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54 Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel
._
l J J ~ I J ? ~ R . ~
CONCEITOS
DE
L TERATURA
E TEORIA
L TERARIA
-
E HISTORIA
TEORIA CRiTICA
Nesta Unidade vamos
tent r
conceituar alguns termos largam ente
utilizados nos estudos de Iiteratura
que
voce, certamente, ja ouviu falar:
as
nocoes
de teoria, crftica e hist6ria
literarias.
Mas, antes de buscarmos
uma definicao particular para cada uma delas, e preciso nao esquecer
que
0
usa mais apropriado
que
podemos fazer dessas
nocoes
surge
quando as colocamos para atuar em em conjunto, formando,
assirn,
um
corpo de instrumentos conceituais fundamental para uma leitura mais
rica e integrada dos textos
literarios.
Entretanto,
0
fato de funcionarem
dequ d mente
numa
tu c o
conjunta nao implica que tenh am perdido sua autonomia como categorias
da
experiencia estetica.
E
e por essa
razao
que
sempre poderemos
buscar uma descricao de suas particularidades individuais. Mas quais
sao essas particularidades? Quais sao as caracterfsticas especfficas na
abordagem do fen6meno literario dessas
tres nocoes?
Inicialmente, devemos distinguir, para fins didaticos, no universo
dos rnetodos de es tudo e pesquisa literarias, as formas praticas das
formas te6ricas; sempre levando em conta que nao ha pratica sem teoria,
mesmo que
0
analista textual, ao exercitar seu trabalho,
desconheca
a
teoria que est usando. A crftica e a hist6ria fazem parte dos discursos
praticos,
isto
e,
dos discursos
que
aplicam
0
instrumental te6rico sobre
a criacao literaria, realizando, por exemplo, analises ternatico-estillsticas,
contextuais, comparativas das obras. A teoria literaria, por sua vez,
ao trabalhar com generalizac;6es e constantes universais.l se enquadra
1constantes universais - padr6es estruturais constantes, que se repetem com pequenas varlacoes
em diferentes obras ou generos literarios, permitindo assirn a formacao de modelos te6ricos. Por
exemplo: 0 final moralista da maioria das fabulas infantis.
.. '
'l
t
.
f
,t4
l t ~
y ..
~ i : ·
t ~ i ; :
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o
1
i \
U
id d
( ' 1< )
ru a e 55
na ordem dos discursos propositivos.? ou te6ricos, pois sistematiza,
descrevendo e analisando, os discursos praticos sobre a literatura .
A crltica aprecia, analisa, interpreta e julga, buscando e stabelecer
os sistemas de regras e valores de um texto
literario, avaliando os
sentidos e os efeitos da obra sobre
0
leitor. Como exemplo deste tipo de
discurso pratico, leiamos um trecho da resenha
No nfvel da pele,
sobre
a poetisa ilka Machado, presente no livro Poesia e desordem, do poeta
e professor de literatura Antonio Carlos Secchin:
o melhor da poesia de Gilka Machado situa-se
literalmente no nivel da pele, e ja e 0 bastante, e
nao se deve exigir-Ihe mais. Quando se empenha em
ampliar 0 leque referencial,
titubeia
nos surrados
cart6es-postais de
Samba
("Brasflea
morena/
parece
que 0 chao/ se move ao teu samba ) e de Bahia
("Toda a infinita feiticaria/ de teus encantos ),
Pretendendo
filosofar, alca
viio baixo
sobre
a
condicao
feminina
em "Ser
mulher ( ficar
na vida
qual uma aquia inerte, presa/ nos pesados qrilhoes
dos preceit os sociais") [... J A rigor, sua poesia nao se
aprofunda: discorre, multiplica-se, iguaL Mas e nessa
candente
reiteracao
do
desejo,
sob
todas
as formas,
que
reside a
torca maior
da obra de Gilka Machado.
(SECCHIN, 1996, p. 51)
A hist6ria enfatiza os aspectos
exteriores
do texto, podendo se
interessar
t nto
pela conjuntura sociopolftica, que liga a obra eo
utor
ao seu tempo, qu nt pelas conex6es do conteudo do texto com as
ideias,
sentirnentos e pensamentos do perfodo analisado. A analise
empreendida por Jose Ramos
Tinhorao
no livro
A music»
popular
no
romance brasileiro, no capitulo Machado de Assis e a romance burques,
e bern ilustrativa da pratica do discurso historiografico:
2 discurso propositivo - um tipo de discurso que formu la julzos, sentences a serem defen didas e
debatidas, que anuncia propostas conceituais.
i
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6 Teoria da literatura Fundamentos - Andre Gardel
Unidade 4
Enquanto
Jose
de
Alencar,
por
exemplo,
tao
integrado aestrutura socio-politlco-econornicadeseu
tempo quanta Machado de Assis, muitas vezes se
;.<
emaranhava em sua efusao
romantics,
acabando par
entrar em choque com
as novas
valores introduzidos
· . : l ~ : 1
pelo
capitalismo
industrial (vide
suas
crfticas as
.
especulacoes
financeiras e a preocupacao excessiva
pelo dinheiro), a novo
romancista
surgido em
1872
"
J
t.
I
discursos praticos
sobre
a l iteratura, se interessa pelas categorias
gerais
dos
fenornenos particulares,
nao
para prescrever
normas
de
atuacao, impor limites
a
critica,
a
visada hist6rica e
a
criatividade,
mas para
compreender
e organizar sistematica mente as diferenc;as e
semelhancas
da invencao literaria.Teorizando
sobre
0
genera
literario
conto, Massaud Moises, no livraA r i ~ o literaria - Prosa pode nos
apresentar
um exemplo
deste
tipo de discursopropositivo:
Oconto, portanto, abstrai tudo quanta, no tempo,
encerre irnportanciamenor,
para
sepreocupar apenas
com a
centro
nevralqico da
questao.
[...] 0 conto
caracteriza-separ ser objetivo,atual: vaidiretamente
ao ponto, sem
deter-se
em pormenores secundarios,
Essaobjetividade,observavel
ainda
noutros
aspectos
adiante examinados, salta
aos olhos
com as
tres
unidades:deacao,lugare tempo. MOISES,
198-,
p.23)
o
carninho,dessaforma,e de mao dupla:ateoriaeuma especie
de disciplina preliminar para os estudos praticos,e, ao mesmo tempo,
quer se deixar sempre reavaliar e corrigir em suas conclus6es e
prindpios, baseando-se nos avances da critica e da hist6rialiterarias.
Sugerimos nesse momenta algumas perguntas e reflex6es para uma
melhor
cornpreensao
do que foi ate
agora
exposto.
1. Voce jil deve ter ouvido, ou falado, varies vezes e x p r e s s g e ~ : ;
como: "aquela novela e um drarnalhao": "acabo de ler urn'
romance
de aventuras"; "achei 0 filme muito bonito,
multo
poetico"
etc. Voce consegue perceber que
esta teorizando
sobre
a obra de arte a que se refere? Que esta c1assificando,
encontrando
0
universal literario no particular, especificando
o genera ou estiloformal da obra? Explique
como
voceacha
que esse processoocorre.
2. Quando alquern pergunta avoce0 que
achou
de um Iivroe
sua resposta edo
tipo
"bom" ou"ruim", "fraco"ou "intenso",
"interessante" ou "chato", voce esta emitindo um juizo de
valor sobre aobra,voceesta sendo critico.Tente desvendar,
passo a passo em sua mem6ria, as causas que
0
levaram a
emitir tal juizo.Tente relaciona-laseextrairdissouma teoria.
3.
E
muito comum
as
pessoas
falarem
que
"gostavam muito
mais das musicas do passado", que "tal filme ea obra do
futuro",
que 0 livro retrata exatamente 0 nosso
presente"
e assim por diante. Existe um conceito de tempo embutido
nessas avaliacoes crlticas, um conceito hist6rico. As pessoas
estao fazendo
um estudo comparativoentre
modalidades de
artes
de tempos e
contextos
diferentes. Qual a importancia
que
vocevenesse tipo de consideracao?
Embora
saibamos
hoje que a perspectiva
inteqrada
ea
melhor
paraos
estudos
literarios, nem
sempre
essavisao norteou 0
pensamento
.
sobre
literatura
em nossa cultura. Pelo contrario. a hist6ria
moderna
da reflexao literaria," que tem inicio durante
0
periodo rornantico,?
3perspectivaintegrada - auniaodas tres
categorias
paraaanalisetextual:critica,hist6riaeteoria
literarias.
4reflexaoIiteraria- os diversos modes. tendencies, escolas.
correntes
do pensamento literario
moderno.
5periodo rornantico- periodo doRomantisrno,movimentoartisticoque cornecouna Europapor
volta de
1800
e
que
valorizavaa ernocao ea sensibilidadeacima da razao, em oposicao ao
racionalismoda
epoca
daRevolucao Francesa.
J
j
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r
l
58 Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel
mostra que
essas
nocoes se alteraram em diferentes
momentos
na perspectiva dos estudiosos, que volta e meia tentaram
impor 0
fundamento
individual de cada uma delas como sendo
0
mais
importante
para as artes textuais. Que tal tentarmos apreender os
principais
momentos
das modificacoes sofridas pela teoria, hist6ria e
I
crftica literarias na Modernidade?
f;t:;
Na
etimologia
da palavra critica, encontramos um de seus
t\(
iJ
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:: .
.
Unidade4
61
60 Teoriada Literatura:Fundamentos- AndreGardel
'fig
$
"
f
Dai
terem
surgido
autores quejuntam
as funcoes de criadores
e criticos, os escritores-criticos,
buscando
estabelecer seus pr6prios
principios e valores individuais, expressos em suas
obras
e
estudos
criticos. E,tambern, um
genero
literario novo, a
escrltura,
que
tenta
aproximar numamesmarealidadetextualcriticae criacaoliterarias.Um
I
trecho
da
obra
do
poeta
ecrltico mexicano
Octavio
Paz
(1914-1998).
I
: ; ~ : :
extraidodeseu livro0
area
e a
lira
no capitulo
Poesia
e
poema
pode
~ ? f ,
servirde exemploparauma
pequenaapresentacao
do
que
vema
ser0
· : ~ : t l
j ~ ; ~ \
qenero
escritura:
1if1
A
poesia
e
conhecimento,salvacao, poder, abandono.
Operacao
capazdetransformar
0
rnundo,aatividade
poetics
e
revolucionaria por natureza; exerdcio
espiritual,
e
um metodo de libertacao interior.
A
I
oesia
revela
estemundo;criaoutro.
Pao
doseleitos;
iii': /'
alimento maidito. Isola; une.
Convite a
viagem;
i ~ i
regresso
a
terranatal.
lnspiracao,
rospiracao.exerdcio
muscular.
Suplica
ao
vazio,
dialoqo comaausencia,
e
alimentadapelotedio, pelaanqustia epelodesespero.
PAZ, 1982,p.15)
Vamosamaisuma rodadade perguntas? Sempreebomavaliarmos
nossa compreensaodiantedos muitos conceitos
que
estamostratando,
nao?
" . "
. ,.
;.''''
; : > F ' · · · , · ; ~ : y . r - · · i l \ . n :
~ - - { ~ : ~ ; \ : : : ' _ . ~ ' ~ : ' .
"
\ ' ~ C - ' : : ' ( t f \ : ' t ' ; ' ; ' ~ ~ t : ' / I ' '-',
1. V o c ~
acha
que
a'crftica'deve
impor
um sistema
de
norrnase
. \, ,', . f . · : : ; ; : ~ : . 1 ' : : . , , , , , ~ ' 1 , , .. , . , i i \ ' _ ~ · c ~ , · / , , , - · , ~ . ' ""
valores
predetermlnadose
imutaveis
que
osescritoreseleitores
que
seguira r i s c a ? E X p l i q u e s ' ~ a ' r e ~ p o s t ~ ; ; ' f > i , ~ ; , , ~ ~ ; \ , i { f ' : .
. . . \ . :/ '1·,'
. ; < , - · ~ · i , j ~ t ~ ~ : : · ~ t ~ \ : A l ; , J . l ; : : ~ : : ~ ·
2. De
quemodo0
Romantismorornpeu
comasregrase'modelos
, . " j ~ 0 4 : , :
.
dassicos?Fale
sobre
airnportancia,paraacrlticafnoderna,
de
conceitos
como
novidadee
o r i g i n a l i d a d e ~ . ; ; . L ; ; i ~ , : \ : : ~ : i C ~ c
3. Voce acredita
que
exista uma neutrali dade"de.··lir1guagem
crftica,
que
possa haver urn discurso
r e a l m e n t ~ ' c i e n t f f i c o ,
- sem qualquer interferencla pessoal do autor .rias analises
empreendidasnessediscurso? Explique.. :.,;.;;
4. Ao
retomarem
explicitamente a
nocao
de julzo de valor, os..
escritores-criticos criam
suas
pr6prias
tradicoes
literarias'
fundadasa partirdesuasteoriasecriterioscriticosparticulares
. .
A
verdade
literaria
torna-se,
com isso, relativa.Desua
opiniao
sobre0 assunto.
Bem,
agora
vamospassar
para
a
outra
forma pratica
dosestudos
e pesquisas literarias, a hist6ria, tentando localizar as rnodulacoes
que
a
nocao
sofreu na Modernidade. Pode-se dizer
que
a consciencia
hist6rica dosfen6menos humanosfoi a rnudancamais radical ocorrida
no terreno do
conhecimento
duranteaIdadeModerna. Umasucessao
de
acontecimentos
encadeados
em causae efeito de
modo
linearou
cronol6gico,com principio e meio
conduzindo
a umafinalidade,foia
16gicapositiva
comum
aos
rnetodos
das ciencias
que
se consolidaram
no seculo
XIX,
a 16gica da hist6ria. E
e
durante esse periodo que a
hist6ria literaria se firma
como
disciplina academica, presa ainda ao
forte
teor
positivista?
da historiagerale da
filoloqia.!?
o
que significa isso? Que a historiografia literaria. em seus
prim6rdiosacademicosmodernos,
chamada
de historicismo,em Iinhas
gerais
propunha:
•
que
0 aspecto
extrfnseco da
obra
-
0
contexto, os
dados
exteriores
a
experiencia da lei tu ra - se impusessem aos
fatores
intrfnsecos,
ao texto
emsiea
sua
leitura;
•
que 0
historiador
abandonassequalquer
vestigio
de opinlao
'
de seu
presente
hist6ricoe reconstruisseos fatos, 0 espfrito,
os padr6esda epoca
estudada,
mergulhandoimaginariamente
no tempo em que a obra surgiu, para recuperar 0 sentido •
pretendido
pelo
autor; !I'
9positivista - expressao que advern do termoPositivismo,doutrina filos6fica formulada por
Augusto
Comte (1798-1857)
que pregaa necessidadedea sociedade
C 0
espfrito chegarem
ao estado positive,atingido parum ordenamentocientificodo mundo,par meiodo metoda
experimental.
10flloloqia- 0 estudocientlficododesenvolvimentode urnalinguaau de.familiasdeIinguas,em
especialapesquisadesuahist6riamorfol6gica efonol6gicabaseadaemdocumentosescritosena
crfticadostextos redigidosnessas Iinguas(porexemplo, filologialatina,filologiagermanicaetc.).
}
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r 7
<
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Teoria da Literatura:
Fundamentos
- Andre
Gardel
• que
0
historiadorse prendesse a datas, titulos, a quadros
sociais e culturais, reconstituisse biografias, se atendo a
rigorosos principios de causalidade, objetividade, sucessao
mecanica.t'progresso, ea uma exaustivapesquisa defontes
e influencias,
Vamosdarumexemplodeumtipode criticaquese aternadados
biogrMicosepsicol6gicosdo autor, portantoaaspectosextrinsecosda
obra,
paraexplicaralguns elementosde
composicao
desuas
producoes
ficcionais,caindo num determinismo bemcomum acriticahistoricista.
Podemos notarcomo Mario Matos, em seu livro Machado de Assis:
o homem e a obra. as personagens explicam 0 autor recorre a um
possivel temperamento timido de Machado de Assis para explicar0
aparecimento insistentedos tipos "cacetes, osparasitas, ospoetastros,
osfalhados enfim" nassuasobras:
Homem tfmido eassustado, como setemdito
muitas
vezes,denervos irritaveis,muito delicado parapoder
ser franco, contendo-se
sempre
para
nao
ferir a
sensibilidade
alheia, Machado
de
Assis
sofria porisso
e,afim deevitar aborrecirnentos, fugia doconvfvio
de seus semelhantes.Com tal tempera
mento,
ede ver
omedoque tinha deimportunes. Em seuscontose
romances desforra-se deles. Ha umgruponumeroso
de cacetes em sua literature.
Cacetes,
parasitas,
~ o s d o r e s
demoteeoradoresabortados.
Ea
influencia
dorecalque. (MATOS, 1939apud
BaSI
etal,1982, p.353)
te
aquitudo bem? Vamosamaisalgumasperguntas?
Unidade
4
63
2. Voceacha que epossivelisolar,na analise de uma obra ;{t:
aspectos extrinsecosdos textuais?
au 0
objeto
literario deve' .
recebersemprea
atencao
principal,eapartirde nossaleitura
investigarmos a conjuntura em que surgiu, dando maior ou
menorenfaseaesseaspecto?
3. a historiadorconseguesedespojartotalm entedaperspectiva
desua
epoca
presenteparamergulharna realidadedo tempo
emque a obra analisadafoiconcebida?
E
valida talpostural
Comente0 assunto.
Essequadro corneca a mudarja no infcio do seculo XX, com 0
surgimentodosestudosimanentistas,12 cujasprincipaiscorrentesforam
o Formalismo,13 0 Estruturalismo t e a Semictica.l> Quala diferenc:;a
basica
dessas teorias em
relacao
as leis historicistas?
as
estudos
imanentistas privilegiam 0 estudo do texto sobre 0 contexte;
privilegiamainda, naanalisedos escritosdo passado, a perspectivado
presentedocritico,ao
inves
datentativade
reconstituicao
doambiente
em que foi concebida a obra ou de uma recuperacao da intencao
originaldo autor, emoutr as palavras,0 imanentismo privilegia avisao
critica
slncronica "
sobreadiacronica."?
As primeiras
influencias
positivas na historiografia literaria
contemporanea,
ap6s a
modulacao
do pensamento historicista para 0
imanentista, se refletem em algumas mudancas de foco, como, por
exemplo, quandoa criticapassa aafirmar
0
entrelacarnento inevitavel
12imanentista- qualquersistemade
pensamento
noqualuma concepcaode
lmanencla ocupe
uma dirnensaofundamental.Irnanenciaeaqualidade do que pertenceasubstan ciaou essencia
iii
;?
de algo, a sua interioridade,em
contraste
com aexistencia,realou ficticia,de uma dirnensao
1. a que voce entende por consciencia hist6rica?
as
valores
externa.
eternos eimutaveiscabem dentro deste conceito? Explique.
13formalismo- no pensarnentoestetico,saoasdoutrinas
que
priorizamas formasartistic asaos
conteudos-Especificamente, estamos falandodo Formalismo russo, jilabordado naUnidade1.
14 estruturalismo- teor ia
segundo
a qual
0
estudo de uma categoriade fatos deve enfocar
especialmente
asestruturas, em
que
ha.
portanto
apredorninanciada estruturado sistema
sobre oselementos.
15semi6tica- teoriageraldasrepresentacoes.que levaem
conta
ossignossob todas asformas
ernanifestacoesque
assumem
(linquisticasou nao),
11sucessaornecanica- em
que
hilumasequenciadefatos organizadosdemodo adar urnaideie
16sincrcnica- dizrespeitoacertofato, dentro daevol ucaohist6rica, tomado para estudo.
departespadron izadaspara se
chegar
aum fim,auma
unidade
coerente.
17diacronica- dizrespeitoao
estudo
dasequencia dos fatos hist6ricosaolongodo tempo.
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. ,
-,
I
64
Teoria da Literatura: Fundamentos - Andre Gardel
Unidade 4 65
entre a historia e os criterios de valor do historiador e de seu tempo; ou,
ainda, quando aceita 0 jogo de oposicoes e sinteses da historia literaria
fundada em estilos de epoca, modelo critico que relaciona caracterfsticas
externas ( epocas) a
elementos
constitutivos i nternos (estilos)
das obras.
o filosofo alernao riedrich
Nietzsche
(1844-1900), na segunda
de suas Considerecoes Extemporenees de titulo Da utilid de e
desvantagem da histone para a vida nos
ajuda
a entender 0 que vem
a ser a visada sincr6nica:
0
conhecimento do passado, em todos os
tempos, so e desejavel quando esta a service do presente, quando
ele desenraiza os germes fecundos do futuro. NIETZSCHE apud
PERRONE-MOISES,
1998,
p. 22)
A historia li tera ria, alem do mais,
tem
por objeto um tipo de
discurso (0 literario) que se atualiza a
cada
leitura, os fatos esteticos
voltam a acontecer revigorados, refeitos pela otica
presente, toda
vez
que algum
leiter, de
qualquer epoca, Ie
ou rele
uma
obra. Assim, os
ideais de sucessao, Iinearidade, cronologia do antigo historicismo
cedem lugar a simultaneidade dos momentos do passado,
uma
nova
percepcao de tempo em que 0
presente
requalifica e reordena a
tradicao literaria, que passa a ser vista
como
um corpo em constante
rnutacao: a cada novo recorte critico que sofre, a cada nova obra
lancada e incorporada, a cada nova experiencia de leitura realizada.
Como
exemplo
dessa revisao crltica da
tradicao pelaotica
ccnternporanea, podemos citar a
postura do poeta
e crltico paulista
Augusto de Campos, ao se referir a famosa polemics
sobre
a questao
do plaqio na obra do poeta barroco baiano Gregorio de Matos,
presente no texto Da America que existe: Gregorio de Matos do livro
Poesia antipoesia antropofagia. Augusto defende a tese
de
que nada
pode inibir
0
prazer de nossa leitura
contemporanea
daqueles textos do
passado, independentemente de
sua autenticidade
ou nao:
Sempreentendi que a eterna, adiada e insoluvel
querela dos eruditos sobre 0 que ee 0 que nao ede
Gregorio de Matos nao deveria inibir a
r u i ~ o
e
0
estudo dos textos que levam 0 seu nome. Que
as investiqacoes de paternidade continuem a se
processar, com a lentidao cabfvel, pelas autoridades
cornpetentes, contanto que nao nos venham opor
embargos e proleg6menos a apreciacao da "poesia
da epoca chamada Gregorio de Matos" como tao
bem a batizou James Amado. CAMPOS, 1978, p. 91)
Mais uma parada para retomarmos 0 fio
da
meada conceitual em
que
estamos
nos
lancando? Vamos
a novas perguntas?
1.
0
que significam
estudos imanentistas? Como
as
correntes
Iigadas
a essa perspectiva
tiveram influencia
sobre a
confiquracao
contemporanea da historiografia llterariaj :
2. 0 que voce entendeu por visada sincronica? Voce concorda
com 0 filosofo Nietzsche de que 0 passado so e desejavel a
service do
presente,
projetando ja leituras
futuras?
3.
Como
a
tradicao
literaria passa a
ser
reordenada
pelas
obras
e
crfticas
emitidas
no presente?
4. Voce acha que uma obra literaria renasce a cada nova leitura?
Na sua opiniao, como tal processo ocorre?
A
teoria
literaria
organiza
e torna explfcitos os
pressupostos
utilizados pelos discursos praticos sobre a literature. que sao, como
ja vimos, a crftica e a historia literarias. Concebe princfpios, categorias,
criterios, qeneralizacoes universais,
tentando
abarcar, num conhecimento
I
sistematizado, um conjunto de metodos reciclaveis que possibilite
diferentes
analises
do
fen6meno literario, Portanto,
nao
e prescritiva ou
normativa, especulativa ou abstrata, mas analftica e descritiva.
A oetics de Aristoteles e 0
modelo
mais antigo de
teoria
da
literatura, ja
que
busca
encontrar
categorias gerais em obras
particulares, com um ponto de vista que se queria universal. No
entanto, por ser essencialmente prescritiva, emitindo regras doqrnaticas
com funcocs
normativas, nao
se
enquadra
na concepcao descritiva
!
j
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¥
, . ~ .
66 TeoriadaLiteratura:Fundamentos- AndreGardel
moderna de teoria da literatura.Afora isso.codificava seu discurso a
"
partir da literatura em simesma, nao dos estudosou das pesquisas
literarias,
produzindo normasevalores rfgidos.
I
I
A
teo
ria
literarla
serecicla
tanto
apartirdas
moduiacoes
dacrftica
f; .,.
eda historiografia,quantadedialoqos interdisciplinarese extraliterarios:
cornisso,dialeticamente,18disp6eeapresenta umconjunto instrumental
~ ~ l ;
ample que pode ser utilizado nas mais diversas analises, Daf seus
r.r.
"Iirnites ilirnitados".
nas palavras de Eduardo Portela
(1932-): A
:
estrutur c o polivalenteda Teoria literariae
0
recurso
queela
propria
encontra para ocupar 0 vasto territorio que Ihe corresponde.
(PORTELA, 1979, p.8)
Asperspectivas extraliterariasda
Teoria
aparecemquandopensamos
;Ii
oprincipio
poetico
da linguagememdiversossuportes expressivos
que
nao
apenas
0
livro;
ou,
quando
ampliamosnosso conceitode cultura,
abarcando a culturade massas, a folclorica ea popular. Asconex6es
comoutrasdisciplinasdesabercomoalinqulstica,ateoriada lnforrnacao,
a psicologia, a sociologia, a estatistica, entre outras, nos estudos
interdisciplinares, ajudam natarefaintegrada dateoria literaria.Missao
que, por sua vez,e, tarnbem,da literatura em geral: a valorizacao do
conhecimentodaexperienciahumana, adecifracaodosenigmasdo ser.
Paraterminarnossa explanacao,vamos responderamaisalgumas
perguntas sobre os
ultimostopicos
abordados?
1. 0
que significadizer
que
a
teo
rialiteraria
nao
e
prescritivaou
especulativa, massimanalfticae descritiva?
2. Em que aspectosa
oetic«
de Arist6teles se aproxima das
modernas
concepcces
deteoria
literaria
eemque outros
nao?
8dialeticamente- utilizando-sedodialoqo, discussao,arqumentacao.
~ - r ~ ; r
Unidade4 67
3. A partir de que tipos de
inteqracoes
e dialoqos a teoria
literariavemreestru turandosua reciclagemdisciplinar?
4. Voceacha que os estudos literarios tern como meta ultima
ampliar
0
conhecimentoda
experiencia
humana? Explique.
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