Análise das manifestações patológicas encontradas nos revestimentos argamassados de um
edifício residencial na cidade de Içara
Julho/2018
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018
Análise das manifestações patológicas encontradas nos revestimentos
argamassados de um edifício residencial na cidade de Içara
Thaís dos Santos de Souza – [email protected]
Auditoria, Avaliações & Perícias de Engenharia
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Florianópolis, SC, 30 de julho de 2017
Resumo
Com a grande expansão do número de obras executadas no país, as técnicas construtivas e o
sistema de revestimento com o uso de argamassa vêm se aperfeiçoando e evoluindo, a fim de
melhorar a qualidade final nos revestimentos de argamassa, evitar futuras patologias e
buscar uma maior vida útil dos revestimentos. Este artigo tem como objetivo geral relacionar
as manifestações patológicas encontradas nos revestimentos argamassados de um edifício
residencial na cidade de Içara - SC, apresentar as possíveis causas e procedências destas
patologias e propor diretrizes para a sua correção. O diagnóstico foi fundamentado através
de vistorias no local de estudo e o levantamento fotográfico das patologias, para
posteriormente serem elaboradas sugestões de medidas corretivas e preventivas para os
problemas identificados. Após o levantamento e coleta de dados, foram diagnosticadas as
seguintes manifestações patológicas de revestimentos argamassados: fissuras, manchas de
umidade, descolamento com pulverulência e vesículas. De acordo com os elementos
observados e analisados, é possível concluir que as manifestações patológicas notadas estão
relacionadas à qualidade dos materiais, falhas na execução, e à falta de manutenção da
edificação. As patologias avaliadas não trazem qualquer risco aos habitantes da edificação,
apenas um desconforto visual. Caso não seja feita a manutenção e o reparo destes
problemas, eles poderão evoluir e então causar danos maiores.
Palavras-chave: Patologia. Revestimentos. Argamassados. Reboco.
1. Introdução
Com o objetivo de regularizar, proteger e uniformizar as superfícies, os revestimentos
argamassados podem ser definidos como um revestimento de múltiplas camadas, capaz de
recobrir a superfície de concreto ou alvenaria, ao mesmo tempo em que cria um substrato
adequado para receber o acabamento final.
Já foi comprovado que a fase de execução dos revestimentos argamassados, (ou qualquer
sistema construtivo), é de suma importância. Para Bauer (2008:938):
A adequada execução dos serviços de revestimento necessita de elaboração prévia
de caderno de encargos, contendo Normas, especificações técnicas e procedimentos.
Os cadernos de encargos facilitam o controle do recebimento, estocagem, manuseio
e transporte dos materiais, além do próprio controle da execução, na medida em que
é verificada a conformidade dos serviços, por meio de listas de verificação adotadas
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como registro. A qualificação e treinamento dos operários é um fator importante na
fase de execução.
A NBR 13281 (2001:2) descreve que a argamassa é uma mistura homogênea de agregados
miúdos, aglomerantes inorgânicos e água, contendo ou não aditivos ou adições, com
propriedades de aderência e endurecimento, podendo ser dosada em obra ou em instalação
própria (argamassa industrializada).
A NBR 13529 (1995:1) intitula como revestimento de argamassa, o cobrimento de uma
superfície com uma ou mais camadas superpostas de argamassa, apto a receber acabamento
decorativo ou constituir-se em acabamento final.
O procedimento tradicional e técnico é constituído da execução de no mínimo de três camadas
superpostas, contínuas e uniformes, denominadas: chapisco, emboço e reboco (Figura 1).
Figura 1 – Camadas do revestimento argamassado
Fonte: Blog Construir (2014)
O chapisco tem como finalidade ser o elemento de ligação entre o revestimento e o substrato,
e facilitar a execução do revestimento futuro, garantindo uma maior aderência decorrente de
sua superfície rugosa.
O emboço por sua vez, é uma camada de regularização que cobre e uniformiza a base,
acomodando uma superfície homogênea pronta para receber a próxima camada. Ela também
pode servir de base para outros revestimentos.
Por último, a camada responsável pela conclusão do revestimento é chamada de reboco, que é
caracterizada por uma fina camada, que irá receber ou não algum outro acabamento
decorativo como a pintura, por exemplo.
São definidas na NBR 13749 (2013:2) as espessuras admissíveis de revestimentos
argamassados para os ambientes internos e externos, eles estão relacionados na Tabela 1.
Local da aplicação Espessura (mm)
Máxima Mínima
Parede Interna 20 5
Parede Externa 30 20
Teto Interno e Externo 20 5
Tabela 1 - Espessuras admissíveis de revestimento interno e externo para parede
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Fonte: NBR 13749 (2013)
Segundo a NBR 7200 (1998:1), a etapa de execução do revestimento é a principal responsável
por fenômenos patológicos observados posteriormente.
Com a grande expansão do número de obras executadas no país, as técnicas construtivas e o
sistema de revestimento com o uso de argamassa vêm se aperfeiçoando e evoluindo, a fim de
melhorar a qualidade final nos revestimentos de argamassa, evitar futuras patologias e buscar
uma maior vida útil dos revestimentos.
Romano (2009:24) relata que é crescente o número de edificações que apresentam
deterioração precoce, com manifestação de danos de diversas origens.
Caporrino (2015:18) define:
Patologia (derivado do grego pathos, sofrimento, doença, e logia, ciência, estudo) é
o estudo das doenças em geral, como estado anormal de causa conhecida ou
desconhecida, tanto na medicina quanto em outras áreas do conhecimento, como
matemática e engenharias, onde é conhecida como patologia das edificações e
estuda as manifestações patológicas que podem vir a ocorrer em uma construção.
Ela envolve tanto a ciência básica quanto a prática.
Para Souza e Ripper (1998:14), patologia das construções é designada genericamente por um
novo campo da engenharia das construções que se ocupa do estudo das origens, formas de
manifestação, consequências e mecanismos de ocorrência das falhas e dos sistemas de
degradação das estruturas.
É notório que na fase de projeto, os revestimentos não recebem a atenção necessária e, devido
á isso, algumas deliberações importantes são adotadas de forma empírica no canteiro de
obras. Isso traz como consequência a incidência de manifestações patológicas, o aumento dos
custos de produção e os elevados desperdícios de materiais, mão de obra e tempo.
Silva e Fortes (2010:3, apud BORGES e MONTEFUSO, 1996) alegam que um dos danos
mais encontrados nos revestimentos de fachadas constituídos com argamassa é o
aparecimento de fissuras ao longo de toda a fachada, sendo elas transversais ou longitudinais.
A degradação de uma construção é decorrente de diferentes parâmetros, como variações de
temperatura, reações químicas, vibrações, erosão, má execução dos serviços e até mesmo a
má qualidade dos materiais.
Maia Neto, Silva e Carvalho Júnior (1999:3) contam que:
Além da desvalorização natural do imóvel devido aos aspectos visuais, a base dos
revestimentos (alvenaria ou concreto), sem o adequado acabamento final, torna-se
vulnerável às infiltrações de água e gases, o que consequentemente conduz a sérias
deteriorações no interior dos edifícios, podendo ser as mesmas de ordem estética ou
até mesmo estrutural.
Para a boa funcionalidade de uma construção, é indispensável fazer periodicamente a
inspeção, avaliação e o diagnóstico de suas patologias. E, sempre que necessário, deverão ser
executadas as devidas ações de manutenção e correção.
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Inspeção Predial é a vistoria técnica da edificação para a apuração de suas condições técnicas
e determinação das medidas preventivas e corretivas necessárias para a boa conservação e
manutenção do prédio (FERREIRA, 1999:4).
Para o IBAPE (2012:3):
A Inspeção Predial é ferramenta que propicia a avaliação sistêmica da edificação.
Elaborada por profissionais habilitados e devidamente preparados, classifica não
conformidades constatadas na edificação quanto a sua origem, grau de risco e indica
orientações técnicas necessárias à melhoria da manutenção dos sistemas e elementos
construtivos.
A Inspeção Predial também é definida por outras normas técnicas:
“Avaliação do estado da edificação e de suas partes constituintes, realizada para orientar as
atividades de manutenção” (NBR 5674, 1999:2).
“Verificação, através de metodologia técnica, das condições de uso e de manutenção
preventiva e corretiva da edificação” (NBR 15575-1, 2013:6).
As Inspeções Prediais deverão ser realizadas apenas por profissionais, engenheiros e
arquitetos, devidamente registrados. (IBAPE, 2012:6).
2. Objetivo
Este artigo tem como objetivo geral relacionar as manifestações patológicas encontradas nos
revestimentos argamassados de um edifício residencial na cidade de Içara - SC, apresentar as
possíveis causas e procedências destas patologias e propor diretrizes para a sua correção.
Os objetivos específicos desta análise são:
a) Identificar e descrever as manifestações patológicas encontradas nos revestimentos
argamassados de um edifício residencial na cidade de içara, através de um levantamento
visual e fotográfico;
b) Catalogar as manifestações patológicas e as possíveis origens de sua ocorrência; e
c) Indicar soluções para correção dos problemas encontrados.
3. Metodologia
O diagnóstico foi fundamentado através de vistorias no local de estudo e o levantamento
fotográfico das patologias, para posteriormente serem elaboradas sugestões de medidas
corretivas e preventivas para os problemas identificados.
O ambiente da pesquisa foi um edifício residencial, executado em concreto armado, com
acabamento interno e externo em reboco, entregue no ano de 2013, na cidade de Içara, SC.
As manifestações patológicas em revestimentos de argamassa que se encontram presentes
neste artigo correspondem aos incidentes localizados no ambiente de estudo, onde o clima é
peculiarmente marcado pelas grandes variações diárias e anuais de temperaturas. Este fato
influencia diretamente nos tipos de patologias encontradas.
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4. Análise das Manifestações Patológicas
As patologias registradas em revestimentos apresentam-se de diversas formas, todas elas
resultando na impossibilidade de cumprimento das finalidades para os quais foram
concebidos, notadamente no que se refere aos aspectos estéticos, de proteção e de isolamento
(MAIA NETO, SILVA E CARVALHO JÚNIOR, 1999:3).
Após o levantamento e coleta de dados, foram diagnosticadas as seguintes manifestações
patológicas de revestimentos argamassados:
a) Fissuras;
b) Manchas de umidade;
c) Descolamento com pulverulência; e
d) Vesículas.
4.1. Fissuras
As trincas podem começar a surgir de forma congênita, logo no projeto arquitetônico da
construção (THOMAZ, 1992:16).
Entende-se como fissuras, a circunstância em que um determinado objeto ou parte dele
apresenta aberturas finas e alongadas na sua superfície. Todos os materiais retraem
(diminuem de tamanho) quando secam e, quanto mais água conter no traço da argamassa,
maior será a sua retração. Assim como quanto maior a quantidade de cimento na argamassa,
também será maior a probabilidade de ocorrer retração.
A grande maioria das fissuras é superficial e não sugerem fundamentalmente, a redução da
segurança dos componentes estruturais, ou o perigo de instabilidade da construção.
Marcelli (2007:130) conta que, argamassas muito pobres ou muito ricas em cimento
favorecem o surgimento de fissuras; e, ainda, uma aplicação incorreta sem chapisco ou
elemento colante antes do emboço e reboco vai provocar inevitavelmente trincas.
Bauer (2008:916) expõe que a aplicação de uma camada de emboço excessivamente rico em
cimento ocasionará um revestimento sem a necessária elasticidade, não acompanhando
eventuais movimentações da base, fissurando-se.
Para Maia Neto, Silva e Carvalho Júnior (1999:5), as fissuras nos revestimentos podem estar
associadas a sua incapacidade de absorver as movimentações da estrutura que reveste, bem
como a técnica executiva utilizada, características e dosagem dos materiais constituintes.
Thomaz (1992:29) disserta que as fissuras induzidas por movimentações térmicas no corpo do
revestimento geralmente são regularmente distribuídas e com aberturas bastante reduzidas,
assemelhando-se ás fissuras provocadas por retração de secagem.
O mesmo autor destaca que:
A ocorrência de fissuras e descolamentos das argamassas de revestimento é ainda
facilitada pela aplicação do material em bases excessivamente porosas ou
ressecadas, com rápida perda da água tanto por evaporação como pela absorção da
base. O problema é agravado com as práticas construtivas atuais, que vêm
paulatinamente dispensando a prévia aplicação de chapisco (regulador da
higroscopicidade das paredes) e/ou o prévio umedecimento de bases muito
ressecadas. Dessa forma, não é raro presenciarmos em nossas obras os serviços de
revestimento se desenvolvendo em dias de intensa insolação, às vezes com ventos
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fortes, sem nenhum cuidado relativo à pré-umidificação das bases (THOMAZ,
2001:22).
Existem variados tipos de fissuras, dentre elas, foram identificadas no empreendimento as do
tipo: mapeada, de retração por secagem, a fissura horizontal e a devido à movimentação de
estrutura.
As fissuras mapeadas são caracterizadas por pequenas aberturas de formas variadas que
ocorrem ao longo da superfície, como se pode observar na Figura 2, que foi identificada no
pavimento de cobertura do edifício em estudo.
Figura 2 – Fissura mapeada - Pavimento de cobertura
Fonte: Autor (2017)
Esse tipo de fissura pode ser causado pela variação da temperatura na argamassa de
revestimento já no estado endurecido, e ocorre com maior frequência em argamassas que não
foram dosadas adequadamente, com excesso de cimento ou deficiência de cal (ZANZARINI,
2016:64). A argamassa utilizada nos revestimentos de paredes e lajes sofre naturalmente
perda de água por evaporação. O material, no momento em que é aplicado na superfície,
encontra-se no estado fresco e com determinado volume. Durante a secagem, a perda de água
faz com que o volume original seja reduzido, dando origem às fissuras. Portanto, esse tipo de
patogenia é geralmente relacionado à retração da argamassa. Esta avaria não permite o reparo,
sem a completa remoção do revestimento afetado. A recomendação é a renovação do
revestimento e da pintura.
Silva e Fortes (2010:3) descrevem:
De uma forma mais abrangente, entende-se por fissura uma manifestação patológica
resultante do alívio das tensões entre as partes de um mesmo elemento ou entre dois
elementos em contato. É comum encontrar residências, edifícios, ou qualquer tipo de
construção, que apresente algum tipo de fissura. Elas podem aparecer em uma fase
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prematura logo após o revestimento das fachadas, que é a situação mais frequente,
ou muitos anos após a conclusão do edifício, tendo diversas origens e ocorrer em
diferentes locais na fachada.
O segundo tipo de fissuras identificadas in loco, foram as fissuras no piso da garagem, que
são causadas pela retração por secagem. Esta patologia é originada pela redução de volume
causada pela rápida diminuição de umidade. Quando o revestimento perde umidade, ele se
contrai, e quando ganha umidade, se expande. Este efeito de variação de volume não seria
prejudicial se houvesse liberdade de movimentação do mesmo. Esse impedimento à
movimentação induz ao aparecimento de tensões de tração que podem romper o revestimento,
originando o aparecimento das tais fissuras. Já é conhecido que quanto maior for o consumo
de cimento adicionado à mistura, relação água-cimento e finura dos agregados, maior será a
retração.
Bauer (2008:915) descreve que:
“A fissuração é função de fatores intrínsecos, como o consumo de cimento, o teor de
finos, quantidade de agua de amassamento, e de outros fatores que podem ou não
contribuir na fissuração, como a resistência de aderência á base, o numero e
espessura das camadas, o intervalo de tempo decorrido entre a aplicação de uma e
outra camada, e perda de água de amassamento por sucção da base ou pela ação de
agentes atmosféricos.”
Em ambientes com baixa umidade relativa do ar e incidência de ventos, as misturas ricas em
cimento estão mais sujeitas à retração plástica, acompanhada das tradicionais fissuras curtas,
que surgem em grupos paralelos entre si (RODRIGUES, 2010:49).
Na maioria das vezes, a configuração dessas fissuras é linear com direções variadas,
dependendo de diversos fatores. Podemos analisa-las na Figura 3, identificada no pavimento
de garagem. Pelas investigações feitas in loco foi possível concluir que essas fissuras ocorrem
por ocasião da execução do piso. O tipo da fissura se da basicamente por retração de secagem,
como causa primária surge devido á ineficiência das juntas, como causa secundária retração
excessiva e cura ineficaz.
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Figura 3 – Fissura de retração por secagem - Garagem
Fonte: Autor (2017)
Para a recuperação e correção destas fissuras, é necessário executar a abertura de sulcos sobre
a fissura existente, bem como a remoção do acabamento (pintura, por exemplo). Em seguida,
deverá ser aplicado um selante acrílico na abertura feita, e aguardar a completa secagem da
fissura selada. Após seca, será feita a aplicação de um impermeabilizante acrílico, e uma
segunda demão com impermeabilizante estruturado em tela de poliéster.
Outro tipo de fissura identificada foi uma fissura horizontal entre a laje da rampa da garagem
e a alvenaria em uma parede externa que recebe insolação direta por todo o período da manhã
(Figura 4). Para Zanzarini (2016:62), esse tipo de fissura tem como mecanismo causador a
variação térmica diária e ocorre nas áreas que recebem insolação constante, como as
coberturas e as paredes externas, pois são nessas regiões que ocorrem maior variação de
temperatura.
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Figura 4 – Fissura horizontal – Parede externa
Fonte: Autor (2017)
As principais causas são a expansão da argamassa de assentamento por hidratação retardada
do óxido de magnésio da cal, e a expansão da argamassa de assentamento por reação cimento-
sulfatos ou devido á presença de argilo-minerais expansivos no agregado (CAPORRINO,
2015:89). Para reparar esta anomalia, o revestimento deverá ser refeito, utilizando materiais
que tenham a capacidade de absorver pequenas movimentações, como por exemplo,
revestimentos elásticos.
As demais fissuras encontradas na vistoria da edificação, não tem necessariamente, origem no
revestimento argamassado, elas são oriundas da movimentação da estrutura. É o caso da
Figura 5, que mostra uma fissura localizada no pavimento de cobertura. Trata-se de uma
sacada, com um pequeno balanço. A origem desta fissura se dá provavelmente pela
movimentação do balanço, e pela ausência de ferro de amarração ou a deficiência no
chumbamento entre a alvenaria e a estrutura.
Figura 5 – Fissura - Cobertura
Fonte: Autor (2017)
Bauer (2008:919) afirma que alvenarias executadas sobre balanços e lajes de terraços, com
fissuras devido ao deslocamento dos ferros negativos durante a construção, ou sobrecargas de
paredes, peitoris e jardineiras, correspondem a um procedimento gerador de fissuras no
revestimento.
Para a correção, é recomendada a utilização de uma tela em toda a extensão dos útimos
pavimentos e nas junções da alvenaria com as peças estruturais, tendo em vista tornar mínima
a insidência de novas fissurações.
4.2. Manchas de umidade
Na construção civil, as patologias mais recorrentes são causadas pela ação da agua ou da
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umidade. Esses defeitos construtivos podem gerar problemas, algumas vezes graves e de
difícil solução.
O mofo ou emboloramento é uma alteração observável macroscopicamente na superfície
(manchas) de diferentes materiais, sendo uma consequência do desenvolvimento de micro-
organismos pertencentes ao grupo dos fungos (YAZIGI, 2009:517).
Maia Neto, Silva e Carvalho Júnior (1999:5) relatam que as manchas de umidade:
Normalmente provocadas pelas infiltrações de água, devido a sistemas de
impermeabilização deficientes, as manchas podem se manifestar sob forma de
eflorescências, bolor (manchas esverdeadas ou escuras, comuns em áreas não
expostas à insolação) ou mudanças de tonalidade dos revestimentos. Frequentemente
estão associadas aos descolamentos, à desagregação dos revestimentos e à má
aderência entre camadas distintas de revestimentos.
As manchas marrons, geralmente, ocorrem devida á ferrugem (BAUER, 1996:15). É possivel
verificar na Figura 6, uma mancha marrom no pé do pilar. Esta patologia está localizada no
subsolo do empreendimento, onde normalmente já é um local com pouca ventilação e
nenhuma incidencia de iluminação solar, sendo então um ambiente constantemente umido.
Sabe-se que estas paredes estão em contato direto com o solo, o que se pode constatar que a
patologia apresentada é oriunda de infiltração por capilaridade.
Figura 6 – Mancha de umidade – Subsolo/Garagem
Fonte: Autor (2017)
Bauer (2008:924) conta que os materiais de construção absorvem água na forma capilar
quando estão em contato direto com a umidade. Isso ocorre geralmente nas fachadas e em
regiões que se encontram em contato com o terreno e sem impermeabilização.
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O mesmo autor também afirma que os revestimentos frequentemente estão sujeitos á ação da
umidade e de microorganismo, os quais provocam o surjimento de algas e mofo, e o
consequente aparecimento de manchas pretas ou verdes (BAUER, 1996:15).
Para o reparo, devem ser sanadas todas as infiltrações, e no caso de existirem micro-
organismos, proceder à lavagem com solução de hipoclorito. Todo material solto deve ser
retirado, por meio de escovação e lavagem, e o revestimento deve ser totalmente seco
(CAPORRINO, 2015:80).
Também foi identificada a presença de manchas esverdeadas na platibanda do edifício (Figura
7), para Caporrino (2015:79), manchas as quais se apresentam em regiões expostas á umidade
constante podem ser agravadas nos casos destas áreas não estarem expostas ao sol. A
patologia foi identificada na fachada sul da edificação, que na localidade de Içara, não possui
incidência solar direta.
As manchas também podem ser causadas pela contaminação atmosférica. Para Bauer
(2008:928), o principal responsável por este fenômeno é a poluição atmosférica, que pode ser
classificada em poluentes naturais ou biológicos, e resíduos provenientes de indústrias.
Figura 7 – Mancha de umidade – Cobertura
Fonte: Autor (2017)
Para a correção, é necessária a limpeza com solução de hipoclorito, e renovação da pintura
externa da edificação. Para que este problema não volte á acontecer, deverá ser feita
esporadicamente a limpeza da superfície exposta á umidade constante e aos resíduos de
poluição atmosférica.
4.3. Descolamento com pulverulência
Esta patologia é identificada quando o reboco se desagrega ou se esfarela com facilidade e
acontecem em revestimentos com o acabamento em pintura. Ocorre quando: há um excesso
de finos nos agregados, traços pobres em aglomerantes ou ricos em cal.
Bauer (2008:905) relata que uma das principais causas do problema corresponde ao tempo
insuficiente de carbonatação da cal existente na argamassa, principalmente quando se aplica
pintura sobre o revestimento em intervalo inferior a 30 dias.
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Caporrino (2015:91) destaca que as principais causas são o excesso de finos nos agregados,
traços excessivamente ricos em aglomerantes e cal, ausência de carbonatação da cal, e camada
expeça de reboco.
Na Figura 8, é possível identificar tal patologia. O reboco está com pouca resistência, e se
esfarela ao ser friccionado. A tinta está descascada e junto com ela, leva parte do reboco
enfraquecido.
Figura 8 – Descolamento com pulverulência – Subsolo/Garagem
Fonte: Autor (2017)
O excesso de finos no agregado provoca uma absorção da água da argamassa maior do que a
adequada; assim sendo, os aglomerantes não reagem totalmente, tornando a argamassa
pulverulenta (CAPORRINO, 2015:91).
Como reparo é recomendado à retirada de todo o revestimento afetado, e a renovação
completa do mesmo.
4.4. Vesículas
Para Caporrino (2015:83), a presença de umidade pode provocar vesículas com umidade em
seu interior. A umidade causa a expansão dos componentes do revestimento, ocasionando as
bolhas, conforme apresentado na Figura 9.
Analisando a patologia, que foi encontrada no pavimento de cobertura, é possivel apontar que
ocorreram problemas originados pela cal hidratada, pois é possível verificar a presença de
pequenos pontos no revestimento, que foram inchando e acabaram destacando a pintura e
deixando o reboco aparente.
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Figura 9 – Surgimento de vesículas
Fonte: Autor (2017)
As vesículas surgem, geralmente, no reboco e são causadas por uma série de fatores, como a
existência de pedras de cal não completamente extintas, matérias orgânicas contidas nos
agregados, torrões de argila dispersos na argamassa ou outras impurezas, como mica, pirita e
torrões ferruginosos (BAUER, 2008:920).
Para os autores Maia Neto, Silva e Carvalho Júnior (1999:5):
As vesículas (pontos estourados no revestimento) se manifestam através do
empolamento da pintura podendo ser brancas (devido a hidratação retardada de
óxidos de cálcio presentes nas argamassas com cal), pretas ou vermelho
acastanhadas (associadas a má qualidade da areia, basicamente quando esta
apresenta pirita, matéria orgânica ou concreções ferruginosas que, ao oxidarem,
promovem reações expansivas).
A região do revestimento que apresenta vesícula não pode ser readquirida. Para o reparo, é
necessária a renovação da camada de reboco, e a suspensão de toda a umidade. Caporrino,
(2015:83) ressalta que se deve proceder á remoção de todo o revestimento afetado e refazê-lo.
No entanto, caso haja presença de umidade, esta tem que ser totalmente sanada e a região
completamente seca antes de qualquer procedimento.
5. Causas e Reparos das Manifestações Patológicas
Como já foram descritos nos itens anteriores, as prováveis causas e reparos das manifestações
patológicas encontradas no residencial estão resumidos na Tabela 2, para uma melhor
compreensão.
Manifestação Patológica Provável Causa Provável Reparo
Mapeada Retração da argamassa.
Completa remoção do revestimento
afetado. E renovação do
revestimento e da pintura.
Retração por Secagem Retração de secagem, ineficiência É necessário executar a abertura de
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edifício residencial na cidade de Içara
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ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 9, Edição nº 15 Vol. 01 julho/2018
das juntas, retração excessiva e
cura ineficaz.
sulcos sobre a fissura existente, em
seguida, deverá ser aplicado um
selante acrílico na abertura feita, e
aguardar a completa secagem da
fissura selada. Após seca, será feita
a aplicação de um
impermeabilizante acrílico, e uma
segunda demão com
impermeabilizante estruturado em
tela de poliéster.
Movimentação de Estrutura
Pela movimentação do balanço, e
pela ausência de ferro de
amarração ou a deficiência no
chumbamento entre a alvenaria e a
estrutura.
É recomendada a aplicação de uma
tela em toda a extensão dos últimos
pavimentos e nas junções da
alvenaria com as peças estruturais.
Fissura Horizontal
Variação térmica diária e ocorre
nas áreas que recebem insolação
constante e expansão da argamassa
de assentamento por hidratação
retardada do óxido de magnésio da
cal, reação cimento-sulfatos ou
devido á presença de argilo-
minerais expansivos no agregado.
O revestimento deverá ser refeito,
utilizando materiais que tenham a
capacidade de absorver pequenas
movimentações, como por
exemplo, revestimentos elásticos.
Mancha de Umidade
São causadas pela ação da agua ou
da umidade. Também podem ser
causadas pela contaminação
atmosférica
Devem ser sanadas todas as
infiltrações, e proceder à lavagem
com solução de hipoclorito.
Refazer a Pintura.
Descolamento com pulverulência
Há um excesso de finos nos
agregados, traços pobres em
aglomerantes ou ricos em cal.
É recomendado à retirada de todo o
revestimento afetado, e a
renovação completa do mesmo.
Vesículas
Existência de pedras de cal,
matérias orgânicas contidas nos
agregados, torrões de argila
dispersos na argamassa ou outras
impurezas.
É necessária a renovação da
camada de reboco, e a suspensão
de toda a umidade.
Tabela 2 – Relação de manifestações patológicas – Causas e reparos
Fonte: Autor (2017)
6. Conclusão
A fase de concepção do projeto é tão importante quanto á fase de execução, e é nela que se
encontram as diretrizes para a melhoria da qualidade das edificações e por consequência, a
redução das manifestações patológicas. Na atualidade, com o aparecimento de distintas
manifestações patológicas nas construções, deve-se incluir a importância dos estudos e do
entendimento das manifestações patológicas pelos profissionais da área técnica, visando
evitar o aparecimento de futuras patologias. O conhecimento da origem das patologias e dos
métodos para avaliação do desempenho dos revestimentos argamassados executados, são
importantes ferramentas para diagnosticar as causas das falhas destes revestimentos.
De acordo com os elementos observados e analisados, é possível concluir que as
manifestações patológicas notadas estão relacionadas à qualidade dos materiais, falhas na
Análise das manifestações patológicas encontradas nos revestimentos argamassados de um
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execução, e à falta de manutenção da edificação. As patologias avaliadas não trazem qualquer
risco aos habitantes da edificação, apenas um desconforto visual. Porém, caso não seja feita a
manutenção e o reparo destes problemas, eles poderão evoluir e então causar danos maiores.
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