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FATORES DE RISCO PARA DESNUTRIÇÃO INFANTIL
RISK FACTORS FOR MALNUTRITION
ANDRÉIA ANDRADE OLIVEIRAGraduanda do 7º período de Nutrição do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais -Unileste-MG.E-mail: [email protected]
VIVIANE SILVA MACEDOGraduanda do 7º período de Nutrição do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais -Unileste-MG.E-mail: [email protected]
HIARA MIGUEL STANCIOLA SERRANODocente do Curso de Nutrição do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – Unileste-MGE-mail: [email protected]
RESUMO
O presente estudo objetivou verificar os fatores de risco para desnutrição em crianças menoresde 4 anos assistidas por uma creche no município de Timóteo, Minas Gerais. Foi realizadaavaliação socioeconômica e dos fatores de risco para desnutrição, avaliação dietética, atravésdo questionário de frequência e consumo alimentar (QFCA) e antropometria. Para tal foiaferido o peso e altura/comprimento, sendo a amostra da avaliação antropométrica composta
por 19 crianças, onde se identificou 9 crianças (47,4%) eutróficas, 7 (36,8%) em risconutricional e 3 (15,8%) desnutridas. Pôde-se verificar que há uma alta prevalência dos fatoresde risco para a desnutrição na amostra estudada, sendo os principais: pobreza, curto períodode aleitamento materno exclusivo, fraco vínculo mãe-filho, o estado nutricional da mãedurante a gestação, peso ao nascer. Há necessidade de uma assistência nutricional às criançasassistidas pela creche, para que se possa fazer um acompanhamento das mesmas, visando
melhora do estado nutricional. Verificou-se a necessidade de realizar uma intervenção quevise à educação nutricional das crianças, bem como da sua família e dos funcionáriosenvolvidos diretamente com a produção da alimentação.
Palavras-chave: desnutrição, alimentação, baixa renda, peso, estatura.
ABSTRACTThis study aimed to determine the risk factors for malnutrition in children under 4 yearsassisted by a nursery in the city of Timoteo, Minas Gerais. The assessment of socioeconomicstatus and risk factors for malnutrition, dietary assessment by questionnaire of frequency and
food intake (QFCA) and anthropometry. For this was the measured weight and height/length,and anthropometric measurements of the sample comprised 19 children, which identified 9
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children (47.4%) eutrophicated, 7 (36.8%) at nutritional risk and 3 (15, 8%) malnourished. Itwas found that there is a high prevalence of risk factors for malnutrition in the sample studied,the main poverty, short period of exclusive breastfeeding, poor mother-child bond, the
nutritional status of mothers during pregnancy, birth weight. There is a need for nutritionalassistance to children assisted by the nursery in order to make a follow-up to improve thenutritional status. There was a need for intervention aimed at the nutrition education ofchildren and their families and staff directly involved with the production of food.
Key words: malnutrition, nutrition, low income, weight, height.
INTRODUÇÃO
A desnutrição desenvolve-se através de múltiplos fatores, onde se envolvem processos
tanto ambientais, quanto patológicos, sendo que estes estão quase associados a pobreza, não
se tratando apenas de uma carência de alimentos (SARNI et al., 2005).
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas
para a Infância (UNICEF), estima-se que em todo o mundo, 190 milhões de crianças menores
de cinco anos sejam desnutridas crônicas e que 50% das mortes em crianças desta faixa etária
em países subdesenvolvidos possuem a desnutrição como causa básica ou associada
(MACHADO; VIEIRA, 2004) .
No Brasil, a situação não se difere da realidade mundial, pois cerca de 31% das
crianças menores de cinco anos se encontram desnutridas, sendo que nas regiões mais pobres
como Norte e Nordeste, esta prevalência chega a 60%. Através da Pesquisa Nacional sobre
Demografia e Saúde (PNDS) de 1996, observou-se que a cada dez crianças com menos de
cinco anos de idade, uma apresenta desnutrição crônica, ou seja, déficit de altura para a idade
(MACHADO; VIEIRA, 2004; SILVA, 2004).
Como fatores para o desenvolvimento de desnutrição têm-se: a pobreza, avulnerabilidade de lactentes aos processos de infecção, a desagregação familiar e vínculo
mãe-filho, estado nutricional da mãe durante a gestação, baixo peso ao nascer e a escolaridade
materna. A pobreza pode levar ao desenvolvimento da desnutrição ou outras doenças. A
vulnerabilidade do lactente que se associa a um curto período de aleitamento materno e
precoce introdução de alimentos complementares contribui de forma generosa para o agravo
da situação nutricional, já que, leva a um quadro anoréxico, a uma absorção intestinal
prejudicada e aumento do catabolismo. A influência materna no estado nutricional da criançatem inicio logo no período de gestação, pois estado nutricional da mãe nesta fase influencia
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no crescimento e desenvolvimento fetal, por isso a desnutrição materna pode fazer com que o
bebê gerado tenha um baixo peso ao nascer e deficiências nutricionais, além de quadro de
anemia, retardo do crescimento intra-uterino e do desenvolvimento mental. Além disso,
quanto maior for o nível de escolaridade, maior serão os cuidados da mãe para com o bebê
(LOPEZ; BRASIL, 2004; ROMANI; LIRA, 2004; MOTTA et al., 2005; CALVASINA et al.,
2007).
O presente estudo teve como objetivo verificar os fatores de risco para o
desenvolvimento de desnutrição em crianças de 0 a 4 anos assistidas por uma creche
comunitária situada no município de Timóteo, MG.
MATERIAIS E METÓDOS
O estudo realizado foi do tipo descritivo, observacional e transversal, onde se
procurou avaliar quantitativa e qualitativamente a população em questão buscando fatores de
risco para o desenvolvimento de desnutrição infantil.
A amostra da avaliação antropométrica foi composta por 19 crianças, mas
posteriormente a realização desta, ingressaram na creche mais seis crianças, sendo estasincluídas na aplicação dos questionários socioeconômico e de frequência de consumo
alimentar (QFCA), totalizando 25 crianças, assistidas por uma creche comunitária, sem fins
lucrativos, localizada no município de Timóteo, MG, que visa a recuperação do estado
nutricional das crianças que a frequentam.
A identificação dos fatores de risco para o desenvolvimento da desnutrição infantil foi
realizada através da aplicação de um questionário visando buscar dados sobre a gestação,
parto, aleitamento materno, introdução de alimentação complementar, histórico patológico e
socioeconômico da criança. Além disso, foi determinado o estado nutricional pelo método
antropométrico, onde para as crianças até dois anos de idade utilizou-se antropômetro infantil
e balança pediátrica da marca Welmy (com divisão de 10g e capacidade de 16 kg), e para as
maiores de dois anos de idade utilizou-se a balança da marca Filizola (com divisão de 100g e
capacidade máxima de 150 kg) e o antropômetro acoplado a mesma.
Em ambos os processos de aferição de peso, as crianças encontravam-se com o
mínimo de roupa possível e descalças. Para a aferição de comprimento/estatura, aquelas com
idade inferior a dois anos foram medidas em decúbito dorsal, com pernas e braços esticados
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ao longo do corpo e a cabeça encostada na parte fixa do antropômetro, enquanto as crianças
acima de dois anos, foram medidas em posição ereta com os pés paralelos e braços esticados
ao longo do corpo, sendo que, em ambas aferições manteve-se a menor movimentação
possível (BRASIL, 2004).
Os índices antropométricos avaliados foram os seguintes: Peso/Idade (P/I),
Estatura/Idade (E/I) e Peso/Estatura (P/E), todos expressos pelo escore Z e analisados de
acordo com as curvas de crescimento propostas pela Organização Mundial de Saúde (2006).
Foram consideradas desnutridas as crianças cujas relações P/E, P/I e E/I estavam abaixo de -2
desvio-padrão (DP) e obesas aquelas cujas relações P/E e P/I estavam acima de + 2 DP. Na
classificação de risco de sobrepeso considerou-se para valores de P/E e P/I, DP maiores ouiguais a 1 e menores ou iguais a 2, e na de risco nutricional, DP maiores ou iguais que -2 e
menores que -1.
No questionário de frequência de consumo alimentar foram colhidas informações
sobre o consumo alimentar das crianças visando verificar seus hábitos alimentares quando se
encontram em suas residências.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa foi realizada com 25 crianças, sendo que, 12% (n=3) possuíam até 6 meses
de idade, 8% (n=2) tinham entre 6 meses e 1 ano, 24% (n=6) têm de 1 a 2 anos, 48% (n=12)
entre 2 e 3 anos e 8% (n=2) entre 3 e 4 anos de idade. Dessas crianças, 44% (n=11)
frequentam a creche há menos de 6 meses, 24% (6) de 6 meses a 1 ano e 32% (n=8) a mais de
1 ano. Porém, para avaliação antropométrica, a amostra foi composta por apenas 19 crianças,
pelo fato desta avaliação ter sido realizada em período anterior ao da aplicação dos
questionários, quando houve entrada na creche de 6 crianças, fazendo com que a amostra
completasse um total de 25.
Quando se questionou o motivo pelo qual as crianças frequentam a creche verificou-
se: bebês com nascimento pré-termo, que requerem cuidados especiais, ausência dos pais em
casa devido à necessidade de trabalhar e proporcionar maior estímulo a criança, porém a
causa mais citada foi de baixo-peso/desnutrição (Figura 1).
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Figura 1- Motivos que levaram as crianças a frequentarem a creche.
Levando-se em consideração a residência 44% (n=11) dos entrevistados possuíam casa
própria, o que faz com que menor quantidade de renda seja revertida a aluguel, aumento a
disponibilidade de renda direcionada a gastos com alimentação.
Em relação ao nível de escolaridade dos responsáveis, 56% (n=14) possuíam o ensino
fundamental incompleto, 12% (n=3) o ensino fundamental completo, 20% (n=5) o ensino
médio completo, 4% (n=1) concluíram o ensino médio e 4% (n=1) são analfabetos. Olinto et
al. (1993) demonstraram que a educação dos pais está fortemente associada aos déficits de
E/I, aumentando os riscos de desnutrição de 4 a 6 vezes, comparando o nível educacional
mais baixo com o mais alto.
Considerando a presença de saneamento básico, 88% (n=22) das residências
apresentam rede de esgoto e água tratada, 8% (n=2) não apresentam rede de esgoto e água
tratada e 4% (1) não informaram. Em relação à energia elétrica, apenas 4% (n=1) não
possuíam. A presença de saneamento básico de boa qualidade faz com que haja uma maior
garantia de segurança alimentar, visto que, áreas insalubres favorecem o desenvolvimento de
quadros de diarréia, provocados pela presença de microrganismos patogênicos na água,
contaminando o alimento diretamente ou indiretamente, sendo este último, através da
contaminação das mãos do manipulador ou de equipamentos utilizados no preparo dos
alimentos (OLIVEIRA; MARCHINI, 1998).
Ao analisar os fatores de risco para desnutrição, foi observado que 20% (n=5) das
mães tiveram intercorrências durante a gestação, 76% (n=19) não tiveram nenhum tipo de
intercorrência, e 4% (n=1) não informaram sobre tal fator. Com relação ao tipo de parto, 72%
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(n=18) das crianças nasceram de parto normal e 28% (n=7) por parto cesáreo. Das 25 crianças
analisadas, 16% (n=4) nasceram pré-termo, 80% (n=20) a termo e 4% (n=1) pós-termo. Sabe-
se que bebês prematuros possuem menor adaptação ao meio extra-uterino devido a sua
imaturidade anatômica e fisiológica, além disso, na grande parte dos casos o baixo peso ao
nascer está associado à prematuridade, favorecendo o desenvolvimento de complicações após
o nascimento, aumentando os riscos de morbimortalidade, sendo uma das principais
morbidades, a desnutrição (VASCONCELOS et al., 2006).
Outro fator analisado foi o peso ao nascer das crianças, onde 12% (n=3) nasceram com
até 2 kg; 28% (n=7) com 2 a 3 kg; 48% (n=12) com 3 a 4 kg, e 12% (n=3) dos responsáveis
não souberam informar o peso ao nascer. Post et al. (1996) afirmam que a incidência do baixo peso ao nascer é um determinante da desnutrição.
A desnutrição em grande parte dos casos tem início quando a criança se encontra no
útero da mãe, e seu efeito vai se estendendo durante toda a vida do indivíduo. O resultante
desta desnutrição, iniciada quando o bebê ainda está no útero, é o baixo-peso, o que indica um
retardo de crescimento intra-uterino e maior risco de morte que os bebês eutróficos. Mesmo
que estes bebês sobrevivam é pouco provável que o crescimento perdido seja recuperado, de
forma que poderão apresentar vários déficits de desenvolvimento (MONTE, 2000).Quanto à amamentação, 92% (n=23) das crianças foram amamentadas. Para estas, o
aleitamento foi exclusivo para 17,3% (n=4) das crianças até 1 mês de idade; 8,6% (n=2) de 1
a 2 meses; 30,4% (n=7) de 2 a 6 meses, e as crianças que amamentaram exclusivamente até
uma idade superior a 6 meses, corresponderam a 8,6% (n=2). Crianças que são amamentadas
exclusivamente até os 6 meses de idade, o que é preconizados pela OMS têm melhor estado
imunológico e nutricional, pois até esta idade o leite materno supre os requerimentos
nutricionais do bebê, portanto, se interrompida antes dessa idade é possível que ocorram
déficits nutricionais podendo desenvolver a desnutrição. Deve-se lembrar que o aleitamento
materno é recomendado até os dois anos de idade (OLIVEIRA et al., 2008).
Em relação à alimentação complementar: 12% (n=3) tiveram essa introdução antes de
1 mês de idade; 8% (n=2) de 1 a 2 meses de idade; 12% (n=3) de 2 a 4 meses de idade; 24%
(n=6) de 4 a 6 meses de idade e 24% (n=6) tiveram essa introdução com uma idade superior a
6 meses. Alimentos complementares introduzidos precocemente reduzem o tempo de
aleitamento exclusivo, fazendo com que haja um maior risco de se instalar um quadro de
desnutrição, uma vez que pode levar à ocorrência de diarréias, que por provocar perdas de
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água e eletrólitos, promove a desidratação da criança, levando-a a desenvolver a desnutrição,
ou a agravá-la caso esta já esteja instalada. Outra morbidade a que a criança fica exposta, é a
alergia alimentar que pode ser evitada com a duração do aleitamento materno exclusivo
respeitada e a introdução de alimentação completar iniciada em momento oportuno
(OLIVEIRA; MARCHINI, 1998).
Alimentos mais comuns na alimentação familiar foram os primeiros a serem
introduzidos na alimentação das crianças, sem haver uma preocupação com uma alimentação
diferenciada e mais apropriada para estas. Dessa forma, verificou-se os primeiros alimentos
introduzidos na alimentação complementar (Figura 2).
Figura 2 - Primeiros alimentos introduzidos como alimentação complementar na alimentação das criançasatendidas por uma creche comunitária.
Em relação à alimentação da criança quando esta se encontra em seu domicílio,
observou-se que: 92% (n=23) fazem alguma refeição ao sair da creche. Dentre as refeições
realizadas, verificou-se que: 38,4% (n=9) jantam; 7,7% (n=2) lancham; 11,5% (n=2) ceiam e
42,4% (n=10) não informaram o tipo de refeição realizada. A realização de refeições no
domicílio, ao sair da creche, é de extrema importância para que se mantenha o aporte
energético da criança, não havendo uma depleção protéica, já que a alimentação na creche
seria apenas no dia seguinte. Isso garantiria uma nutrição adequada para as crianças, o que é
de extrema importância para um crescimento e desenvolvimento normal para a mesma, sendo
ao mesmo tempo um fator de proteção contra desenvolvimento de algumas patologias na
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idade adulta (OLIVEIRA; MARCHINI, 1998). Os alimentos consumidos nas refeições
citadas acima, foram relacionados pelos responsáveis e se encontram dispostos na figura 3:
Figura 3 - Alimentos consumidos pelas crianças ao sair da creche.
Visando uma investigação dos hábitos alimentares das crianças, foi aplicado um
questionário de frequência de consumo alimentar (QFCA), para avaliar o consumo alimentar
residencial (Tabela 1).
Tabela 1 - Frequência de consumo alimentar residencial das crianças assistidas por uma crechecomunitária*.
Alimentos< que 2 vezespor semana
De 3 a 5vezes porsemana
Diariamente Nunca
Legumes 5 7 8 3
Frutas 9 5 5 2Leite e derivados 2 4 17 0Carnes 7 8 3 5Biscoitos 1 6 13 3Salgadinhosindustrializados
6 0 3 14
* Observações: Foram descartados 2 questionários de frequência de consumo alimentar por incompatibilidadede informações.
A tabela acima mostra que há presença de porções de legumes, verduras e frutas na
alimentação das crianças, no domicílio contribuindo no aporte de vitaminas e minerais, além
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de fibras, porém, não se pode afirmar que as necessidades nutricionais estão sendo supridas,
por não se saber qual a real quantidade de alimentos consumida por elas.
A partir da avaliação antropométrica, obtiveram-se os seguintes resultados que foram
transcritos na forma das Figuras 4, 5 e 6.
Figura 4 - Diagnóstico nutricional das crianças assistidas por uma creche comunitária segundo o índice Peso porIdade.
Figura 5: Diagnóstico nutricional das crianças assistidas por uma creche comunitária, segundo o índice Estatura por Idade.
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Figura 6: Diagnóstico nutricional das crianças assistidas por uma creche comunitária, segundo o índice Peso porEstatura.
De acordo com os dados transcritos pelos gráficos, nota-se a alta prevalência de
eutrofia, resultado que era esperado, já que o objetivo da instituição estudada é a recuperação
do estado nutricional das crianças frequentadoras. Porém, quando se observa o índice E/I,
percebe-se uma porcentagem alta de risco nutricional devido à baixa estatura, o que reflete um
processo crônico e não atual predominantemente associado às condições socioeconômicas,
como escolaridade dos pais e o trabalho materno, assim como também o baixo-peso ao nascer
(OLINTO et al., 1993). Sabe-se que no Brasil a consequência de desnutrição mais encontrada
é o comprometimento da estatura infantil que pode ter início no período gestacional, sendo
acentuado em lactentes e pré-escolares (MONTE, 2000; SARNI, et al., 2005; BARBIERI;
PALMA, 2001).
CONCLUSÃO
Pôde-se verificar que dos fatores de risco para a desnutrição da amostra estudada, os
de mais relevância foram os inerentes à família, como renda e escolaridade dos pais. Quando
avaliado o estado nutricional das crianças, encontrou-se uma porcentagem elevada de eutrofia,
o que era esperado, pois a creche em questão visa a recuperação do estado nutricional. Porém,
com relação ao índice E/I obteve-se uma grande prevalência de baixa-estatura e risco
nutricional, o que caracteriza processos de depleção energética crônicos e que não podem ser
revertidos.
Para otimizar ao máximo a assistência a essas crianças faz-se necessária uma ampla
intervenção que ultrapasse o nível de assistência nutricional à instituição chegando aos
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familiares Verificou-se então, a necessidade de se realizar uma intervenção que vise a
educação nutricional das crianças, bem como de sua família e dos funcionários envolvidos
diretamente com a produção da alimentação. Este acompanhamento irá contribuir para adoção
de hábitos alimentares saudáveis, melhorando a qualidade da alimentação da criança e
consequentemente de sua família, contribuindo para a manutenção de um estado nutricional
satisfatório e minimizando possíveis retrocessos de desenvolvimento em decorrência de
déficits crônicos.
Diante das evidências citadas, torna-se relevante a identificação dos fatores de risco
para desenvolvimento de desnutrição em crianças. Apesar de vários estudos existentes nessa
área, há uma diferenciação de uma região para outra, no que diz respeito à cultura, hábitosalimentares, de forma que um estudo mais localizado permite uma intervenção mais eficaz.
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Recebido em: 03/03/2009Revisado em: 07/04/2009Aprovado em: 10/06/2009
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