Download - Arte Na Escola-boletim 68-Quem Tem Medo de Arte Comtemporânea

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  • 6 boletimA b r i l 2 0 1 3

    Quem tem medo de

    arte contempornea?

    8Sothebys,2012

    Nelson Leirner. Quadro a quadro, 2012, instalao

  • Que artista contemporneo voc escolhe paratrabalhar em sala de aula e como o faz?

    > Trabalho com Cildo Meirelles atravs de recursos e subsdios visuaiscomo vdeos, documentrios, pesquisas sobre poticas e seus proces-sos criativos. Tambm utilizo materiais como: documentrios daDVDteca Arte na Escola, livros e outros audiovisuais. Abordo a relaodo artista com o tempo histrico refletido em suas obras desde quan-do comeou e suas principais caractersticas.Mizael Luis Vitor / Guarapuava (PR)

    > Nesse incio de ano, estou trabalhando com meus alunos a srieBASTIDORES, da Rosana Paulino. Nosso trabalho foi iniciado atravsde uma leitura de imagem ressaltando aspectos formais e simblicospresentes na obra. Posteriormente, dividi a turma em grupos e cadagrupo ficou responsvel por fazer uma apresentao oral sobre algunsdos temas suscitados pela obra em questo tais como: histria damulher, racismo, escravido, patriarcado e feminismo. Como culminn-cia dos estudos realizados nesse 1 bimestre, os alunos realizaro umtrabalho de fazer artstico na qual devero responder a seguinte ques-to: Se no estivesse impedida, o que essa mulher gostaria de ver, dizer,ouvir, pensar?Carlim Silva Paravidino / Campos dos Goytacazes (RJ)

    > So vrios os artistas: Siron Franco, Franz Kracjberg, Vik Muniz,Os Gmeos e Sebastio Salgado. Amo trabalhar com arte contem-pornea, pois atravs dela promovo mais dvidas do que certezas,tanto para mim quanto para os alunos. Fiz um trabalho com o docu-mentrio "Lixo Extraordinrio" do artista Vik Muniz com alunos doEJA na Escola Municipal Amaro de Souza Paes. Eles perceberamtodo o processo de criao, desmitificando que o artista j nascecom talento. Ao contrrio, viram que ele necessita de conhecimen-to e planejamento para compor suas obras. Exploramos a materia-lidade do artista e a desmistificao do talento, e assim partimospara os trabalhos plsticos com diversidades de materiais.Mrcia Christina de Souza Justiniano / So Joo da Barra (RJ)

    > No existe uma preferncia por um artista, mas artistas que possuampoticas que se adequem ao assunto que estou trabalhando. J trabalhei

    Lygia Clark, Cildo Meireles, Lygia Pape, Vik Muniz e outros inclusive com

    poticas dspares. Em todos os nveis de ensino utilizo a abordagem trian-

    gular para estruturar o trabalho, mas claro, percebendo as especificidades

    e maturidade de cada turma. O trabalho com arte contempornea permi-

    te uma ampliao do olhar, posto que no se restringe a suportes e po-

    ticas, mas proporciona ao sujeito interagir e sobretudo, questionar e refle-

    tir sobre as produes artsticas e culturais no mundo. A arte contempo-

    rnea pode e deve estar presente em todos os nveis de ensino.

    Maria Juliana S / Cabo de Santo Agostinho (PE)

    editorial

    2

    expedei nteO Boletim Arte na Escola uma publicao da redeArte na Escola, produzidocom o patrocnio daFundao Iochpe.

    ISSN 1809-9254Instituto Arte na Escola;Alameda Tiet, 618 casa 3CEP 01417-020, So Paulo,SP Fone (11) [email protected]

    EditoraSilvana ClaudioJornalista responsvelFbio Galvo MTB 20.168/SPRedaoFbio Galvo e Ceclia Galvo(CGC Educao)Projeto GrficoZoziPadronizao bibliogrficaShirlene Vila Arruda

    FlaPa rofessor

    ILUSTRAOImagens de obras de

    Nelson Leirner,nome presente na artecontempornea desde a

    dcada de 1960,ilustram esta edio.

    Agradecemos ao artista e Galeria Silvia Cintra+Box4 acesso do uso das imagens.

    COLEO TEMAS DA ARTE CONTEMPORNEA.Katia Canton. So Paulo:WMFMartins Fontes, 2010. 6 v.Nesta coleo com seis volumes, a autora apresen-ta temas que emolduram o mundo contemporneoe que so refletidos na arte atual: a superao damodernidade; a questo das narrativas; o tempo esuas relaes com a memria; o corpo, a identida-de e o erotismo; as noes de espao e lugar; aspolticas e micropolticas. Em linguagem acessvel,a teoria entremeada a entrevistas com artistasbrasileiros.

    Dicad itL ue re a

    Se arte j uma matria atraente paranossos alunos, que dizer da arte con-tempornea? Nenhum outro perodo falato de perto para uma audincia jovemcomo o da arte produzida por seuprprio tempo. Se ns, adultos, temosdificuldades muitas vezes em sintonizarcom o que a sensibilidade maiscontempornea nos traz, as crianas ofazem quase que instintivamente.Este Boletim Arte na Escola problematizaa questo e traz a experincia de salade aula com arte contempornea paraser reinventada, remodelada,reconfigurada que a maneira maiscontempornea de apropriar-se de novoscontedos. Faa isto e depois nos contesua experincia atravs do sitewww.artenaescola.org.br para quepossamos compartilh-la com osmilhares de professores que nos visitamtodos os dias.Bom trabalho!

    Evelyn Berg IoschpePresidente do Instituto Arte na [email protected]

    Xeque-mate, 2008/2012, tcnica mista

  • 3NO > A disciplina de Arte tem como parte de suas funes inse-rir o indivduo nas diferentes linguagens artsticas, no desenvolvi-mento da linguagem esttica e aspectos cognitivos da criativida-de, na ampliao da percepo do olhar, no desenvolvimento dopensamento crtico, no conhecimento de sua singularidade peran-te o mundo, do seu eu, do mundo e suas diferentes culturas.Todo movimento ou escola artstica possui artistas consagradosque representam com muita fora e clareza sua trajetria. Para oNeoclssico temos, por exemplo, Jacques-Louis David, paraImpressionismo, Monet, para o Cubismo, Picasso.A arte contempornea consagrada por artistas como Damien Hirst,que delegou a execuo de algumas de suas obras a assistentes,instruindo-os como proceder, iniciar e finalizar a obra; Jeff Koons, quefoi processado por vrias apropriaes indevidas de obras alheias,entre outras coisas. Autores de obras milionrias como os banaisbales de animais feitos em ao, latinhas de fezes qumicas idnti-cas a de seres humanos, tela contendo esterco de elefante em suacomposio, larvas, etc. Quanto mais bizarro e quanto mais chamara ateno da mdia, melhor, porque o mais importante no a obraem si, mas o espao que ela ocupar na mdia. Um marketing quetransformar o artista em uma marca ou grife a ser vendida.Quando um artista se torna uma marca, o mercado tende aaceitar como legtima qualquer coisa que ele apresente, contaDon Thompson, economista, colecionador e autor do livro Otubaro de 12 milhes de dlares (Revista Superinteressante,n. 315, p. 55, fev.2013).Trata-se de obras vazias de contedo e que nada acrescentam,dependendo sempre de um texto para poder ter algum sentido,recebendo assim seu respaldo terico. A obra passa de objetoartstico para produto de marketing e o discurso passa a ser maisimportante que a obra. "Um dos fenmenos mais sintomticos dacrise que atinge grande parte da arte contempornea a substitui-o do criador pelo terico" (GULLAR, Ferreira. Argumentao con-tra a morte da arte. Rio de Janeiro: Revan, 1993. p. 79). claro que no meio de tanto joio h um pouco de trigo, mas infeliz-mente trata-se de minoria, geralmente no reconhecida.Como incentivar os alunos s prticas artsticas introduzindo-osno mundo da arte contempornea se ao estudar os grandesmestres ele constatar que o artista muitas vezes no colocasequer a mo na obra? Com o ensino da arte contempornea, noqual o fake, a repetio e as obras so, em geral, desprovidasde contedo, seria possvel estimular a criatividade e o desen-volvimento do pensamento crtico?Muitos professores no conseguem entender a arte contempor-nea e assim encontram uma enorme dificuldade para elaborarplanos de aula e bons projetos. difcil esclarecer tais dvidasem um tempo em que o parmetro para saber o que arte nadadepende da anlise da obra em si, mas sim do texto explicativocomposto para ela e o nome do artista. Como explicar ao alunoque a torneira de ponta cabea que viu em uma prateleira de suacasa no arte, enquanto a torneira de ponta cabea com umbom texto escrito por um curador e exposta em um museu arte?

    Acesse aqui o artigo completo

    Rodanthi Mihail Moudatsos - Licenciada em Artes Visuais pela Faculdadede Educao e Cultura Montessori (2009) e em Percepo Visual no Centro de

    Estudos da Percepo Visual e Aplicao Plstico Visual -Atellier L' Osservatorio

    Figurale (2012).Clnica Mdica da Faculdade de Medicina de Ribeiro Preto USP

    Existe espao para ensinar arte contempornea nas escolas?

    Cleie rode IdeiasSIM > Minha formao profissional, enquantofazia faculdade de artes visuais, foi em galerias dearte contempornea. Antes de iniciar a vida acad-mica nem sequer sabia o que era uma instalaoe, de repente, me deparei com esse mundo queat ento era estranho para mim. Foi quando tiveque estudar para compreender o que era essa artee principalmente as questes que levam um deter-minado artista a construir a sua potica. Ento litextos no s de arte, mas de antropologia, filo-sofia, das questes que permeiam o homem con-temporneo. Assim pude perceber a grandezadessa arte que torna visvel essas questes e queest to prxima de ns, apesar de muitos acha-rem que se distancia pela sua complexidade.Estudar a arte contempornea como estudar ohomem contemporneo.Quando comecei a ensinar numa escola observeiresistncia em relao arte contempornea.Ento resolvi quebrar essa rejeio e esse precon-ceito levando algumas turmas juntamente com acoordenao e professores para uma exposioda artista Lcia Koch, Matemtica Espontnea.Usando cobogs e filtros que atuam sobre a luzprpria de cada ambiente, ela cria aparatos decomunicao entre dentro e fora, afetando osujeito que entra na exposio. Uma instalaomuito delicada, este trabalho dialogava com aarquitetura da nossa cidade. A turma ficou encan-tada e minha coordenadora fez a seguinte coloca-o: A experincia foi maravilhosa, mas se eutivesse vindo s, sem a sua mediao, no enten-deria nada e continuaria sem gostar da arte con-tempornea. Por que isso acontece?.Naquele momento, incio de minha carreira comoprofessora, respondi que o problema era umalacuna enorme no ensino de arte, que ns noaprendemos a ler a arte contempornea. Mas athoje reflito sobre esse questionamento. Talvez adificuldade maior seja de compreender o mundocontemporneo. Essa experincia me deu abertu-ra para inserir essa arte no currculo da escola, eanos depois esses mesmos alunos produziriamuma revista de crtica de arte contempornea.

    Flvia Roberta Alves Costa - Especialista em Arte-Educao (Arte na Escola? Como a Arte se insere nos projetos

    didticos na Escola) na Unicap/PE (2009), licenciada em

    Educao Artstica/Artes Plsticas pela UFPE (2006). Atuou

    como mediadora nas principais instituies culturais do Recife.

    Trabalhou como consultora de Arte-Educao para a Fundao

    Gilberto Freire e Galeria Ranulpho no concurso de releitura da

    obra de Vicente do Rego Monteiro. Ganhadora do Prmio de

    Educao Asa Branca em 2008 e do Prmio Arte na Escola

    Cidad 2009 na categoria Ensino Mdio, com o projeto:

    impresso e expresso que transformam. Atualmente pro-

    fessora da Prefeitura do Recife e da Escola Arco-ris.

  • 4>> A artista e pensadora francesa Anne Cauquelin utili-

    za, no livro Arte contempornea: uma introduo(Ed. Martins, 2005), um conceito denominadoSistema de Arte, uma intrincada rede de comunica-o, tecnologia e consumo, composta por vriosatores, como arte-educadores, marchands, crticos,colecionadores, museus, galerias, entre outros. Paraela, a arte sai do campo da emoo para ingressarno universo do pensamento.O filsofo Celso Favaretto faz uma provocao nodocumentrio Isto arte? , que compe a DVDtecaArte na Escola:"Muita obra moderna um belo hor-ror", brinca. Ele sugere que em meados do sculo XXh uma ruptura no mundo das artes, quando a obrase transforma em objeto e as estticas do belo e dofeio se confundem. "Uma coisa falar que o objetoda arte a beleza. Outra coisa bem diferente falarque uma obra de arte objeto. A palavra obra noconsegue mais dar conta das transformaes ocorri-das nas artes", diz. (veja mais nas pginas 6 e 7)Na concepo da professora Manoela dos AnjosAfonso, da Faculdade de Artes Visuais daUniversidade Federal de Gois (FAV/UFG), a arte con-tempornea multidisciplinar e os artistas "tm expe-rimentado construir dilogos com prticas e teorias

    provenientes de outros campos do conhecimento"."Um trabalho artstico que antes podia ser definidoclaramente como desenho, pintura, escultura ou gra-vura, hoje muitas vezes no se acomoda to facilmen-te em apenas uma dessas categorias", diz Manoela.Uma boa maneira de entender a produo artsticacontempornea a perspectiva de que ela "se rela-ciona de forma crtica com seu tempo e no em buscade propriedades supostamente universais ou eter-nas", frisa Mirtes Marins de Oliveira, graduada emArtes Plsticas pela USP e Doutora em Filosofia eHistria da Educao pela PUC-SP."A incorporao de novos materiais que no so ostradicionais; a importncia intrnseca do processoartstico; a existncia ou no de objetos como resul-tado desses processos; e a impossibilidade de cate-gorizar tais objetos dentro das definies modernasdas linguagens existentes so alguns exemplos daarte contempornea, aponta.

    Transposio didtica

    A coordenadora do Polo Arte na Escola naUniversidade Federal de Uberlndia, Eliane Tinoco,que trabalhou a arte contempornea na formao

    A Artedo nosso tempo

    Identificar o que arte. Definir arte contempornea. Ensinar arte

    contempornea na escola. Tudo isso muitas vezes pode se transformar

    em um grande desafio para o professor. Para tentar compreender um

    pouco este revolucionrio universo da arte do nosso tempo e como

    transport-lo para a sala de aula, o Instituto Arte na Escola pesquisou

    e ouviu vrios educadores envolvidos com esta temtica.

    >

    Arte contempornea um sistema designos circulando dentro de redes

    Anne Cauquelin

    Assimse

    lheparece,srieMapas,2003

  • 5continuada dos professores em 2012, destaca que aspremissas para fazer a transposio didtica da artecontempornea para a sala de aula so as mesmaspara qualquer manifestao artstica: planejamento,experincia artstica e um ambiente adequado para aaprendizagem.Ela conta que o projeto de formao teve incio como envio para a casa das professoras de um cartopostal com imagens de arte contempornea e umaproposio: elaborar um trabalho plstico-visual apartir da percepo artstica do professor. "Essas pro-fessoras conseguiram no s compreender o projetopotico desses artistas como tambm produzir rela-es de sentido entre eles, facilitando a compreensodo rol de possibilidades da arte contempornea paraseus alunos", destaca Eliane.Para Manoela dos Anjos, o professor que escolher aarte contempornea como projeto pedaggico "cami-nhar muito mais por territrios que evocam combi-naes de informaes histricas, entrecruzamentosde conceitos, compreenso de jogos de linguagem eexpanso de prticas, do que por terrenos acomoda-dos por definies e cronologias exatas provenientesde abordagens lineares da histria da arte".Mirtes Marins defende clareza sobre os conceitos arts-ticos que se quer trabalhar, articulados aos conceitosdo campo educacional. " necessrio ter em perspecti-va que o maior aprendizado , alm da construo derepertrios, a busca de uma preciso conceitual, assimfalar sobre arte um exerccio vital e sem fim", afirma.

    FormaoUma questo que preocupa quem trabalha com forma-o de professores em artes se os cursos de bacha-relado e licenciatura esto adaptando seus currculospara a didtica e a prtica da arte contempornea.Manoela dos Anjos relata que recentemente partici-pou da reformulao das matrizes curriculares daUFG e pesquisou o tema em outras instituies queofertavam o curso de Licenciatura em Artes Visuais."Tenho a sensao de que a formao do licenciadoem artes visuais tem melhorado muito no que dizrespeito abordagem da arte contempornea", diz.Ela prope uma prtica colaborativa dos currculos.Os professores devem trabalhar o currculo juntos,um ajudando e colaborando com o outro. Assimpodemos chegar a melhores resultados no que dizrespeito ao professor recm-formado que chega escola", afirma.Mirtes Marins v um "anacronismo" na universidadequando o assunto arte contempornea. "No setrata simplesmente de implantar contedos sobrearte contempornea ou de tirar as disciplinas da tra-dio o desenho, por exemplo mas retom-las deuma perspectiva histrica e crtica", afirma. Eladefende uma "discusso qualificada" sobre o papeldo professor na sociedade. "Quando se compreendeo professor como um intelectual um agente socialque capaz de pensar, propor e agir ele pode deci-dir sobre suas concepes, escolhas e prticas", diz.

  • 6No documentrio Isto arte?, do acervo da DVDtecaArte na Escola, o filsofo Celso Favaretto diz que a artecontempornea ressuscitou a dvida sobre o que arte. Qual a sua definio de arte contempornea?A arte contempornea a dos dias de hoje e tam-bm a que leva em conta as rupturas de linguagemde que fala o professor Celso (veja pginas 4 e 5).Justamente por estar muito prxima no tempo aindano temos o aval da histria da arte, das coleesde museus para nos garantirem que o que vemos arte. Por isso ficamos um pouco perdidos. A nossazona de conforto est muito mais na arte moderna.No final dos anos 1960 h uma ruptura de lingua-gens. O interesse dos artistas no est mais nahabilidade do fazer, na capacidade de representarcom grande veracidade as cenas da vida, dossonhos, recriadas numa espcie de janela para oimaginrio. Luigi Pareyson fala no fazer-pensar-fazerem arte moderna como o processo em que so defi-nidas as regras da obra de arte, regras internas,estabelecidas ao ser feita a obra e no por qualquerparmetro externo. No h mais uma hierarquiaonde o fazer menos importante do que o pensar. um pensamento vlido para a arte contempornease considerarmos tambm fazeres no artesanais,como operaes poticas.

    Na sua oficina para a Rede Arte na Escola, em 2012,voc cita o artista Carlos Fajardo quando ele diz quearte no se ensina, se aprende. Voc concorda?O que est por trs deste quase trocadilho? Fajardoest tirando o foco do ensino e colocando o foco naaprendizagem. O papel do professor criar situaesde aprendizagem para que o aluno se desenvolva. propor desafios para que os alunos passem por expe-rincias estticas. Nesse processo o aluno constroirepertrio prprio que, somado ao que traz o profes-sor, cria pontes de acesso arte. O aluno se sentemais corajoso e capaz de participar do universo daarte contempornea.

    Como planejar uma situao de aprendizagem? preciso planejar cuidadosamente a aula, cuidar daformulao de desafios que podem ser propostostanto pela escolha de materiais disponibilizadosquanto pela arrumao do espao ou por uma ques-to sem, contudo, fechar as respostas num resultadoou objeto pr-determinado. Quando o professor tra-balha a arte contempornea na sala de aula, ele temque estar preparado para o impondervel, para asrespostas inesperadas dos alunos. O desafio que oprofessor prope a boia de salvao de todos.Porque em torno deste desafio que a aula vai girar.Ao vivenciar a experincia de ser o autor de imagens eobjetos, o aluno estabelece relaes a partir do reper-trio dele, tanto nas suas pesquisas pessoais quantopara enfrentar desafios propostos pelo professor. assim que ele passa por experincias artsticas.

    Qual o maior desafio do professor para ensinar artecontempornea?A arte contempornea cria para o professor umasituao de questionamento que ele deve ter diantede tudo. Ele precisa pensar na sua prpria prtica,pensar no que realmente entende de arte. O profes-sor tem que apostar na sua prpria experincia dian-te da obra de arte. Quando ele vai ao encontro daobra de arte disposto, preparado para o que nosabe, para o que pode perturbar, o professor apren-de. da experincia artstica do professor que saemos desafios para os alunos. Ao mesmo tempo, o pro-fessor no pode fazer um desafio to grande queparalise os alunos. A entram os saberes do educador,tais como conhecer as caractersticas de cada faixaetria.

    H uma idade certa para aprender arte contempornea?O que no pode haver uma escolarizao da arte.Na educao infantil, a aprendizagem se d pelaexperincia, as reas esto todas interligadas.Desenhar uma matria que entra em atrito com

    Transposio didticae arte contempornea:desafios e solues

    >

    Quando o professor trabalha a arte contempornea na salade aula, ele tem que estar preparado para o impondervel,para as respostas inesperadas dos alunos.

    Marcia Cirne Lima

    >>

    entrevits a

  • 7outra superfcie e deixa uma marca, noimporta se com lpis no papel ou comargila no cho do ptio. Isto tem muitode arte contempornea! Quando o pro-fessor apresenta uma obra de arte paracrianas maiores, a obra parece que dum aval ao que foi proposto. E isto noquer dizer necessariamente que a situa-o de aprendizagem em torno da expe-rincia esttica proposta tenha potnciade aprendizagem. Quando eu dei aulano Ensino Mdio percebi que o impor-tante fazer o aluno olhar para onde oartista olha. entender a potica doartista. Se o professor mostra o traba-lho do artista antes e explica o que oartista fez, pode parecer que se estapresentando um modelo. diferentequando o professor prope mostrarpara onde o artista olhou porque oaluno faz seu percurso e ganha repert-rio para olhar a obra do artista commaior autonomia.

    Como o professor pode ampliar o seurepertrio de arte contempornea?

    O assunto repertrio de arte sempreum desafio. O professor precisa olhararte, pensar sobre arte, estudar arte. Oprofessor tem, sim, que cuidar do seurepertrio. O repertrio do professor uma das importantes qualificaes dele. ponto de partida. Um dos papis doensino de arte na escola que os estu-dantes se reconheam como parte deuma cultura, que eles atuem na cultura.Para isso, o professor sempre podegarantir uma boa dose de situaes deaprendizagem por experincias estti-cas, possibilitando um maior grau deautoria aos alunos. Assim, a sala deaula de artes na escola um lugar pri-vilegiado porque mantm, ao longo daescolaridade, espao para esta maneiradiferente de aprender.

    Marcia Cirne Lima - Formada pela FAAP (1980)em Licenciatura plena em Arte, coordenou o proje-

    to Fim de Semana na Escola da Secretaria Municipal

    de Educao de So Paulo (1984/85) onde as esco-

    las ficavam abertas para atividades planejadas com

    a comunidade, lecionou no Ensino Mdio da Escola

    Vera Cruz em So Paulo, desenvolveu curso para

    professores e alunos em projeto do Instituto Tomie

    Ohtake. J atuou como artista e desenvolve espora-

    dicamente atividades de design grfico. Foi coorde-

    nadora do ncleo de arte da Comunidade Educativa

    CEDAC orientando as oficinas que so realizadas

    em diversos programas de formao de educadores

    de redes pblicas em Minas Gerais, Maranho, Par

    e Esprito Santo.

    >

    Hot

    dog,2006,tcnicamista

  • Os endereos e dados para contato com os Polos da RedeArte na Escola esto no site www.artenaescola.org.br

    8

    Patrocnio

    CelsoMelani

    > Uma das estratgias mais contemporneas da apren-dizagem de Artes planejar a aula para desafiar oaluno a descobrir novos olhares para o seu cotidia-no. Uma prova da eficcia desta abordagem est noresultado do projeto A Cidade que a Nossa Cara,um curso de formao de professores em arte con-tempornea, realizado pelo Instituto Arte na Escolade junho e novembro de 2012 em Bauru, no interiorde So Paulo.Organizado em trs mdulos Arte Contempornea,Formao a partir do material educacional do InstitutoArte na Escola e Elaborao de Projetos o cursoenvolveu 35 professores da Educao Infantil eFundamental da rede pblica. Cinco projetos foramescolhidos e receberam apoio financeiro para sua exe-cuo. Para Sidnei Bergamaschi, gerente de marketingda Tilibra, patrocinadora do projeto, esta uma exce-lente oportunidade de contribuir com a melhoria daeducao no Brasil, a partir da construo de umanova percepo de mundo para nossas crianas.A professora Ellen de Souza criou A Arte Fotografadano Ambiente de Trabalho. Ela props aos alunos domaternal criar representaes sobre os seus pais, osfuncionrios da escola e as pessoas que trabalhamno entorno. "Meus pensamentos sobre arte muda-ram. Aprendi que a arte contempornea provocati-va, questionadora e inusitada", conta.Construo e Reconstruo de Caminhos: Eu e MeuMundo foi o projeto da professora NatashaMadureira. A ideia era mostrar aos estudantes do 4e 5 anos como o bairro onde eles vivem foi influen-ciado por uma fbrica de cermica que existe h 30anos. "O curso mudou a minha maneira de trabalhar.Hoje eu apresento os temas e convido meus alunospara um novo conhecimento, criando a curiosidadepara o novo, um novo despertar", relata.

    Sergio Segal, professor e msico, projetou a interven-o urbana Retra[LA]tos - A cidade que minhas lem-branas inventam, na qual os alunos do 5 ano cap-taram sons e imagens da cidade e os reproduziramem vdeos exibidos em espaos pblicos. "O profes-sor precisa ter clareza naquilo que pretende que ascrianas aprendam, no deve se apegar muito emconceitos hermticos ou interpretaes tericasextensas. s vezes questes simples sobre a obra jso suficientes para desvendar novos mundos", diz.A partir de um trabalho de jardinagem na escola, aprofessora Mariadne Beline desenvolveu o projetoSentidos. Os alunos da Educao Infantil ultrapassa-ram os muros e "plantaram" em uma praa nas ime-diaes um imenso jardim de flores imaginrias."Dentre os muitos conceitos novos para mim, acredi-to que a questo da leitura de imagens, a instalaoe a interveno foram fundamentais para a constru-o do projeto. Eu aprendi um novo olhar para aarte", afirma.A professora Gisele Donato conta que foi a primeiravez que trabalhou com arte contempornea em salade aula. "O curso abriu uma janela, um leque de pos-sibilidades. Hoje eu sei onde eu piso no terreno", diz.O projeto Trabalho/Arte-Arte/Trabalho usou a tcnicado estncil para transformar as casas dos alunos emsuporte para as produes artsticas.A Cidade que a Nossa Cara aconteceu pelo segun-do ano. uma parceria entre Instituto Arte na Escola,Secretaria de Educao de Bauru, Polo Arte na Escolada Unesp e tem o patrocnio da Tilibra, por meio daLei de Incentivo do Governo de So Paulo - Programade Ao Cultural (PROAC).

    Os detalhes do projeto esto no site Arte na Escola.

    A arte mudando a cara da cidade