II ANNO DOMINGO, 18 DE MAIO DS 1903 N.° 44
SEM AN A R I O N O T IC IO S O , L IT T E R A R IO E A G R ÍC O L A
•ASsigóatísraAnno. iSooo reis; sèmestre; .'>oo réis. Pagamento adeantado. para o B ra/il, anno, 2$ 5 q q . réis,(moeda fortej.Avulso, no dia da' publicação , ' 2 0 réis.
EDITOR— José Augusto SaloioQ
.111 GE, Annuncios-caçõ es
i . a publicação, 40 réis a linha, nas seguintes,
ii 16— LARGO DA MISERICÓRDIA-ALDEGALLEGA
Q 20 réis. Annuncios na 4.=' pagina, contracto espjcial. Os auto-íJ l í «raraphos não se restituem quer sejam ou não publicados.
PROPRIETÁRIO—-José Augusto Saloio
e x p e d i e n t e
A cce ita m -se co m g r a t idão q n n e stjH é r n o t ic ia s (jsae se jam «le in te r e s s e
Hco.
Anda a sciencia estudando, cada vez cora mais afinco, os meios de combater esse terrível mal, e effectivamente muito já tem feito em benefício cia humanidade. Pena é que se prenda ás vezes com puerilidades, em vez de ir buscar onde deve a verdadeira origem do mal.
, Nunca se deve prestar ao ridiculo a missão da medicina. Tudo o que é santo e nobre tem obrigação de ser respeitado, mas tambem, para que assim seja, tem obrigação de fa- zer-se respeitar.
A Causa verdadeira da tuberculose' está provado que, pelo menos entre nós, é a miséria! Se as classes abastadas, sofirem por vezes essa cruel enfermidade, deve attribuir-se isso ao desregramento em que vivem tantos ociosos que por ahi abundam.
Os senhores, que gozam todos os confortos do luxo e da riqueza, nunca entraram numa daquelias casas miseráveis, do bairro de Al fama, por exemplo, onde se accumulam as pessoas como sardinhas em pilha? Casas sem ar, sem luz, sem condições hygienicas. E entretanto alli vive-se, isto é, vegeta-se, e o senhorio cobra por aquelle misero albergue uma renda muito rasoavel.
A mãe, pobre, doente, sem recursos alimentícios, transmitte lògo aos filhos a tuberculose no leite que lhes dá. Respirando um ar mephitico, os pulmões não podem dilatar-se, aspirar a longos haustos uma atmos- phera vivificante, e por consequencia, desde que nasce, a creança está fatalmente predisposta para a tuberculose.
E systema muito velho eni Portugal pôr enormes
trancas na porta depois da casa roubada; systema consagrado pela rotina, mas que deve acabar para honra e dignidade de todos nós.
Que grandes lucros tiraria e que: bello serviço viria prestar aos pobres uma empreza que empregasse o seu capital em construir casas baratas, éorn boas condições hygienicas, onde houvesse ar e luz, onde não se respirassem unicamente miasmas deleterios! Que-bella ap- piicação dada ao dinheiro que ahi se emprega na usura e em tirar a pelle ao similhante! Eram dois proveitos: o dinheiro empregado teria necessariamente o seu lucro e as classes pobres vêr-se-hiam livres de esse fatal algoz — a renda da casa — que as obriga a ir empenhar o pouco que possuem, para pagar o exaggeradissimo . aluguer do miserável pardieiro em que habitam.
E’ tãq íacii aos ricos praticar o bem ! Mas o dinheiro nos bancos dá mais, garantia, calculam elles. Se até ha individuos que não pagam as suas dividas, para terem esse dinheiro a render, explorando assim bs pobres crédores!
Fundando-se uma empreza de tal ordem, os seus beneméritos iniciadores veriam cahir-lhes sobre as cabeças as bênçãos dos pobres, e seriam uns bemfei- tores da humanidade desvalida.
JOAQUIM DOS ANJOS.
Estiveram -em exposição em casa do nosso amigo Antonio da Silva Bataha, duas valiosas prendas, destinadas ao bazar na festa do Senhor dos Afflictos, que aqui tem logar hoje e ámanhã. São uma jarra, trabalho primoroso, feito na fabrica de lòuça do sr. Jacintho Antonio Gouveia, e um quadro, obra do nosso amigo Antonio Rodrigues Calleii'0 Junior, digno professor de ensino livre, em que revela alli toda a sua perseverança própria d’um bomconselheirodecriancas
€& jdejmrativo ®ias Amado e os jórnacs de íLss- Sioa.
AS DOENÇAS DO UTERO E OYARIOS
Destruição completa da syplulis em todas as suas manifestações, rheumatis- mo, erupção de pelle, fe r idas antigas ou recentes, es- crop/rulas, olhos e nevralgias.
Pelos innumeros factos apresentados, factos duma soberba admiração, teem os nossos, estimáveis leitores ajuizado dã poderosa energia que o «Depurativo Dias Amado» exerce sobre ■grande variedade de doen- ças.
E’ certo, porém, que não raras vezes, em enfermidades de somenos importan- cia, temos encontrado queixumes, em consequencia da negativa, queixas e negativas que poucos dias depois desapparecem com uma simples observação.
Ha, dias com o sr. Manuel dos Santos, proprietário residente em Paço d Arcos, deu-se um destes casos.
Elle soííria de uma inflam mação na. vista e erupção de pelle. Havia já tomado oito frascos deste depurativo e a enfermidade com quanto menos intensa, persistia.
A muitíssima confiança que temos neste preparado especialmente para doen-. ças como as que, estamos alludindo, poz-nos em desconfiança de que o sr. Santos não "cumpria a rigor a dieta, e sobre tal ponto fomos interrogal-o. Se é facto que elle tentava encobrir esta falta de observância, não é menos verdade que depois de um tanto instado, elle nos disse que realmente, algumas vezes, durante o tratamento, havia abusado, comendo coisas que atrazavam o desenvolvimento das • melhoras,taes como sardinhas, azeitonas, pimentos, vinho, etc.
Depois de lhe fazermos vêr os grandes inconvenientes que dalli surgiam
pois que não só desacreditava um preparado que tão éxtraordinarias curas tem feito, como arruinava cada vez mais a sua saude, re- commendamos-lhe, a titulo de experiência, o mais rigoroso respeito pela dieta’
Este; poderoso depurativo do sangue, composto apenas de vegetaes inof- fensivos, não contém mercúrio como por mais duma Vez temos provado com a publicação da analy.se feita em Coimbra por dois professores da Universidade.
Preço de cada frasco, i:>ooo réis.
Para fóra de Lisboa não se romettem encommen- das inferiores a dois frascos, sendo o porte do correio de dois até seis frascos 200 réis.
Deposito geral: Pharmacia Ultramarina, rua de S. Paulo, ()'.) e 101, Lisboa, e no Porto pharmacia Bo- lhão.
As tres íísSíSioálaeeas
Recebemos os primeiros fascículos do romance 0 Filho do Mosqueteiro, com o qual iniciou as suas publicações a Empreza dVLs' tres bibliothecas propriedade de os srs. Urbano de Castro e Alvaro Pinheiro Chagas.
Transcrevemos em seguida o que, a respeito de esta nova Empreza, escreve o nosso collega de Lisboa, o D iario de Noticias:
«Entre as casas editoras de Lisboa, conta-se agora mais uma, para a qual chamamos a attenção dós nossos leitores. Referimo-nos á que tem por titulo As tres bibliothecas. Os seus proprietários são: Urbano de Castro e Alvaro Pinheiro Chagas. O primeiro, jornalista brilhante, poeta de raça e escriptor esperi- tuosissimo, que descende, intellectualmente, de Riva- rol e de Tolentino, é perfeitamente conhecido de todos aquelles que teem jornaes e se interessam pela politica.
O segundo, filho do saudoso escriptor, jornalista e parlamentar Pinheiro Chagas, é um rapaz intelligen- tissimo, escriptor de talento, e que dispõe de uma energia no trabalho, que podemos classificar de verdadeiramente americanas.
Pois muito bem. Estes dois cavalheiros, em quem sobram aptidões e faculdades de trabalho, fundaram a casa editora a que nos referimos e principiaram por editorar um romance verdadeiramente sensacional
- 0 filho do mosqueteiro. Nesta obra curiosa não falta um só dos requesitos exigidos num romance de bom cunho — a acção palpitante e profunda, o enredo bem conduzido, a narrativa recheada de peripe- cias interessantes, os typos soberbamente desenhados. Ao ler este romance, o leitor sente-se empolgado, como se estivesse lendo um conto do tempo dos califas, dos mágicos e das fadas. Não erramos, affirmando que no genero é uma obra prima.
Chamando a attenção dos nossos leitores para a nova casa editora As tres bibliothecas e para o romance O filho do mosqueteiro, cujas primeiras cadernetas estão em distribuição, cremos prestar-lhe um bom serviço.»
E’ agente da Empreza, em Aldegallega, o sr. Alberto Brito Yalentim a quem devem ser feitos os pedidos de assignatura.
O escriptorio da Empreza em Lisboa, é na rua da Barroca, 72.
Foi feito aviso aos candidatos aos logares de delegados do procurador régio, entrando entre estes o nosso excellente amigo sr. dr. Luciano Tavares Móra, para apresentarem dentro do praso de 15 dias.os documentos que lhes faltam, afim de poderem ser admit- tidos a prestar provas no respectivo concurso. Ao nosso amigo appetece- mos-lhe as maiores, felicidades.
2 O D O M I N G O
IS&ciirsãio a Tliírnsai*Como já temos noticia
do, uma commissão de so- cios da sociedade phylar- monica i.° de Dezembro, d’esta villa, promove para o dia 22 do proximo mez de junho uma excursão á formosa cidade de Thomar. Esta commissão tem envidado todos os esforços para que este passeio reuna o maior numero de attracti- vos e de imponência quanto em suas forças couber. A procura de bilhetes vae- se manifestando cada vez mais pela sua excepcional barateza. Thomar, ida e volta 2$400 réis. A'lém d isso a commissão promotora porporciona a todos aquelles que não possam pagar de prompto, fazerenino por meio de prestações semanaes de Soo réis. As pessoas que ainda não puderam admirar as bellezas da rica Thomar não devem deixar de o fazer em tão excellente occasião.
Na. segunda-feira 12 do corrente, uma filha de Antonio Fernandes O Gallinho, de nome Alice, cahiu a um poço que este tem no quintal pertencente á casa onde reside. Felizmente foi salva.
ivea^araosCompleta ámanhã mais
um anniversario natalicio a ex."'a sr.1 D. Estephania Augusta da Veiga Sargedas Coelho, respeitável esposa do nosso amigo Arthur Augusto Affonso. Coelho.
— Tambem faz annos ámanhã a gentil menina Helena Quaresma Ventura, filha do sr. Antonio Maxi- 1110 Ventura.
— No dia 20 completa mais um anniversario natalicio a intelligente menina Lucilia Tavares Móra, filha do extincto medico, dr. Manuel Justiniano Móra.
Enviamos-lhes os nossos parabéns.
Esteve 110 domingo e segunda-feira de visita nesta villa o nosso amigo Padre Manuel dos Santos Louren- ço.
F c s ía ao scjilio r dos
Tem logar, conforme noticiámos, hoje e ámanhã a festividade ao Senhor dos Aífiictos. E’ de esperar que seja muito concorrida, pois que este anno é feita com pompa superior á dos annos anteriores.' A’lém d'isso há já decorridos seis annos que esta festa se não fazia, o que nos leva a crer por este motivo que seja enorme o numero de devotos alli attrahido.
Hoje, pelas 10 horas da manhã, sahe a commissão deste festejo em peditorio acompanhada peladistincta phylarmonica «União e Trabalho», de Sarilhos Grandes, percorrendo algumas ruas da villa. O ar raiai começa ás 5 horas da tarde havendo kermesse, ladainha, etc., até ás 7 horas da tarde. A’s 8 horas da noite será o local do festejo gostosamente illumi- nado, kermesse, tocando no coreto a phylarmonica «União e Trabalho» das 8 horas até á meia noite.
Amanhã, pelas 11 horas da manhã, haverá missa, sermão pelo prior do Sa- mouco e kermesse. A’ noite: kermesse e musica no coreto pela phylarmonica «i.° de Dezembro», desta villa.
★No local cio festejo acha-
se um bem montado res- taurante-barraca, onde o- devotos dò senhor dos Affli- ctos poderão deliciar-se com os saborosos acepipes, preparados pelo habil cosi- nheiro-amador, sr. Antonio Victorino Mirra. Ha mais barracas de comes e bebes, pim-pam-pum, exposição de figuras de cera, vistas, etc. Devem ser dois dias bem passados.
Estão affixados editaes nas freguezias deste concelho, para se proceder no proximo mez de junho ao afilamento de pesos e medidas neste concelho, na respectiva repartição, na rua do Poco n.° 2.
CO FRE B E PÉ R O LA S
DEVOÇÃO...(Do hespanhol)
Não te quero enganar, doce Maria ;Se o Christo redemptorTu me viste beijar, no outro dia,Com mystico fervor,Não f o i por devoção, como pensaste; F o i uma idéa, a ardência do desejo De aspirar, nesse sitio que beijaste,A êssencia enebriante do teu beijo.
JOAQ UIM DOS ANJOS.
PENSAMENTOSSê bella, se podes; sabia se quiseres; mas o que épre
ciso é que sejas ajuizada.— Beauníarchais.— O bom senso é o guarda-portão do espirito: o seu
mister é de não deixar entrar nem sahir as idéas suspeitas.— Daniel Stern.
— Não ha, nem pode haver, cousa mais aborrecivel e mais detestável aos olhos da boa ra~ão, que a entonada soberba de um malévolo ignorante.— José Joaquim de Macedo.
— As leis f aiem-se na Camara; mas os ministros nos corredores.— Edm. Gondinet.
(Do hespanhol).
N o mundo, falso e traidor,Sente o peito e mente o labio;F o que se julga mais sabio E quem se engana melhor.
JOAQUIM DOS ANJOS.
A N E C D O T A S
— 0 amigo, você bebe muito vinho? perguntava um reitor ao padre cura.
— Não, senhor; bebo só em duas occasiões: quando como e quando não como.
Foi preso no dia 11 do corrente, pelas 8 horas da noite, Francisco da Silva, trabalhador, morador acci- dentalmente nesta villa, por aggredir com pauladas, seu compadre Manuel Jorge, residente nesta villa, que resultou ficar bastante ferido na cabeca.
Duas crianças, depois do almoço, vão brincar para o jardim. Junto da casa de campo pasta uma manada dei vaccas. A mais velha das crianças di~ d outra:
— Vês aquella vacca branca, que está ao pé da preta? foi a branca que deu o leite do nosso almoço.
--B em sei, respondeu a outra; e a preta deu o café!
Lui~ esconde um boneco atra? do baliú:— Que estás ahi a fazer? pergunta a mãe.— Estou a perder o boneco, que é para fica r muito
contente quando o tornar a encontrar.
Na junta d inspecção militar:— Tem algum defeito?— Sim. senhor. Sou muito curto de vista.— Como prova isso?— Facilmente. O senhor doutor vê aquella mosca
acolá, na parede?— Vejo.— P o i á eu não a vejo.
E’ hoje que se começa a tirar as licenças de contribuição sumptuaria, na repartição de fazenda desteconcelho.--------«i». . . ....------------
Tentou suicidar-se na manhã do dia 14 do corrente, o empregado da importante fabrica de gazozas dos srs. Silva & Silva, de nome Manuel Rodrigues. Foram-lhe prestados os primeiros soccorros médicos pelo sr. dr. Manuel Fernandes da Costa Moura, sendo em seguida conduzido para o hospital de S. José, enfermaria de S. Lázaro, Lisboa. Consta que se salva.
Queixaram-se no dia 12 do corrente na administração deste concelho, José da Silva Russo, d’Aldegallega, e Amelia dos Santos, d’Ata- laya, contra Antonio da Cunha Lage, Manuel Lou- renço, José cTAmieira, Antonio Cambão e Joaquim da Sophia, todos d’Atalaya, por terem sido aggredidos á paulada no domingo ultimo na estrada do referido logar d'Ata!aya.
A Camara mandou an- nunciar para o dia 8 do proximo mez de junho, pela uma hora da tarde os impostos municipaes indirectos, no trigo, milho, centeio, pão cosido, farinha espoada e rolão, e no toucinho salgado, fresco e carne de porço para consumo n esta villa e nas freguezias deste concelho.
Sí3íi'erB88íjTem passado bastante
incommodada de saude a respeitável esposa do sr. Francisco Rodrigues Pinto, honrado commerciante de esta villa. Estimamos-lhe rapidas melhoras.
FOLHETIM
Traducção de J. DOS AN.IOS
UMA HISTORIADO
OUTRO MUNDORomance de aventuras
vie>!È4Íe está e lla?
O dia foi comprido e atroz. Debaixo das vistas do sargento, não se atreviam a deixar transparecer no rosto os mii pensamentos q\;e lhes remoinhavam no cerebro e lhes torturavam 0 coração. Trabalhavam de ca
beça baixa, com as mãos encrespadas e o espirito perturbado.
Todas as desgraças lhes cahirsm em cima ao mesmo tempo. Perdiam a Joanna, aquella Joanna que era o unico reflexo da Paris adorada que náo tornavam a vêr, aquella Joanna a quem amavam porque n'ella revivirá todo o seu passado e floresciam todas as esperanças do seu futuro. K ao mesmo tempo perdiam a pequena parte da liberdade, comprada tão es pinhosamente por um anno de submissão cruel e de trabalho fatigante. Ah! toda a força do pae náo era bas tante para supportar aquelle pe.so, e a própria alegria do Mario, soffrendo tal golpe, via quebrarem-se-lheasazas.
Chegada a noite sentiram o coração quasi a estalar quanJo se encontraram pela ultima vez a ) pé do banco pequeno onde tinham passado
noites tão deliciosas com a Joanna.— Pobre Joanna! soluçou o Mário.
Onde estará ella?—-Oh! respondeu o João, se eu o
soubesse, já lá estava. E até dentro de uma hora; porque sei onde ella está! está morta.
—-Quem te disse isso? eu creio antes que fosse aprisionada pelos selvagens.
O Jo 'o ’ encolheu os hombros com ar incrédulo e deixou-se cahir pesadamente no banco, comoanniquilado. Um quarto de hora depois, foi acordado do seu abatimento por e.sta phr.-se pequena que o Mario lhe disse sorrindo ao ouvido:
— E ' forçoso que vamos procurar a Joanna!
V II
JVazuclard paizagistfa
Antes de dizer ao João estas palavras decisivas, Mazuclard tinha ficado p o r muito tempo imraovel, direito como uma estatua no limiar da porta, contemplando com olhar fixo a paizagem crepuscula.
Deante d'elle, quasi aos seus pés, desdobrava se um paul, orlado de juncos e coberto de nenuphares de folhas largas e lisas.
Do lado das terras erguia-se uma massa escura, espessa matta em forma de cupula. de onde sahia um r ibeiro. A corrente vinha m orrer na superfície > as plantas. Aquelle rqido, sahindo da noite, fazia pensar numa canção extranha, balbuciada por uma g-ela completamente negra.
A cupula era formada de moitas enlaçadas, de plantas trepadeiras e de arvores copadas. Havia alli uma especie de montão de verdura, de onde sobresahia uma faixa comprida e larga de bosques sombrios subindo para o interior da ilha. Parecia um rio de arvores, cujas ondas se accumulassem no fundo de um declive. Seguindo até o horisonte o desenvolvimento d'aquella floresta, o olhar fitava-se no fundo do quadro, onde vagamente se esfumava, no azul cinzento do céo, a contorno recortado das montanhas.
Tudo isto apparecia n'aquella luz clara-escura da noite, através do véo transparente do crepusculo, que táz realçar com tons vigorosos as massas sombrias e que envolve os contornos ■ num a especie de nevoa tremente.
(Continuai
litteratura
o J05IEÍ 003 BOLOS D'OURO
Era uma vez um homem que tinha miolos douro; sim, meus senhores, miolos todos douro. _
Quando veio ao mundo, os médicos pensavam que esta criança não podia viver; tal era o peso da sua cabeça e a deformidade do seu craneo.
Mas a verdade é que foi vivendo sempre e sempre crescendo á luz do sol, como um bello ramo dolivei- ra; somente a sua pesada cabeça lhe fazia perder o equilíbrio, e causava pena vêl-o ir de encontro a todos os moveis, quando andava ...
Andava sempre a dar quedas. Um dia, cahiu do alto d’um patamar e veio bater com a testa contra um degrau de mármore, onde o craneo soou como fosse uma barra de metal...
Pensaram que elle tivesse morrido; mas quando o ergueram, só lhe encontraram uma pequena ferida, com duas outrezgottasitas dcuro, coalhadas nos seus cabelios louros. Foi assim que os paes vieram a saber que o filho tinha miolos douro.
A coisa foi guardada em segredo; nem de nada o pobre rapazito desconfiava. De tempos, perguntava por que razão o não deixavam brincar á porta da rua com os outros rapazitos da visi- nhança:
— «Podem-te roubar, meu querido thesouro»— respondia-lhe a mãe...
E então o pequeno tinha muito medo de ser roubado. Fi c ava a b ri nc ar sósin ho, sem dizer palavra, arrastando-se tristemente duma para outra sala...
Foi só aos dezoito annos que os paes lhe revelaram que monstruosa riqueza o destino lhe havia dado. E como o tivessem educado e sustentado até áquella edade, pediram-lhe em troca um bocado do seu ou ro.
O rapaz não hesitou; e naquelle mesmo instante— como? de que maneira? a lenda não o diz,— arrancou do craneo um bocado de ouro massiço, um bocado pouco maior do que uma noz, que atirou com altivez para o regaço da sua mãe...
Depois, todo maravilhado com as riquezas que tinha na cabeça, doido de desejos, embriagado com 0 seu poder, deixou a casa paterna e foi correndo pelo mundo, gastando o seu thesouro.
Pelo modo como vivia, como se fosse uma realeza, semeando o ouro sem o contar, dir-se-hia que os seus miolos eram inexgot- taveis... Mas gastaram-se por fim, e á proporção que se lhe via os olhos extinguirem-se, as faces iam-se tambem cavando.
Finalmente um dia, depois cíum louco deboche, o desgraçado que iicára só entre os restos do festim e os lustres que empallide- ciam, horrorisou-se ao vêr a enorme brecha que tinha feito no seu thesouro... Era chegado o momento de parar.
Desde então mudou completamente d’existencia. O homem dos miolos douro foi viver, escondido, do trabalho das suas próprias mãos, desconfiado e medroso como um avarento, fugindo a todas as tentações, tratando mesmo d esquecer essas fataes riquezas em que não queria mais tocar... Infelizmente, um amigo séguira-o na solidão,
este amigo conhecia o seu segredo.
Uma noite, o pobre homem acordou em sobresal- to com uma forte dôr de cabeça, uma dôr de cabeça horrorosa. Ergueu-se allu- cinado, e viu num raio de luar o amigo que fugia, escondendo alguma coisa sob a capa...
Ainda alguns miolos que lhe roubavam!...
Passado algum tempo, o homem dos miolos douro deixou-se dominar por uma paixão, e d’esta vez tudo foi pela agua abaixo!...
Amava com todas as forças da sua alma uma rapa- riguinha loura, que o amava tambem muito, mas que preferia ainda ao amor, as bonecas de pó darroz, as plumas brancas e as bonitas saias de renda batendo nas botinas.
Nas mãos desta delicada creatura,— meia ave, meia boneca,— as pecinhas d’ou- ro derretiam-se que era uma delicia! Ella tinha todos os caprichos, e ell nunca sabia dizer-lhe — não; e mesmo, com receio de a magoar, occultou-lhe até ao fim o triste segredo da sua fortuna.
— «Somos então muito ricos?» perguntava a rapariga.
★Na próxima semana da
remos a conclusão deste interessante conto O homem dos miolos douro esperando que os nossos estimados leitores nos desculparão mais esta falta.
O D O M IN G O
ANNUNCIOS
A IN T U N T U N C IO
E ALDEC.1LLECAlílDiiiuti
( I .» SsGal>li c a ç ã o )
moveis. Tem para vender duas commodas e dois guarda-louças acabados agora de fazer. Preços muito em conta.
Trabalhar barato para ter sempre que fazer!
Póde ser procurado na rua Fernandinho á entrada da rua do Vau, nesta villa.
No dia i.° do proximo mez de junho, pelo meio dia, á porta do tribunal judicial d esta villa de Aldeia Galiega do Ribatejo, nos autos de inventario orpha- nologico a que se procede Dor obito de Alexandrina -ienriqueta, viuva, moradora que foi na Quinta dos "undilhões, freguezia da Vloita, se hão de vender e arrematar em hasta publica a quem maior lanço offerecer sobre os valores abaixo designados os prédios seguintes: i.° Uma marinha denominada AS NAVES, no sitio da Quinta dos Fundilhões, avaliada em 2:000,^000 réis. 2.°— Outra marinha denominada A COSINHEIRA, no mesmo sitio da Quinta dos Fundilhões, avaliada em i:ioo$ooo réis. 3.°— Outra marinha denominada O JOSE' CAETANO, no mesmo sitio da Quinta dos Fundilhões, avaliada em i:3oo$ooo réis. 4.0 — Outra marinha denominada A NOVA, e uma casa que serve de abegoaria, no mesmo sitio da Quinta dos Fundilhões, avaliada em i:6ooSooo réis. As marinhas NAVES e NOVA, estão sujeitas ao arrendamento feito pela inventariada ao cabeça de casal Manuel Rollo dos Santos, pela quantia de 200$000 réis, por 19 annos que terminam em 3 i de dezembro de 1913.
Pelo presente são citados quaesquer crédores in certos para assistirem á dita arrematação e usarem dos seus direitos.
Aldegallega do Ribatejo, 10 de maio de 1902.
O E S C R IV Á O
Antonio Augusto da SilvaCoelho.
Verifiquei a exactidão.
O JUIZ D E D IR E IT O
Antonio Augusto Nogueira Souto.
0 FILHO DOr
RO M AN CE H IS T O R IC O POR
P A U L M A H A L I N
Cadafasciculo por semana, 24 paginas e muitas gt'avuras 40 réis. Cada tomo 200 réis.
Urbano de C astro e 4!v;u*o P i achei ro Cha
gas
72, Rua da Barroca, 72 L1KBOA
. A r c j s r u i s r c i o
(8V* P u b licação)
.João Maria da Luz, marceneiro, encarrega-se de todos os trabalhos pertencentes ao seu oíficio. Tambem restaura moveis antigos, concerta vãos de ta- boínhas e encarrega-se de polir toda a qualidade de
Pelo Juizo de Direito de esta comarca, no inventario por obito de Margarida Rosa Pio, residente que foi nesta villa, e no qual é inventariante Elvira da Conceição, hão de ser postos em praça á porta do Tribunal deste Juizo no dia25 do corrente pelo meio dia e arrematados a quem maior lanço offerecer sobre o valor abaixo designado, os seguintes domi nios uteis:— O dominio util de uma courella de terra situada no Páu Queimado, limites desta villa, composta de casa darrecadacão,> 7vinha, arvores e terra de semeadura, foreira em réis 3$qoo e uma gallinha e um frangão sem laudemio ao Visconde da Lançada, no valor de 322,^000 réis. O dominio util doutra courella, situada no mesmo sitio, composta de vinha e terra de semeadura, arvo res de fructo, foreira em 38335 réis sem laudemio ao Visconde da Lançada no valor de 183$3oo réis.
E para constar se passou o presente e outros de igual digo no valor de i 83:j>3oo réis.
Aldegallega do Ribatejo,3 de abril de 1902,Verifiquei a exactidão. |
O JUIZ DE D lR t iT -
N. Souto.O E S C R IV Á O
José Maria ie Mendonça.
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Ha para vender mappas de Portugal, não coloridos, ao preço de 60 réis cada um.
Ha para vender collec- ções de jornaes, taes como; Seculo, Pimpão, Parodia, Supplemento ao Seculo, e outros; assim como livros antigos de diversos idiomas.
Nesta redaccão se trata.
DO P O V OPara aprender a ler
por
j TRINDADE COELHOcom desenhos de
Raphael Bordallo Pinheiro$ 4 ) paginas luxuosamente illustradas
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José Antonio Nunes
Neste estabelecimento encontra-se d venciapelos preços mais convidativos, um variado e amplo sortimento de generos proprios do seu ramo de commercio, podendo por isso offerecer as maiores garantias aos seus estimáveis fregueses e ao respeitavàl publico em geral.
Vi.site pois o publico esta casa.19— L A - K - G - O D A E G R E J A — 1 9-A
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CENTRO COMMERCJOÃO ART01Í0 RIBEIRO
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PEDIDOS A LUCAS & C,A — ALDEGALLEGA
R E L O J O A R I A G A R A N T I D AD E
AVELINO MARQUES CONTRAMESTRE
Relogios de õuro. de p-ata. de aço. de nickél, de plaquet, de phanta- . sia, anr. r iia io s '., suisso; dc parede, maritimos, despertadores am ericanos.: des- . perta loj-cs ,de phantasia, despertadores com musica, suissos de algibeira com corda ff.ra oito dias.
Reonm nenJa-se o reiogio dc A V E L IN O M ARQ U ES C 0 N T R A M E S 1 RE, um bom escape danco.ra muito forte por 5Sooo réis.
Oxidam-se caixas d’hço corri a maximv p/rieição. Garanteni-se todos os concertos.O proprietário d’est-:i relojoaria compra ouro c prata pelo preço mass elevado.
1 — R U A D O P O Ç O — 1 — ALDEGALLEGA DO RIBATEJO
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