9
De modo geral, sinto que, quando trabalhamos com o ser humano, não
devemos deixar que apenas a habilidade técnica permeie nosso trabalho. È
necessário usar a sensibilidade e a compreensão quando se lida com vidas,
seja na área educacional, seja na área da saúde. É necessário pensar que
educação e saúde caminham juntas.
Desta forma suponho que a pessoa hospitalizada, em face do
crescimento e desenvolvimento especiais, seja pela faixa etária ou outras
condições psicossociais, deva ter assistência psicopedagógica ou atendimento
pedagógico, pois ela necessita continuar com o seu aprendizado, que traz as
concepções do mundo e da realidade de onde veio. A pedagogia auxiliará na
transformação do mundo novo do hospital em conhecimento, e esse
conhecimento em aprendizagem, em amadurecimento para uma vida futura
após o tratamento, para enfrentar o mundo novamente.
Quando a criança é hospitalizada e sofre de uma doença que vai deixá-
la por um longo período internada, ocorre uma ruptura na normalidade do
cotidiano: serão novas pessoas, novas perspectivas, certamente haverá
sofrimento, dor, angústia, isso tudo em volto em cuidados e precauções. Então,
como ficarão os vínculos anteriores e os conhecimentos? Será que ocorrerão
mudanças no seu modo de pensar, de ver a vida? Mittempergher (1998, p.21)
afirma que...
“o conhecimento vindo da escola, de casa, da rua, de si
mesmo e do próprio hospital, deve adquirir um novo
significado para a criança hospitalizada, esse conhecimento
deve ser positivo, para que sua qualidade de vida seja
elevada, não só se pensando na cura e conseqüente
reinserção nas atividades diárias de cada uma, mas também
10na sua vida durante o tratamento, vida essa que prossegue e
deve ser bem cuidada”. (Mittempergher 1998, p.21).
Nesta direção, o objetivo geral do trabalho é Identificar as práticas de um
pedagogo hospitalar, dentro das instituições. Como objetivos específicos,
procurar caracterizar a pedagogia Empresarial prevendo histórico e espaço de
avaliação; apresentar as especificidades das ações do pedagogo no âmbito
hospitalar; demonstrar as intervenções pedagógicas para crianças
hospitalizadas.
Integrar o doente no seu novo modo de vida, lhe oferecendo assessoria
e atendimento emocional e humanístico tanto para o paciente
(criança/adolescente) como para o familiar (pai/mãe), é uma hipótese
considerável.
Trata-se de uma pesquisa de caráter bibliográfico; tendo como
procedimentos metodológicos a situação problema, pesquisa a respeito do
assunto para conseguir equacionar bem a questão, planejar ter clara a linha de
pensamento que será adotada, coletar informações objetivas e necessárias ao
desenvolvimento do trabalho.
Esse trabalho está organizado em três capítulos. O primeiro está
apresentando o pedagogo empresarial e seu campo de trabalho; o segundo
está delimitando o pedagogo no âmbito hospitalar, uma vez que o trabalho do
pedagogo não pode se restringir apenas à escola; e por último, mostra a
importância desse trabalho para as crianças hospitalizadas, pois tenta
aproveitar qualquer experiência por dolorosa que possa ser para enriquecer e
mudar sofrimento em aprendizagem.
11
Pedagogo Empresarial e seu campo de trabalho
A Pedagogia conta com o pedagogo empresarial dentro da empresa,
visando sempre melhorar a qualidade de prestação de serviços. Na atualidade,
a empresa tem aberto espaço para que este profissional possa, de maneira
consciente e competente, solucionar problemas, formular hipóteses, e elaborar
projetos, demonstrando que a sua atuação visa à melhoria dos processos
instituídos na empresa, como garantia da qualidade do atendimento aos seus
clientes e ao funcionário, contribuir para a instalação da cultura institucional da
formação continuada dos empregados, orientarem na gestão do melhoramento
dos processos. De que maneira o Pedagogo poderá trabalhar seus projetos
numa empresa visando sempre a sua melhoria?
Esta pesquisa visa a compreender os novos rumos que a Pedagogia
Empresarial tem assumido frente aos novos cenários organizacionais
delimitados pela globalização. A implementação de treinamentos e
desenvolvimento de projetos pressupõe uma nova base para a gestão de
pessoas, desenvolvimento e capacidade de renovação da empresa e dos
funcionários, a busca do conhecimento, de promover atitudes transformadoras
e mobilizadoras, visando a direcionar os negócios da empresa para obtenção
da excelência no atendimento às exigências do mercado e da sociedade.
Para enfrentar os novos desafios impostos pelo mundo dos negócios
nesta virada do milênio, as empresas precisam gerar novas capacidades
organizacionais que devem ser decorrentes da redefinição e redistribuição das
práticas e funções. Gerentes de linha e profissionais precisam juntos, criar
essas novas capacidades, estabelecendo ligações com funcionários,
12fornecedores e clientes, fortalecendo a capacidade de competir, tendo, como
objetivo, analisar a importância do pedagogo e que contribuição poderá
acrescentar dentro da empresa.
Empresas, hospitais, ONGS, associações, igrejas, eventos, emissoras
de transmissão (rádio e TV), e outros formam hoje o novo cenário de atuação
deste profissional, que transpõe os muros da escola, para prestar seu serviço
nestes locais que são espaços até então restritos a outros profissionais. E esta
atual realidade vem com certeza, quebrando preconceitos e idéias de que o
pedagogo está apto para exercer suas funções na sala de aula. Onde houver
uma prática educativa, existe aí uma ação pedagógica.
Toda transformação relacionada à atuação do Pedagogo se dá ao fato
de que, hoje vivemos o processo que reflete a transformação de valores e
pensamentos de uma sociedade voltada para valores mais específicos, como a
cultura de seu povo, valor diferente daquele que até pouco tempo se primava
pelo valor econômico. Ou seja, a cultura hoje tem o seu papel melhor definido e
mais importante para a sociedade do que situação econômica, propriamente
dita.
O novo cenário da educação se abre no século XXI com novas
perspectivas para o profissional que se insere no mercado de trabalho, sob
diversas abrangências, como nos mostra a própria sociedade, que vive um
momento particular discussões sobre globalização, neoliberalismo, terceiro
setor, educação on-line, enfim, uma nova estrutura se firma na sociedade, a
qual exige profissionais cada vez mais qualificados e preparados para atuarem
neste cenário competitivo.
13
Verdades e conceitos têm sido questionados, mitos e comportamentos
derrubados e o conhecimento tem ultrapassado os limites geográficos, sociais
e educacionais com uma vertiginosa velocidade. As novas tendências sociais
e os novos rumos impostos pela Era da Informação influenciam diretamente a
educação e o conhecimento. Administrar a quantidade de informações
veiculadas e estar atualizado, atualmente, é uma tarefa extremamente difícil e
especializada.
Gerenciar processos de mudança exige novas posturas e novos valores
organizacionais, características fundamentais para empresas que pretendem
manterem-se ativas e competitivas no mercado.
Dessa forma, o profissional da educação atua na área de Recursos
Humanos direcionando seus conhecimentos para os colaboradores da
empresa com o objetivo da melhoria de resultados coletivos, desenvolve
projetos educacionais, seleciona e planeja cursos de aperfeiçoamento e
capacitação, representa a empresa em negociações, convenções, simpósio,
realiza palestras, aportam novas tecnologias, pesquisa a utilização e a
implantação de novos processos, avalia desempenho e desenvolve projetos
para o treinamento dos funcionários.
O pedagogo empresarial pode focar seus conhecimentos em duas
direções: no funcionário ou no produto da empresa. No primeiro caso, trata-se
da atuação no departamento de Recursos Humanos (RH), realizando
atividades relacionadas ao treinamento e desenvolvimento do trabalhador. O
pedagogo é o responsável pela criação de projetos educacionais que visam
14facilitar o aprendizado dos funcionários. Para tanto, realiza pesquisas para
verificar quais
as necessidades de aprimoramento de cada um e qual método pedagógico é
mais adequado.
O desenfreado desenvolvimento científico e tecnológico das últimas
décadas tem marcado a sociedade contemporânea com profundas mudanças
nas organizações, no modo de produção e nas relações humanas.
O mundo transforma-se a cada momento e o resultado mais visível desse
processo é a obsolescência do conhecimento que os impele à atualização
constante e contínua. O MEC evidenciou a intensidade do impacto desse novo
formato social ao publicar os Referenciais para Formação de Professores.
O documento descreve as novas competências do educador e as novas
características das suas aulas, que devem priorizar a formação do aluno
cidadão, capaz de estabelecer relações com o mundo que o cerca, analisar,
pesquisar, estar atualizado e, sobretudo, aprender a aprender. Os reflexos
mutatórios na escola explicitam a exigência urgente do mercado de trabalho
que não abriga mais o trabalhador mecanizado, mero executor de tarefas,
personificado na figura robotizada do personagem do filme Tempos
Modernos de Charles Chaplin.
O ambiente organizacional contemporâneo requer o trabalhador
pensante, criativo, pró-ativo, analítico, com habilidade para resolução de
problemas e tomada de decisões, capacidade de trabalho em equipe e em total
contato com a rapidez de transformação e a flexibilização dos tempos atuais.
Mas como conseguir isso? Como conseguir desenvolver competências
nos alunos de nossas escolas atuais? Como contribuir para a construção de
15colaboradores autônomos, e com espírito de aprendizes? Como manter as
organizações atualizadas no mundo que vive a transformação num ritmo
frenético? Como transformar o ambiente de trabalho em um ambiente de
aprendizagem permanente?
Diante dessas indagações surge a figura do Pedagogo Empresarial.
Cada vez mais as empresas descobrem a importância da educação no trabalho
e desvendam a influência da ação educativa do Pedagogo na empresa. O
Pedagogo não é mais só o profissional que atua no ambiente escolar. Ao
contrário, dispõe de uma imensa área de atuação, tais como: empresas de
diversos setores, ONGS, editoras, sites, consultorias especializadas em T&D e
em todas as áreas que requeiram um trabalho educativo.
A tarefa do Pedagogo Empresarial é, entre outras, a de ser o mediador e
o articulador de ações educacionais na administração de informações dentro
do processo contínuo de mudanças e de gestão do conhecimento.
Outra modalidade para a capacitação e treinamento dos recursos
humanos no mercado empresarial é a Universidade Corporativa. Essas
Universidades desenvolvem um sistema de aprendizado contínuo voltado para
as necessidades específicas das empresas e de seus colaboradores.
Contribuem para a aquisição dos conhecimentos dos novos processos de
produção e valores organizacionais consoantes com a missão da empresa.
Esse novo nicho educacional tem crescido e tende a intensificar-se nos
próximos anos gerando uma demanda social de Pedagogos Empresariais.
Hoje, algumas empresas que possuem Universidades Corporativas podem ser
citadas: Embratel, Accor, Motorola, McDonald´s, Algar, Brahma.
16
As organizações são formadas por pessoas: são elas que atendem ao
público, despacham documentos, recebem recados, fazem pagamentos,
tomam decisões... Há uma mútua simbiose entre pessoas e organizações:
pessoas dependem das organizações e organizações dependem das pessoas.
Dentro dessa interdependência e do novo paradigma de competitividade em
mercados globais, o treinamento e o aprendizado são imprescindíveis para o
aproveitamento das oportunidades pessoais e organizacionais e para a
neutralização das ameaças ambientais.
Os indicadores propulsores da aprendizagem organizacional são a
criatividade e a inovação. A aprendizagem e o treinamento nas empresas são
os diferenciais de competitividade, qualidade e lucratividade. Por esse motivo o
investimento no conhecimento contínuo e coletivo do capital intelectual das
empresas tende ao crescimento progressivo.
Esse conceito administrativo assemelha-se, integralmente, ao novo
conceito educacional de escola e da sua função social: formar cidadãos
autônomos. Segundo a Pedagoga Maria Inês Fini coordenadora do Enem, a
escola não é mais o lugar de simples transmissão do conhecimento, é:
(...) o espaço das relações humanas moldadas, deve ser usada para aprimorar
valores e atitudes, além de capacitar o indivíduo na busca de informações,
onde quer que elas estejam para usá-las no seu cotidiano. (Revista Nova
Escola, Maria Inês, Mar. 2000).
Torna-se evidente que a palavra de ordem hoje é Gestão do
Conhecimento. Escolas e empresas que não repensarem seus modelos e
17agarrarem-se aos velhos paradigmas do aprendizado e das relações humanas
estarão, certamente, fadadas ao fracasso ou ao desaparecimento.
A inexorabilidade da reestruturação sócio-econômica obriga que as
escolas desenvolvam competências nos alunos para atender às exigências do
mercado de trabalho e que as organizações reestruturem-se e transforme o
ambiente de trabalho num ambiente de aprendizagem, contribuindo para a
construção de pessoas que se antecipem aos acontecimentos, sejam
atualizadas e saibam aprender a aprender.
Nas grandes organizações, o pedagogo é o responsável pela elaboração
de projetos de implantação de universidades corporativas, avaliando a
viabilidade de cursos e programas educacionais; contatando profissionais e
confeccionado material didático. Além disso, os pedagogos são os
responsáveis por treinamentos de comportamento para as lideranças. Eles são
os mais indicados para transmitir aos líderes, a maneira correta de como lidar
com subordinados e como ensiná-los a realizar tarefas.
Pode-se ainda, como em qualquer profissão, prestar consultoria ou
assessoria para organizações, em função de uma experiência adquirida em
outras instituições. Ë válido salientar que à medida que o profissional pretende
oferecer um serviço mais elaborado, é necessário especializar-se com cursos e
pós-graduações, desta forma, chega um momento em que a graduação inicial
foi apenas um ponto de partida.
De acordo com as reflexões acima tudo indica que há nos setores
produtivos que programam as novas formas de organização do trabalho a
possibilidade de atuação do pedagogo. Por outro lado, podemos constatar que
18a maior parte dos dirigentes, sejam eles de recursos humanos ou
administrativos, manifestam desconhecimento do trabalho que o pedagogo
possa realizar dentro da indústria.
A maior parte dos diretores e dirigentes demonstra indicar o pedagogo
como docente, restringindo seu trabalho à sala de aula. Embora esses
dirigentes alegassem haver possibilidade de contratação de estagiários do
curso de pedagogia, a concepção restrita do trabalho do pedagogo dificulta o
acesso desse profissional à indústria, pois dificilmente a empresa contratará
um profissional desconhecendo sua área de atuação, ou seja, sem saber que
conhecimento técnico esse profissional possui e em que ele poderia ser útil na
empresa.
No entanto, para que os programas de qualificação profissional não
contemplem a separação entre planejamento e execução, como no modelo
taylorista - fordista, o pedagogo deve oferecer instrumentos que capacitem os
demais agentes do processo produtivo a discutir, questionar, pesquisar e
propor objetivos a serem alcançados, bem como auxiliar na escolha das
metodologias mais apropriadas e materiais a serem utilizados.
19
As especificidades das ações do pedagogo no âmbito
hospitalar
O pedagogo será o mediador para recuperara sentimentos de amor
próprio entre outros e assegurando a valorização da vida do paciente. A
pedagogia Hospitalar situa-se na modalidade de educação especial, definindo
como suas principais ações as atividades de classes hospitalares e
atendimento domiciliar para crianças e adolescentes em tratamento de saúde.
Crianças que necessitam de muitos períodos de internação acabam
sofrendo uma carência em relação à aprendizagem, um bom profissional da
educação percebe que há muito para fazer nesse “Novo” da educação, pois por
meio do acompanhamento educacional dentro do ambiente hospitalar pode-se
resgatar vários sentimentos nessas crianças como aceitação, auto estima,
segurança, uma melhor qualidade de vida e a continuidade do desenvolvimento
das potencialidades que elas apresentam.
Á prática pedagógica hospitalar, que “exige maior flexibilidade”, por
trata-se de uma clientela que se encontra em constante modificação, tanto em
relação ao número de crianças que irão ser atendidas pelas professoras bem
como no que diz respeito ao tempo que cada uma delas permanecerá
internada e ainda o fato de serem crianças e jovens com diferentes patologias,
requisitando diferentes intervenções.
Isso quer dizer que para atuar na classe hospitalar se faz necessária
uma maior compreensão por parte do profissional porque, mais do que em
20outras instituições, não se trabalha com uma receita pronta; cada dia significa
um desafio para traçar, a partir de temas preestabelecidos, caminhos
individualizados. E o pedagogo hospitalar deve aprender a lidar com esses
fatores quando ainda está em formação, para facilitar seu trabalho.
O tempo de tratamento de saúde, em âmbito hospitalar ou na reclusão
domiciliar, pode propiciar o afastamento do ciclo escolar, pela impossibilidade
de freqüentar as aulas regularmente. Isso acarreta prejuízo ao individuo no
tocante ao desenvolvimento da educação escolar, o que traz em si
conseqüências negativas ao desenvolvimento psicológico e as relações sociais
e familiares.
Os fatores que compõe as características de uma hospitalização longa
aos descritos nos conceitos de estresse, e esse estresse é amplamente
definido como um estado negativo podendo alterar o funcionamento do
organismo como um todo, sendo que essas alterações sejam prejudiciais ao
restabelecimento da saúde.
Nesse contexto a Pedagogia Hospitalar pode contribuir para a
manutenção da reação do individuo, pois atua reforçando indiretamente a sua
auto-estima ao dar possibilidade de continuidade de desenvolvimento.
“Observa-se que a continuidade dos estudos, paralelamente
ao internamento, traz maior vigor às forças vitais do enfermo,
como estimulo motivacional, induzindo-se a tornarem
participante e produtivo, com vistas a uma efetiva
recuperação” (Matos e Mugiatti, 2001, p.39).
21Além do beneficio terapêutico, é evidente a importância da continuidade
da escolarização no ambiente hospitalar, sem prejuízos maiores a formação
escolar proposta, respeitando o individuo como cidadão em seu direito a
educação. O trabalho do Pedagogo Hospitalar é propiciar uma prática
educativa visando à formação integral do aluno enfermo numa proposta de
amenizar a possível desmotivação e o interesse ocasionado pela internação.
Tem com principais objetivos, promover a integração entre a criança e a
família, a escola e o hospital, amenizando os traumas da internação e
contribuindo para interação social; dar continuidade ao atendimento às crianças
e adolescentes hospitalizados em busca da qualidade de vida intelectiva sócio-
interativa; aproximar a vivencia da criança no hospital á sua rotina diária
anterior ao internamento, utilizando o conhecimento como forma de
emancipação e formação humana; fortalecer o vinculo com a criança
hospitalizada, possibilitando o fazer pedagógico na pratica educacional dos
ambientes hospitalares; propiciar à criança hospitalizada a possibilidade de
mesmo, estando em ambiente hospitalar, ter acesso á educação.
A prática do pedagogo na Pedagogia Hospitalar poderá ocorrer em
ações inseridas nos projetos e programas nas seguintes modalidades de cunho
pedagógico e formativo: nas unidades de internação, na ala de recreação do
hospital; para as crianças que necessitarem de estimulação essencial; com
classe hospitalar de escolarização para continuidade dos estudos e também no
atendimento ambulatorial.
A pedagogia Hospitalar também busca oferecer assessoria e
atendimento emocional e humanismo tanto para o paciente (criança/jovem)
como para a família (pai/mãe) que muitas vezes apresentam problemas de
22ordem psico/afetiva que podem prejudicar na adaptação no espaço hospitalar,
mas de forma bem diferente do psicólogo.
A prática do pedagogo se dará através das variadas atividades lúdicas e
recreativas como a arte de contar histórias, brincadeiras, jogos, dramatização,
desenhos e pinturas, continuação dos estudos no hospital. Essas práticas são
as estratégias da pedagogia hospitalar para ajudar na adaptação, motivação e
recuperação do paciente, que por outro lado, também estará ocupando o
tempo ocioso.
O hospital, portanto, aciona sua instrumentalização e seu manejo de
controle e tecnologia para obter, se não a cura, a possibilidade da melhora do
paciente para reinserção na sociedade. O evento hospitalização traz consigo a
percepção da fragilidade, o desconforto da dor e a insegurança da possível
finitude.
É um processo de desestruturação do ser humano, que se vê em estado
de permanente ameaça. Neste momento, delineiam se algumas inquietações
sobre como a criança se instrumentaliza para acionar o enfrentamento deste
processo. Para a criança, há, neste momento, uma situação caótica,
implicando mudanças subjetivas em sua vida cotidiana.
Entender os desdobramentos deste evento que ela não conhece (e que,
por isso, teme) demanda ter que incorporar em seu universo de conhecimentos
o não familiar, o assustador desconhecido.
23As rotinas da internação não vislumbram a subjetividade e seus
contornos emocionais, culturais e sociais na criança. Há, portanto, uma
preocupação com a devastadora influencia do adoecimento e da internação
hospitalar no processo de desenvolvimento deste paciente, quando ele é
cercado em seu transcurso de ser humano livre e saudável.
Pode-se afiançar que, no interior dos domínios hospitalares, existe uma
carência de estímulos promotores do desenvolvimento psíquico e sensório-
motor infantil; em contrapartida, prevalece, em alto grau uma estrutura de
medo-estímulo gerada para o cumprimento do aparato terapêutico: exames
bioquímicos, equipamentos cirúrgicos, punções, intervenções evasivas e
amputações.
Portanto, nas situações de risco, cabe o olhar inovador de referência á
sensibilidade como um aparato que legitima a permanência da força motriz do
ser saudável pra a superação do estágio do adoecer e ao atingimento da cura.
É preciso, pois, ressignificar a concepção do hospital como apenas um
cenário asséptico para vislumbrar um espaço onde a vida acontece, onde é
aceito tudo o que faz parte da vida. A passagem da criança nesse espaço
permitirá o surgimento de outra, mas autônoma, aparelhada para a elaboração
de relações ela mesma, experenciando diferentes formas de afeto com os
outros e com o mundo que a cerca.
A enfermidade e a hospitalização das crianças passam por seu corpo e
emoções: passam por sua cultura e relações; produzem afetos e inscrevem
conhecimentos sobre si, o outro, a saúde, a doença, o cuidado, a proteção, a
vida. A corporeidade e a inteligência vivenciam essas informações como
conhecimento e saber pessoal.
24
A situação de enfermidade dilui-se na tentativa de tornar bom o
desagradável. A intervenção educacional assume um risco de insinuar à
existência do mundo extra- hospitalar – a escola – como agenciadora de
processos de aquisição de aprendizagem, desenvolvimento de competência
intelectual e interação entre seus pares, compondo um novo quadro de
qualidade de vida, entrecruzando sentidos e construindo sentidos para
ressignificar o adoecimento.
No ideário simbólico do paciente pediátrico, a escola apresenta-se com
roupagem revolucionária, anunciadora da liberdade, embora provisória, das
rotinas da embora provisória, das rotinas da internação e das torturas dos
procedimentos internação e das torturas dos procedimentos terapêuticos
instituídos, para instituir o novo, a criatividade, a autorização de ser desafiado e
desenvolvido no contato com o saber.
A escola, portanto, apresenta-se para o enfermo como mobilizadora da
construção de modos positivos de vida; a ruptura com esta instituição significa
a negação de estímulos de vida e o sepultamento de sua força motriz de
inventividade – é a falência de seus processos de cognição e de sua de seus
processos de cognição e de sua humanização.
A participação da criança hospitalizada na vida escolar, mesmo em
regime domiciliar de estudos, faz com que se perceba ainda membro de uma
classe, fortalece seu desejo de pertencimento social, e o afastamento
prolongado ou ausências esporádicas da escola não produzirão tantos
prejuízos acadêmicos.
25
Logo, a assistência escolar deixa de ser vista apenas como uma
"ocupação do enfermo" e/ou "ação atenuante dos traumas da internação", para
ser decodificada como uma essencialidade junto ao tratamento terapêutico.
O campo pedagógico se insinua no universo hospitalar, acenando para um
modo singular de compreensão dos sofrimentos das crianças hospitalizadas e
tendo como princípio a promoção da saúde.
Assim, a disponibilidade de atividades escolares, e até mesmo lúdicas,
consagra-se como uma das variáveis que influem na resposta à hospitalização.
Há uma intencionalidade nesta ação: a luta contra a doença, não com arsenal
curativo da medicina, mas, antes, com uma atenção escolarizada, armada com
anseios de crescimento pessoal, investimento na criatividade, na busca de
caminhos novos e na geração de expectativa de realização.
É com este olhar que analiso as experiências que delineiam o perfil do
comprometimento que a educação pode assumir como proposta recriadora, já
que ela resgata a possibilidade de a criança levitar com a opção de "brincar"
com o conhecimento e fazê-lo um instrumento de autonomia e reconstrução de
sua vida.
Neste ínterim, recorro à prática educacional tornada a efeito nas classes
hospitalares. Classe hospitalar entendida por Fonseca (2002) como: Lócus
específico de educação destinado a prover acompanhamento escolar a alunos
impossibilitados de freqüentar as aulas em razão de tratamento de saúde que
implique internação hospitalar ou atendimento ambulatorial.
26As crianças e adolescentes internados em hospitais, independentemente
da patologia, são considerados alunos temporários de educação especial por
se acharem afastados do universo escolar, privados do universo escolar,
privados da interação social propiciada na vida cotidiana e terem pouco acesso
aos bens culturais como revistas, livros, atividades artístico culturais.
Logo, elas correm um risco maior de reprovação e evasão, podendo
configurar um quadro de fracasso escolar. As propostas escolarizantes de
atuação implementadas nas classes hospitalares ocupam-se das operações
cognitivas e sócio afetivas, ativando circunstâncias pedagógicas sócio-afetivas,
ativando circunstâncias pedagógicas para dirimir problemas de aprendizagem
que, porventura, estejam presentes no processo de desenvolvimento da
criança, independentemente da duração de sua internação hospitalar.
Este segmento educacional trilha para o encontro com o universo
escolar. É uma aposta na manutenção dos vínculos escolares para o envio da
criança à escola regular, sabedora dos pré-requisitos do currículo e reintegrada
aos princípios da socialização, tendo presente, assim, a circulação de outros
significantes afora os saberes terapêuticos que comporão os espaços livres, ou
melhor, aqueles lugares saudáveis da criança para permitir vir à tona a
insustentável leveza do sonho de vida.
É um empreendimento inspirado na crença de que o paciente-aluno,
instrumentalizado pelo conhecimento de si e da realidade, redescubra o seu
papel e possa desenhar com mãos próprias as suas possibilidades.
As práticas das classes hospitalares devem estar centradas em
encaminhamentos pedagógico-educacionais que não deixam de incluir
programações lúdicas educativas.
27
Entendemos que o momento atual seja bastante favorável ao
desenvolvimento do Projeto EIC-Hospitais, considerando que o Programa
Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), do Ministério da
Saúde, salienta que é preciso modificar a forma como os hospitais se
posicionam frente ao seu principal objeto de trabalho - a vida, o sofrimento e a
dor de um indivíduo fragilizado pela doença (BRASIL, 2001).
Neste sentido, o projeto EIC Hospitais trata-se de uma proposta de
criação de um espaço dentro dos hospitais onde as crianças e adolescentes
possam participar de atividades lúdicas e interativas, ao mesmo tempo em que
educativas, utilizando-se de recursos tecnológicos. Seu principal objetivo,
portanto, é contribuir com o movimento de humanização do atendimento à
criança hospitalizada.
Assistência Hospitalar (PNHAH), do Ministério da Saúde, salienta que é
preciso modificar a forma como os hospitais se posicionam frente ao seu
principal objeto de trabalho - a vida, o sofrimento e a dor de um indivíduo
fragilizado pela doença (BRASIL, 2001). Neste sentido, o projeto EIC Hospitais
trata-se de uma proposta de criação de um espaço dentro dos hospitais onde
as crianças e adolescentes possam participar de atividades lúdicas e
interativas, ao mesmo tempo em que educativas, utilizando-se de recursos
tecnológicos. Seu principal objetivo, portanto, é contribuir com o movimento de
humanização do atendimento à criança hospitalizada.
Naturalmente, o período de internação traz experiências difíceis para a
criança. Contudo, este período pode também proporcionar a oportunidade para
o desenvolvimento de atitudes positivas para o enfrentamento de situações
difíceis, além de novos posicionamentos diante da vida. Este tempo pode
28também representar uma oportunidade para o desenvolvimento de novas
habilidades e ser bem aproveitado pela aplicação de recursos educativos.
A concepção de que a assistência à criança hospitalizada requer
prioritariamente procedimentos tais como o isolamento e o repouso no leito
vêm sendo questionados há algum tempo, sendo que muitas alternativas
criativas vem surgindo a cada dia em diversos hospitais do país. É cada vez
maior o número de pesquisas e de intervenções práticas norteadas pelo
objetivo de oferecer bem-estar à criança e ao adolescente hospitalizado.
A modificação do ambiente hospitalar, dentro das possibilidades e
garantias de preservação da saúde da criança, pode ser um fator de ajuda para
a sua recuperação se vislumbradas as demandas infantis no aspecto do lúdico,
da fantasia e do movimento espontâneo e curioso para novas aprendizagens,
no qual o computador e seus recursos interativos, mostram-se como um
catalisador de atenções concentradas. Esta afirmação é apoiada também na
idéia de que a criança e o adolescente são ativos no seu processo de
recuperação, dadas às condições adequadas.
As atividades lúdicas recreativas desenvolvidas durante a hospitalização
possibilitam o brincar criativo e espontâneo; fortalecer o vínculo entre crianças
e acompanhantes e facilitar o relacionamento destes com a equipe de saúde;
lidar com os limites físicos e emocionais referentes ao adoecimento, tratamento
e internação; estimular uma reorganização da imagem corporal, desencadeada
pela doença e pela dor; promover uma integração das crianças internadas e de
seus acompanhantes; experimentar-se na situação de grupo, lidando com
regras e limites; direcionar a atenção da criança e dos familiares para outras
áreas da sua existência, além do adoecimento, facilitando a recuperação;
manter a lucidez mental através dos jogos; desenvolver a atenção e
29coordenação motora; trabalhar as situações de agressividade e destrutividade;
favorecer o contato com a realidade hospitalar; dar continuidade ao contato da
criança e seus familiares com a realidade sócio-cultural em que estão
inseridos.
Atentos a estes aspectos, a reinserção da criança ao cotidiano escolar,
após sua saída do hospital, deverá ser realizada sem maiores prejuízos, dentro
de um sentimento de retomada, de continuidade, de forma motivada. Pois
durante a hospitalização, como nos explica Cecim (1997), a criança sofre uma
profunda cisão nos seus laços sociais. Destacando que o distanciamento da
escola leva a criança a sentir-se isolada, sozinha. Sua vida passa a ficar
restrita aos espaços família/casa e doença/hospital.
Para as crianças a escola é um espaço privilegiado de contato social, de
vida. Manter este laço, este sentido de continuidade, mais do que importante
para a reintegração da criança à escola, é imprescindível para que se
mantenha nesta criança um sentimento de capacidade, de auto-estima, de
alegria de entusiasmo e de vontade de viver.
30
A importância do trabalho do pedagogo hospitalar para
as crianças hospitalizadas
Este campo de atuação exige a preparação do pedagogo voltado para a
saúde, capazes de intervir pedagogicamente junto a crianças que, mesmo
internadas, são capazes de continuar seu processo de aprendizagem, e
quando curadas, inserir-se em suas práticas escolares, com sucesso.
A criança internada precisa, além dos cuidados com a saúde física,
atenção às suas necessidades psíquicas. A Pedagogia Hospitalar como uma
nova vertente para a educação oferece subsídios educacionais e pedagógicos
ao enfermo para ajudá-lo em sua recuperação, pois, carinho, calor humano,
atenção e afeto constituem elementos fundamentais para a saúde, física,
espiritual e cognitiva.
As (os) crianças/jovens hospitalizadas (os) envolvidas por um clima
afetivo positivo, sem perder o contato com suas famílias, com os livros, os
cadernos, as brincadeiras, sentem-se mais integradas à sociedade e ao desejo
de viver. Ao deixar de pensar na doença, envolvem-se nas atividades, sentem-
se felizes e produtivos, criam expectativas para o futuro e para a volta ao
convívio familiar e social.
O papel da educação é transformar o ambiente hospitalar em um lugar
mais descontraído, por meio de projetos lúdicos, pedagógicos e criativos,
trabalhando as necessidades de cada criança/adolescente enfermo.
31
Esse trabalho deve ser inter/multi/transdisciplinar, procurando conciliar o
fato de que no hospital está a (o) criança/jovem com necessidades específicas.
Desta maneira, o atendimento é direcionado a cada um, conforme suas
possibilidades e necessidades, em interação multiprofissional tendo em vista a
recuperação do enfermo.
A criança ou o jovem hospitalizado passa por duas vertentes: uma
primeira voltada para a ludicidade, porque este tipo de atividade aciona o
emocional como canal de comunicação com a criança, fazendo-a esquecer,
durante alguns instantes, do ambiente agressivo no qual se encontra,
resgatando sensações da infância vivida anteriormente à entrada no hospital. A
outra, consiste na desmistificação do ambiente hospitalar, dando origem a um
espaço de confiança e afetividade que possibilite levantar o ânimo das crianças
internadas.
Nesse contexto, em que se interpenetram os conceitos de educação e
saúde, surge uma nova perspectiva de educação que fertiliza a vida, pois o
desejo de aprender/conhecer engendra o desejo de viver.
A hospitalização é um acontecimento permeado por situações de medo
e tristeza, com o potencial de paralisar o processo de construção de si e do
conhecimento. No entanto, uma ação de acolhida dos medos, desejos,
ansiedades, confusões e ambivalências, com adequado nível de informação,
permitirá a produção de conhecimentos sobre si e uma construção positiva a
respeito da saúde, porque a dimensão corpo não se separa da dimensão
cognitiva.
32
Nessa perspectiva, a abordagem pedagógica pode ser entendida como
instrumento de suavização dos períodos de hospitalização é transformado,
então, num tempo de aprendizagem, de construção de conhecimento e
aquisição de novos significados, não sendo preenchido apenas pela dor e o
vazio do não desenvolvimento afetivo, psíquico e social.
Urge, portanto, reconhecer a criança hospitalizada como protagonistas de sua
própria saúde e educação, passando de objeto a sujeito de seu
desenvolvimento.
Para isso, é necessário que a sociedade, os governantes e as escolas
criem projetos diversificados, para atender a todos os problemas que o
indivíduo possa vir a ter, e promover a verdadeira democratização da
educação. A Pedagogia Hospitalar vem se expandindo no atendimento à
criança Hospitalizada, e em muitos hospitais do Brasil tem se enfatizado a
filosofia humanística.
Um dos objetivos da classe hospitalar, na área sócio-política, e o de
defender o direito de toda criança e adolescente a cidadania, e o respeito às
pessoas com necessidades educacionais especiais e no direito de cada um ter
oportunidades iguais. A criança hospitalizada é tida como uma criança
especial e de acordo com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases) 9394/96 capítulo V:
Todas as crianças especiais têm direito à educação. Para a criança o
hospital é um lugar que provoca medo e solidão; pois lembra tristeza e doença.
As crianças internadas sentem falta de brincar. Sabe-se que a brincadeira
favorece o bem estar emocional e consequentemente, o biológico, o físico.
33
É através do brincar que as crianças e adolescentes internados
encontram maneiras de viver a situação de doença, de forma criativa e positiva.
Portanto, o trabalho em classe hospitalar faz com que há diminuição do risco
de comprometimento mental, emocional e físico dos enfermos.
À percepção de que mesmo doente a criança pode brincar, pode
aprender, criar e principalmente continuar interagindo socialmente, muitas
vezes ajuda na recuperação.
O trabalho pedagógico para muitas crianças que estão no hospital é uma
oportunidade única de receber atendimento pedagógico, já que na maioria das
classes iniciais de escolas públicas ou particulares não conta com professores
com formação pedagógica adequada, facilitando assim a exclusão como é o
caso de crianças autistas, deficientes mentais e outras situações.
O contato com sua escolarização faz do hospital uma agência
educacional para a criança hospitalizada desenvolver atividades que a ajudem
a construir um percurso cognitivo, emocional e social para manter uma ligação
com a vida familiar e a realidade no hospital.
Lembramos que o atendimento a essas crianças é um direito de todos os
educandos, garantidos por Lei, pelo tempo que estiverem afastados ou
impedidos de freqüentar uma escola, seja por dificuldades físicas ou mentais.
A legislação brasileira reconhece tal direito através da Constituição
Federal de 1988, da lei n.1.044/69, da lei n.6.202/75, da lei n.8.069/90-Estatuto
da Criança e do Adolescente, da Resolução n. 41/95 do Conselho Nacional de
Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, da lei n.9.394/96 - Lei de
34Diretrizes e Bases da Educação Nacional, da Resolução n. 02/01 do Conselho
Nacional de Educação.
Cabe ressaltar que a doença não atinge só a criança. Cada membro da
família pode estar vivendo o adoecimento da criança de maneira muito própria
e aqueles mais atingidos (os cuidadores principais) necessitam de cuidados
especiais.
Podem surgir sentimentos de culpa pela doença do filho, incerteza e
ansiedade diante do futuro, impotência por não conseguir aliviar o sofrimento e
a tristeza pela aproximação da morte. Os familiares precisam ser esclarecidos
e orientados quanto aos tratamentos que, muitas vezes, parecem e são
assustadores e dolorosos.
O estar doente, associado a uma experiência de hospitalização, pode vir
a ser configurar com uma experiência desgastante para a criança. O grau de
estresse pode estar associado não só à gravidade do caso e do período de
internação, mas também às características do próprio ambiente hospitalar e a
maneira como os pais e a família em geral vivem essa situação.
A criação de um território lúdico contribui para quebrar a característica
hospitalar espacial predominantemente voltada pra diagnosticar e intervir no
combate á doença. Rompendo com a totalidade dirigida para o tratamento
médico-hospitalar, onde a criança se percebe como o doente a ser tratado, a
Brinquedoteca insere um lugar alegre e descontraído, onde ela pode e até deve
“fazer de conta” que é, sente ou tem aquilo que gostaria de ser, sentir ou ter no
momento.
35Em outras palavras, o espaço lúdico, aceito formalmente pela equipe da
saúde, permite, dá seu aval, assim como cria condições práticas para que a
realidade vivida pela criança, na fase de hospitalização, seja permeada pelo
imaginário, facilitando sua elaboração da situação á sua medida e ao seu ritmo.
O lúdico, possibilitando à criança sua livre expressão física e psicológica,
configura-se como um instrumento privilegiado de afirmação de si mesmo, o
que é vital pra o processo de recuperação da saúde.
Ora, a presença de uma brinquedoteca auxiliada por um pedagogo, em
um ambiente hospitalar vem a ser um lugar de refugio, de serenidade e de bem
estar também para as mães, que lá, muitas vezes, podem participar de
atividades especialmente voltadas paras elas, como oficinas de jogos, de
pintura ou de artesanato.
A presença dos pais, propriamente dita, além das mães, nas
brinquedoteca Hospitalares, sendo estimulada, cria condições para que
também joguem com seus filhos, vivenciando o ambiente hospitalar em seu
lado mais descontraído, aliviando sua tensão, lembrando que o espaço lúdico,
favorecendo a descontração, quebra o foco na doença.
Além disso, e talvez o mais significativo seja, na Brinquedoteca, a
criança internada é vista por sua família, convivendo com atividades divertidas
e alegres, fazendo coisas que ela estava acostumada a realizar em casa, como
brincar e desenhar, rir e conversar com outras crianças.
Pelo brincar, ela se expressa, mostra o que sente e quem é, aparecendo
como sujeito, com vontades, e não como mero objeto de cuidados. As tensões
36provocadas pela internação diminuem, favorecendo a adesão ao tratamento e
diminuindo sua vitimização, isto é, sua situação de coitadinha.
Mantém-se a continuidade no processo de estimulação de seu
desenvolvimento e aprendizagem, por meio de atividades e experiências que
os apóiam. Neste aspecto, reside a importância da classe hospitalar, entendida
como atendimento pedagógico e escolar á criança a ao adolescente
hospitalizado, desde que, neste espaço, não se repitam os defeitos da escola
tradicional, com seu ensino sem significado e extremamente diretivos.
Se os brinquedos e as brincadeiras são adaptados às limitações e as
especificidades da criança e do ambiente hospitalar se ela pode escolhê-los e
se pode ter sucesso brincando com eles, brincar no hospital propicia a
conquista e/ou manutenção de sua autoconfiança. Seu restabelecimento físico,
cognitivo e psíquico é, por conseguinte, mais imediato e duradouro, acelerando
seu retorno á vida anterior á hospitalização.
Assim com presença de um objeto, um animal, uma boneca ajuda-a a
sentir segura na hora de dormir, pois permitem a recriação da situação mãe-
filho na qual se protegem mutuamente, os brinquedos no hospital cumprem um
papel de proteção como objetos de transferência que fazem com que não se
sinta sozinha.
Contudo, brincar no hospital não deve servir para distanciá-la da
realidade, distraindo-a, tal como uma manobra diversionista, mas deve auxiliá-
la a vivê-la: desenvolvendo seu raciocínio, sua capacidade de expressão,
melhorando seu ânimo; a criança reúne forças e instrumentos intelectuais para
compreender a realidade em que vive.
37
Ao educador lúdico, compete oferecer brinquedos e brincadeiras
variadas, com as quais acriança experimenta sua sensorialidade, motricidade e
inteligência, como livros infantis, jogos de construção, lógicos, motores, de
inventividade e de criatividade, bem como bonecos e acessórios fantásticos.
Tais atividades e objetos devem ser instigantes, mas sem esquecer que
são tanto atraentes quanto mais surpreendentes conseguem ser. Sua atração
decorre menos da beleza plástica ou sofisticação do que mistério surgirem.
Também compete brincar com a criança até mesmo com aqueles brinquedos
com os quais ela já brincou muito e que foram abandonados, pois, ver outra
pessoa brincar com eles revigora o interesse que uma vez provocaram.
A curiosidade suscita pela forma de brincar de outro, criança ou adulto
renova a brincadeira. Como admitem Bandet e Sarazanas, “os brinquedos
nunca morrem completamente, dado que basta um desejo ou uma
circunstância para ressuscitarem”.
Quaisquer que sejam as explicações para a força curativa dos
brinquedos e das brincadeiras, a mágica, que repassa o ato de brincar pode
ser explicada pelo fato de que, sendo a brincadeira universal e própria do
individuo saudável, ela facilita o crescimento e, portanto, a saúde. O hospital é
um lugar onde a doença e a morte é enfrentada, a partir de conhecimentos e
técnicas especializadas, a favor da saúde. Doença compreendida não como
oposição a saúde, mas como desestabilização e confronto como o incontrolável
e o inesperado, característicos da vida. Ora, a atividade lúdica baseia-se no
enfrentamento do inesperado, exigindo capacidade de enfrentá-lo e ensinando
como o fazes.
38
Deste modo, brincar no hospital ensina a enfrentar a doença,
promovendo a saúde, especialmente se a saúde for concebida como afirmação
da vida. A idéia de que privar uma criança de brincar significa priva-la do prazer
de viver. Então, propiciar o brincar equivale a reforçar seu prazer de viver.
Após a implantação da lei que obriga todos os hospitais que atendam
crianças a possuir brinquedoteca, as mesmas foram montadas ou construídas
normalmente na Enfermaria de Pediatria. Portanto, os pacientes internados na
UTI Pediátrica não têm acesso às mesmas, ficando excluídos de tão importante
beneficio, mas os brinquedos podem ser levados a eles no leito.
Montar uma brinquedoteca interna ou mesmo no baú onde possam ser
alocados brinquedos (devidamente higienizados) para várias idades é um meio
bastante fácil e viável para solucionar este problema, trazendo benefícios
inimagináveis as crianças e mesmo aos adolescentes. Pra evitar brigas entre
pacientes, a formulação de horários programados e a monitoragem das
atividades por profissional responsável é bem vinda.
A maioria das crianças, principalmente os lactentes e pré-escolares,
possui um brinquedo preferido. Após avaliação da Equipe Multidisciplinar, os
pais devem ser estimulados a trazê-lo para o convívio domiciliar para as
crianças que ficam internadas por longos períodos.
Para se criar um recurso como esse que a brinquedoteca é necessário,
determinar o local, os objetivos e as metas a serem atingidas, sendo a rotina de
funcionamento estabelecida em um segundo momento. São necessários: fazer
o levantamento bibliográfico a respeito dos objetivos pelos quais vão se
39fundamentar a criação desta Brinquedoteca; faze um mapeamento e estudo a
respeito do local e das condições físicas mais adequadas; fazer a observação e
a analise crítica do ambiente físico e do tipo de relações que se estabelecem
dentro do Hospital; demonstrar a função e sua importância a Direção do
hospital, e também para toda equipe que irão participar.
Como já relatado a Brinquedoteca é das técnicas usadas dentro do
Hospital, para auxiliar na recuperação dos pacientes. Um espaço criado para
as crianças, adolescentes, adultos ou idosos brincar e se relacionar livremente.
Evidencias tem sido comprovada nos tratamentos, tais como:
• Contribuir no fortalecimento do vínculo acompanhante-criança-
adolescente;
• Possibilitar o ato espontâneo e criativo de brincar pela criança ou pelo
adolescente e seu acompanhante;
• Amenizar o sofrimento e a ansiedade do paciente diante do sofrimento,
assim como de seus familiares.
A criança doente continua sendo criança, e para garantir seu equilíbrio e
desenvolvimento emocional, intelectual e motor, o brincar é essencial, o que
torna fundamental a existência de uma Brinquedoteca no Hospital, o lúdico
deve estar presente, acompanhada de uma boa equipe multidisciplinar.
40
Conclusão
A classe hospital é uma modalidade de ensino cuja oferta está
assegurada por lei, conforme demonstrado. No entanto, muitos alunos
internados ou em tratamento de saúde estão sendo privados desse direito.
Faz-se necessário uma política pública educacional voltada aos
interesses desse público, pois eles sofrem pelas patologias e pelo afastamento
de seus familiares e da escola. Os atendimentos pedagógicos oferecidos aos
alunos em hospitais ou até mesmo em domicílio devem ter o conhecimento da
sociedade, para os que eventualmente necessitarem se afastar da escola por
motivos de patologias possa usufruir desse beneficio.
O atendimento pedagógico hospitalar oferece recursos para a
aprendizagem e para o desenvolvimento de crianças e adolescentes
internados, minimizando as suas condições adversas potencializadas pela
doença ou pelo tratamento, tais como insegurança e baixa auto-estima.
Considerando os objetivos da presente pesquisa concluiu-se que a função do
pedagogo dentro das instituições hospitalares é mediar as relações entre a
escola e a criança ou o adolescente internado, ensinando e dando continuidade
aos conteúdos.
Assim, o professor deve proporcionar condições de qualidade de vida. A
atuação pedagógica em ambiente hospitalar aproveita qualquer experiência por
dolorosa que possa ser para enriquecer e mudar sofrimento em aprendizagem.
41 A atuação pedagógica é, antes de qualquer coisa, ajudar a criança ou
adulto enfermo hospitalizado para que o mesmo vivendo um período difícil,
consiga continuar se desenvolvendo em todos os aspectos, com maior
normalidade possível. Aprender com essas sensações e emoções
redimensiona o ensino e as ênfases cognitivas com que se opera o processo
ensino-aprendizagem.
Nesse contexto a Pedagogia Hospitalar pode contribuir para a
manutenção da reação do individuo, pois atua reforçando indiretamente a sua
auto-estima ao dar-lhe possibilidade de continuidade de desenvolvimento.
Alem do beneficio terapêutico, é evidente a importância da continuidade
da escolarização no ambiente hospitalar, sem prejuízos maiores a formação
escolar proposta, respeitando o individuo como cidadão em seu direito a
educação.
42
BIBLIOGRAFIA
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da Justiça.
2-CECCIM, R. B. Crianças hospitalizadas: a atenção integral como uma escuta
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Cortez, 6ª edição, 2002.
5-MATOS, Elizete Lúcia Moreira; MUGGIATI, Margarida Maria Teixeira de
Freitas. Pedagogia Hospitalar. Curitiba: Champagnat, 2001. Pedagogia
Hospitalar: a humanização integrando educação e saúde. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2006.
6- REBELLO, Lúcia Emilia Figueiredo de Sousa. Uma relação muito delicada:
43Educação e saúde na enfermaria do Núcleo de Estudos da saúde do
Adolescente do Hospital Universitário Pedro Ernesto. Rio de Janeiro: UERJ.
Monografia de conclusão de graduação em Pedagogia, 2004.
7-TRUCHARTE, F A R; KNIJNIK, R B; SEBASTIANI, R W & CAMON, V A A.
Psicologia hospitalar: teoria e prática. São Paulo: Pioneira, 1994.
8-VIEGAS, Drauzio: Brinquedoteca Hospitalar. Isto é humanização. Rio de
Janeiro: Wak, 2008.
44
ÍNDICE
INTRODUÇÃO...................................................................................................08
PEDAGOGO EMPRESARIAL E SEU CAMPO DE TRABALHO.......................11
AS ESPECIFICIDADES DAS AÇÕES DO PEDAGOGO NO ÂMBITO
HOSPITALAR....................................................................................................19
A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO DO PEDAGOGO HOSPITALAR PARA AS
CRIANÇAS HOSPITALIZADAS........................................................................30
CONCLUSÃO....................................................................................................40
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS..................................................................42
ÍNDICE...............................................................................................................44