7/25/2019 Amor - Luiz Zerbini [Catlogo]
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luiz zerbiniamor
18de outubro a 9de dezembro 2012
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A grandiosidade e a diversidade das obras do artista
Luiz Zerbini misturam-se de maneira harmoniosa namostra Amor.
A exposio, composta tanto por pinturas em grandes
formatos e instalaes, como tambm por papis, slides
e objetos, demonstra a multiplicidade de meios utilizados
pelo artista.
Grande investigador e desbravador de novas tcnicas,
estilos e materiais, Zerbini considerado um dos artistas
sul-americanos mais respeitados no cenrio internacional,reunindo, nesta mostra, um significativo acervo produzido
na ltima dcada.
A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, por meio
da Secretaria Municipal de Cultura e do Edital Pr-Artes
Visuais, tem orgulho de patrocinar esta exposio
junto ao Bradesco Seguros , proporcionando ao pblico
o universo riqussimo que envolve os trabalhos de
Luiz Zerbini.
Emilio Kalil | Secretrio Municipal de Cultura
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E agora, Luiz?
Amor: Em seguida, pensei: agora com um nome como
esse definido, fica fcil escrever, falar sobre a exposio.
Engano seu! No h o que falar!
Talvez fazer uma msica.
Sem letra!
Com essa pequena mensagem, voc me colocou
numa sinuca, de bico.
E agora, Luiz?
S trabalho com as letras e l fui tentar...
As telas esto a. H tramas maravilhosas com
Le Corbusier, Niemeyer e os irmos Roberto.
Tramas ambguas cheias de memria moderna.
Amendoeiras, samambaias, macacos e fios eltricos
e transformadores.Ruas confusas sempre vistas acima da calada.
H todo um cinema esttico, um filme completo
muito bem editado.
H uma alegria imensa que no existe em todo amor.
Lembra-se, Luiz?
Das caveiras no cho atadas s grandes telas?
A caveira sozinha no cho imenso do Centro Maria
Antonia naquele ambiente saturado de cor.
Lembra-se, Luiz?
Vanitasno est aqui nesse sofisticado jardim de coisas, plan-tas e cidade.
Existem amores tristes, voc sabia, Luiz?
Mas para voc, aqui, em Amor, sempre uma
festa muito bem construda.
Sem msica, tentei fazer minha letra, Luiz.
Paulo Sergio Duarte
Amor,
Lugar comum
Depois de olhar demoradamente uma pintura grande
figurativa, em que eu vinha trabalhando diariamente havia
uns sete meses, ouo o seguinte comentrio: nossa,
muito amor!
Naquela altura, no percebi a dimenso do significado
daquela palavra gasta, relacionada ao meu trabalho.
Com o tempo, ela passou a ser a mais precisa definio
do que fao.
Isso esclareceu para mim, numa nica palavra, o que
tento explicar h anos.
Agora, enquanto pensava na montagem desta minha
exposio e no livro que estou fazendo, lembrei dessa
histria e resolvi chamar a exposio e o livro de Amor.
Memrias, a existncia, a escolha, a amizade, a famlia e
a loucura. o amor em um sentido amplo, como um mar
que tantas vezes pintei e continuo pintando.
Em seguida, pensei: agora, com um nome como esse
definido, fica fcil escrever, falar sobre a exposio.
Engano seu! No h o que falar!
Talvez fazer uma msica.
Sem letra!
Luiz Zerbini
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Lago Quadrado, 2010acrlica sobre tela
300x 300cm
(pg. seguinte)
Mar do Japo, 2011acrlica sobre tela
300x 400cm
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A possibilidade de nos confrontarmos com a produo mais recente de Luiz Zerbini na sala
monumental do MAM extraordinria. Nenhum outro espao daria conta da monumentalidade
das pinturas e ofereceria condies para a constituio de um lugar potico com tamanha densida-
de. As grandes telas tecno-paisagsticas respiram e funcionam individualmente ao mesmo tempo
em que se deixam contaminar entre si. O olhar do visitante que sobe as escadas logo tomado
pela pulsao do ambiente. Tudo ao mesmo tempo, tudo funcionando nas partes e no todo.
A grande mesa de elementos recolhidos no ateli e que pertencem ao processo criativo do artis-
ta um elo importante do conjunto. Antes de tudo, cabe ressaltar a fora escultrica daquele objeto
no centro da sala. Aquele gabinete de curiosidades nos conduz atravs do mundo de referncias que
circulam pelo seu universo potico e que se deslocam para as telas. No se trata de ilustrao, mas de
agregao de uma memria afetiva que alimentou sua produo e seu imaginrio. H detalhes a se-
rem observados em cada segmento da mesa: tijolos, iPods, aquarelas, insetos, galhos, folhas, telhas,
caixa de som, bambus etc. Natureza e tecnologia entranham-se e tornam-se um composto hbrido.
Cabe tambm notar que, para alm da articulao plstica entre as telas postadas no paredo
e os slides no canto recuado oposto, a mesa tem um papel na articulao simblica desses dois
conjuntos de trabalhos. Como os slides, a mesa estrutura-se a partir da diagramao em cartela
e funciona como memria do processo criativo. uma espcie de registro da gnese potico-
TUDO AO MESMO TEMPO E CADA COISA NO SEU LUGAR:
A EXPOSIOAMOR
DE LUIZ ZERBINI NO MAM-RJLuiz Camillo Osorio
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imaginria, compondo uma proliferao de referncias que se recompem livremente na superfcie
das telas. Os slides servem, normalmente, como suporte visual de memrias pessoais e de arquivo
da histria da arte. O que era recorte do passado se transforma nesta srie de trabalhos expostosem fato plstico, em acontecimento visual. Pode-se chegar perto, procurar por resduos de passa-
do, mas o lance cada conjunto articulado cromaticamente, ou seja, a construo de um objeto
pictrico que se esvazia do detalhe reproduzido para se assumir como forma exteriorizada.
Como nas mesas, as pinturas pem em relao elementos naturais, referncias histricas,
estruturas geomtricas. A dicotomia entre abstrao e figurao fica aqui absolutamente superada.
Essas pinturas so figurativas e so abstratas. Tudo ali est posto em relao e s funciona como
pintura. Independentemente de se apropriar de um metaesquema de Oiticica, uma folhagem, um
mico, uma fachada arquitetnica ou uma estrutura geomtrica, cada um desses elementos se articula
no interior da pintura como uma grande colagem visual. A exuberncia cromtica de um Veronese se
junta pulsao de afetos do rocknroll, costurados pela ateno construtiva sonoridade do mun-
do de um Kraftwerk. H nisso uma lio tropicalista muito bem apropriada e atualizada por Zerbini.
Por fim, temos as tapearias e as grandes telas geomtricas que compem seu variado
repertrio visual. Como uma sonoridade ambiente, elas repercutem no espao, vibram pela sala.
No h nada a se perceber no detalhe, tudo ritmo e exterioridade. Da a possibilidade de estarem,
em alguns casos, a mais de 4metros de altura, acima das telas paisagsticas como se fora uma monta-
gem acadmica do sculo XIX. mais um gesto apropriativo que ressalta a liberdade de incluir como
materialidade potica qualquer tipo de referncia, seja do passado ou do presente. Estas telas ficam
ressoando no ambiente, dinamizando ao longe nossa ateno perceptiva.
Depois das exposies de Nuno Ramos, Jos Resende, Elisa Bracher e Giacometti, Zerbini
mostra que as pinturas tambm podem enfrentar destemidamente a escala deste espao monu-
mental do MAM. uma questo de coragem e fora. E tambm de amor.
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(pg. anterior)
Mamangu - Recife, 2011acrlica sobre tela
293x 417cm
Mamo Manilha, 2012acrlica sobre tela
195x 195cm
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(pg. anterior)High Definition, 2010
tinta acrlica, polmero orgnicoe esmalte sobre tela
250cm x 394cm
Pinguela Japonesa, 2011acrlica sobre tela
300x 300cm
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No Tropical tudo est sempre ligado e quente, tudo se toca e se acrescenta, tudo cresce e se ilumina,
vivo, espesso, sensual, colorido. O Tropical a inveja do mundo porque ali mora a verdadeira inten-
sidade mesmo quando sutil , a que exige abertura e ateno disponvel, a que recompensa com
paixo calma, segurana alargada, alegria. Na luxria embriagante do trpico, habita a sincronia
confusa mas reveladora do meio no divisor, mas unificador , ponto de encontro dos extremos
em fuso enriquecida, total e sobreaquecida, exagerada, das sensaes que iluminam e alimentam
o mundo. Viver nesta realidade que um permanente e complexo tesouro descobertos se faz srio
com despojamento e liberdade nas sensaes, abertura e leveza no sentimento, ambio e seguran-
a nas emoes. Para colher desta real e cravejada multiplicidade preciosa, necessrio a alma cal-
ma de um garimpeiro louco no corpo perdido de um marinheiro. A profcua derivada vida, o Amor.
Luiz Zerbini nasceu em So Paulo em 1959. Adolescente, experimentava insightsao passear
aos domingos pela cidade vazia, entrando numa rua e sentindo como a luz se transformava em
escuro, o rudo das cores no ar, o silncio, os raios do sol a descer, a terra mais fria naquela enorme
sombra, a imponncia vertical dos prdios, a tontura. Embriagado nessa viso, tudo lhe dava a en-
tender de repente a natureza verdadeira das coisas, tudo lhe tocava, e acordava nessa dormncia,
clarividente e sensvel, inundado na emoo. Pensava na nuance da cor, no efeito da luz, transcen-
dia-se assim, de corpo inteiro, via-se iluminado nesse estado, maior, mais alto, mais largo. E aberto,
O AMORDE LUIZ ZERBINI TROPICAL TOTAL
OUINTUIO, SENSAO, ILUMINAO, CARTER
Jorge Emanuel Espinho
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solto, entendia. O seu professor de pintura Van Acker atribuiu essas experincias ao fato de ele ser,
afinal, um artista. Zerbini ficou surpreso, mas acreditou.
Esta vivncia e aprendizagem sensacionistae contnua da vida, que se traduz numa disponibili-dade e ateno crescente ao pormenor, mas tambm ao bvio pois em tudo mora o significativo,
o magnfico , alimentou a sua relao com a pintura, e tambm profundamente alimentada por
ela. Essa circularidade mgica assumida e sublinhada pelo artista. Nasce da privilegiada natu-
ralidade dos que reconhecem na exterioridade a multiplicidade significativa da vida verdadeira,
quando reconhecida e transformada pelo crivo sensvele nico de cada um. A arte de Zerbini
uma imerso reconstrudada experincia extica de estar vivo, deslumbramento constante de re-
conhecimento e identificao, testemunho do generoso percurso a que a vida nos autoriza, assim
estejamos livres e receptivos, abertos e sinceros, autnticos num lugar nosso, que ser sempre de
passageme relao.
Importa saber reconhecer a verdade que habita no caos do acaso, pairar o olhar como um pin-
cel a ver melhor, escolher as cores profundas que melhor iluminam. nesse significativo processo
que o artista se alimenta, e que vai devolvendo depois enriquecidos e aumentados, ele e a expe-
rincia ao mundo, a ns, a smula pertinente desse cclico percurso, feito pertinente paisagem.
Mais do que implcita nesta estrutura ativa de vidaest a desmistificao da hierarquia das coisas,
dos fenmenos, das pessoas. A contribuio total, livre, autnoma.
Quando props ao editor Charles Cosac o livro Rasura transbordante documento que
demoraria dez anos para completar e representa uma smula possvel do imaginrio e do mtodo
do artista, preenchido de referncias, imagens, obras, palavras e esboos, seus e de outros e lhe
transmitiu a vontade de explorar nele a verdade do seu universo criativo, suas influncias, seu pro-
cesso, seu caminhar, a pergunta veio certeira: E voc no tem medo? Ao que respondeu: Sim,
mas isso no razo para no fazer! Esta honestidade e seriedade so raras e desconcertantes,
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e o resultado foi um fabuloso e generoso testemunho da complexa mas livre teia que representa
o mundo particular do artista.
A primeira imagem desse livro configura uma importante revelao sobre a relao de Zerbinicom a arte e o tempo: num enorme espao expositivo, dezenas de pinturas de todas as pocas
e estilos se encontram espalhadas, paralelas, mas em vrios graus de distncia e proximidade,
de frente para o visitante. Apetece percorrer os espaos entre aquelas pinturas sadas de vrios
tempos, de vrios lugares, de vrias idades, mergulhar naquele mar onde tudo conversa, tudo se
relaciona, tudo faz parte. assim, diz Zerbini, que entendo a histria da arte, sem essa coisa do
tempo. tudo sincronizado!. impossvel no relembrar aqui os insightsdo artista, por ele des-
critos como um bombardeamento de informaes simultneas, uma avalanche de sensibilidade.
Um dos mais nobres estandartes do regresso pinturanas artes plsticas brasileiras, Zerbini
no se fica por essa expresso, que domina e exibe como poucos. Membro do coletivo sonoro
Chelpa Ferro, Zerbini foi ator, cengrafo, faz instalaes e colagens, escultura, ilustrao, escreve,
e vai construindo uma obra que uma paisagem nica que se interseciona, feita de vasos comuni-
cantes interligados pelo fluxo de que so feitos; plena, luxuriosa, viva. O ser tropicalmanifesta-se
assim naturalmente numa profuso de meios, sempre atento e reflexivo, generoso e profundo na
sua aportao vida, matria-prima totalque bebe e qual alimenta, transformador e sensorial,
livre e consciente, ldico, criativo, intenso.
No MAMdo Rio, Zerbini apresenta agora a fabulosa exposio Amor, e apresenta-se nela,
inteiro. Divide-se em trs partes esta mostra, geografia impossvel de um mapa simblico, total.
Uma parte ocupa trs paredes que parecem abraar o visitante: luxuriosas pinturas de vrios me-
tros quadrados que so uma janela enorme e complexa com vista para tudo, smula pejada de
signos e smbolos que mergulham na natureza e saem dela, a tecnologia, a luz e a cor, o urbano,
o impressionante universo pictrico de uma mo que inventa a reproduzira experincia nica do
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viver, a natureza. Neste conjunto, encontra-se High definitionselva viva de 2,5x 4m que demorou
um ano a pintar, todos os dias acompanhada de outras paisagens e ambientes, todos intensos,
todos rigorosos, todos admiravelmente profundos, completos, sedutores. esquerda, caveiras smbolo vrias vezes revisitado por Zerbini seguram do cho as obras, qual contrapeso absoluto,
lembrana do efmero, homenagem potica ao humano sentir e pensar da vida.
Na parede oposta, outro tipo de trabalho: slides antigos colados formam pequenos painis,
criam jogos de cor, pequenas imagens desconhecidas mas familiares sugerem memrias, talvez
inventadas, talvez distantes; surgem ironias de familiaridade, as viagens, a praia, o prazer, a des -
coberta, a infncia, a arte, a moral... Este jogo ldico, para o artista tambm zona de descansoda
pintura, talvez assinale a importncia difusa da memria subjetiva e abrangente, importante mes-
mo quando oriunda da vivncia dos outros enquanto espao mvel a que regressamos, visitantes
curiosos e sedentos, sados da oblivionparticular que sempre nos acompanha, crescente.
Mas no centro da enorme sala que se parece jogar o meio do latim, medium , o esparso
eixo, o espao vivo tropicalque origem e destino, fonte e produto, fim em princpio, essncia e
forma, o pas particulardo artista em que as relaes infinitas de distante proximidadee de prxima
distnciase alimentam, mudam, mutam; o mago ntimo e aqui partilhado que o criativo habita
e transforma; a ponte mltiplaque o alimenta e dispara, em todas as direes, como esponja enso-
pada e sedenta, bebendo sempre.
maneira de uma mesa de estudo naturista tradio formal com ecos na obra e postura de
Zerbini , uma enorme bancada acolhe inmeros objetos, plantas, insetos, troncos e folhas, areia,
superfcies de reflexo e cor, frascos de vidro e imagens, tudo ali, o gabinete possvel de vivncia
do artista, uma cama/casa completaonde aos sonhos se sucedem os dias, e ao deslumbramento,
a relao. Em misterioso entrelaado entre horizonte e vertical, cor e contedo, sensao e olhar,
carne e conceito, eis o precioso Planeta Zerbini. A descobrir.
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Mais uma vez, aqui impressiona a profuso delicada mas explosiva de referncias e relaes,
e a coragem com que esse caldo produtivo revelado; a simplicidade disponvel do artista, cons-
ciente e afirmativo das misteriosas e profcuas relaes com que o acaso tempera a criao e a vida,e alimenta o ser e o sentir, o estar, o pensamento. Mais do que acolhimento, nesta mostra sentimos
a envolvncia desejosa de ficar e mergulhar devagar nessa multiplicidade tropicale quente de
um olhar e sentiro mundo , despidos nesse movimento, alcanando o que s de fora preenche,
o natural ocupando o particular, a exuberncia plstica da selva, tambm interior, traduo potica
que a arte faz da misteriosa rede das coisas e dos acasos da vida.
no sobre o que se est vendo
sobre o que se est ouvindo quando se est vendo
no s sobre o que se est ouvindo quando se est vendo
sobre o que se est sentindo quando se est ouvindo o que se est vendo
no s sobre o que se est sentindo quando se est ouvindo o que se est vendo
sobre o que se pensa quando se est sentindo o que se est ouvindo quando se est vendo
no o que se pensa quando se est sentindo o que se est ouvindo quando se est vendo
no o que se est sentindo quando se est ouvindo o que se est vendo
no o que se est ouvindo quando se est vendo
s o que se v
Luiz Zerbini
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(pg. anterior)Caiara, 2008dipticotinta acrlica, tinta esmalte, resina de polmeroe pigmento de alumnio sobre tela277x 286cm
Sem ttulo,2012trpticoacrlica sobre tela300x 400cm
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Le Corbusiers 3 Mundo, 2011acrlica sobre tela
220x 160cm
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Concrete Jungle,2011acrlica sobre tela297x 295cm
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AMOR
Por um instante, retive-me em ti
Formei contigo um nico poro
por onde penetrou a conscincia unvoca de nossa possede nossa perda
Meu contorno no mundo, devo a esta luz: a mesma que se
ilumina agora no desenho de todos ns, objetos deste quarto,
e que extinguimos em sombra.
Estou em mim
Estou no outro
Estou na coisa que me v
e me situa
Diante de mim
diante do outro
diante da coisa
est a morte
DA NATUREZA DE LUIZ ZERBINI
Frederico Coelho
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O poema acima foi escrito no final de dcada de 1960por Francisco Alvim. Ao abrir recentemente
o livro e l-lo, j estava sob o impacto da exposio de Luiz Zerbini no MAMe fiz uma conexo imedia-
ta dos ttulos, palavras e imagens. Sua relao de vida e morte com o olhar, a luz que desenha o contor-no das coisas e pessoas, a sensao de reter-se frente de cada tela, de cada obra em seus aspectos
micro e macroscpicos, a ideia de que estamos na coisa que me v e me situa faz com que o AMOR
de Alvim ressoe de alguma forma entre o AMORde Zerbini. Sua exposio monumental nos abraa
e nos engole, nos enlaa atravs dos sentidos, nos convida e nos ameaa. Como o amor na vida de
todos ns, a exposio de Zerbini nos promete harmonia entre o caos da vida, mesmo que o prprio
amor seja o caos inexorvel em sua dinmica ao mesmo tempo salvadora e perigosa.
H muitos aspectos e caminhos para entrar no universo de imagens, cores e procedimentos que
Zerbini nos apresenta nesse momento de sua carreira. Um momento em que o desafio de am-
pliao da escala produtiva alimenta um saudvel dilogo com a poesia antinarrativa dos temas
e a prtica cotidiana do ofcio. Sem abrir mo de sua viso peculiar do mundo, o artista construiu
um slido caminho de autonomia crtica, mercadolgica e esttica. Suas telas e suas extenses
em esculturas, instalaes e objetos em que o raciocnio pictrico aplicado so hoje espcies
de marcas visuais. So pinturas em que em sua maioria deciframos seu autor na primeira visada.
A densa profuso de referncias realistas (e simultaneamente onricas) ao mundo material, a pre-
sena permanente e fluida da geometria e da arquitetura, seu dilogo produtivo com as heranas
modernistas e construtivistas na nossa visualidade, a incluso decisiva de seu mundo privado atra-
vs de pessoas, objetos e imagens de seu convvio mais ntimo, a desterritorializao harmnica
do mundo em planos e recortes de diferentes lugares e paisagens, tudo isso marca indelevelmente
o espectador de seu trabalho. Zerbini define esse universo prprio em que todos se reconhecem,
criando em sua arte uma janela para um absurdo perfeitamente compreendido. Mais que compre-
endido, alis, um absurdo atraente.
(pg. anterior)
Sombra quadrada, 2011slides e fita adesiva
50x 40cm
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Entre os diversos elementos de seus trabalhos apresentados em AMOR, porm, h um sobre
o qual arrisco reflexo um pouco mais detida. Nessa visualidade exuberante das telas e da grande
mesa-instalao de Zerbini, creio que o principal elemento que atravessa tudo e demarca presenaostensiva a natureza. Agnaldo Farias j indica de forma certeira no texto Zerbini for all que boa
parte das telas do artista renem com maestria retrato, paisagem e natureza-morta. O crtico vai
alm em sua anlise e complementa sua bela leitura definindo a obra de Zerbini como uma espcie
de ecossistema em que Homem, objeto e paisagem formam um todo orgnico cujos elementos
equivalem uns aos outros.1
Recuando um pouco na observao de Agnaldo, me apego apenas ao aspecto paisagem
da obra de Zerbini para falar dos trabalhos expostos em AMOR. O artista nunca escondeu o papel
que sua moradia na Gvea, regio do Rio de Janeiro encrustada nas franjas tropicais da Floresta da
Tijuca, tem em seu trabalho. Observador arguto e interessado do mundo, Zerbini foi aos poucos
incorporando em seu repertrio de imagens as flores, rvores, sementes, pedras, frutas, formas,
insetos, pssaros, mares e demais elementos que compem esse universo natural ao seu redor.
E essa incorporao no apenas imagtica. Ela atua em mutaes que se enrazam em concre-
tos, aderem a objetos, engolem pessoas, transformam tudo e todos em um mesmo ser orgni-
co e cromtico. A natureza, em seus vrios meios, penetra ora de forma arrogante, majestosa,
quase cientfica, ora como rastro insidioso, intrusa na paisagem de concreto, camuflada dentro das
espacialidades digitais. Ela se apresenta como uma espcie de indcio de vida em meio ao mundo
morto dos objetos e edificaes.
Ao contrrio do motivo tradicional da natureza em nossa visualizao nacional, as paisagens
de Zerbini no mimetizam um espetculo exuberante para demarcar a diferena de nossa luz,
de nossa flora ou de nossa paisagem tropical frente a outros olhares historicamente exigentes do
extico. Para ele, a natureza um elemento constituinte de nossa contemporaneidade. Ela est
1.FARIAS, Agnaldo.Zerbini for all. In: ARTE BRA
Luiz Zerbini. Rio de Janeiro:
Aeroplano, 2010. p. 49.
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viva e articulada com a tecnologia, entremeada pelos fios e caixas de som, emersas das paredes
de decks, plugs e curvas de frequncia dos softwares de gravao musical. Tudo se torna fluido
ao redor dessa flora e fauna invasoras, at mesmo os prdios e cabos das paisagens urbanas.Montanhas emergem por trs de edifcios; bromlias e jabuticabas quebram a diviso, figura e
fundo constituindo paredes nicas de desenhos; cabaas, bromlias, palmeiras e bambus se trans-
figuram em uma densa malha de cores e formas que extasiam o espectador. Se ele no nos d o
extico domesticado de paisagistas hiper-realistas, porque o transforma em potncia inventiva
e no em macumba para turista. s vezes, passado, presente e futuro convivem em referncias
sutis dessas muitas naturezas que trazemos na pintura brasileira como os pssaros de Tarsila do
Amaral escondidos atrs de rvores e construes geometricamente dispostas em suas imponen-
tes linhas futuristas e jogos de cor.
Sua participao na exposio O Gabinete de Curiosidades de Domenico Vandelli, concebida
por Anna Dantes em 2009, deu a Zerbini a possibilidade de ampliar essa ao investigativa em relao
natureza. Ao mergulhar na lgica classificatria e organizacional de um naturalista (o formato cls-
sico do gabinete), o artista pde dar vazo ao seu mpeto de colecionador de objetos e explorar a
construo da grande mesa-pintura: uma instalao em que Zerbini apresenta suas placas de cor,
pastilhas, slides e desenhos, todos sobrepostos com insetos, folhas, bambus, detritos, conchas,
areia, anotaes em cadernos, caramujos, tijolos e demais elementos reproduzidos em suas te-
las. Em um espelhamento potico, ora sutilmente aproximativo, ora perfeitamente identificvel,
sua grande mesa faz do artista um naturalista de seu prprio ecossistema, um cientista minucioso
e ao mesmo tempo enganador de sua prpria natureza. As curiosidades de seu gabinete pesso-
al se potencializam no embate potico e incessante desse olhar necessariamente urbano e seus
transes alucinatrios com as paletas dos dias verdes, cinzas, azuis, vermelhos, laranjas e lilases que
compem o mundo de Zerbini.
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Em AMOR, Luiz Zerbini afirma de vez a ocupao tranquila e absoluta de um lugar gigante na
arte brasileira da atualidade. Um lugar sereno e decidido, de quem olha o mundo para alm de
uma escala restrita, para alm de um recorte acanhado do cotidiano, para alm de uma demandaprevisvel dos prximos passos. Ele est construindo uma imensa paisagem contempornea brasi-
leira, fragmentada entre natureza e cultura, erigida entre o primitivo cheiro do mato na chuva e o
subgrave de baixa frequncia das caixas de som das ruas. Uma paisagem que, como o amor, cresce
e morre todos os dias ao nosso redor.
Quando precisarmos em um futuro remoto reconhecer as imagens do nosso tempo atravs
das artes visuais, o trabalho de Luiz Zerbini ser um dos que vo oferecer essa imagem de forma
mais acurada. Suas telas sero esses retratos de um Brasil com temporalidades e geografias so-
brepostas, deslocadas, conflitantes, exuberantes e digitais. Uma paisagem do sculo XXI, plena de
tropicalidade e tijolos, composta por Metaesquemas em tapumes de obras, espadas-de-so-jorge,
pedras, seres e cores, todos espalhados entre postes acesos e jabutis, entre sandlias de dedo
e iPods, entre macacos, gambiarras, ondas de WAV, pastilhas coloridas e borboletas. A maior pro-
va de amor ser generoso com o que se ama. E o que no falta no AMORde Luiz Zerbini essa
generosidade com o mundo, com a arte, com a vida e com o pblico.
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Rio Negro,2011slides e fita adesiva70x 60cm
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Mad Curator II, 2011slides e fita adesiva96x 121cm
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Tokyo Night, 2012slides, fita adesiva egelatina colorida65x 50cm
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Native, 2012slides, gelatina colorida,papel de arroz e fita adesiva35x 35cm
Efraim, 2011slides e fita adesiva40x 30cm
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produopatrocnio realizao
EXPOSIO E CATLOGO
18 out a 9 dez 2012
COORDENAO DE PRODUO
Luiza Mello
PRODUO EXECUTIVA
Arthur MouraMariana S. de MelloMariana Veluk
GESTO DO PROJETO
Marisa S. Mello
ADMINISTRAO DO PROJETO
Carolina Lima
DESIGN GRFICO
Zot Design | Rara Dias ePaula DelecaveAna Carneiro
FOTOS
Eduardo Ortega
PROJETO DE ILUMINAO
E DESIGN DE LUZ
Samuel Betts | BeLight
CENOTCNICA
Camuflagem
ARQUITETURA
Pedro vora | RUA ArquitetosCarina Batista
REVISO DE TEXTO
Duda Costa
VERSO PARA O INGLS
Paul Webb
ASSESSORIA DE IMPRENSA
CW&A Comunicao
ASSESSORIAJURDICAlvaro Piquet Pessoa
ASSISTENTES DO ARTISTA
Felipe FernandesIns NinJuliana WhnerLiana LunaRuan Dornellas
AGRADECIMENTOS
Adam Shefferlvaro Piquet PessoaAndr SchwartzBeatriz MilhazesBernardo de Mello PazBGA InvestimentosBradesco SegurosCharles CosacCleusa GarfinkelCarlos Eduardo M. Varella GomesEfrain AlmeidaFabio SzwarcwaldGabriella e Fernando M. OliveiraGaleria Fortes VilaaHeitor ReisInstituto InhotimLeonel KazLuis Carlos NabucoMalu Mader e Tony BellottoManeco MullerMarcel JungMariano Marcondes FerrazMax Wigram GalleryPatricia Viotti e Washington OlivettoPrefeitura da Cidade doRio de JaneiroRumi VerjeeSecretaria Municipal de Culturado Rio de JaneiroTagg Art LLC.Thiago Gomide
PRESIDENTE
Carlos Alberto Gouva Chateaubriand
VICE-PRESIDENTE
Joo Maurcio de Araujo Pinho Filho
DIRETOR
Luiz Schymura
CONSELHEIROS
Armando Strozenberg
Carlos Alberto Gouva ChateaubriandDemsthenes M. de Pinho FilhoElisabete Carneiro FlorisGilberto Chateaubriand (Presidente)Gustavo Martins de AlmeidaHeitor ReisHelio PortocarreroHenrique LuzJoo Maurcio de Araujo Pinho(Vice Presidente)Joo Maurcio de Araujo Pinho FilhoJoaquim PaivaJos Olympio PereiraKtia Mindlin Leite BarbosaLuis Antonio de Almeida BragaLuiz Carlos BarretoLuiz SchymuraNelson EizirikPaulo Albert Weyland VieiraPaulo Roberto Ribeiro Pinto
ARTES PLSTICAS
Luiz Camillo Osorio (Curador)
CINEMATECA
Gilberto Santeiro (Curador)
PESQUISA E DOCUMENTAO
Elisabeth Catoia Varela (Curador)
Museu de Arte Moderna
Rio de Janeiro
Av. Infante Dom Henrique, 85Parque do Flamengo 20021-140Rio de Janeiro RJ Brasil
www.mamrio.org.br
MANTENEDORESPetrobras, Light, Organizao Techint
PARCEIROSBolsa de Arte do Rio de Janeiro,Credit Suisse Hedging-Griffo,Investidor Profissional, Klabin SA,Mica Mdia Cards, OutbackSteakhouse, Revista Piau, SaltaElevadores, Unimed-Rio
Lei de Incentivo Cultura |Ministrio da Cultura
PROJETOS ESPECIAIS
Projeto Arte no ArquivoCAIXABiblioteca: automaoSecretaria de Estado de Cultura
PREFEITURA DA CIDADE DORIO DE JANEIRO
PREFEITO
Eduardo Paes
VICE-PREFEITO
Carlos Alberto Vieira Muniz
SECRETRIO MUNICIPAL DE CULTURA
Emilio Kalil
CHEFE DE GABINETE
Rita de Cssia de Samarques Gonalves
SUBSECRETRIO DE CULTURA
Walter Santos Filho
SUBSECRETRIA DE GESTO
Rosemary Fernades Lessa Vidal
ASSESSOR DE ASSUNTOS ESTRATGICOS
Pedro Igor Alcntara
ASSESSOR DE COMUNICAO
Roberto Blattes
COORDENADOR DE MUSEUS,
CENTROS CULTURAIS E ARTES VISUAIS
Robson Bento Outeiro
GERENTE DE CENTROS CULTURAIS
Snia Gentile
GERENTE DE MUSEUS
Andra Falco
Este projeto foi realizado com recursos do EditalPr-Artes Visuais da Prefeitura do Rio/SecretariaMunicipal de Cultura e da Bradesco Seguros,atravs da Lei Rouanet de Incentivo Cultura.
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