APOSTILA DE FILOSOFIA
E s c o l a : _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
A l u n o : _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
Organização:
Prof. Esp. Francisco Vasconcelos Silva Júnior
3
A BUSCA POR UMA EXPLICAÇÃO DO MUNDO!
Ca
pít
ulo
1
De acordo com a tradição histórica
a fase inaugural da filosofia é conheci-
da como período pré-socrático (isto é
anterior a Sócrates). Assim, esse perío-
do abrange o conjunto de reflexões
filosóficas desenvolvidas desde Tales
de Mileto, no século VII a.C., até o sur-
gimento de Sócrates, no século V a.C.
Já estudamos no 6º ano que a filo-
sofia surge na Grécia Antiga na cidade
de Mileto, situada na Jônia, litoral oci-
dental da Ásia Menor. Caracterizada
por múltiplas
i n f l u e n c i a s
culturais e um
rico comércio,
Mileto abrigou
aqueles que
seriam a ser
considerados
como os três
primeiros filó-
sofos. São
eles: Tales,
Anaximandro e
Anaxímenes.
D e s t a c a - s e
entre os objeti-
vos desses primeiros filosofos, a cons-
trução de uma cosmologia.
Desde o princípio os primeiros filó-
sofos buscavam investigar as causas,
o princípio e o fundamento para a exis-
tência do mundo. A partir da busca
pela compreensão da existência do
mundo, deu-se então uma investiga-
ção e a busca pela a explicação dos
fenômenos já existentes e até mesmo
daqueles que poderiam existir, que até
então ainda são objetos de pesquisa,
por aqueles que adentram no campo
do conhecimento.
Para os f i lósofos pré -
socráticos, a arché ou arqué
(palavra grega que significa ori-
gem), seria um princípio que de-
veria estar presente em todos os
momentos da existência de todas
as coisas; no início, no desenvolvi-
mento e no fim de tudo. Princípio
pelo qual tudo vem a ser.
Para esses filósofos comumen-
te chamados de pré-socráticos
todas as coisas são diferencia-
ções de uma mesma coisa e são
a mesma coisa. Um desses filóso-
fos Diógenes de Apolônia explicou
o raciocínio que levou os primei-
ros filósofos a ideia da Arché:
[...] se as coisas que são agora
neste mundo - terra, água, ar e
fogo e as outras coisas que se
manifestam neste mundo -, se
alguma destas coisas fosse dife-
rente de qualquer outra, diferente
em sua natureza própria e se não
permanecesse a mesma coisa
em suas muitas mudanças e dife-
renciações, então não poderiam
as coisas, de nenhuma maneira,
misturar-se umas as outras, nem
fazer bem ou mal umas as outras
[...]
Assim, é a origem, mas não
como algo que ficou no passado e
sim como aquilo que, aqui e ago-
ra, dá origem a tudo, perene e
permanentemente.
4
Os filósofos de Mileto
Ca
pít
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2
A filosofia possui um lugar mítico de
origem, Mileto. Trata-se de uma antiga
colónia grega situada na Jónia, metade
sul da costa ocidental da Ásia Menor.
Os filósofos de Mileto eram também
chamados de naturalistas, por estarem
envolvidos em reflexões relativas à
physis (natureza num sentido amplo
como realidade primeira e fundamen-
tal) na tenta-
tiva de en-
contrar uma
e x p l i c a ç ã o
para a ori-
gem, ou o
p r i n c í p i o
(arché) de
todas as coi-
sas. Foram
eles: Tales
de Mileto,
Anaximandro de Mileto e Anaxímenes.
Destaca-se entre os objetivos desses
primeiros filósofos, a construção de
uma cosmologia (explicação racional e
sistemática do universo).
2.1 Tales de Mileto
Segundo a tradição clássica da filo-
sofia ocidental, o primeiro teórico a
formular um pensamento
mais sistemático fundado
em bases racionais foi o
grego Tales 625 a.C. – 558
a.C.). Sendo o fundador des-
sa nova forma de pensar,
ele é considerado o primeiro
filósofo de que se tem notí-
cia, inaugurando a linhagem
filosófica dos pré-socráticos
(filósofos que vieram antes
de Sócrates).
Foi considerado o precursor do pen-
samento filosófico, por que pen-
sou a matéria de maneira diferen-
te de como era pensada antes,
com inferências divinas e invoca-
ções a deuses superiores. Ele
acreditava que a coisa material
sofria transformações ao longo do
tempo. Com isso, o filósofo inau-
gurou o método de observação e
especulação diferente das expli-
cações teológicas e religiosas pa-
ra todas as coisas, em vigor na
época. Aristóteles o considerava
como o primeiro filósofo.
Procurando fugir das antigas
explicações mitológicas sobre a
criação do mundo, Tales queria
descobrir um elemento físico que
fosse constante e, todas as coi-
sas, algo que foi o principio unifi-
cador de todos os seres. Segundo
Tales, a origem de todas as coi-
sas estava
no elemento
água: quan-
do densa,
transformar-
se-ia em ter-
ra; quando
a q u e c i d a ,
viraria vapor
que, ao se
resfriar, retornaria ao estado líqui-
do, garantindo assim a continui-
dade do ciclo. Nesse eterno movi-
mento, aos poucos novas formas
de vida e evolução iriam se de-
senvolvendo, originando todas as
coisas existentes.
O grande mérito de Tales, na
verdade, não foi a sua explicação
aquática da realidade: foi o fato
Localização de Mileto no mapa
atual
5
de que, pela primeira vez na história, o
homem buscava uma explicação total-
mente racional para o seu mundo, dei-
xando de lado a interferência dos deu-
ses.
2.2. Anaximandro de Mileto
Anaximandro de Mileto (610 a.C.- 547
a.C.) foi discípulo de Tales. Assim como
seu mestre, procurou compreender o
princípio (arkhé) que origina toda a reali-
dade. Porém, em suas investigações,
não encontrou em nenhum ele-
mento físico este princípio, mas
no que chamou de ÁPEIRON.
Segundo Anaximandro, é a partir
da transformação de cada coisa
no seu contrário, isto é, da mu-
dança entre pares de opostos da
realidade, que podemos perce-
ber que elas estão imersas em
um turbilhão infinito, ilimitado,
indeterminado, mas que deter-
mina e limita todos os seres. A
este turbilhão original denomi-
nou ápeiron.
Para esse filósofo, pares de con-
trários são, por exemplo, quente-
frio e seco-úmido. Isto quer dizer que em
cada coisa somente um de cada par po-
de existir, não podendo, pois, coexisti-
rem em um mesmo objeto, o quente e o
frio. Por isso percebemos a ordem nesta
determinação. Mas se nenhuma predo-
mina eterna-
mente (pois
uma só existe
quando a outra
não está pre-
sente) é porque
devem ser de-
terminadas por
algo extrínseco
(fora) a elas,
algo ilimitado,
mas que as li-
mita, o ápeiron (ilimitado, indefinido, in-
destrutível, indeterminado).
Anaximandro pensava que nosso
mundo é somente um entre diversos ou-
tros mundos que irão se desenvolver,
evoluir e se desintegrar em um processo
infinito.
2.3. Anaxímenes de Mileto
Anaxímenes de Mileto (585 a.C.-
528 a.C.) também fez parte da Esco-
la Jônica. Foi discípulo de Anaximan-
dro e como este, também afirmou
ser uma só a natureza ou princípio
(arkhé) subjacente a todas as coi-
sas. No entanto, mesmo que acredi-
tasse ser este princípio ilimitado,
não o pensou ser indefinido.
Tentando uma possível concilia-
ção entre as concepções de Tales e
as de Anaximan-
dro conclui ser o
ar o principio de
todas coisas. Isso
porque o ar repre-
senta um elemen-
to invisível, quase
inobservável e,
no entanto, ob-
servável: ―o ar é a
própria vida a for-
ça vital, a divindade que anima o
mundo, aquilo que dá testemunho à
respi ração‖ .
A n a x í me n e s
acreditava que
a alma feita de
ar, observando
que o vivente
r e s p i r a
(refrigera o
corpo) en-
quanto que o
morto não o
faz.
Anaxímenes
encontrou no ar empírico uma série
de propriedades que desempenhari-
am melhor que os outros elementos
as funções de arché.
6
A ESCOLA PITAGÓRICA E O CULTO A MATEMÁTICA
Ca
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3
Pitágoras de Samos (570 a.C. – 490
a.C) nasceu na ilha de Samos, na cos-
ta jônica. Por volta de
530 a.C sofreu perse-
guição politica por
causa de suas ideais
sendo obrigado a dei-
xar sua terra de ori-
gem. Em Crotona fun-
dou uma sociedade
secreta dedicada ao
estudo dos números.
Julga-se que esta so-
ciedade, cujos membros
se tornaram conhecidos
como pitagóricos, desen-
volveu uma parte signifi-
cativa de conhecimento
matemático e isso em
segredo absoluto.
Pode considerar-se que
os pitagóricos eram uma
ordem religiosa e uma
escola filosófica. Para os
filósofos da escola pita-
górica "O número é tu-
do", isto é
o "número
e r a a
su b s t â n -
cia de todas as coisas".
O que pretendiam afir-
mar era que não só to-
dos os objetos conheci-
dos tinham um número,
ou podiam ser ordena-
dos e contados, mas
também que os números
eram a base de todos os
fenómenos físicos. Por
exemplo, uma constelação no céu po-
dia ser caracterizada não só pela sua
forma geométrica como também
pelo número de estrelas que a
c o m p u n h a m ,
bem como ela
própria podia
ser a represen-
tação de um
número. Conta-
se Pitágoras
que chegou a
essa ideia ob-
servou que os
sons produzidos por cordas vi-
brantes são harmoniosos quando
os comprimentos das cordas po-
dem ser expressos como razões
de números inteiros.
Segundo o pesquisador em filo-
sofia Thomas Giles, ―pela primeira
vez se introduziria um aspecto
mais formal na explicação da rea-
lidade, isto é a ordem e a cons-
tância‖. Assim a essência dos se-
res, teria uma estrutura matemá-
tica da qual derivariam problemas
como: finito e infinito, par e impar,
unidade
e multi-
plicidade
etc.
P i t á g o -
ras dizia
que no
fundo de
t o d a s
coisas a
diferen-
ça entre
os seres
consiste,
essencialmente, em uma questão
de números (limite e ordem das
Pit
ágo
ras,5
71
a 4
96
a.C
7
coisas).
Os pitagóricos descobriram que a har-
monia na música correspondia a razões
simples entre núme-
ros. De acordo com
Aristóteles, os pitagóri-
cos pensavam que to-
do o céu era composto
por escalas musicais e
números. A harmonia
musical e os desenhos
geométricos levaram
esses pensadores a
acreditar que tudo se
resumia a números.
Os pitagóricos pensa-
vam que as razões nu-
méricas básicas da música envolviam
apenas os números 1, 2, 3 e 4, cuja so-
ma é 10. E 10, por sua vez, é a base do
nosso sistema de nu-
meração. Representa-
vam o número 10 como
um triângulo, ao qual
chamaram tetraktys.
As contribuições da
escola pitagórica pode
ser encontradas no
campo da matemática,
da musica e da astro-
nomia. A essas contri-
buições junta-se uma
série de crenças místi-
cas relativas à imortalidade da alma, à
reencarnação dos pecadores, a prescri-
ção de rígidas condutas morais.
Os pitagóricos seguiram venerando
certos padrões numéricos, especialmen-
te o chamado ―número especial dez‖ es-
se numero era visto como místico, uma
vez que continha os quatros ele-
mentos, fogo água, ar e terra:
10=1+2+3+4. Chamado pelos gre-
gos de Tetractys.
―O triangulo e o numero 10—o
decado—tornaram-se objetos de
adoração pelos pitagoreanos.
No pensamento pitagórico, o nu-
mero 10 é o numero prefeito, por-
que ele formado pela soma dos qua-
tros primeiros números inteiros, co-
mo mostrado no tetraktys.
Pitágoras morreu por volta de
500 a.C. e não deixou nenhum re-
gistro escrito do seu trabalho. O cen-
tro de Crotona foi destruído por um
grupo rival político, sendo a maioria
dos seus membros morta, e os res-
tantes dispersaram-se pelo mundo
grego levando a sua filosofia e o
misticismo dos nú-
meros.
Os discípulos mais
famosos de pitago-
ras foram Filolau de
Tarento (século V
a.C), um importante
matemático e astrô-
nomo; desenvolveu a
doputrina pitagórica
com certo rigor cien-
tifico; Hicetas de Si-
racusa (século V a.C)
destacou-se por afirmar a rotação
da Terra sobre seu eixo; Hipocrátes
de Quino (470-419 a.C) e Alcméon
(século VI a.C) foram importantes
matemáticos da escola pitagórica.
Representação do Tetraktys.
Teorema de Pitágoras: A soma dos
quadrados dos catetos é igual ao
quadrado da hipotenusa.
8
Heráclito de Éfeso
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4
Heráclito de Éfeso (535-470 a.C),
concebia a realidade do mundo como
algo dinâmico, isto é em constante mu-
dança. Descendente dos reis de Éfeso,
colônia ateniense na costa da Ásia Me-
nor, abriu mão do título
honorífico em favor de
seu irmão. Altivo, ele
desprezou a plebe e
hostilizou a nascente
democracia em Éfeso,
se recusando a escre-
ver sua constituição.
Assim como os pensa-
dores de Mileto, Herá-
clito observava que a
realidade é dinâmica e
que a vida está em
constante transforma-
ção. Mas diferentes
dos milésimos, que
buscavam na mudança aquilo que per-
manece, decidiu concentrar sua refle-
xão sobre o que muda.
Segundo Heráclito, no universo tudo
flui, tudo esta em cons-
tante movimento e
transformação, dai sua
escola filosófica ser
chamada de mobilista.
Para ele a vida era um
fluxo constante, impul-
sionado pela lutas de
forças contrarias: a or-
dem e a desordem, o
bem e o mal, o belo e o
feio, a construção e a
destruição, a justiça e
a injustiça, a alegria e
a tristeza etc. Assim
afirmava que luta é
mãe, rainha e principio
de todas as coisas. É pela luta
das forças opostas que o mundo
se modifica e evolui.
Atribui-se a esse a filosofo a
celebre frase: ―É impossível que
alguém se banhe num mesmo rio
duas vezes‖; porque ao entrar pe-
la segunda vez tanto ela quanto o
rio já não são os mesmos.
Ao contrário da maioria dos
filósofos antigos, Heráclito é ge-
ralmente visto como independen-
te de escolas e movimentos, pro-
vavelmente um autodidata. Seus
escritos conjugavam ciência, rela-
ções humanas e teologia. Apesar
de influenciado por seus prede-
cessores, ele foi crítico do pensa-
mento vigen-
te e chamava
os poetas épi-
cos de "tolos"
e Pitágoras
de "impostor".
O Obscuro,
como era co-
nhecido Herá-
clito, conce-
beu o FOGO
como o princí-
pio eterno
que causa a
mudança e
c o n c e b e
Deus como a
harmonia ou
síntese entre os contrários. É uma
concepção de realidade que per-
mite compreender o mundo so-
mente no seu devir e na unidade
dos opostos. Quer dizer que a do-
ença torna valorosa a saúde e
Yin Yang é um princípio da filosofia chi-
nesa, onde yin e yang são duas energias
opostas. Yin significa escuridão sendo
representado pelo lado pintado de preto,
e yang é a claridade. Para Heráclito a
vida era um fluxo constante, impulsiona-
do pela lutas de forças contrarias:.
De acordo com Heráclito o Fogo
era o principio primordial de to-
das as coisas, isso porque o fogo
representa a dinâmica de trans-
formação da natureza que há em
todas as coisas.
Heráclito de Éfeso - 535 a 475 a.C.
9
que jamais entenderíamos o
significado da justiça se não
houvesse a ofensa. O sentido,
o significado está na harmo-
nia, na concili-
ação entre os
vários pares de
contrários.
É interessante
observar como
a filosofia de
Heráclito per-
manece atual.
No que se refere à maté-
ria, Essa é mutável e con-
cebida pelos cientistas
c o m o
eterna-
mente em transforma-
ção (como afirmou o
químico Lavoisier no
século XVIII, ―na natu-
reza nada se cria, na-
da se perde, tudo se
transforma‖). A atuali-
dade de seu pensa-
mento também pode
ser observada no Princípio
da incerteza de Heisenberg,
físico que ajudou a desenvol-
ver a mecânica quântica no
século XX, que diz ser impos-
sível afirmar com exatidão a
posição de um elétron em
um átomo em razão da me-
todologia de aferição.
Apesar de não ter sido bem
visto entre seus contemporâ-
neos e estudiosos posterio-
res, Heráclito é considerado
um dos mais destacados filó-
sofos pré-socráticos e o primeiro
grande representante do pensamen-
to dialético. Sua
teoria influenciou
filósofos como
Hegel, Nietsche,
Heideger entre
outros.
Lavosier (1743 - 1794):
“na natureza nada se
cria, nada se perde, tudo
se transforma”.
10
OS PENSADORES DE ELÉIA
Ca
pít
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5
As diversas explicações para origem
do universo que estudamos nos capítu-
los anteriores despertaram na época,
uma nova indagação: Porque tantas
explicações diferentes sobre a origem
do universo? Porque tantas opiniões
contrarias?
Como foi visto Heráclito de Éfeso,
acreditava que a luta dos contrários
formava a unidade do mundo. Já para
os pensadores da cidade Eléia a partir
do seu principal representante, Parmê-
nides, os contrários jamais poderiam
coexistir. Foi a partir dessa discussão
sobre os contrários, sobre o ser e o
não ser, que se iniciaram a lógica e a
ontologia e suas relações reciprocas.
5.1 Parmênides de Eléia
Nascido em Eleia, atual Vélia (Itália),
Parmênides é considerado o fundador
da escola eleática. Ele foi admirado
por seus contemporâneos
por ter levado uma vida
regrada e exemplar.
Parmênides foi o mais
influente dos filósofos
que precederam Platão.
Em sua doutrina se desta-
cam o monismo e o imo-
bilismo. Ele propôs que
tudo o que existe é eter-
no, imutável, indestrutí-
vel, indivisível
e, portanto,
imóvel.
Para esse filosofo, a
transformação das coisas, o
fato de se moverem, de se
deteriorarem, envelhecerem
e morrerem era algo incom-
patível com a ideia de ser.
Para Parmênides, o ser
só pode ser pensado como algo
que não muda, que permanece
sempre do que jeito que é.
Parmênides considera que o
pensamento humano pode atingir
o conhecimento genuíno e a com-
preensão. Essa percepção do do-
mínio do "ser" corresponde às coi-
sas que são percebidas pela men-
te. O que
é perce-
bido pe-
las sen-
sa ç õ e s ,
por outro
lado, é,
segundo
ele, en-
ganoso e
falso, e
pertence ao domínio do não-ser.
Trata-se de uma oposição direta
ao mobilismo defendido por Herá-
clito de Éfeso, para quem "tudo
passa, nada permanece". Seu
pensamento influenciou a chama-
da "teoria das formas", de Platão.
Apenas para tornar mais clara
a sua doutrina, podemos dividi-la
em:
Unidade e a imobilidade do
Ser
O mundo sensível é
uma ilusão
O Ser é Uno, Eterno,
Não-Gerado e Imutável
Não se confia no que
vê
Ele acreditava que frio
era falta de calor e que
escuro era falta de luz.
O argumento que em-
Parmênides de Eléia - 530
a 460 a.C.
11
basava toda a sua lógica era que não
pode haver um pensamento que corres-
ponde a um nome que não é um nome
de uma coisa que realmente existe.
Quando você pensa, você pensa em al-
guma coisa, quando você usa um nome,
este deve corresponder a alguma coisa.
A grande importância de Parmênides
na história da
filosofia, está
na forma que
ele formulou
esse argumen-
to, muitos di-
zem que ele in-
ventou a lógica,
mas o que ele
realmente in-
ventou foi a metafísica baseada na lógi-
ca.
5.2 Zenão de Eléia
Zenão de Eleia nasceu por
volta do ano de 489 a.C.
Era discípulo de Parmêni-
des e defensor árduo de
seu pensamento.
Segundo Aristóteles, Ze-
não foi o fundador da Dia-
lética como arte de provar
ou refutar a verdade de
um argumento, partindo
de princípios admitidos por
seu interlocutor.
Zenão foi discípulo de Par-
mênides e coloca a serviço
de seu mestre seus conhe-
cimentos lógicos inventan-
do vários argumentos com
o objetivo de desacreditar os críticos da
visão de mundo exposta por Parmêni-
des, com quem visitou Atenas e conhe-
ceu Sócrates.
Ele é conhecido sobretudo pelos para-
doxos formulados basicamente sobre a
tese da impossibilidade do movimento
que hoje são conhecidos como parado-
xos de Zenão. Seguindo as pegadas de
seu mestre Parmênides, através da dia-
lética, ele tenta afirmar a teoria da imu-
tabilidade do ser reduzindo ao absurdo o
seu contrário. A tese contestada por Ze-
não é a tese dos Pitagóricos que
acreditam na multiplicidade do ser
em relação ao seu número. Contes-
ta também a tese de Anaxágoras,
seu contemporâneo.
Um dos famosos paradoxos que
Zenão utilizava para contestar a teo-
ria do mobilismo é o da flecha. Nes-
te, um arqueiro mira um alvo e lan-
ça a flecha de seu arco. Mas, pen-
sou Zenão, em cada instante de
tempo determinado, a flecha ocupa
um espaço determinado (pensem
numa imagem fotográfica desse mo-
vimento sucessivo de instantes) o
que significa que em cada tempo
finito a flecha está em repouso. Ora,
como entender que ela está simulta-
neamente em repouso e movimen-
to? O movimento gera o repouso?
Não, isso é uma contradição, aos
olhos dos antigos.
Com esse tipo de argumento, Ze-
não mostrava a insustentabilidade
das teses dos defensores do mobi-
lismo e defendia a posição do seu
mestre de que pensamento, ser e
linguagem guardam uma relação
íntima de tal modo que o nosso co-
nhecimento só pode ser concebido
se seguidas as leis lógicas da razão.
Zenão de Éleia - 490 a 430 a.C
12
OS SOFISTAS
Ca
pít
ulo
6
Na Grécia Antiga, o período pré-
socrático foi dominado, em grande par-
te, pela investigação da natureza. Essa
investigação consistia na busca de ex-
plicações racionais para o universo
manifestando-se na procura de um
principio primordial de todas as coisas
existentes, seguiu-se a esse período
uma nova fase filosófica, caracterizada
pelo interesse no próprio homem e nas
relações politicas do homem com a
sociedade. Essa nova fase foi marcada
no inicio, pelos sofistas.
Os sofistas eram professores viajan-
tes que, por determi-
nado preço vendiam
ensinamentos práti-
cos de filosofia. Ensi-
navam conhecimen-
tos úteis para o su-
cesso nos negócios
públicos e privados.
Cada sofista tinha o
domínio de um con-
junto de conhecimen-
tos que ensinava pa-
ra seus alunos. Mas
em geral, pratica-
mente todos os sofis-
tas ensinavam a ha-
bilidade de falar bem.
Nesse período em
Atenas, expressar-se bem em público
era muito importante, porque as princi-
pais decisões para a cidade e para os
cidadãos atenienses eram tomadas
em assembleias, por meio de votação.
Podemos considerar a retórica como
a arte da persuasão, a qual, por meio
de argumentos bem construídos, leva
os outros a concordarem como a opini-
ão de quem a exerce. Entretanto, na
retórica o que se coloca em foco
não é necessariamente a verdade
acerca dos fatos, mas os aspec-
tos que podem melhor convencer
e persuadir. Por isso, muitos filó-
sofos acusavam os sofistas de
não terem compromisso com a
verdade.
Etimologicamente o termo sofis-
ta significa ―sábio‖. Entretanto,
com o decorrer do tempo ganhou
sentido de ―impostor‖, devido,
sobretudo às criticas de Platão.
Desde então se considerou a
sofistica, apenas uma atitude vici-
osa do espirito, uma arte de mani-
pular raciocínios, de produzir o
falso, de iludir os ouvintes, sem
qualquer amor pela verdade.
5.1 Protágoras de Abdera
Nascido na cidade Abdera, pro-
vavelmente em
480 a.C., é
considerado o
primeiro e um
dos mais im-
portantes so-
fistas. Ensinou
por muito tem-
po em Atenas,
tendo como
principio bási-
co de sua dou-
trina a ideia de
que o homem
é a medida de
tudo o que
existe.
O enunciado
que resumo sua doutrina revela
que ele, de forma critica e perspi-
caz, percebeu o valor da relativo
Os sofistas eram professores viajantes que, por
determinado preço vendiam ensinamentos práti-
cos de filosofia. As lições sofistas tinham como
principal objetivo o desenvolvimento da argumen-
tação, da habilidade da retórica, do conhecimento
de doutrina divergentes.
“O homem é a medida de
todas as coisas; daquelas
que são, enquanto são; e
daquelas que não são”.
Protágoras de Abdera 480 a
410 a.C.
13
da verdade que havia nas teorias dos
filósofos do período cosmoló-
gico.
Conforme a concepção de
Protágoras, todas as coisas
são relativas às disposições
do homem, isto é o mundo é o
que homem constrói e destrói.
Por isso não haveria verdades
absolutas. A verdade seria
relativa a determinada pes-
soa, grupo social ou cultura.
Parecia claro para Protágoras
que não existe verdade em
sentido absoluto, porque ela
depende de convenci-
mento, podendo, por-
tanto, assumir valor
relativo ou subjetivo,
isto é que é verdade
para um pode não ser
verdade para outro. O
homem é a medida
de todas as da verda-
de. Se assim é, o co-
nhecimento pode as-
sumir um caráter prá-
tico, uma vez que tudo depende
de convencimento, daí a impor-
tância da boa argumentação.
5.2 Górgias de Leontini
Górgias de Leontini, consi-
derado um dos grandes ora-
dores da Grécia, aprofun-
dou o subjetivismo relativis-
ta de Protágoras a ponto de
defender o ceticismo abso-
luto, negando de forma ra-
dical a possibilidade do co-
nhecimento. É dele a ex-
pressão máxima do ceticis-
mo formulada em três teses
básicas;
I. nada existe;
II. Se existisse, não poderia
ser conhecido;
III.Mesmo se fosse conheci-
do, não poderia ser comunicado a
ninguém.
Para Górgias, os filósofos produziram
teses tão contraditórias em relação
a existência do ser que acabaram
afirmando o contrario, ou seja, a
existência do não-ser, isto é, do na-
da. Sendo que o nada não pode ser
pensado, não sendo pois, conhecido
ou comunicado.
De fato Górgias pôs de cabeça pa-
ra baixo o pensamento de Parmêni-
des ao afirmar que o ser não existe
e que o não-ser existe.
Partindo dessas argumentações,
Górgias conclui que não existe um
conhecimento certo das coisas, ele
procurou mostrar tão somente o po-
der das
p a l a -
v r a s ,
não co-
mo ex-
pressão
da ver-
d a d e ,
mas co-
mo for-
ça de
persua-
são. Daí
o poder
da reto-
rica enquanto arte de persuadir e
produzir crenças.
As obras de retórica de Górgias
ainda em existência (Encômio de
Helena, Defesa de Palamedes, So-
bre a Não-Existência e Epitáfio) fo-
ram preservados através de uma
obra chamada Technai, um manual
de instrução retórica, que consistia
de modelos a serem memorizados,
e demonstrava diversos princípios
da prática retórica.10 Embora al-
guns estudiosos tenham alegado
que cada uma dessas obra apresen-
ta afirmações contrastantes, os qua-
tro textos podem ser lidos como
contribuições interrelacionadas à
arte (technê) e à teoria (então pro-
missora) da retórica.
O homem é a medida de todas coisas. A
frase de Protágoras tem sido reinterpre-
tada durante os séculos, a partir dessa
frase afirma-se que o conhecimento do
mundo é uma criação humana; portanto
se constitui mediante o uso de nossa
capacidade de perceber e entender as
coisas, que varia de pessoa para pessoa,
e de formar consensos¹.
“Bom orador é capaz de conven-
cer qualquer pessoa sobre qual-
quer coisa”.
Górgias de Leontini 487 - 380
a.C.
Oratória é a arte de falar em público de forma
estruturada e deliberada, com a intenção de
informar, influenciar, ou entreter os ouvintes.
14
SÓCRATES DE ATENAS: ―SÓ SEI QUE NADA SEI‖
Ca
pít
ulo
7
Sócrates nasceu em Atenas, prova-
velmente no ano de 470 aC, e tornou-
se um dos principais pensadores da
Grécia Antiga. Podemos afirmar que
Sócrates fundou o que conhecemos
hoje por filosofia ocidental. Era filho de
um escultor e de uma parteira. Em Ate-
nas, recebeu uma
educação clássica,
que incluía ginásti-
ca, música e gra-
mática. Pouco se
sabe a respeito de
sua juventude.
Sócrates vivia de
maneira humilde,
percorrendo des-
calço as ruas de
Atenas. Tornou-se
o filósofo por exce-
lência, "amigo do saber". Passou a en-
sinar em praça pública, sem cobrar
pelos seus ensinamentos, ao contrário
do que faziam os sofistas.
O pensamento de Sócra-
tes marca uma reviravolta
na história humana. Até en-
tão, a filosofia procurava
explicar o mundo baseada
na observação das forças
da natureza. Com Sócrates,
o ser humano voltou-se pa-
ra si mesmo. Como diria
mais tarde o pensador ro-
mano Cícero, coube ao gre-
go "trazer a filosofia do céu
para a terra" e concentrá-la
no homem e em sua alma
(em grego, a psique). A pre-
ocupação de Sócrates era
levar as pessoas, por meio
do autoconhecimento, à sabedoria e à
prática do bem. Seu método con-
sistia em fazer perguntas que
conduziam o discípulo à desco-
berta da verdade.
Sócrates concebia o homem
como um composto de dois princí-
pios, alma (ou espírito) e corpo.
De seu pensamento surgiram du-
as vertentes da filosofia que, em
linhas gerais, podem ser conside-
radas como as grandes tendên-
cias do pensamento ocidental.
Uma é a idealista, que partiu de
Platão (427-347 a.C.), seguidor
de Sócrates. Ao distinguir o mun-
do concreto do mundo das idéias,
deu a estas status de realidade; e
a outra é a realista, partindo de
Aristóteles (384-322 a.C.), discí-
pulo de Platão que submeteu as
ideias, às quais se chega pelo es-
pírito, ao mundo real.
Nas palavras atribuídas a Só-
crates por Platão na
obra Apologia de Só-
crates, o filósofo ate-
niense considerava
sua missão "andar
por aí (nas ruas, pra-
ças e ginásios, que
eram as escolas ate-
nienses de atletis-
mo), persuadindo jo-
vens e velhos a não
se preocuparem tan-
to, nem em primeiro
lugar, com o corpo ou
com a fortuna, mas
antes com a perfei-
ção da alma". Por is-
so, o autoconheci-
mento era um dos pontos básicos
Sócrates de Atenas - 469 a 399 a.C
―Só sei que nada sei‖ Foi a re-
posta de Sócrates a pergunta
feita pelo oráculo de Delfos ao
lhe indagar sobre o que ele sa-
bia.
15
da filosofia socrática. ―Conhece-te a ti
mesmo‖, frase inscrita no Oraculo de
Delfos, era a recomendação básica feita
por Sócrates a seus discípulos.
Defensor do diálogo como método de
educação, Sócrates considerava muito
importante o contato direto com os inter-
locutores - o que é uma das possíveis
razões para o fato de não ter deixado
nenhum texto escrito. Suas ideias foram
recolhidas principalmente por Platão,
que as sistematizou, e por outros filóso-
fos que conviveram com ele.
Em meio ao desmoronamento do im-
pério ateniense e à guerra civil interna,
quando já era septuagenário, Sócrates
foi acusado
de desres-
peitar os
deuses do
Estado e de
c o r r o m p e r
os jovens.
Julgado e
condenado
à morte por
e n v e n e n a -
mento, ele
se recusou a
fugir ou a
renegar su-
as convicções para salvar a vida. Ingeriu
cicuta e morreu rodeado por seus ami-
gos, em 399 a.C
6.1. O método Socrático
O método socrático
consiste em uma téc-
nica de investigação
filosófica feita em
diálogo que consiste
em o professor con-
duzir o aluno a um
processo de reflexão
e descoberta dos
próprios valores. Pa-
ra isso ele faz uso de
perguntas simples e
quase ingênuas que
têm por objetivo, em
primeiro lugar, revelar as contradições
presentes na atual forma de pensar do
aluno, normalmente baseadas em valo-
res e preconceitos da sociedade, e
auxiliá-lo assim a redefinir tais valo-
res, aprendendo a pensar por si
mesmo.
É dividido em dois momentos fun-
damentais:
A ironia que denuncia as verda-
des feitas e o falso saber daqueles
que pretendiam reduzir o verdadeiro
ao verosímil
A maiêutica, técnica através da
qual se consegue observar como é
que uma ciência desconhecida se
transforma progressivamente numa
ciência conhecida. Segundo Platão,
Sócrates fora buscar a sua arte da
maiêutica a sua mãe que era partei-
ra. Sócrates
considera-
va a sua
arte como a
arte de par-
turejar; só
que agora
são ho-
mens que
dão à luz e
é do parto
das suas
almas que
se trata. Sócrates revelava aos ou-
tros aquilo que eles próprios sabiam
sem de tal terem consciência. Ele
pretendia que o seu questionamen-
to sistemático levasse os outros a
um ponto crucial de consciência crí-
tica, procurando a verdade no seu
interior, dando assim lugar ao "parto
intelectual". A maiêutica é, assim, a
fase positiva, construtiva, do méto-
do socrático que permite o acordo
através das certezas universais obti-
das pela definição após a discus-
são.
"A Morte de Sócrates", por Jacques-Louis David(1787)
16
O CONHECIMENTO
Ca
pít
ulo
8
Quando estudamos o nascimento
da filosofia na Grécia, vimos que os
primeiros filósofos dedica-
vam-se a um conjunto de
indagações principais:
―porque e como as coisas
existem?‖, ―O que é mun-
do?‖. Essas indagações co-
locavam no centro a per-
gunta: ―o que são as coi-
sas?‖. De fato desde seus
primórdios, a Filosofia se
ocupou do problema do co-
nhecimento. Os primeiros
filósofos na Grécia que
questionaram sobre o mun-
do (cosmos), sobre o ho-
mem, a natureza e etc., ten-
taram encontrar a verdade
em um prin-
cípio único
(arché) que
a b a r c a s s e
toda a reali-
dade, isto é,
sobre o Ser.
Conhecimen-
to é o ato ou
efeito de co-
nhecer, é ter
ideia ou a
noção de
alguma coi-
sa. É o saber, a instrução e a informa-
ção.
Conhecer é incorporar um conceito
novo, ou original, sobre um fato ou fe-
nômeno qualquer. O conhecimento
não nasce do vazio e sim das experiên-
cias que acumulamos em nossa vida.
O Conhecimento faz do ser humano
um ser diverso dos demais, na medida
em que lhe possibilita fugir da
submissão à natureza. A ação dos
animais na natureza é
biologicamente determi-
nada, por mais sofistica-
das que possam ser,
por exemplo, a casa do
joão-de-barro ou a orga-
nização de uma col-
meia, isso leva em con-
ta apenas a sobrevivên-
cia da espécie.
Confiantes de que so-
mos seres capazes de
conhecer o universo e
sua estrutura, os gregos
se perguntavam como
era possível o erro, a
falsidade e a ilusão, já que não
era possível falar sobre o Não Ser
e sim somente sobre o Ser. Foi
preciso, pois, estabelecer a dife-
renciação entre o mero opinar e o
conhecer verdadeiro, entre o que
percebemos pelos sentidos e
aquilo que compreendemos pelo
pensamento, raciocínio ou refle-
xão, estabelecendo, assim, graus
de conhecimento e até mesmo
uma hierarquia entre eles. Isso
porque o conhecimento não era
entendido como a mera apreen-Arvore do conhecimento, o motivo que levou o ho-
mem a ser expulso do paraíso.
Os gregos se perguntavam
como era possível o erro, a
falsidade e a ilusão, já que
não era possível falar sobre
o Não Ser e sim somente
sobre o Ser.
17
são particular de objetos (pois isso seria
conhecimento de algo), mas pretendido
como o modo universal de apreensão
(não o conhecimento de várias coisas,
mas o que é realmente o conhecer).
O conhecimento
leva o homem a
apropriar-se da
realidade e, ao
mesmo tempo a
penetrar nela,
essa posse con-
fere-nos a gran-
de vantagem de
nos tornar mais
aptos para a ação consciente. A ignorân-
cia dificulta as possibilidades de avanço
para melhor, mantém-nos prisioneiros
das circunstâncias. O co-
nhecimento tem o poder
de transformar a opacida-
de da realidade em cami-
nho iluminada, de tal for-
ma que nos permite agir
com certeza, segurança e
precisão, com menos ris-
cos e menos perigos.
O conhecimento humano tem
dois elementos básicos: um sujeito
e um objeto. O sujeito é o homem, o
ser racional que quer conhecer
(sujeito cognoscente). O objeto é a
realidade (as coisas, os fatos, os
fenômenos, os processos) com que
coexistimos. o homem só se torna
sujeito do conhecimento quando
está diante do objeto a ser conheci-
do. A realidade só se torna objeto do
conhecimento perante um sujeito
que queira conhecê-la. Portanto só
haverá conhecimento se o sujeito
conseguir apreender o objeto, isto é,
conseguir representá-lo mentalmen-
te.
LEITURA COMPLEMENTAR
O QUE É O CONHECIMENTO FILOSÓFICO?
O conhecimento filosófico é um conhecimento que tem a interrogação como base.
Esse conhecimento usa o questionamento e o pensamento como base, ele é um
conhecimento do dia a dia, mas ao contrário do conhe-
cimento vulgar ou empírico, o conhecimento filosófico
se preocupa em questionar o relacionamento do indiví-
duo com o meio em que está inserido.
Esse conhecimento é racional e não se baseia em expe-
rimentações, que é o caso do conhecimento científico. O
conhecimento filosófico não se preocupa em verificar se
as conclusões tiradas são válidas cientificamente. Esse
conhecimento está em busca de conclusões sobre a vi-
da, o universo ultrapassando o limite imposto pela ciên-
cia.
O objeto de análise do conhecimento filosófico são as
ideias, elas são raciocinadas e dessa maneira os filóso-
fos buscam a verdade. A proposta do conhecimento filo-
sófico é fornecer ideias e conteúdos que transformem a
realidade. Esse conhecimento questiona o homem e as
coisas da vida. É um conhecimento racional, sistemático, geral e crítico.
O conhecimento filosófico é
um conhecimento que tem a
interrogação como base.
18
CIÊNCIA E FILOSOFIA
Ca
pít
ulo
9
Ciência do latim scientia, etimologi-
camente quer dizer: co-
nhecimento, saber. Aris-
tóteles definia ciência
como sendo o conheci-
mento das coisas por
suas causas. E reconhe-
cia quatro causas: mate-
rial, formal, eficiente e
final. Para Descartes to-
da ciência é um conheci-
mento certo e evidente.
C a u s a m a t e r i a l
(aquilo de que uma coisa
é feita),
Causa formal (aquilo que faz com
que uma coisa seja o que é),
Causa eficiente (a que transforma a
matéria)
Causa final (o objetivo com que a
coisa é feita).
Podemos afirmar que a ciência é
uma forma particular de conhecimento
fruto do raciocínio e da observação
aperfeiçoada, da
razão e da expe-
riência. Desse
modo, para co-
nhecer basta ob-
servar; para sa-
ber, faz-se neces-
sário a compara-
ção e a generali-
zação.
Historicamente,
já na Grécia Anti-
ga se pensava
sobre a ciência.
Aristóteles (384
a.C.-322 a.C.),
por exemplo, es-
creveu sobre a
origem da vida, afir-
mando a possibilida-
de de existir vida a
partir de algo inani-
mado. A teoria da
a b i o g ê n e s e
(geração espontâ-
nea) que ele defen-
dia perdurou por
diversos séculos.
Além da origem da
vida, Aristóteles
também se preocu-
pou em elaborar um
meio de estudar as espécies, sen-
do ele o primeiro a propor uma
divisão do reino animal em cate-
gorias.
No decorrer da história, a figu-
ra mais importante para a filoso-
fia da ciência é Francis Bacon
(1561-1626), filósofo inglês res-
p o n s á v e l
pela base
da ciência
moderna,
o método
indutivo. A
i n d u ç ã o ,
método de
a partir de
fatos parti-
c u l a r e s
chegar a
conclusões
universais,
já existia,
mas é Ba-
con o res-
p o n sá v e l
por seu aprimoramento e divulga-
ção.
Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), escreveu
sobre a origem da vida, afirmando a pos-
sibilidade de existir vida a partir de algo
inanimado.
Francis Bacon (1561-1626), filósofo
inglês responsável pela base da ciên-
cia moderna
19
Após Bacon, muito se pensou e escre-
veu sobre a ciência, especialmente devi-
do aos avanços e descobertas dos sécu-
los seguintes. René Descartes desenvol-
veu seu método, houve as contribuições
e discussões de Galileu Galilei, Isaac
Newton, Gottfried Leibniz e outros. Deste
aumento considerável de pensadores
que detiveram tempo acerca do campo
da filosofia da
ciência pode-
se escolher
alguns para
comentar su-
as importan-
tes ideias. En-
tre eles, David
Hume e Karl
Popper.
O grande
mérito da ci-
ência é fazer com que nós nos aproxime-
mos cada vez mais das coisas, de tal
forma que possamos compreende-las
em suas entranhas, o que nos dá um
conhecimento mais profundo da estrutu-
ra do mundo e o que torna o nosso sa-
ber cada vez mais especializado.
Tudo leva a crer que no campo do
conhecimento o homem alcançou
um tempo de maturidade. Ao contra-
rio do que possa ter parecido a al-
guns a hegemonia do saber cientifi-
co em nossa época não descartou e
nem poderia a importância do saber
filosófico e isso precisamente por-
que é através da filosofia que pode-
mos res-
gatar a
visão de
totalida-
de das
relações.
O papel
da filoso-
fia é es-
tabelecer
uma dis-
c u s s ã o
critica acerca das questões que in-
teressam a todos indistintamente. A
principal caraterística do saber filo-
sófico é que ele é, necessariamente,
um saber critico. Cumpre notar tam-
bém a necessidade de uma análise
critica dos rumos da própria ciência,
20
FORMAS DE CONHECIMENTO
Ca
pít
ulo
10
A necessidade de explicar as coisas
levou o ser humano a trilhar diferentes
caminhos, o que significa que ele des-
cobriu ao longo da historia diferentes
formas ou diferentes graus de conheci-
mento. Esses podem ser classificados
em cinco formas diferentes: conheci-
mento vulgar ou senso comum, conhe-
cimento mítico, conhecimento religio-
so. Conhecimento cientifico e conheci-
mento filosófico.
8.1. conhecimento vulgar
O conhecimento vulgar corresponde
ao senso comum e abrange aquelas
coisas que quase toda a gente sabe.
Reporta-se àquilo que vamos apren-
dendo des-
de muito
cedo e, por
vezes, até
de uma for-
ma quase
inconscien-
te.
As crenças
e opiniões
que parti-
lhamos, as
tradições e
jogos, as
c e l e b r a -
ções e ofí-
cios, as tarefas e lendas dizem respei-
to ao senso comum. Adquire-se atra-
vés da repetição de experiências, do
testemunho e do exemplo dos outros
(família, amigos, vizinhos, etc.), com a
prática e também com os erros.
É um conhecimento superficial e
mais direcionado para um domínio prá-
tico, porque não procura as causas e
os porquês dos fenómenos e porque
tem em vista o funcionamento
das coisas e a realização de tare-
fas.
É um saber que não se baseia
em métodos ou conclusões cientí-
ficas, e sim no modo comum e
espontâneo de assimilar informa-
ções e conhecimentos úteis no
cotidiano.
O senso comum é uma heran-
ça cultural que tem a função de
orientar a sobrevivência humana
nos mais variados aspectos. Atra-
vés do senso comum uma criança
aprende o que é o perigo e a se-
gurança, o que pode e o que não
pode comer, o que é justo e o que
é injusto, o bem e o mal, e outras
normas de vida que vão direcio-
nar o seu modo de agir e pensar,
as suas atitudes e decisões.
8.2. Conhecimento mítico
O conhecimento mítico trata-se
de uma modalidade de conheci-
mento ba-
seado na
intuição e
que deriva
do entendi-
mento de
que exis-
tem mode-
los naturais
e sobrena-
turais dos
quais brota
o sentido
de tudo o
que existe.
É um tipo
de conheci-
mento que
Na charge o acima o cartunista, apresenta um dita-
do popular muito conhecido. Filho de peixe, peixi-
nho é.
Os gregos utilizavam os mitos para
explicar a origem do mundo, e tam-
bém para mostrar a importância da
obediência as regras. Na imagem
acima vemos o titã Atlas que foi
punido por Zeus a segurar o céu.
21
ajuda o ser humano a "explicar" o mundo
por meio de representações que não são
logicamente raciocinadas, nem resultan-
tes de experimentações científicas.
8.3. Conhecimento Religioso
É um conhecimento sistemático do
mundo como obra de um criador divino;
suas evidências não são verificadas: es-
tá sempre implícita uma atitude de fé
perante um conhecimento revelado.
Assim, o conhecimento religioso ou
teológico parte do princípio de que as
"verdades" tratadas são infalíveis e indis-
cutíveis, por con-
s i s t i r e m e m
"revelações" da
d i v i n d a d e
(sobrenatural).
8.4. Conhecimento
científico
O conhecimento
científico é real
(factual) porque
lida com ocorrên-
cias ou fatos, isto
é, com toda "forma
de existência que
se manifesta de
algum modo"
Constitui um co-
nhecimento contingente, pois suas pre-
posições ou hipóteses têm a sua veraci-
dade ou falsidade conhecida através da
experimentação e não apenas pela ra-
zão, como ocorre no conhecimento filo-
sófico.
É sistemático, já que
se trata de um saber
ordenado logicamen-
te, formando um sis-
tema de ideias
(teoria) e não conhe-
cimentos dispersos
e desconexos.
Possui a característi-
ca da verificabilida-
de, a tal ponto que as afirmações
(hipóteses) que não podem ser compro-
vadas não pertencem ao âmbito da ciên-
cia.
Constitui-se em conhecimento falível,
em virtude de não ser definitivo, absolu-
to ou final e, por este motivo, é apro-
ximadamente exato: novas proposi-
ções e o desenvolvimento de técni-
cas podem reformular o acervo de
teoria existente.
Com este tipo de conhecimento o
homem começou a entender o por-
quê de vários fenômenos naturais e
com isso vir a intervir cada vez mais
nos acontecimento ao nosso redor.
Este conhecimento se bem usado é
muito útil para humanidade, porém
se usado incorretamente pode vir a
gerar enormes catástrofes para o
ser humano e tudo mais ao seu re-
dor.
8.5. Conhecimento Filosófico
O conhecimento filosófico é um
conhecimento que tem a interroga-
ção como base. Esse conhecimento
usa o questionamento e o pensa-
mento como base, ele é um conhe-
cimento do dia a dia, mas ao contrá-
rio do conheci-
mento vulgar ou
empírico, o co-
nhecimento filo-
sófico se preo-
cupa em questi-
onar o relacio-
namento do in-
divíduo com o
meio em que
está inserido.
Esse conheci-
mento é racio-
nal e não se
baseia em ex-
perimentações,
que é o caso do
conhecimento
científico. O co-
nhecimento filosófico não se preo-
cupa em verificar se as conclusões
tiradas são válidas cientificamente.
Esse conhecimento está em busca
de conclusões sobre a vida, o uni-
verso ultrapassando o limite impos-
to pela ciência.
O Pensador: é uma das mais
famosas esculturas do escultor
francês Auguste Rodin. Retrata
um homem em medi-
tação soberba, lutando com
uma poderosa força interna.
22
O CONHECIMENTO NA ANTIGUIDADE
Ca
pít
ulo
11
Já sabemos que o conhecimento é a
relação que se estabelece entre sujeito
que conhece ou deseja conhecer e o
objeto a ser conhecido ou que se dá a
conhecer. Na Grécia Antiga temos vá-
rias visões e métodos de conhecimen-
to:
Sócrates - Estabelecendo seus mé-
todos: ironia e maiêutica.
Platão - Doxa - A ciência é baseada
na Opinião
Aristóteles - Episteme - A ciência é
baseada Observação (Experiência)
11.1 Sócrates
Sócrates (c 470-399 a.C.) colocou a
reflexão filosófica, iniciada pelos pré-
socráticos, na via da verdade que ha-
via sido abandonada por al-
guns sofistas deslumbrados
pela retórica, o bem falar ou o
bem expor suas opiniões. Se-
gundo Aristóteles, ele contri-
buiu para a teoria do conheci-
mento com a definição de
universal e com o uso do raci-
ocínio indutivo. Sócrates, en-
tretanto, não define o próprio
ser humano. Por quê? Por-
que, ao contrário da natureza,
o ser humano não pode ser
definido em termos de propri-
edades objetivas, só em ter-
mos da sua consciência. E
para alcançarmos uma visão
clara do seu caráter, para
compreendê-lo, precisamos
examiná-lo, frente a frente, através do
diálogo.
O método socrático, que é um méto-
do indutivo, envolve duas fases. A pri-
meira, chamada ironia, consiste em
fazer perguntas ao interlocutor
que o obriguem a justificar, sem-
pre com maior profundidade, seu
ponto de vista, até que ele perce-
ba que tipo de falha ou equívoco
pode estar contido em seus argu-
mentos. Esta é a fase destrutiva,
pois leva as pessoas a admitirem
a própria ignorância à respeito de
um assunto. São destruídas as
opiniões do senso comum e do
conhecimento espontâneo, mui-
tas vezes baseados em estereóti-
pos e preconceitos. A segunda
parte, chamada maiêutica (parto),
é a construção de novos concei-
tos baseados em argumentação
racional. Assim, Sócrates, com
suas perguntas, aniquila o saber
constituído para, depois, ainda
através de perguntas e da contra-
posição de ideias, reconstruí-lo a
partir de uma base mais sólida e
de um raciocínio coerente e rigo-
roso.
11.2 Platão
Na época que Platão viveu
(séc. IV a.
C.), era
muito co-
mum a
c o n c e p -
ção de
que o ho-
mem co-
nhece a
partir dos
seus sen-
tidos. No
enta nto ,
para mui-
tos sábios
Sócrates contribuiu para a teoria
do conhecimento com a defini-
ção de universal e com o uso do
raciocínio indutivo.
O processo de conhecimento se
desenvolve por meio da passagem
progressiva do mundo das aparên-
cias para o mundo das ideias.
23
da época, o conhecimento não só come-
çava como também não poderia ir além
da sensibilidade. É notável neste período
a máxima protagoriana: “o homem é a
medida de todas as coisas”. Isso equiva-
le dizer que cada ser está tão somente
encerrado em suas representações sub-
jetivas que ou era impossível uma verda-
de absoluta (mas uma particular, de ca-
da um) ou
que era
impossível
q u a lq u e r
c o n h e c i -
mento.
Um dos
aspec tos
mais im-
portantes
da filosofia
de Platão
é a sua
teoria das
ideias, com a qual procura explicar como
se desenvolve o conhecimento humano.
Segundo ele, o processo de conhecimen-
to se desenvolve por meio da passagem
progressiva do mundo das sombras e
aparências para o mundo das ideias e
essências.
Para Platão o conhecimento para ser
autentico, deve ultrapassar a esfera das
impressões sensoriais, o plano da opini-
ão, e penetrar na esfera racional da sa-
bedoria, o mundo das ideias. Para atingir
esse mundo homem não pode ter ape-
nas ―amor as opiniões; precisa possuir
amor ao saber‖.
A opinião nasce, portanto da percep-
ção da aparência e da diversidade das
coisas. O conhecimento, por
sua vez, é elaborado quando
se alcança a ideia, que rom-
pe com as aparências e a
diversidade ilusória.
11.3 Aristóteles
Aristóteles foi um dos mais
expressivos filósofos gregos
da antiguidade, ele critica a
teoria das ideias de Platão,
principalmente a divisão en-
tre um mundo sensível e um
mundo inteligível, pois ao abordar a
realidade, reconhecia a multiplicida-
de dos seres
pe r c e b i d o s
pelos senti-
dos. Assim
tudo que ve-
mos, pega-
mos ouvimos
e sentimos é
aceito como
elemento da
r e a l i d a d e
sensível.
Para Aris-
tóteles, a ob-
servação da realidade leva-nos à
constatação da existência de inúme-
ros seres individuais, concretos, mu-
táveis, que são captados por nossos
sentidos.
Ao retomar a problemática do co-
nhecimento, distingue três tipos de
saber:
I. A experiência ou conhecimento
sensível, dado pelo contato direto
com a própria coisa, é um conheci-
mento que se forma por familiarida-
de com cada coisa, é imediato e
concreto e só nos permite chegar ao
conhecimento do individual. Não é
transmissível. Portanto, o conheci-
mento sensível é o conhecimento do
particular.
II. A técnica ou o saber fazer é o
conhecimento dos meios a serem
usados para se chegar aos fins de-
sejados. Uma vez que encerra uma
ideia, pode ser ensinada. A técnica
dá o quê e o porquê das coisas.
III. A sabedoria (sofia) é o único
tipo de conhecimento a determinar
as causas e princípios primeiros; a
única a poder dizer o quê as coisas
são, por que são e demonstrá-las.
O conhecimento, para Aristóteles,
é uma somatória de todos esses
modos de conhecer, sem haver rup-
tura ou descontinuidade entre eles.
Na verdade, um não invalida o ou-
tro. Ao contrário, enriquece-o e, nes-
te ponto, contradiz Platão.
Representação do mito da caverna. Utilizado por Platão para exem-
plificar como podemos nos libertar da condição de escuridão
(ignorância) que nos aprisiona através da luz da verdade
(conhecimento),
Aristóteles (384-322 a.C.)
24
O CONHECIMENTO NA IDADE MÉDIA
Ca
pít
ulo
12
O período conhecido como idade
média compreende o século V até o
XV, ambiente que prevalece a crença
religiosa cristã e um grande apelo ao
sobrenatural. Nesse período, o conhe-
cimento humano estava muito atrelado
ao modo de concepção da vida que a
religiosidade propagava
A Idade Média é tida como a Idade
das trevas, pois considerava-se que o
conhecimento tivesse parado ou mes-
mo recuado, voltando a se desenvolver
somente após o Renascimento. Entre-
tanto, é durante a Idade Média que se
desenvolveu algumas filosofias como a
escolástica e a patrística vinculadas a
Igreja Católica que tentavam vincular
razão e fé. O poder da Igreja Católica
na Idade Média se confundia com o
próprio conhecimento produzido neste
período, uma vez que as escolas e uni-
versidades eram da Igreja.
12.1 A Patrística: Argumentos platô-
nicos em favor da fé
No processo de desenvolvimento do
cristianismo, tornou-se necessário ex-
plicar seus precei-
tos às autoridades
romanas e ao povo
em geral. A Igreja
Católica sabia que
esses preceitos
não podiam sim-
plesmente ser im-
postos pela força.
Tinham de ser
apresentados de
maneira convincen-
te, mediante um
trabalho de pregação e conquista espi-
ritual.
Foi assim que os primeiros padres
da igreja se empenharam na ela-
boração de diversos textos sobre
fé e as revelações cristãs. O con-
junto desses textos ficou conheci-
do como patrística. É a Patrística,
basicamente, a filosofia responsá-
vel pela elucidação progressiva
dos dogmas cristãos e pelo que
se chama hoje de Tradição Católi-
ca. O principal expoente dessa
corrente do pensamento cristão é
Santo Agostinho.
12.1.1 Santo Agostinho
Santo Agostinho (354 - 430
d.C) foi um filósofo, escritor, bispo
e teólogo
cristão res-
p o n s á v e l
pela elabora-
ção do pen-
s a m e n t o
cristão medi-
eval e da
filosofia pa-
trística. Foi
também o
maior filoso-
fo dos 15
séculos que
s e p a r a m
Ar is tóte les
de Tomás de
Aquino. Para
Agostinho, o
caminho pa-
ra a verdade
estava na fé,
mas a razão era o melhor meio
para provar a validade das verda-
des. Famosa é a sua frase:
―Compreender para crer, crer pa-
ra compreender‖.
Agostinho de Hipona: foi um dos
m a i s i m p o r t a n -
tes teólogos e filósofos dos pri-
meiros anos do cristianismo
25
Foi influenciado pelo pensamento de
Platão, cuja essência, era a de que a al-
ma era aprisionada pelo mundo sensí-
vel. A partir desse pensamento, elaborou
a doutrina da iluminação divina, na qual,
a percepção do verdadeiro tem por cau-
sa a luz que provém de Deus.
Santo Agostinho dizia que o homem é
por natureza um ser inquieto e essa in-
quietação vem do fato dele ser imperfei-
to, de ele esta sempre procurando des-
cobrir a verdade, mas ele só pode en-
contra-la com a interferência de Deus.
Agostinho assimilou a concepção de
que a verdade, como conhecimento eter-
no, deveria ser buscada intelectualmen-
te no mundo das ideias. Assim somente
o intimo de nossa alma iluminada por
Deus, poderia atingir a verdade das coi-
sas. Da mesma forma que os olhos do
corpo necessitam da luz do sol para en-
xergar os objetos do mundo sensível, os
olhos da alma necessitam da luz divina
para visualizar as verdades eternas da
sabedoria.
12.2 Escolástica
A partir do século IX varias escolas,
organizadas pelo imperador Carlos Mag-
no que cultivavam o saber teológico e
filosófico surgiram, nesse período de
produção filosófico-teológica que surgiu
a escolástica (palavra derivada de esco-
la).
Foi na escolástica que a relação entre
fé e razão ganharam contornos bem de-
finidos, tinha o mesmo pro-
pósito da patrística ou seja ,
demonstrar que podemos
conhecer a verdade, desde
que a razão não entre em
choque com a fé. Nesse
contexto podemos dividir a
escolástica em três fases.
Primeira fase (do século IX
ao fim do século XIII) carac-
terizada pela confiança na
perfeita harmonia entre fé a
razão
Segunda fase (do século XIII
ao principio do século XIV)
caracterizada pela elabora-
ção de grandes sistemas
filosóficos merecendo des-
taque as obras de Tomas de Aquino.
Terceira fase (do século XIV até o
século XVI) decadência da escolásti-
ca, marcada por disputas que real-
çam as diferenças entre fé e razão.
O principal representante desse
pensamento foi Tomás de Aquino, a
partir dele que o aristotelismo aden-
trou o pensamento cristão da épo-
ca.
12.2.1 Tomás de Aquino
Tomás de Aquino (225 – 1274)
Filósofo e teólogo italiano. A sua
obra marca
uma etapa fun-
damental na
e s c o l á s t i c a .
Procurou siste-
matizar a dou-
trina cristã da
Igreja, inspiran-
do-se nos ensi-
namentos de
A r i s t ó t e l e s ,
com isso de-
senvolveu uma
série de argu-
mentos que
tinham como
proposito de-
fender as idei-
as cristãs, pro-
vando a existência de Deus e reafir-
mando sua autoridade máxima.
Para ele Filosofia e Teologia são
dois caminhos diferentes mas que
podem levar ao mesmo ponto.
Afirmava que havia uma relação
intima entre Filosofia e Teologia que
poderia ser sintetizada nos seguin-
tes princípios:
Fé e razão são modos distintos
de conhecer;
Só a uma verdade porque Deus é
o seu único autor;
Só podemos conhecer os misté-
rios de Deus através da fé;
Através da razão podemos de-
monstrar as verdades reveladas e
negar argumentos contrários a elas.
De acordo com Tomás de Aqui-
no, para o conhecimento de
qualquer verdade, o homem
precisa da ajuda divina.
26
O conhecimento na idade moderna
Ca
pít
ulo
13
Se na Idade Antiga e Média se têm
d i f e r e n t e s e x p l i c a ç õ e s p a r a
o conhecimento, não se tem como
problema, como dúvida, a capacidade
humana em conhecer. As transforma-
ções trazidas no Renascimento, leva-
rão pensadores do século XVI
a questionar a própria capacidade hu-
mana de conhecer.
As principais correntes, que na Ida-
de Moderna buscam explicar o pro-
cesso de conhecimento na relação suj
eito e objeto, são a do racionalismo e a
do empirismo.
Os racionalistas, que
têm seu grande re-
presentante em Des-
cartes, de um mo-
do geral priorizam a
razão no processo
de conhecimento e
aceitam a existên-
cia de ideias inatas,
independentes da
experiência. Já os
empiristas, entre
e l e s B a c o n , L o c k e , H u -
me, enfatizam o importante papel da
experiência sensível para aquisi-
ção do conhecimento. Não aceitam a
tese das ideias inatas ou de um co-
nhecimento independente ou anteri-
or à experiência.
Entre as transformações que ocorre-
ram na sociedade Europeias e que se
relacionaram com a construção de
uma nova mentalidade, podemos des-
tacar:
A passagem do feudalismo para
o capitalismo
A formação dos estados nacio-
nais
O movimento da reforma
O desenvolvimento da ciên-
cia natural
A invenção da imprensa
13.1 Racionalismo
O racionalismo a teoria filosófi-
ca que dá a prioridade à razão,
como faculdade de conhecimento
relativamente aos sentidos. Nas-
ce com Descartes, e atinge o seu
auge em B. Espinoza, G. W. Leib-
niz e Ch. Wolff.
Os racionalistas consideram
que só é verdadeiro conhecimen-
to aquele que for logicamente ne-
cessário e universalmente válido,
isto é, o conhecimento matemáti-
co é o
p r ó p r i o
m o d e l o
do conhe-
cimento.
A s s i m
sendo, o
rac iona -
lismo tem
que admi-
tir que há
determi-
n a d o s
tipos de conhecimento, em espe-
cial as noções matemáticas, que
têm origem na razão. Não quer
isso dizer que neguem a existên-
cia do conhecimento empírico.
Admitem-no. Consideram-no po-
rém como simples opinião, des-
provido de qualquer valor científi-
co. O conhecimento, assim enten-
dido, supõe a existência de ideias
ou essências anteriores e inde-
pendentes de toda a experiência.
René Descartes - 1596 a 1650: consi-
derado o pai do racionalismo.
27
Os princípios da razão que tornam
possível o conhecimento e o juízo moral
são inatos e convergem na capacidade
do conhecimento humano
A defesa da razão e a preponderância
desta corrente filosófica se transformou
na ideologia do iluminismo francês e, no
contexto religioso, criou uma atitude crí-
tica em relação à revelação, que culmi-
nou na defesa de uma religião natural.
13.2. O empirismo
O empirismo considera como fonte de
todas as nossas re-
presentações os da-
dos fornecidos pelos
sentidos. Assim, to-
do o conhecimento é
«a posteriori», isto é,
provém da experiên-
cia e à experiência
se reduz. Foi defini-
do pela primeira vez
pelo filósofo inglês
John Locke no sécu-
lo XVII. Locke argu-
mentou que a mente
seria, um "quadro
em branco" sobre o
qual é gravado o co-
nhecimento, cuja
base é a sensação,
ou seja, todo o processo do conhecer, do
saber e do agir é aprendido pela experi-
ência, pela tentativa e erro.
Segundo os empiristas, inclusivamen-
te as noções matemáticas seriam cópias
mentais estilizadas das figuras e objetos
que se apresentam à percepção. ―Os
pontos, as linhas, os círculos que
cada um tem no espírito são sim-
ples cópias dos pontos, linhas e cír-
culos que conheceu na experiência"
Assim, "a linha reta seria uma
simples cópia do fio de prumo, co-
mo o plano, simples cópia da super-
fície do lago, o círculo da lua ou do
sol, o cilindro do tronco de árvore e
a noção de número deriva da per-
cepção empírica de coleções de ob-
jetos‖.
Sendo uma teoria que se opõe ao
racionalismo, o empirismo critica a
metafísica e conceitos como os de
causa e substância. Segundo o em-
pirismo, a mente humana é uma
"folha em branco" ou uma "tábula
rasa", onde são gravadas impres-
sões externas. Por isso, não reco-
nhece a existência de ideias natas
nem do conhecimento universal.
Stuart Mill
Ribeiro e Silva, 1973, p. 390)
John Locke ((1632 — 1704) foi
u m f i l ó s o f o i n g l ê s
e ideólogo do liberalismo, sendo
considerado o principal represen-
tante do empirismo
O empirismo é caracterizado pelo conhecimento
científico, quando a sabedoria é adquirida por
percepções; pela origem das ideias por onde se
percebe as coisas, independente de seus objeti-
vos e significados.
28
O que é Lógica?
Ca
pít
ulo
14
“É lógico que eu vou!”, “É lógico
que ela disse isso!‖. Quando dizemos
frases como essas, a expressão ―é lógi-
co que‖ indica, para
nós e para a pessoa
com quem estamos
falando, que se trata
de alguma coisa evi-
dente. A expressão
aparece como se fos-
se a conclusão de
um raciocínio implíci-
to, compartilhado
pelos interlocutores
do discurso. Ao dizer
―É lógico que eu vou!‖, es-
tou supondo que quem me
ouve sabe, sem que isso
seja dito explicitamente,
que também estou afirman-
do: ―Você me conhece, sa-
be o que penso, gosto ou
quero, sabe o que vai acon-
tecer no lugar x e na hora y
e, portanto, não há dúvida
de que irei até lá‖.
Quando estamos falando
com alguém, usamos argu-
mentos que se relacionam entre si, por
meio deles, chegamos a uma conclu-
são. Usamos argumen-
tos quando queremos
defender nossos pon-
tos de vista a expor
aquilo que acreditamos
ser justo ou verdadeiro.
Ao dizer ―É lógico
que ela disse isso!‖, a
situação é semelhante.
A expressão seria a
conclusão de algo que
eu e a outra pessoa
sabemos, como se eu estivesse
dizendo: ―Sabendo quem ela é, o
que pensa, gosta,
quer, o que costu-
ma dizer e fazer, e
vendo o que está
acontecendo ago-
ra, concluo que é
evidente que ela
disse isso, pois era
de se esperar que
ela o dissesse‖.
Lógica é uma par-
te da filosofia que
estuda o funda-
mento, a estrutura e as expres-
sões humanas do conhecimento.
Em outras palavras, lógica é arte
que nos faz proceder, com ordem,
facilmente e sem erro, no ato pró-
prio da razão.
14.1 O nascimento da lógica?
Embora os sofistas e também
Platão tenham se ocupado com
questões lógicas, nenhum deles o
fez com a amplitude e o rigor al-
cançados por Aristóteles. O pró-
prio filósofo, porem não denomi-
nou seu estudo de lógica. Palavra
que só apareceu mais tarde.
A obra de Aristó-
teles dedicada
a lógica chama-
se analíticos e
como o próprio
nome diz, trata
da análise do
p e n s a m e n t o
nas suas partes
integrantes. Es-
sa e outras
obras foram Aristóteles com a lógica, queria mostrar que o
pensamento é algo sério rigoroso, que obe-
dece a certas regras, a certos princípios.
29
reunidas como o titulo Organon, que sig-
nifica ―instrumento‖ e, no caso, instru-
mento para se proceder corretamente o
pensar.
Como instrumento do pensar lógica
significa:
Estudos dos métodos e princípios
da argumentação;
A investigação das condições em
que a conclusão de um argumento
se segue necessariamente de
enunciados iniciais chamados de
premissas;
O estudo que estabelece as regras
da forma correta das operações do
pensamento e identifica as argu-
mentações não válidas.
Um dos objetivos da lógica é determi-
nar se a argumentação utilizada por al-
guém para se chegar a uma certa con-
clusão é válida ou não. A lógica tem sido
utilizada em todas as áreas da ciência:
exatas, biológicas e humanas. É de uso
comum por parte do matemático, do ci-
entista da computação, do engenheiro,
do advogado, do biólogo, do historiador,
etc.
Aristóteles com a lógica, queria mos-
trar que o pensamento não é uma malu-
quice, ele não é algo que exprima de
qualquer modo, pelo contrario o pensa-
mento é algo sério rigoroso, que obede-
ce a certas regras, a certos princí-
pios, com isso Aristóteles dizia que a
lógica poderia desmascarar os dis-
cursos falaciosos.
A Lógica ao mesmo tempo em
que define as leis ideais do pensa-
mento, estabelece as regras do pen-
samento correto, cujo conjunto
constitui uma arte de pensar. E co-
mo o raciocínio é a operação intelec-
tual que im-
plica todas
as outras
o pe r aç õ e s
do espírito,
d e f i n e - s e
muitas ve-
zes a lógica
como a ciên-
cia do racio-
cínio cor-
reto. A Lógi-
ca é então
necessária
para tornar
o espírito
mais pene-
trante e para ajudá-lo a justificar
suas operações recorrendo aos prin-
cípios que fundam a sua legitimida-
de.
Embora os sofistas e também Platão
tenham se ocupado com questões
lógicas, nenhum deles o fez com a
amplitude e o rigor alcançados por
Aristóteles.
LEITURA COMPLEMENTAR
Piada Lógica!
Um professor de Matemática quis pregar uma peça em seus alunos e lhes dis-
se:
- Meninos, aqui vai um problema: Um avião saiu de Amsterdã com uma veloci-
dade de 800 km/h, à pressão de 1.004,5 milibares; a umidade relativa era de
66% e a temperatura 20,4 graus C. A tripulação era composta por 5 pessoas, a
capacidade era de 45 assentos para passageiros, o banheiro estava ocupado e
havia 5 aeromoças (mas uma estava de folga). A pergunta é… Quantos anos eu
tenho?
Os alunos ficam assombrados. O silêncio é total. Então o Joãozinho, de lá do
fundo da sala, manda a sua resposta:
- 44 anos, fessor!
O professor, muito surpreso, o olha e diz:
- Caramba, está certo. Eu tenho 44 anos. Mas como adivinhaste?
E Joãozinho:
- Bem,… Eu deduzi porque eu tenho um primo que é meio babaca e ele tem 22
anos!!!!
30
Elementos da Lógica
Ca
pít
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15
Quando tratamos do conhecimento
não podemos deixar de recorrer à lógi-
ca, palavra grega originada do termo
logos e significa juízo, discurso, razão,
pensamento, conceito. Desse modo
essa parte da filosofia pode ser defini-
da como a ciência das leis ideais do
pensamento e arte de aplica-la correta-
mente na procura e na demonstração
da verdade.
15.1 Inferências, Argumentos e raci-
ocínio:
Muitas vezes nos deparamos com
algumas situações na vida e somos
levados a uma conclusão. Isso recebe
o nome de inferência. Inferir quer dizer
levar, pôr diante um raciocínio, chegar
a uma conclusão.
Essa forma de raciocínio nos ajuda
a criar nossas próprias descobertas.
Quando nos referimos ao argumen-
to na lógica, estamos falando do racio-
cínio de um fato que permite declarar
a validade, provando ou refutando
uma proposição.
A proposição é a representação lógi-
ca do juízo. O juízo consiste num julga-
mento sobre as ideias e pode ser falso
ou verdadeiro, o juízo será verdadeiro
se afirmar que ―o que é, é‖ – será falso
quando afirmar que ―o que é não, não
é‖. A argumentação é pois, a represen-
tação lógica do raciocínio.
Do ponto de vista da lógica, existem
dois tipos de raciocínio: os dedutivos e
os indutivos
Raciocínio Indutivo: é aquele que
parte de casos particulares para con-
cluir uma verdade geral.
Ex.:
Ferro conduz eletricidade
O ferro é metal
O ouro conduz eletricidade
O ouro é metal
O cobre conduz eletricidade
O cobre é metal
Logo, os metais conduzem ele-
tricidade.
Raciocínio dedutivo: é aquele
que parte de uma lei geral para
um caso particular. Nesse tipo de
raciocínio o que é verdade para
um todo é igualmente verdade
para as partes que compõem es-
se todo.
Ex.; Todo vertebrado possui
vértebras. Todos os cães são ver-
tebrados. Logo, Todos os cães
têm vértebras.
15.2 Silogismo
Silogismo é um argumento de-
dutivo composto de três proposi-
ções, ligadas entre si, sendo que
das duas primeiras, chamadas de
premissas, tira-se uma terceira,
chamada de conclusão. Todo silo-
gismo é sempre dedutivo, ele vai
do geral ao particular. O silogismo
é formado por três termos e três
preposições.
Ex.:
Todo cachorro é mamífero.
Todo mamífero é vertebrado.
Logo todo cachorro é vertebrado.