Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação
Departamento de Defesa Agropecuária
Divisão de Controle e Informações Sanitárias
��
Análise das principais lesões
encontradas nos abatedouros de
bovinos registrados na DIPOA-RS
Seção de Epidemiologia e Estatística
1
Sumário
Introdução ................................................................................................................................. 2
Materiais e métodos ................................................................................................................. 2
Hidatidose ................................................................................................................................. 2
Cisticercose ............................................................................................................................... 4
Fasciolose .................................................................................................................................. 4
Tuberculose ............................................................................................................................... 5
Resultados ................................................................................................................................. 6
Análise espacial ......................................................................................................................... 8
Série histórica dos achados de Inspeção de bovinos no Rio Grande do Sul ........................... 12
Conclusão ................................................................................................................................ 14
2
Introdução
Em 1989, com a implantação da Lei federal 7.889, as atribuições e responsabilidades da
inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal voltaram a ser a cargo dos
governos federal, estadual e municipal, de acordo com o âmbito do comércio da indústria a ser
inspecionada. Portanto, os estabelecimentos que elaboram produtos de origem animal devem
dispor de registro (independentemente da instância) e inspeção para evitar a permanência na
ilegalidade (FILHO, 2010).
A Lei 7.889 estabelece três níveis de inspeção, dependendo da abrangência da área de
comercialização, ou seja, para o comércio no próprio município o registro é obtido nas
secretarias de Agricultura dos municípios (Serviço de Inspeção Municipal – SIM); os que
comercializam em nível intermunicipal, o registro é obtido na Divisão de Inspeção Industrial de
Produtos de Origem Animal (DIPOA) do Departamento de Defesa Agropecuária (DDA) da
Secretaria da Agricultura, Pecuária, Pesca e Agronegócio (SEAPI); e para comercialização
interestadual ou internacional, o registro é obtido no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (FILHO, 2010).
Todo este grande sistema oficial visa garantir a inocuidade dos alimentos e consequentemente
a saúde da população.
Desta forma, o presente trabalho visa utilizar os dados gerados por meio dos relatórios de
abate realizados pelos fiscais estaduais agropecuários no Estado do Rio Grande do Sul.
Materiais e métodos
No Rio Grande do Sul, os técnicos do DDA fiscalizam os estabelecimentos que realizam
comercialização de Produtos de Origem Animal (POA) intermunicipal, registrados na DIPOA.
No caso de matadouros-frigoríficos, os quais recebem fiscalização permanente, todas as lesões
encontradas são registradas mensalmente no Sistema de Defesa Agropecuária (SDA), que é o
software para o gerenciamento dos processos referentes à defesa sanitária e inspeção
sanitária de produtos de origem animal e vegetal. O presente trabalho analisou as lesões de
tuberculose, hidatidose, cisticercose e fasciolose em abatedouros de bovinos do Rio Grande do
Sul, sob inspeção estadual, de agosto de 2013 a dezembro de 2015, com uma análise mais
detalhada dos dados em 2015.
Os dados das lesões identificadas no abate de bovinos sob inspeção estadual foram
compilados e padronizados no Excel Office 2010, e as análises espaciais foram realizadas
utilizando o programa QGis 2.2.0.
Hidatidose
3
A Hidatidose é a condição (doença) em que um “cisto hidático” ou “hidátide” (metacestoide
[forma larval] de Echinococcus granulosus desenvolve-se em vários órgãos, mas
principalmente no fígado e pulmão (Brown et al. 2007, Taylor et al. 2007, Brown 2009).
Echinococcus granulosus, é considerado um dos mais importantes helmintíases zoonóticas em
todo o mundo. Globalmente, a carga da doença é muito elevada, e causa mudanças
dramáticas em termos de relações humanas e veterinárias. A Organização Mundial da Saúde
incluiu recentemente equinococose nos seus planos estratégicos para o controle de doenças
tropicais negligenciadas. É comum em regiões de criação de ovinos como Austrália, Nova
Zelândia, China, América do Sul, Oriente Médio e os países africanos em torno do
Mediterrâneo e na Índia (Fomda, 2015). Muitos estudos tem relatado uma crescente
preocupação considerada uma doença emergente ou reemergente. (Moro, 2009).
O ciclo de vida envolve cães, ovelhas, gado, suínos e numerosos outros animais ungulados. E.
granulosus é um cestoide (classe Cestoda, Família Taeniidae) que parasita o intestino delgado
do cão ou outros canídeos selvagens (os hospedeiros definitivos).
Os ovos embrionados eliminados nas fezes do cão ou canídeos selvagem são ingeridos por um
dos hospedeiros intermediários e a oncosfera é liberada no intestino do hospedeiro
intermediário segue pela circulação sanguínea até o fígado, ou pela circulação linfática até o
pulmão (Tessele, 2013). Estes são os locais de predileção das metacestóides. Ocasionalmente
através da circulação sistêmica os cistos podem se desenvolver em outros locais como baço,
coração, ossos, tecido subcutâneo e cérebro. ( Tessele, 2013). O desenvolvimento do cisto é
lento podendo levar de 6 a 12 meses.
No Brasil a Hidatidose é um problema importante na região sul do Brasil, especialmente em
áreas junto à fronteira com o Uruguai. (Moro, 2008)
O costume do abate de ovinos em casa para consumo próprio, e consequente maior facilidade
de acesso de cães às vísceras infectadas com cisto hidático, é o principal motivo de incremento
desta parasitose no Estado. (Tessele, 2013)
Uma campanha de educação para a saúde extremamente eficaz sensibilizando toda a
população para a doença, e medidas que eliminem o abate em casa de ovinos é relatado na
literatura como essencial para a eliminação gradual de transmissão. No Uruguai depois de
várias tentativas de controle com sucesso limitado, em 1990, a Comissão Nacional de Controle
de hidatidose promovido com sucesso à aprovação de uma lei que formou a base para novas
estratégias de controle. Em 1991, uma pesquisa para o diagnóstico de equinococose canina foi
realizada e foi lançado um programa de dosagem canina com praziquantel com a diminuição
da prevalência de E. granulosus em cães de 10,7% em 1991 para 0,7% em 1997, em ovinos
adultos de 44,7% em 1990 para 3,9% em 2002 e em bovinos de 64,8% em 1990 para 12,2% em
2002. (Moro, 2008).
Os relatos da doença nas Américas, seu impacto na saúde pública e o sucesso de medidas de
controle em diversas partes do mundo evidenciam a necessidade de políticas públicas no Rio
Grande do sul com a valorização do conceito de uma única saúde e a interfase entre os órgãos
de governos responsáveis pela saúde humana e animal.
4
Cisticercose
A Cisticercose é uma zoonose que mais frequentemente causa a condenação de carcaças de
bovinos, causando elevadas perdas econômicas. Alguns autores relatam que embora o
tratamento pelo frio de carcaças infectadas seja o método mais eficaz e comumente
empregado, possui um custo de US$ 23,27 por animal, configurando significativa perda
econômica na cadeia produtiva. (Rossi, 2014). Os humanos são o único hospedeiro definitivo
da Taenea Saginata, através do consumo de carne de carne crua ou mal cozida contendo o
cisticerco ( Larvas do Parasita). Os Bovinos se infectam ao consumirem águas ou pastagens
contaminadas com ovos viáveis. (Rossi, 2014; Tessele, 2013; Barros 2009).
Uma pessoa infectada elimina milhões de ovos por dia, livres nas fezes ou em proglotes. Os
ovos podem sobreviver na pastagem por vários meses. Após a ingestão por um bovino
suscetível (o hospedeiro intermediário), a oncosfera segue pela circulação sanguínea até o
músculo estriado (esquelético ou cardíaco) onde se desenvolve em cisticerco (C. bovis) que é
uma vesícula translúcida de cerca de 1 cm de comprimento através da qual pode se ver um
escólice. Os Cistos podem alcançam a maturidade de semanas a anos. O período pré-patente
da doença é definido com de 2-3 meses ( Tessele, 2014).
Há grande disparidade na literatura quanto aos locais de predileção dos cistos de Cysticercus
bovis, porém, para a maioria dos autores, os metacestóides são encontrados principalmente
nos músculos mais irrigados, notadamente músculos mastigatórios e coração. (Tessele, 2013).
A forma larval começa a ser macroscopicamente visível cerca de duas semanas após a
infecção, e sua longevidade pode varia de semanas a anos (Rossi, 2014).
O regime de criação dos bovinos, somado ao baixo nível socioeconômico-cultural da população
e à precariedade das condições sanitárias, contribui para a contaminação das pastagens e
mantém uma relação direta com a ocorrência da cisticercose entre os bovinos. A inter-relação
desses animais com os seres humanos no campo passa a ser o principal responsável pela
manutenção da doença. A inspeção sanitária de carnes é uma das medidas mais efetivas para
o controle da teníase e, consequentemente, da persistência da zoonose na população e fonte
de dados aso serviços de saúde humana e animal (Rossi, 2014). A prevalência da cisticercose
no país tende a ser subestimada, pois se baseia, principalmente, nos registros obtidos de
inspeção post mortem, que é um método considerado de baixa sensibilidade, especialmente
em infecções leves. Apesar das limitações, este método funciona como um indicador precoce
do grau de infecção em uma determinada propriedade ou área geográfica (Bavia, 2012).
Fasciolose
A Fasciola hepática é gerada por um trematoide (filo Plathyhelminthes, classe Trematoda,
subclasse Digenea, família Fasciolidae. O parasita tem forma de folha com aproximadamente
2,5 cm de comprimento. Afeta preferencialmente o fígado de bovinos, ovinos (Brown et al.
2007, Taylor et al. 2007, Brown 2009, Tessele, 2013), mas infecções patentes podem se
5
desenvolver em outros animais domésticos e selvagens e em humanos(Tessele, 2014). O ciclo
de vida deste parasita necessita de um caramujo (Lymnaea spp.) como hospedeiro
intermediário. Os ovos são eliminados com a bile para as fezes e posteriormente para o
ambiente. Quando no pasto, em condições adequadas de calor e umidade os ovos eclodem
produzindo um miracídio (forma larval) em aproximadamente 10 dias.
As distribuições dos estágios de vida livre do parasita e do hospedeiro intermediário (Lymnaes
spp.) são dependentes de uma série de fatores climáticos. Uma gama de temperatura entre
10-25°C é necessária para o desenvolvimento de ambos. Altos níveis de humidade são
também necessários, sendo ambos sensíveis a dessecação. Em última análise a relação entre a
precipitação e a temperatura é a principal determinante da eficiência de transmissão ( Fox,
2011). Os miracídios são móveis e penetram ativamente no hospedeiro intermediário que é
um caramujo aquático. No caramujo esse miracídios se desenvolvem em esporocistos, que se
reproduzem dando origem a as rédias e posteriormente s cercárias. (Tessele, 2013)
As Cercárias abandonam o caramujo em 4-7 semanas após a penetração dos miracídios e
acomodam-se nas lâminas de gramíneas em regiões alagadiças, onde as cercárias se encistam,
tornando-se metacercárias. Sob as condições favoráveis, esses eventos (ovos até cercarias
encistadas) levam 1-2 meses. O hospedeiro final (ruminante) ingere as metacercárias junto
com as plantas ou durante o consumo de água após pisoteio e levantamento das
metacercárias. (Tessele, 2013)
A Fasciolose é responsável por perdas económicas na maioria das regiões do mundo onde
ovinos e bovinos são criado, com severos prejuízos para o setor agropecuário com perdas pela
condenação de vísceras. (Santos, 2009).
Tuberculose
A importância da identificação do Mycobacterium bovis como um agente zoonótico em 1882
não foi devidamente reconhecida. Após anos de pesquisas feitas por veterinários e outros
cientistas, a importância do M. bovis como um patógeno e suas implicações na saúde pública
foram finalmente reconhecidas (Palmer & Waters, 2011).
A tuberculose bovina é uma doença infecciosa crônica que vem afligindo a pecuária há mais de
alguns séculos. Seu agente etiológico é o Mycobacterium bovis, sendo esta enfermidade de
ocorrência mundial que determina prejuízos à pecuária e riscos a saúde da população que
consume produtos de origem animal (Izael, 2009). As perdas econômicas determinadas por
esta enfermidade se manifestam pela redução de 10-20% da produção leiteira, do ganho de
peso, infertilidade, condenação de carcaças e mortes dos animais (ROXO, 1996; HERNANDEZ,
1998; LILENBAUM, 2000).
Segundo Belchior em 2000, a tuberculose bovina é a segunda doença mais frequente nos
registros dos exames ante e post-mortem dos frigoríficos sob inspeção federal. O que
caracteriza a grande importância desta doença para a saúde pública e os grandes prejuízos
econômicos gerados para a bovinocultura de leiteira.
6
Resultados
Nesse período do estudo foram abatidos 2.737.522 milhões de bovinos sob inspeção de fiscais
do DDA/SEAPI-RS.
A escolha de lesões de cisticercose, hidatidose e tuberculose estão fundamentadas em serem
zoonoses, com impactos na Saúde. Já a fasciolose foi incluída devido a sua etiologia e por
apresentar condições ideais de ocorrência no Estado do RS, sendo uma enfermidade de grande
importância veterinária devido a elevadas perdas econômicas (MULLER, 1999).
A maior prevalência da hidatidose, conforme esperado, ocorre nas mesorregiões Sudeste do
Estado, com respectivamente 1,8% dos animais encaminhados ao abate. (Tabela 1). Os
municípios de Pinheiro Machado e Herval apresentam a maior proporção de animais com
lesões no Estado (Tabela 2).
Como hipótese consideramos a criação conjunta de ovinos e bovinos na mesma área,
favorecendo o aparecimento da hidatidose por ocasião da alimentação de caninos com
vísceras cruas de ovinos, prática comum nestas regiões do Rio Grande do sul.
Tabela 1 Frequência relativa e absoluta de propriedades com lesões de abate em 2015 nas
Mesorregiões do Estado
MESORREGIÃO CISTICERCOSE FASCIOLOSE HIDATIDOSE TUBERCULOSE
CENTRO OCIDENTAL RIO-GRANDENSE 2346 0,21% 9352 0,84% 5170 0,46% 45 0,004% CENTRO ORIENTAL RIO-GRANDENSE 683 0,17% 10725 2,66% 4149 1,03% 183 0,045% METROPOLITANA DE PORTO ALEGRE 1386 0,24% 19090 3,34% 4286 0,75% 187 0,033%
NORDESTE RIO-GRANDENSE 1585 0,11% 7925 0,56% 2638 0,19% 155 0,011%
NOROESTE RIO-GRANDENSE 3012 0,41% 12453 1,68% 7971 1,07% 267 0,036%
SUDESTE RIO-GRANDENSE 1732 0,13% 30970 2,37% 23525 1,80% 174 0,013%
SUDOESTE RIO-GRANDENSE 2563 0,09% 29346 1,00% 22723 0,77% 46 0,002%
Total Geral 13307 119861 70462 1057
7
Tabela 2 Porcentagem de achados de hidatidose por origem dos bovinos abatidos nos
estabelecimentos sob inspeção Estadual do RS no ano de 2015
Município Mesorregião Hidatidose Total Abatido
PINHEIRO MACHADO Sudeste RS 1259 33,74% 3732
HERVAL Sudeste RS 2102 32,91% 6387
SAPUCAIA DO SUL Porto Alegre 12 30,00% 40
PEDRAS ALTAS Sudeste RS 1222 29,90% 4087
PLANALTO Noroeste RS 186 28,48% 653
CANDIOTA Sudeste RS 684 25,25% 2709
CERRO GRANDE Noroeste RS 13 24,53% 53
ITAARA Centro Ocid.RS 123 22,86% 538
NOVO TIRADENTES Noroeste RS 62 21,16% 293
BAGE Sudoeste RS 2446 20,41% 11984
Com relação à origem dos animais afetados com cisticercose, conforme demonstrado na
tabela 1, observamos a maior prevalência nas Mesorregiões Noroeste e Metropolitana de
Porto Alegre. Pressupõe-se que a ocorrência de cisticercose esteja correlacionada com as
pequenas propriedades rurais, onde pode existir um contato próximo entre humanos e
animais, aliado a uma falta de saneamento básico e educação sanitária. O município de Ivorá
apresentou a maior proporção de animais com lesões de cisticercose, quando comparado com
o total de animais abatidos (Tabela 3). No entanto, cabe destacar os 369 achados de
cisticercose, oriundos no município de São Martinho da Serra. O que representa também uma
frequência relativa de 6,0% do total de bovinos abatido com origem no município.
Tabela 3 Porcentagem de achados de Cisticercose por origem dos bovinos abatidos nos
estabelecimentos sob inspeção Estadual do RS no ano de 2015
Município Mesorregião Cisticercose Total Abatido
IVORA Centro Ocid.RS 24 7,89% 304
GRAMADO Porto Alegre 3 6,98% 43
SAO LEOPOLDO Porto Alegre 13 6,53% 199
SAO MARTINHO DA SERRA Centro Ocid.RS 369 6,06% 6088
SAO JOSE DO HORTENCIO Porto Alegre 17 6,03% 282
JAQUIRANA Nordeste RS 109 5,62% 1940
ARATIBA Noroeste RS 216 5,56% 3882
PARECI NOVO Porto Alegre 7 5,51% 127
PAROBE Porto Alegre 5 5,49% 91
BOA VISTA DO INCRA Noroeste RS 65 4,99% 1302
ALPESTRE Noroeste RS 112 4,51% 2481
A tuberculose animal tem uma relação estreita com a criação de bovinos e bubalinos leiteiros.
Assim, regiões com bacias leiteiras, quando do descarte de fêmeas tendem a possuir uma
8
maior prevalência de tuberculose. Assim, na tabela 1 verifica-se que os animais oriundos das
mesorregiões Centro Oriental Rio Grandense e Noroeste do Estado foram aqueles com maior
prevalência de lesões de tuberculose ao abate. Observamos na tabela que a proporção de
animais com lesões de tuberculose é baixa sendo menos de 1% em todas as mesorregiões de
origem dos animais.
Com relação à Fasciolose a Mesorregião Metropolitana de Porto Alegre apresentou a maior
proporção de animais com lesões de Fasciolose (Tabela 1). Na Tabela 4 observamos os
municípios com a maior proporção de animais com lesões de fasciolose em 2015, nos
estabelecimentos sob inspeção estadual.
Tabela 4 Porcentagem de achados de Fasciolose por origem dos bovinos abatidos nos
estabelecimentos sob inspeção Estadual do RS no ano de 2015.
Município Mesorregião Fasciolose Total Abatido CAPAO DA CANOA Porto Alegre 90 60,00% 150 PRESIDENTE LUCENA Porto Alegre 71 55,04% 129 SANTA VITORIA DO PALMAR Sudeste RS 3197 44,84% 7129 RIO GRANDE Sudeste RS 2917 42,00% 6945 GUAIBA Porto Alegre 65 41,94% 155 TERRA DE AREIA Porto Alegre 298 41,39% 720 ROLANTE Porto Alegre 414 41,28% 1003 SAPUCAIA DO SUL Porto Alegre 16 40,00% 40 XANGRILA Porto Alegre 82 38,50% 213 TAVARES Porto Alegre 289 38,28% 755
Análise espacial
O termo epidemiologia espacial é utilizado para definir estudos nos quais a localização dos
eventos é o principal componente a ser analisado (SAEZ & SAURINA, 2007). De acordo com os
autores BAILEY & GATRELL (1995), a análise espacial dos dados em epidemiologia segue um
padrão cronológico de trabalho e é dividida em três grupos de métodos de análise:
visualização, exploração e modelagem matemática.
A visualização é, provavelmente, o método de análise espacial mais utilizado, pois resulta em
mapas que descrevem os padrões espaciais com a finalidade de estimular e apontar uma
análise mais complexa e de facilitar a comunicação e apresentação dos dados.
Desta forma, as análises espaciais apresentam papel importante nas questões relacionadas à
saúde animal, humana e suas relações com o ambiente, facilitando a apresentação de forma
clara e objetiva dos resultados (LEISS & POWELL, 2004). Podemos observar nos mapas de calor
de todas as doenças analisadas, uma forte mancha nas Regiões Metropolitana, Centro Oriental
e da Serra gaúcha, que pode ser explicado pela concentração de estabelecimentos de abate de
bovinos nessas regiões (Figura 1).
9
Figura 1 Concentração de Frigoríficos de Bovinos sob Inspeção Estadual
A distribuição espacial de propriedades com Cisticercose apresentam manchas dispersas nas
regiões nordeste, central e norte (Figura2).
Figura 2 Prevalência de achados de Cisticercose em bovinos abatidos no ano de 2015
A distribuição de Tuberculose apresenta uma forte sobreposição com as regiões de
concentração de abates de bovinos no estado, com alguns bolsões localizados na Região
Central e Sul do Estado (Figura 3). A tuberculose animal tem uma relação estreita com a
10
criação de bovinos e bubalinos leiteiros. As regiões de bacias leiteiras localizadas próximas a
maior concentração de estabelecimentos sob inspeção estadual, apresentam uma maior
prevalência como podemos observar na figura 1 e figura 3, frutos também do abate de bovinos
de descarte e positivos para tuberculose.
Figura 3 Concentração de Propriedades com achados de abate de Tuberculose no ano de
2015
A fasciolose, devido a sua etiologia, tem sua ocorrência ligada à presença de hospedeiro
intermediário (molusco do gênero Lymneae) e a condições climáticas adequadas. A fasciolose
tem alta prevalência no RS, especialmente no sul e sudeste do Estado, onde é endêmica
(SILVA, 2008). Outro aspecto relevante é que em áreas alagadiças como aquelas de restevas da
orizicultura irrigada, em teoria, há uma maior probabilidade da ocorrência dessa enfermidade
nos animais, devido à proliferação do caramujo veiculador. É possível observar também uma
forte influencia dos municípios ao redor da Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim, influenciadas
também pelo clima, umidade e áreas alagadiças ao redor destas grandes lagoas do Estado.
11
Figura 4 Prevalência de achados de Fasciolose em bovinos abatidos no ano de 2015
A prevalência de hidatidose no RS é alta sendo maior onde os bovinos e ovinos são criados
juntos. Nestas condições os ovinos representam excelente fonte de infecção para os cães que,
por sua vez, contaminam as áreas pastejadas pelos bovinos. Onde visualmente podemos
observar a concentração na região Sudeste, Sul e Sudoeste do Estado, onde se concentram as
criações de ovinos no Rio Grande do Sul (Figura 5).
Figura 5 Prevalência de achados de Hidatidose em bovinos abatidos no ano de 2015
12
Série histórica dos achados de Inspeção de bovinos no Rio Grande do
Sul de agosto de 2013 a dezembro de 2015
Na análise de uma série temporal, primeiramente deseja-se modelar o fenômeno estudado
para, a partir daí, descrever o comportamento da série, fazer estimativas e, por último, avaliar
quais os fatores que influenciaram o comportamento da série, buscando definir relações de
causa e efeito entre duas ou mais séries.
Neste trabalho avaliamos o comportamento ao longo do tempo dos achados de inspeção de
bovinos, buscando identificar os padrões de lançamento e o comportamento das doenças no
período utilizando com base as informações da DIPOA-RS. Cabe salientar que aos abates sob
Inspeção Estadual representam mais de 50% dos abates de bovinos do estado, como pode ser
observados na tabela 5.
Tabela 5 Frequência relativa e absoluta de bovinos abatidos por nível de Inspeção no RS
Nível de Inspeção 2013 2014 2015
Estadual 1.083.048 51,91% 1.053.432 50,88% 1.015.746 52,19%
Federal 735.732 35,26% 744.083 35,94% 664.582 34,15%
Municipal 267.616 12,83% 273.086 13,19% 265.904 13,66%
Total 2.086.396 100,00% 2.070.601 100,00% 1.946.232 100,00%
O módulo do SDA foi liberado no mês de agosto de 2013, com uma crescente inserção de
informações até dezembro do mesmo ano. (Figuras 6 e 7).
Com relação aos achados de hidatidose e fasciolose e possível perceber uma grande
semelhança nos comportamentos ao longo dos anos em análise. A fasciolose apresenta o
maior número de animais com lesões em 10.000 abatidos nos anos de estudo, seguidos da
hidatidose e cisticercose. Alguns picos de achados de fasciolose e hidatidose são observados
nos meses de fevereiro a março de 2014 e abril e maio de 2015. Os achados de cisticercose
apresentam- se de forma mais constante ao longo dos anos e com um número muito menor
de animais com lesões por 10.000 abatidos no período do estudo ( Figura 6).
13
Figura 6 Série Histórica de achados de Hidatidose, Cisticercose e Fasciolose nos abates sob
Inspeção Estadual no período de agosto de 2013 a dezembro de 2015.
Os achados de tuberculose apresentam os menores índices de lesões das doenças analisadas,
com menos de 2 animais com lesões em 10.000 abatidos. No entanto, entendemos que as
informações de lesões de abate para o controle da enfermidade são de grande importância
para o direcionamento de estratégias de erradicação e controle da doença.
Figura 7 Série Histórica de achados de Tuberculose nos abates sob Inspeção Estadual no
período de agosto de 2013 a dezembro de 2015.
14
Conclusão
Com os dados apresentados, percebe-se que é vital um trabalho conjunto entre a área de
defesa sanitária animal e a área de inspeção de produtos de origem animal. Com isso, será
possível repassar as informações de abate aos produtores rurais e, assim, realizar trabalhos de
educação sanitária nas áreas e propriedades rurais de maior prevalência dessas enfermidades,
em especial aquelas com interesse em saúde pública e também, aquelas que acarretem
prejuízos econômicos ao produtor rural.
O trabalho conjunto entre as diversas instituições públicas e privadas como a SEAPI, a
Secretaria Estadual da Saúde (SES), as Secretarias municipais de Saúde, o Ministério da
Agricultura, Pecuária, e Abastecimento (MAPA) e entidades ligadas ao agronegócio é
fundamental.
Tal trabalho já é realizado pelo DDA/SEAPI, com a integração das informações de inspeção e
defesa sanitária animal, além de uma parceria com a SES, onde o DDA repassa as informações
das propriedades rurais de origem dos animais abatidos sob Inspeção Estadual que tiveram
lesões de cisticercose e hidatidose, para atuação dos profissionais da Saúde.
Entretanto ainda é necessária a integração das informações entre os outros níveis de inspeção
(federal e municipal) e uma participação efetiva das entidades ligadas ao agronegócio na
educação sanitária do produtor rural para, consequentemente, diminuir a prevalência dessas
enfermidades nas propriedades rurais gaúchas, os eventuais prejuízos e riscos a saúde pública.
Bibliografia
FILHO, A. S & FONSECA, P.B.R. Breve história da inspeção sanitária animal no Brasil Disponível
em:http://www.anffasindical.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=515:art
igo-breve-historia-da-inspecao-sanitaria-animal-no-brasil&catid=36:artigos&Itemid=62>.
Acesso em: 14 de abril de 2010.
MULLER, G. et al., Influência da temperatura na longevidade de metacercárias de
Fascíola hepática. Revista Brasileira de Agrociência, 1999; 5(2): 164-5.
SILVA, E. R.V et al., Fasciolose hepática, Revista Científica de Medicina Veterinária, ano VI,
número 11, julho de 2008.
SAEZ, M. & SAURINA, C. Estadística y epidemiologia espacial. Girona: Edicions a petició.
Documenta universitária. Capítulo 1: Introducción a la estadística espacial. 2007.
BAILEY, N. T. J. & GATRELL, A. Interactive Spatial Data Analysis. Essex: Longman. 1995.
DURR, P. & GATRELL, AGIS and Spatial Analysis in Veterinary Science. CABI Publishing,
Wallingford. 2004.
15
TESSELE, B. et al. Lesões parasitárias encontradas em bovinos abatidos para consumo
humano. Pesq. Vet. Bras. 33(7):873-889, julho 2013
GEARY, R. The contiguity ratio and statistical mapping. The Incorporated Statistician, v. 5, p.
115–145, 1954.
Brown C.C., Baker D.C. & Barker I.K. 2007. Alimentary system, p.1-296.In: Maxie M.G. (Ed.),
Jubb, Kennedy & Palmer’s Pathology of Domestic Animals. Vol.2. 4th ed. Academic Press, San
Diego.
Brown D.G. 2009. Georgis’Parasitology for Veterinarians. 9th ed. Saunders Elsevier, St
Louis.451p.
Taylor M.A., Coop R.L. & Wall R.L. 2007. Veterinary Parasitology. 3rd ed. Blacwell, Oxford.
874p.
Palmer, M. V & Waters, W. R Bovine Tuberculosis and the Establishment of an Eradication
Program in the United States: Role of Veterinarians Veterinary Medicine International,
Volume 2011 (2011), Article ID 816345, 12 pageshttp://dx.doi.org/10.4061/2011/816345
SEAPI, 2015. Declaração anual de rebanho.
SEAPI, 2015 Sistema de Defesa Agropecuário
Moro, P & Schantz, P. M. Cystic echinococcosis in the Americas, Parasitology International 55
(2006) S181 – S186
Moro, P & Schantz, P. M. Echinococcosis: a review. International Journal of Infectious Diseases
(2009) 13, 125—133
Fox NJ, White PCL, McClean CJ, Marion G, Evans A, et al. (2011) Predicting Impacts of Climate
Change on Fasciola hepatica Risk. PLoS ONE 6(1): e16126.doi:10.1371/journal.pone.0016126
Fomda BA, Khan A, Thokar MA, Malik AA, Fazili A, Dar RA, et al. (2015) Sero-Epidemiological
Survey of Human Cystic Echinococcosis in Kashmir, North India. PLoS ONE 10(4): e0124813.
doi:10.1371/journal.pone.0124813
Guimarães-Peixoto, R. P.M. Distribuição e identificação das regiões de risco para a cisticercose
bovina no Estado do Paraná, Pesq. Vet. Bras. 32(10):975-979, outubro 2012.
Arlett M. Pérez M. Fasciola hepática in Venezuela: Historical Review. Rev. Fac. Cs. Vets. UCV.
48(1): 3-14. 2007.
Izael, M. A. Estudo retrospectivo da ocorrência dos casos de tuberculose bovina diagnosticados
na clínica de bovinos de Garanhuns - PE, de 2000 a 2009, Ciência Animal Brasileira –
Suplemento 1, 2009 – Anais do VIII Congresso Brasileiro de Buiatria
Top Related