UNIVERSIDADE DE SO PAULO
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CINCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA HUMANA
___________________________________________________________________________
ANA PAULA CAMILO PEREIRA
ASAS DA CENTRALIDADE EM CUS CONHECIDOS:
A DINMICA EMPRESARIAL DO SETOR DE
TRANSPORTE AREO NO TERRITRIO
BRASILEIRO
(Verso corrigida)
So Paulo
2014
ANA PAULA CAMILO PEREIRA
ASAS DA CENTRALIDADE EM CUS CONHECIDOS:
A DINMICA EMPRESARIAL DO SETOR DE
TRANSPORTE AREO NO TERRITRIO
BRASILEIRO
(Verso corrigida)
Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Geografia Humana do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo, como requisito para obteno do Ttulo de Doutor em Geografia. Orientadora: Professora Doutora Sandra Lencioni
So Paulo 2014
Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meioconvencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Catalogao na PublicaoServio de Biblioteca e Documentao
Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de So Paulo
C183aCamilo Pereira, Ana Paula Asas da centralidade em cus conhecidos: adinmica do setor de transporte areo no territriobrasileiro / Ana Paula Camilo Pereira ; orientadoraSandra Lencioni. - So Paulo, 2014. 374 f.
Tese (Doutorado)- Faculdade de Filosofia, Letrase Cincias Humanas da Universidade de So Paulo.Departamento de Geografia. rea de concentrao:Geografia Humana.
1. estratgias. 2. setor de transporte areo. 3.capital empresarial. 4. territrio. 5. Brasil. I.Lencioni, Sandra, orient. II. Ttulo.
FOLHA DE APROVAO
Nome: CAMILO PEREIRA, Ana Paula
Ttulo: Asas da centralidade em cus conhecidos: a dinmica empresarial do setor de
transporte areo no territrio brasileiro
Tese apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Geografia Humana do
Departamento de Geografia da Faculdade de
Filosofia, Letras e Cincias Humanas da
Universidade de So Paulo, para a obteno do
ttulo de Doutor.
Aprovado em:
Banca Examinadora
Prof. Dr. _________________________ Instituio: ____________________________
Julgamento:______________________ Assinatura: ___________________________
Prof. Dr. _________________________ Instituio: ____________________________
Julgamento:______________________ Assinatura: ___________________________
Prof. Dr. _________________________ Instituio: ____________________________
Julgamento:______________________ Assinatura: ___________________________
Prof. Dr. _________________________ Instituio: ____________________________
Julgamento:______________________ Assinatura: ___________________________
Prof. Dr. _________________________ Instituio: ____________________________
Julgamento:______________________ Assinatura: ___________________________
Aos meus pais, pela vida marcada por nosso amor e companheirismo.
Ao meu pai Samuel, pela ternura do seu olhar, mesmo quando em silncio.
A minha me Eliana, pela fora e encorajamento de suas palavras, ainda que ela mesma
tivesse medo.
Ao Rafael, pela cumplicidade e pelo amor, pelo futuro que comea a ser construdo
juntamente com nosso Leonardo.
Agradecimentos
Se [ que] vi mais longe foi porque me apoie sobre ombros de gigantes (Isaac Newton).
Definitivamente esses ombros foram essenciais nessa trajetria.
Ao meu pai Samuel, minha me Eliana e meu irmo Junior, por acreditarem e apoiarem o
caminho que escolhi. Por compartilharem comigo "aquela" nova etapa, que no aconteceu
por acaso.
Ao Rafael, por acompanhar atenciosamente cada passo dado, ou melhor, cada palavra
escrita. Por inmeras vezes ter lido e relido os captulos, ajudado na cartografia, dado
sugestes, palpites e aconselhado que determinados caminhos eram sacrificantes, mas nicos
e recompensadores, por me incentivar quando dizia que meu "teco-teco um dia se tornaria
um A380".
minha tia Sirlei, meus primos Joo Henrique, Hetyene e Daniela, minha cunhada Evelin,
minha av Ditinha e minha tia Daiane, por serem meu conforto e completarem minha paz e
minha alegria a cada volta a Assis.
s minhas riquezas Eduarda, Maria Fernanda e Victria. Por me encherem de carinho, por
serem, cada uma a seu modo, um presente em minha vida e por, pacienciosamente, me
escutarem dizer "vocs precisam estudar".
Valria Ferreira, por nossa amizade que d to presente, esquecemos que estamos
quilmetros de distncia. Agradeo pela amizade verdadeira e compreensiva, pelos anos de
conversas e desabafos.
s amizades que ficam sempre guardadas na memria: Lgia Mota e Solange Rodrigues.
grata surpresa das amizades que fiz no Lergeo. Rita Nonato, Cristina Bergamin e
Andria Ajonas, amizades que de to agradveis tornaram esses quatro anos mais leves e
descontrados. Ao Ivanil Nunes, por uma leitura atenciosa do trabalho, pela ajuda sempre
cordial. Ao Wagner Constantino, por nossas inmeras discusses que atravessaram o oceano
e que reacenderam algumas anlises fundamentais para o trabalho. Ao Geraldo Valle, Andr
Baldraia, Regina Tunes, Isaque Sousa, Eudes Leopoldo, Marcos Castro e Osias Teixeira,
pelas discusses e debates nos colquios, sempre enriquecedores e estimulantes.
missionria Vernica que gentilmente cedeu sua casa para que eu pudesse morar em So
Paulo e tambm pela amizade e carinho de sempre.
famlia Lamoureux e a Professora Isabelle Hrail, por nos apresentar Frana pelas
viagens, paisagens, sabores e boas conversas.
Helosa Tozato e Guilherme Borges. Aos inmeros almoos, jantares, cafs e todas as boas
e divertidas conversas que tornaram nossos dias mais quentes no frio da Bretanha. Ao
Guilherme, pelas inmeras revises do francs e pela leitura dedicada do primeiro captulo.
Solen Le Clec'h, pela ajuda dedicada no francs.
Professora Lisandra Lamoso, por onde tudo comeou. Sou grata pelo seu incentivo e
ensinamentos que me fizerem arriscar e acreditar que novos caminhos eram possveis.
Ao Professor Mrcio Silveira, com quem aprendi que a dedicao o que nos permite
acreditar e realizar.
Professora Mnica Arroyo, pela atenciosa leitura no exame de qualificao, pela
participao em sua disciplina no Programa de Ps Graduao em Geografia da USP e
pelas sugestes e bibliografia indicada.
Ao colegas do Gedri (Grupo de Estudos em Desenvolvimento Regional e Infraestrutura). Em
especial ao Vitor Hlio, Bianca Nakamoto e Airton Aredes, pela amizade e ajuda sempre
recprocas.
Aos diretores das companhias areas e de rgos pblicos que me receberam gentilmente
para a realizao das entrevistas. Martha Seillier, Sheilla Faria, Marcelo Dezem, Victor
Rafael Celestino, Andr Amrico Mercadante, Alberto Fajerman, Jean-Claude Giblin, Yves
Fredon Roux e Eduardo Sanovicz.
Ao Professor Herv Thery, pela sua cordialidade francesa, pela ateno e carinho com que
nos recebeu em seu pas, por estar sempre disposto a me ajudar. Pela leitura do captulo final
e pelos contatos que permitiram a realizao das entrevistas com os diretores da Air France.
Professora Sandra Lencioni, pelo seu rigor cientfico e pela ateno dedicada ao longo
desses anos. A realizao desse trabalho se tornou prazerosa, no apenas porque pesquisei
aquilo que queria, mas porque tive a compreenso cuidadosa e sbia de suas palavras. A
orientao foi muito mais do que acadmica, foi tecido um lao de amizade que transcende a
realizao desse Doutorado. Agradeo tambm cada vez que escutei com apreenso a
seguinte frase que me dizia: "eu espero 'muito' do seu trabalho!"
Fapesp (Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo) pelas bolsas de estudo
concedidas ao longo do Doutorado no Brasil e na Frana.
No sei como o mundo me v; mas eu me sinto apenas como um garoto brincando na praia,
divertindo-me e de vez em quando encontrando um seixo mais liso ou uma concha mais
bonita que as comuns, enquanto o grande oceano da verdade repousa desconhecido.
O que sabemos uma gota, o que ignoramos um oceano.
(Isaac Newton)
RESUMO
CAMILO PEREIRA, Ana Paula. Asas da centralidade em cus conhecidos: a dinmica
empresarial do setor de transporte areo no territrio brasileiro. 374f. Tese (Doutorado em
Geografia Humana). Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de
So Paulo, So Paulo, 2014
O setor de transporte areo brasileiro apresenta uma dinamicidade socioespacial que est
relacionada atuao e s aes estratgicas desenvolvidas pelas companhias areas em
mltiplas escalas territoriais. Este trabalho se prope analisar e discutir as estratgias
empresariais no setor de transporte areo brasileiro considerando as principais companhias do
pas, pois so essas que empreendem uma constante dinmica a partir de aes estratgicas
que promovem a concorrncia e a competitividade, mas que tambm se consubstanciam por
estratgias de cooperao. Ao analisar a reproduo do capital empresarial, este trabalho
discute as estratgias de trs das principais companhias areas brasileiras que concentram a
maioria dos voos realizados no pas, sendo: a TAM Linhas Areas, a GOL Linhas Areas
Inteligentes e a AZUL Linhas Areas Brasileiras. Considerando a integrao entre a dinmica
do capital e a dinmica territorial, defendemos a tese de que h uma indissociabilidade na
relao entre as aes do capital empresarial em determinados territrios e aeroportos que
constituem o interesse das principais companhias areas brasileiras. O objetivo primordial das
empresas areas buscar e garantir um maior alcance do seu poder de atuao territorial.
Assim, essas aes estratgias so desenvolvidas para obter e deter o domnio, a supremacia
de expanso do poder territorial, da a constante necessidade de se promover acordos e
alianas com outras companhias. Diante dessa abordagem, somam-se elementos como: a
concorrncia, a competitividade, a cooperao, a distribuio das malhas areas e a definio
dos principais hubs aeroporturios, as concesses de aeroportos iniciativa privada e a
participao e influncia das aes do capital estrangeiro. Em sntese, esses elementos
constituem um conjunto de referncias para analisar e discutir as aes do capital empresarial
integrada busca por poder de atuao territorial.
Palavras-chave: estratgias, capital empresarial, dinmica territorial, setor de transporte
areo brasileiro
ABSTRACT
CAMILO PEREIRA, Ana Paula. The wings of centrality in known skies: entrepreneurial
dynamics in the air transport sector on Brazilian territory. 374f. Tese (Doutorado em
Geografia Humana). Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da Universidade de
So Paulo, So Paulo, 2014
The Brazilian air transport sector has socio-spatial dynamics that are related to the
performance and strategic actions developed by the airlines at multiple territorial levels. This
study aims to analyze and discuss the business strategies in the Brazilian air transport sector
considering the leading companies in the country, for these are the agents that engage in a
constant and relevant dynamic based on strategic actions that promote rivalry and
competition, but that are also supported by cooperative strategies. By analyzing the
reproduction of business capital, this work discusses the strategies of three Brazilian
companies that operate most flights in the country, namely: TAM Linhas Areas, GOL Linhas
Areas Inteligentes and AZUL Linhas Areas Brasileiras. Considering the integration
between capital dynamics and territorial dynamics, we defend the thesis that there is an
inseparable link between the effects of business capital and certain territories and airports,
which constitute the fundamental interests of the main Brazilian airlines. The primary
objective of these companies is to pursue and ensure an increase in their potential territorial
range. As such, these strategic actions are developed to obtain and hold the command, the
supremacy over the expansion of territorial power. It is this that gives rise to the constant need
to promote agreements and alliances with other companies. This approach is supplemented by
such elements as: rivalry, competition, cooperation, distribution of air networks, definition of
the main airport hubs, public concessions of airports to private companies, in addition to the
participation and influence of foreign capital. In summary, these elements constitute a set of
references to analyze and discuss the effects of business capital integrated with the search to
control territorial range.
Keywords: strategies, business capital, territorial dynamics. Brazilian air transport sector.
RSUM
CAMILO PEREIRA, Ana Paula. Les ailes de la centralit dans les cieux connus: la
dynamique des entreprises du secteur du transport arien dans le territoire brsilien. 374f.
Tese (Doutorado em Geografia Humana). Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas
da Universidade de So Paulo, So Paulo, 2014
Le secteur du transport arien brsilien prsente une dynamique socio-spatiale qui est lie la
performance et aux actions stratgiques dveloppes par les compagnies ariennes aux
diffrentes chelles spatiales. Ce travail se propose danalyser et de discuter des stratgies
d'entreprises dans le secteur du transport arien partir de grandes entreprises dans le pays,
puisque ces dernires mnent une dynamique constante d'actions stratgiques qui promeuvent
la concurrence et la comptitivit, mais qui incarnent galement des stratgies de coopration.
En analysant la reproduction du capital de l'entreprise, ce travail examine les stratgies de
trois des principales compagnies ariennes brsiliennes qui concentrent la majorit des vols
effectus dans le pays : TAM Linhas Areas, GOL Linhas Areas Inteligentes et AZUL
Linhas Areas Brasileiras. En considrant l'intgration entre la dynamique du capital et la
dynamique des territoires, nous dfendons la thse selon laquelle il y a un lien indissociable
entre les actions du capital des entreprises dans certains territoires et les aroports qui
constituent l'intrt des principales compagnies ariennes brsiliennes. L'objectif principal des
compagnies ariennes est celui de rechercher et de garantir une plus grande porte de son
pouvoir d'action territoriale. Ainsi, ces actions stratgiques sont dveloppes pour obtenir et
dtenir le domaine, la suprmatie de l'expansion du pouvoir territorial, d'o vient la ncessit
constante de promouvoir des accords et des alliances avec d'autres entreprises. cette
approche s'ajoutent d'autres lments tels que : la concurrence, la comptitivit, la
coopration, la distribution du rseau arien et de la dfinition des grandes hubs
aroportuaires, les concessions aroportuaires aux initiatives prives et la participation et
l'influence des actions du capital tranger. En somme, ces lments constituent un ensemble
de rfrences pour analyser et discuter des actions du capital des entreprises intgres la
recherche de la puissance de l'action territoriale.
Mots-cls: stratgies, capital d'entreprise, dynamiques territoriales, secteur du transport arien
brsilien
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Estrutura para definio dos conceitos de concorrncia e competitividade.................. 49
Figura 02: Distribuio geogrfica de receitas da LATAM Airlines Group (2012)......................... 90
Figura 03: Formas clssicas de centralizao do capital................................................................. 162
Figura 04: Brasil - Composio do controle dos aeroportos concedidos........................................ 289
Figura 05: Frana - Publicidade da AIR FRANCE sobre a companhia area regional HOP! (2013)................................................................................................................................................ 336
Figura 06: Frana - Malha area da companhia area HOP! (2013)............................................... 337
LISTA DE FOTOS
Foto 01: Modelos e especificaes de avies utilizados pela TAM Linhas Areas (1990 -
2012)............................................................................................................................................. 75
Foto 02: So Paulo - Outdoor da companhia area AZUL Linhas Areas Brasileiras nas proximidades do Aeroporto de Guarulhos/Cumbica (2012)........................................................ 151
Foto 03: So Paulo - Aeroporto de Congonhas (1960 e 2010) ................................................... 217
Foto 04: Rio de Janeiro - Aeroporto Santos Dumont (1970 e 2010) .......................................... 230
Foto 05: Frana - Avio Concorde exposto no Aeroporto Charles de Gaulle Paris/Frana (2013) .......................................................................................................................................... 305
Foto 06: Frana - Outdoor da empresa area AIR FRANCE sobre a companhia area regional
HOP! em Paris (2013) ................................................................................................................. 334
Foto 07: Frana - Outdoor da empresa area AIR FRANCE sobre a companhia area regional HOP! em Rennes e Brest (2013) ................................................................................................. 336
LISTA DE GRFICOS
Grfico 01: Brasil - Quantidade de avies e capacidade assentos por passageiro (pax) da
companhia area TAM Linhas Areas (1991 - 2010) ................................................................. 74
Grfico 02: Brasil - Passageiros (pax) transportados em voos domsticos (1990 - 2013).......... 105
Grfico 03: Brasil - Passageiros (pax) transportados em voos internacionais pela TAM
Linhas Areas (1997 - 2013) ....................................................................................................... 113
Grfico 04: Brasil - Passageiros (pax) transportados em voos domsticos pela GOL Linhas
Areas Inteligentes (2001 - 2013) ............................................................................................... 136
Grfico 05: Brasil - Passageiros (pax) transportados em voos domsticos pela AZUL Linhas
Areas Brasileiras (2008 - 2013) ................................................................................................. 153
Grfico 06: Brasil - Passageiros (pax) com origem/destino no Aeroporto de Viracopos (2000
- 2013) ............................................................................................................................. ............ 154
Grfico 07: Brasil - Ligaes areas diretas por aeroporto e empresa area (2013)................... 156
Grfico 08: Brasil e Mundo - Passageiros (pax) em rotas domsticas e internacionais nos
principais aeroportos brasileiros (2013) ...................................................................................... 180
Grfico 09: Mundo - Movimentao operacional (embarque e desembarque) no Aeroporto de
Guarulhos/Cumbica (2003 - 2013) .............................................................................................. 191
Grfico 10: Brasil - Percentual de participao por empresa area no total de passageiros transportados em voos domsticos no Aeroporto de Guarulhos/Cumbica (2013)....................... 193
Grfico 11: Brasil - Percentual de participao por empresa area no total de passageiros
transportados em voos internacionais no Aeroporto de Guarulhos/Cumbica (2013)................... 198
Grfico 12: Brasil - Fluxo de cargas (domstico e internacional) no Aeroporto de Viracopos (2005 - 2012) ............................................................................................................................... 205
Grfico 13: Brasil - Percentual de participao por empresa area no total de passageiros
transportados em voos domsticos no Aeroporto de Viracopos/Campinas (2013)................. 207
Grfico 14: Brasil - Percentual de participao por empresa area no total de passageiros
transportados em voos domsticos no Aeroporto de Congonhas (2013)..................................... 221
Grfico 15: Brasil - Passageiros na ponte-area Rio-So Paulo e outras ligaes com origem/destino no Aeroporto Santos Dumont (2008 - 2013)....................................................... 228
Grfico 16: Brasil - Percentual de participao por empresa area no total de passageiros na
ponte-area Rio-So Paulo (2013) ............................................................................................... 232
Grfico 17: Brasil - Passageiros (pax) transportados em voos nacionais no Aeroporto Galeo e no Aeroporto Santos Dumont (2008 - 2013)............................................................................. 233
Grfico 18: Brasil - Percentual de turistas estrangeiros por continente que chegam ao Rio de
Janeiro pelo Aeroporto Internacional do Galeo (2011).............................................................. 238
Grfico 19: Brasil - Passageiros (pax) transportados em voos internacionais e nacionais no
Aeroporto do Galeo (2008 - 2013) ............................................................................................ 241
Grfico 20: Brasil - Percentual de participao por empresa area no total de passageiros transportados em voos domsticos no Aeroporto Galeo (2013) ................................................ 242
Grfico 21: Brasil - Percentual de participao por empresa area no total de passageiros
transportados em voos domsticos no Aeroporto de Braslia (2013) .......................................... 249
Grfico 22: Brasil - Percentual do total de passageiros transportados em voos internacionais nos Aeroportos de Braslia, Galeo, Guarulhos/Cumbica e Viracopos (2013)............................ 251
Grfico 23: Brasil - Percentual do total de passageiros em voos nacionais e internacionais no
Aeroporto de Braslia (2008 - 2013)............................................................................................ 253
Grfico 24: Brasil - Passageiros (pax) em voos nacionais e internacionais (2003 - 2012)......... 281
Grfico 25: Brasil - Movimentao operacional de avies (2003 - 2012)................................. 282
LISTA DE MAPAS
Mapa 01: Brasil - Malha area domstica da companhia TAM Linhas Areas (2013) ................. 92
Mapa 02: Mundo - Malha area internacional da companhia TAM Linhas Areas (2013)................................................................................................................................................ 93
Mapa 03: Brasil - Malha area domstica da companhia GOL Linhas Areas Inteligentes
(2013) ....................................................................................................................... ........................ 125
Mapa 04: Mundo - Malha area internacional da companhia GOL Linhas Areas Inteligentes
(2013) ............................................................................................................................................... 126
Mapa 05: Brasil - Malha area domstica da companhia AZUL Linhas Areas Brasileiras
(2013) ............................................................................................................................................... 158
Coletnea de Mapas 01: Brasil - Fluxos de passageiros e ligaes areas (2013)......................... 188
Mapa 06: Mundo - Pases com companhias areas membro da STAR ALLIANCE (2013)............. 318
Mapa 07: Mundo - Pases com companhias areas membro da ONEWORLD (2013).................... 323
Mapa 08: Mundo - Pases com companhias areas membro da SKYTEAM (2013)........................ 326
LISTA DE QUADROS
Quadro 01: Sntese referencial sobre os conceitos de concorrncia e competitividade.................. 54
Quadro 02: Sntese sobre os processos de centralizao e concentrao do capital....................... 63
Quadro 03: Sistematizao das principais estratgias da companhia TAM Linhas
Areas.................................................................................................................... ........................... 95
Quadro 04: Sistematizao das principais estratgias da companhia GOL Linhas Areas
Inteligentes............................................................................................................................. ........... 131
Quadro 05: Sistematizao das principais estratgias da companhia AZUL Linhas Areas Brasileiras...... ............................................................................................................................. ..... 165
Quadro 06: Brasil - Companhias areas estrangeiras em operao no Aeroporto de
Guarulhos/Cumbica (2014) ............................................................................................................. 194
LISTA DE TABELAS
Tabela 01: Brasil - Evoluo do trfego de passageiros no Aeroporto de Congonhas (1941 - 2010) ............................................................................................................................................ 216
Tabela 02: Brasil - Nmero de passageiros nas principais rotas com origem/destino no Aeroporto de Congonhas (2008 - 2013) ...................................................................................... 225
Tabela 03: Brasil - Preo mdio da passagem area para o Aeroporto Santos Dumont e Aeroporto Galeo (2013) ............................................................................................................. 240
Tabela 04: Brasil - Nmero de empresas areas (nacional e internacional) operantes por aeroporto (2010 e 2013) .............................................................................................................. 282
Tabela 05: Brasil - Resultados financeiros por aeroporto em Reais (2010 - 2011)..................... 283
Tabela 06: Brasil - Composio de outorga dos aeroportos brasileiros...................................... 286
Tabela 07: Investimentos infraestruturais nos aeroportos concedidos (at a Copa de 2014)...... 291
Tabela 08: Mundo - Modelo, fabricante e quantidades de aeronaves utilizadas pelas principais empresas areas low cost europeias (2013)................................................................. 338
Tabela 09: Mundo - Principais low cost/low fare em funo do nmero de passageiros (2005 e 2011) ......................................................................................................................................... 340
LISTA DE SIGLAS
Abear Associao Brasileira das Empresas Areas
Abetar Associao Brasileira das Empresas de Transporte Areo Regional
ADR American Depositary Receipt
Anac Agncia Nacional da Aviao Civil
AGS Aliana Estratgica Global
Apro Acordo de Preservao de Reversibilidade da Operao
BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social
Cade Conselho Administrativo de Defesa Econmica
CBA Cdigo Brasileiro da Aeronutica
CCPAI Comisso Coordenadora de Projeto Aeroporto Internacional
Conac Conferncia Nacional da Aviao Comercial
CVM Comisso de Valores Mobilirios
DAC Departamento da Aviao Civil
Daesp Departamento Aerovirio do Estado de So Paulo
Embraer Empresa Brasileira de Aeronutica
Fapesp Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo
Fnac Fundo Nacional de Aviao Civil
GMF Global Market Forecast
Iata International Air Transport Association
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
IED Investimento Externo Direto
Infraero Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroporturia
Ipca ndice Nacional de Preos ao Consumidor Amplo
Ipea Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada
NYSE New York Stock Exchange
Pax Passageiros
PIB Produto Interno Bruto
PND Programa Nacional de Desestatizao
PPP Parceria Pblico-Privada
Regic Regio de Influncia das Cidades
RPK Passageiro Quilmetro Pago Transportado
SAC Secretaria da Aviao Civil
Selic Sistema Especial de Liquidao e de Custdia
Sitar Sistemas Integrados de Transporte Areo Regional
TEP TAM Empreendimentos e Participaes
UnB Universidade de Braslia
VARIG Viao Area Rio Grandense
VASP Viao Area So Paulo
SUMRIO
INTRODUO................................................................................................................. 23
1. CONCORRNCIA, COMPETITIVIDADE E COOPERAO: O SETOR AREO
BRASILEIRO SOB TURBULNCIA............................................................................... 43
1.1. Concorrncia e competitividade: uma interpretao conceitual................................... 44
1.2. A caixa preta do setor de transporte areo: concorrncia e competitividade............... 50
1.3. Centralizao, concentrao do capital e cooperao: entre processos e
estratgias............................................................................................................................ 59
1.4. Territrio: a materializao da concorrncia, da competitividade e da
cooperao........................................................................................................................... 65
2. O ALAR VOO DAS COMPANHIAS AREAS BRASILEIRAS: ENTRE
ALTITUDE DE CRUZEIRO E AO DA GRAVIDADE............................................. 69
2.1. As estratgias do capital empresarial no setor de transporte areo brasileiro: um
plano de voo inicial............................................................................................................. 70
2.2. TAM Linhas Areas: de voos rasantes a muitos ps de altitude.................................. 71
2.2.1. Da regulamentao desregulamentao: a decolagem da TAM........................ 97
2.3. GOL Linhas Areas Inteligentes: a via oposta............................................................. 114
2.3.1. rea de turbulncia: o estratgico duoplio e a criao da Anac......................... 134
2.4. O anncio de um novo cu "AZUL": o setor areo diante de uma estratgia
inovativa e de diferenciao................................................................................................ 147
2.5. Voando baixo: o segmento areo regional................................................................... 167
3. AS ASAS DA CENTRALIDADE NA LGICA TERRITORIAL: UM VOO
PANORMICO SOB OS CUS CONHECIDOS............................................................ 176
3.1. Da disputa empresarial disputa aeroporturia: uma nova decolagem....................... 177
3.1.1. As asas da centralidade: da particularidade aeroporturia organizao
territorial dos fluxos areos............................................................................................ 182
3.1.1.1 Um hub estratgico na Amrica do Sul..................................................... 189
3.1.1.2. Aeroporto de Viracopos: ressurgindo no cu........................................... 201
3.1.1.3. Mudana de altitude: o Aeroporto de Congonhas.................................... 215
3.1.1.4. A eterna e tradicional ponte-area: Santos Dumont-Congonhas............. 226
3.1.1.5. Aeroporto do Rio de Janeiro/Galeo: a multifuncionalidade da fluidez
area...................................................................................................................... 236
3.1.1.6. Aeroporto de Braslia: a localizao estratgica conduzindo os fluxos
areos..................................................................................................................... 244
4. USO CORPORATIVO OU PRIVATIZAO DO TERRITRIO: ENTRE
POUSOS, DECOLAGENS E ARREMETIMENTOS...................................................... 255
4.1. Infraestrutura, capital externo e concesses aeroporturias no Brasil: a lgica
capitalista de mercado......................................................................................................... 256
4.2. De livres pousos e decolagens s restries de slots: o peculiar sistema de gesto e
de controle no setor areo brasileiro.................................................................................... 258
4.3. Um novo plano de voo: o capital externo aterrissa no mercado de transporte areo
brasileiro.............................................................................................................................. 265
4.4. Mudana de rota: as concesses aeroporturias tocam o solo brasileiro..................... 269
4.5. O levantar voo da infraestrutura aeroporturia: as mudanas necessrias ao setor
areo brasileiro......................................................................................................... 275
4.6. Os complexos aeroporturios e a iniciativa privada: o cu no de Brigadeiro.......... 284
5. CES SEM FRONTEIRAS: A INFLUNCIA DOS PARADIGMAS
CONCORRENCIAIS E COMPETITIVOS DO SETOR AREO FRANCS................
293
5.1. Rumo Frana: as estratgias empresariais como vetor de anlise de um
benchmarking...................................................................................................................... 294
5.2. O gradual processo de liberalizao do transporte areo na Europa: novos
horizontes............................................................................................................................ 296
5.3. AIR FRANCE: as asas da Nao francesa.................................................................... 301
5.4. Sistemas de alianas globais: a cooperao taxiando o setor areo mundial............... 311
5.4.1. STAR ALLIANCE, ONEWORLD e SKYTEAM: despressurizando a
concorrncia e a competitividade................................................................................... 316
5.5. HOP!: do plano do discurso ao plano de voo............................................................... 332
CONCLUSES................................................................................................................... 345
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS.............................................................................. 357
ANEXOS............................................................................................................................. 369
23
_____________________________
INTRODUO
_____________________________
primeira vista, parece que os transportes na terceira dimenso escapam a influncia da Geografia, que, no considerar a circulao das massas econmicas, se afigura a atuar apenas superfcie do globo.
(SILVA, Moacir M. F. Geografia dos transportes no Brasil. In: Revista Brasileira de Geografia. Braslia, jul-set, 1941: 589 - 606).
24
Antes de alar voo preciso cumprir a funo do comandante do avio. Para se
tornar um piloto profissional, necessrio, dentre outras exigncias, acumular algumas horas
de voos como forma de obter experincia, demonstrar conhecimento sobre a profisso que se
busca exercer. Na busca desse objetivo, apresentamos aqui as primeiras horas de voos dessa
pesquisa, para explicar e esclarecer seu desenvolvimento durante esses quatro anos de pousos
e decolagens.
A princpio, a identificao e anlise das estratgias concorrenciais e de
competitividade do setor de transporte areo brasileiro pareceram-nos um bom plano de voo
inicial, e de fato constituiu nossa rota inaugural, como um pr-projeto de pesquisa. Mas, assim
como os avies (que so um modelo de aeronave de propulso a motor) necessitam de
grandezas vetoriais e escalares para manter a sustentao de seu peso no ar diante das
mudanas atmosfricas (temperatura, presso, massas de ar etc.), essa pesquisa tambm esteve
envolta as suas intempries que, em alguns momentos, nos forou a mudar de rota, em outros,
possibilitou visualizar cus de brigadeiro.
J nessas primeiras horas de voos, percebia-se que analisar as estratgias do
capital empresarial se reduzia sobremaneira a uma anlise meramente intrafirma relacionada
topologia das companhias areas e ainda abreviava a importncia da Geografia e de seus
conceitos e categorias de anlise, essenciais para compreender a dinmica que apresentamos
sobre esse setor. Era necessrio criar escalas e conexes, no sentido real, prtico. A dinmica
do capital no se realizava isolada, nem terica e nem empiricamente.
Analisar a dinmica do setor areo brasileiro transcendia o contexto de realizar
uma pesquisa cientfica apenas como dado estatstico, de nmero de passageiros, voos,
itinerantes etc., ainda que isso seja importante nossa abordagem. Nesse sentido, novos
elementos tornavam-se primordiais ao que se buscava abordar e reconhecer nesse setor.
Alguns conceitos, processos, estratgias, categorias de anlise comeavam a participar das
rotas dessa malha area, eram escalas necessrias estrategicamente, j no era mais singular,
mas sim plural, eram, portanto, malhas areas extremamente dinmicas.
Os fixos, os fluxos1, as redes, a demanda e a oferta, as malhas se relacionavam,
mas no se complementavam. Faltava um elemento aglutinador em todos os planos de voos e
1 De acordo com Santos (1997: 77) "O espao, tambm e sempre, formado de fixos e de fluxos. Ns temos
coisas fixas, fluxos que se originam dessas coisas fixas, fluxos que chegam a essas coisas fixas. Os fixos geram
fluxos e os fluxos geram fixos." Nesse sentido, fixos e fluxos so entendidos com elementos que constituem o
setor de transporte areo, fluxos enquanto ligao, circulao, movimento de pessoas e fixos como pontos fixos,
25
rotas que travamos. Foi nesse sentido que a compreenso da importncia do "territrio" se
fez presente em nossa abordagem. A dinmica territorial se mostrou um elo fundamental para
se analisar o setor de transporte areo no Brasil. Essa dinmica territorial associada
dinmica do capital permitiu-nos ocupar os assentos de nossa companhia area "Tese",
somando-se a essa relao elementos como: a estratgia, a concorrncia e competitividade, a
centralizao e concentrao do capital, e fomentavam como isso um novo horizonte para
nossa anlise.
Aps compreender que essa conexo entre o capital e o territrio era inerente, as
leituras, interpretaes, anlises e sistematizaes de ideias no eram mais passveis de
entendimento se visualizadas separadamente, pois as dinmicas do capital e do territrio so
complementares no sentido das aes estratgicas das companhias areas brasileiras nas
diferentes escalas territoriais de atuao.
Esse dueto (capital - territrio) projetou-se no decorrer desse trabalho como nossa
"ponte-area" e, mais precisamente, como nossa ponte-area brasileira, ou seja, a rota mais
movimentada do Brasil. Em outras palavras, a cada reconhecimento de uma estratgia
empresarial em dado aeroporto, cidade, regio, pas era necessrio conceb-la diante da
integrao entre o capital e o territrio, uma vez que a estratgia criada pelo capital (mesmo
quando parece imperceptvel) tem um determinante territorial, as companhias areas visam
por meio de suas aes estratgicas concorrerem e competirem por poder de atuar em
diferentes territrios.
Desse modo, avanamos no sentido de compreender que a dinmica existente no
setor de transporte areo brasileiro no se realiza enquanto um monoplano2. O prprio
adjetivo "dinmica" nos remete a entend-lo em conjunto, ou seja, relativo ao movimento e
s foras que se modificam continuamente, que evolui; que pressupe movimento, mudana e
que envolve grande atividade, criatividade e agilidade, , portanto diligente, gil, criativo,
empreendedor e indica processo ou mudana de estado (Dicionrio Houaiss de Lngua
Portuguesa, 2009).
seja este um aeroporto ou uma simples pista de pouso, em outras palavras so os pontos que permitem interligar os fluxos.
2 Monoplano: que dotado de apenas uma superfcie de sustentao (diz-se de avio ou planador) (Dicionrio
Houaiss de Lngua Portuguesa, 2009).
26
Nessa perspectiva, considerando que o bvio precisa ser destacado, esta pesquisa
tem como foco a relao entre a "dinmica do capital e a dinmica territorial" nos principais
aeroportos brasileiros, da a necessidade de se entender a "estratgia" e as "escalas
territoriais" de atuao de cada companhia area, como produtos e produtoras dessa
integrao do capital - territrio.
Como processo de compreenso dessa relao alguns elementos-chaves so
essenciais, tais como a concorrncia, a competitividade, a cooperao, os fluxos, os fixos, as
redes, as malhas areas, a oferta e a demanda, as alianas que se constituem como balizadores
permitindo-nos analisar como as estratgias e as escalas territoriais so definidas tendo como
base a reproduo do capital em determinados territrios de interesse das empresas areas.
A escolha pelo setor areo brasileiro foi considerada a partir de dois principais
fatores que nos impeliu nessa viagem de idas e voltas, escalas e conexes. O primeiro foi a
realizao de uma pesquisa de Mestrado sobre transporte areo regional com nfase no Estado
de So Paulo e; o segundo fator foi devido algumas peculiaridades do setor de transporte
areo que demandavam uma abordagem em que o territrio de atuao das empresas areas
no se constitusse como um dado secundrio e de pouca relevncia, pelo contrrio, o
territrio o motor desse avio.
Assim, mesmo invlucro as suas limitaes, o setor de transporte areo brasileiro
inquiria a importncia do territrio, porque dentre os principais elementos que o perfazem
todos se constituem explcita ou implicitamente pela presena do territrio. Considerando que
o setor de transporte areo brasileiro destaca-se por:
1. possuir, ainda que tacitamente, uma reserva de mercado no territrio brasileiro favorecida
pelas aes do Estado;
2. ser um setor alentado por grandes empresas areas que possuem estratgias que abrangem
diferentes escalas de atuao, ou seja, regional, nacional e internacional;
3. desenvolver estratgias empresariais que se desdobram, entre outros fatores, em acordos e
alianas estratgicas, promovendo com isso, ora processos concorrenciais e/ou competitivos,
ora processos cooperativos na busca por expanso e domnio nos diferentes segmentos;
4. alimentar um sistema de aes contraditrio, ao mesmo tempo em que favorece a presena
de pequenas e mdias empresas areas, desfavorece o crescimento destas no mercado, estas
companhias areas cumprem a funo de servir as linhas principais das lderes de mercado;
27
5. por ser um setor que se defrontou com grandes transformaes, em razo, das polticas
governamentais e da criao de entes reguladores e administrativos, tais como DAC
(Departamento da Aviao Civil), Anac (Agncia Nacional da Aviao Civil) e Infraero
(Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroporturia) que eram/so responsveis pela
autorizao e gesto das rotas e dos aeroportos de atuao;
6. ser um setor que, em decorrncia das atuais polticas pblicas, inicia um processo de
concesso dos principais e mais movimentados sistemas aeroporturios pblicos do pas
iniciativa privada, o que promove transformaes territoriais que se manifestam na dinmica
empresarial das companhias areas.
7. ser susceptvel aos acontecimentos externos, tanto aqueles relacionados s questes
nitidamente macroeconmicas, como aquelas diretamente relacionadas ao setor areo, ou seja,
amplamente influenciado pelas aes estratgias de companhias areas internacionais e
constantemente busca promover acordos e alianas com estas empresas areas para ascender
territorialmente em diferentes escalas.
Dessa forma, ao se ter a relao entre essas dinmicas no setor de transporte areo
regular3 de passageiros como objeto principal da anlise desse trabalho, apresentamos
primeiramente a dimenso metodolgica definida pelos recortes temporal e espacial da
pesquisa.
A definio do recorte temporal se deu pela existncia de dados estatsticos
disponveis e concedidos pela Anac. Mediante a Lei n 12.527 de Acesso Informao
obtivemos um maior nvel de detalhamento em relao aos dados estatsticos. Periodicamente,
os dados que precisvamos eram solicitados, o que nos permitiu criar um banco de dados
particular de acordo com uma demanda especfica, j que estes dados no so divulgados de
forma completa na pgina da Anac. A partir desse banco de dados, ao qual denominamos em
nossas fontes como "Banco de Dados APCP/Anac", foi possvel cruzar dados com diferentes
variantes: de origem e destino, por aeroportos de embarque e desembarque, por voos
3 O setor de transporte areo brasileiro divide-se em dois ramos, quais sejam: os voos regulares e no-regulares.
Os voos regulares so organizados na forma de linhas areas operados pelas companhias areas com autorizao
governamental. Esse servio compreende a ligao area entre duas ou mais localidades, caracterizada pela
execuo regular dos voos, de acordo com horrio, linha, equipamento e frequncia do fluxo, como por exemplo, os voos comerciais de passageiros. Os voos no-regulares referem-se ao conjunto das atividades de transporte
areo realizado por meio de permisso ou autorizao, no tendo uma constncia regular da frequncia dos
fluxos. Exemplos dessa modalidade so os voos charter (aluguel), os fretamentos (geralmente executados por
operadoras de turismo) e os servios de txi areo (SIMES, 2003).
28
nacionais e internacionais, computar nmero de passageiros em cada trajeto por segmento,
ano e; principalmente analisar cada dado por companhia area nacional e/ou internacional.
Embora a pesquisa se construa mediante a anlise processual buscamos sempre
que possvel analisar o perodo entre os anos 2000 e 2013, recuando no tempo quando
necessrio. O primeiro perodo (2000 - 2007) caracteriza-se, principalmente pela
desregulamentao no setor areo, que combinado com a poltica neoliberal adotada pelo
Governo brasileiro favoreceu a livre atuao das empresas areas em detrimento de polticas
que controlassem a disputa ruinosa. O segundo perodo (2008 - 2013) confere a fase posterior
criao e atuao de fato de um ente regulador para o setor areo (a Anac, criada em 2005),
que modificou a organizao e a atuao das empresas areas, favoreceu o crescimento das
grandes companhias areas e suas aes estratgicas. Esse recorte temporal define perodos
contrastantes que permitem verificar as transformaes na dinmica do setor de transporte
areo no Brasil.
Mas vale destacar que apresentamos fatos que extrapolam o perodo
compreendido, tanto anterior ao ano 2000 quanto posterior ao ano de 2013 proporcionando
uma anlise mais coerente tanto com os eventos4 ocorridos quanto com a disponibilizao dos
dados divulgados e cedidos pelos rgos e pelas empresas areas analisadas.
Outro recorte adotado foi o territorial. A estrutura da pesquisa busca orientar a
compreenso e, simultaneamente, inserir esta abordagem numa ptica que direcione a anlise
da ao empresarial das principais companhias areas que atuam nos principais aeroportos
brasileiros, sendo estes: o Aeroporto Internacional de Guarulhos/Cumbica, Aeroporto de
Congonhas/So Paulo e o Aeroporto Internacional de Viracopos/Campinas no Estado de So
Paulo; o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek em Braslia/DF; Aeroporto Santos
Dumont e o Aeroporto Internacional Antnio Carlos Jobim/Galeo ambos no Estado do Rio
4 Nos dizeres de Milton Santos (1996: 115) "os eventos so, simultaneamente a matriz do tempo e do espao".
Considerando que esta anlise busca evidenciar temporalmente os fatos e fatores que se desenvolveram no setor
de transporte areo brasileiro, temos que os eventos definem o tempo em que ocorreu o planejamento e execuo
das estratgias, bem como definem os rebatimentos, ou seja, as consequncias desses eventos, uma vez que "os
eventos so, pois todos, novos. Quando eles emergem, tambm esto propondo uma nova histria". O autor
ainda destaca que "os eventos mudam as coisas, transformam os objetos, dando-lhes, ali mesmo onde esto, novas caractersticas" (SANTOS, 1996: 116). Nessa busca de explorar a sinuosidade dos eventos que se
reconhecem as escalas tidas tambm como temporais, e dessa forma o alinhamento cronolgico faz com que os
eventos se sucedam uns aos outros, da segundo o autor: "poder-se falar numa ordem de eventos, sua ordem
temporal". Compreendendo, portanto, o tempo como intrprete dos eventos e da realidade.
29
de Janeiro5; buscando com isso observar as implicaes territoriais e econmicas das aes
estratgicas das principais empresas areas do setor.
No que tange as principais companhias areas do setor de transporte areo no
Brasil, selecionamos aquelas de maior atuao no pas, ou seja, que possuem maior poder de
mercado em relao ao nmero de passageiros transportados, a escala territorial de atuao e
que tem participao expressiva nos aeroportos destacados, que representam os players do
setor areo brasileiro, que so: TAM Linhas Areas, GOL Linhas Areas Inteligentes e AZUL
Linhas Areas Brasileiras.
importante esclarecer que ao se propor essa estrutura de trabalho, considera-se,
a priori, que a relao entre o capital e o territrio constitui o centro da ao das estratgias
desenvolvidas pelas companhias areas e exprime, por sua vez, a prpria dinmica capitalista,
ou seja, a estratgia alm de econmica possui um carter essencialmente territorial, as
empresas areas desenvolvem-se baseadas numa lgica de expanso e atuao territorial, que
define seu poder de mercado escalar.
Dentro dessa anlise, nossa hiptese se situa numa perspectiva socioespacial, ao
integrar a dinmica do capital dinmica territorial. Nesse sentido, considera-se que h uma
indissociabilidade na relao entre as aes estratgicas do capital empresarial e determinados
territrios que constituem o interesse das principais companhias areas brasileiras. Essa
integrao entre a dinmica do capital e a dinmica territorial verificada quando se
compreende que as estratgias de concorrncia, competitividade e cooperao tm como
finalidade a expanso da atuao territorial das empresas areas e, consequentemente a
ampliao do market share6 dessas companhias areas. Portanto, indiferente do resultado de
5 Estes aeroportos e suas respectivas localidades correspondem ao recorte territorial da pesquisa. Segundo dados
da Regio de Influncia das Cidades (REGIC, 2007), a cidade de So Paulo (considerando-se aqui tambm
Guarulhos, que faz parte da Regio Metropolitana de So Paulo) classificada como Grande Metrpole
Nacional, enquanto que Braslia e Rio de Janeiro como Metrpoles Nacionais e Campinas como Capital
Estadual. A escolha por se analisar os aeroportos localizados nessas cidades se d primeiramente, pela
importncia destes, devido elevada movimentao de passageiros e pela dinmica territorial, j que so pontos
interligados as principais cidades do pas. Aliado a esse aspecto, importante destacar que essas cidades
(considerando suas regies metropolitanas e a rea de influncia imediata) constituem centros urbanos de grande
importncia, uma vez que concentram os principais setores da economia nacional, dispondo de servios qualificados, da maior concentrao populacional e de Produto Interno Bruto (PIB) do pas, bem como
centralizam as sedes das principais empresas pblicas e privadas que atuam no Brasil, pelas quais perpassam
grande nmero de negcios e, consequentemente onde se movimentam um nmero expressivo de pessoas, ou
seja, passageiros em potencial. Dados esses elementos, de acordo, com o ttulo desse trabalho, as "asas da
centralidade" correspondem as empresas areas que historicamente se desenvolveram buscando ampliar a
movimentao de passageiros nos "cus conhecidos" do Brasil.
6 Market share: conceito comumente utilizado para definir o poder de mercado que as empresas possuem. A
expresso significa "participao no mercado", isto , a frao do mercado controlado por uma empresa ou
participao no mercado nas vendas de um determinado produto (SANDRONI, 2005: 514).
30
uma ao estratgica, o objetivo primordial das companhias areas buscar e garantir um
maior alcance do poder de atuao territorial em mltiplas escalas, da a constante
necessidade de se promover acordos e alianas. Nesse sentido, as empresas areas traam suas
estratgias para obter e deter o domnio, a supremacia do poder por meio da atuao em
territrios e aeroportos especficos que permitiro a reproduo do seu capital empresarial.
Para compreender essa integrao entre o capital e o territrio no setor de
transporte areo brasileiro necessrio recorrermos as estratgias e as escalas territoriais de
atuao das companhias areas, como j foi citado. Nesse sentido, primeiramente destacamos
as estratgias de concorrncia e competitividade entre as principais companhias areas e como
estas estratgias geram a cooperao (por meio, sobretudo de acordos e alianas), nos
aeroportos de maior fluidez.
A concorrncia e a competitividade se constituem como os principais
componentes que fomentam a formao de acordos de cooperao e alianas entre as
companhias areas que operam nos aeroportos que constituem os principais hubs7 do pas,
uma vez que so os aeroportos que detm maior movimentao de passageiros e onde as
estratgias so mais diretamente aplicadas e desenvolvidas, em outras palavras, uma forma
de se garantir poder territorial de atuao.
A dinmica do capital, ao mesmo tempo em que induz um processo de
concorrncia e competitividade entre as companhias areas, fomenta tambm a cooperao
configurando uma estratgia particular de mercado, sendo que a concorrncia e a
competitividade combinam-se garantindo a reproduo acelerada do capital das grandes
companhias areas e permitem a estas um maior domnio territorial em diferentes escalas de
atuao.
Nessa perspectiva, se algumas poucas empresas areas dominam determinados
territrios e aeroportos, estas podem dividir entre si a rea de atuao de cada uma delas,
limitando a expanso de outras empresas areas. As estratgias podem gerar tanto a rivalidade
quanto a cooperao entre companhias areas e, isso permite s lderes do setor o domnio do
mercado.
7Hubs constituem os pontos de ligao do transporte areo, ou seja, so os aeroportos onde as empresas areas
centralizam suas operaes. Os hubs principais so aqueles em que h maior oferta e demanda de voos, da se falar que um hub estratgico ou no, isto , se ele possui capacidade de gerao de trfego, diz-se que este
estratgico do ponto de vista das empresas areas centralizarem suas operaes. Quanto mais ligaes com
diferentes pontos, mais estratgico torna-se o hub e essas ligaes so diretamente maiores se houver demanda e
oferta nos itinerrios.
31
Ao efetuar uma anlise correlacional entre o capital e o territrio, no se busca
verificar uma relao hegemnica, mas elucidar a indissociabilidade entre ambos. De certa
forma, ramo a ramo, setor a setor, segmento a segmento, configuram seus interesses
particulares, induzem estratgias individuais ou coletivas, instigam a rivalidade e para que
essa dinmica tenha resultado, emerge a necessidade de criar, desenvolver estratgias e
sustentar vantagens competitivas e comparativas.
A busca por novos padres de concorrncia, por inovao tecnolgica e as
prprias estratgias de associao, fuso, aquisio, falncia, reagrupamento, alianas,
barreiras entrada/consolidao etc., so aes essenciais macrodinmica capitalista, bem
como contribuem para a constante valorizao do capital e, tambm para a sobrevivncia das
companhias areas num mercado cada vez mais imprevisvel, nesse sentido ter um maior
poder de abrangncia territorial essencial como forma de reproduzir seus interesses
individuais, que contraditoriamente parecem coletivos.
Por isso, reconhecer os desafios concorrenciais, a estrutura de mercado, a criao
e as mudanas de estratgias, a sustentao de vantagens competitivas so os componentes de
combusto, de conflagrao que induzem a transposio daquilo que se considera como uma
anlise intrafirma, ou apenas como uma anlise sobre a estrutura organizacional da empresa
area. Verificar a magnitude da estratgia competitiva8 (PORTER, 1986; 1989) corresponde,
na anlise aqui pretendida, observar o comportamento da empresa area para alm dos
modelos conceituais de custo, preo limite, rendimento, mensurao de custo/benefcio, ou
ainda, compreender a empresa area segundo premissas de equilbrio, certeza e racionalidade
perfeita que resultam em um tipo de anlise esttica do processo de tomada de deciso
(VASCONCELOS; CYRINO, 2000), da compreender a ao estratgica do capital na relao
com os efeitos territoriais.
Quando se trata de estratgias, as bases conceituais de Michel Porter3 (1986;
1989; 2000) so sempre evidenciadas em trabalhos de diferentes reas cientficas, que na
8 As anlises de Michael Porter partem de uma proposta que tem a empresa como o fator principal do mercado,
isto , a empresa responsvel por todo processo de desenvolvimento do mercado, da indstria, do consumo, das
estratgias etc.. Buscaremos evidenciar a empresa area como um importante mecanismo de organizao do
mercado e de suas competncias estratgicas que as fazem permanecer no setor. No entanto, ressaltamos que a proposta dessa pesquisa insere-se numa perspectiva que perpassa a anlise exclusiva da empresa, por isso
associar a essa anlise elementos que nos permitam compreender a trajetria da aviao comercial, o territrio, o
poder do Estado, os agentes privados, a sociedade, a indstria aeronutica entre outros agentes fomentadores do
desenvolvimento do setor.
32
maioria das vezes, toma-o como um resultado definido por si s e que considerado acabado
e completo. Para o autor:
Estratgia a criao de uma posio nica e valiosa, envolvendo um
conjunto diferente de atividades. Se houvesse apenas uma posio ideal, no haveria qualquer necessidade de estratgia. A essncia do posicionamento
estratgico escolher atividades que so diferentes dos rivais (PORTER,
2000:69)9.
Compreendemos que a necessidade de criar estratgias que coadunam em
vantagens competitivas fundamental para consolidao no mercado, conforme destacado
pelo autor, uma vez que mediante a estratgia que as empresas areas conseguem constituir
e organizar um mercado de acordo com seus interesses. Contudo, esse mercado no se limita a
ocorrncia de eventos10
individualizados territorial e setorialmente.
Vale acrescer que uma das ideias centrais da pesquisa compreender a estratgia
das companhias areas e no a gesto tcnica destas. Por isso, as abordagens de Porter no so
suficientes em termos de compreenso do poder da estratgia associada aos demais elementos,
isso porque, ao considerar as estratgias como uma anlise do jogo concorrencial, o autor se
limita negligenciando aspectos como: o papel do Estado, a cooperao e as alianas,
exacerbando um determinismo setorial que por vezes no contribui para nossa abordagem, da
a necessidade de incorporar a essa anlise demais autores que retratam a questo da estratgia
das empresas areas para alm do interior da companhia area.
Fischer (2008 [1990]) alega que "a estratgia definida como o conjunto de
dispositivos decisionais que permitem firma antecipar seus futuros resultados". Leroy (2004:
27) salienta que: "a estratgia consiste na busca de uma vantagem concorrencial significativa,
durvel e defensvel11
". Portanto, a estratgia engloba diversas e potenciais aes como, por
exemplo, definir se a nfase estar no planejamento operacional ou na prestao dos servios,
no custo do que produzido ou na diferenciao do produto que oferecido, se busca
9 "Strategy is the creation a unique and valuable position, involving a different set of activities. If there were
only ideal position, there would be no need for strategy. The essence the strategy positioning is to choose
activities that are different from rivals." (Traduo nossa).
10 Ao referenciarmos a expresso "mercado de transporte areo" convm esclarecer que consideramos "mercado"
o locus do setor em que se observa a mutabilidade das aes estratgicas, aonde as estratgias so moldadas, as
interaes competitivas so efetivadas e a rivalidade e a orientao estratgica so definidas. Sendo assim, nesse mercado que se do ora a concorrncia, ora a competitividade, ora os dois processos ocorrem
correlacionados e fomentam a cooperao.
11 "La stratgie consiste rechercher un avantage concurrentiel significatif, durable et dfendable" (Traduo
nossa).
33
priorizar a cadeia de valor, a coerncia produtiva, a inovao que a empresa area implementa
como forma de criar vantagens competitivas. Mas, somado a isso tudo est o fato de que
indubitavelmente busca-se ampliar suas aes estratgias por diferentes territrios.
Marx (1974 [1885]: 218) assevera que o empresrio de transporte no um
comerciante, portanto, ele no consegue apropriar-se da mais-valia produzida pelo capital
industrial. Para o autor, a indstria de transportes constitui, por um lado, ramo autnomo da
produo e, por isso, uma esfera especial de investimentos do capital produtivo.
Nesses termos, o empresrio capitalista de transporte no capta mais-valia em sua
mercadoria, pois ele nada produz. Seus empregados no geram mais-valia a ele, pelo mesmo
fato de que eles no esto produzindo nada, esto apenas prestando um servio. O empresrio
precisa tirar seu lucro (ganho empresarial) de algum lugar, como forma de reproduzir seu
capital e retransform-lo, colocando novamente na esfera de circulao. Se, portanto, no h
gerao de mais-valia, seu lucro obtido pelo preo cobrado no servio que presta, ou seja, na
mercadoria que vende, e ele vende o "deslocamento", ou seja, a "fluidez".
Mas, o empresrio capitalista no pode colocar seu preo to mais alto que o
concorrente que oferece a mesma mercadoria nas mesmas condies de deslocamento
(mesmo itinerrio, tempo de voo, equipamento, classe etc.), pelo contrrio, como isso um
princpio da concorrncia intercapitalista, quanto mais competitivo o preo de sua
mercadoria em relao aos seus concorrentes (nas mesmas condies de qualidade do
servio), maior ser sua captao de lucro.
Por isso, o empresrio capitalista de transporte precisa procurar seu lucro em outro
momento da reproduo do capital, esse outro momento est, no caso do setor de transporte
areo, na malha de voos, ou seja, quanto maior seu domnio territorial, quanto maior o nmero
de slots12
nos aeroportos mais movimentados, tanto maior ser seu lucro, pois
estrategicamente este empresrio est operando nos aeroportos de maior demanda, uma
demanda que j existente (ele no precisa criar essa procura).
Portanto, o lucro j est realizado, basta ao empresrio capitalista materializar esse
lucro em seu favor, e isso se dar em razo da permisso das entidades reguladoras, da
disponibilidade de capital constante que este empresrio capitalista detm e, sobretudo, esse
lucro se converte em funo da escolha das estratgias de concorrncia e de competitividade.
12 Slots: denominao dada s parties de tempo em um intervalo de uma hora durante as quais apenas uma
operao de pouso ou de decolagem permitida (BNDES, 2011).
34
Em outras palavras, corroboramos com Marx (1985 [1894]: 303) que destaca que o lucro
determinado pela concorrncia, "mas a concorrncia j supe a existncia do lucro".
Dessa forma nos deparamos com a importncia das escalas territoriais de atuao
das companhias areas. As escalas territoriais perfazem o processo de circulao, da fluidez
area, que por sua vez confirma, entre outros elementos, a valorizao e reproduo do
capital.
A escala de atuao permite imprimir um carter ainda mais cnscio ao "sobrevoo
das companhias areas", qual seja: a extenso territorial de suas operaes. A escolha das
escalas no tem como base a aleatoriedade da fluidez, das rotas e malhas, a sistematizao se
d mediante uma extensiva programao de linhas, do incremento da oferta/demanda, dos
critrios mercadolgicos, da origem/destino (pares de cidades), da receita e dos custos do voo,
do tempo de voo, da faixa horria requerida e autorizada13
, da demanda potencial, o que
corresponde no somente a uma eloquente estratgia empresarial, como tambm a uma
permisso governamental e de infraestrutura condizente.
A escala territorial de atuao implica no controle, na dominao, na construo
do poder em determinado territrio (aeroporto, nos slots do aeroporto, no espao para pouso e
decolagens) e, no caso do setor de transporte areo, tambm se configura em determinado
tempo, j que as empresas areas possuem um tempo para pousar e decolar e, nesse perodo
de tempo as mesmas tem o poder, o controle e a dominao daquele territrio.
De acordo com Melazzo e Castro (2007: 141) o domnio da escala de ao de cada
sujeito (e a podemos entender de cada companhia area), em suas estratgias territoriais,
coloca em discusso o poder e a poltica de sua definio. Com isso, os autores destacam que
em suas "assimtricas relaes sociais, econmicas, culturais etc., h uma disputa no apenas
da possibilidade de dominar as escalas, mas tambm da definio das escalas mais adequadas
a sua ao, incluindo-se a, a possibilidade de articular escalas".
Assim, as escalas territoriais de atuao ainda permitem a determinao da
articulao entre elas, melhor dizendo, as escalas se integram, se articulam e muitas vezes se
complementam. Desse modo, as escalas:
[...] no devem ser tomadas to somente em sua dimenso ordenada
cartogrfica-analgica-mtrica, mecanicista e geometral, nem vistas como
13 O rgo incumbido da autorizao das malhas de voos das companhias areas a Anac.
35
mera relao de proporcionalidade, dotadas de representao e
comensurabilidade de medidas de tamanho e enquanto entidades fixas.
Escalas so inerentemente inexatas e dinmicas. No podem ser tomadas enquanto unidades imutveis ou permanentes, pois so justamente inscritas e
esculpidas em determinado espao e erguidas ou erigidas, material e
simbolicamente, em processos, por natureza, sociais. Trata-se de pensar as
escalas espaciais enquanto instncias e entidades [...]. Uma escala s pode ser definida e qualificada apenas em relao s outras. Parte das dinmicas e
lgicas escalares, em geral em particular, jaz justamente nos nexos e
coerncias interescalares (BRANDO, 2011: 310).
Enquanto lgica de mercado a escala de atuao se acentua como forma de
mensurar o nvel de expanso territorial da companhia area, ou seja, se a empresa area
opera voos regionais, nacionais e/ou internacionais e qual seu padro de concorrncia no
mercado, fato este que se d mediante o perfil da empresa area, seu tamanho absoluto (se
pequena, mdia ou de grande porte), o tamanho relativo (a parcela de mercado que est sob
sua influncia), posse ou aquisio de equipamentos como, por exemplo, avies compatveis
s escalas territoriais que buscam atuar, uma vez que a autorizao de rotas pelos rgos
competentes no contingente.
Em suma, o planejamento das malhas de voos nas diferentes escalas territoriais
est invlucro s estratgias empresariais e tem uma combinao direta com os interesses
especficos de cada companhia area, que podem ser: entrar num mercado de um oponente
como forma de acirrar a concorrncia e/ou diminuir a rentabilidade da empresa area rival e
intensificar uma possvel crise ou ainda; como uma medida para se criar um novo nicho de
mercado ainda no explorado ou mesmo como uma medida de se aliar a um oponente de
menor expressividade, como forma de complementar suas operaes.
Se a escala territorial tem menor abrangncia, como por exemplo, segmento
regional, desenvolvem-se aes que buscam associaes, agrupamentos ou at mesmo
aquisio de empresas areas de menor porte; se a escala territorial nacional promovem-se
outras estratgias diferenciadas daquelas que se aplica num segmento menos adensado e; se a
escala internacional a definio estratgica se consolida mediante aes que visam uma
conduta distinta das executadas no mercado domstico.
Nessa dinmica do capital integrada dinmica territorial fundamental conciliar
o papel e as aes do Estado no desenvolvimento do setor de transporte areo no Brasil.
Somado a isso temos que a infraestrutura relacionada as polticas desenvolvidas pelo Estado
36
se verifica a partir dos desafios e das perspectivas de crescimento para o setor areo em
relao, sobretudo, as concesses aeroporturias iniciativa privada.
Assim, diante de novos rumos que foram sendo traados no decorrer desse voo, os
captulos foram sendo construdos observando, sobretudo o constante movimento do setor,
que ora apresentava reas de turbulncias de difcil transposio compreenso terica e que
muitas vezes exigiu compreender uma relao mais profunda entre a teoria e o emprico.
Imbudos pela integrao entre a dinmica do capital e a dinmica do territrio,
sistematicamente acrescida pela relao entre o terico e o emprico, que estruturamos nossa
pesquisa. Alm dessa introduo e das consideraes finais, destacamos cinco captulos. Para
organizar tanto a ordem como os pontos especficos a serem tratados em cada captulo
especificamente, foi considerada uma pergunta geral que engloba a lgica de definir o
objetivo de cada captulo ao objetivo e hiptese principal dessa pesquisa.
Nessa perspectiva, o Captulo 1 se baseou na seguinte indagao: "Por que a
dinmica do setor de transporte areo brasileiro permite que as grandes companhias areas
desenvolvam estratgias de concorrncia e competitividade e, ao mesmo tempo, essas
estratgias funcionem como formas de cooperao"? Para responder essa pergunta esse
captulo discute uma questo central de nossa anlise: os conceitos de concorrncia e
competitividade. A ausncia de um consenso dos conceitos um fato que faz com que muitos
autores os utilizem como sinnimos. Na busca por transpor retricas e similitudes, buscamos
traar um limite de correspondncia entre esses conceitos, que os distinguem como forma de
apresentar uma nova fuselagem14
para nosso avio.
Desse modo, nosso objetivo analisar as aes estratgicas do capital empresarial
e a incessante busca pela ampliao e reproduo do seu capital. Para isso, enfatizamos como
a concorrncia, a competitividade a cooperao entre as empresas areas brasileiras se do
como forma ampliar e garantir a expanso territorial de suas operaes em mltiplas escalas
(regional, nacional e internacional), visando tambm promover e assegurar o market share.
Desse modo, o objetivo desse captulo inserir uma abordagem em que revelamos as
dinmicas existentes a partir dessas estratgias e dos processos correlatos a elas, tais como a
concentrao e centralizao do capital.
14 Fuselagem: corpo principal da aeronave onde se fixam as asas (Dicionrio Houaiss da Lngua Portuguesa,
2009).
37
A contribuio desse captulo vem no sentido de explicar que a concorrncia, a
competitividade e a cooperao (juntamente com os processos que lhes so imanentes) so
mecanismos utilizados pelas empresas areas atingirem um maior domnio territorial, ampliar
a visibilidade de suas marcas e deter a supremacia do poder a partir de aes estratgicas
executadas em diferentes escalas. Para isso, nos orientamos terica e empiricamente em como
e porque a dinmica do setor de transporte areo permite que as grandes companhias areas
brasileiras desenvolvam estratgias de concorrncia e competitividade com a funo de
empreenderem estratgias de cooperao, a partir de acordos e alianas. Nesse aspecto,
argumentamos ainda que indiferente da ao estratgica escolhida, as companhias areas
brasileiras buscam afianar seu poder no mercado, a partir de territrios e de aeroportos
especficos que permitem a reproduo do seu capital empresarial.
Ao partimos para o Captulo 2 nos inquirimos quanto dinmica do capital. "Por
que e de que forma as companhias areas TAM, GOL e AZUL se consolidaram no setor de
transporte areo brasileiro a ponto de dinamizaram uma lgica concorrencial, competitividade
e cooperativa nas mltiplas escalas territoriais"? Para apresentar argumentos plausveis a
nossa questo, foi necessrio apresentar essas companhias areas e o desenvolvimento de suas
aes estratgicas temporalmente.
Nosso propsito enfatizar a dinmica do capital, considerando as estratgias
dessas companhias areas no decorrer de suas histrias e porque e como cada estratgia foi
implementada visando um poder que no era apenas de potencial de mercado, mas
principalmente um poder de expanso territorial, auxiliando na comprovao da nossa tese de
que h uma relao entre a dinmica do capital e a dinmica territorial. Dessa forma, a
concorrncia, a competitividade e a cooperao indicam que no decorrer da trajetria de cada
empresa area, essas estratgias foram definitivas para que as mesmas se consolidassem no
setor de transporte areo brasileiro.
Mais do que uma anlise cronolgica do desenvolvimento e consolidao dessas
empresas areas, este captulo contribui para compreender como as estratgias se
materializam no setor de transporte areo brasileiro a partir da atuao das empresas areas
nos diferentes territrios. Para isso traamos paralelos entre as escolhas estratgicas das
empresas em cada momento de desenvolvimento do setor de transporte areo no Brasil,
observando j nesse captulo, como o papel do Estado e as definies do mercado foram
decisivos para ascenso e descenso de algumas companhias, como ser destacado nos
captulos seguintes.
38
O Captulo 3 um desdobramento do captulo anterior, no sentido de
complementar nossa abordagem, pois se remete a demonstrar a integrao entre a dinmica do
capital e a dinmica territorial. Nessa perspectiva, indagamos: "Qual o determinante
fundamental da reproduo do capital no setor de transporte areo brasileiro"? A resposta
enftica: a ao estratgica das companhias areas tem como determinante fundamental
garantir o poder de atuao territorial.
No sentido da pergunta e da resposta que norteiam esse captulo, o objetivo
ressaltar a relao entre o capital e o territrio a partir das aes estratgicas das companhias
areas em cada aeroporto destacado na pesquisa e que so os principais hubs, de maior
movimentao e interesse das empresas areas. Buscamos mostrar com isso que os aeroportos
possuem uma relao direta com os territrios onde esto localizados. A dinmica territorial
define e influencia os interesses de reproduo do capital empresarial. Cada aeroporto possui
uma especificidade, porque est localizado em um territrio que detm particularidades que
so determinantes para as escolhas do capital. Assim, ressaltamos que nenhum territrio
igual, portanto nenhum aeroporto pode substituir outro, mas a prpria localizao dos
aeroportos permite que estes se confrontem, como o caso dos aeroportos do Estado de So
Paulo e do Rio de Janeiro.
Para responder nosso objetivo e contribuir com a hiptese do trabalho, nesse
captulo destacamos a correlao da dinmica do capital com a dinmica territorial a partir da
essencialidade de cada aeroporto pesquisado. Assim, explicamos como a localizao de cada
aeroporto no territrio brasileiro opera com funes que lhes so especficas e que
caracterizam a fluidez nos mesmos. Mostramos com isso que o territrio em que est
localizado o aeroporto um fator determinante que os difere, por isso, cada um possui uma
demanda e oferta especfica e tambm por isso que as empresas empreendem estratgias
distintas e possuem distintos interesses em cada aeroporto.
Nesse sentido, o captulo contribui ainda para a compreenso de que estes
aeroportos no foram escolhidos aleatoriamente, eles tm um poder de atrao potencial na
rede aeroporturia brasileira, uma vez que as articulaes empresariais promovidas visam
uma atuao especfica em cada um dos aeroportos supracitados, pois estes esto localizados
em centros econmicos representativos e que possuem uma dinmica de fluidez mais
acentuada, confirmando a frentica busca do capital por territrios de maior pujana. Da
entender que o capital empresarial busca se desenvolver onde sua reproduo tem maior
potencial, ou seja, nos territrios e aeroportos de maior capacidade de gerao de trfego.
39
Para tornar mais clara nossa argumentao, apresentamos mais veementemente
como se d essa correlao da dinmica do capital com a dinmica territorial. Para isso foi
essencial resgatar alguns conceitos-chave da Geografia e que se revelaram diretamente
conectados a nossa abordagem, tais como fixos, fluxos, redes e escalas. Nesse sentido, vale
ressaltar que no se trata de substituir palavras por conceitos, mas sim de prover uma leitura
geogrfica sobre o setor de transporte areo, tendo como base principal a proposta de
interpretao conceitual apresentada no Captulo 1 e consonante aos demais. Nesse sentido,
esses conceitos-chave funcionam como instrumentos tericos de anlise e, por sua vez,
contribuem para a compreenso das articulaes empresariais promovidas visando uma
atuao especfica nos aeroportos estrategicamente selecionados pelo interesse do capital em
funo do territrio em que se localizam.
A relao entre esses trs primeiros captulos se d na perspectiva de compreender
os conceitos de concorrncia e competitividade terica e empiricamente e tambm visualizar
dois pontos essenciais j destacados: a estratgia e as escalas territoriais de atuao que
orientam a relao com as aes e o papel do Estado. nesse sentido que encaminhamos o
Captulo 4 que contextualiza dois pontos analisados anteriormente, um no Captulo 2 e o outro
do Captulo 3. O primeiro ponto refere-se ao papel do Estado no desenvolvimento do setor
areo brasileiro e o segundo ponto est vinculado questo infraestrutural dos aeroportos
brasileiros.
Para tecer essa relao, a questo base desse captulo se circunscreve na seguinte
indagao: "Por que e como o Estado tem atuado no sentido de viabilizar a infraestrutura
aeroporturia e como suas polticas tem promovido o desenvolvimento do setor de transporte
areo brasileiro"?
A infraestrutura aeroporturia essencial para que os fluxos se materializem e
deem funcionalidade aos fixos, ou seja, os fluxos no se realizam, nesse nvel de
complexidade que demanda o setor de aviao comercial, se os aeroportos enquanto
infraestrutura no se constiturem como instrumentos que possibilitam as ligaes entre essa
rede de fluxos. Nesse aspecto, nosso objetivo fundamental nesse captulo discutir como as
recentes iniciativas e aes polticas do Estado tem se consolidado como essenciais para o
desenvolvimento da infraestrutura aeroporturia.
Nessa abordagem, consideramos que o Estado tem promovido uma lgica
inovadora, diferente do que foi desenvolvido at o momento. Ao conceder aeroportos
pblicos iniciativa privada, o Estado deixa de assumir dois papis contraditrios nesse
40
sistema, quais sejam: o de poder concedente e, ao mesmo tempo, o de concessionrio. Nesse
sentido que buscamos enfatizar que mais do que um jogo de palavras, necessrio
compreender que os aeroportos brasileiros no foram cedidos, foram concedidos.
O segundo ponto, do qual tratamos da infraestrutura aeroporturia, se revela por
meio da influncia estrangeira, sobretudo quando discutimos o atual processo de concesses
dos aeroportos iniciativa privada.
Esse captulo contribui no sentido de revelar que a atuao governamental
associada as novas posies do Estado em relao a infraestrutura aeroporturia primordial
tanto s companhias areas como para o territrio. Para isso, defendemos a necessria
diferenciao entre concesso e privatizao, como forma de explicar o que e porque o
Estado optou pelo modelo de concesso de aeroportos iniciativa privada. Esses elementos
contribuem como forma de reforar a relao entre as dinmicas do capital e territorial, uma
vez que o Estado e suas aes tanto influencia como influenciado pela integrao dessa
dinmica. Nesse sentido, argumentamos que a presena da iniciativa privada, seja nacional ou
internacional, torna-se cada vez mais presente no setor areo brasileiro, com isso buscamos
orientar as explicaes que sero desenvolvidas no captulo seguinte, em que destacamos as
aes, influncias e interesses das companhias estrangeiras pelo territrio brasileiro e pelas
empresas areas brasileiras.
Diante desse processo globalizante que em diferentes momentos do
desenvolvimento do setor de transporte areo no Brasil influenciou, sobremaneira, tanto as
aes das empresas areas como as aes do Estado; que o Captulo 5 apresentado com a
seguinte pergunta: "Por que o setor areo francs uma referncia s anlises do setor areo
brasileiro"?
As respostas a essa questo so destacadas no captulo a partir de uma abordagem
sobre o setor de transporte areo francs e suas aes estratgicas, com destaque para a
companhia area AIR FRANCE15
. O propsito desse captulo abordar como as escolhas
estratgicas do setor de transporte areo francs tem se processado e como essas aes tm
direta e/ou indiretamente influenciado as companhias areas brasileiras, tanto no sentido de
redefinir algumas aes e aplic-las no Brasil, como no sentido de criar uma relao,
15 Essa abordagem se deu mediante um estgio de doutoramento realizado na Universit Sorbonne Nouvelle -
Paris 3 (Frana), onde foi desenvolvido o projeto de pesquisa intitulado: "O transporte areo brasileiro e a
influncia dos paradigmas competitivos do setor areo francs a partir do caso da AIR FRANCE", financiado
pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (Fapesp).
41
mediante acordos e alianas com empresas areas estrangeiras, corroborando que a dinmica
do capital excede os limites territoriais do pas, isso se d porque o setor de transporte areo
brasileiro no se define internamente ao territrio nacional, mas por uma conjuntura
macroeconmica e empresarial que no se satisfaz com aes estratgicas limitadas ao Brasil
e as empresas areas domsticas.
Esse captulo contribui na medida em que demonstra que as estratgias so
desenhadas e desenham-se como mapas de influncia territorial. Isso nos permite destacar que
o poder de uma empresa area no est alicerado apenas no local, h uma interdependncia
ntida que faz com que as companhias areas necessitem constantemente atuar em mltiplas
escalas territoriais, como forma de assegurar o poder de atuao territorial, ascender
preponderantemente seu market share e confrontar aes estratgicas que se fazem mediante
um jogo de relaes empresariais que, na maioria das vezes, se do por relaes cooperativas,
por acordos e alianas estratgicas, que so oportunas e garantem a consolidao das grandes
empresas no setor areo brasileiro.
Nesse sentido, a estratgia de formao de alianas e/ou insero em sistemas de
alianas globais fundamental para compreender a influncia gerada pelo mercado de
transporte areo estrangeiro no Brasil. Buscamos ainda nesse captulo observar e analisar de
que forma a AIR FRANCE tem desenvolvido suas aes estratgicas com interesse no
mercado areo brasileiro16
.
Os capitais empresariais concorrem e competem, ora os objetivos prevalecem
como forma de liquidar proponentes por meio de medidas concorrenciais, ora a permanncia
de uma empresa area rival o que atribui uma lgica estratgica para se barganhar um maior
domnio territorial do mercado, para isso a escolha das estratgias e a escala de atuao
territorial so definidoras da reproduo do capital.
16 Soma-se a isso o fato de que, para alm de uma anlise especfica sobre o transporte areo, a escolha por
investigar os paradigmas de concorrncia e competitividade do setor areo francs se subescrevem nas relaes
estabelecidas pela Frana e o Brasil na perspectiva da Geografia. A influncia dessa escola contribui para
compreender que h um paralelismo entre essas escolas que se originou da aproximao entre esses dois pases e
que deixou resqucios profundos na anlise realizada no Brasil. Nesse sentido, Borzacchiello da Silva (2012) nos
rev
Top Related