Capa: 1 A Voz do Poeta: 2 Ecos Poéticos: 3 / Bocage: 4,11,15,16,17,18 / Rota Poética: 5 / Cantinho dos Poetas: 7,8 / Tribuna do Vate: 9 / 10ª Aniversário: 10 / Faísca de Versos: 12 / Contos e Poemas: 13,14 / Rádio: 19 / Ponto Final: 20
SUMÁRIO
EDITORIAL
«JANELA ABERTA AO MUNDO LUSÓFONO/UNIVERSAL»
Amora - Seixal - Setúbal - Portugal | Ano X | Boletim Mensal Nº 100 | Agosto 2018
www.confradesdapoesia.pt - Email: [email protected]
«Este é o seu espaço cultural dedicado à poesia»
Deixamos ao critério dos autores a adesão ou não ao “Novo Acordo ortográfico”
FICHA TÉCNICA Boletim Mensal Online Propriedade: Pinhal Dias - Amora / Portugal | Revisão: Conceição Tomé A Direção: Pinhal Dias - Fundador Colaboradores: Adelina Velho Palma | Albertino Galvão | Albino Moura | Alfredo Mendes | Amália Faustino | Ana Pereira | Ana Santos | Anna Paes | António Barroso | António Boavida Pinheiro | António Martins | Arlete Piedade | Arménio Correia | Artur Gomes | Carla Carvalho | Carlos Alberto S Varela | Carlos Fraga-ta | Conceição Tomé | Damásia Pestana | Daniel Costa | David Lopes | Filipe Papança | Filomena Camacho | Graça Maria Costa | Helena Fragoso | Ivanildo Gonçalves | João Coelho dos Santos | João Furtado | José Caldeira | José Chilra | José Jacinto | José Maria Gonçalves | Luis Fernandes | Maria Alexandre | Maria Fonseca | Maria Fraqueza | Maria Margarida Moreira | Maria Rita Parada dos Reis | Maria Vit. Afonso | Miraldino Carvalho | Paco Bandeira | Pedro Valdoy | Rita Celorico | Rogério Pires | Rosa Branco | Rosélia Martins | Silvino Potêncio | Teresa Primo | Tito Olívio | Vitalino Pinhal | Vó Fia | Zzcouto | … Ver restantes no site.
CONFRADES DA POESIA
Para nós não existe concorrência. Existem parceiros de actividade!
Nesta edição colaboraram 62 poetas
Tribuna do Vate …. página 9
Rádio Confrades da Poesia
O BOLETIM Mensal Online (PDF) denominado "Confrades da Poesia" foi fundado com a incumbência de instituir um Núcleo de Poetas, facultando aos (Confrades / Lusófonos) o ensejo dum convívio fraternal e poético. Pretendemos ser uma "Janela Aberta ao Mundo Lusófono e outros países “; explanando e dando a conhecer esta ARTE SUBLIME, que pratica-mos e gostamos de invocar aos quatro cantos do Mundo, apelando à Fraternidade e Paz Universal. Subsistimos pelos nossos próprios meios e sem fins lucrativos. Com isto pretendemos enaltecer a Poesia Lusófona, no acréscimo da Poesia Universal e difundir as obras dos nossos estimados Confrades que gentilmente aderiram ao projecto "ONLINE" deste Boletim.
“Promovemos Paz” A Direcção
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Pág. 15
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«A Voz do Poeta»
Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
SER CRIANÇA
Ser criança
É ter vida na mão
Vive-la sempre com um sorriso
Faze-la girar como um pião
E toca-la como um guizo
Ser criança
É beber sol em cada dia
Pintar de verde a lua
Chorar de alegria
E acariciar cada pedra da rua
Ser criança
É guardar no bolso o mar
E ter no peito mil corações
É ter um castelo para guardar
E esconder nele as ilusões
Ser criança
É ser homem e menino
É sonhar acordado todo o dia
É fazer o universo pequenino
É banha-lo de alegria
David Lopes - Massamá
Quero abraçar-te ( meu Portugal )
A alvorada rompia
Em Portugal era dia
Ia tudo labutar
Também eu labuto
O meu contributo
É para ti cantar
És o meu país
Minha jóia querida
Quero-te cantar
Seria feliz
O resto da vida
Em ti eu passar
Viste-me nascer
Ver-me-ás morrer
Se Deus quizer
Mas vivo a sonhar
Que hei-de voltar
Um dia qualquer
Refrão
Bom dia Portugal
Bom dia, bom dia
Com muita alegria
Canto-te afinal
Porque estou ausente
Quero-te lembrar
Toda a nossa gente
Eu quero abraçar
Contigo estar
Que bom seria
Contigo cantar
Bom dia, bom dia.
Chico Bento - Suíça
INGRATIDÃO
Quando o raio cortou a noite escura,
Desflorando a dor de tantos medos,
Girava a minha luz em vã procura
Para afugentar os barcos dos rochedos. A tua barca branca, solitária,
Zurzida pelas vagas da procela,
Trazia rota a proa mercenária
Do vento da desgraça e solta a vela. A luz do meu farol foi um aviso
E fosse só por sorte ou por mestria
Guinaste para a praia, duro piso,
E ali ficaste, exausta, até ser dia. Beijei os teus cabelos noite fora,
Irmão da tua dor, tua desdita,
Sentindo que acalmavas, hora a hora,
E te dava o que a mágoa necessita. Veio a manhã radiosa, resplendente,
Na bonança que segue a tempestade.
Olhaste então o céu... E no silente
Mar voltaste a sonhar a liberdade. Rumaste ao horizonte indefinido
A bússola nos olhos, pachorrenta,
O lindo rosto aberto, em sal curtido,
Em busca de um ocaso de magenta. Foste-te embora assim, aura de sonho,
Nas dobras do desdém, na dor agreste
Que vestiu o farol, triste, bisonho...
Partiste assim... e nem adeus disseste!...
Tito Olivio - Faro
PECADO
Nesse dia, que amanheceu
Cheio de promessas,
Só encontrou tédio por chão e céu.
Perguntou amargurado:
- Qual terá sido o meu pecado?
Enquanto por ironia,
A luz se afogava no mar a cumprir pena
Por crime não cometido,
Assim, também se sentiu ferido
Por não saber como fugir
Ao seu pecado.
Triste fado!
Altruísta e indulgente tantas vezes,
Com o pensamento em tumulto
Ou ferido por estigma ignominioso
De pequenas covardias,
Excluiu-se, pôs-se de lado.
Chorou lágrimas amargas,
Engoliu palavras ferinas
E, assim, adormeceu o seu pecado.
João Coelho dos Santos - Lisboa
TRISTEZA
Mote
"Sinto hoje a alma cheia de tristeza!
Um sino dobra em mim, Ave Marias!
Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,
Faz na vidraça rendas de Veneza...
(Florbela Espanca)
Glosa
Sinto hoje a alma cheia de tristeza!
Cai chuva dos meus olhos lentamente
Como se o céu se abrisse de repente
Num esgar de nuvens prenhes de estranheza
Um sino dobra em mim, Ave Marias! E eu rezo com a voz de quem não sente
A saudade daquele amor ausente
Na loucura que invade estes meus dias
Lá fora, a chuva, brancas mãos esguias,
Afaga a face, canta melodias
E subtilmente, a sombra do luar
Faz na vidraça rendas de Veneza... Tricotando gotas d'água sem notar
Que chove em mim como em toda natureza.
Maria Graça Melo - Lisboa
Vamos falar de amor
Sublime esperança erguida
Pelo mundo a compor
A dar sentido à vida.
O amor é o produto
Fraternidade em flor
A raiz o caule o fruto
Não há maior esplendor.
Mas plo mundo outras correntes
A guerra o ódio... O amor
Enfrenta várias frentes.
Enorme seja o valor
Infelizmente é incapaz
De acudir a tanta dor.
Aires Plácido - Amadora
3 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
«Ecos Poéticos»
AMIGO
Amizade pura, é rara;
E muito querida também;
Palavra que sai bem cara,
Porque muito amor contém.
Amigo é aquele braço,
Que está estendido p'ra nós;
Que ampara o nosso fracasso
Quando ele se torna atroz.
Amigo é o beijo dado,
Sem esperar retribuição,
Com carinho povoado,
No jardim do coração.
Amigo, aquele que atura
Nossa injustiça á toa.
E mesmo assim não censura,
E mesmo assim só perdoa.
Amigo é o respeito,
Do homem, p'lo semelhante,
E todos têm direito,
A um respeito constante.
Amigo, é não deixar,
Que um pé nos sobreponha,
Para nos poder chutar,
Lá, p'ró mundo da vergonha.
É aquele que pressente
Nossa dor e sofrimento;
O que está sempre presente,
Ao mais pequeno lamento.
Mesmo se tem outro amigo,
Não deixa de nos querer bem:
Amigo, não vai contar,
A nossa vida a ninguém.
Amigo se entristece,
Se passamos mau momento;
Amigo se regozija,
Se há em nós contentamento.
Um amigo não desdenha,
Na amizade põe zelo;
Não critica, não maldiz,
Não tem dor de cotovelo.
Sou teu amigo, não esqueças!
Diz Jesus: "Eu estou aqui!"
E que tenho os meus braços,
Sempre estendidos p'ra ti.
Anabela Dias - Paivas
EXISTO POR TI
És a força vital que me conduz,
O motivo primeiro p'ra viver,
A pintura mais digna de se ver,
És poema maior, és riso e luz!
Os sublimes momentos de prazer,
Numa loucura sã que me seduz,
São o meu paraíso e minha cruz,
Minha doce vitória e meu perder...
És a essência, cor, sal e sentido,
A base, o alicerce em minha vida;
Antes de ti, não lembro ter vivido!
Terei sido, talvez, ave ferida
Que pelo fogo tenha perecido
E regressou, das cinzas renascida!!
Carlos Fragata - Sesimbra
Educados Filhos da Escola. (Armada Portuguesa)
Eram tempos de esmola,
de barriga magrinha
rapazes alistados na Marinha
educados, filhos da escola…
Da recruta à especialidade
ITE e primeiro grau,
com alunos de moralidade.
Com as sortes do ultramar
Lá iam os homens do mar…
No Geba patrulhas na Guiné-Bissau,
onde o coco era tombado por pau…
O Comando da Defesa Marítima da Guiné
por um desafio de novas listas
com sinaleiros e telegrafistas…
Uma Província de psico e não de guerra
por lá havia festa, num ronco que encerra.
Ao terminar a comissão o comandante era a favor
de assinar a caderneta com um louvor…
Pinhal Dias (Lahnip) PT
Régio ser
É a consciência de nada ter
Que nos transfigura em régio* ser;
Porque nos faz tudo n’Ele ver,
Confirmando tudo n’Ele haver.
Então nossa alma vive o prazer
Que deriva de Deus conhecer.
Olhos que estas letras estás a ler,
Isto é o que Deus te quer conceder.
* Próprio de rei.
C.M.O.
O amor não grita...
Um quarto, calado, com cortinas cegas...
Janelas fechadas à rua indiscreta...
Estores passivos à luz indireta
Certezas crescendo abafando negas...
A roupa atirada para os pés da cama
Desejos acesos, a luz apagada,
As horas batendo na noite apressada...
Dois corpos submissos à paixão em chama...
E o tempo não pára quando a noite morre
E o sonho se embrulha na manhã que acorda
Com silêncios velhos que a culpa recorda...
Mas o amor não grita porque a vida corre
Por caminhos novos, novas aventuras,
Conquistando espaço vencendo amarguras
Abgalvão - Fernão Ferro
São Tomé
Que o Sol apareça e brilhe
Neste dia especial
Que a paisagem maravilhe
Esta “menina” sem igual
Que a poesia perfilhe
Autora tão excepcional
E que ela connosco partilhe
Seu amor ambiental.
Relatando a Natureza
Sempre com a maior beleza
Esta poeta é um encanto.
Já de si és boa e bela
Tua alma, grande estrela
Meus parabéns, eu te canto.
MariaVitória Afonso - Cruz de Pau
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«BOCAGE»
Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
PASSEI PELO SONO
Passei pelo sono e sem pestanejar,
fechei os olhos,
e vi-te abraçar-me como se fosse a última vez
que o fazias.
Deixei-me ir….
Entreguei-me de corpo e alma,
e voei naquele abraço que me pareceu totalmente real.
Ainda tenho comigo o sabor dos teus beijos,
e odor do teu corpo entrou neste bailado
onde deslizei de alto abaixo as minhas mãos!
Ouvindo a minha voz
na delicia do meu sorriso,
foi preciso continuar a permanecer naquele voo ,
de olhos fechados,
para sentir o êxtase duma realidade irreal!
De olhos semi abertos,
De pernas esticadas,
com as mãos no peito,
voltei o corpo para o outro lado,
para o lado onde não estava ninguém,
e disse de baixinho para mim:
Que pena não ter sido verdade!
Que pena.
Que pena…
Joellira - Amora
MIUDO DA RUA
É um jovem, ainda uma criança
Mas queria ser homem de verdade,
Não enfrentar a dura realidade
Dos jovens sem família e sem esperança.
Do pai existe apenas a lembrança
Dum homem que morreu na mocidade,
Da mãe-amor-carinho, só saudade,
Saudade que é um fardo que não cansa.
Ficou só, na cidade que o rejeita
E rouba o pão que a vida lhe roubou,
Já que esmola não quer em sua mão.
Nos bancos de jardim é que se deita...
E o poeta que um dia o encontrou
Outro dia, irá vê-lo na prisão!
Nogueira Pardal - Verdizela
A FLOR SECA
Andei a remexer no meu quintal
E estão lá flores secas do passado,
Com nomes num cartão nelas pregado,
Mas sei que quando os leio fico mal.
Tivesse esta manhã lido, deitado,
As tristes novidades do jornal,
Que nunca ficaria em estado igual
Ao deste, tão amargo e transtornado.
Cavei a terra à roda dum pé alto
E logo uma saudade, num só salto,
Pegou-se à minha mão. Salto certeiro.
Estava num buraco de amargura,
E trouxe à minha alma uma secura,
Que andou colada a mim o dia inteiro.
Tito Olívio - Faro
O silêncio
O silêncio escapou por entre os meus dedos,
O vento cumpriu os desejos da montanha Estrela,
Enfeitiçou o meu sossego.
Agora, desde o mais alto cume
Só as palavras sibilantes me acompanham
Num ritmo de tambores frenéticos.
Transformo-me em pássaro
Preparo-me para voar para o infinito,
Para o vazio…
Não esqueço o silêncio fortalecedor.
Em cada gesto um novo alento,
Em cada mão novos mundos.
Voo agora em palavras que sufocam.
O silêncio ficou perdido no tempo.
O silêncio
(na montanha Estrela)
Surge nos rebanhos que pastam em sintonia
Por entre os vales de urze.
Anabela Gaspar Silvestre - Covilhã
Pelo mundo viajei
por ser marinheiro bem sei
mas de consciência tranquila
era um marujo reguila
mas sem ter nenhuma maldade
nunca roubei propriedade
e os meus camaradas amei,
mas foi com muita amizade
não cometendo crueldade
que pelo mundo viajei
Vitalino Pinhal - Sesimbra
Confissão
Tinhas razão em partir,
Porque eu não te merecia,
Passei o tempo a traír,
Esse amor que me sorria.
Mostraste sempre ternura,
Aos meus falsos juramentos,
Com teu amor e alma pura,
De elevados sentimentos.
Quis esquecer-te por vingança,
Roguei-te pragas sem fim,
E agora resta-me a’sp’rança,
Que não te ‘squeças de mim.
Nesta minha confissão,
Rogo a Deus p’ra seres feliz,
Quero pedir-te perdão,
Por todo o mal que te fiz.
Aceito seja o que fôr,
P’ra te mostrar que mudei,
Quero pagar-te com amor,
Os desgostos que te dei.
Francisco Manuel Neves Jordão
Luxemburgo 21-12-2002
(fado pechicha)
Oliveira Do Cordel
esse grande poeta
que é uma pessoa correta
e cordelista fiel.
Esse grande Menestrel
hoje faz aniversário.
Eu vi no seu calendário
muito amor à poesia.
Essa concreta fantasia
do nosso meio literário.
Gilberto Nogueira de Oliveira
Bahia/BR
(excerto do poema glosado “O Cacilhei-
ro” Do Inolvidável José Viana)
Quando eu era rapazote,
Eu emigrei lá do Norte,
P’ra esta “Lisbia” tão Garrida!
- E logo que aqui “xiguei”,
- por ela me apaixonei...
P’ró resto da minha vida.
Silvino Potêncio
Transmontano/Natal/BR
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«Rota Poética»
Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
Amora Cidade Amiga
I
Amora cidade amiga
Do Seixal está confirmado
É uma amizade antiga
Que nunca se desliga
No presente e no passado
II
Mesmo de frente à baía
Amora tem um moinho
Quando a maré está vazia
A reserva se enchia
Nunca parava sozinha
III
Amora tem casas modestas
Como quem lá vivia
Muitas são como estas
Ali se fazem as festas
Mesmo à frente da baía
IV
Tinha quintas da nobreza
Eram de gente de bem
Ali trabalhava a pobreza
Que lhes davam a riqueza
Hoje parecem de ninguém
V
No estaleiro do talaminho
Muitas reparações se fazia
Hoje está ali sozinho
De terra é o caminho
Mesmo de frente à baía
VI
Para uma caminhada
O que antes não havia
É uma obra que agrada
Mesmo ao lado da estrada
Frente há sua baía
VII
Parabéns à freguesia
Pela obra que tem feito
Depois daquele dia
É obra de mais-valia
Merece o nosso respeito
Miraldino Carvalho - Corroios
FADO DO MEU FADO.
(Dedicado à ilustre fadista
D. LINA ALMEIDA)
Quando o fado se canta,
Da raiz do nosso peito,
Logo a saudade se levanta,
N’um clamor vivo sem jeito!
Quem canta o fado assume
Co’a voz que o orienta,
Pra ocultar o ciúme,
Que dentro de si rebenta!
É triste o nosso fado,
Qu’ecoa dentro de nós,
Por vezes tão delicado,
Que não nos sentimos sós!
Cantei a pensar em ti
O fado triste do meu fado,
Nem imaginas o que senti,
De não te ver a meu lado!
Dizem que o fado nasceu
N’uma taberna em Alfama,
O Marceneiro que ali viveu,
O consagrou, deu-lhe fama!
A guitarra nasceu pró fado,
Com todos seus segredos,
Pra que seja dedilhado,
Por quem tenha finos dedos!
É assim que o fado rola,
Desde os tempos da Severa,
Co’a guitarra e viola,
Tem outra atmosfera!
Fado é das descantes,
Que o povo tem apego,
Nasceram co’os estudantes,
No Choupal do Mondego!
A lenda do nosso fado,
Tem tanta, tanta história,
Por Amália elevado,
Aos píncaros da glória!
Nelson Fontes - Belverde
Banalidades
Tudo na vida se tornou banal
As amizades
As relações familiares ou sociais
Os problemas de cada um em geral
A educação e a informação
Os discursos dos políticos
As discussões no parlamento
Os casos complicados na saúde,
E o deboche nos hospitais,
O aproveitamento de tudo para fazer greve
A exigência de ter de cumprir em pouco tempo
O que outros poderes levaram mais tempo a destruir,
Tudo, mas mesmo tudo se tornou
Inexplicavelmente banal
Menos uma ou outra coisinha
Futebol, seleção, Ronaldo, Ronaldo, Ronaldo
O resto é tão banal
Que eu acredito já nem merecer atenção
Seja de quem for,
Acordem todos, a vida não é só isso
E mal damos pela coisa pode ser tarde demais!
Regina Pereira - Amora
Parabéns Confrades
Parabéns, Confrades
Foram muitos os Poetas
Gente de sãs veleidades
Atingindo suas metas
Com tais invulgaridades.
Dez anos servindo a poesia
Em Portugal de lés alés
E também no Brasil
Divulgado em terras mil
Com toda a sua magia-
Que continues a encantar
Com toda a própria euforia
Dos poetas a levedar
Pão do espírito romântico
A transpor o Atlântico.
Dez anos pré-adolescente
Confrades, maturidade
É sempre muito premente
E encanta muita gente
Que hoje vai festejar
Conjugando o verbo amar
E vai cantar A POESIA
Neste dia de alegria
Maria Vitória Afonso - Cruz de Pau
Saudade, tenho saudades
Dos dias que já vivi
Saudades, duras verdades
Por vos ter longe de mim!
Amargos dias
Felismina mealha - Lisboa
Eu aprendi a comer
o peixe assado com os dedos
para mim não tem segredos
sejam sardinhas ou carapaus
agora não consigo aprender
nem mesmo gosto de ver
a comer peixes com paus
Vitalino Pinhal - Sesimbra
6 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
«BOCAGE»
Monte alentejano
Nasci num monte pequeno
Bem pertinho do montado
Onde havia pasto e feno
Azinheiras e sobrado
No concelho mais bonito
Que o baixo Alentejo tem
O mais belo, eu acredito
Santiago do Cacém
Passei lá tempos felizes
Em casa de meus padrinhos
Ouvindo o cantar dos búzios
E das velas dos moinhos
Moendo os cereais na mó
Fazendo a fina farinha
Abençoado seja aquele pó
Que delícias faz na cozinha
Papas, bolos, massas e pão
Que satisfazem toda a gente
Dão calor e alimento ao coração
No inverno frio, e no tempo quente!
Regina Pereira - Amora
No Monte do Couto
a Fonte do Padre “Antonho”
À meia encosta do monte,
Por entre juncos e silvados,
Brotava água da fonte!....
A vida p'ra homens e gados!
Paradisíaca paisagem...
Eden dos sonhos, em embrião,
Onde o vulto da imagem,
Nos penetrava o coração!
As aves canoras felizes,
De lindas cores e matizes,
Neste Jardim das Delícias,
Eram um ornamento maior,
Quando entre árvores em flor,
Partilhavam doces carícias!...
José Caldeira – Fernão Ferro
MINHA FLOR, MEU AMOR
Como é triste em claras noites de luar
Estar aqui no meu Monte amado!
Estou só - Amor - mas bem recordado
Dos dias d'amor neste nosso lar.
São saudade infinda tais momentos
Jamais esquecidos por tanto amor!
Éramos dois jovens (vidas em flor)
Comungando os mesmos sentimentos.
Tão breves anos hoje recordados
Por quem te amou tanto nesta vida
Boa parte neste rincão sagrado.
Aqui te conheci, fomos namorados.
Foste tu a minha Flor mais querida
Neste jardim de amor por nós criado.
JGRBranquinho - “Zé do Monte”
Monte Carvalho - Ribeira de Nisa
Preciso de ti agora
penso em ti a cada momento
não sabes o meu sofrimento
por de mim estares ausente
vem e fica presente
mesmo por escassos momentos
para saberes dos meus sofrimentos
e deles tu ficares crente
sabes que estou doente
com uma dor que me atormenta
mas o que mais me violenta
é de mim estares ausente...
Vitalino Pinhal - Sesimbra
Tem gente
Tem gente que me amou e eu não amei...
Tem gente que eu amei e não me amou;
Tem gente que não sabe o que eu sei,
Tem gente que nem sabe quem eu sou.
Tem gente que partiu ou que ficou,
Tem gente que ficou... mas já partiu,
Tem gente que não viu o que olhou,
Tem gente que olhou o que nem viu.
Tem tanta gente vendo o que não vê,
Ou crendo no que pensa que não crê,
Que eu vou reconstruindo o que eu sonhar,
Meu pé sempre pisando o mesmo chão
Que faz do meu momento, um coração
Que pulsa na emoção do meu olhar.
Luiz Poeta- Luiz Gilberto de Barros
RJ/BR
O MEU FIM...
Batem as ondas agrestes...
No rochedo da minha alma!
Dias de solidão!...
Da maresia mais salgada...
Sinto o mar do infinito que me leva...
Que vence treva...
E rompe a manhã!
Faço do infinito o finito
Sinto a lágrima de cristal
No fundo da nuvem!...
Agarro o sal da vida...
O mar da solidão..
Visto-me de algas...
Quando o mar abrir...
Eu serei onda que regressa...
Sem receio de partir!...
Nos meus versos, beijos de gaivota
Que hão-de flutuar na Barca da Vida!
Traços firmes da rota...
Que percorre horizontes sem limites
De barcos perdidos...
Em marés de cetim… que me transmites
Que navegam dentro de mim
Vendavais vencidos...
Nos corpos trazidos na maresia...
Com as Rosas de Santa Maria...
Na Rota da Agonia...
Eu sou o Fim!
Maria Fraqueza - Fuzeta
A Carantonha da Correnteza
Quinta da Maria Pires lá atrás
Bem na frente o nosso Rio
Á esquerda a Tia Perpétua
E á direita o meu tio
Quem vinha do Correr d´água
Trabalhar no Pampolim
Trazia sempre lembrança
Que deixava para mim.
Na minha memória arquivo.
A vida na Correnteza
Fosse o Raul Vindima vivo
E essa carantonha feia
Vinha pro chão de certeza
Artur Gomes - Amora
Amor falso
Se tiveres amor à vida
Não ames a falsidade
Porque fazem-te a partida
De te amar sem ser verdade
Poeta Selvagem – Alentejo
7 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
«Cantinho dos Poetas»
Imaginando
Subindo lentamente pelas rimas,
fecho os olhos… vejo-a linda,
de sorriso cativante.
De olhos fechados chamo-a,
procurando o seu sorriso.
Em minhas mãos abertas
sinto o aveludado da sua pele
como uma chuva de pétalas.
Tateio em sua boca
o hálito perfumado das palavras
no silêncio da noite,
em gemidos de ditongos por decifrar,
famintos dos seus beijos.
Lentamente abro os olhos,
mas nada vejo,
fico triste, mas continuo imaginando.
Arménio Correia - Seixal
Com(passo)
Escrevo
Enquadro
Apago
Abr)o( com(passo)
)lento(
Giro
Num esquadro
90 graus
Encho o espaço
Traço
Desisto
Não é isto.
Apago
Recomeço
Num com(passo) aberto
360 graus
Revejo...
Que traçado indecente!
Não apago!
Giro
(É a vida...
Em círculos... sem fim!)
Anna Paes . Brasilia/BR
HORA DE DAR AS MÃOS
É hora de parar e ao redor,
Deitarmos um olhar bem complacente,
Para se constatar que muita gente,
Mergulha num constante mar de dor.
Velhinhos que se encontram sem amor,
Abandonados á sorte intransigente!
Crianças sem lar! muito inocente,
Naufragando em ondas de amargor.
É hora de parar e dar as mãos!
E sermos mais amigos, mais irmãos,
Plantar amor, onde a dor causa danos.
Abracemos a lei da igualdade
Haja que raça houver, o que é verdade,
É que todos nós, somos, seres humanos.
Anabela Dias - Paivas
ATÉ SEMPRE
Desde ontem,
Malanje conta mais uma Lágrima
de Filho Dela que partiu.
Tem junto, igual, outra lágrima de Pombal,
onde Filho Dela viveu
e ensinou a valer.
Na África e no Mundo,
sua dádiva foi de diamante.
Hoje, as gerações de Lá e Cá
estão tristes,
mas Vítor Duarte, apenas se mudou.
Mano que estava junto
foi na frente, mas não está distante.
Descansa em Paz, Nosso Amigo.
Zé
José Jacinto “Django”!
Casal do Marco
Quem dera ter...
No delicado encanto deste amor
que tenho, sem te ter!... Quem dera ter
asas fortes, soltar-me, ser Condor
e aninhar no teu colo de mulher
p’ra ter-te só p’ra mim e em ti compor
canções p’ra te cantar e te dizer
que aqui, longe de ti, a minha dor...
é nela, na almofada, podes crer
que algum consolo busco, normalmente,
e que me beija as faces, docemente,
quando me entrego a ela já cansado
e sereno adormeço, lentamente,
para emprenhar uns versos, mentalmente,
e em sonhos possuir-te... relaxado
Abgalvão - Fernão Ferro
Sem amarras
Não sou cativa de nada,
Nem sequer de mim o sou.
Sigo o meu pensamento,
A todo o lado que vou.
Sonhei com a terra inteira
Para me elevar às alturas.
Sou minha própria bandeira,
Tripudiei as amarguras.
Não sou cativa de nada
Nem sequer de mim o sou
Ando livre pela estrada
Que a vida já me traçou.
Os meus sonhos? que ideia,
No mar alto naufragaram.
Os meus castelos de areia,
As ondas também levaram!
São Tomé - Corroios
Prepassa o gesto do vento
Como a asa do sol
Que no mar imenso
Num repente ficou parado
Na palma da minha mão
Albino Moura - Almada
Fernando teu nome Pessoa
Pelas Arcadas do Martinho ecoa
Poemas, prosas, lamentos
Castigas teu corpo ao vento
Cai o verde do teu absinto,
Sobre os corpos da tua batalha
E choros sobre a tua mortalha.
Mário Juvénio Pinheiro – Amora Pintura - Fernando Pessoa Autor: Mário Juvénio Pinheiro
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«Cantinho dos Poetas»
Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
D. ANA
Lembrei-me de D. Ana.
como a recordo tantas vezes,
mas hoje manifesto a saudade.
Um “General de mais
de 1000000 de estrelas brilhantes de bondade,
continuante pela vida fora, aqui
e no Céu está lá, de verdade.
D. Ana, a Ama das minhas filhas,
das 5 e meia da Sofia
que ia de Vale de Milhaços a Corroios
embrulhadinha num cobertor
e de autocarro e dormia
só até a Centro de Saúde….
Depois, a pé, no bolso, no abraço,
no andar ao colo, outra vez adormecia
até À Quinta de S. Nicolau....
E D. Ana, 6 horas da manhã,
nos recebia…
Paz e Amor na entrada,
e embora, sossegado, eu ia.
Ama da minha Claudinha,
“pintinha” depois da varicela,
com Ela esteve protegida, depois
E só não foi “Pimentinho Bravo: Belinha,
D. Ana estava cansada, mesmo.
Queria ficar sossegadinha.
Mas tal qual Mãe, Avó, especial
D. Ana dava-me sermões inesquecíveis,
com carinho excecional,
conhecedora das minhas vadiagens repetíveis
se chateava e quando me apanhava a jeito,
com a santidade anulando qualquer meu argumento,
dava a ordem de General:
Zé, , não se esqueça, ande por onde andar,
mesmo que não dê importância,
vem cá passar o Natal.
Se não…. quando cá aparecer
“Já lhe dou o arroz”!
E pronto. Obediente, a Ela
de surpresa, lá aparecia.
E aquela porta com grades,
e alarmes se abria e Ela sem abraço
porque uma bondade tão grande não cabe
dentro dos braços,
me dizia: Já acabou a encharia (Vadiagem)?
e sorria e ...senta-te!
Tenho saudade desses dias.
Da nossa Ana.
Descansa em Paz “General”.
Zé
José Jacinto “Django”!
Casal do Marco
Sonho meu
I
Na calada da noite…
Linda mulher me apareceu!!!
Visão?
Aparição?
Sonho meu!!!
II
Tarde vieste ao meu encontro…
Ò Beleza tão antiga e tão nova
Tarde Te encontrei!
Tarde sonhei …
Pequena réstia de Sol de Outono …
Será que ainda é possível sonhar?
Não será o sonho uma ilusão?
Haverá ainda Luz na estrela que se apaga?
Dolorosa espera …
Suave brisa matinal…
Leve crepitar da Esperança.
Confiança Renascida.
Sorriso de criança!!!
Filipe Papança - Lisboa
Humanos tão desumanos!
Toureiro
É carniceiro,
Que exerce sua profissão
A cavalo ou com os pés no chão,
No meio dum redondel,
Face a grande multidão,
Que se excede em gritaria.
Como é triste este papel,
Com tanta velhacaria!
Toureiro
Ou carniceiro
São para mim profissões
Iguais, de pouca valia.
Nem que eu ganhasse milhões,
Eu jamais praticaria!...
Hermilo Grave - Paivas
Sonho
Hoje sonhei com ela,
estava linda!
Deitada sobre um manto
de nuvens brancas
banhada pelo luar.
Era luz que refulgia
como estrela a brilhar.
Ouvi seu doce cantar
angelical sinfonia
duma beleza sem par,
e eu ali tão perto dela
sem a poder alcançar,
misto de dor e alegria,
era a pura nostalgia
Que me fazia sonhar.
Quebrei as grades do tempo
só para poder ficar,
junto de ti meu amor
Para em ti me enlaçar.
Arménio Correia - Seixal
Como este amor me fascina
Tão puro e profundo
Olhas-me sem me olhar
Beijas-me sem me beijar
Estendes o braço sem mão
Deslumbro-me sem saber
Se respiro para te ver
És a sombra sem sombra
Que me vem proteger
A onda que me enrola
Em algodão de espuma
Para não quebrar o encanto
Desse abraço de pluma
Levas-me fantasiada
Ao sabor do vento
Em voo lento
Com doçura perfumada
Damásia Pestana – F. Ferro
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«Tribuna do Vate»
Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
Rádio Confrades da Poesia
Rádio Confrades da Poesia
P’la locução de Pinhal Dias
Que nos dá muita primazia
Ouvir músicas de alegrias.
Luís Fernandes – Amora
Vivo por ti
Preso à maré, olho o mar,
Com a lua e o sol a brilhar,
Na tua praia dourada,
Trago no coração a nostalgia.
Cego de paixão deixa-me andar
Sereno e sempre a sonhar
Contigo minha terra querida
Numa outra vida caída.
Baloiça na alma uma saudade…
No chão que piso, sem vaidade,
Minha voz tem ar adormecida
Ao meio da vida já cansada.
Sou um poeta que tenho bondade,
Vivo por ti nesta ansiedade,
Como emigrante distante
Rogo a Deus por ti, docemente.
Luís Filipe N. Fernandes - Amora
A terra desejada
Desperta na minha mente
O meu sonho de paixão quente.
Existe para lá do horizonte
Sob o sol na ilha, por achar.
Eu, murmuro o céu e o ar
Esse ar que ninguém vê,
Esse ar que ninguém sente.
Deixo aqui o meu pranto!...
Vejo a terra poluída cruelmente,
Vítima quantas vezes tens tragado?
Por ti, sinto-me magoado,
Pelo mundo estou comovido,
Não sei onde está a luz da vida…
O tempo avança e não agrada
Ao futuro da criança
Meu riso é eco mudo.
A indicar o descontentamento
De quem está caído no mundo
Todas as dores passam…
Pela terra degenerada!
Luís Fernandes - Amora
Sonhos de Outrora
A noite estava serena,
O Céu estava estrelado,
E eu?
Por uma estrela
Fiquei encantado…
Pois ela era aquela
Estrela, que eu vi brilhar,
Nessa noite de luar!
Adormeci a cantar para mim,
Uma melodia suave e leve.
Frágil como uma ave,
Que a gente até não sabe:
O que a sonhar senti…
No canto da minha amada,
Flor do meu amor,
Em que nós festejamos,
Os beijos que trocamos…
Sob o Céu que ainda alumia,
Onde o mar ondeia,
Os sinais que fizemos!
Ai despertei e verifiquei
Que também estava dormindo!
E nesse sonho sonhado
Realizei que era um sonho lindo!...
Luís Fernandes - Amora
Sob o Sol
Sob o Sol da Graça Divina…
Deus do homem espera mudança,
Onde floresce a compreensão.
Em qualquer dia de cada estação
Nos olhos de uma criança…
Existe cada vez mais esperança,
De o homem dar atenção
À vida da nova geração.
Luís Neves
Lágrimas
de sangue.
O amigo
do amigo
enxuga
a lágrima,
mas o verdadeiro
amigo
é aquele que
vai segurando
essa lágrima…
Deus
criou as mães
para enxugar
as nossas lágrimas…
Pinhal Dias
Amora
Um rio de poesia.
Poesia…tu és um rio de boa nascente
Fonte de água pura e cristalina…
Entram os peixes, de maré crescente
Pescadores pescam, com disciplina
Rio de Judeu no seu posto e reposto
Pla voz timbrada do declamador
Veia poética no devido posto
Amora com um rio de esplendor
Fortes correntes: - enchente e vazante
Da nascente à foz és mais hilariante
Braço do mar, com vida e cortesia
Flui as margens banhadas de cultura
Com vozes poéticas de postura
Deixa o rio satisfeito de poesia
Pinhal Dias (Lahnip) PT
Bagatela do negrume.
São esses grupinhos
que são acrescentados de fofoquices
por más línguas de tolices…
Quando a língua entra em acção
dá xeque mate ao coração…
Heroísmo!?
Tombou nesse protagonismo…
Palavras malditas
que caem no chão,
mais tarde serão choradas
nas quatro tábuas de um caixão…
Essa bagatela do negrume
com palavras soltas ao lixo,
onde a madeira é ruída pelo bicho…
E falem agora,
do certo ou errado
este poema será o seu fado
que já nasceu malfadado…
Por danças e festas
lá vão bebendo uns copinhos
a falsa turma dos grupinhos…
Romper com esse mundo da explosão
os iluminados filhos da luz,
que abafam essa escuridão…
E se o mar está calmo!? …
Canta-lhe um salmo…
Pinhal Dias - Amora
10 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
«X Aniversário» 1/8/2008/1/8/2018
10º
Aniversário
1/8/2008
1/8/2018
Pioneiros do 1º Aniversário dos Confrades da Poesia
A.Pinto de Almeida - Agostinho Moncarcho – Alfredo Louro - Américo Lourenço - Ana Cristina Videira – Ana Rita - Ana San-
tos – António Bicho – António Mestre – Berta Rodrigues - Carlos Leite Ribeiro - Carmindo Carvalho - Cecília Rodrigues - Ce-
leste Vieira - Clarisse Barata Sanches - Conceição Tomé - Efigênia Coutinho - Elvira Santos - Fernanda Lúcia - Fernando Reis
Costa - Filomena Camacho – Francisco Rosário - Isidoro Cavaco - Ivanildo Gonçalves - João da Palma - Joaquim Evónio - Joa-
quim Sustelo - Jorge Vicente - José Jacinto - José Manangão – Luís Fernandes - Luís Vieira (Foreval) - Manuel Silva - Manuela
Silva Neves – Maria de Lurdes Brás – Maria de Lurdes Vieira – Maria Petronilho – Maria Sesimbra - Maria Vairinho - Maria
Vitória Afonso - Miraldino de Carvalho - Natália Vale – Nelson Fontes Carvalho - Nogueira Pardal – Piedade Vaz - Pinhal Dias
– Pinto da Rocha - Preciosa Gamito - Quim D’Abreu – Rogério Miranda - Rosélia Martins – Sara da Costa
Aos Confrades que fizeram a sua história nos Confrades é essa história que preservamos na Biblioteca dos Confrades...
Dia do cão:Cão o melhor amigo
Neste mundo tão cheio de ilusões,
De sórdidas, perfídias, de perigo,
Quem dera que entre tantos mil varões,
Eu encontrasse um verdadeiro amigo.
É duro declarar, porém, mal digo,
Para sempre essas más ocasiões,
Eu que matei a sede e dei abrigo,
A certos tipos, todos canalhões!
No entanto , eu agradeço a tais senhores,
Porque dando-me paga aos meus favores,
A aspirar sempre os sais da ingratidão,
Me ensinaram a estimar um perdigueiro,
Que tem sabido ser meu companheiro,
Embora tenha a condição de cão!
Nelson Fontes - Belverde
Um dos Confrades não relatado aqui… Deu o seu silêncio...
Douro
Vinhedos circundam cada monte,
Que elevam arredondadas cristas,
Até tocarem a linha do horizonte,
Deixando extasiadas nossas vistas.
Longos socalcos, mapa de muitas rotas,
Feitos de xisto (inspiração divina),
Suportam as ingremes encostas,
Cobertas por diáfana neblina,
Onde homens de rostos tisnados,
Recolhem o néctar dos divinizados.
Vales profundos abrem caminho
E vencem obstáculos sem parar,
Para o Douro passar de mansinho,
Na longa caminhada até ao mar.
Acompanhando o curso do rio
E a roçar a superfície molhada,
Uma serpente de ferro, em desafio
Sibila, ao passar em disparada!
São Tomé - Corroios
LÁGRIMA
é só uma lágrima
não é mais que uma lágrima
tem a cor de quem a chora
é translúcida ametista
é arte
só não sei se é de rir se é de morte
pouco tempo tem de vida
nasce e morre
na vertigem
do espaço que ocupa
Carlos Bondoso - Alcochete
Ser amigo de verdade
é um bem adquirido
é um ser que nos é querido
e nos faz muito feliz
mas o velho ditado diz
não há amigos de verdade
e se nele houver falsidade
corta o mal pela raiz
Vitalino Pinhal - Sesimbra
SAUDADE. Saudade é um passarinho que esqueceu o gorjeio
e vem pousar no telhado do nosso coração.
Filomena Gomes Camacho - Londres
Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018 11
Primavera
Quando a primavera se inicia
Há certa ordem e obediência:
Chega tempo de florir e parir,
Floresce árvore, sem se vestir.
E folhas novas, tementes ao frio.
Espreitam do ventre tolhendo o brio
Mas, a tempo, soltam a exuberância,
E em obediência ao tempo, a aparência.
Obedecendo a ordem da natureza,
Cada planta, sua flor, cor e beleza
Cumprindo a diversidade programada,
Floresce variada cor, não segregada.
Obedecendo a cena política sazonal
As folhas velhas de Outono
Se esvaem no turbilhão do abandono
Assim floresce, nua, a árvore afinal.
Vai de bengala a esfarrapada Idosa,
Gente de cor, visivelmente amorosa…
Apoio? Só de quem quer parecer na vida!
Floresce, decresce e parece escurecida.
Usufruto dum eventual subproduto?
Oferta? Nem se for a flor de aqueduto,
Que natureza tudo valoriza com primor
Que até de mão de cor tem mais amor.
Amália Faustino – Praia/Cabo Verde
«BOCAGE»
PARABÉNS
Um dia, outro, o tempo vai passando,
A vida entra por nós sem que vejamos
Que em busca do futuro, caminhamos
Umas vezes vivendo outras sonhando.
P’ra chegar mais além vamos andando
Em busca do futuro que almejamos,
Algumas vezes sofremos e choramos
Outras vamos felizes e cantando.
E um dia em cada ano que vivemos
Sentimos junto a nós tudo o que queremos
Ao festejar um dia especial.
Aquele dia certo no calendário,
Que é o dia do nosso aniversário
O dia que, por nós, foi de Natal.
Nogueira Pardal - Verdizela
Negros Caminhos
A vida é um deslizar de momentos
envoltos na loucura de ser
turbilhões que envolvem sentimentos
e os fazem cair ao amanhecer
é tempo de revolta e amor
princípio e fim de cada estação
desordem que marca a dor
mortifica e sangra o coração
é tempo perdido no deserto
dos sonhos que se idealizaram
mãos cheias de preces sonho perto
mas que no vácuo se perderam
Meu canto semeado neste tempo
aos poucos vai perdendo energia
tombam as forças num lamento
para onde corres oh alegria?
passados que são os dias e os anos
neste tempo que é o nosso viver
apenas sinto a noite dos desenganos
onde fica a esperança do alvorecer?
nestes negros caminhos vamos
caminhando um pouco sem fé
era o ontem passaram os anos
por eles sigo sem saber onde é.
Rosélia M. G Martins
P.StºAdrião
GRANDE DESAFIO
*
Deixa dar-te um elogio
Pinhal, nesta ocasião.
Pelo grande desafio
Na Rádio, que tens à mão!
*
Pelas belas emissões,
Que nos enchem de alegrias
Fado e lindas canções,
Recitando poesias!
*
Pelo grande empenhamento
Na Rádio, horas sem fim!
E o vasto conhecimento
Como o dominas assim!
*
Darei o meu contributo
Sempre que possa, eu aludo
Mas vejo neste reduto…
O Pinhal, como Escudo!
*
Se o Pinhal não existisse,
Tinha de ser inventado
Para que a gente o visse
Em Amora, ou outro lado!
*
João da Palma - Portimão
PARA SE VIVER
Fogo incandescente
Riqueza orgulhosa
Jogo d’Alma
Ardente como o Sol
Quem te tem não fica no deserto
Tens a virtude
De te deixares envolver...
Tua a glória que brilha
No poder d’esta terra
São carícia…são delícias
Amor em que se acredite
P’ra aos Deuses se oferecer...
Naquele perfeito ser amado
Dominado pelo desejo
Ninguém se vai afastar
Sem a felicidade d’Amar…
Na flor desta idade
O poeta vai cantar
Elevar às alturas da felicidade
A graça de conhecer
Riqueza adornada p’ra se viver…
Carlos Alberto S Varela (CASV)
10º Aniversário dos Confrades da Poesia
Agosto 2008 – 2018
Dez anos de vida são contados,
Que dois devotados poetas,
Em busca de novos horizontes,
Encontraram as primeiras metas
Em terras de Trás - os - Montes.
Perto do céu e longe do mar,
Entre rios, montes e vales,
Com vestígios dos Celtiberas.
E, tocados pela magia do luar,
Das belas ninfas, musas e quimeras,
Criaram o Boletim em certo dia,
Que deu origem aos “Confrades da Poesia”!
São Tomé - Corroios
12 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
«Faísca de Versos»
Adeus mundo cada vez pior.
A poesia navega plo mundo fora…
E a cultura?!
Será vista com bons olhos?!
Será que este mundo não melhora?!...
Adeus mundo cada vez pior…
A sociedade questiona:
- “Será que este mundo vai melhorar”? …
…corrupção…delinquência juvenil
Ódios, invejas é o prato do dia
Numa dança de melodia
Hoje…
Com os cravos murchados de abril…
A educação?
A ética moral?
Ambas ficaram adormecidas
À sombra d’um apadrinhado…
A cultura ficou sentida…
Afogada nas suas metas
No horizonte dos poetas…
Se o mundo anda a coxear!? …
Como poderá um coxo ajudar outro coxo!? …
Se o faminto quer trabalhar!?
É o amigo que ensina a pescar! …
Adeus mundo cada vez pior…
Pinhal Dias (Lahnip) PT - Amora
Há sorrisos...e sorrisos!
Com um sorriso, talvez,
se pode alegrar alguém
ou suprir-lhe a timidez
que o oprime e faz refém!
Sorrir não doi nem magoa
se sorrimos com franqueza!
Com sorrisos se perdoa
e se mitiga a tristeza!
Vê somente como irmão
quem por ti na rua passa
e sorri com afeição
sem olhar ao credo e raça!
Há sorrisos...e sorrisos!...
Os bons de amor ou amigo
e os que são reles avisos
os “amarelos”... vos digo!
Quando sorrimos trocamos
palavras sem serem ditas
sejam de amor quando amamos
ou se odiamos...malditas!
Com um sorriso se engana
sorrindo também se trai
e num sorriso se emana
o que na alma nos vai!
Há sorrisos que nivelam
prazer, amor emoções
e há sorrisos que revelam
o amargo das frustrações
Num sorriso nos perdemos
se nos transmite paixão
mas há outros que sabemos
serem focos d’ilusão!
Dos sorrisos vou lembrando
que o mais belo sei qual é!
O da mãe amamentando
com enlevo o seu bebé!
Abgalvão – Fernão Ferro
E A SAGA CONTINUA
Visualizei o mundo, e então
Eu tive um sonho especial.
Lindo povo unido, meu irmão.
Gente honesta em minha nação,
Honrando o nome “PORTUGAL”
Quero um povo mais feliz,
Acima de tudo soberano.
Do mundo não sou juiz…
Só desejo para o meu país,
Mais alegria no ser humano.
Mas o país anda às avessas,
Os “vigaros” fora da prisão.
Andam por portas e travessas,
Os políticos fazem promessas
Ninguém acredita nelas, não.
Nada muda nem pela Grei.
Levam o país à falência.
Temos corruptos, fora da lei
São tantos que já não sei
Até quando haverá paciência.
Porque o Zé Povinho é que paga
Grandes desfalques de alguém.
Enquanto a corrupção estraga,
Nunca terminará a saga:
«Deixar o pobre sem vintém».
Maria de Jesus Procópio - Paivas
Ruas de cumplicidade
As ruas da cidade são a minha fuga
Delas não sei o nome, nem das casas
Caminho nelas sinto a sua ajuda
Sou ave livre que não perdeu as asas
Conheço bem os recantos mais secretos
Onde me escondo no negrume da tristeza
São esconderijos de miseráveis espectros
Que já viveram na opulência da riqueza
Entrei nas catedrais ouvindo as preces dos perdidos
Revi-me nelas e na sua sonolência
Sofri na carne o silêncio dos gemidos!
Nada deixou cicatrizes ou remorsos
Tudo apaguei com coragem de apagar
Doeu na carne, na alma, e até aos ossos
Mas sei que o tempo se encarregará de apagar!
Regina Pereira - Amora
“MOMENTO DE CAÇAR”
Vamos à caça aos “primeiros”
Que são os que comem mais,
Porque dos milhos rasteiros,
Restos de ricos, rendeiros…
São comidos p’los pardais!
Vamos à caça de quem,
Nesta vida não trabalha
E a riqueza lhe advém
Do povo, e de mais ninguém,
Prenda-se essa canalha!
Prenda-se a corrupção,
Doces, azedos e salgados…
Que sugaram a Nação
E ainda há muito ladrão,
Que têm de ser caçados!
Vamos caçar os ladrões
E, pegá-los de cernelha…
Políticos e aldrabões
Que nos cortaram milhões,
Vamos metê-los na grelha!
João da Palma - PT
“TEMOS OS COFRES CHEIOS”
De desemprego, trabalho precário
De insegurança, e muita emigração.
De jovens sem futuro, servidão…
De muito compadrio e corrupção.
Evidentemente! Nem tudo é mal
Em Portugal, há quem ufano!
O filho de fulano e de beltrano…
De mo cra ti ca men te!
A “cunha” à frente…
Aires Plácido - PT
Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018 13
«Contos e Poemas»
SAUDADE…
Saudade da minha gente que, não tendo a complexidade tecnológica, se socorria de meios naturais tais como:
O discernimento de se guiarem, durante o dia, pelo sol; à noite, pelas estrelas.
Da mestria de fazerem a previsão do tempo olhando as nuvens, a cor do céu, escutando o canto das aves...
Da habilidade de conhecer as pegadas dos animais.
Saudade de possuir um rio, onde havia os peixes que, para além de alimentar e de mitigar a sede, também se oferecia límpido e
cristalino para que os corpos se banhassem…corpos que tinham a destreza de correr pelo mato emaranhado e a agilidade de tre-
par árvores gigantescas.
Corpos imunizados pelas intempéries do calor, do frio… resistentes à escassez de víveres e da água, durante a seca…
Saudade de uma comunidade onde as alegrias e as tristezas eram de todos…
Onde a dor da perda, a alegria de um nascimento, a captura de um animal, a abundância ou a escassez, os infortúnios das calami-
dades provocadas pela Natureza - ainda que atingindo apenas alguns - eram vividos, sentidos e partilhados por todos como se
este fosse somente um corpo homogéneo e apenas um só espírito.
Saudade daquela comunidade onde, a transparência das pessoas, não se restringia só na linguagem corporal, mas também na lin-
guagem da alma…
Filomena Gomes Camacho.- Londres
A Tia Fortunata
Engraçado recordar a Tia Fortunata, agora que tenho talvez a idade que ela tinha quando aconteceu o que vou contar…
E é a saudade, e o facto de ser a primeira a ouvir esta história tão trivial mas que ficou no imaginário da família. Ela deu à tia
uma aura de protagonismo, que recordo, ao reviver um passado, que dourou a minha infância.
Rua de Relíquias, uma rua de casas baixinhas, e onde não morava nenhum rico. Era a rua onde morava a tia.
A Tia Fortunata era minha tia-avó por afinidade pois era a esposa de meu tio Joaquim Algarvio. A história desta alcunha era, ao
fim e ao cabo, a história da família da minha avó paterna. Minha bisavó, natural de Salir, Algarve, mãe de sete filhos, enviuvara
lá e para garantir o sustento de sete filhos pequenos aceitara a proposta de viver com um rico lavrador também viúvo Como esse
lavrador também possuía terras em Colos, passaram todos a viver nesta zona do Alentejo.
Aí cresceram todos, se casaram e constituíram família.
E sempre ouvi mencionar o primeiro nome de meus tios avós seguido do aposto linguístico – ALGARVIO – que sendo um ele-
mento de proveniência étnica atestava a região de onde eram oriundos. Assim o tio Manuel Algarvio, cadeireiro, isto é fazedor
de cadeiras de buinho, o tio António Algarvio trabalhador rural, o tio Chico Algarvio lenhador, e finalmente o tio Joaquim Al-
garvio, almocreve, este o marido da tia em questão. Curioso era que as manas da avó não ganharam a alcunha Eram apenas
Constança e Ana.
Mas vamos à tia Fortunata: É dos meus sete anos a viva recordação da minha primeira visita. A sua vivacidade e originalidade
fascinaram-me desde os primeiros momentos. A tia era cheia de encantos; tinha uma voz rouca e lembrava as avozinhas dos con-
tos de fadas que a avó me contava... Era simpática e um pouco gaga. O que me encantava pois não conhecera ninguém assim.
A avó não chamava à tia Fortunata o que ela lhe era por afinidade – mana cunhada. Eu sempre lhe ouvi dizer a Comadre Fortu-
nata pois era madrinha de seu filho.
A casa da Tia Fortunata era ainda mais humilde do que a da avó. Entrava-se para “a casa de fora”, havia uma cozinha e um quar-
to de dormir. O quintal era extenso.
A tia encontrava-se só, pois o tio saíra para um frete de alguns dias na sua vida de almocreve.
E naquele dia ela tinha algo de grave para nos contar. Adivinhava-se na sua expressão fisionómica. Algo simultaneamente dra-
mático, irónico, picaresco...
E lá começou a desfiar a sua malfadada história, isto é, o acontecimento daquele dia aziago para ela...
E eu que na escola aprendia as primeiras sílabas pensei logo que a tia ao falar, soletrava as palavras com que exprimia as suas
ideias. E contou por monossílabos, dissílabos, trissílabos destacados pela sua gaguez a história da galinha que saída do quintal
atravessara a cozinha, a casa de fora e saltara para a rua sem a tia dar por isso.
Passara um automóvel, muito raros por ali, nesses tempos de carroças e carros de parelha e matara-lhe a galinha.
A tia Fortunata contava que depenando a galinha a metera na panela e a cozinhara como só ela sabia, ficando deliciosa. O tio não
estava para a ajudar a comer…
Então dizia a Tia:
– Olhe Comadre Tomásia “panhei uma ralia tam grande que com os nervos comi-a toda”
A avó teve um sorriso irónico (era muito crítica em relação aos desmandos da cunhada).
E ao irmos para minha casa, contou a meus pais a história que os deixou mortos de riso.
Maria Vitória Afonso - Cruz de Pau/Amora
14 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
«Contos e Poemas»
[Carta a quem sofre pelos erros cometidos]
...........................
Sabes?
Daquela vontade de chorar que chega de repente?
Daqueles momentos em que queremos estar sós mas em que tanto precisamos de um abraço?
Chora-se por revolta. Por a vida não ser o que dela se pretendia.
Carpem-se as mágoas mas os espinhos continuam cravados onde mais dói.
Infelizes somos! julgamos. Porca de vida! lamentamos.
Na realidade a nossa vida é o que é. Nem tudo o que hoje somos é fruto de escolhas pessoais.
As contingências do destino são imprevisíveis e tolos são aqueles que julgam que a sua vida só foi marcada por este ou aquele
erro. Se esse erro não sucedesse estaríamos disponíveis para cometer outro, porventura ainda mais gravoso. Quantas vezes opta-
mos entre dois erros?
Toda a gente, se pudesse, regressaria ao passado. Pelo menos assim o afirmam.
E todos dizem que a sua vida seria outra. Que seriam mais felizes. Que mudariam muitas coisas.
Quão tolos somos. Quão ingénuos somos. Valemos tão pouco assim?
Por certo que as asneiras cometidas não seriam repetidas.
Mas há tantas asneiras à nossa espera. Tantos obstáculos.
Tantas portas hoje abertas que se iriam fechar; outras barreiras que se iriam levantar.
Ah, claro que não teríamos as mesmas cicatrizes. Mas abriríamos outras feridas que doeriam tanto ou mais que as que hoje os-
tentamos no corpo e no espírito.
Olha!
Nunca te arrependas das opões que tomaste!
Nem dos equívocos a que essas opções te levaram!
No momento em que decidiste era exactamente aquilo que querias. Será que a outra opção era assim tão melhor?
Se voltasses atrás, não cometerias os mesmos erros. Mas outros, sim. Porque erramos todos os dias e continuaremos a errar en-
quanto decisões tivermos de tomar.
Fica a pergunta. Estaríamos melhor acompanhados se retificássemos alguns erros do passado?
É tão fácil dizer que a água do regato está fria depois de molharmos o pé. Mas se saltasse-mos o regato como iriamos saber que
a sua água estava assim tão fria?
…………………..
Rogério Pires - Arrentela
À ESPERA
Hoje fui surpreendido por um rompimento de um silencio que me quebrou a rotina de tantos silêncios rotinados, habitua-
dos aos ecos sem sons, e às mesmas coisas de tantos dias.
Senti os ombros quebrarem-se de alegria quase envergonhada,
doce e paciente pelo toque adormecido em lilás acetinado.
E a flor,
fez-se mulher no jardim que ainda cresce.
Ouviu-se a voz da vida, e em ritmo do passado,
do presente, dançou-se palavras para um novo amanhã
onde a rotina endiabrada faça gerar novos caminhos!
Hoje fui surpreendido,
e muito bem-sucedido
num abraço entre outro abraço!
E pela janela do olhar, deu-se um forte abraço familiar!
Joellira - Amora
Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018 15
«BOCAGE»
Mafarrico
A vinha do verde vinho
Traz a verdade ao de cima
A pinha do verde pinho
Só de olhá-la nos anima.
Viu-se na televisão
A famosa discussão
Que se deu no Parlamento
Provocada por conflitos
Acesos nesse momento
Que trouxe à baila os palitos.
Protestava o deputado
Invocando mil razões
Contra as argumentações
Do ministro que, zangado,
Não gostando dos protestos,
Não economizou gestos
E nem deles fez segredos,
Levantou sobre a cabeça
Os indicadores – os dedos –
Num sinal que disse tudo,
Não é coisa que se esqueça.
O povo, primeiro mudo,
Logo fez a tradução
De tal gesto estranho e raro,
Desatando a rir, é claro.
Resultado: a demissão.
Das hilariantes cenas
Que a Assembleia produziu,
Exibir o par de antenas,
Coisa que nunca se viu,
Não dá muito boa imagem,
Mas é acto de coragem
– coragem a dois por cento,
Como se pode entender,
Pois coragem a valer
É o que falta em São Bento.
Fez lembrar um mafarrico,
Porém, convencido fico
De que há por lá muitos mais,
Mas não querem dar sinais.
Oh, que desvariação
No coruto da nação!
Lauro Portugal - Lisboa
BRINDO À SORTE
Tragam-me a taça verde de cristal
Com rubro vinho tinto especial!
Quero brindar à sorte que não vem,
Me fez promessas vãs, inda em criança,
Quando o sorriso tinha a confiança,
Que a vida fez perder neste vaivém.
A sorte me enganou de forma vil.
Encheu-me de ilusões, mas era ardil.
Bem cedo me deu auras de riqueza,
A mim, que sempre fui ambicioso
E muito trabalhei pra ser famoso,
Saltar fora das asas da pobreza.
Falhou no prometido? Ai, isso não.
Por certo uma varinha de condão
Encheu a minha vida de alto tom
E nos degraus da escada fui subindo.
Ora em paragem, ora regredindo,
A rota nunca foi doce bombom.
Podia ser melhor. Para outros foi
E, porque me esforcei, demais me dói.
Mas isso, agora, já pouco interessa.
Brindo à sorte por tudo que me deu
E peço que, se nunca me esqueceu,
De livrar-se de mim, não tenha pressa.
Tito Olívio - Faro
A DÉCIMA VIDA!...
À minha dedicada esposa DOLORES
com mais 100 vidas
Tudo o que sabemos do amor
o amor é tudo que existe.
O verdadeiro amor nunca se desgasta.
Quanto mais se dá mais se tem.
(Antoine de Saint-Exupéry)
DOLORES:
Meu amor, que pena, que essas sete vidas,
Que a lenda diz, alguns são dotados a gozar,
Não tenham sido por Deus a nós of’recidas
Pra que a nossa felicidade se prolongar!
Isso mesmo, sete vidas em nada reduzidas,
Porque fomos emigrantes, foi só trabalhar,
Anos! Meses! Dias! Noites, e noites perdidas,
Não houve tempo o momento certo de amar!
Contigo, sempre ao lado a vida passou veloz,
Apesar das apuros houve sempre entre nós,
Diálogo, compreensão com justos compassos!...
Por isso peço a Deus a décima vida segura,
Pra morrer Matusalém, com tua ventura;
Pr’assim, morrer tranquilo, feliz nos teus braços!
Nelson Fontes – Belverde/Amora
Amor é flor
Um amor de verdade dura uma eternidade
Na seca ou na umidade e permanece na idade;
O amor é uma flor perene que desabrocha
Em qualquer estação, com água ou na rocha.
Um amor de verdade dura uma eternidade
Na pobreza ou na riqueza mantém qualidade
Elástico da vida e vigor da saúde em paridade
A marcar passo ao ritmo da longevidade.
Se sentes que podes amar-me a sério
Porque chegou a tua vez no império,
Sê amor da minha vida, com humildade
Sacode a piedade e reforça a benignidade.
Então vem, mas vem p’ra ficar só comigo
Que eu prometo ficar apenas contigo
E pelo resto da minha vida vou te amar
Mesmo se atribulares, vou te acalmar.
Amália Faustino – Praia/Cabo Verde “O Cristo não ensinou
A fazer mal a alguém
Morro “pobre” porque sou
Mais “rico” do que ninguém”
Silvais – Alentejo
16 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
«BOCAGE»
O Silêncio Também Tem Voz
Há dias em que é preciso
Escutar só o silêncio
Aumentar a auto estima
Encarar com serenidade
As agressividades da vida
Sem nunca perder a fé .
Caminhar devagarinho
Sobre as pedras do caminho
Mesmo que ela se quebre
E te deixe em mil pedaços
Junta ,remenda e costura
Segue em frente, que ela é curta .
Recebe com gratidão
Cada novo amanhecer
Mesmo sem te apetecer
Sorri e dá gargalhadas
Ainda que te chamem louca (co
O silêncio é a voz do tempo).
E só a maturidade
Permite olhar com leveza
Com muito mais clareza
Ao que que se passa em redor
É que nada pode passar
Despercebido à alma .
Há que abrir o coração
Olhar o seu interior
Deixar florir as flores
Transforma-las em amor
E se ele não for reciproco ...
Não reclame ,não sofra .
Que isso não é o fim
Cada um dá o que tem
Até o sol ao nascer
É igual para toda a gente
Mas há quem o veja mais facilmente
E o deixe brilhar a todo o instante .
Outros mesmo sendo dia
Só vê uma nuvem negra
Só olham para o seu umbigo
Falta-lhe ,coragem motivação
A força determinação
Para aceitar a mudança .
Mas amanhã é outro dia
Com mais uma folha em branco
Cheia de oportunidades
Para não cair no abismo
E nos mostrar o caminho
Perdoar e ser feliz!
Fátima Monteiro – Vila Pouca de Aguiar
CRAVOS ETERNOS
ou
FILHO DE ABRIL
Eram bem negras as grades da cadeia
Onde o prenderam só por ter nascido
Num país que parecia apodrecido
Onde o sol era a luz duma candeia.
Morria-se de fome lá na aldeia,
Escravidão o futuro prometido,
Mas cresceu e depois de ter crescido
Partiu atrás da sua Dulcineia.
Não era quixotesco mas real,
Consciente, muito forte e natural
O sonho de lutar por paz e pão.
Voltaram a prendê-lo, mas que importa,
Aquele Abril de sonho abriu-lhe a porta
E anda por aí, cravo na mão.
Nogueira Pardal - Verdizela
ANGOLA
Crianças com muita fome
Muito pouco para comer
Tenho dor, tenho revolta
Por pouco poder fazer
Tanta pessoa indiferente
Por esses seres “pequeninos”
Ossos sustidos por pele
São como aves sem ninho
Se vivem num país rico
Com uma boa situação
Onde da Terra sai riqueza
Porquê, tanta fome então?
Morrem por falta de tudo
Cheios de febre, sobre a Terra
Música para os seus ouvidos?
Tiros, mais tiros, só guerra
Não pares caneta, não pares
Faz sair estes lamentos
E também nós portugueses
Que os ajuda em alimentos
E tu bom português abres teu coração
Repartes feliz, num naco do teu pão
Sendo a vida de tantos, dolorosos trilhos
E, mesmo assim, do pouco que tu tens
Tiras um pedaço à boca dos teus filhos
Ivone Mendes - Setúbal
"Ser feliz"
Ser feliz eu quero ser,
contigo os meus dias viver,
como dois apaixonados
e eternos namorados,
ver o céu e as estrelas,
acender todas as velas
e ao mundo poder gritar,
como é tão bom amar,
o homem que roubou o coração,
e fez dele poema e canção,
devolveu a esperança e alegria,
sou feliz mais do que poderia,
porque ele é tudo para mim
e o que me dá não tem fim,
chegou sem sequer avisar
mas fica aqui a certeza, que ele veio para ficar.
Rita Celorico - Tavira/Amora
ESTRADA DA VIDA
Olho a estrada toda bordejada,
De jasmim e camélias e rosas também,
Toda ela bem longa sem fim e sem nada,
Onde não se vê viva alma, nem bicho, ninguém.
Lá longe só se houve as ovelhas balindo,
E o ladrar dos cães nas quintas vazias,
E o meu rosto, sem querer, fica sorrindo,
Lembrando as noites tristes, longas e frias,
Mas dentro de mim ainda sentindo,
As doces caricias do vento que vinha,
Trazendo as poesias que estava ouvindo,
Vindas lá do monte que poeta não tinha.
Então olho a montanha de verde vestida,
Salpicada de estevas que o vento plantou,
Que de longe parecia que bem cedo acordou,
Feliz com as flores que a tornavam florida,
Trazidas pelo vento dos caminhos da vida.
E a brisa soprando, o rosto acariciou,
Deixando o doce cheiro que o nariz inalou,
Fazendo esquecer o que do passado,
Nas pedras do caminho lá ficou agarrado,
Pois nada do que era, no tempo, por cá ficou.
José Carlos Primaz – Olhão da Restauração
ESTOU AQUI
Estou aqui
sentado no vazio
dos sonhos que nutri
e nunca realizei,
de tudo o que aprendi
e já não sei.
Tito Olivio - Faro
Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018 17
«BOCAGE»
Quadras soltas
“Passas o dia sentado,
Sentado estás tão bem
Não mereces o castigo
Não fizeste mal a ninguém
A vida é uma luta
Corre e passa sem avisar
Traiçoeiro é o mar
No seu belo volutear
Quando fede o odor
Abutres pairam ao redor
A inveja é coisa feita
Não sustém a dor
Rugas da alma se escondem
Bem dentro do coração
Água limpa mata a sede
Não mata a corrupção
O poder tem cheiro fino
Aguça a avidez
Sonhas alto cantas alto
O que és tu mais que um maltês
Julgas o teu semelhante
À tua imagem, ao teu feitio
Vem junta-te aos indigentes
Faço-te esse desafio
Sempre que vais à igreja
Te curvas perante o altar
Desprezas o teu semelhante
Desvias o teu olhar
Olhar a pobreza arrepia
A sarna coceira dá
Anda tudo como quer
Sem rumo ao deus dará.”
Teresa Primo - Lisboa
Corações distantes
Ouço o teu chamar
Mas não consigo caminhar
Pela esteira de prata
Que a lua deixa no mar
Mas estou sempre atento
Ao segredar do vento
E ouço o teu murmurar
Que num doce lamento
Me conta do teu penar
Vou buscar o meu bote
Envergar o meu capote
E remar, remar, remar
Até te conseguir achar
Espera por mim numa penha
E acena-me com o teu lenço
Não há mar que me detenha
Porque é a ti que pertenço
Se houver um contratempo
E na tempestade naufragar
Tens de pedir um desejo
E um beijo ao vento ofertar
Porque só a força de um beijo
Molhado em lágrimas de sal
Consegue vencer o temporal
...................................
Rogério Pires - Seixal
TU, QUE TUDO PODES!
É a Deus quem eu peço forças
qual sabedoria para não
julgar a ninguém -sendo julgado
por igual e pela mesma forma.
O que me pedem, não tenho;
Minha casinha é muito pobre:
De entre as mais pobres: a ilusão
de me julgarem julgando-me.
Sem o saber caminho caminhos.
Todo eu sou luzes em crescendo.
Abertas as janelas e portas ao léu.
Magnânimo, Tu És, oh, meu Pai!
Que tanta paixão Despertas.
Ensina-me a viver, uma outra vez…
Jorge Humberto - Santa-Iria-da-Azóia
Século XXI (d.C.)
No Século do LOUCO
-os loucos atacam
(indiscriminadamente…)
-e vidas sacam
(barbaramente…)
São seres doentes
(inimputáveis…)
armados até aos dentes
(insaciáveis…)
Terrorista
é célula cancerosa
(da Sociedade)
-está contra
o Organismo…
e age
sem piedade
(pelo domínio
do mesmo…)
É uma guerra
sem quartel
(e sem rosto)
mergulhada
-no ódio
-no fel
-no mosto…
-o que podemos fazer ?
-como podemos
evitar ?
além de :
-estupidamente morrer ?…
-temerosamente
suportar?…
Santos Zoio
Quadras Soltas
Fazer quadras para quê?
Já está tudo escrito.
Mais toque menos retoque
Fica tudo mais que dito.
Isto cá entre amigos,
Pouco trabalho é preciso
É ouvir o pensamento
Está o caso resolvido.
E nem parece verdade
Que está a acontecer
Esta folha era branca
E já tem algo que ler.
Amadeu Afonso – Cruz de Pau
De Menina a Mulher
De menina-botão a mulher-flor,
desabrochaste por decretos santos,
de irisado matiz hauriste a cor,
e ornada de asas, redobraste encantos.
Avezinha sagaz, voando em espantos,
o mundo descobriste ao teu redor,
pisaste o vale, alçaste a picos tantos,
e elegeste o meio-céu, teu corredor.
Não quiseste ser águia lá na altura,
nem pássaro na pedra enlodaçada,
assisada, pairaste na planura.
De lá emanas trinados de doçura,
manter do amor, vestal no céu talhada,
Ave-Mulher, plasmada de ternura!
Carmo Vasconcelos - Lisboa
18 Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
«BOCAGE»
Dia Feliz Hoje e Amanhã Também.
Se não fosse Ela,
Se não fossem Elas,
Não seríamos.
Este dia só devia anoitecer no infinito.
E mesmo assim…só Ela não ia desistir.
Porque sim, só Elas
Nos fazem correr tanto…
E às vezes, em troca,
não Lhes damos alegria, mas pranto...
E resistem e…que maravilhosas sois,
com vosso eterno encanto,
Mulheres da minha Vida
de quem gosto tanto.
Um beijinho.
José Jacinto – Casal do Marco
O Sonho de uma Criança...
Sou criança no meu lar abençoado
e os meus pais me envolvem de carinhos
por tudo aquilo que eles me tem dado,
amá-los-ei quando já forem velhinhos.
O meu corpo é ainda delicado,
e pequeno é o meu narizinho,
o cabelo levemente ondulado,
adejando, sou traquino passarinho.
Os meus olhos se abrem maravilhados
e minha boca gosta tanto de sorrir...
voam meus sonhos coloridos e alados
imaginando como é lindo o porvir...
Quero ser grande e de todos ser amigo,
viver num tempo de Paz e não de dor,
ver as crianças sorrir e ter abrigo,
e os velhinhos tratados com calor.
Quero ajudar os amigos, toda a gente,
talvez um dia ,chegue até a ser Doutor!
Ai, como eu sonho um mundo tão diferente
sem haver guerra, apenas Paz e muito Amor...!
Natália Parelho Fernandes – Portalegre
Mar nosso
Chegou numa visita oficial,
Tal qual Homem que Veio lá do Frio,
Do austero país e maquinal,
Mas não veio apenas ver o rio,
É outro seu desígnio: o Atlântico,
Nos trazendo o primeiro tomo dântico,
Nessa intenção que é, afinal, ruim.
Os da casa, solícitos, que sim,
Que viesse, rainha, que as abelhas
Cá têm passadeiras das vermelhas
E palmas e acenos de cabeça.
É isso que ela quer, quem lhe obedeça.
E aportou, tal qual tanque de guerra,
E confirmou o que sabia, em terra,
Dos pequenos e fracos descendentes
Dos marinheiros altos e valentes
Antigamente donos dos oceanos.
Já sabia que, após centenas de anos,
O nosso mar deixou de ser estrada
Da nossa frota de que resta nada.
Não nos preocupássemos, que o peixe
Os europeus haviam de nos dar,
Desse erro ainda há quem não se queixe,
Solitário, a queixar-se, está o mar.
O mar! O nosso mar! O nosso mar!
Nosso? – vem a pergunta. – Nosso mar?
Nós temos mar quando não temos garra?
Continuemos a assistir à cena
No forte de São Julião da Barra:
Depois de opíparo, solene almoço
Em que o peixe encimava extensa lista,
“Vamos sair!” – a visitante ordena
Ao servil português e dócil moço.
Olha o mar até onde alcança a vista,
E cogita, do alto do seu sonho,
No prenúncio mais louco, mais medonho:
“É este mar, ó portugueses, vosso?
O que fizestes para merecê-lo?
O que fizestes vós para retê-lo?
Pudésseis vós, iríeis derretê-lo
Como outrora fizestes ao império.
O vosso mar um dia há-de ser nosso,
Também a terra, iguais bem poucas há,
Vão terra e mar duma assentada, ja!”
Assumindo semblante grave e sério,
Isto pensou e disse-o entre dentes,
Aos bons anfitriões tão sorridentes.
E num gesto mecânico, ergue o dedo
indicador em riste, em tom de aviso:
“Tem de se fazer já o que é preciso!”
Submissos, os de cá, cheios de medo,
Disseram: “Quer o mar? leve-o de graça
e tudo leve, menos a desgraça
deste povo incapaz de ser feliz.”
O mal já vem do tempo em que não quis
Ter a vontade sua, e, sujeito,
Deixou de ser o Lusitano Peito.
Ao pressentir as coisas neste estado,
Até o mar ficou desvariado,
Contra o forte rugindo, no desnorte,
Furioso, avisando que é mais forte.
Lauro Portugal - Lisboa
TOCO-TE
Toco-te com os dedos ...
Percorro teu corpo
Como se fosse palavras
Sussurradas em silêncio !...
Toco tua pele
Deslizando suavemente...
Pele sedosa
Macia ...
Recordo todos os dias !...
E passo os dedos
Lentamente
No meu corpo ...
Como se as tuas mãos
Estivessem presentes
Em cada momento !...
No meu dia ...
Sinto o teu suave perfume ...
Sinto-te !...
Presença Viva de sonho e luz !...
Toco-te com carícia
Magia ... e Imaginação ...
Neste mórbido
Prazer irracional !...
Cheio de desejo
De um encontro
Sem igual !...
Toco-te e perco-me
Neste prazer final !...
MAGUI - Sesimbra
Um Poema
O Poema Ah! O poema
que derrama pétalas
de palavra a palavra
de sons em sons
Como sentimentos
como sorrisos
declamados serenos
no véu suave
Poemas sim poemas
como o saltitar viril
de um pardalito
bailarino de ramo em ramo
São cravos vermelhos
que brilham no ar
de sílabas soltas
rimadas ou não…
Pedro Valdoy - Lisboa
19
«Rádio»
Fundada: a 28/04/2017- Fundador: Pinhal Dias
RÁDIO CONFRADES DA POESIA - 24 HORAS ONLINE
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3ª F - 21/22h - "Ecos Musicais"
4ª F - 21/22h - “Ecos Musicais”
5ª F - 21/22h - “Récitas dos Confrades”
6ª F - 21/21:30h - “Poesia Para Todos”
6ª F - 22/23h “Sintonia”
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da Poesia pelos Confrades: Filomena Gomes Camacho
“Divagando Pelas Letras”:
Artur Manuel Gomes “Pequenos Nadas”
poemas dos livros serão lidos aos microfones da Nossa
Rádio.
O nosso Bem-Haja!
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Mais 5 livros ofertados à nossa Rádio de José Maria Caldeira Gonçalves - ”Malpica que minhas saudades teces”; “Ter Saudades”;
“Malpica poemas de amor e saudade” de Damásia Pestana - “Nas Asas do Tempo”; “Chama-me” … Poemas que vão ser lidos na RCP
O Nosso Bem-Haja!
Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
«Rádio Confrades da Poesia»
20
“RCP” online desde 28/042017 http://www.radioconfradesdapoesia.comunidades.net/
RCP – RÁDIO CONFRADES DA POSIA
. / .
Enquanto você navega pela Internet poderá ser um fiel ouvinte e participativo da nossa RCP que é um espaço criado para o seu
entretenimento Musical e Poético, que estará online 24 horas por dia, sem fins lucrativos.
DJ - Pinhal Dias; fará semanalmente cinco emissões em directo online; poderá acrescer um especial directo...
«Ponto Final»
Feitura do Boletim
O Boletim será sempre colocado à disposição dos nossos leitores mensalmente!
Futuramente os Confrades enviarão os seus trabalhos em word até final do mês a decorrer.
A feitura do Boletim será a partir do dia 1 até ao dia 2, que corresponderá à data de saída...
Os seus poemas devem vir sempre identificados com o seu nome ou pseudónimo e localidade de onde escreve seu poema.
O Tema continua a ser Livre! Para sua orientação sugerimos que consulte as páginas das Efemérides e Normas no site dos Con-frades... Durante o ano corrente, é acrescido do “ESPECIAL NATAL “
http://www.confradesdapoesia.pt/normas.htm
Amigos que nos apoiam
«A Direcção agradece a todos os que contribuíram
para a feitura deste Boletim».
As fotos deste Boletim
são dos autores e
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ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO
E PUBLICIDADE
Rua Seixal Futebol Clube N.º 1—1º D
2840-523 Seixal
Voltamos a 2/9/18
Confrades da Poesia - Boletim Nr 100 - Agosto 2018
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