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FAYE PEDROSA, Cleide Emília. ABORDAGEM SOCIOLÓGICA E COMUNICACIONAL
DO DISCURSO (ASCD): uma corrente para fazer Análise Crítica do Discurso. PARTE 1:
Herança teórica da Sociologia (Aplicada) para a Mudança Social. Natal: UFRN, 2012. Texto
fundador. Disponível em www.ascd.com.br.
ABORDAGEM SOCIOLÓGICA E COMUNICACIONAL DO DISCURSO (ASCD):
uma corrente para fazer Análise Crítica do Discurso
PARTE 1: Herança teórica da Sociologia (Aplicada) para a Mudança Social1
Cleide Emília Faye Pedrosa
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
1. INTRODUÇÃO
O projeto da Análise Crítica do Discurso (ACD)2 marcou o cenário nacional com os
trabalhos de Izabel Magalhães, professora da UnB. Assim, desde a década de 80, época em
que a professora introduziu esse projeto, pesquisadores nacionais se engajaram nessa linha de
análise. Vejo, contudo, a contribuição da ACD, no Brasil, mais em termos de pesquisas. Falta,
a meu ver, um aporte teórico nacional como soma aos já consagrados subsídios dados pelos
fundadores e mesmo seguidores desse campo em outros países.
Desse modo, o grande objetivo deste artigo é documentar a Abordagem Sociológica e
Comunicacional do Discurso (ASCD), criada por nós em 2011. Para atingir esse objetivo
central, procederemos às seguintes ações: fundamentar a abordagem inovadora, indicar
algumas áreas de base para a sustentação dessa abordagem, referendar a Sociologia
(Aplicada) para a Mudança Social e oferecer sugestões de caminhos de análise. Sinalizamos
ao leitor que a Abordagem já apresenta resultados em projetos e trabalhos científicos
apresentados em congressos3.
1 Este texto sofreu algumas alterações e foi publicado em FAYE PEDROSA, Cleide Emília. Abordagem
sociológica e comunicacional do discurso, uma proposta para fazer análise crítica do discurso. IN: SÁ JÚNIOR,
Lucrécio Araújo de; BARBOSA, Tatyana Mabel N. Práticas discursivas e ensino de língua(gens). Natal:
Edurfrn, 2014, p 15-58. 2 Magalhães e outros pesquisadores da UnB usam o termo Análise de Discurso Crítica (ADC). Análise Crítica do
Discurso (ACD), como preferência de tradução para a língua portuguesa do Brasil, é utilizado por Célia
Magalhães (2001), Hoffnagel e Falcone, na tradução da obra de van Dijk (2008), e Possenti, em tradução de
Maingueneau (2010). Em tradução de português europeu, encontramos o termo Análise Crítica do Discurso
empregado por autores que participam da obra compilada por Pedro (1997). Ainda nesta linha, pode-se
acrescentar (devido a proximidade dos idiomas) a tradução para a língua espanhola do termo por Análisis
Crítico del Discurso’ em Wodak e Meyer (2003).
3 Veja neste site alguns artigos apresentados no XVI CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E
FILOLOGIA, 27 a 31 de agosto de 2012, http://www.filologia.org.br/como: PEDROSA, Cleide Emilia Faye.
Abordagem sociológica e comunicacional do discurso (ascd): contribuição aos estudos das identidades e dos
sujeitos\\ PEDROSA, Cleide Emilia Faye; SANTOS, Paulo Sérgio da Silva; GAMBETTA, Letícia Beatriz.
Análise crítica e a abordagem sociológica e comunicacional do discurso (minicurso)\\ MEIRA, Guianezza M.
de Góis Saraiva; COSTA JÚNIOR, João Batista da; PEDROSA, Cleide Emília Faye. Análise crítica do discurso
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2. ACD: da origem às correntes de análises
No início da década de 1990, em Amsterdam, um pequeno grupo de analistas
denominados de críticos – Norman Fairclough (Lancaster), Teun van Dijk (Amsterdam),
Gunther Kress (Londres), Teun van Leeuwen (Londres) e Ruth Wodak (Viena) - consolidou
um novo campo de investigação, a Análise Crítica do Discurso. Como sinalizou Wodak
(2003, p. 22), a consolidação foi mais fruto de um agendamento “e programa de investigação
que pela existência de teorias e metodologias comum”.
Obviamente “escolas” não surgem em um dia, ou mesmo em um ano. Na realidade, o
que temos são décadas apontando para o surgimento de grandes pensamentos. No caso da
ACD, as décadas de 1960 e 1970, que marcam períodos de grandes compromissos com a
‘leitura’ do social, são vitais para seu surgimento. As análises sobre as mudanças sociais
passam a ser foco de estudos em que se tomava o discurso (e o texto) como objeto para
identificar o papel da linguagem na estruturação das relações de poder na sociedade
(FAIRCLOUGH, 2008).
Assim, a ACD ocupa-se, essencialmente, de análises que abrangem as relações de
dominação, de discriminação e de (abuso de) poder e controle, na forma como elas se
manifestam por meio da linguagem (WODAK, 2003). Para esta perspectiva, a linguagem é
um meio de dominação e de força social, servindo para legitimar as relações de poder
estabelecidas institucionalmente. Desse modo, a ACD assume que são necessárias as
descrições e as teorizações dos processos e das estruturas sociais responsáveis pela produção
de um texto “como uma descrição das estruturas sociais e os processos nos quais os grupos ou
indivíduos, como sujeitos históricos, criam sentidos em sua interação com textos” (WODAK,
2003, p. 19, tradução nossa).
Como apontamos inicialmente, um ‘pequeno grupo’ consolidou a ACD e, mesmo
pequeno, esse grupo heterogêneo e internacional deu origem a várias correntes que
resumidamente apresentaremos a seguir4.
e mudança social (oficina)\\ SLAMA, Rodrigo; PEDROSA, Cleide Emília Faye. Abordagem sociológica e
comunicacional do discurso (ascd): leitura crítica da construção discursiva do pobre segundo o governo
federal, a veja e a cufa\\ DAMACENO, Taysa Mércia dos S. Souza. Abordagem sociológica e comunicacional
do discurso(ascd): políticas globalizadas e condutas pedagógicas hegemônicas.
4 Um detalhamento maior destas correntes encontra-se em PEDROSA, C.E.F. Proposta teórica da Análise
Crítica do Discurso: contribuição dos estudiosos na área. Trabalho apresentado no I SEMINÁRIO DE ANÁLISE
DE DISCURSO CRÍTICA, Anais do congresso em CD–Rom, UFC, maio de 2010.
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Tomando como referências autores como Pedrosa (2008, 2010) e Resende, (2009),
podemos afirmar que Fairclough propõe uma articulação entre a Linguística Sistêmico-
Funcional (LSF) e a Sociologia (FAIRCLOUGH, 2003; WODAK; MEYER, 2009), criando a
abordagem dialético-relacional ao assumir uma visão dialética do discurso. Van Dijk (1989)
estabelece um diálogo entre Linguística Textual e Psicologia Social. A teoria a que se filia
também é conhecida por teoria do conhecimento social. Van Dijk e Kintsch “têm
desenvolvido um modelo cognitivo da compreensão do discurso pelos indivíduos, e o têm
feito evoluir gradualmente até convertê-lo em vários modelos cognitivos que explicam a
construção do significado no plano societal” (WODAK, 2003, p. 25, grifo nosso). Seu foco
está na tríade discurso, cognição e sociedade, enquanto Wodak direciona suas pesquisas para
a Sociolinguística e a História. Recentemente (WODAK; MEYER, 2009), essa autora se
posicionou em uma abordagem histórica, por entender que uma teoria do discurso crítica só
seria possível em um contexto histórico, procurando, assim, aplicar ferramentas conceituais
aos problemas sociais específicos. Já van Leeuwen, que se filia a uma corrente social da
linguagem, distingue dois tipos de relações entre o discurso e as práticas sociais: o discurso
como instrumento de poder e de controle e o discurso como instrumento da construção social
da realidade. Por último, podemos afirmar que as pesquisas de Kress ligam-se à corrente
social da linguagem. Seu interesse pela crítica em linguagem passa, primeiramente, por seus
trabalhos em Linguística Crítica.
Após este resumo das correntes internacionais, passamos a expor nossa abordagem.
3. Abordagem sociológica e comunicacional do discurso (ASCD): um posicionamento para a
Análise Crítica do Discurso
Para início de conversa, como não definimos ainda todas as categorias necessárias à
realização de uma análise crítica do discurso com base na ASCD, assumimos alguns
posicionamentos adotados pelos analistas críticos que seguem com as propostas de
Fairclough e mesmo outras correntes da ACD:
aceitamos a metodologia descritiva/interpretativa assumida pela ACD (C.
MAGALHÃES, 2001);
aceitamos que a ACD faz referência à metodologia e a Teoria Crítica do Discurso
(TCD), à teoria (I. MAGALHÃES, 2004);
fazemos uma Análise de Discurso Textualmente Orientada (ADTO);
aceitamos o discurso como um momento da prática social (FAIRCLOUGH, 2006).
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Julgamos que essa abordagem venha a ser mais uma contribuição nacional para a
ACD5. A abordagem tem como foco a mudança social e cultural, mas não se confunde com as
contribuições da corrente social de Fairclough, adotada por nós em muitos de nossos trabalhos
desde que cursamos o doutorado (2005). O cruzamento que faremos com conceitos também
advindos dessa corrente de Fairclough, ou mesmo de outras tantas, faz parte do contexto geral
da ACD, e não exclusividade da(s) corrente(s), e quando isso ocorrer, apontaremos tal
apropriação, pois o diálogo sempre deve ser possível, como o fizemos na abertura deste
tópico. Consideramos, portanto, que acompanhar as mudanças sociais e culturais não é
exclusividade da ACD, ou da Sociologia, ou da Comunicação, ou de qualquer outra área de
conhecimento; faz parte do posicionamento de diversas áreas e dos diálogos entre elas na
atualidade.
A fim de situar o leitor, informamos que a ASCD está fundamentada, principalmente,
em áreas da Linguística (como, por exemplo, a Linguística Sistêmico-Funcional e a
Linguística Textual), como compete a todas as pesquisas em ACD, para atender à demanda da
materialidade linguística; recorre à Gramática Visual, para cobrir a multimodalidade do texto.
Além disso, nasce conexa à Sociologia para a Mudança Social (BAJOIT, [2003] 2008; 2006;
2009; 20126) e à Sociologia Aplicada à Mudança Social (SACO, 2006). Traz também para o
seu quadro teórico a Comunicação para a Mudança Social (GUMUCIO, 2001, 2004;
NAVARRO, 2010) e os Estudos Culturais (MARTTELART, 2005; HALL, 2005). Todos
esses teóricos dão suportes à análise das mudanças sociais e culturais promovidas e
vivenciadas pelo sujeito. Acrescentamos que novos campos poderão ser inseridos em nossa
proposta, como se justifica em toda e qualquer abordagem transdisciplinar como esta se
propõe a ser.
Contudo, como já sinalizado no título, aqui, faremos referência à contribuição da
Sociologia (Aplicada) para a Mudança Social.
5 Várias postagens no Facebook (grupo fechado) acompanharam cronologicamente os primeiros passos da
abordagem (vide referências). 6 Agradeço imensamente a Guy Bajoit, doutor em Sociologia do Instituto de Ciências Políticas e Sociais da
Universidade Católica de Lovain, Bélgica, atualmente professor emérito da Unidade de Antropologia e
Sociologia da Faculdade aberta de política econômica e social e do Instituto de Estudos do Desenvolvimento da
Universidade Católica de Lovain, por, confiantemente, disponibilizar partes de seu inédito livro Vers une théorie
socio-analytique de la relation sociale, para que eu tentasse sanar minhas dúvidas quanto à sua teoria e pela
bondade, que só os grandes possuem, de buscar estabelecer um diálogo conosco.
5
3.1 Sociologia (Aplicada) para a Mudança Social
3.1.1 Mudança social e cultural
Os fundamentos para a discussão que se inicia são, principalmente, as publicações de
Bajoit (2006, 2008, 2009, 2012) e Saco (2006). Destaca-se, na proposta de Bajoit, o modelo
cultural identitário ou subjetivo.
Introduzindo o tópico mudança social, trazemos Saco (2006, p. 158) ao afirmar que
“as instituições só se reformam quando entram em crise” e, principalmente, ao lembrar que a
palavra “crise” significa mudança em grego.
Sztompka (2005, p. 27) defende que não é fácil precisar ou identificar uma mudança
em andamento; é necessário acompanhar “os vários estados sucessivos de um mesmo
sistema”. E, para ajudar nessa compreensão, ele aponta três ideias básicas que caracterizam o
conceito de mudança social: “(1) diferença; (2) em instantes diversos; (03) entre estados de
um mesmo sistema” (SZTOMPKA, 2005, p. 7).
Esse pensamento coaduna-se com o de Bajoit (2008). Para o sociólogo, quando uma
comunidade está passando por mudanças na forma de estabelecer relações sociais, ela
vivencia, em um mesmo período, a velha e a nova maneiras: a primeira, tentando sobreviver,
e a segunda, se impondo. “Portanto, analisar a mudança significa, em primeiro lugar, descobrir
a maneira antiga, em seguida, explicar porque e como ele está transformando e, finalmente,
identificar as práticas que poderiam ser uma nova forma, se a evolução é
confirmada (que nunca se tem certeza)” (BAJOIT, 2008, p. 48). Assim, conforme Bajoit
(2008, p. 173), essas mudanças (socioculturais) demarcam a coexistência de dois modelos – o
antigo e o novo – esse fato, por sua vez, exige reflexividade dos atores sociais. Para se ter uma
concepção desses dois modelos, necessita-se de períodos de transição, de períodos
intermediários. Saco (2006, p. 68) vai mais longe ao defender que “um coletivo humano pode
assumir explicitamente um novo código de valores, e, no entanto, seguir comportando-se de
acordo com o velho”. Eu ainda diria que os atores sociais, individualmente, escolhem o novo
código para algumas áreas de sua identidade e o velho, para outras, ou assumem o novo
código em alguns de seus discursos e o velho, em algumas de suas ações.
Na tentativa de contribuir para a compreensão dessas mudanças socioculturais, é
importante destacar que, na atualidade, a Sociologia desreifica o caráter absoluto e único
como sendo responsável por mudanças. Pode-se falar em causas variadas: tecnológicas,
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culturais, econômicas; porém, não restam dúvidas de que quem gera, efetivamente, as
mudanças são os agentes humanos, como sustenta Sztompka (2005, p. 52).
Bajoit reafirma esse papel do sujeito ao dizer que “o ser humano está orientado em
suas condutas, ao menos em parte, pela intervenção de sua consciência” - por “consciência”,
o autor explica como sendo a capacidade reflexiva do sujeito que lhe oferece condições de
analisar e interpretar o mundo, ou seja, de se conduzir como sujeito – “significa introduzir ao
mesmo tempo a questão do sentido”. O lugar do sentido da vida social dos seres humanos
permite-lhes “compreender porque recorrem constantemente a referências culturais para
justificar sua conduta ante a si mesmo e ante os demais” (BAJOIT, 2008, p. 87).
Ainda com base em Bajoit (2008, p. 252), listamos o que ele considera como sendo a
modificação de um estado das relações sociais:
1. “mudança das coações pelas quais se resolvem os problemas vitais da vida
comum;
2. mudança dos princípios de sentido invocados para legitimar estas coações;
3. mudança das identidades coletivas que resultam da prática das relações sociais;
4. mudança das lógicas de gestão de si, pelas quais os indivíduos resolvem as
tensões que atravessam essas identidades coletivas e constroem suas identidades
pessoais;
5. mudança das lógicas de ação nas quais se comprometem, individualmente ou
coletivamente.”
Complementando estas explicações de Bajoit, trazemos Giddens (1991), que, ao se
referir às “descontinuidades” que marcam a história humana chama a atenção para a forma
não homogênea de desenvolvimento. Ele pergunta “Como deveríamos identificar as
descontinuidades que separam as instituições sociais modernas das ordens sociais
tradicionais?” (GIDDENS, 1991, p. 15). Sua resposta envolve três características (GIDDENS,
1991, p. 15 e 16):
1. O ritmo da mudança posta em movimento pela era da modernidade;
2. O escopo da mudança assegura que ondas de transformação social penetrem através
de (virtualmente) toda a superfície da Terra quando diferentes áreas do globo são postas
em interconexão;
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3. a natureza intrínseca das instituições modernas, tais como o sistema politico do
estado-nação, a dependência por atacado da produção de fonte de energia inanimada, a
completa transformação em mercadoria de produtos e trabalho assalariado, entre outros.
Sobre a dinâmica da mudança social, Saco (2006) indica que há três grandes etapas:
iniciação à mudança, ação orientada à mudança, transferência e estabilização da
mudança. A primeira refere-se à identificação e/ou estimulação da mudança no sistema. A
segunda constitui-se de uma série de objetivos e estratégias para enfrentar os problemas
estruturais diagnosticados. A terceira, por último, relaciona-se com o reforço e a manutenção
das mudanças geradas no sistema, a fim de que não haja enfraquecimento nem dependência
do líder (profissional) que influenciou a mudança.
Essas três etapas descritas apresentam, por sua vez, fases em seu processo. A iniciação
à mudança caracteriza-se pelo desenvolvimento da necessidade de mudança e de
estabelecimento de uma relação de mudança. Em uma coletividade, a necessidade de
mudança pode apresentar três tipos de atores sociais distintos: um profissional ou agente de
mudança que, ao perceber mau funcionamento, solicita mudanças; o próprio coletivo (através
de seus líderes) que identifica seu mau funcionamento e pede mudança; um terceiro, de fora
do coletivo, que percebe a necessidade e pede ajuda para a coletividade. O estabelecimento de
uma relação de mudança refere-se ao oferecimento de tarefas com o objetivo de promover a
participação da coletividade em questão, fazendo com que esta se comprometa com as
mudanças de que precisa.
A ação orientada à mudança envolve etapa referente à conversão da necessidade de
mudança em ações baseadas no diagnóstico. A importância do diagnóstico está em definir a
direção da mudança e aonde se quer chegar, ou seja, concretamente o que se quer mudar.
Distinguem-se, nesta etapa, um horizonte estratégico de grandes metas globais e outro de
metas táticas, de curto alcance.
Já transferência e estabilização da mudança, de acordo com Lippit (apud SACO,
2006, p. 176) apresenta três fases para esta etapa: a iniciação dos esforços de mudança (fase
de racionalização, de criação de ambientes favoráveis à mudança); a generalização e a
estabilização da mudança (fase de visibilização e de divulgação da mudança) e o resultado ou
recompensa de uma relação terminal (institucionalização da mudança).
Trazendo novamente a contribuição de Bajoit (2008), o autor assevera que os
intercâmbios sociais contribuem tanto para reproduzir quanto para mudar as estruturas das
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relações sociais. Os intercâmbios podem ser: cooperativos, conflitivos, competitivos e
contraditórios (BAJOIT, 2008, p. 253, 254).
Nos intercâmbios cooperativos, as identidades coletivas conhecem poucas tensões.
Eles são a base para a reprodução e a continuidade das sociedades, sendo por isso,
necessários. São as ações cooperativas que amparam o interesse mútuo e o diálogo.
Os intercâmbios conflitivos desempenham o papel de amenizar a reprodução das
relações sociais para que estas se renovem. Não se pode esquecer que há muita tensão entre os
grupos sociais, pois o exercício de liderança e de domínio, principalmente, causa bastante
conflito, considerando que se alimenta de relações de (abuso de) poder. A liderança
conseguida por grupos hegemônicos impõe o modo de fazer e de pensar; é a entrada do grupo
dos oprimidos na arena que gera mudanças socioculturais em busca de maior
compartilhamento de interesses.
Nos intercâmbios competitivos, entra em jogo a competência dos atores sociais como
fator de seleção dos “melhores”, ou dos mais “fortes” (esta é uma hipótese das ciências
naturais que se valida nas ciências sociais), ou seja, é a busca por vencer e deslegitimar ações
do “inimigo”. Essa hipótese de competência influenciou a cultura da modernidade, suas
ideologias, sua economia e suas políticas; logo, norteou as condutas dos atores individuais e
coletivos.
Os intercâmbios contraditórios seguem a mesma lógica dos competitivos, porém,
enquanto estes se orientam por regras, aqueles seguem sem regras e árbitro. Por essa razão,
Bajoit (2008) alerta para o perigo de morte física ou social dos atores sociais marginais, que
estão desprovidos de “ferramentas” de luta, de entrar no jogo da criatividade. Não podemos
esquecer que a principal causa da criatividade técnica, social e cultural foi a luta por
sobrevivência; assim, os que não dispõem dessas ferramentas podem ser esmagados ou
deixados à margem pelas mudanças geradas no seio da sociedade.
Percebe-se, com clareza, a importância do equilíbrio desses tipos de intercâmbio na
vida de uma sociedade. As mudanças sociais e culturais são resultado de processos tensos,
porém necessários. Os atores tanto geram quanto sofrem essas tensões em suas relações com o
outro e com o ‘inimigo’. Bajoit (2008, p 254-257) indica uma classificação para as vias da
mudança social, apresentada no Quadro 1.
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Quadro 1 - Representação das tipologias das vias da mudança social (BAJOIT, 2008)
O sociólogo separa as mudanças socioculturais em dois grandes campos: a mutação e
a ruptura. No enquadre da mutação, incluem-se a evolução e a reforma; no da ruptura,
identificam-se a revolta e a revolução. A evolução é um tipo de mudança gerada a partir dos
intercâmbios cooperativos e competitivos entre membros de categorias sociais não
organizadas. As tomadas de decisões são individuais ou de interesse particular de um
determinado grupo social e se tornam ponto de partida para novas mudanças sociais. Por outro
lado a reforma é um tipo de mudança que está pautada no intercâmbio cooperativo, é fruto
de uma decisão coletiva, cuja base é a negociação entre atores sociais organizados que
buscam um bem comum.
No campo da ruptura, a revolta é um tipo de mudança resultante de uma mobilização
espontânea dos membros de uma categoria social em intercâmbios conflitivos e
contraditórios. Sua característica mais marcante é ausência de organização da solidariedade
entre os participantes. Trata-se de uma forma embrionária de identidade coletiva,
considerando que vários indivíduos tomam as mesmas decisões simultaneamente; logo,
influenciam-se conjuntamente. A revolução é uma espécie de mudança pautada nos
intercâmbios conflitivos e contraditórios. O grande diferencial em relação à revolta é que a
revolução é um processo de mudança sociocultural respaldado por ação solidária e
organizada, visando uma inovação social.
Em síntese, de acordo com Bajoit (2008), as mudanças sociais e culturais devem ser
explicadas ponderando-se o papel dos atores individuais e coletivos na gestão das tensões
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sociais. Esses atores são os responsáveis, ao construírem suas subjetividades, pelos
significados que se instauram em sua relação com o outro.
Saco (2006) diferencia (grandes) mudanças sociais de transformações pontuais7.
Segundo o autor, alguns acontecimentos naturais ou sociais podem gerar transformações
temporárias ou mesmo mudanças sociais permanentes. Assim, o sociólogo distingue
mudanças em dois tipos. As do tipo 1, são mudanças microssociológicas que não afetam ao
grande sistema, acontecem como acomodações em organizações menores, por exemplo:
mudanças no seio familiar para se ajustar às necessidades diárias. As do tipo 2, são mudanças
macrossociológicas que afetam a estrutura social, por exemplo: mudanças em forma de
governo de uma nação.
Feita essa primeira grande classificação, o autor apresenta as mudanças de acordo com
as direções que as causaram: a) mudanças a partir de movimentos “de dentro para\ de fora
para” e b) mudanças a partir de movimentos “de cima para\ de baixo para”.
Com relação às mudanças do tipo (a), estas podem ser endógenas ou exógenas. As
endógenas são mudanças ocorridas de dentro para fora, isto é, ocorrem dentro do próprio
sistema como resultado de movimentos de transformação social. Neste tipo de mudanças, na
maioria das vezes, a sociedade conta com mecanismo para estabilizar as alterações surgidas.
As exógenas são as mudanças ocorridas de fora para dentro, ou seja, são mudanças geradas
por fatores naturais ou por força de outros sistemas, por isso, mais difíceis de serem
controlados. Esses fatores podem ser de ordens econômicas, politicas, ideológicas, culturais, e
mesmo ecológicas. O impacto dessas forças externas vai depender do que encontrar
internamente, se o sistema está aberto a inovações ou se há resistências às mesmas.
Com relação às mudanças do tipo (b), estas podem se descendentes ou ascendentes. As
descendentes, que podem ser endógena ou exógena, são as mudanças ocorridas de cima para
baixo, também chamadas de mudanças elitistas, por isso não atendem, de modo geral, às
necessidades da população. As ascendentes são as mudanças ocorridas de baixo para cima
que surgem, mais ou menos, de forma espontânea a partir de mobilizações populares,
geralmente endógenas.
Esses grupos de mudanças podem ser reagrupados ou cruzados entre si, originando
mudanças que combinam movimentos diferentes. As mudanças exógenas descendentes,
denominadas exodirigidas, surgem como resultados de pressão externa ao sistema,
7 Embora concordemos com o autor quanto a essa diferenciação no campo da Sociologia, consideraremos, na
esfera discursiva – nosso objeto de análise – mudanças socioculturais de uma forma generalizada. Assim toda e
qualquer mudança discursiva do sujeito, posicionamentos, mudança de atitude, será considerada uma mudança
social ou mudança sociocultural.
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promovidas, geralmente, por grupos militares, políticos e, até mesmo, culturais. As mudanças
exógenas ascendentes, denominadas de exoemergentes, são provocadas por pressões
advindas de grupos emergentes que se organizam de forma horizontal e, muitas vezes, não
apresentam limites territoriais. Os típicos casos de reivindicações sustentadas nas redes
sociais são exemplos deste tipo de mudança. As mudanças endógenas descendentes,
denominadas endodescendentes ou endodirigidas, são mudanças promovidas pelas elites
locais, tendo, geralmente caráter pacífico pois buscam efetuar as mudanças de forma natural.
Originam-se do atendimento das elites locais às pressões internas ou das forças externas. As
mudanças endógenas ascendentes, denominadas autogestionárias, são promovidas pela
participação e pelo diálogo. Diferentemente das endodescendentes, estas são resultantes de
movimentos populares que buscam respostas às suas reivindicações.
O quadro 2 abaixo sumariza essa classificação.
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O sociólogo chama atenção para o fato de as mudanças “de cima para baixo”
apresentarem uma difusão mais rápida, pois se sustentam por sistemas formais de controle; as
“de baixo para cima” se difundem, obviamente, com mais dificuldade, já que, frequentemente,
estão fundamentadas em sistemas informais de controle e liderança.
3.1.2 Tipos de poder
Embora o conceito de (abuso de) poder seja central em ACD, confirma-se, nas
palavras de Wodak (2003, p. 31), que “A ACD se interessa pelos modos em que se utilizam
as formas linguísticas em diversas expressões e manipulações do poder”. A nosso ver, no
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entanto, essa temática não tem sido investigada com muito aprofundamento; por isso, a
ASCD pretende ampliá-la.
Como já assumido pela ACD, a linguagem evoca poder, e essas relações de poder são
discursivas. A própria Wodak explicita o fato de o poder não existir na linguagem por si; esta
só o adquire via sujeito. Sobre esse aspecto ainda se acrescentaria que o poder não seria
identificável apenas no interior dos textos\discursos em suas formas gramaticais, mas,
sobretudo, em como as pessoas, fazendo uso do texto, exercem controle sobre as outras. Van
Dijk (2008) evidencia o abuso do poder social de grupos e instituições sobre o indivíduo e
sobre o discurso. Os grupos possuem maior ou menor controle sobre os outros membros de
seu grupo ou de outros grupos. Essa discussão acerca da relação da ACD com poder e
linguagem pode ser vista ainda em Fairclough (2008), Wodak (1997) e Pedrosa (2008).
A linguagem é, nesta perspectiva, um meio de dominação e de força social, além de
servir para legitimar as relações de poder estabelecidas institucionalmente. Desse modo, a
ACD desenvolve um tipo de análise que busca uma teoria da linguagem que alie a dimensão
do poder à condição capital da vida social.
Por essa razão justifica-se tratarmos essa temática de forma mais aprofundada,
mapeando as origens do poder e a relação estabelecida entre os interactantes. O nosso quadro
teórico assumirá os diversos tipos de poder aos quais faz referência Bajoit (2008, p. 23-45).
A fim de sobreviverem no tempo e no espaço, as coletividades precisam encontrar
soluções para seus problemas vitais, que o autor elenca como administrar: a produção de
riquezas, a ordem interna, a socialização de seus membros, o consenso e a solidariedade e
suas relações com outras coletividades. A partir desses tipos de relações, surgem tipos
diferentes de coerção: domínio, poder, autoridade, influência e hegemonia. Em uma
recontextualização para nossa abordagem, ao considerarmos o discurso, e não uma situação
empírica como o faz Bajoit, utilizaremos os termos poder-domínio, poder-Estado, poder-
autoridade, poder-influência, e poder-hegemonia, explicitados a seguir.
O poder-domínio refere-se ao modo de produção, o qual envolve a administração da
produção e a utilização social das riquezas de uma coletividade. Como nem sempre as
riquezas são suficientes, geram-se conflitos entre a classe de gestores que desejam controlar a
produção em benéfico próprio e a de produtores. Os atores sociais são gestores e produtores.
O poder-Estado refere-se ao tipo de regime político. A administração de uma ordem
interna envolve: legislar (poder legislativo – decidir sobre o permitido e o proibido); julgar
(poder judicial – avaliar as condutas conforme as leis); reprimir (poder repressivo – aplicar a
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decisão do poder judicial) e governar (poder executivo – intervir na ordem instituída). Os
atores políticos envolvidos são as elites estatais e os cidadãos.
O poder-autoridade refere-se ao modelo de integração social. Esse modelo dá conta da
socialização dos membros da coletividade de acordo com as regras adotadas para o corpo
social, tais como: prescrever e incutir as regras, garantir a autoridade da hierarquia, avaliar as
condutas dos dirigidos e castigar o desvio social. Os atores sociais são as hierarquias e os
dirigidos.
O poder-influência refere-se ao tipo de contrato social, relação social em que se
estabelecem, se negociam e se garantem os compromissos, bem como a existência entre os
diferentes grupos. Os atores sociais envolvidos são os grupos instalados e os grupos
minoritários.
O poder-hegemonia refere-se ao modelo de ordem social, o qual diz respeito ao modo
de administrar as relações entre as coletividades nos âmbitos regional e mundial. Os atores
envolvidos são as coletividades hegemônicas e as coletividades dependentes. É uma relação
de coerção em que a coletividade mais forte impõe (por diplomacia ou guerra) seus interesses
políticos e econômicos a outras coletividades mais fracas.
Assim, a depender da esfera discursiva (no caso da ASCD) em que esteja inserida a
fala do sujeito, nomearemos o “poder” de forma diferente, seguindo a classificação de Bajoit.
3.1.3 Indivíduo, sujeito, ator (ISA)
A Sociologia para a Mudança Social (BAJOIT, 2008, 2009, 2012) contempla o estudo
do ISA – indivíduo, sujeito e ator. Ressaltaremos, neste tópico, o sujeito, embora
reconhecendo a necessidade de evocarmos o ator social e a sua identidade. Para o estudo
(resumido) das identidades, remetemos os leitores para o tópico seguinte e o estudo dos
atores sociais (VAN LEEUWEN, 1997; PEDROSA, 2008).
Sabe-se que a história dos estudos da linguagem com o sujeito não tem sido fácil nem
pacífica. Ora retira-se o sujeito, ora inclui-se o sujeito. Ora defende-se um sujeito assujeitado,
determinado por uma formação ideológica e discursiva; ora aponta-se para um sujeito
descentrado. Indica-se um sujeito transformador (que nem sempre existe). É ainda nessa
efervescência em relação ao sujeito e nessa inexistência de consenso das correntes que a nossa
abordagem assume os vários tipos de sujeito apontados por Bajoit (2008), migrando-os para o
campo discursivo. Isso por entendermos que o ser humano é um ser de “palavra”, “ele se
constrói discursivamente quando assume a linguagem nesta constante relação linguagem-
15
sociedade, mediada por todo um trabalho cognitivo sobre si mesmo, sobre o outro e sobre o
mundo” (PEDROSA, 2012d, no prelo). Nesse sentido, “toda enunciação produz
simultaneamente um enunciado e um sujeito”. Não podemos pensar “um sujeito anterior à
enunciação” pois “a enunciação é constitutiva do sujeito, o sujeito advém na enunciação”
(COMPAGNON, 2007, p.135).
“A questão do sujeito é uma questão aberta”, afirma Possenti (2009). Pretendemos
que nossa contribuição a esse campo inclua-se nessa abertura que aponta não para a limitação
do campo, mas, ao contrário, para um espaço em que podem ser incluídas várias vozes que
desejam somar a este estudo.
A ASCD (PEDROSA, 2011; 2012a -d), com base na Sociologia para a Mudança
Social (BAJOIT, 2008, 2006), assume que o sujeito se move (ou se constitui) diferentemente,
em múltiplas classificações, a depender de situações e circunstâncias que lhes causam tensões
existenciais. Assim, teríamos alguns tipos de sujeito ligados as suas identidades fragmentadas.
Bajoit entende o sujeito, no campo da Sociologia, como a capacidade do indivíduo de
atuar sobre si mesmo a fim de construir sua identidade pessoal; é “a capacidade do indivíduo
de questionar suas tensões existenciais” (BAJOIT, 2008, p. 162). Essas tensões interpelam o
sujeito com a finalidade de desenvolver um trabalho de gestão de si que o orienta para a
construção do “eu”, em um processo de eleição do que lhe convém na atual situação a fim de
(re)modelar sua imagem, confirmando ou modificando sua identidade.
Para Bajoit, a identidade pessoal é, num processo provisório e evolutivo, resultante de
um trabalho gestacional de si, também chamado de “trabalho do sujeito”, “trabalho de
construção identitária" ou ainda “autogestão relacional”. Esse processo corresponde a um
trabalho incessante do ser humano sobre si mesmo para (re)construir sua identidade.
Quando o indivíduo trabalha para (re)construir sua identidade, ele busca,
principalmente, alcançar três fins, ou “bens” (BAJOIT, 2006, p. 174, 175): a realização
pessoal, o reconhecimento social e a consonância existencial. Para atingir a realização
pessoal, o indivíduo procura atender a sua autorrealização, os compromissos que assume (ou
assumiu) consigo mesmo e que sempre desejou. Quando o indivíduo prioriza esse bem,
dizemos que ele está construindo identidades dentro de uma esfera identitária desejada
(EID). A fim de atender o reconhecimento social, o indivíduo busca realizar o que ele pensa
que a sociedade (os outros) espera dele. É a leitura que ele faz das expectativas dos outros: “o
que esperam que eu faça ou que eu seja”. Se o indivíduo prioriza atingir esse objetivo,
afirmamos que ele está construindo identidades dentro de uma esfera identitária atribuída
(EIA). Para alcançar a consonância existencial, o indivíduo busca conciliar o que deseja com
16
o que julga que os outros esperam dele. Alcançar essa consonância existencial é o resultado
da conciliação, pelo indivíduo, de realização pessoal e reconhecimento social. Quando o
indivíduo investe em alcançar esta conciliação, falamos que ele está construindo suas
identidades dentro de uma esfera identitária comprometida (EIC).
Justificamos a nomeação de “esfera identitária” (desejada, atribuída e comprometida)
e não identidade desejada, identidade atribuída e identidade comprometida, assim como o faz
Bajoit (2008, 2006, 2009, 2012), com o fato de aceitarmos que essas “identidades”, na
verdade, representam grandes áreas identitárias que conteriam várias identidades que o autor
entende como “zonas de identidade” (BAJOIT, 2009, p. 13). O trabalho ou a capacidade de
(re)construção identitária são constantes, sempre em numa eterna busca em conformar esses
três objetivos (ou bens). A essa capacidade de o indivíduo atuar sobre si mesmo com o
objetivo de (re)construir sua identidade pessoal, denominamos sujeito (BAJOIT, 2008).
De acordo com a esfera identitária pessoal (atribuída, comprometida, desejada)8,
construída nessa gestão do sujeito, este pode ter diversas classificações, conforme
representados no Quadro 2.
ESFERA IDENTITÁRIA
ATRIBUÍDA (EIA)
ESFERA IDENTITÁRIA
COMPROMETIDA (EIC)
ESFERA IDENTITÁRIA
DESEJADA (EID)
Sujeito conformista Sujeito consequente Sujeito altruísta
Sujeito adaptador Sujeito pragmático Sujeito estrategista
Sujeito rebelde Sujeito inovador Sujeito autêntico
Quadro 2 - O sujeito e o trabalho gestacional de si (com base em BAJOIT, 2008, p. 190)
O Quadro 2 mostra que o sujeito não é único. Sua fragmentação depende da gestão
relacional de si que o sujeito faz, depende da maneira como o indivíduo atualiza e gerencia
suas tensões existenciais. Assim, a essas três esferas identitárias, ligam-se diferentes
posições do sujeito.
Dois processos (recursos psíquicos) definem esse posicionamento do sujeito: a
acomodação e o distanciamento. No processo de acomodação, acomodar-se, adaptar-se ao
8 O autor também enfoca as identidades coletivas, assunto que abordaremos em outro artigo; contudo o leitor
pode ver um resumo dessa temática em ABORDAGEM SOCIOLÓGICA E COMUNICACIONAL DO
DISCURSO (ASCD): contribuição aos estudos das identidades e dos sujeitos, neste site e em
http://www.filologia.org.br.
17
social e a si mesmo é também ser sujeito. Já no de distanciamento, inversamente, há um
trabalho reflexivo do sujeito, ou seja, um trabalho de questionar-se e de objetivar-se, de tomar
distância de si mesmo, de desenvolver sua capacidade de autocrítica e, sobretudo, de “analisar
e interrogar as instituições sobre seus fundamentos, sobre sua legitimidade da dominação
social e cultural que pretendem exercer sobre ele (BAJOIT, 2008, p. 180). Como diz Bajoit, a
acomodação e o distanciamento são necessários para que o indivíduo (re)construa e reforce
sua identidade pessoal.
A EIA diz respeito à leitura ou à interpretação do indivíduo acerca do ponto de vista
que o outro tem ou que espera dele. É como ele apreende o que os outros esperam dele. É uma
leitura que ele faz do social, “o que o mundo espera que eu faça”.
Nesse contexto, quando o sujeito, na gestão relacional de si, gerindo essa esfera,
escolhe que é melhor submeter-se, pois não suporta a denegação de um
reconhecimento social, ou da aprovação de seus pais, dos outros, das instituições, e
prefere ‘acomodar-se’ aos valores tradicionais e seguros (valores religiosos, étnicos,
nacionais, familiares, etc), temos um sujeito conformista (ou sobreconformista);
convence-se de que o que é esperado dele não é legítimo, ele distancia-se e prefere
uma desaprovação social, opondo-se às expectativas dos outros, temos um sujeito
rebelde;
convence-se de que é melhor se situar no meio termo atender às expectativas das
instituições, dos pais, etc e também ao que ele deseja para si mesmo, temos um
sujeito adaptador.
A EID liga-se, como já afirmado, à busca de realização pessoal. Atende ao projeto
identitário do indivíduo, o que ele sempre desejou ser ou fazer de sua vida (seja com ou sem
aprovação do outro). Esse tipo articula-se também com o que o sujeito já conseguiu realizar
de seus projetos. Assim, quando o sujeito, gerindo essa esfera
ambiciona viver em conformidade com seus ideais, desejos e projetos; define atingir
o “que é” e aonde quer chegar como sendo prioridade em suas decisões e quer ser
verdadeiro, temos um sujeito autêntico;
resolve negar a si mesmo em prol do outro, então temos um sujeito altruísta;
tenta conciliar as duas situações acima descritas, ou seja, concilia a autenticidade e o
altruísmo, temos um sujeito estrategista.
A EIC representa o trabalho real do indivíduo em (re)construir sua identidade pessoal.
Conseguir a consonância existencial não é “trabalho” fácil, pois o indivíduo precisa gerenciar
as tensões existenciais que se situam entre a realização pessoal, atendendo a sua EID, e o
18
reconhecimento social, atendendo a sua EIA. Então, no caso, a EIC é, na verdade, “o conjunto
de compromissos identitários que assumiu para consigo próprio e que se encontra
concretamente a realizar nas suas condutas, através das suas relações com os outros, das suas
lógicas de acção; é o que ele faz da sua vida” (BAJOIT, 2006, p. 181). Desse modo, quando o
sujeito, gerindo sua identidade comprometida (IC),
compromete-se com suas escolhas e assume as consequências (mesmo extremas) até o
fim do que elegeu, temos um sujeito consequente;
assume uma atitude mais flexível. Quando ele é mais adaptável, mais pronto para
autocrítica e disposto a renovar seus projetos, mesmo que para isto precise voltar ao
ponto zero, então estamos diante de um sujeito inovador;
combina estes dois extremos, isto é, ele adapta-se, mas também permanece fiel as suas
decisões anteriores, orientando-se pelas circunstâncias, pelas oportunidades ou mesmo
nos obstáculos, ele pouco a pouco modifica seus fins e seus meios, tenta viver a vida
que tem e a que deseja (vivem, nas horas vagas, uma “segunda a vida”, em que
cultivam sua vocação), temos um sujeito pragmático.
Ressaltamos que o trabalho sobre si (do sujeito) implica necessariamente um trabalho
sobre o outro em um constante vai e vem de relações sociais. O resultado dessa gestão sobre
o outro conduz o sujeito a reformular o trabalho sobre si (BAJOIT, 2008), daí ser coerente
essa classificação dos vários tipos de sujeito. O autor ainda acrescenta que “os indivíduos são
capazes de mudar as lógicas e saltar de uma a outra, segundo as circunstâncias e os campos
relacionais nos quais atuam” (BAJOIT, 2008, p. 200-201).
Diante do que conseguimos expor como recorte do que Bajoit desenvolve em sua
teoria, que nós assumimos para ASCD, podemos ratificar que o sujeito assumido pela ASCD
é resultado de sua prática de relações sociais, e não uma essência do homem e, acima de tudo,
em nosso estudo, ele se constrói discursivamente. Nas palavras de Bajoit (2012, p. 15):
“vendo-se pela ótica da teoria da identidade individual, ser sujeito de si mesmo é (re)construir
para si um núcleo identitário tão grande como possível for (fazer, portanto, coincidir as três
esferas identitárias)”.
4. POSICIONAMENTOS DA ASCD COM BASE NA RECONTEXTUALIZAÇÃO DOS
POSTULADOS DA SOCIOLOGIA
Em relação à ASCD, assumimos alguns conceitos do campo estudado, apresentando,
aos leitores que se identificarem com nossa abordagem, algumas propostas de análises que
19
desenvolvemos (e desenvolveremos) em nossas pesquisas de iniciação científica, mestrado e
doutorado.
Informamos que elevamos alguns conceitos a categorias, termo com um amplo campo
de significados e aplicações. De um modo geral, classificam-se as categorias em:
metodológicas, de conteúdo e analítica. As categorias metodológicas dão suporte à relação
entre pesquisador-objeto e se liga ao “critério de seleção e organização da teoria e dos fatos a
serem investigados, a partir, da finalidade da pesquisa, fornecendo-lhe o princípio de
sistematização que vai lhe conferir sentido, cientificidade, rigor, importância”
(CASAGRANDE, et al, 2005). As categorias de conteúdo, que são responsáveis pela
mediação entre o universal e o concreto e se ligam ao objeto e á finalidade da pesquisa
(KUENZER apud CASAGRANDE; ALBUQUERQUE; TAFFAREL, 2005). As categorias
analíticas, que na perspectiva da ACD, são “formas e significados textuais associados a
maneiras particulares de representar, de (inter)agir e de identificar(-se) em práticas sociais
situadas”, e ainda, “por meio delas, podemos analisar textos buscando mapear conexões entre
o discursivo e o não discursivo, tendo em vista seus efeitos sociais” (RAMALHO;
RESENDE, 2011, p. 11-12).
A ASCD assume alguns conceitos e algumas categorias como essenciais para uma
pesquisa crítica do discurso em sua transdisciplinaridade; portanto, em suas análises,
embasada na Sociologia (Aplicada) para a Mudança Social, nos moldes expostos
resumidamente neste artigo, apresenta algumas sugestões descritas no Quadro 3.
SUGESTÕES ANALÍTICAS DA ASCD COM BASE NA SOCIAOLOGIA (APLICADA)
PARA A MUDANÇA SOCIAL
1. Identificar os tipos de mudanças sociais e culturais que o objeto de investigação sofreu
historicamente e adotar os quadros expostos com base em Bajoit e Saco:
A) modalidades de mudança social e cultural:
(a) mutação: evolução e reforma
(b) ruptura: revolta e a revolução
B) graus de mudanças
(a) microssociológicas
(b) macrossociológicas
C) mudanças a partir de movimentos “de dentro para\ de fora para”
(a)endógenas
(b)exógenas
D - mudanças a partir de movimentos ‘de cima para\ de baixo para’
20
(a) descendentes: autogestionário, exo-emergente
(b)ascendentes: endodirigido, exodirigido
2.Estabelecer diferenças entre as forças de coerção:
A) poder-domínio: poder exercido por classes de gestores
B) poder-Estado: poder exercido pela classe representada dentro de um regime político
C) poder-autoridade: poder exercido por quem controla a socialização dos membros de uma
coletividade
D) poder-influência: poder exercido por quem estabelecem, negociam e garantem os compromissos
em uma sociedade
E) poder-hegemonia: poder exercido nas relações com coletividade externa
3.Investir em estudos identitários, articulando as identidades sociais e individuais:
A) classificação das identidades coletivas do modelo cultural identitário (BAJOIT, 2006, 2008)
B)classificação das identidades pessoais nas esferas: atribuída, desejada e comprometida
4.Classificar os sujeitos nas esferas identitárias pessoais:
A) atribuída: sujeito conformista, sujeito adaptador, sujeito rebelde
B) desejada: sujeito autêntico, sujeito estrategista, sujeito altruísta
C) comprometida: sujeito consequente, sujeito pragmático, sujeito inovador
Quadro 3 – sugestões da ASCD para analisar as mudanças socioculturais
5. (IN)CONCLUSÃO
Articular os códigos sociais e discursivos não é tarefa fácil para os analistas do
discurso, considerando que o exercício da linguagem é, sobretudo, dialógico. Em nossa
proposta, esse grande diálogo contemplará as mais diversas disciplinas, dependendo do objeto
a ser analisado e dos caminhos de análise que se pretende construir.
Convocamos também os leitores a fazerem parte deste diálogo que se ambiciona
desenvolver e concretizar via pesquisas acadêmicas com o suporte teórico que estamos
propondo, pois a ciência, além de continuidade, precisa, sobretudo, de criação.
Da nossa parte, pesquisas realizadas em diversos níveis da graduação ao doutorado,
estão testando os conceitos e as categorias defendidos aqui e, com certeza, acrescentarão
outros conceitos e outras categorias. Também propomos essa abordagem em congressos (a
exemplo do XVI Congresso Brasileiro de Linguística e Filologia, agosto de 2012, UERJ,
http://www.filologia.org.br/), mesas-redondas, minicursos, oficinas e comunicações
individuais com publicações no site do evento.
21
8. REFERÊNCIAS
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cedido pelo autor.
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