
materiais restauradores (ARDU et al., 2010).
As resinas compostas surgiram com o intuito de contribuir com o ideal
estético almejado pela sociedade (MELO JUNIOR, P.C.M et al., 2011). Visando
agradar pacientes e profissionais, tem-se desenvolvido resinas compostas com
inúmeras opções de cores e com uma ampla variação de translucidez. Isto
permite quase que uma ilimitada possibilidade de o material imitar a estrutura
dental, obtendo assim resultados cada vez mais naturais (COSTA, 2011).
Esses materiais poliméricos repletos de ligações cruzadas são formados
por uma matriz orgânica (monômeros, iniciadores, modificadores de cor, entre
outros), uma matriz inorgânica conhecida como carga e um agente de união
(silano). O tamanho e a morfologia das partículas têm influência nas
propriedades do material, como lisura superficial, desgaste, resistência à
fratura, viscosidade, contração e profundidade de polimerização
(KAWAGUCHI, 1994).
As resinas podem ser classificadas de acordo com suas características,
como tamanho, conteúdo e tipo de carga, assim como suas propriedades
físicas e mecânicas (SENAWONGSE & PONGPRUEKSA, 2007). De acordo
com o tamanho da carga podemos classificar as resinas compostas em:
tradicionais, as quais apresentam partículas de vidro com tamanho médio de
10 a 20μm e partículas com tamanho maior de 40μm. Isto explica sua principal
desvantagem, apresentar uma superfície de difícil acabamento. As
microparticuladas possuem carga inorgânica (sílica coloidal) com média de
tamanho 0,02μm e uma variação 0,01 a 0,05μm. Esse tamanho reduzido das
partículas de carga faz com que a resina composta apresente um bom
acabamento de superfície. Os compósitos resinosos híbridos ou mistos se
caracterizam por possuírem carga com tamanho médio de 15 a 20μm e sílica
coloidal com tamanho de partícula de 0,01 a 0,05μm. Com o avanço da
Odontologia e a melhoria nos métodos de trituração do vidro surgiram os
11
compósitos híbridos de partículas pequenas, com tamanho médio de partículas
de carga menor que 1μm e variação de tamanho de partículas de 0,1 a 6,0μm,
em geral combinadas com sílica coloidal. As partículas de tamanhos menores
possibilitam que esses compósitos sejam polidos até uma superfície de
acabamento mais lisa que aquela obtida com materiais de partículas maiores
(VAN NOORT, 2010).
Apesar de suas inúmeras vantagens, os compósitos têm algumas
limitações, como o fato de absorver pigmentos causados por fatores
extrínsecos e intrínsecos (SOUZA, et al., 2006).
A matriz da resina composta e sua incompleta polimerização são
considerados fatores intrínsecos e possuem uma influência considerável sobre
estabilidade de cor. A alteração de cor proveniente desses fatores é
geralmente atribuída à solubilidade da matriz e à degeneração química da
ligação da resina (LEITE, et al., 2014).
De acordo com Baratieri et al., (2001) os fatores extrínsecos têm maior
influência nas alterações de cor, o que resulta no manchamento superficial das
restaurações. Essas alterações são provocadas, entre outros motivos, devido à
sorção de líquidos, o que é acentuado quando a dieta do indivíduo inclui
agentes corantes. O vinho tinto destaca-se como uma bebida de elevado
potencial pigmentante. Isto parece estar relacionado à combinação de álcool,
pH ácido e coloração vermelho intenso do vinho tinto (ERTAS et al., 2006;
TOPCU et al., 2009; ARDU et al., 2010; BARUTCIGIL e YILDIZ, 2012). A uva,
por ser considerada uma fruta cítrica com baixo pH (RIZZON et al.,1998), gera
degradação da superfície da resina, fazendo assim com que o suco de uva
aumente a susceptibilidade de absorção do pigmento pelas resinas composta
(FONTES et al., 2009).
Em decorrência dos seus inúmeros benefícios para a saúde, o consumo
de vinho tinto e suco de uva tem sido estimulado. Autores como Moraes et al.
(2010) e Rodrigues (2007) relataram em seus estudos a contribuição do vinho
tinto para a saúde do organismo humano. Pesquisas demonstraram que o suco
de uva tinta pode trazer os mesmos benefícios à saúde (PENNA &
HECKTHEURER, 2004). Porém, o alto poder de pigmentação dessas bebidas
pode comprometer o sucesso estético das restaurações de resinas compostas.
12
Uma acentuada alteração de cor pôde ser observada pela impregnação de
corantes oriundos de bebidas e alimentos (COSTA et al, 2011).
Devido a crescente preocupação com a estética dental e considerando
os aspectos citados anteriormente, o objetivo deste estudo foi avaliar a
estabilidade de cor de resinas compostas microhíbridas quando submetidas à
imersão em bebidas com alto poder pigmentante. As hipóteses testadas foram:
1 - A estabilidade de cor das resinas compostas será semelhante,
independente dos meios pigmentantes; e
2 - Dentre os meios de imersão utilizados, o vinho tinto apresentará maior
potencial pigmentante, seguido do suco de uva e água destilada.
13
2 MATERIAIS E MÉTODOS
2.1 Desenho do estudo
Este estudo in vitro envolveu um desenho fatorial 2x3 (n=20). Os fatores
avaliados foram material (2 níveis - Resina Llis ou Resina Opallis) e meios de
imersão (3 níveis – vinho tinto, suco de uva ou água destilada). O mesmo corpo
de prova para cada condição experimental foi avaliado nos seguintes tempos:
leitura inicial (T0) e após 30 dias de imersão (T1).
As características dos materiais que foram utilizados no estudo estão
descritas na Tabela 1.
Tabela 1 - Materiais utilizados no estudo
Nome comercial (Fabricante)
Classificação/Cor Composição*
Llis
(FGM Produtos Odontológicos)
Microhíbrida
EA2
Monômeros de Bis-GMA, Bis-EMA, TEGDMA, canforoquinona, co-iniciador e silano.
Vidro de bário-alumínio silicato micronizado, pigmentos e sílica nanométrica.
Tamanho médio de partículas: 0,8μm (77,5% a 78,5% em peso)
Opallis (FGM Produtos Odontológicos)
Microhíbrida EA2
Monômeros de Bis-GMA, Bis-EMA, TEGDMA, UDMA, canforoquinona, co-iniciador e silano. Vidro de bário-alumínio silicato silanizado, pigmentos e sílica. Tamanho médio de partículas: 0,5μm (78,5% a 79,8% em peso)
*Informações fornecidas pelo fabricante Bis-GMA (Bisfenol A glicidil metacrilato),Bis EMA (Bisfenol A dimetacrilato etoxilado), TEGDMA (Trietilenoglicol dimetacrilato), UDMA (Uretano dimetacrilato)
14
Os materiais utilizados no estudo encontram-se atualmente disponíveis
no mercado conforme mostra a Figura 1.
Figura 1 - Resina Llis (A) e Resina Opallis (B)
2.2 Confecção dos corpos de prova
Para a realização deste estudo foram confeccionados 120 corpos de
prova (cps), 60 para cada resina, ambas na cor A2 Esmalte. Uma matriz
metálica em forma de disco, medindo 10 mm de diâmetro interno e 2 mm de
espessura foi utilizada para a confecção dos cps. Com a matriz posicionada
sobre uma tira de poliéster e sobre uma lâmina de vidro, a resina composta foi
inserida no orifício da matriz com o auxílio de uma espátula, em único
incremento como observado na Figura 2.
15
Outra tira de poliéster e uma lâmina de vidro foram posicionadas sobre a
parte superior da matriz e uma carga axial constante de 250 gramas foi
aplicada sobre a lâmina de vidro por 10 s, para a uniformização da superfície
do cp. Um fotopolimerizador tipo LED (FlashLigth-Discus/Culver City-CA, USA)
com ±800mW/cm2, aferido pelo LED Radiometer (Demetron – Kerr / Danbury-
CT, USA) foi utilizado para a fotopolimerização das resinas compostas.
Primeiramente a resina composta foipolimerizada por 20 s sobre a lâmina de
vidro e em seguida a lâmina foi removida e mais 20 s de fotoativação foi
realizado.
A superfície de todos os cps foi polida sempre pelo mesmo operador
previamente treinado, com discos de lixa Diamond Pro (FGM) em quatro
granulações (Grossa, Média, Fina e Extra Fina), por 20 s cada disco. Disco de
feltro (Diamond Flex – FGM / Joinvile-SC, Brasil) com pasta diamantada extra-
finade 2 a 4μm (Diamond Excel – FGM / Joinvile-SC, Brasil), também por 20s,
foi utilizado para o polimento final. Em todas as trocas de discos os corpos de
prova foram lavados em água corrente por 30s e secos com gaze. Após o
polimento os cps foram mensurados com o auxílio de paquímetro eletrônico
digital (AbsoluteDigimatic,Mitutoyo, Tóquio, Japão) a fim de confirmar uma
espessura de 2 mm, aceitando uma tolerância de 0,05mm. Os cps que não
preencheram esse requisito eram descartados. Naqueles cps que foram
Figura 2 - Incremento de resina composta sendo levado à matriz metálica
16
mantidos, quatro marcações foram realizadas com uma ponta diamantada em
alta rotação na face a ser medida a cor.
2.3 Desafio do manchamento e avaliação dos parâmetros de cor.
Os corpos de prova foram divididos em 6grupos, sendo 20 corpos de
prova por grupo. As leituras de cor dos corpos de prova foram realizadas em
dois tempos: imediatamente após o polimento (T0) e após 30 dias (T1).
Os cps foram imersos nos seguintes meios, durante 20 minutos diários:
1) vinho tinto seco – Cabernet Sauvignon – 12,2% de álcool (Vinícola Aurora –
Bento Gonçalves – RS, Brasil); 2) suco de uva integral sem adição de açúcar –
uvas Americanas (Vinícola Aurora – Bento Gonçalves – RS, Brasil, e 3) água
destilada como o grupo controle. A quantidade de líquido foi padronizada em
3ml e os cps foram individualmente armazenados, em frascos hermeticamente
fechados, estocados em estufa a 37ºC, durante todo o período do estudo.
O espectrofotômetro SP60 (X-Rite – Grand Rapids / MI, USA), no modo
analisar, utilizando iluminante D-65, ângulo de observador 10º e o sistema de
cor CIEL*a*b* (ComissionInternationall´Eclairage) foi empregado nas leituras
(Figura 3).
Neste sistema, L* é a coordenada de luminosidade, com valores
variando de zero (preto) a cem (branco) e as variáveis a* e b* são coordenadas
Figura 3 - Espectrofotômetro SP60
17
relativas à cor no eixo vermelho-verde e amarelo-azul, respectivamente.
Valores positivos de a* indicam uma tendência para o vermelho, e os negativos
para o verde. Similarmente, os valores positivos de b* indicam uma tendência
para o amarelo e os negativos, para o azul.
Segundo o fabricante, este espectrofotômetro tem área de medição de
8mm de diâmetro, com funcionamento baseado na abertura de leitura da esfera
integradora captando a luz refletida na porção superior central do cp. As
leituras de cor dos cps foram realizadas sobre o fundo branco de um cartão
padrão de leitura (BYK – Gardner – USA). Uma substância acoplante (glicerol
C3H8O3/Vetec Química Fina Ltda – Rio de Janeiro, Brasil), com índice de
refração em torno de 1,47 foi utilizada para minimizar a dispersão de luz entre
o corpo de prova e o cartão padrão.
Previamente ao início das leituras, o aparelho foi calibrado conforme
recomendações do fabricante. Três leituras foram realizadas em cada corpo de
prova e a mediana dessas leituras foi utilizada nos cálculos da cor.
Para medir as diferenças entre os parâmetros de cor final e inicial foi
utilizada a fórmula (Eq.1) preconizada pelo método CIE L*a*b*, na qual essa
diferença de cor (ΔEab) é calculada da seguinte maneira:
ΔEab = [(ΔL)2 + (Δa)2 + (Δb)2]½ (Eq.1)
Onde:
∆L= L*final – L*inicial
∆a= a*final – a*inicial
∆b= b*final – b*inicial
18
3 RESULTADOS
As médias dos valores da variação de cor (∆Eab) e desvios-padrão para
cada uma das condições experimentais foram calculadas e estão descritas na
Tabela 2. Os resultado do estudo demostraram diferença estatística tanto para
as resinas compostas, quanto para os meios de imersão.
Tanto para a resina Llis quanto para a Opallis, a água destilada foi o
meio que teve os menores valores de ∆Eab, seguido pelo suco de uva.
Enquanto que no vinho tinto foi detectada a maior alteração de cor.
Na água destilada e no vinho tinto a resina Llis teve maiores valores de
∆Eab que a resina Opallis, havendo diferença significativa entre elas. Já no suco
de uva o comportamento foi o inverso, a resina Opallis apresentou maior
alteração de cor quando comparada a Llis, havendo diferença estatística entre
os compósitos.
Tabela 2 - Médias e desvios-padrão dos valores de ΔEab para os grupos testados
Letras minúsculas representam diferença estatística na linha e letras maiúsculas representam diferença estatística na coluna.
Água destilada Suco de uva Vinho tinto
Llis 3,29 (1,41) a,B 6,07 (2,86) b,A 11,34 (3,57) c,B
Opallis 2,10 (1,00) a,A 7,49 (2,41) b,B 9,78 (2,36) c,A
19
4 DISCUSSÃO
O sucesso ou fracasso de uma restauração estética depende da escolha
do material restaurador, bem como de suas propriedades físicas e químicas.
Estabilidade de cor e resistência ao manchamento são requisitos necessários
para estes materiais quando se pensa em longevidade. Na busca por
restaurações que forneçam um aspecto de naturalidade, uma série de
pesquisas tem sido realizadas visando a melhoria das resinas compostas,
especialmente em suas propriedades ópticas (LIM et al., 2008; LEE, 2008).
A determinação de cor em Odontologia pode ser dividida em duas
categorias: visual e instrumental. Os métodos instrumentais são mais precisos,
podem eliminar potenciais erros subjetivos na detecção das cores, além de
possibilitar a mensuração de diferenças sutis em uma superfície (BAGHERI et
al., 2005). Geralmente empregam o sistema CIE L* a* b*, desenvolvido pela
Comission Internacionale de I’ Eclairage (CIE). Este sistema matemático
representa tridimensionalmente a cor em três eixos ou coordenadas: L*, a* e
b*. O valor L* é a medida da luminosidade de um objeto e varia de zero (preto)
a cem (branco puro) e as variáveis a* e b* são as coordenadas relativas à cor
nas axiais vermelho-verde e amarelo-azul. Essas coordenadas relativas à cor
aproximam-se do zero para as cores neutras (branco e cinza) e aumentam de
intensidade para as cores mais saturadas ou intensas. A variação de cor de um
corpo (∆Eab) representa a distância, em linha reta, da posição determinada
pelos pontos cartesianos, adotando como referência a mensuração das
coordenadas L*, a* e b* de cada medida (O’BRIEN et al., 1997).
Em recente estudo Paravina et al. (2015) estabeleceram novos
parâmetros para os limiares de perceptibilidade (PT) e aceitabilidade (AT) na
detecção da diferença de cores em Odontologia.Esses limites podem servir
como uma ferramenta auxiliar no controle de qualidade para orientar a seleção
de materiais odontológicos, avaliar o seu desempenho clínico e interpretar
achados visuais e instrumentais. Os resultados demonstraram que ΔEab=1,22
(IC 95% 0,45-1,89) foi um valor de referência considerado perceptível e
ΔEab=2,66 (IC 95% 1,96-3,37) considerado aceitável.
20
A primeira hipótese testada de que a estabilidade de cor das resinas
compostas é semelhante, independente do meio pigmentante foi rejeitada.
Analisando os resultados do presente estudo foi possível verificar que a resina
Llis apresentou um maior potencial pigmentante que a resina Opallis. De
acordo com Shintani et al. (1985) e Reis et al. (2003), a susceptibilidade da
resina composta ao manchamento está relacionada ao grau de absorção que,
por sua vez, está relacionado com a natureza hidrofílica ou hidrofóbica de seus
componentes. Embora ambos os compósitos sejam classificados como
microhíbridos e apresentem uma composição similar, o tipo de matriz resinosa
pode ser um dos principais contribuintes para a descoloração da resina
composta. Quando avaliado o fator resina, a Opallis sofreu menos pigmentação
que a Llis, provavelmente em função da presença do monômero UDMA, o qual
está ausente na resina Llis. Segundo alguns autores (PEARSON & LONGMAN,
1989; KHOKHAR et al., 1991) o UDMA é um monômero que possui maior
resistência ao manchamento se comparado aos monômeros Bis-GMA e
TEGDMA, existentes em ambos os compósitos testados.
O tamanho e distribuição das partículas de carga também pode
influenciar a resistência ao manchamento. Um estudo de Vichi et al (2004)
demonstrou que compósitos com partículas maiores foram mais susceptíveis à
descoloração pelo envelhecimento em água do que resinas com partículas
menores. Segundo os autores, a percepção de cor está diretamente
relacionada à dispersão de luz. Como a interface entre a carga e a matriz
resinosa é um dos pontos mais frágeis de um compósito, com alta sensibilidade
à sorção de água, é possível que a degradação hidrolítica desta interface
possa modificar a maneira como a luz é dispersada pelas partículas de carga.
Nossos resultados demonstraram que a resina Llis, com tamanho médio de
partículas de 0,8μm, sofreu mais influência dos meios de imersão que a resina
Opallis, com tamanho médio partículas de 0,5μm.
A segunda hipótese testada de que dentre os meios de imersão o vinho
tinto apresenta maior potencial pigmentante, seguido do suco de uva e água
destilada foi confirmada.Tanto na resina Opallis quanto na Llis a maior
alteração de cor foi observada com o vinho tinto, seguido pelo suco de uva e
água destilada. A susceptibilidade ao manchamento de uma resina composta
21
pode ser atribuída ao grau de sorção de água e também à hidrofilia da matriz
resinosa. Se o compósito pode absorver água, ele também é capaz de
absorver outros fluidos, o que resulta na sua descoloração. A sorção de água
ocorre principalmente pela absorção direta da matriz resinosa. As partículas de
carga não irão absorver água para o seu interior, mas poderão adsorver água
em sua superfície (BAGHERI et al., 2005; SOARES-GERALDO et al., 2011).
Uma sorção adicional de água pode diminuir a longevidade da restauração
estética em decorrência da expansão e amolecimento do componente resinoso
do material, hidrólise do silano, causando a formação de micro-trincas
(BAGHERI et al., 2005).
Nossos achados são corroborados por outros estudos (ERTAS et al.,
2006; TOPCU et al., 2009; ARDU et al., 2010) que também observaram uma
alta retenção de pigmentos em resinas compostas quando imersas em vinho
tinto, sendo esta solução ponderada como um dos fatores extrínsecos de maior
potencial pigmentante para os compósitos. No entanto, ainda não está bem
explicado na literatura se o manchamento é causado pelo álcool ou pelos
pigmentos presentes no vinho tinto. Com o intuito de esclarecer esta dúvida, o
suco de uva foi empregado como solução pigmentante alternativa no presente
estudo. O manchamento provocado pelo vinho tinto e suco de uva deve-se à
presença de compostos fenólicos. Entre as frutas, a uva é uma das maiores
fontes de compostos fenólicos. Os principais fenólicos presentes na uva são os
flavonóides (antocianinas, flavanóis e flavonóis), os estilbenos (resveratrol), os
ácidos fenólicos (derivados dos ácidos cinâmicos e benzóicos) e uma larga
variedade de taninos. Dentre os flavonóides podemos destacar as antocianinas
que são responsáveis pela maioria das cores azul, violeta e todas as
tonalidades de vermelho que encontramos em flores, frutos, folhas, caules e
raízes de plantas (MALACRIDA E MOTTA, 2005).
Além disso, o pH baixo presente no suco de uva e no vinho tinto e o
álcool presente apenas no vinho podem afetar a integridade da superfície das
resinas compostas. A absorção de moléculas de álcool contido no vinho pela
matriz de resina resulta no amolecimento da superfície dos compósitos,
aumentando dessa forma, o manchamento das mesmas (VILLALTA et al.,
2006). Isso explica também o fato de o vinho tinto possuir maior capacidade
22
pigmentante se comparado ao suco de uva, já que o primeiro possui dois
fatores que colaboram para essa degradação da matriz.
A avaliação da estabilidade de cor em resinas compostas após o contato
com diferentes meios de imersão tem demonstrado que estes materiais não
são inertes no ambiente oral (ANDRADE et al, 2014). Vichi et al. (2004)
demonstraram que a água pode agir como agente de descoloração em
diferentes graus de intensidade, o que corrobora nossos resultados em que a
água, empregada como meio de imersão controle, provocou alteração de cor
em ambas as resinas. Isso se deve ao fato de a sorção de água provocar o
amolecimento da matriz de resina, degradação da resina, redução da
resistência ao manchamento (SHAH et al. 2009) e mudanças na translucidez
(FONTES et al., 2009).
Considerando os diferentes meios de armazenamento testados, em
recente estudo Leite et al. (2014) também observaram maior manchamento em
uma resina composta quando imersa no vinho tinto, seguido pelo suco de uva,
suco de açaí e água destilada, o que vai ao encontro de nossos achados.
Avaliando os limiares de perceptibilidade e aceitabilidade propostos por
Paravina et al (2015), podemos observar no presente estudo que ambas as
resinas testadas apresentaram alterações de cor perceptíveis e inaceitáveis,
com exceção do grupo Opallis imerso em água em que o ΔEab=2,10. Bagheri et
al. (2009) e Leite et al. (2014) observaram que a água não causou alterações
de cor perceptíveis em seus estudos, porém empregaram como parâmetro
clinicamente aceitável o limiar ΔEab<3,3 (VICHI et al. 2004), o que difere de
nossos achados.
Uma vez estabelecida a importância das propriedades óticas das resinas
compostas, em especial a cor, entender esta propriedade e como ela se
comporta frente aos desafios pigmentantes é de grande importância para o
aprimoramento destes materiais. Deve-se salientar a importância de novos
estudos com diferentes desafios pigmentantes, bem como avaliando opacidade
e translucidez destes materiais para esclarecer melhor esse assunto.
23
5 CONCLUSÃO
De acordo com esse estudo, concluímos que:
Ambas as resinas estudadas sofreram alterações de coloração,
quando imersas nos meios de armazenamento.
Dentre os meios de imersão, o vinho tinto apresentou maior
potencial de pigmentação, seguido pelo suco de uva e água destilada.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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