Pressclipping
20 de Abril de 2020
"Dificuldades são coisas que mostram o que os homens são.“
(Epitetus)
‘Não queremos negociar’, diz Bolsonaro em ato pró-ditadura
Presidente atacou a ‘velha política’ em meio a manifestantes que pediam o fechamento
do Congresso e do STF
• O Estado de S. Paulo - 20 Apr 2020
• Patrik Camporez / BRASÍLIA / COLABOROU ANDRÉ ÍTALO ROCHA
Em meio a apoiadores da intervenção militar, convocados pelas redes sociais para manifestação no Dia do Exército, Bolsonaro
subiu ontem o tom de confronto com o Congresso e o STF. Ele gritou palavras de ordem contra a “velha política”, disse que a
“época da patifaria” tinha acabado e afirmou, diante de pedidos pelo fechamento do Parlamento: “Nós não queremos
negociar nada, nós queremos é ação pelo Brasil”. E continuou: “É agora o povo no poder. Vocês têm a obrigação de lutar
pelo País de vocês”. A fala do presidente, que causou aglomeração na frente do QG do Exército em Brasília, foi vista por
políticos como uma tentativa de escalada autoritária no momento em que ele perde apoio e a crise provocada pelo novo
coronavírus se agrava. Também causou “enorme desconforto” na cúpula militar. Um general avaliou que lugar escolhido
para o ato “não poderia ter sido pior”.
Acabou a época da patifaria! É agora o povo no poder. Vocês têm a obrigação de lutar pelo País de vocês” JAIR BOLSONARO
DURANTE ATO PRÓ-INTERVENÇÃO MILITAR, ONTEM, EM BRASÍLIA
O presidente Jair Bolsonaro elevou ontem o tom do confronto com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal e, diante do Quartel- General do Exército, pregou o fim da “patifaria” em uma manifestação que pedia intervenção militar no País. Com microfone em punho, Bolsonaro subiu na caçamba de uma caminhonete e fez um discurso inflamado para seguidores que exibiam faixas com inscrições favoráveis a um novo AI5, o mais duro ato da ditadura (1964 a 1985), e gritavam palavras de ordem contra o STF e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
“Nós não queremos negociar nada. Queremos é ação pelo Brasil”, disse Bolsonaro, aplaudido por centenas de manifestantes.
“Chega da velha política! (...) Acabou a época da patifaria. Agora é o povo no poder. Vocês têm a obrigação de lutar pelo País de
vocês”. Dezenas de cartazes sugeriam fechamento do Congresso e do Supremo, além de pedidos para que as Forças Armadas ocupassem
as ruas. O grito de “Fora, Maia” era um dos mais ouvidos. Em nenhum momento, porém, o presidente contestou os apelos pela volta
da repressão. O Estado apurou que militares reprovaram a atitude de Bolsonaro (mais informações nesta página).
O protesto foi visto como preocupante por governadores, prefeitos e pelas cúpulas do Legislativo e do Judiciário, que enxergaram
no gesto de Bolsonaro o sintoma de uma escalada autoritária no País, justamente no momento em que ele perde apoio e a
pandemia do coronavírus se agrava (mais informações na pág.A5). “Não temos tempo a perder com retóricas golpistas. (...) No
Brasil, temos de lutar contra o corona e o vírus do autoritarismo”, escreveu Maia, no Twitter. Do outro lado da Praça dos Três
Poderes, o ministro do STF Luís Roberto Barroso foi na mesma linha. “É assustador ver manifestações pela volta do regime militar.”
Ainda ontem, 20 governadores divulgaram uma carta em apoio a Maia e ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). Para
eles, Bolsonaro está “afrontando os princípios democráticos que fundamentam” a Nação.
Redes. Embora Bolsonaro tenha tentado passar a ideia de que o ato foi de improviso, na esteira de carreatas pela reabertura do
comércio, seguidores bolsonaristas convocaram as manifestações pelas redes sociais para comemorar o Dia do Exército. “O Brasil
vai parar. Na frente dos quartéis”, dizia uma das convocações, ao pregar a “deposição” do Supremo e de governadores. Além disso,
mensagens de WhatsApp traziam endereços de vários quartéis e batalhões pelo País. O texto era acompanhado das hasthags
#abaixo STF e #abaixo Congresso Nacional.
Ao chegar ontem ao QG do Exército, por volta de 13h30 – após almoçar na casa do deputado Eduardo Bolsonaro (PSLSP), seu
filho –, o presidente foi ovacionado por apoiadores. Apesar da recomendação da Organização Mundial da Saúde para que sejam
evitadas aglomerações, com o objetivo de diminuir o risco de contágio da covid-19, o apelo não foi respeitado. Muitos bolsonaristas
chegaram ao local em carreatas, que pediam o fim do isolamento social e a reabertura do comércio.
Pelo segundo dia consecutivo, Bolsonaro não poupou ataques aos outros Poderes e se empolgou com o apoio recebido. Parecia
mesmo estar em um palanque de campanha. “Contem com o seu presidente para fazer tudo aquilo que for necessário para que nós
possamos manter a nossa democracia e garantir aquilo que há de mais sagrado em nós, que é a nossa liberdade. Todos no Brasil
têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro”, discursou ele, que tossiu várias vezes durante o ato.
Crise. Na prática, a ofensiva de Bolsonaro contra o Congresso, o Supremo e governadores que defendem a quarentena tem
aumentado de intensidade na mesma proporção de seu isolamento político. Na rampa do Planalto, anteontem, o presidente
criticou o Supremo em transmissão ao vivo pela internet e chegou até mesmo a apontar para o prédio da Corte ao lembrar que os
magistrados deram autonomia a Estados e municípios para decretarem medidas de distanciamento social. “Estão fazendo o que
bem entendem”, disse ele, que também atacou o Congresso. “Não vão me tirar daqui”, afirmou.
Na noite de ontem, Bolsonaro se reuniu com os ministros da Defesa, Fernando Azevedo; do Gabinete de Segurança Institucional,
Augusto Heleno, e da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, no Palácio da Alvorada. Questionado sobre o tema do
encontro, Heleno foi lacônico: “Falamos sobre futebol”. Pela manhã, ao ler ontem a Ordem do Dia, o comandante do Exército,
general Edson Pujol, pregou a união do País e classificou a pandemia como “uma das maiores crises vividas nos últimos tempos”.
Repercussão: após manifestação pró-regime militar, Bolsonaro sofre críticas
Ministros, parlamentares, governadores e figuras públicas criticaram a postura do
presidente
CB Correio Braziliense
postado em 19/04/2020 18:44 / atualizado em 19/04/2020 21:07
foto: Evaristo Sá/AFP)
Após participar de uma manifestação pró-intervenção militar neste domingo (19/4), o presidente Jair
Bolsonaro está sofrendo uma verdadeira onda de críticas de outras importantes figuras do cenário político nacional. O ministro
Luis Roberto Barroso — do Supremo Tribunal Federal (STF) —, parlamentares e governadores foram a público se posicionar
contra a postura do presidente.
“Assustador”
O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse que é "assustador" ver manifestações pela volta do regime militar, após 30 anos de democracia. Barroso foi o primeiro ministro do STF a se manifestar publicamente sobre o protesto deste domingo, que contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro. "Só pode desejar intervenção militar quem perdeu a fé no futuro e sonha com um passado que nunca houve. Ditaduras vêm com
violência contra os adversários, censura e intolerância. Pessoas de bem e que amam o Brasil não desejam isso", escreveu
Barroso.
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"É assustador ver manifestações pela volta do regime militar, após 30 anos de democracia. Defender a Constituição e as
instituições democráticas faz parte do meu papel e do meu dever. Pior do que o grito dos maus é o silêncio dos bons", afirmou o
ministro, em referência a Martin Luther King, líder do movimento pelos direitos civis dos negros.
Outro ministro do STF, Gilmar Mendes também comentou o assunto pelas redes sociais: "A crise do coronavirus só vai ser
superada com responsabilidade política, união de todos e solidariedade. Invocar o AI-5 e a volta da Ditadura é rasgar o
compromisso com a Constituição e com a ordem democrática".
“Transferência de responsabilidade”
O senador Álvaro Dias (PR), líder do Podemos no Senado, criticou em entrevista as manifestações deste domingo contra o
Congresso. "Fica difícil aceitar essa transferência de responsabilidade para o Congresso do fracasso do governo federal", diz.
Ele ainda classificou como grave a presença do presidente da República nessas manifestações. "A atitude de Bolsonaro hoje (com
manifestantes) foi grave. É um estímulo à desobediência". Para ele, o presidente age como se estivesse em um "parque de
diversões".
Maia
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (Democratas-RJ), também se manifestou: "O mundo inteiro está unido
contra o coronavírus. No Brasil, temos de lutar contra o corona e o vírus do autoritarismo. É mais trabalhoso, mas venceremos.
Em nome da Câmara dos Deputados, repudio todo e qualquer ato que defenda a ditadura, atentando contra a Constituição".
OAB
O presidente nacional da OAB subiu o tom nas críticas: "O presidente da república atravessou o Rubicão. A sorte da democracia
brasileira está lançada, hora dos democratas se unirem, superando dificuldades e divergências, em nome do bem maior chamado
liberdade!“
MBL
O Movimento Brasil Livre também se manifestou contra as ações de Bolsonaro. Pelas redes sociais o grupo divulgou nota oficial
sobre a posição. "É com absoluto repúdio e consternação que vimos, maisuma vez, o Presidente da República incentivar
'intervenção militar'", diz um trecho. Em outro momento o texto aponta: "É um momento grave. Bolsonaro foi eleito para ser
presidente — não ditador".
Juízes
A Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) e várias outras associações regionais, também liberaram nota pública em
defesa da democracia e de uma especial atenção para a pandemia da Covid-19.
Leia na íntegra: "A Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) e as demais associações abaixo-assinadas, representativas
da Magistratura Federal Brasileira, destacam especial atenção para a gravidade do momento pelo qual passa o Brasil em razão
da pandemia Covid-19.
Assim, pedem que as autoridades públicas se unam em torno do bem maior que é a preservação da paz em nossa sociedade,
evitando polêmicas desnecessárias que possam gerar sérias crises institucionais.
A República Federativa do Brasil constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos a soberania, a
cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho, da livre iniciativa e o pluralismo político.
O respeito à democracia, à independência dos poderes e à Constituição Federal é o único caminho para o desenvolvimento de
uma sociedade livre, justa e solidária.
Juízes e Juízas federais não admitirão qualquer retrocesso institucional ou o rompimento da ordem democrática.“
Governadores, lideranças e base
Lideranças políticas também criticaram o discurso do presidente Jair Bolsonaro em uma manifestação que pedia o fechamento do
Congresso e intervenção militar em Brasília. Os políticos classificaram como "grave", "incentivo à desobediência" e "escalada
antidemocrática" a atitude de Bolsonaro de ir a um protesto antidemocrático e de incentivar a aglomeração de pessoas.
O ex-ministro Bruno Araújo, presidente do PSDB, afirmou que Bolsonaro coloca em risco a democracia e desmoraliza a
Presidência: "O presidente jurou obedecer à Constituição brasileira. Ao apoiar abertamente um movimento golpista, ele coloca em
risco a democracia e desmoraliza o cargo que ocupa. O povo e as instituições brasileiras não aceitarão".
Já Roberto Freire, presidente do Cidadania, classificou a atitude de Bolsonaro como uma "escalada antidemocrática". "O STF e o
Congresso devem ficar em posição de alerta. O presidente está se aproveitando da pandemia para articular uma escalada
antidemocrática. Além de um ato criminoso contra a saúde pública, foi um crime de responsabilidade apoiar um ato que prega a
volta do AI-5 e contra o Congresso e STF."
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que vem travando debates com Bolsonaro desde que determinou medidas de
isolamento social para combater o coronavírus, assim como a maior parte dos governadores, chamou de "lamentável" a atuação
do presidente neste domingo. "Lamentável que o presidente da República apoie um ato antidemocrático, que afronta a
democracia e exalta o AI-5. Repudio também os ataques ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal. O Brasil precisa
vencer a pandemia e deve preservar sua democracia."
O AI-5 foi o Ato Institucional mais duro instituído pela repressão militar nos anos de chumbo, em 13 de dezembro de 1968, ao
revogar direitos fundamentais e delegar ao presidente da República o direito de cassar mandatos de parlamentares, intervir nos
municípios e Estados. Também suspendeu quaisquer garantias constitucionais, como o direito a habeas corpus, e instalou a
censura nos meios de comunicação. A partir da medida, a repressão do regime militar recrudesceu.
Na oposição, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou que vai entrar com uma representação contra Bolsonaro na
Procuradoria-Geral da República (PGR). "O senhor presidente da República
atravessou o rubicão da tolerância democrática e ofendeu a Constituição em vários aspectos. Ele atentou contra as
instituições do Estado democrático de direito e ofendeu inclusive o código penal", declarou.
O PSOL publicou uma nota de repúdio, assinada pelo seu presidente, Juliano Medeiros. "Essa provocação soma-se a
outras tantas e comprova que ele não tem mais condições de seguir governando. É preciso que Bolsonaro deixe o poder
imediatamente, pelos meios constitucionais disponíveis, para que o Brasil não siga sob as ameaças de um genocida", diz
a nota.
Carta
Em documento intitulado "Carta Aberta à Sociedade Brasileira em Defesa da Democracia", um grupo de governadores se
manifestaram contra a ação do presidente em relação a ações para o combate do coronavírus no país. No documento, os
governadores demonstram apoio aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (Democratas-RJ), e do Senado, Davi
Alcolumbre (Democratas-AP).
"O Fórum Nacional de Governadores manifesta apoio ao Presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, e ao Presidente
da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, diante das declarações do Presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre a
postura dos dois líderes do parlamento brasileiro, afrontando princípios democráticos que fundamentam nossa nação", lê-
se na carta.
Ao longo do texto, os governadores conclamam um "diálogo democrático e desprovido de vaidades" entre as autoridades
políticas nacionais para estabelecer a melhor estratégia para enfrentar os impactos do novo coronavírus na saúde e na
economia.
O texto defende, ainda, as decisões tomadas em estados e municípios para conter o avanço da Covid-19. Nas últimas semanas,
Bolsonaro tem criticado publicamente governadores e prefeitos por estabelecerem medidas restritivas no combate à pandemia.
"Nossa ação nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios tem sido pautada pelos indicativos da ciência, por orientações de
profissionais da saúde e pela experiência de países que já enfrentaram etapas mais duras da pandemia, buscando, neste caso,
evitar escolhas malsucedidas e seguir as exitosas", defendem os governadores
.
Dos 27 governadores, 20 assinaram o documento. Ficaram de fora Gladson Cameli (Acre), Wilson Lima (Amazonas), Ibaneis
Rocha (Distrito Federal), Ratinho Júnior (Paraná), Marcos Rocha (Rondônia) e Antônio Denarium (Roraima).
Leia na íntegra:
"O Fórum Nacional de Governadores manifesta apoio ao Presidente do Senado Federal, Davi Alcolumbre, e ao Presidente da
Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, diante das declarações do Presidente da República, Jair Bolsonaro, sobre a postura dos
dois líderes do parlamento brasileiro, afrontando princípios democráticos que fundamentam nossa nação.
Nesse momento em que o mundo vive uma das suas maiores crises, temos testemunhado o empenho com que os presidentes do
Senado e da Câmara têm conduzido, dedicando especial atenção às necessidades dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios brasileiros. Ambos demonstram estar cientes de que é nessas instâncias que se dá a mais dura luta contra nosso
inimigo comum, o coronavírus, e onde, portanto, precisam ser concentrados os maiories esforços de socorro federativo.
Nossa ação nos Estados, no Distrito Federal e nos Municípios tem sido pautada pelos indicativos da ciência, por orientações de
profissionais da saúde e pela experiência de países que já enfrentaram etapas mais duras da pandemia, buscando, neste caso,
evitar escolhas malsucedidas e seguir as exitosas.
Não julgamos haver conflitos inconciliáveis entre a salvaguarda da saúde da população e a proteção da economia nacional, ainda
que os momentos para agir mais diretamente em defesa de uma e de outra possam ser distintos.
Consideramos fundamental superar nossas eventuais diferenças através do esforço do diálogo democrático e desprovido de
vaidades.
A saúde e a vida do povo brasileiro devem estar muito acima de interesses políticos, em especial nesse momento de crise."
*Com informações da Agência Estado e do Estado de Minas.
Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/politica/2020/04/19/interna_politica,846293/repercussao-apos-manifestacao-pro-regime-militar-bolsonaro-sofre-cri.shtml
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