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AS AÇÕES E CONCEPÇÕES DOS PIBID’S HISTÓRIA NO NORTE DO PARANÁ1
SABIÃO, Ruhama.
Universidade Estadual do Norte do Paraná.
Resumo: Esta comunicação apresenta os resultados de pesquisa que investigou as
concepções a respeito do ensino de História e as ações propostas pelos Projetos do
PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência) desenvolvidos por
três Universidades públicas estaduais do Norte do Paraná: UEM, UEL e UENP.
Utilizou-se como fonte e objeto principais os Projetos Institucionais, os blogs criados
para comunicação das ações dos projetos e os artigos produzidos por estudantes e
professores bolsistas. Buscamos centrar a pesquisa nas concepções que as
instituições têm em relação à formação do professor de História, indagando quais os
meios utilizados, conforme as necessidades e possibilidades de suas regiões, para
pensar essa formação e o ensino de História. A análise indicou convergências, mas
também uma diversidade nas concepções e ações, considerando as particularidades
e características das instituições, do curso e dos professores.
Palavras-chave: Ensino de História; Formação de Professores; Consciência
Histórica.
A Formação de professores e o PIBID.
No atual cenário da formação de professores do curso de História no Brasil há
diversos enfrentamentos que precisam ser revistos, analisados e melhorados. Desde
o século XIX estudam-se as causas do fracasso escolar. No início focou-se nas
dificuldades de aprendizagem dos alunos em todos os âmbitos, principalmente
usando da psicologia para tentar reverter esse quadro, “[...] porém, nos últimos anos
é vista a necessidade de mudar a formação dos professores e que talvez o maior
problema esteja neles” (MONTEIRO, 2007, p. 21).
Na maioria das universidades que oferecem os cursos de licenciatura no país,
o problema maior é a dicotomia entre as disciplinas pedagógicas e as de conteúdo. 1 Pesquisa desenvolvida dentro do Programa de Iniciação Científica da Universidade Estadual do Norte do Paraná, financiada pela Fundação Araucária. Orientação: Prof. Dr. Jean Carlos Moreno.
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Enquanto nas disciplinas de conteúdo se aprende “o que” ensinar, nas pedagógicas
aprende-se “como” fazê-lo. Essa dicotomia influencia de forma grave na formação
dos professores, já que os desafios encontrados nas salas de aula vão muito além
da teoria. Por isso, é necessário intervir na formação de professores, articulando as
disciplinas pedagógicas, as de conteúdo formal, o estágio e os programas de
formação inicial dos professores:
É preciso, pois, romper com uma visão simplista de formação de professores, negar a ideia do professor como mero transmissor de conhecimentos e superar os modelos de Licenciatura que simplesmente sobrepõem o “como ensinar” ao “o que ensinar” (PADRÓS, 2002, p.74).
Assim como não se pode separar a teoria da prática na licenciatura, não se
pode distanciar a universidade das escolas. Há uma necessidade de ambas se
unirem para acrescentarem na formação dos professores, tornando possíveis
melhoras no ensino público, “necessita haver articulação e comprometimento com o
conjunto do sistema educacional brasileiro” (FELDEN, KRONHARDT, 2011, p. 41).
Essa integração entre o universo acadêmico e escolar propicia relevante experiência
aos professores em formação, pois eles podem vivenciar a prática dos professores e
a convivência com os alunos, de forma que, quando chegarem a assumir uma sala
de aula, já tenham uma ideia de como lidar com determinadas situações.
Outro problema na formação de professores consiste em que, depois de
formados e de terem lecionado por anos, as técnicas e teorias de aprendizagem
acabam envelhecendo, “[...] os saberes “envelhecem”, se gastam, porque se
distanciam sobremaneira dos novos saberes produzidos no campo acadêmico”
(MONTEIRO, 2007, p.87), as práticas aprendidas na universidade vão sendo
renovadas por novas pesquisas e métodos. Nesse momento também é importante
uma articulação entre universidades e escolas, para os professores já formados
poderem se atualizar e melhorar suas concepções de ensino.
Dessa forma, o papel de programas como o PIBID (Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação a Docência), do governo federal, é imprescindível na formação de
professores. O projeto, criado em 2007, possibilita aos alunos, desde a graduação, a
oportunidade de aperfeiçoar-se pessoal e profissionalmente, dado que há um
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envolvimento entre os bolsistas, professores e alunos da rede básica, no qual se
pode, a partir das trocas de experiências cotidianas, incorporar para sua vivência o
que se aprende. Segundo Antonio Nóvoa (1992), o professor é o ator da sua própria
formação e o PIBID tem preparado professores para tal intento. Dentro dessas
experiências, os bolsistas podem observar que:
A formação passa pela experimentação, pela inovação, pelo ensaio de novos modos de trabalho pedagógico. E por uma reflexão crítica sobre a sua utilização. A formação passa por processos de investigação, directamente articulados com as práticas educativas (NÓVOA, 1992, p.16).
O PIBID tem como objetivos principais: incentivar a formação docente através
das bolsas oferecidas; valorizar o magistério; elevar a qualidade da formação inicial
dos professores; tornar os professores da rede pública coparticipantes da formação
inicial dos alunos e articular a teoria e a prática necessárias para a formação dos
docentes. O PIBID proporciona ao bolsista maior envolvimento com os alunos da
Educação Básica, observando suas limitações e dificuldades de aprendizagem,
podendo, assim, aperfeiçoar seus métodos de ensino e concepções de
aprendizagem. Também possibilita a pesquisa empírica e científica, escrita de
artigos, apresentações em seminários, simpósios, entre outros eventos acadêmicos.
Nesse sentido, o PIBID, além de promover a prática docente na convivência dos
bolsistas com a escola, professores e alunos, concede também a oportunidade de
pesquisa. Assim, no relato das experiências em sala e das metodologias adotadas,
na identificação de problemas de aprendizagem, entre outros, o bolsista pode
associar o que é aprendido nas disciplinas teóricas e pedagógicas do curso com a
prática docente.
Os sujeitos da pesquisa
A pesquisa se iniciou em agosto de 2015, propondo-se a investigar a trajetória
dos PIBID’s História no Norte do Paraná, no período de 2011 a 2013. A mesma foi
realizada por etapas, como: a análise dos subprojetos institucionais, dos professores
coordenadores e dos blogs. Em 2016, foram introduzidos à pesquisa os artigos
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escritos pelos bolsistas. Foram analisados três subprojetos do PIBID de
universidades públicas estaduais do Paraná: UEL, UEM e UENP.
O PIBID História UEL teve início em 2011. Como coordenadora estava a Prof.
Dra. Marlene Rosa Cainelli2, junto com dois bolsistas de supervisão e onze
graduandos. A professora Marlene Rosa Cainelli tem toda uma carreira dedicada à
formação de professores de História. O PIBID UEL propunha-se a atender Colégio
Estadual Hugo Simas e o Colégio Estadual Tsuro Oguido.
O PIBID História UEM foi criado em julho de 2012, tendo como coordenador o
Prof. Dr. Ângelo Priori, posteriormente, em 2013, passaram a atuar como
coordenadores a Prof. Dra. Isabel Cristina Rodrigues e o Prof. Dr. José Henrique
Gonçalves Rollo que coordenaram a maior parte do período que a pesquisa
abrange. O programa conta com quatro professores bolsistas de supervisão e vinte
e quatro graduandos bolsistas. Durante esse período o subprojeto atuou no Colégio
de Aplicação da UEM e no Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga. A Prof. Dra.
Isabel Cristina Rodrigues tem experiência na área de Metodologia do Ensino de
História no Brasil e na temática indígena. O Prof. Dr. José Henrique Rollo
Gonçalves, por sua vez, tem forte atuação de pesquisa na área de História da África.
O PIBID História UENP, iniciou-se em 2012, sob coordenação da Prof. Dra.
Marisa Noda, com duas professoras supervisoras e doze alunos bolsistas,
alcançando os colégios estaduais José Pavan e Rio Branco, das cidades de
Jacarezinho e Santo Antonio da Platina, respectivamente. Já no período analisado,
constam como coordenadores o Prof. Dr. Jean Carlos Moreno e o Prof. Dr. Flávio M.
M. Ruckstadter, vinte e dois alunos bolsistas e quatro professores bolsistas de
supervisão. O Prof. Dr. Jean Carlos Moreno atua, desde 1997, na área de formação
de professores de História. Já o Prof. Dr. Flávio M.M. Ruckstadter tem sua atuação
acadêmica na área de História da Educação e das Instituições Escolares.
Projeto e intenções
2 Nos anos posteriores passaram a fazer parte outros coordenadores: o Prof. Dr. Marco Antonio Soares, o Prof. Dr. Márcio Santana e a Prof. Dra. Márcia Tetê Ramos.
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O projeto institucional do PIBID UEL é do ano de 2011. O PIBID UEL toma
como referencial a consciência histórica, focando principalmente nas formas de
narrativas históricas dos alunos e como elas se dão a partir dos manuais didáticos. É
centrado, portanto, nas dificuldades de interpretação de textos, leitura e escrita dos
alunos, já que o único acesso dos estudantes do Ensino básico à história e
historiografia, segundo o projeto do PIBID UEL, encontra-se nos livros didáticos.
Dentre as propostas práticas, encontra-se como fundamental o envolvimento
dos bolsistas com a escola, na participação nas reuniões pedagógicas para vivenciar
o processo de ensino-aprendizagem na Educação Básica, na observação da escola
e das salas de aula. Também possibilita pensar no trabalho científico que envolve a
formação do professor, como a elaboração de instrumento de pesquisa de
conhecimentos prévios para diagnosticar problemas de leitura, interpretação e
redação de textos históricos. Entretanto, o trabalho é realizado, em maior parte, no
âmbito da academia, principalmente no Laboratório de Ensino de História, onde são
produzidos os materiais didáticos para serem levados às escolas. Encontra-se,
também, em vários pontos do projeto o interesse na articulação teoria/prática e
academia/pesquisa/escola.
O projeto PIBID UEM foi elaborado visando às seguintes ações: formação e
capacitação para o exercício da docência em História; promoção de um diálogo
entre teoria/método; articulação do PIBID com programas educacionais do Estado
do Paraná (Projeto Museu na Escola e PDE); imersão dos alunos na realidade
escolar; consolidação do Laboratório de Ensino e Multimeios em História/UEM
(LEMH); formação e capacitação em ambientes virtuais de aprendizagem
colaborativa.
Dentre as ações previstas, pode-se atentar para a importância dada à
articulação escola-universidade, sendo que se propõe que muito do que é realizado
no LEMH seja levado para a sala de aula, em forma de exposição, debates,
palestras, minicursos. Não fica evidente o referencial teórico presente no projeto,
porém, dentro da visão de formação do profissional crítico, que consegue analisar e
desenvolver sistematicamente pesquisas através dos diagnósticos iniciais e finais
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pode-se perceber concepções de aprendizagem histórica ligadas também à
consciência histórica.
O projeto do PIBID UENP toma como referencial teórico a consciência histórica,
conceito usado pelo historiador e filósofo alemão Jorn Rüsen, baseando-se nesse
para ampliar a formação dos graduandos, assim como dos professores da rede que
os supervisionam e dos professores orientadores. Usando desse referencial para o
projeto, o PIBID UENP visa enfrentar e superar as dificuldades educacionais na qual
a UENP e as escolas alcançadas pelo PIBID estão inseridas. Esse processo será
buscado através da aprendizagem histórica, na qual por meio das experiências,
todas as partes envolvidas se desenvolvam e sejam beneficiadas.
Dentre as propostas práticas incluídas no projeto percebe-se a busca pela
articulação entre o ofício do historiador e a formação do professor. Tal intento
reflete-se na criação de instrumentos de diagnóstico, inicial e final, da consciência
histórica dos estudantes do Ensino básico e na preparação de aulas conforme
conteúdo curricular, que incluem diversos procedimentos próprios da disciplina de
História. Segundo o projeto, o PIBID UENP almeja a inserção do bolsista no âmbito
escolar, através das reuniões pedagógicas e de formação docente, e dos espaços
alternativos sugeridos para que os bolsistas atuem na escola.
Por meio das reflexões e intervenções realizadas em sala de aula, os
graduandos têm a oportunidade de realizarem pesquisas científicas, articulando
suas práticas no PIBID à teoria dos estudos no Grupo de Pesquisa Ensino de
História (GPEH) e elaborarem artigos e pesquisas sobre o assunto, expondo
formalmente suas práticas.
Por entre blogs e artigos: amostragem das ações desenvolvidas
Foram analisados os blogs dos três PIBID’s, apesar das informações pouco
precisas descritas nos blogs analisados, que contêm fotos e descrições pequenas
das ações dos bolsistas, observando como um todo cada um pode-se tirar algumas
conclusões. Existem três temas que aparecem com maior relevância nas
intervenções realizadas pelos bolsistas de cada projeto, são eles: estudos afro-
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brasileiros, história local e outros conteúdos curriculares (que incluem os temas
abordados nas séries correspondentes, seguindo o currículo tradicional e o livro
didático). Nas atividades “extraclasse” registram-se as oficinas, acompanhamento
escolar, feiras de ciências, projetos da própria escola, entre outros, assim como os
“Eventos” referem-se às atividades acadêmicas das quais os bolsistas, supervisores
e coordenadores participaram ao longo de 2011-2013.
Segundo as informações contidas nos blogs, além dos projetos contribuírem
com a formação acadêmica e pessoal do futuro professor, oferecem também à
comunidade um apoio escolar, buscando a articulação entre a academia e o
universo escolar e social em que se envolvem. É possível observar que cada projeto
atenta-se para as possibilidades locais de desenvolvimento escolar de cada meso e
microrregião onde estão inseridos. Na UEL, por exemplo, faz-se uso do museu em
grande parte de suas intervenções, oficinas e outras atividades; na UEM, usando do
Colégio de Aplicação conseguem trazer os trabalhos realizados na universidade, em
especial no LEHM para o âmbito escolar; na UENP busca-se através das feiras de
ciências dos colégios, da abertura para intervenções mais de uma vez mensal e
dentro das possibilidades da região, levar o conhecimento acadêmico para a
comunidade, de forma que possam chamar a atenção do conjunto para a sociedade
que vivemos.
Nota-se que há um desenvolvimento das ações de 2011 a 2013, mostrando
uma progressiva maturação por parte dos coordenadores, que são os mentores das
ideias levadas às escolas. Esse amadurecimento reflete também na concepção de
formação de professores por parte dos bolsistas, que conseguem ver maior
significado do projeto para sua formação. Exemplo disso é na afirmação do bolsista
Pablo Gonçalves, em uma intervenção de encerramento do projeto do PIBID UENP
no Colégio Estadual José Pavan de Jacarezinho - PR, em 2013, ele salienta: “É uma
oportunidade de mostrarmos que podemos ser professores proativos. Fomos
coordenados por um professor experiente que nos fez enxergar as deficiências do
ensino público e o que pode ser feito para melhorar a realidade de algumas escolas.
Foi uma experiência gratificante" (UENP).
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Além do desenvolvimento das ações, os projetos como um todo aumentaram a
quantidade de bolsistas, fazendo com que mais graduandos tivessem a
oportunidade de participar do PIBID durante o curso. Na UEL, por exemplo, no
projeto instituído em 2011, havia uma coordenadora, dois supervisores, duas
escolas de atuação e onze bolsistas; em 2012, conforme o blog pertinente a esse
ano, haviam dois coordenadores, seis supervisores, quarenta e um bolsistas e
quatro escolas atendidas.
Partindo para outra fonte de análise, foram abordadas algumas questões
observadas nos artigos produzidos pelos PIBID’s UEL e UEM nos anos de 2012 e
2013, referentes às suas práticas nos subprojetos, de forma objetiva, mas não
excluindo a subjetividade de cada projeto e atividade. Posteriormente, ligamos esses
dados obtidos por meio dos artigos ao ensino de História, seus desafios,
metodologias, reflexões e finalidades. Todos os artigos analisados correlacionam-se
com as atividades desenvolvidas pelos bolsistas, supervisores e coordenadores,
sejam essas em parceria com estagiários dos museus ou com a comunidade e
alunos dos colégios alcançados.
Para isso, analisamos vinte e sete artigos do PIBID UEL e sete do PIBID
UEM3. A maioria dos artigos foram publicados no evento “I Jornada Paranaense
PIBID e PET História”, no ano de 2013, outros foram publicados em evento interno
da UEL. Foram escritos em maior parte pelos bolsistas, mas também há reflexões
por parte dos coordenadores e supervisores.
Dividimos os artigos em duas frentes de análise: atividades extraclasse e em
sala de aula, buscando englobar as formas de atuação dos PIBID e como essas se
desenvolvem em cada IES. As atividades em sala de aula requerem dos bolsistas
linguagens e concepções diferentes, assumindo um caráter mais pedagógico do que
nas atividades extraclasse, atentando-se mais às intervenções didáticas, como visto
nos artigos, o uso de HQ’s, filmes, músicas, novelas, etc. Nas atividades
extraclasse, no caso desses trabalhos analisados, os bolsistas intervêm com a
3 O PIBID História UENP centrou-se em atividades na sala de aula e em eventos internos e nas escolas durante o período estudado nesta pesquisa (2011-2013), suas publicações em revistas e eventos acadêmicos iniciam-se somente em 2014.
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apresentação do acervo do museu e a reconstrução da memória escolar, nem
sempre envolvendo os alunos dos colégios nessas atividades, servindo mais para
fins expositivos e de experiência para os bolsistas. As atividades extraclasse são
oferecidas, geralmente, em contraturno e versam sobre temáticas específicas que
extrapolam o currículo formal (tradicional e cronológico).
Pensando no ensino de História, em relação à metodologia aplicada em sala de
aula, especificamos os usos metodológicos como forma de enfatizar a diversidade
de práticas que os diversos subprojetos PIBID de cada instituição procuram levar às
escolas, em primeiro momento já tentando mudar a visão tradicionalista dos alunos
sobre como aprender História através desses métodos. Pela análise dos artigos,
percebe-se que não houve trabalhos nos quais os bolsistas não apresentassem aos
alunos uma maneira de abordar diversos tipos de fontes históricas. Em todos eles,
os bolsistas buscaram não só fazer a aula ser mais divertida, mas também
significante na aprendizagem do aluno e para o ensino de História. Dentre as
atividades extraclasse realizadas com os alunos dos colégios, os artigos do PIBID
UEL centraram-se nas visitas ao museu. Já no PIBID UEM, na reconstrução da
memória escolar, também exposta aos alunos da E. B., mas no próprio ambiente
escolar.
Dentre as atividades extraclasse, entendemos como relevante especificar que
alguns dos textos foram reservados à reflexão do PIBID em suas respectivas
escolas e cidades, à influência do projeto para a formação dos futuros professores.
Esses textos foram escritos por coordenadores e supervisores, mostrando suas
experiências e vivências quanto ao programa.
Os artigos do PIBID UEM enfocam intensamente o uso de documentos
escolares para a reconstrução da história e da memória das escolas atendidas, o
que caracteriza todos os processos e trabalhos realizados no decorrer do programa.
Já o PIBID UEL mostra, na maioria de suas intervenções, a preocupação com os
conhecimentos prévios dos alunos, ressaltando o interesse em entender o que eles
sabem, estudaram, vivenciaram sobre a história de Londrina, buscando
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compreender o universo intelectual dos alunos, a maneira como classificam a
história e se acreditam em uma história “única” da cidade de Londrina.
Como observado nas citações e referências dos trabalhos da UEL, todos os
bolsistas seguem a vertente da Educação Histórica4, com o conceito de aula-oficina,
proposto por Isabel Barca (2004), no qual os alunos assumem o papel de
participantes ativos nas aulas, através do contato com a fonte histórica. Como
grande parte dos trabalhos decorrem da desconstrução do ensino de história local5
que até então havia sido colocado aos alunos, assume como grande referência
também Peter Lee (2006), pensando na importância de perceber a relação que os
alunos fazem com o passado, e a que tipo de passado eles recorrem. Os bolsistas
também usam frequentemente as abordagens de Schmidt e Cainelli (2004), que,
através da Educação Histórica, associam o ensino de história local com a
significância que traz ao aluno a partir de suas vivências e do que ele já conhece
sobre o lugar onde habita. Consideramos que nas discussões teóricas também toma
corpo a Didática da História, linha de pesquisa abordada por Jorn Rüsen, em que a
História, através da consciência histórica torna-se orientadora das ações dos
sujeitos no tempo, podendo assim entender seu passado, vivenciando o presente e
obtendo uma visão do futuro e de como se utilizar da História em sua vida prática.
Pode-se perceber apenas pelos títulos dos trabalhos, que tais abordam temas
relevantes como: os negros, índios, as mulheres, a desconstrução da figura do herói
pioneiro, a preservação e resgate da memória escolar e da cidade, as possibilidades
que os documentos audiovisuais proporcionam ao ensino, o conhecimento e
trabalho com fontes históricas, e a sociedade atual. Todos esses temas são
4 Linha de pesquisa que tem como base teórica o filósofo e historiador Peter Lee e a “literacia
histórica” A Educação histórica prioriza a narrativa dos alunos e também dos professores acerca da História e a concepção dos conceitos substantivos em história, principalmente os de segunda ordem, que revelam: ideias de mudança, de explicação, ideias de diversidade, diversidade de explicações, de versões, etc 5 A história local das cidades em que os subprojetos das IES desenvolvem suas ações é permeada pela ideia subjacente do pioneirismo, desbravamento da terra e dos heróis que supostamente foram os atores principais da colonização do território. Apresenta-se como objetivo principal nos trabalhos com a história local, a desconstrução destas ideias, levando aos alunos dos colégios e à sociedade em geral aspectos como a participação das mulheres, negros e índios neste processo, o que por muito tempo foi silenciado pela História oficial. Pode-se pensar que este seja um desafio comum às três IES, considerando a necessidade de desconstrução da memória local que a sociedade tem sobre a história.
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incutidos de pré-conceitos e paradigmas construídos pela cultura histórica presente
na nossa sociedade desde o início do ensino de História, que, por muitos anos, não
trouxe aprofundamentos que possibilitassem aos alunos refletirem suas práticas e as
aplicarem em suas vidas cotidianas. Portanto, torna-se desafio aos bolsistas
iniciarem trabalhos com esses alunos que os façam perceber os “defeitos nas
memórias” (ALBUQUERQUE, 2012), para que juntos, em seus pensamentos e
práticas construam um novo olhar sobre a História. Os museus tornam-se
ferramentas indispensáveis nesses projetos da UEL e da UEM, sendo tratados neles
diversos assuntos referentes à história e à sociedade através da história local e
cultura material presente nas exposições.
Assim como descrito nos projetos institucionais, os trabalhos publicados
trazem os encaminhamentos das propostas contidas nesses documentos, da
mesma forma que revelam de maneira mais evidente os resultados descritos nos
blogs. Dentre os objetivos gerais propostos pela CAPES para o PIBID, essas
instituições atendem de formas peculiares, descritas anteriormente, conforme seus
recursos e necessidades regionais, à mudança que se busca na formação de
professores. Através desta pesquisa, observamos amplo contato dos bolsistas com
a escola, a pesquisa e a extensão, considerando que os Laboratórios de Ensino das
instituições investigadas oferecem suporte aos discentes em suas pesquisas. É
interessante perceber também a progressão dos bolsistas e dos coordenadores em
suas concepções e práticas, como por exemplo, de 2012 para 2013, constatamos a
incorporação de conhecimentos dos alunos adquiridos na graduação às suas ações
no PIBID, o que incrementa a apresentação dos resultados.
Conclusão: convergências e dissonâncias nos caminhos da qualificação
da formação do docente de História.
Ao analisar os projetos institucionais, os blogs e os trabalhos escritos das três
IES: UEL, UEM e UENP, percebeu-se que foram trilhados caminhos diferentes, mas
levando a um objetivo comum: a busca pela qualificação da formação do professor
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de História. Dentre essas diferenças, apontaremos algumas das que se mostraram
mais presentes no decorrer da pesquisa.
Em primeiro lugar, nas particularidades dos locais de atuação de cada PIBID
e nas necessidades educacionais que cada IES é desafiada a superar. A UEL com a
desconstrução da visão tradicional da história local de Londrina, a UEM com a
construção de uma memória escolar dos colégios que são inerentes à história de
Maringá e a UENP através dos conteúdos curriculares que cada
supervisor/coordenador determina ser importante para o aluno e para o bolsista.
Também pensando nas metodologias utilizadas, cada IES apropria-se dos recursos
que as são disponibilizados, a UEL e a UEM com o museu, a UENP com a ampla
inserção e mobilização da escola para com o PIBID.
Por segundo, notamos que as estruturas das IES são muito diferentes entre si,
o que facilita ou dificulta no momento das reuniões, práticas nos laboratórios de
ensino, acesso a bibliografias e até mesmo nas discussões e eventos com outros
PIBID’s. Em terceiro lugar apontamos também a formação dos professores
coordenadores, a partir da sua formação observamos o reflexo de suas pesquisas
pessoais, perspectivas para a educação e subjetividades presentes nas ações do
PIBID.
Pensando nos pontos comuns, é claramente exposta nos trabalhos e propostas
a importância da articulação da universidade com o espaço escolar e a sociedade
que a permeia. Muitos dos trabalhos não são realizados dentro da sala de aula, o
que possibilita que toda a comunidade escolar possa ter acesso ao que é produzido
na universidade pelos bolsistas. Os temas trabalhados visam superar o modelo
colocado pela cultura histórica que a sociedade habituou-se, levando às escolas
novos métodos e concepções de ensino. A desvantagem é que se restringe apenas
aos colégios alcançados, através do pequeno número de bolsistas se comparado à
quantidade de escolas em cada cidade.
Para além da análise formal da pesquisa, podemos constatar o quão importante
tem sido para essas universidades a atuação do PIBID. O projeto em si trouxe uma
nova ação para a formação de professores e o ensino de História, indo além dos
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estudos que há muito têm sido colocados em pauta na área da educação. Segundo
Rüsen (2012), “aprender é a aquisição de competências, a partir da apropriação da
própria experiência”, pensando no papel do PIBID como formador de futuros
professores, o projeto leva os graduandos a aprenderem a partir da própria
experiência, por meio das aquisições obtidas e moldadas durante o período de
aprendizado, e assim progressivamente ao longo da vida. Por isso, é importante que
essa atuação seja valorizada e discutida, principalmente para que o projeto seja
mantido mesmo com as crises econômicas e políticas, assim contemplando a
progressiva melhora almejada pelo PIBID para a formação dos professores.
REFERÊNCIAS:
FELDEN, E. L; KRONHARDT, C.A.C. A Universidade e a formação de professores.
Vivências. Erechim Vol.7, N.12: p.37-45, Maio/2011
MONTEIRO, A. M. Professores de história: Entre saberes e práticas. Rio de Janeiro:
Mauad X, 2007. 262 p.
NÓVOA, A. Formação de professores e profissão docente. In: _____ (org.) Os professores
e a sua formação. Lisboa, Dom Quixote, 1992, p.13-33.
PADRÓS, E. S (org.). Ensino de História – Formação de professores e cotidiano
escolar. Porto Alegre: EST, 2002.
RÜSEN, J. Aprendizagem histórica: esboço de uma teoria. In:____. Aprendizagem
histórica: fundamentos e paradigmas. Curitiba: W.A. Editores, 2011. P- 69-112.
Fontes:
Blog Institucional do PIBID da Universidade Estadual de Londrina. Disponível em: <
http://labhis.wix.com/pibidhistoria>. Acesso em: 07 jun. 2016.
Blog Institucional do PIBID da Universidade Estadual de Maringá. Disponível em: <
http://pibidhistoriauem.blogspot.com.br/>. Acesso em: 07 jun. 2016.
Blog Institucional do PIBID da Universidade Estadual do Norte do Paraná. Disponível em: <
http://pibidhistoriauenp.blogspot.com.br/> Acesso em: 07 jun. 2016.
Depoimento do aluno Pablo Gonçalves. Disponível em: <http://migre.me/ubY8N>. Acesso
em: 24 jun. 16.
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UEL. Detalhamento do Subprojeto História. In: _____. Plano de Desenvolvimento
Institucional. PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA –
PIBID, 2011.
UEM. Detalhamento do Subprojeto História. In:____. Plano de Desenvolvimento
Institucional. PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA –
PIBID, 2013.
UENP. Detalhamento do Subprojeto História. In: _____. Plano de Desenvolvimento
Institucional. PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA –
PIBID, 2012
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