UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
MAIZE RODRIGUES FERREIRA MIRANDA
ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO NO SERVIÇO DE
URGÊNCIA EM UM HOSPITAL PÚBLICO DE CUIABÁ-MT
FLORIANÓPOLIS (SC)
2014
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
MAIZE RODRIGUES FERREIRA MIRANDA
ACOLHIMENTO COM CLASSIFICAÇÃO DE RISCO NO SERVIÇO DE
URGÊNCIA EM UM HOSPITAL PÚBLICO NO MATO GROSSO
Monografia apresentada ao Curso de
Especialização em Linhas de Cuidado em
Enfermagem-Urgência e Emergência, do
Departamento de Enfermagem da
Universidade Federal de Santa Catarina, como
requisito parcial para obtenção do título de
Especialista.
Profª. Orientadora: Eleine Maestri
FLORIANÓPOLIS (SC)
2014
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FOLHA DE APROVAÇÃO
O trabalho intitulado Acolhimento com Classificação de Risco no Serviço de Urgência
em um Hospital Público no Mato Grosso de autoria do aluno Maize Rodrigues Ferreira
Miranda foi examinado e avaliado pela banca avaliadora, sendo considerado APROVADO
no Curso de Especialização em Linhas de Cuidado em Enfermagem – Área Urgência e
Emergência.
_____________________________________
Profa. Ms. Eleine Maestri
Orientadora da Monografia
_____________________________________
Profa. Dra. Vânia Marli Schubert Backes
Coordenadora do Curso
_____________________________________
Profa. Dra. Flávia Regina Souza Ramos
Coordenadora de Monografia
FLORIANÓPOLIS (SC)
2014
3
AGRADECIMENTOS
A Deus que nos guiou, protegeu e encorajou durante esse período.
Aos meus pais e familiares que me ensinaram e ajudaram a perseverar nessa
caminhada com muita fé e paciência.
Ao corpo docente da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que durante
todo o curso estavam sempre prontos para ajudar.
A minha orientadora Profª. Eleine Maestri por ter auxiliado em todo o trabalho.
A todos que contribuíram para a otimização do trabalho.
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SUMÁRIO
RESUMO ......................................................................................................................................... 5
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 6
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .............................................................................................. 9
3 MÉTODO ................................................................................................................................... 13
3.1 Tipo de estudo ..................................................................................................................... 13
3.2 Local do estudo ................................................................................................................... 13
3.3 Plano de trabalho................................................................................................................. 14
3.4 Análise dos dados ............................................................................................................... 14
3.5 Aspectos éticos .................................................................................................................... 14
4 RESULTADO E ANÁLISE ...................................................................................................... 15
4.1 Acesso e caracterização da demanda do serviço............................................................... 15
4.2 Fluxos e critérios adotados para a organização da atenção ao usuário ............................ 15
4.3 Contribuição do Ministério da Saúde com a implementação da PNH em hospital
público de Cuiabá ...................................................................................................................... 17
4.4 A Humanização do usuário e funcionários do hospital .................................................... 17
4.5 Dificuldade no atendimento com o Acolhimento e Classificação de Risco no hospital 18
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 19
REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 20
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RESUMO
O Acolhimento com Classificação de Risco pretende aperfeiçoar o sistema de
atendimento de urgências e emergências, pautado em uma diretriz ética, estética e política,
que inclui a ausculta e a construção de vínculo, para a garantia do acesso com
responsabilização e resolutividade dos serviços para o bem estar dos usuários. Assim, foi
traçado como objetivo geral analisar o acolhimento do usuário em busca de atendimento na
unidade de urgência de um hospital público de Cuiabá-MT, seguindo a Classificação de Risco
estabelecida pela Política Nacional de Humanização. A metodologia consiste no relato de
experiência da observação realizada em um hospital público no período de março à setembro
de 2012. Para o seu desenvolvimento foi utilizado um roteiro de investigação que guiou a
observação sobre os seguintes tópicos: acesso e caracterização da demanda do serviço; fluxos
e critérios adotados para a organização da atenção ao usuário. O estudo permitiu algumas
reflexões sobre o acesso e as características da demanda, fluxograma de organização do
serviço, contribuições do Ministério da Saúde para a implementação do Acolhimento com
Classificação de Risco, humanização dos usuários e funcionários, bem como as dificuldades
para implementação na instituição. Concluímos que esta é uma estratégia de
reorganização/reorientação da atenção à demanda espontânea que pode ter efeitos
significativos na racionalização dos recursos, no perfil ocupacional dos profissionais e nas
relações destes com os usuários até no estabelecimento de processos de mudança na
concepção da população à cerca suas necessidades de saúde.
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1 INTRODUÇÃO
Urgência são os casos resultantes de acidentes pessoais, como eventos ocorridos
em datas específicas provocadas por agentes externos ao corpo humano, súbitos e
involuntários, causadores de lesões físicas não decorrentes de problemas de saúde, como por
exemplo, acidentes de carro, quedas e inalações de gases (ANS, 2005).
O Ministério de Saúde (MS) caracteriza os procedimentos dos serviços de
emergência em três modalidades, tendo como critério a gravidade (acuidade) e a
complexidade do caso a ser tratado: urgência de baixa e média complexidade, quando não há
risco de morte; urgência de alta complexidade, não há risco de morte, porém o paciente
apresenta um quadro crítico ou agudo; emergência – são casos em que há risco de morte
(VALENTIM, 2009).
No cuidado à saúde, a humanização do usuário está incluída na Constituição
Federal Brasileira de 1988, que garante a todos o acesso à assistência a saúde de forma
resolutiva, igualitária e integral (ANDRADE et al., 2009).
Acolhimento é atender a todos que procuram os serviços de saúde, ouvindo seus
pedidos e assumindo uma postura capaz de acolher, escutar e compactuar, dando respostas
mais adequadas às necessidades dos usuários hospitalizados e de seus familiares, sendo estes
considerados os indivíduos que necessitam de cuidados em saúde no cenário hospitalar
(MARTINS et al., 2008).
O Ministério da Saúde propôs por meio do programa Humaniza SUS, a
humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do
SUS. De acordo com tal programa, humanizar é: ofertar atendimento de qualidade articulando
os avanços tecnológicos com acolhimento, como melhoria nos ambientes de cuidado e das
condições de trabalho dos profissionais (CARVALHO et al., 2008).
O atendimento inicial do usuário é feito pelo enfermeiro que realiza aferição dos
sinais vitais, verificação da queixa principal, avaliação dos fatores de risco e breve exame
físico direcionado. Quando possível, o enfermeiro avalia o potencial de risco de morte e/ou
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complicações dos usuários no estado atual e o classifica de acordo com as prioridades de
atendimento (OLIVEIRA et al., 2011).
A classificação de risco identifica os usuários por cores, sendo elas: vermelho (o
paciente tem risco de morte iminente e é encaminhado diretamente à sala de emergência);
amarelo (o paciente deve ser atendido o mais rápido possível, porém não corre risco
iminente); verde (o paciente não corre riscos, mas apresenta queixas que deveriam ser
atendidas na rede básica de saúde) (OLIVEIRA et al., 2011).
A escolha por este tema foi motivada pela constatação, na prática, das
dificuldades que os profissionais da área de saúde, no âmbito hospitalar, possuem em
identificar e acolher o usuário no setor de urgência.
Como profissional de saúde, a autora da presente pesquisa tenta programar,
planejar e trabalhar de forma criativa e variada meios para que as estratégias e os protocolos
do acolhimento sejam mais bem entendidos pelos usuários, por isso é necessário a
reorganização do processo de trabalho das unidades de urgência de forma a atender os
diferentes graus de especificidade e resolutividade na assistência realizada aos agravos
agudos, de forma que a assistência prestada seja de acordo com os diferentes graus de
necessidades ou sofrimento e não mais impessoal e por ordem de chegada. O profissional da
área da saúde é potencialmente capaz de gerar transformações, sobretudo em conjunto com
outras práticas, garantindo um atendimento com qualidade e identificação imediata do
problema apresentado pelo usuário.
Busca-se também fornecer conhecimentos sobre o assunto e subsídios para o
acolhimento, construindo novas práticas de saúde, tendo em vista a participação dos usuários
no planejamento terapêutico.
A relevância deste trabalho reside na necessidade de se contribuir com mais
estudos sobre este assunto, tendo em vista que o enfermeiro como um dos principais
integrantes da equipe de saúde, deve estar ciente da sua responsabilidade frente ao
acolhimento. Bem como também se destina aos profissionais da área da saúde de uma forma
geral, que pretendem trabalhar no setor de urgência e emergência.
Assim, foi traçado como objetivo geral analisar o acolhimento do usuário em
busca de atendimento na unidade de urgência de um hospital público de Cuiabá-MT, seguindo
a Classificação de Risco estabelecida pela Política Nacional de Humanização. E como
objetivos específicos: descrever o fluxo de atendimento na unidade de urgência; descrever o
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acolhimento segundo o protocolo de Classificação de Risco; e conhecer o trabalho de
acolhimento da equipe de saúde segundo o protocolo de Classificação de Risco.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Acolhimento é um processo que deve ocorrer em articulação com as várias
diretrizes propostas para as mudanças nos processos de trabalho e gestão dos serviços: clínica
ampliada, cogestão, ambiência, valorização do trabalho em saúde. O acolhimento como ato ou
efeito de acolher expressa uma ação de aproximação, um estar com e perto de, ou seja, uma
atitude de inclusão de estar em relação com algo ou alguém (BRASIL, 2004).
A proposta do acolhimento, articulada com outras propostas de mudanças no
processo de trabalho e gestão dos serviços (co-gestão, ambiência, clínica ampliada, programa
de formação em saúde do trabalhador, direitos dos usuários e ações coletivas) é um dos
recursos importantes para a humanização dos serviços de saúde (BRASIL, 2006).
O acolhimento significa também a humanização do atendimento, o que pressupõe
a garantia de acesso a todas as pessoas. Diz respeito, ainda, à escuta de problemas de saúde do
usuário, de forma qualificada, dando-lhe sempre uma resposta positiva e responsabilizando-se
pela resolução do seu problema (SOLLA, 2005).
Acolher, no contexto dos serviços de saúde, envolve a recepção adequada da
clientela, a escuta da demanda, a busca de formas para compreendê-la e solidarizar-se com
ela, devendo ser realizado por toda a equipe de saúde em toda relação profissional de saúde-
pessoa em cuidado (CARMEN; MINUZI, 2008).
A Política Nacional de Humanização (PNH) pode ser compreendida como um
conjunto de princípios e instrumentos que pretendem influir na qualidade. Nessa direção, a
qualidade precisa englobar mudanças em diversos âmbitos, abarcando desde a organização e
as relações institucionais de trabalho até as características/condições da prestação de serviços
e dos produtos oferecidos à população (BRASIL, 2011).
A tecnologia de Avaliação com Classificação de Risco pressupõe a determinação
de agilidade no atendimento a partir da análise sob a óptica de protocolo pré-estabelecido, do
grau de necessidade do usuário, proporcionando atenção centrada no nível de complexidade e
não na ordem de chegada (BRASIL, 2004).
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Desta maneira exerce-se uma análise (avaliação) e uma ordenação (classificação)
da necessidade, distanciando-se do conceito tradicional de triagem e suas práticas de
exclusão, já que todos serão atendidos. Estas duas tecnologias, acolhimento e
avaliação/classificação de risco, portanto, tem objetivos diferentes, mas complementares,
podendo, dada a singularidade dos serviços, coexistirem ou funcionarem separadamente no
contexto físico, mas jamais díspares no processo de trabalho (BRASIL, 2004).
O critério de Classificação de Risco clínica dos pacientes incluem os níveis de
prioridade e cor atribuída, o tempo de espera para o atendimento médico, a reavaliação de
enfermagem e o método de avaliação da queixa principal, estratificando o risco em cinco
níveis distintos e que tem sido referido por cores para facilitar a visualização (SOUZA et al.,
2011).
Os eixos e suas áreas – eixo vermelho, este eixo está relacionado à clínica do
paciente grave, com risco de morte, sendo composta por um agrupamento de três áreas
principais:
a) Área vermelha: nesta área está à sala de emergência, para atendimento imediato dos
pacientes com risco de morte, e a sala de procedimentos especiais invasivos.
b) Área amarela: composta por uma sala de retaguarda para pacientes já estabelecidos,
porém, que ainda requerem cuidados especiais (pacientes críticos ou semi-críticos).
c) Área verde, composta pelas salas de observação, que devem ser divididas por sexo
(feminino e masculino) e idade (crianças e adultos), a depender da demanda (BRASIL,
2009).
Nas salas amarelas e verdes, além da adequação dos espaços e dos mobiliários a
uma funcionalidade que facilite o processo de trabalho, é importante que se considere
questões relativas a som, cheiro, cor, iluminação etc. Uma vez que o tempo de permanência
do paciente nestas áreas é mais prolongado que na área vermelha (BRASIL, 2009).
Na sala vermelha o paciente não permanecendo por um período prolongado,
também é importante observar os elementos acima apontados, modificadores e qualificadores
do espaço, de modo a propiciar um ambiente confortável e agradável para os trabalhadores,
além da funcionalidade necessária à realização do trabalho (BRASIL, 2009).
O Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) foi
instituído pelo Ministério da Saúde através da portaria nº 881, de 19 de junho de 2001, no
âmbito do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2001).
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O PNHAH faz parte de um processo de discussão e implementação de projetos de
humanização do atendimento a saúde e de melhoria da qualidade do vínculo estabelecido
entre trabalhador da saúde, pacientes e familiares (SALICIO; GAIVA, 2006).
Silva (2010), afirma que as unidades de emergência se constituem numa
importante porta de entrada para o usuário no Sistema Único de Saúde, porém, se constata
uma utilização indevida dos serviços hospitalares de emergência em nosso meio. Isto ocorre
por conta da fragilidade da atenção básica de saúde traduzida na falta de acesso à atenção
ambulatorial especializada e a atenção hospitalar, impactando no atendimento das unidades de
emergência, que passam a ser a principal forma de acesso para especialidades e tecnologias
médicas, o que as transforma em depósito dos problemas não resolvidos.
A agilidade e a resolutividade dos serviços de urgência e emergência estão
alicerçadas em alguns fundamentos dentre os quais se destacam: capacitação e treinamento
dos membros da equipe, estrutura organizacional adequada e qualidade das anotações nas
fichas de atendimento (AVANZI; SILVA, 2005).
Os profissionais que atuam na unidade de urgência e emergência devem receber
treinamento específico, tanto técnico como científico quanto uma educação continuada
voltada para o autoconhecimento o que exige deles domínio de suas próprias emoções e
conhecimento de seus limites e de suas possibilidades, por outro lado, a angústia e a ausência
de informações aos familiares são também fontes de tensão nesse ambiente (TACSI;
VENDRUSCOLO, 2004).
Garlet et al. (2009), relatam que o enfermeiro de unidade de emergência é
responsável pela coordenação da equipe de enfermagem, gerencia o cuidado de enfermagem
visualizando as necessidades do paciente de forma integral, conciliando os objetivos
organizacionais com os objetivos da equipe de enfermagem.
Porém, quando os profissionais prestam atendimento em situações de urgência e
emergência não conseguem visualizar a trajetória dos usuários e as dificuldades de saúde,
desse modo é importante à compreensão dessas situações para tornar o atendimento mais
acolhedor, utilizando uma abordagem que leve à solução competente e satisfaça o usuário
(GARLET et al., 2009).
É direito do paciente ter pleno conhecimento do seu diagnóstico, prognóstico e
tratamento de uma maneira clara e verdadeira, para que possa tomar suas próprias decisões,
exercendo assim, o princípio da autonomia. O código de ética dos profissionais de
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enfermagem, no seu artigo 26, prevê o dever de prestar adequadas informações ao cliente e à
família a respeito da assistência de enfermagem, possíveis riscos e consequências que possam
ocorrer (VISENTIM; LABRONICI; LENARDT, 2007).
O planejamento e a realização do cuidado contemplam não só a relação dos
enfermeiros com os usuários, mas também com os familiares dos pacientes e acompanhantes,
pois cabe a esses profissionais, via de regra, decidir quanto à entrada e permanência deles no
serviço de emergência (SANTOS, 2010).
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3 MÉTODO
3.1 Tipo de estudo
Tratando-se de um relato de experiência ligado a tecnologia da administração
toma-se o rumo de uma abordagem qualitativa que possibilita “compreender um problema da
perspectiva dos sujeitos que o vivenciam, ou seja, parte de sua vida diária, sua satisfação,
desapontamentos, surpresas e outras emoções, sentimentos e desejos (...)” (LEOPARDI et al.,
2001, p. 135), possibilitando a análise do acolhimento voltado para bem atender. Uma das
características deste tipo de pesquisa é que ele é utilizado quando não se podem usar
instrumentos de medida precisos e pretende-se obter dados subjetivos.
3.2 Local do estudo
O hospital do presente estudo é uma unidade de saúde pública, cuja finalidade
principal é prestar serviço médico hospitalar à comunidade em geral, integrada de toda a sua
equipe de saúde, bem como às demais unidades da Secretária Municipal de Saúde de Cuiabá.
Este hospital é referência para o estado onde está inserido, outros estados
vizinhos. O atendimento diário pela urgência e emergência em média, de 900 pessoas/dia,
perfazendo um total mensal médio de 20.000 pessoas atendidas (AMORIM, 2008). Adota
como missão: “Garantir a saúde das pessoas através da assistência humanizada em situação de
urgência de média e alta complexidade”. E a visão deste hospital público é: “Ser uma
referência no atendimento de média e alta complexidade” (AMORIM, 2008).
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3.3 Plano de trabalho
O estudo foi realizado no período de março à setembro de 2012. Para o seu
desenvolvimento foi utilizado um roteiro de investigação que guiou a observação sobre os
seguintes tópicos: acesso e caracterização da demanda do serviço; fluxos e critérios adotados
para a organização da atenção ao usuário.
3.4 Análise dos dados
Os resultados foram apresentados por meio de categorias analíticas e interpretados
conforme reflexões da pesquisadora e com respaldo na literatura sobre os temas que
emergiram dos dados. Os dados foram analisados e agrupados nas seguintes categorias:
Acolhimento segundo Classificação de Risco na unidade de urgência de um hospital público
de Cuiabá; Acolhimento pelo profissional de saúde na unidade de urgência de um hospital
público de Cuiabá.
3.5 Aspectos éticos
Por não se tratar de pesquisa a proposta não foi submetida ao Comitê de Ética e
Pesquisas com Seres Humanos. No entanto, os princípios éticos foram respeitados conforme a
Resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que traça as diretrizes e normas
regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos (BRASIL, 2003).
Foi enviado um ofício à direção da instituição solicitando permissão para o plano
de trabalho e não foram utilizados dados relativos aos sujeitos.
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4 RESULTADO E ANÁLISE
4.1 Acesso e caracterização da demanda do serviço.
O atendimento começa a partir do momento em que geralmente o usuário vem
encaminhado das Policlínicas, Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), e de
outros Municípios. A maioria deles são traumas, chegam também clínicos, cardíacos e
pacientes oncológicos, incluindo, crianças, jovens, adultos e idosos. Os mais graves chegam
com acesso venoso periférico e entubado. Havendo a necessidade o usuário grave é entubado
ou já chegam entubado colocado em Respirador Mecânico, monitorizado, muitas vezes já
puncionado acesso venoso periférico ou central, passado SNE/SNG/VSD, sendo anotados
sinais vitais de uma em uma hora, colhidos exames laboratoriais/RX, e outros exames
conforme necessidades, exemplo: tomografia, ECG; e medicados. Os demais pacientes são
avaliados pelos enfermeiros aferido SSVV e encaminhados aos médicos. Por eles serão
avaliados, solicitados exames/RX conforme necessidade, puncionado acesso venoso
periférico e medicados.
A Classificação de Risco tem como avaliar o paciente logo na sua chegada ao
hospital, humanizando o atendimento, descongestionar os prontos socorros, reduzir o tempo
para o atendimento médico, fazendo com que o paciente seja avaliado precocemente de
acordo com a sua gravidade, determinar a área de atendimento primário, informar o tempo de
espera e retornar as informações aos familiares, devendo ser levados em conta os seguintes
fatores: números de atendimentos, pessoal disponível, sistema de redirecionamento de
consultas ambulatoriais ou outros serviços de atendimento, bem como área física (GODOY,
2010).
4.2 Fluxos e critérios adotados para a organização da atenção ao usuário.
Ao adentrar na instituição o usuário é recepcionado pelo segurança e técnico de
enfermagem, e é encaminhado à sala de Acolhimento e Classificação de Risco (ACCR) onde
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passará pela Consulta de Enfermagem. O enfermeiro classificará de acordo com a necessidade
e gravidade do caso. Os casos de não urgência são enviados para outras instituições como:
Policlínicas, Centro de Saúde, Estratégia de Saúde da Família.
Para o atendimento percorre-se o seguinte fluxograma: portaria, recepção, sala de
ACCR, encaminhado ao destino certo, Sala Vermelha ou Sala de Trauma (cirúrgico).
A escuta funciona conforme a demanda dos usuários e gravidade, que querem ser
atendidos todos de uma só vez, gerando tumultos. Alguns são encaminhados sem poderem ser
escutados, somente pela escrita.
Usuários que são encaminhados diretamente a Sala Vermelha devido à
necessidade de atendimento imediato apresentam como características de situação/queixa:
politraumatizado grave, lesão grave de um ou mais órgãos e sistemas; ECG<12; Queimaduras
com mais de 25% da área de superfície corporal queimada ou com problemas respiratórios;
Trauma crânio encefálico grave; ECG<12; comprometimento da coluna vertebral; Estado
mental alterado ou em coma; ECG<12; história de uso de drogas; desconforto respiratório
grave; dor no peito associado à falta de ar e cianose; perfurações no peito, abdome e cabeça;
intoxicações exógenas; tentativa de suicídio; Glasgow abaixo de 12; parada
cardiorrespiratória; hemorragias não controláveis; infecções graves.
O tempo para o atendimento e a definição de prioridades parte dos requisitos:
Vermelho – prioridade zero, emergência, necessita de atendimento imediato;
Amarelo – prioridade 1, urgência, atendimento em no máximo 15 minutos;
Verde – prioridade 2, prioridade não urgente, atendimento em até 30 minutos
(MALTA et al., 1998).
Devido à demanda de usuários, existem lacunas no acolhimento, pois há muitos
pacientes graves que chegam de uma só vez, e deverão ser atendidos imediatamente, enquanto
isso, os outros ultrapassam o tempo para serem atendidos.
Acesso ao acolhimento é elemento essencial do atendimento para que se possa
incidir efetividade sobre o estado de saúde do indivíduo e da coletividade. É necessário
incorporar o atendimento individual, agregando recursos humanos capazes de fazer vigilância
sanitária e epidemiológica. Para tal, acesso ao acolhimento, vínculo e resolutividade são eixos
centrais do modelo tecnoassistencial em defesa da vida (RAMOS; LIMA, 2003).
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4.3 Contribuição do Ministério da Saúde com a implementação da PNH em hospital
público de Cuiabá
Com a implementação da PNH, pode ser observado que há capacitações dos
acadêmicos de enfermagem, reforçando o Acolhimento com Classificação de Risco através de
Cartilhas do Ministério da Saúde e outros dispositivos para a equipe de saúde, havendo uma
grande participação dos porteiros e recepcionistas. Esses assuntos são entendidos como
tecnologias ou modo de implementação para a humanização.
Foi observado também, que as informações nas capacitações são repassadas para
profissionais de outros setores, que possibilitam a mudança de visão dos que se envolvem,
facilitando o planejamento e priorizando as ações frente às dificuldades que se encontra no
atendimento ao usuário.
Avanzi e Silva (2005) ressaltam que os serviços que se propõem realizar o
atendimento de urgência e emergência devem, antes de tudo, ter profissionais plenamente
conscientes do real significado do termo urgência e emergência, é serviço que significa estar
apto a tratar de situações que envolvam risco imediato, ou quase imediato de morte, e que,
naturalmente, necessitam de atenção de qualidade em um curto espaço de tempo.
4.4 A Humanização do usuário e funcionários do hospital
Os funcionários, de modo geral, aceitam e cobram capacitações, reclamam muito
que o Ministério da Saúde não traz maiores treinamentos, apresentam interesse de mudança
pessoal, se unem em busca de um trabalho mais resolutivo, propostas e ações.
Em relação aos usuários foi observado que a maioria encontra-se satisfeita com o
atendimento, ou se calam diante da situação. A insatisfação, quando presente, se manifesta
principalmente, por expressões corporais relacionadas com a demora no atendimento.
O acolhimento assume a condição de reorganizador do processo de trabalho, de
diretriz de serviço, identificando demandas dos usuários e reorganizando o serviço. As
atividades de acolhimento tem o objetivo de ampliar e qualificar o acesso dos usuários,
humanizando o atendimento e impulsionando reorganização do processo de trabalho nas
unidades de saúde (SOLLA, 2005).
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4.5 Dificuldade no atendimento com o Acolhimento e Classificação de Risco no hospital
As dificuldades encontradas no Acolhimento com Classificação de Risco são:
o aumento da demanda no atendimento,
a rotatividade de gestor,
dificuldade de relacionamento entre gestor e funcionário,
a crise nos recursos humanos,
o descaso com a saúde do trabalhador (funcionário doente tem
que trabalhar para não perder a produtividade),
baixo salário,
a falta de estrutura,
a falta de condições de trabalho,
a mudança de chefia.
Foi observado que no aumento da demanda no atendimento, a sala fica lotada,
com difícil acolhimento aos usuários, o setor não tem privacidade para atender casos isolados,
como mulheres vítimas de violência.
O acolhimento no campo da saúde deve ser entendido, ao mesmo tempo, como
diretriz ético-estética-política constitutiva dos modos de se produzir saúde e ferramenta
tecnológica de intervenção na qualificação da escuta, construção de vínculo, garantia do
acesso com responsabilidade e resolutividade nos serviços (BRASIL, 2006).
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatamos que o Ministério da Saúde contribui muito por meio de cartilhas na
Política Nacional de Humanização adotada no hospital do presente estudo, por despertar o
caminho para que o atendimento seja eficaz conforme o protocolo preconizado.
Existem algumas lacunas que podem ser minimizadas por meio de capacitações
dos envolvidos nesse processo de aperfeiçoamento da PNH. Talvez se pense que não exista
uma solução local para os graves problemas de saúde, porém, existe a conscientização de que
a construção da humanização se faz necessária.
A humanização surge como estratégia de interferência nos processos de produção
à saúde, tendo como pressuposto que os sujeitos sociais, quando mobilizados, são capazes de
mudar realidades e a si próprios.
A PNH é de interesse geral e deve ser cuidadosamente trabalhada nas unidades de
saúde, pois lida com a diversidade cultural do usuário, que tem diferentes idéias,
pensamentos, saberes e experiências que devem ser ouvidas e respeitadas.
Concluímos que esta é uma estratégia de reorganização/reorientação da atenção à
demanda espontânea que pode ter efeitos significativos na racionalização dos recursos, no
perfil ocupacional dos profissionais e nas relações destes com os usuários até no
estabelecimento de processos de mudança na concepção da população à cerca suas
necessidades de saúde.
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REFERÊNCIAS
AMORIM, M. J. Análise da implementação da Política Nacional de Humanização – PNH
no Hospital e Pronto Socorro Municipal de Cuiabá- HPSMC. Monografia
(Especialização) – Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso.
Disponível em: <http://www.saude.mt.gov.br/upload/documento/104/analise-da-implem
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de-cuiaba-hpsmc-%5B104-020210-SES-MT%5D.pdf>. Acesso em: 15 jul. 2012. Cuiabá-MT,
2008.
ANDRADE, L. M.; MARTINS, E. C.; CAETANO, J. A.; SOARES, E.; BESERRA, E. P.
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acompanhante. Rev. Eletrônica Enferm., v. 11, n. 1, p. 151-157, 2009.
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urgência e emergência: prazos de carência, cheque-caução, preenchimento da declaração de
saúde. 3. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: ANS, 2005. Série Planos de Saúde – conheça seus
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AVANZI, M. P.; SILVA, C. R. G. Diagnósticos mais frequentes em serviço de emergência
para adulto de um hospital universitário. Rev. Ciênc. Méd., Campinas, v. 14, n. 2, p. 175 -
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______. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em
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______. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
Programáticas e Estratégicas. Atenção Hospitalar. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
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