LIIPORTOFACULDADE DE DESPORTO() UNIVERSIDADE DO PORTO
A representatividade feminina noscargos de direcção do desporto
Diana Soraia Torres de Sousa
Podo, 2009
FACULDADE DE DESPORTOUNIVECSIPA E DC PORTO
~SDEDCC 1 JTACÃO
UIPORTOFACULDADE DE DESPORTOUNIVERSIDADE DO PORTO
A representatividade feminina nos cargosde direcção do desporto
FACULDADEDE DESPORTO Monografia realizada no âmbito da disciplina deSeminário do 5° ano da licenciatura em Desporto e
SERVIÇOS DE Educação Física, na área de Recreação e TemposDOCUM TAaAO Livres, da Faculdade de Desporto da Universidade doN° .~\
DATA • .,~~:i~p’Io Porto ~PORTOO PACULDmEOtOUP0RTO
UNMflSOAOF DO P0
1111 II~I~ Nu U~I~ IU~ INU Vi UI~~ø19852!~
Orientadora: Prof.a Doutora Paula SilvaDiana Soraia Torres de Sousa
Porto, 2009 FACULDADE DE DESPORTOCONSELHO PEDAGÓGICO
~~A5SlFICAÇÃO FINAL$~_VALORES
O Presidente do Conselho Pedagógico
FACULDADE DE DESPORTODA [JNIVERS~DÀD~ CD ?D~7O
Dedicatória
I
Dedicatória
“Quando penso que tudo sei,
Morro asfixiado pela ignorância.”
(Simão Sousa)
Quando se inicia uma nova fase na vida de qualquer pessoa, muitas são
as expectativas, as vontades, os sonhos, e mesmo, os receios e incertezas.
Foram estes sentimentos/sensações que abarcaram o meu pensamento, já lá
vão 7 anos, aquando do ingresso – atribulado – na Faculdade.
Todo o percurso que realizei até hoje foi marcado por uma luta só e
constante pela realização pessoal e profissional, quer no seio da comunidade
académica, quer no seio da sociedade onde nos inserimos, a qual, cada vez
mais, nos coloca perante dificuldades que nos fazem crescer a todos os níveis.
A minha luta foi enorme, mas foi essa mesma luta que me fez “sobrevoar o
céu” em busca da minha felicidade.
Tudo o que vivi até hoje, tudo por que passei, todo o empenho, coragem e
persistência, enfim, toda a minha luta, têm um motivo muito único e particular,
que me fez olhar a vida como uma dádiva que nos pode ser retirada a qualquer
momento, pelo que devemos olhá-la e abraçá-la com todas as nossas forças.
Neste momento de “despedida” não poderia ficar de parte (apesar de
“oculto”) quem esteve na origem de quem sou hoje e de quem poderei ser no
futuro… Foram eles que iniciaram esta caminhada, foram eles que lutaram
“junto” comigo nos momentos em que a angústia apertava todo o meu ser…
Foram eles que tornaram o meu sonho possível e me transmitiram todos os
valores necessários para a minha constante busca de crescimento…
Este trabalho final, tudo o que sou e serei será para sempre a si
dedicado…
Obrigada por serem quem foram, obrigada por estarem “a meu lado”,
obrigada por me terem deixado os ensinamentos necessários a todas as
conquistas… Obrigada por tudo!
Aos meus pais… (Carolina Sousa e Simão Sousa)
II
Agradecimentos
III
Agradecimentos
“As coisas vulgares que há na vida não deixam saudade, Só as lembranças que doem ou fazem sorrir.
Há gente que fica na história da história da gente e outras de quem nem o nome lembramos ouvir (…)”.
Mariza, “Chuva” (Fado em mim)
Porque “há gente que fica na história da história da gente”, este é o
momento certo para os lembrar e vincular a importância que detiveram ao
longo de todo um percurso. Sem a sua ajuda, cooperação e colaboração (a
todos os níveis), muitos sonhos ficariam por alcançar. Por tudo isto, e porque é
implícito à minha própria personalidade o reconhecimento a todos os que
comigo partilham as vicissitudes de uma vida atribulada, torna-se inevitável que
fique registada e partilhada com todos uma lembrança em tom de
agradecimento por todos os esforços levados a cabo com a finalidade da
consecução deste meu sonho…
À Prof. Drª. Paula Silva, minha Orientadora, por todo o esforço, paciência,
preocupação, ajuda, colaboração e encorajamento que demonstrou desde
sempre para a consecução deste estudo – as palavras são meros símbolos,
insuficientes para demonstrar todo o reconhecimento que lhe tenho de atribuir.
Ao Quirino, pela compreensão que teve ao longo de todo o meu percurso
académico pelo tempo que necessitei para alcançar o meu objectivo, pela
preocupação constante, pelo orgulho demonstrado pelos meus sucessos e,
acima de tudo, por me acompanhar em todas as fases da minha própria vida.
Aos elementos mais marcantes da minha família, sem os quais nunca
havia conseguido atingir esta meta: os meus avós, Nadir e David, os meus tios
e padrinhos, Paula e Luís, a minha tia Conceição e as minhas primas, Ana e
Beatriz – sem mais palavras, agradeço-vos… por tudo.
Ao Prof. José António Andrade, meu Orientador de Estágio Pedagógico,
pela preocupação demonstrada e pela ajuda incessante no meu sucesso
académico.
Agradecimentos
IV
Aos meus colegas de curso por toda a ajuda preciosa que sempre me
deram, não podendo deixar de salientar a Joana Ribeiro, a Inês Gonçalves e o
Bruno Lourenço, verdadeiros amigos.
À minha equipa de trabalho do VivaFit Damião de Góis pela
disponibilidade demonstrada para me possibilitarem algum tempo extra que
necessitei em algumas etapas.
A todos os que comigo percorreram este caminho, cujos nomes não
mencionei, mas que não poderão ficar esquecidos.
Por fim, e sobretudo, aos meus pais por todos os ensinamentos que
tiveram a oportunidade de me legar e por ser quem sou. Foi neles que todo o
sonho começou…
Índice geral
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto V
Índice geral
Dedicatória……………………………………………………………………….. I
Agradecimentos...……………………………………………………………….. III
Índice de Figuras………………………………………………………………... VII
Índice de Quadros………………………………………………………………. IX
Resumo…………………………………………………………………………... XI
Abstract…………………………………………………………………………... XIII
Resume…………………………………………………………………………... XV
Lista de Abreviaturas…………………………………………………………… XVII
I. Introdução……………………………………………………………………… 1
II. Revisão Bibliográfica…………………………………………………………
2.1. A presença feminina no Desporto como fenómeno social……….. 5
2.2. Desporto e Género……………………………………………………. 7
2.3. A presença das mulheres na História do Desporto……………….. 9
2.4. As mulheres nos Cargos Directivos do Desporto………………….. 11
2.5. Legislações/Recomendações para o aumento da
representatividade feminina em cargos directivos do desporto……….. 18
III. Metodologia…………………………………………………………………..
3.1. Caracterização da amostra…………………………………………... 27
3.2. Procedimentos………………………………………………………… 27
3.3. Análise dos dados…………………………………………………….. 27
IV. Apresentação e Discussão dos Resultados……………………………… 29
V. Conclusão…………………………………………………………………… 41
VI. Bibliografia…………………………………………………………………… 45
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto VI
Índice de Figuras
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto VII
Índice de Figuras
Figura 1. Percentagem de mulheres em cargos sociais nas Associações
Desportivas........................................................................................................33
Figura 2. Percentagem da representatividade de mulheres nos diversos órgãos
sociais................................................................................................................36
Figura 3. Representatividade feminina nos diferentes cargos sociais..............37
Figura 4. Número de mulheres presentes na Direcção das Associações
Desportivas e respectivos cargos......................................................................38
Figura 5. Número de mulheres presentes na Assembleia Geral das
Associações Desportivas e respectivos cargos.................................................38
Figura 6. Número de mulheres presentes no Conselho Jurisdicional das
Associações Desportivas e respectivos cargos.................................................39
Figura 7. Número de mulheres presentes no Conselho Técnico das
Associações Desportivas e respectivos cargos.................................................39
Figura 8. Número de mulheres presentes no Conselho de Arbitragem das
Associações Desportivas e respectivos cargos.................................................40
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto VIII
Índice de Quadros
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto IX
Índice de Quadros
Quadro 1. Número de cargos sociais das Associações Desportivas da zona do
Grande Porto nos anos 2008 e 2009.................................................................29
Quadro 2. Percentagem de homens e mulheres nos cargos sociais das
Associações Desportivas da zona do Grande Porto nos anos 2008 e 2009....30
Quadro 3. Número de elementos constituintes das Associações Desportivas
nos anos 2008 e 2009.......................................................................................30
Quadro 4. Número de mulheres nos diversos órgãos sociais das Associações
Desportivas.......................................................................................................35
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto X
Resumo
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto XI
Resumo
As mulheres, enquanto herdeiras de todos os estereótipos existentes na
nossa sociedade (Reis, 1995), continuam, ainda nos nossos dias, a sofrer
todos os condicionalismos existentes relativamente ao sucesso e progressão
nas suas carreiras profissionais ao nível do desporto.
Se nos últimos 25 anos as mulheres conseguiram alcançar melhorias no
que diz respeito à sua participação enquanto atletas, já relativamente à sua
participação no que alguns autores/as denominam de “grande desafio das
mulheres dentro do cenário desportivo” dos tempos modernos (Mourão &
Gomes, 2004), i.e., em funções nos cargos de direcção das instituições
desportivas, todas as dificuldades e preconceitos de género impostos pela
sociedade voltam a verificar-se.
Certo é que são várias as medidas de âmbito político que visam
aumentar a presença feminina nos órgãos sociais das diversas esferas
desportivas. Um exemplo é-nos dado pelo Comité Olímpico Internacional (COI),
o qual recomendou que até ao ano 2000 existissem, pelo menos, 10% de
mulheres nos cargos de direcção de cada Comité Olímpico Nacional (CON) e,
até ao ano 2005, pelo menos 20% (Pfister, 2003; Carvalho & Cruz, 2007). No
entanto, como podemos constatar através de alguns (poucos) estudos
efectuados, estas metas estão longe de serem atingidas.
O presente estudo permitiu verificar que ao nível Associações
Desportivas Nacionais, mais precisamente, da área do Grande Porto, as metas
estabelecidas pelo COI também não foram cumpridas. Assim, no ano 2009
encontramos apenas 10% dos cargos sociais das Associações Desportivas
ocupados por mulheres. Podemos também afirmar que as modalidades
desportivas mais fortemente orientadas no masculino são as que possuem
menos mulheres na sua esfera organizacional, como é o caso da Associação
de Futebol do Porto, onde apenas estão presentes 4 mulheres num total de 88
elementos. Pela mesma ordem de ideias, e desta feita, no que diz respeito às
modalidades ditas mais femininas, sendo de salientar os casos da Ginástica e
Resumo
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto XII
do Voleibol, são as modalidades onde encontramos mais mulheres no seio dos
seus órgãos sociais, respectivamente, 42,9% e 36,8%.
Finalmente, e particularizando esses mesmos cargos sociais, os
preconceitos sociais continuam a existir (Carvalho e Cruz, 2007), uma vez que
os homens ocupam, por norma, os cargos superiores de autoridade e as
mulheres as posições inferiores (Hargreaves, 2004; Shaw & Hoeber, 2003). De
facto, o nosso estudo permitiu-nos observar que o cargo mais ocupado por
essas, poucas, mulheres presentes nas Associações Desportivas é o de Vogal,
sendo que encontrámos apenas uma Presidente, desta feita, do Conselho de
Arbitragem da Associação de Patinagem do Porto.
PALAVARAS-CHAVE : mulheres, dirigente desportivo, género, órgãos sociais,
Associações Desportivas
Abstract
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto XIII
Abstract
Women as heirs of all the existing stereotypes in our society (Reis, 1995),
still, even today, to suffer all the existing constraints on the success and
progress in their careers in sports.
If in the past 25 years, women have achieved great improvements to its
participation as athletes, for their participation in what some authors call the
"great challenge for women in the sports scenario" of modern times (Mourão &
Gomes, 2004), i.e., their roles in leadership positions in sports bodies, all the
difficulties and prejudices imposed by society again occur.
It’s certain that all legislative policies have been pursuing efforts to
increase women's presence in the governing bodies of various sports
organization spheres. A crass example of this idea is given to us by the
International Olympic Committee (IOC), which recommended that by 2000 there
were at least 10% of women in leadership positions of each one of the National
Olympic Committees (NOC) and by the year 2005 at least 20% (Pfister, 2003,
Carvalho & Cruz, 2007). However, as we tried some (few) studies, these goals
are far from being achieved.
Similarly, and referring to the case of National Sports Associations, more
precisely, the area of Porto, the goals set by the IOC were not met. In the year
2009 we found only 10% of company positions of Sports Associations held by
women.
On the other hand, we can also say that the sports more strongly
oriented to males are those with fewer women in the organizational sphere,
such as the Football Association of Oporto, where only 4 women are present in
a total of 88 elements. By the same token, and this time regarding the sports
most related to women, emphasizing the case of Gymnastics and Volleyball,
are the terms that we find more women inside their bodies, respectively, 42.9 %
and 36.8%.
Finally, selecting only those same social positions, social prejudices still
exist (Carvalho & Cruz, 2007), because men occupy, as a rule, the most
authority rules and women the lower positions (Hargreaves, 2004, Shaw &
Abstract
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto XIV
Hoeber, 2003). In fact, our study allowed us to observe that the position
occupied by most of these, few, women present at the Sports Associations are
as Vowel, and we also found only one President, this time, in the Arbitration
Board Skating Association of Oporto.
KEY-WORDS: women, sports official, gender, governing bodies, Sports
Associations
Resumé
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto XV
Resumé
Les femmes, comme les héritiers de tous les stéréotypes qui existent
dans notre société (Reis, 1995), encore aujourd'hui, souffrent toutes les
contraintes existantes sur le succès et le progrès dans leur carrière au niveau
du sport.
Si dans les 25 dernières années, les femmes ont obtenu des
améliorations à l'égard de sa participation à titre d'athlètes, pour leur
participation à ce que certains auteurs appellent le «grand défi pour les femmes
dans le scénario du sport» des temps modernes (Mourão & Gomes, 2004),
c'est à dire, leurs rôles dans des positions de leadership dans les instances
sportives, toutes les difficultés et les préjugés imposés par la société de se
reproduisent.
Est certain que toutes les politiques législatives ont été la poursuite des
efforts pour accroître la présence des femmes dans les organes directeurs des
diverses sphères d’organisation du sports. Un exemple grossier de cette idée
nous est donnée par le Comité Olympique International (COI), qui a
recommandé que d'ici 2000, on dénombrait au moins 10% de femmes aux
postes de direction de chacun des Comités Olympiques Nationales (CON) et
d'ici l'an 2005, au moins 20% (Pfister, 2003, Carvalho et Cruz, 2007).
Cependant, comme nous avons essayé quelques (rares) études, ces objectifs
sont loin d'être atteints.
De même, et se référant au cas des associations sportives nationales,
plus précisément, de la région du Porto, les objectifs fixés par le COI n'étaient
pas remplies. À l’année 2009 on se trouve seulement 10% des positions de la
société des associations sportives, tenue par des femmes.
D'autre part, nous pouvons également dire que les sports les plus
fortement orientées dans le sexe masculin sont ceux qui ont moins de femmes
dans la sphère de son organisation, comme, par exemple, l'Association de
Football du Porto, où seulement 4 femmes sont présentes dans un total de 88
éléments. Dans la même ordre d'idées, et cette fois, concernant les
arrangements dit plus de femmes, en insistant sur le cas de gymnastique et de
Resumé
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto XVI
volley-ball, sont les conditions que l'on trouve davantage de femmes dans leur
corps, respectivement, 42,9 % et 36,8%.
Enfin, en sélectionnant uniquement ces mêmes positions sociales, les
préjugés sociaux existent encore (Carvalho et Cruz, 2007), parce que les
hommes occupent, en règle générale, les premières positions d'autorité et les
femmes des postes inférieurs (Hargreaves, 2004, Shaw & Hoeber, 2003). En
fait, notre étude nous a permis d'observer que la position occupée par plus de
ceux-ci, peu, de femmes présentes à des associations sportives et de la
Voyelle, et nous avons trouvé un seul Président, cette fois, dans le Conseil
d'Arbitrage de l'Association de Patinage du Porto.
MOTS-CLÉS: les femmes, sportives officielles, sexe, les organes directeurs,
les associations sportives
Lista de abreviaturas
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto XVII
Lista de abreviaturas
AAP Associação de Andebol do Porto
AAtP Associação de Atletismo do Porto
ABP Associação de Basquetebol do Porto
ACP Associação de Ciclismo do Porto
AFP Associação de Futebol do Porto
AGN Associação de Ginástica do Norte
ANNP Associação de Natação do Norte de Portugal
APMD Associação Portuguesa Mulheres e Desporto
APN Associação de Paraquedistas do Norte
APP Associação de Patinagem do Porto
ARNPD Associação Regional do Norte de Pesca Desportiva
ATP Associação de Ténis do Porto
ATMP Associação de Ténis de Mesa do Porto
ARVN Associação Regional de Vela do Norte
AVP Associação de Voleibol do Porto
CE Conselho da Europa
COI Comité Olímpico Internacional
CON Comité Olímpico Nacional
COP Comité Olímpico de Portugal
CSW Comissão do Estatuto das Mulheres
EWS Grupo Europeu Mulheres e Desporto
FI Federações Internacionais
PE Parlamento Europeu
UE União Europeia
UNESCO
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e
a Cultura
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto XVIII
I - Introdução
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 1
I. Introdução
O Desporto acompanhou desde sempre as evoluções sociais que se
registaram ao longo da História, assumindo-se como um herdeiro de todos os
estereótipos sociais (Reis, 1995), sendo que o processo de inclusão das
mulheres no universo desportivo deve ser entendido no cruzamento de uma
totalidade de elementos culturais e sociais.
Nos últimos 25 anos, as mulheres conseguiram uma forte afirmação no
desporto, no entanto, e segundo Simões (2004), as mulheres terão de
continuar a lutar para ultrapassar todos os preconceitos existentes e afirmar a
sua posição em todos os cargos desportivos, o que, por norma, se apresenta
muito mais difícil do que para os homens.
Actualmente, as relações entre género e profissionalização permanecem
pouco estudadas (Aitchison, 2005), no entanto, é considerado “o novo grande
desafio das mulheres dentro do cenário desportivo” (Mourão & Gomes, 2004,
pp.307). Assim, nas funções das mulheres nos cargos directivos do desporto,
entendendo-se como tal as funções ocupadas no seio dos órgãos sociais de
toda e qualquer organização desportiva, todas as dificuldades e preconceitos
encontrados na altura da sua entrada para o fenómeno desportivo voltam a
verificar-se. De facto, apesar do aumento significativo da participação das
mulheres no que diz respeito à sua actuação como atleta, a sua inserção nos
órgãos de gestão, direcção e políticos é ainda muito restrita (Goellner, 2004).
Carvalho e Cruz (2007, pp. 81) apoiam também estas ideias, afirmando que “as
mulheres estão sub-representadas nos lugares de direcção, treino, ou gestão,
sobretudo ao mais alto nível”.
Apesar do aumento verificado nos últimos 30 anos no que diz respeito
ao número de mulheres em postos de direcção desportiva, os homens
continuam a dominar, relevando um nível muito acentuado de desigualdades
de género na organização do desporto (Shaw & Hoeber, 2003; Carli & Eagly,
2001).
I - Introdução
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 2
A própria sociedade não questiona estes aspectos, na maioria das vezes,
mantendo-os como que encobertos pela superioridade masculina observada
em todas as instâncias do nosso dia-a-dia; daqui a relevância dos movimentos
feministas, numa sociedade que parece perceber, mas querer sempre
subvalorizar os potenciais apresentados pelas mulheres. Goellner (2004)
intensifica esta ideia no que diz respeito ao Desporto. Assim, a oposição
verificada entre o masculino e o feminino, fixa na nossa sociedade, produz
representações de género que permitem poucas alterações da visão feminina,
num território repleto de representações viris, não só no treino, mas também, e
essencialmente, na gestão desportiva.
Pelo exposto, percebemos que as mulheres continuam a ser
merecedoras da nossa atenção, pois nem sempre possuem condições de
acesso e participação iguais às dos homens (Goellner, s.d.) em todas as áreas
de intervenção do desporto, nomeadamente nos cargos de direcção,
administração e gestão. De facto, a sua participação nos sectores de
organização e de direcção desportivas como, por exemplo, no Comité Olímpico
de Portugal (COP), nas Federações e, como iremos ver, nas Associações
Desportivas apresentam ainda números muito inferiores aos dos homens,
mesmo após a indicação do Comité Olímpico Internacional (COI) de que cada
Comité Olímpico Nacional (COM) deveria promover estratégias de inserção das
mulheres nos seus cargos sociais de forma a aproximar-se dos 10% de
mulheres até ao ano 2000 e dos 20% até ao ano 2005 (Pfister, 2003; Carvalho
& Cruz, 2007). O esforço demonstrado pelo COI é igualmente revelado por
todas as instâncias políticas e organizativas da sociedade, bem como pelas
comissões que actualmente compõem a sua estrutura, com especial referência
para a comissão Mulheres e Desporto (Gomes, 2004). Mourão e Gomes (2004)
apoiam o exposto pelo COI, afirmando que os principais procedimentos de
acção afirmativa da participação feminina são os que visam o aumento
estatístico de mulheres recrutadas em sectores masculinizados, que implicam o
desmonte de estereótipos de género e a quebra da distribuição de papéis
profissionais diferenciados por género. No entanto, Hargreaves (1994) salienta
que a intervenção do Estado tem pouco poder para serem alterados os
I - Introdução
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 3
padrões estruturais e culturais que estão na origem de algumas formas de
discriminação existentes no desporto.
Em várias Conferências Internacionais são realizados debates
específicos sobre esta problemática; no entanto, as soluções apresentadas
restringem-se à elaboração e implementação de políticas capazes de incentivar,
promover e fortalecer a participação feminina (Goellner, s.d.), não percebendo,
ou não querendo perceber, que o grande problema se centra na cultura da
nossa sociedade, que tende sempre a subvalorizar as capacidades das
mulheres. De facto, um ponto essencial será perceber se as medidas
legislativas serão capazes de promover alteração do pensamento da nossa
sociedade ou se, por outro lado, serão importantes outras formas de
reconhecimento do potencial feminino, uma vez que a evolução das
sociedades deve ser determinada em primeiro lugar pela cultura, e em segundo
pelos modos de produção ou regimes políticos (Gomes, 2004).
Reis (1995) aponta uma resposta para este problema, afirmando que se
vivemos num tipo de sociedade onde a inteligência é deveras valorizada e se,
segundo Hasse (1991), o sucesso das mulheres no interior das diversas
esferas organizacionais se deve essencialmente a este factor, não haveria
motivo que não a cultura, e os valores sociais transmitidos por essa mesma
cultura, que justificasse a quase inexistência de mulheres nos cargos directivos
do Desporto, sendo portanto necessária uma alteração dos valores vigentes na
nossa sociedade.
Relativamente aos desportos que estão inscritos na cultura e memória
colectiva dos homens, isto é, os desportos que têm uma forte identidade
masculina são os que se opõem mais vivamente à incursão das mulheres, uma
vez que o domínio masculino continua ainda a ser um dado adquirido na
organização social, pelo que as estruturas de poder da maior parte das
modalidades desportivas são fortemente orientadas a favor dos homens
(Hargreaves, 1994).
Está vinculado na nossa sociedade a ideia de que os homens, por
norma, ocupam os cargos superiores de autoridade e as mulheres os de
posição inferior (Hargreaves, 1994; Shaw & Hoeber, 2003). Salientando um
I - Introdução
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 4
estudo efectuado por Almeida, verificou-se uma fraca participação feminina ao
nível do dirigismo desportivo, a qual rondava os 10% (Almeida, 2000). Por
outro lado, e segundo a mesma autora, à medida que se sobe na hierarquia
dos órgãos, há uma diminuição da percentagem de mulheres em cargos de
dirigentes.
Relativamente aos (poucos) cargos ocupados por mulheres, Martins e
Teixeira (2005) afirmam que homens e mulheres diferem quanto à sua
participação política e social, tanto em termos quantitativos – percentagem de
mulheres existentes –, como qualitativos – tipo de cargos ocupados.
Em Portugal, o papel das mulheres enquanto dirigentes desportivos é
realçado pela Declaração de Compromisso “O Desporto – uma oportunidade
para a igualdade profissional entre homens e mulheres”, de 2006, onde “o
desporto é uma das áreas onde a desigualdade é acentuada, designadamente
quando se observam os indicadores disponíveis sobre a prática desportiva de
homens e mulheres, mas também no que se refere às profissões do desporto e
aos cargos dirigentes em todas as organizações desportivas ou ligadas ao
desporto” (Carvalho & Cruz, 2007, pp.98).
O objectivo do presente estudo é perceber se tem havido alguma
melhoria no que diz respeito à representação das mulheres no seio das
instituições desportivas, i.e., se as mulheres já começam a estar mais
representadas ao nível do dirigismo desportivo, bem como compreender as
suas verdadeiras funções dentro dos órgãos sociais das Associações
Desportivas Nacionais.
Para tal, iremos recorrer aos dados recolhidos nos sites das
Associações Desportivas, no sentido de tomarmos conhecimentos da
constituição dos seus órgãos sociais, partindo do pressuposto que, pesar de
algumas mulheres ocuparem posições prestigiadas, são ainda uma pequena
minoria (Neves, 2005; Shaw & Hoeber, 2003).
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 5
II. Revisão Bibliográfica
2.1. A presença feminina no Desporto como fenómeno social
O Desporto, como fenómeno social de grande abrangência e visibilidade
(Goellner, s.d.), acompanhou desde sempre as evoluções sociais que se
registaram ao longo da História. Desta forma, assume-se como um herdeiro de
todos os estereótipos sociais, afigurando-se limitador à participação da mulher
por ser contrário à sua condição feminina (Reis, 1995;Aitchison, 2005).
Segundo Costa (1992, pp. 101), o Desporto é um “excelente campo de
observação da sociedade”, estando com ele relacionados factos sociais,
através do seu próprio funcionamento simbólico, bem como humanos, quando
observamos a sua íntima relação com o mito, a religião e a cultura.
Desta forma, o processo de inclusão das mulheres no universo
desportivo não pode ser entendido de uma forma simples e homogénea, mas
sim no cruzamento de uma totalidade de elementos culturais e sociais. Certo é
que, nos últimos 25 anos, as mulheres alcançaram uma forte afirmação no
desporto, conseguindo mesmo, segundo Simões (2004), derrubar a
segregação e a discriminação existentes, que defendia a sua exclusão devido à
eterna superioridade masculina. Para o mesmo autor, a mulher terá sempre de
ser uma forte lutadora, ultrapassando todas as dificuldades e preconceitos,
para conseguir conquistar um espaço que é seu por direito, sendo para tal
necessária uma demonstração muito superior do seu mérito do que
propriamente para o sexo oposto.
Muitos autores defendem a ideia de que as práticas desportivas actuais
reflectem ainda a superioridade masculina e a inferioridade feminina visíveis ao
longo do tempo (Bryson, 1994; Lenskij, 1998), apesar da participação das
mulheres no fenómeno desportivo ter aumentado nas últimas décadas
(Hargreaves, 1994). Desta forma, a ideia de que o desporto é o local por
excelência de equidade e de igualdade de oportunidades deve ser posta em
causa (Davisse & Louveau, 1998).
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 6
Apesar de actualmente termos já presentes vários estudos que nos
indicam que há uma enorme diferença entre as características reais da mulher
e aquelas que lhe são atribuídas de uma forma estereotipada pela sociedade
(reflectindo um passado ainda muito recente), a inclusão feminina em alguns
desportos continua longe do esperado (Neves, 2005). Tal como afirma
Hargreaves (1994), tem sido muito difícil ultrapassar as premissas
estabelecidas na nossa sociedade de que as diferenças são fundamentalmente
biológicas e não culturais e que há uma naturalidade na superioridade
masculina em todas as instâncias desportivas.
Na Sociedade do Século XIX estavam patentes as características
morfológicas de ambos os sexos, sendo estas determinantes para a exclusão
das mulheres de algumas funções sociais. Assim, o homem era encarado
como sendo naturalmente agressivo, competitivo e incisivo (Hargreaves, 1990;
Lenskyj, 1998) e a mulher como fundamentalmente emocional, cooperativa e
passiva (Hargreaves, 1994). De formas diversas, muitos autores demonstram a
presença significativa de homens no mundo desportivo, em detrimento da
participação feminina. Senão, vejamos: 1) pelas consecutivas avaliações
negativas realizadas acerca das capacidades femininas (Bryson, 1994); 2) pela
relação estreita entre o masculino e as ideias de domínio, força e competência
física (Light & Kirk, 2000); 3) pela desvirtualização de certas capacidades em
que a mulher se pode evidenciar em relação ao homem, tais como a
flexibilidade, a elegância e o equilíbrio (Lenskij, 1998); 4) pela dificuldade
presente na participação em alguns desportos por norma considerados como
masculinos (Hargreaves, 1994; Davisse & Louveau, 1998), as mulheres têm-se
mostrado sub-representadas no universo desportivo.
Apareceram igualmente alguns factos que propiciaram esta exclusão,
pois, de acordo com as ideias de alguns médicos, impôs-se a teoria de que a
mulher necessitava de muita energia para a procriação (Davisse & Louveau,
1998) vista como a sua função essencial, sendo que não seria, de todo,
aconselhável a prática de actividades físicas, uma vez que estas reduziriam
essa mesma energia (Hargreaves, 1994).
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 7
Assim, ao longo de todo o século XIX, estes ideais acerca da condição
biológica da mulher foram sendo integrados nas atitudes e comportamentos da
própria sociedade (Hargreaves, 1994), tendo as mulheres ficado acomodadas à
sua “inferioridade” (Davisse & Douveau, 1998), remetendo o deporto para o
masculino. Apesar de nos últimos tempos estas ideias já não estarem
expressas, deixaram marcas na Sociedade, sendo que algumas
representações convencionais e estereotipadas de feminilidade fazem ainda
parte de uma estrutura ideológica que limita em muito a participação desportiva
feminina (Hargreaves, 1994).
É certo que não nos podemos desvincular das diferenças físicas
existentes entre homens e mulheres; no entanto, as ideias de “feminilidade” e
“masculinidade” são realidades sociais, que, não sendo vistas à luz da própria
sociologia, a sociedade as tenta relacionar a uma determinação biológica
(Davisse & Louveau, 1998). Segundo Hargreaves (1994), estas diferenças são
explicadas essencialmente através de um processo de socialização a que
todos estamos sujeitos desde o nascimento e que resulta em diferenças sociais
e culturais entre os dois sexos.
De acordo com Cruz, Silva e Botelho Gomes (2006), o desporto foi, e
ainda é, um espaço associado a uma imagem masculinizada (pelo que a
mulher tem ainda de lutar), sendo que a inclusão feminina esteve (e ainda está)
limitada pelas características que constroem o papel das mulheres na
sociedade (Lenskij, 1998). Desta forma, o desporto “depara-se com um corpo
feminino que, para além de ser diferente do padrão masculino, é sujeito aos
poderes legislativos, religiosos, médicos e filosóficos, tecidos por homens,
poderes que o aprisionam à maternidade, e que lhe ditam regras de
graciosidade e de submissão” (Cruz et. al, 2006, pp.55).
2.2. Desporto e género
Segundo Louro (2004) e Scott (1995), o conceito de género aparece-nos
como uma construção social e histórica das diferenciações baseadas no sexo.
Assim, e como afirma Louro (2000), a masculinidade e a feminilidade não
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 8
podem ser construídas apenas pelas características biológicas dos sujeitos,
mas sim tendo em consideração tudo o que se diz ou se representa dessas
mesmas características num dado momento.
Muitas vezes a literatura apresenta-nos relações de género em que,
segundo Marques e Ribeiro (2006), o ser-se homem ou mulher aparece
construído dentro de um mesmo padrão universal e único, não tendo em
consideração a interferência do meio no qual o indivíduo se relaciona.
No entanto, e no que diz respeito ao desporto, são as estruturas sociais
e mentais que representam as diferenças de género encontradas (Bordieu,
1999; Silva, 2007). Assim, estas diferenças implicam em grande forma o
trabalho a desenvolver em todas as áreas desportivas, as quais se apresentam
preconceituosas e reforçadas de estereótipos (Silva, Botelho Gomes & Graça,
2004).
De acordo com Theberge (1993, citado por Silva et al, 2004), o desporto
é caracterizado por uma pluralidade cultural, bem como por uma neutralidade
aparente na construção de género. Desta forma, a construção de imagens
femininas e masculinas no desporto é influenciada por todos os preconceitos e
pré-conceitos existentes nesta área, os quais influenciam a ideia generalizada
de uma imagem hegemonicamente masculina, expressa num padrão exclusivo
de masculinidade (Botelho Gomes, Silva & Queirós, 2002). De acordo com um
estudo levado a cabo por Silva, Botelho Gomes e Queirós (2004), os indivíduos
do sexo feminino consideram que todas as modalidade desportivas podem ser
praticadas por ambos os sexos, enquanto que são apontadas razões
associadas a atitudes de uma cultura homofóbica as que levam à não prática
desportiva de certas modalidades pelo sexo masculino. Esta ideia aparece-nos
ainda defendida por Coakley (1994), salientando que os estereótipos ligados ao
género são reforçados pela homofobia e influenciam a prática de actividades
físicas.
O princípio antropológico que nos diz que, apesar das suas
semelhanças, todos os seres humanos são diferentes (Daolio, 1995) leva-nos a
concluir que a actual orientação do desporto e da Educação Física, com
princípios hegemonicamente masculinos, “silencia os menos aptos, dá corpo e
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 9
sentimentos negativos e acentua desigualdades” (Silva, Botelho Gomes &
Graça, 2004, pp.3).
É ainda de salientar que os estudos de género apenas recentemente
incluíram a sua preocupação com o desporto, devido ao facto de ser uma área
“fortemente associada ao masculino e, como tal, mais resistente à mudança”
(Silva, 2007, pp. 9).
2.3. A presença das mulheres na história do desport o
Segundo Pereira (1962), e no que se refere ao caso particular do
povoamento e colonização do Brasil, a mulher foi numericamente muito inferior
ao homem, tendo, para tal, contribuído todos os preconceitos observados na
sociedade de então. Numa perspectiva da Sociologia Histórica, a acção da
mulher deveria circunscrever-se à sua especificidade feminina, pois, caso
contrário, entraria para a História como motivo de escárnio por parte dos
demais historiadores. Assim, e segundo o mesmo autor, a mulher não poderia
figurar na história política, salvo raras excepções pontuais, nem tão pouco na
história social.
Goellner (s.d., pp. 2) afirma que, “mesmo que a história oficial muitas
vezes pouco se refira a determinadas formas de exercitação do corpo feminino,
as mulheres há muito tempo protagonizam histórias no campo das práticas
corporais e esportivas, ou seja, o fato de não terem muita visibilidade quando
comparadas aos homens, não significa afirmar que não tenham existido ou que
estiveram ao largo de determinadas atividades esportivas”. Assim, e de acordo
com a mesma autora, será errado afirmar que a história da desporto mundial se
fez sem a participação feminina.
Podemos então assegurar que a história do desporto foi levada a cabo
pela acção conjunta de diferentes homens e mulheres que inspiraram o mundo
desportivo que hoje vivenciamos. No que diz respeito à participação feminina
no desporto, será merecedora de toda a nossa atenção e reconhecimento uma
vez que as suas condições de acesso nem sempre foram (e por vezes não são
ainda) iguais às condições de acesso dos homens. A imagem da mulher atleta
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 10
foi divulgada pela sua inserção nas competições nacionais e internacionais,
sendo este um aspecto essencial do desenvolvimento desportivo, uma vez que,
no início do século XX ainda vingava a ideia de que a mulher deveria ter um
lugar de destaque apenas na assistência desportiva, em detrimento do seu
lugar enquanto participante (Goellner, s.d.).
O próprio Barão de Coubertin era contrário à participação feminina no
desporto, afirmando que as mulheres poderiam vulgarizar o terreno desportivo,
tão recheado de honras e conquistas. Coubertin, considerado como o pai do
desporto moderno, não se mostrou concordante quanto à participação feminina
no desporto, excluindo, por isso, as mulheres dos Jogo Olímpicos de 1896
(Diem, 1966). De salientar que, nos Jogos Olímpicos da antiguidade, a
participação das mulheres era interdita por motivos religiosos, sendo que a
violação das regras, nomeadamente o simples facto de assistirem aos Jogos,
poderia ser punida com a morte (Cruz et. al, 2006).
No âmbito das provas olímpicas, a primeira mulher a ter lugar de
destaque foi Stamati Revithi, uma atleta grega que participou na Maratona em
1896, mas que se viu obrigada a terminar a prova fora do estádio, uma vez que
lhe foi proibida a entrada (Goellner, s.d.). Pela mesma altura, ou seja, no final
do século XIX, outras mulheres desafiavam as normas vigentes e tentavam
romper todos os preconceitos existentes, no sentido de possibilitar a sua
entrada no mundo desportivo.
Após a iniciação das mulheres no desporto, muitos “sábios” da altura
viram-se obrigados a aceitar a sua participação, sendo que alguns médicos
recomendavam mesmo a prática de determinadas actividades físicas, no
sentido de fortalecer o seu corpo com o fim último da reprodução de corpos
fortes e saudáveis, ao mesmo tempo que outras formas de actividade física
foram proibidas. A beleza e a saúde eram, assim, o fim último da participação
desportiva das mulheres, uma vez que estas duas formas estéticas
valorizavam a “graciosidade, a harmonia das formas e a delicadeza, razão pela
qual várias atividades esportivas foram desaconselhadas para as mulheres, por
serem consideradas como atividades que poderiam masculinizar a mulher”
(Goellner, s.d., pp. 4).
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 11
Apesar de todas as críticas existentes acerca da participação feminina
no desporto, o mundo desportivo sempre seduziu as mulheres que, indiferentes
ao conjunto de convenções morais e sociais, aderiram à sua prática,
independentemente das interdições a que estavam sujeitas. A partir da
segunda metade do século XX, o aumento da prática de algumas modalidades
desportivas, a salientar o caso do Voleibol, do Basquetebol, da Natação, do
Ténis e do Atletismo, originou igualmente um avanço significativo na
participação das mulheres. Por outro lado, apenas nos anos 80 e 90 foi vivida a
maior inserção das mulheres em desportos considerados, à partida, mais
violentos (Goellner, s.d.).
Davisse & Louveau (1998) afirmam que as modalidades mais resistentes
à participação feminina são aquelas que têm uma componente física mais
acentuada, uma vez que são considerados cultural e socialmente como não
compatíveis com a postura que se espera de uma mulher. Esta ideia, é referida
por Hargreaves (1994), que nos diz que os desportos que estão inscritos na
cultura e memória colectiva dos homens, isto é, os desportos que têm uma
forte identidade masculina são os que se opõem mais vivamente à incursão
das mulheres.
Actualmente, e mesmo que a participação feminina no mundo desportivo
tenha alcançado melhorias significativas no que diz respeito à sua inserção,
ainda é visível um número muito inferior aos dos homens em todas as
instâncias desportivas (Goellner, s.d.; Hargreaves, 1994).
Na sociedade portuguesa, a participação feminina no campo desportivo
começa a manifestar-se cada vez mais, essencialmente em “desportos
colectivos que corporizam por excelência os estereótipos masculinos
dominantes” (Jorge, Borrego & Silva, 2002, pp. 4).
2.4. As mulheres nos Cargos Directivos do Desporto
Apesar de nos últimos anos se ter verificado uma necessidade acrescida
de serem efectuados estudos que reflictam as desigualdades visíveis entre
homens e mulheres, no domínio da gestão e organização no desporto, o
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 12
volume destes estudos é ainda limitado (Aitchison, 2005), produzindo uma
necessidade acrescida de serem levados a cabo mais estudos a este nível
(Witz, 1992, cit. Aitchison, 2005), uma vez que, para a mesma autora, as
relações entre género e profissionalização se encontram negligenciadas e
permanecem pouco estudadas (Aitchison, 2005).
Tal como acontece na prática desportiva, o domínio masculino continua
ainda a ser um dado adquirido na organização social, pelo que as estruturas de
poder da maior parte das modalidades desportivas são fortemente orientadas a
favor dos homens e, de forma geral, às modalidades femininas é atribuída uma
importância social e financeira inferior (Hargreaves, 1994;Theberge, 1993).
Apesar do aumento verificado nos últimos 30 anos no que diz respeito
ao número de mulheres em órgãos directivos do desporto, os homens
continuam a dominar, relevando um nível muito acentuado de desigualdades
de género na organização do desporto (Shaw & Hoeber, 2003; Carli & Eagly,
2001). Para as mesmas autoras, é comum associar-se a presença de mulheres
em cargos desportivos inferiores, sendo que os cargos mais elevados na
hierarquia continuam a ser atribuídos aos homens.
De facto, é certo que a sua participação das mulheres tem aumentado
nos últimos tempos e que já são visíveis mais mulheres nos cargos directivos
do desporto (Carli & Eagly, 2001); no entanto, as discriminações continuam a
persistir no que diz respeito ao exercício das suas funções no seio desses
mesmos cargos (Carvalho & Cruz, 2007).
No caso das direcções desportivas podemos afirmar que, quando
comparadas com outras áreas sociais, os legados relativos ao poder implícito
dos homens, os quais acabam sempre por dominar, são ainda mais
pronunciados, parecendo o desporto um domínio onde as mulheres
experimentam mais discriminação (Aitchison, 2005).
Relativamente à organização desportiva, parece ser norma na nossa
sociedade que os homens ocupam os cargos superiores de autoridade e as
mulheres as posições inferiores (Hargreaves, 2004; Shaw & Hoeber, 2003).
Para Carli e Eagly (2001) este entendimento é devido, em grande parte, ao
facto de, perante os pressupostos sociais e os diferentes contextos, as
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 13
mulheres serem vistas como menos competentes do que os homens, bem
como menos ambiciosas no sentido de alcançar as posições mais elevadas na
hierarquia das instituições. No que diz respeito à fraca participação feminina
nos cargos directivos do desporto, Hargreaves (1994) salienta o caso do
Conselho do Desporto que, em 1991, dos 650 cargos que possuía nenhum era
ocupado por mulheres. Da mesma forma, Shaw e Hoeber (2003) nomeiam
alguns casos ainda mais recentes: na Comissão Australiana do Desporto, em
2001, dos 12 cargos existentes, apenas 4 eram ocupados por mulheres; no
mesmo ano, no Conselho Sport England, havia menos de um terço de
mulheres; em 2000, na National Collegiate Athletic Association, em 11
dirigentes existia apenas uma mulher. Por tudo isto, vemos que as metas
quantitativas aconselhadas para a presença de mulheres nos cargos referidos,
nomeadamente pelo COI, que aconselha que os CON sejam responsáveis pela
inserção de mulheres nos cargos directivos na tentativa de uma
representatividade de pelo menos 10% (Pfister, 2003), não são, de todo,
atingidas, pelo que em 2004 apenas um quarto dos 184 CON e um terço das
Federações Internacionais atingiram a meta dos 20% de mulheres nos cargos
executivos, sendo que o próprio COI se ficou por apenas 6,7% (Carvalho &
Cruz, 2007).
A mulher sempre foi muito mais livre e influente no círculo familiar do
que geralmente se acredita; no entanto, esta nunca deixou de sofrer as
consequências dos preconceitos que lhe negavam certos direitos, como de se
instruir, ou mesmo se preparar para qualquer acção fora do lar (Pereira, 1962).
Embora havendo raras excepções à regras, Gilberto Freyre (1933) lamenta a
ausência de mulheres na história da direcção da sociedade, salientando que
esta se ressentiu da falta de feminilidade, quer na política, na literatura, no
ensino e mesmo em todas as outras áreas de actividade. Com o objectivo de
fundamentar a fraca representatividade feminina em postos de decisão, Carli e
Eagly (2001) referem que a própria sociedade desvaloriza o trabalho feminino e,
quando o sucesso não se lhes pode ser negado, são atribuídos factores
externos a esse mesmo sucesso.
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 14
A questão da igualdade de género no desporto começou a ganhar relevo
perante a comunidade internacional na década de 70, não só no parâmetros
relativos à prática desportiva, como também, e particularmente, no que diz
respeito à participação feminina em funções dirigentes (Almeida, 2000). E em
Portugal este tema tem ganho cada vez mais importância, sendo que em 1997
foi aprovado o I Plano Global para a Igualdade de Oportunidades, que
preconiza o fomento da igualdade entre mulheres e homens nas políticas do
desporto (Carvalho & Cruz, 2007).
Segundo Almeida (2000, pp. 1), a real situação na mulher no desporto
no nosso país não é ainda muito favorável, nomeadamente “no que diz respeito
à representação feminina nos postos de decisão e direcção, onde as mulheres
são claramente sub-valorizadas”.
Assim, e no que diz respeito ao que é considerado por alguns autores “o
novo grande desafio das mulheres dentro do cenário desportivo” (Mourão &
Gomes, 2004, pp.307), isto é, as funções da mulher nos cargos directivos do
desporto, entendendo-se por tal as funções ocupadas dentro das direcções de
toda e qualquer organização desportiva, todas as dificuldades e preconceitos
encontrados na altura da sua entrada para o fenómeno desportivo voltam a
verificar-se. De facto, apesar do aumento significativo da participação da
mulher no que diz respeito à sua actuação como atleta, Goellner (2004) alerta
que a sua inserção nos órgãos de gestão, direcção e políticos é ainda muito
restrita, referindo o caso do Brasil que, em 2004, das 53 Confederações
Desportivas existentes, apenas uma era dirigida por mulheres (a Confederação
Brasileira de Ginástica) e, relativamente às Federações Desportivas, o índice
de participação feminino não chegava a 1%.
Segundo Carvalho e Cruz (2007), são identificadas algumas causas para
os obstáculos vivenciados pelas mulheres no desporto, sendo de salientar os
factores de ordem sócio-económica e estrutural, nomeadamente a ausência de
políticas desportivas que garantam a igualdade de oportunidades de
participação. Para as mesmas autoras, estes factores são preponderantes para
a contínua desvalorização verificada acerca da participação e prestações
femininas desportivas.
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 15
Compreendemos, então, que apesar de se constatar um certo progresso
no que se refere à reformulação do estatuto e papel da mulher na sociedade, o
domínio masculino é ainda uma realidade social (Reis, 1995).
Quando comparamos a Política Desportiva à Política Legislativa, os
dados são semelhantes. Segundo Martins e Teixeira (2005), homens e
mulheres diferem quanto à sua participação política e social, sendo verdade
tanto em termos quantitativos (referentes ao nível de pertença), como
qualitativos (referentes ao tipo de pertença).
De acordo com o estudo levado a cabo por Almeida em 1999, com o
objectivo de realizar uma caracterização sociográfica dos elementos femininos
que integravam os principais órgãos das federações desportivas portuguesas,
verificou-se uma fraca participação feminina ao nível do dirigismo desportivo, a
qual rondava os 10%. A autora salienta na altura a fraca representatividade
feminina no dirigismo desportivo, nomeadamente em “modalidades com nula
ou diminuta presença de praticantes federadas, modalidades essas também
tradicionalmente consideradas menos compatíveis com a condição feminina”
(Almeida, 2000, pp. 7). O mesmo estudo verificou que, à medida que se subia
na hierarquia dos órgãos, diminuía da percentagem de mulheres nesses cargos
e o seu perfil social caracterizava-se por estarmos “na presença de uma mulher
jovem, casada, mãe, activa, altamente escolarizada e inserida nas categorias
profissionais mais qualificadas da estrutura socioprofissional”.
As mulheres continuam a representar uma parte muito reduzida dos
órgãos de direcção e gestão das organizações desportivas (Goellner, 2004).
Aitchison (2005, pp. 425) aponta como factores que coíbem a
participação feminina ao nível das instituições e organizações desportivas os
seguintes: 1) “desigualdade nas condições de trabalho vivenciadas por
mulheres e homens", 2) "tratamento desfavorável para as mulheres tentando
equilibrar trabalho remunerado e as responsabilidades domésticas"; 3)
"percepções negativas sobre as mulheres como gerentes", e 4) "o uso da
linguagem sexista e comportamento por colegas do sexo masculino ".
Também Carvalho e Cruz (2007), identificam algumas causas para os
obstáculos vivenciados pelas mulheres no desporto, sendo de salientar os
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 16
factores de ordem sócio-económica e estrutural, nomeadamente a ausência de
políticas desportivas que garantam a igualdade de oportunidades de
participação. Para as mesmas autoras, estes factores são preponderantes para
a contínua desvalorização verificada acerca da participação e prestações
femininas desportivas.
Por outro lado, e segundo um estudo de Karin Wall (2005) (Instituto de
Ciências Sociais) e Lígia Amâncio (2005) (ISCTE) em Portugal, em 2005,
podemos tirar algumas conclusões no que diz respeito ao papel da mulher
perante a sociedade actual. Assim: 1) 93% das mulheres portuguesas
considera que, num casal, tanto o homem quanto a mulher devem trabalhar
fora de casa; 2) 78% diz que uma criança pequena sofre quando a mãe
trabalha; 3) Cerca de 50% da população feminina afirma que as mães se
deveriam abster de trabalhar quando têm filhos com menos de 6 anos; 4)
Portugal possui a mais alta taxa de emprego feminino da Europa.
Olhando para os resultados deste estudo, lembramos a opinião de
Filomena Mónica (2005, pp.2) que refere que as mulheres portuguesas
continuam a ser exploradas, como se nada se tivesse passado aquando da
emancipação feminina em 1960: “algumas raparigas ainda parecem pensar
que a sua única função no Universo consiste em desempenhar os papéis de
esposas devotadas, seres paranoicamente ocupados com a limpeza do pó e
mães tão excelsas quanto a Virgem Maria”.
No caso concreto de Portugal, e no que se refere à participação política
e directiva da mulher, pensa-se que a sua passividade é devida à sua
subordinação tradicional nos diferentes domínios da vida social, acompanhada
pelo seu desdobramento entre actividades domésticas, familiares e
profissionais e à sua socialização numa cultura onde a política continua a ser
considerada uma ocupação masculina, sendo demonstradas condições ainda
menos favoráveis no que diz respeito à sua participação ao nível associativo e
institucional; ainda como possível causa dos factos observados os sentimentos
de culpa desenvolvidos pela mulher, associados à impossibilidade de dedicar à
família o tempo desejado (Martins et al, 2005). Por outro lado, alguns autores
pensam ser difícil definir se a hegemonia masculina no desporto tem origem
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 17
nas particularidades “reais” da mulher ou nas características herdadas
culturalmente (Neves, 2005).
De acordo com Carvalho e Cruz (2007, pp. 17), podemos afirmar que o
caso concreto de Portugal nos deixa particularmente desanimados, uma vez
que “os índices de prática desportiva são dos mais baixos da União Europeia”
no que diz respeito à participação feminina, e “pouca ou nenhuma atenção tem
sido dada a esta matéria”. Salientando o caso da participação feminina nas
funções técnicas ou nos órgãos executivos das instituições desportivas, os
levantamentos efectuados por Carvalho e Cruz (2007) vêm confirmar estas
ideias. Assim, em 2005 não existia ainda uma única mulher na maioria dos
órgãos executivos das 69 federações nacionais.
Há também autores que defendem que a fraca representatividade
feminina é provocada pelas pressões masculinas a que estão sujeitas. A este
nível, Grossi (2003) afirma que as mulheres têm a ilusão de que elas podem
subir, mas em algum momento alguma coisa impede, sendo este o motivo
relevante para que os cargos de directoria e chefia continuem a ser
maioritariamente ocupados por homens.
Muitas vezes, a própria sociedade não questiona estes aspectos,
mantendo-os sempre como que encobertos pela superioridade masculina
observada em todos os instantes do nosso dia-a-dia. Goellner (2004) intensifica
esta ideia no que diz respeito ao Desporto. Assim, a oposição verificada entre o
masculino e o feminino produz representações de género que permitem poucas
alterações da visão feminina, num território repleto de representações viris, não
só no treino, mas também, e essencialmente, na gestão desportiva.
É necessário aprofundar na nossa sociedade a ideia de que “a heroína
desportiva não é uma ameaça à preservação de identidades femininas
seculares” (Gomes, 2004, pp. 20), quer seja a família, a maternidade ou a
feminilidade, nem tão pouco à preservação de identidades masculinas.
Paralelamente ao aparecimento de medidas que implementassem a
igualdade de género no desporto, começaram a emergir alguns padrões de
discriminação contra as mulheres (Hargreaves, 1994). Desta forma, é possível
verificar que quando as mulheres têm o controlo da sua própria organização
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 18
desportiva, o seu poder é irrefutável; no entanto, em organizações desportivas
mistas (a entender quando homens e mulheres fazem, juntos, parte integrante
da própria organização), as mulheres tendem a perder o seu poder para os
elementos do sexo oposto (Hargreaves, 1994).
2.5. Legislações/Recomendações para o aumento da re presentatividade
feminina em cargos directivos do desporto
O desenvolvimento do desporto feminino tem sido afectado pela
legislação que não está directamente relacionada com o desporto, mas
também pela legislação e programas dirigidos especificamente para o desporto
e para a participação feminina (Hargreaves, 1994).
Efectivamente, as políticas legislativas das várias áreas têm sido, ao
longo dos anos, sensíveis à necessidade do aumento da participação feminina.
Realçando esta ideia, o Conselho do Desporto nos fins da década de 80 fez
alguns esforços para melhorar a participação feminina no mundo desportivo,
nomeadamente apontando estratégias para o aumento da participação do
número de mulheres. No entanto, essas estratégias “were concerned with
quantitative changes within the existing structures of sports and they failed to
address fundamental issues of discrimination to do with the culture and
traditions of sports” (Hargreaves, 1994, pp. 181).
Em seguida, iremos apresentar algumas recomendações levadas a cabo
ao longo dos tempos e pelas diversas esferas da sociedade, no sentido de
compreendermos melhor o relevo que a inserção das mulheres no complexo
mundo desportivo tem sofrido, e quais os principais órgãos responsáveis pela
sua concretização.
Em 1946 constituiu-se a Comissão do Estatuto das Mulheres (CSW) no
âmbito dos trabalhos realizados pela Organização das Nações Unidas (ONU),
tendo como princípios orientadores “erguer o estatuto das mulheres em
igualdade com os homens em todos os domínios da acção humana,
independentemente na nacionalidade, raça, idioma ou religião, e eliminar todas
as discriminações contra as mulheres” (Carvalho & Cruz, 2007, pp. 21). Ainda
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 19
no que respeita à ONU, devemos salientar a Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW), que foi
adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1979, a qual foi o
primeiro instrumento internacional que se referiu à discriminação contra as
mulheres, definindo-a e alertando a sociedade para tal. No que diz respeito ao
Desporto, foi na 4ª Conferência Mundial da ONU para as Mulheres, em 1995,
que foi adoptada a Plataforma de Acção de Pequim, tendo-se tornado no
“primeiro texto de uma Conferência da ONU a incluir referências explícitas ao
Desporto e à Educação Física” (Carvalho & Cruz, 2007, pp. 27).
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO), sob o seu lema de melhorar a Educação para Todos,
refere-se igualmente ao Desporto, a partir da 7ª sessão da sua Conferência
Geral (Paris, em 1952), no sentido de reforçar e garantir a dimensão educativa
que esta área suporta (Carvalho & Cruz, 2007). Esta Organização, tal como
muitas outras, avaliou como insuficientes os esforços existentes para integrar a
dimensão de género nas políticas desportivas, tendo proposto medidas mais
concretas para diminuir a discriminação feminina em todos os processos
desportivos. Carvalho e Cruz (2007, pp. 30) salientam as seguintes: “difusão de
uma informação positiva pelos media; estabelecimento de programas de
educação física de qualidade para uma iniciação das jovens às competências
que se podem adquirir através da prática do desporto; (…) apoio essencial à
investigação no domínio do desporto feminino; feminização das instâncias
dirigentes”. Relativamente às medidas propostas pela UNESCO, é ainda
importante referir que esta instituição chama a atenção para algumas
estruturas, nomeadamente os poderes públicos, o Comité Olímpico
Internacional (COI), as federações nacionais e internacionais, no sentido de
que é seu dever assumir as responsabilidades da discriminação ainda existente
ao nível do desporto no feminino, devendo favorecer uma mudança profunda
com o objectivo de uma maior participação feminina no desporto a todos os
níveis.
Tal como Hargreaves (1994), também Carvalho e Cruz (2007) referem a
importância exercida pelo Conselho da Europa (CE) no sentido de fomentar a
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 20
participação feminina no desporto, nomeadamente no que diz respeito ao
acesso aos órgãos de decisão. A primeira vez que o CE se referiu
exclusivamente acerca da posição das mulheres nos cargos de decisão do
desporto foi em 1989, no 1º Seminário Europeu, no Reino Unido. Desta forma,
o CE declarou que cada país deveria tomar as medidas adequadas para
conduzir a uma política concreta da participação das mulheres no desporto,
“examinando o lugar das mulheres na promoção e administração do desporto
enquanto serviço público, ao nível nacional, regional e local, compreendendo
ainda a introdução de uma política activa de recrutamento de mulheres para
postos de responsabilidade” (idem, pp. 40).
No que diz respeito à União Europeia (UE), a sua acção no sentido de
aumentar a participação das mulheres no desporto, centra-se essencialmente
nas Declarações resultantes das suas Conferências e nas Recomendações
aprovadas pelo Parlamento Europeu (PE), a salientar a importância dos
Relatórios de Iniciativa de algumas deputadas do Parlamento Europeu sobre
Mulheres e Desporto. No que concerne à representação feminina nos postos
executivos, a Resolução do Parlamento Europeu sobre Mulheres e Desporto,
em 1987, “apela às organizações e federações desportivas, aos organismos
dirigentes do desporto amador e ao COI para que garantam uma melhor
representação das mulheres ao nível da sua gestão e organização, bem como
nas actividades desportivas (…) e considera da maior importância que as
mulheres participem na decisões referentes ao desporto feminino e que seja
aumentada a representação feminina em todos os organismos que discutem e
fomentam o desporto e as actividades dos tempos livres” (Carvalho & Cruz,
2007, pp. 55).
Tal como as Organizações Inter-Governamentais, também as
Organizações Não Governamentais foram adoptando medidas, ao longo dos
anos, com o intuito de aumentar a visibilidade feminina na direcção e gestão
desportiva, algumas das quais apresentamos em seguida.
Desde a sua fundação, e ao longo de muitos anos, o Comité Olímpico
Internacional (COI) foi contrário à participação das mulheres em todas as áreas
da sua actividade, mas com a eleição do presidente Juan António Saramanch
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 21
(em 1980), em 1981, pela primeira vez, duas mulheres passaram a ser
membros do COI.
A Declaração de Brighton esteve na origem de todos os trabalhos levado
a cabo pelo COI no sentido da integração das mulheres no desporto. No âmbito
dos desenvolvimentos concretizados pelo Grupo Internacional de Trabalho
Mulheres e Desporto (constituído em 1994, aquando da 1ª Conferência
Internacional Mulheres e Desporto), foi aprovada esta Declaração, a qual
chama a atenção para o facto de que, apesar do aumento do número de
mulheres no mundo desportivo, ainda não lhe são oferecidas iguais condições
de acesso: “nos últimos anos verificou-se um aumento da participação das
mulheres no desporto, bem como das possibilidades que lhe são oferecidas
para participar nos eventos desportivos nacionais e internacionais; mas esta
tendência não se verificou no que diz respeito à sua representação nos postos
de decisão e direcção”, sendo que “as mulheres estão sub-representadas nos
lugares de direcção, treino, ou gestão, sobretudo ao mais alto nível” (Carvalho
& Cruz, 2007, pp. 81).
Assim, no mesmo ano, o COI adoptou os princípios reguladores desta
Declaração, tendo igualmente decidido que os Comités Olímpicos Nacionais
(CON), as Federações Internacionais (FI) e todos os organismos pertencentes
ao Movimento Olímpico fixassem como seus objectivos, alcançar, na
composição dos seus órgãos executivos, uma percentagem de 10% de
mulheres até ao ano 2000 e de 20% até ao ano 2005 (Pfister, 2003; Carvalho &
Cruz, 2007).
Há dois aspectos a realçar na Declaração de Brighton “tem como
objectivo principal o desenvolvimento de uma conduta desportiva que permita a
realização das mulheres, bem como valorizar a sua participação em todos os
domínios do desporto” e por outro lado, a importância revelada pela
participação das mulheres nos cargos directivos do desporto: “as mulheres
estão sub-representadas nos lugares de direcção e decisão em todas as
organizações desportivas e em todas as organizações ligadas ao desporto”,
pelo que “os responsáveis nestes domínios devem desenvolver políticas,
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 22
programas e estruturas que aumentem o número de mulheres nos postos de
enquadramento na consultoria (…) e gestão” (Carvalho & Cruz, 2007, pp. 83).
De salientar ainda a importância da Conferência Europeia do Desporto,
em 1991, a qual se mostrou atenta à participação feminina no processo
desportivo, tendo sido salientada a intenção de aumentar o envolvimento das
mulheres no desporto a todos os níveis e em todas as funções e papeis
existentes. E, como refere Hargreaves (1994), porque o Conselho do Desporto
se mostrava sensível à participação feminina no desporto, ainda em 1991,
recomendou que fossem traçadas metas para equiparar a representação
feminina à masculina em todos os níveis da sua organização, uma vez que
seria difícil aumentar a participação feminina no desporto em geral caso a
visibilidade desportiva fosse apenas dominada pelos homens. A mesma autora
apresenta ainda as preocupações constantes nas Conferências Europeias do
Desporto anteriores e posteriores em realizar todos os esforços para que se
torne possível um acesso equitativo de mulheres e homens no mundo do
desporto.
O Grupo Europeu Mulheres e Desporto (EWS), criado em 1993,
começou a coordenar o trabalho Mulheres e Desporto na Europa, bem como a
identificar as tarefas e acções desenvolvidas pelas organizações desportivas
europeias, tendo como objectivo promover a igualdade de género na cultura
desportiva a todos os níveis. No que diz respeito aos cargos de direcção, o
EWS procura ajudar a aumentar os número de mulheres a ocupar cargos de
decisão, preparando-as para tal, e também a promover a representação das
mulheres em todos os níveis desportivos. Estes objectivos estão bem patentes
nos trabalho desenvolvidos pelo EWS, sendo que podemos mesmo enumerar a
4ª Conferência do EWS Mulheres, Desporto e Cultura, na qual recomendaram
que deve ser reforçado o papel das mulheres enquanto recurso da tomada de
decisão e da cultura desportiva e que mulheres e homens devem partilhar
responsabilidades da igualdade do desporto (Carvalho & Cruz, 2007).
Devemos ainda salientar que no presente ano, dias 9 e 10 de Outubro, teve
lugar a 8ª Conferência do EWS, sob o tema “Abrace o espírito - Pesquisar,
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 23
desenvolver, promover mulheres no desporto. Novas Estratégias”, no Chipre,
da qual ainda não possuímos documentos oficiais.
Em Portugal, as diversas recomendações internacionais não surtiram os
efeitos desejados na política desportiva dos sucessivos governos, apesar dos
níveis de participação feminina estarem ainda muito reduzidos. O papel das
mulheres enquanto dirigentes desportivos é realçado pela Declaração de
Compromisso “O Desporto – uma oportunidade para a igualdade profissional
entre homens e mulheres”, em 2006, onde “o desporto é uma das áreas onde a
desigualdade é acentuada, designadamente quando se observam os
indicadores disponíveis sobre a prática desportiva de homens e mulheres, mas
também no que se refere às profissões do desporto e aos cargos dirigentes em
todas as organizações desportivas ou ligadas ao desporto” (Carvalho & Cruz,
2007, pp.98).
Relativamente à Intervenção Governamental em Portugal, denota-se
uma indiferença muito grande para com um dos mais notórios problemas do
desporto nacional e foi na década de 80 que o poder executivo incluiu a
problemática das mulheres no desporto nos seus programas, tendo apenas
vocacionado a sua intervenção no sentido da mulher enquanto atleta,
nomeadamente no contexto social dos tempos livres (idem, pp.99).
Foi apenas desde 1990 que as Organizações Não Governamentais do
Conselho Consultivo da Comissão para a Igualdade das Mulheres (agora
Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género) desenvolveram uma acção
colectiva no sentido de aumentar a visibilidade da situação das mulheres
portuguesas (Silva, 2007).
Por tudo isto, foi a intervenção das organizações dos direitos das
mulheres que promoveu maiores influências para a inclusão das mulheres no
desporto nacional, tendo obtido importância relevante o Congresso “A Mulher e
o Desporto” (1996), sobretudo pela divulgação massiva da Declaração de
Brighton. A dinâmica deste Congresso esteve na origem da criação da
Associação Portuguesa Mulheres e Desporto (APMD), constituída em Maio de
1997, sendo uma das instituições (organização não governamental) que mais
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 24
relevo dá à importância da mulher no contexto desportivo no nosso país
(Carvalho & Cruz, 2007).
Não há dúvidas de que a implementação de políticas e igualdade de
oportunidades resultou na emergência de algumas mulheres em áreas de
controlo que eram exclusivamente masculinas (Hargreaves, 1994); no entanto,
apesar de algumas mulheres ocuparem posições prestigiadas, são ainda uma
pequena minoria (Neves, 2005; Shaw & Hoeber, 2003). Além disso, apesar de
muitos países legislarem acerca das manifestações de desigualdades visíveis
ao nível da organização e gestão do desporto, na cultura e prática das
organizações desportivas, continuam enraizadas as ideias vigentes de
desigualdade (Aitchison, 2005).
Hargreaves (1994) é da opinião de que, apesar do apoio oficial promover
com legitimidade a mudança, esta está intimamente relacionada com as
estruturas desportivas já existentes. Desta forma, percebemos que a
intervenção do Estado tem pouco poder para serem alterados os padrões
estruturais e culturais que estiveram (e por vezes ainda estão de facto) na
origem de algumas formas de discriminação existentes no desporto.
Apesar dos governos emitirem regulamentos para a igualdade,
“nenhuma legislação pode ser efectiva enquanto o poder dos homens sobre as
mulheres se difundir pela sociedade” (Hargreaves, 1994, pp. 175).
Pelo exposto, percebemos que as mulheres continuam a ser merecedoras da
nossa atenção, pois nem sempre possuíram (e algumas vezes ainda não
possuem de facto) condições de acesso e participação iguais às dos homens
(Goellner, s.d.), no que diz respeito a todas as áreas desportivas,
nomeadamente aos cargos de direcção, administração e gestão. De facto, a
participação de mulheres nos sectores de organização e de direcção
desportivas como, por exemplo, nas Federações e nos Comités Olímpicos
Nacionais apresenta ainda números muito inferiores aos dos homens, mesmo
após a indicação do Comité Olímpico Internacional, em 2000, de que os
Comités Nacionais procurassem promover estratégias de inserção da mulher
nos cargos de comando, de forma a aproximar-se dos 10% (Pfister, 2003) – tal
como referimos anteriormente, o esforço demonstrado pelo Comité Olímpico
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 25
Internacional é igualmente revelado pelas comissões que actualmente
compõem a sua estrutura, com especial referência para a Comissão Mulheres
e Desporto (Gomes, 2004).
Mourão et al (2004) apoiam o exposto pelo Comité Olímpico
Internacional, afirmando que os principais procedimentos de acção afirmativa
da participação feminina são os que visam o aumento estatístico de mulheres
recrutadas em sectores masculinizados, que implicam o desmonte de
estereótipos de género e a quebra da distribuição de papéis profissionais
diferenciados por sexo.
Em várias Conferências Internacionais, são apresentados debates
específicos sobre esta problemática; no entanto, as soluções apresentadas são,
como se compreende pelo que já foi referido, apenas a elaboração e
implementação de políticas capazes de incentivar, promover e fortalecer a
participação feminina (Goellner, s.d.), não percebendo, ou não querendo
perceber, que o grande problema se centra na cultura da nossa sociedade, que
tende sempre a desvalorizar as capacidades das mulheres (Carli & Eagly,
2001).
Por tudo isto, actualmente ainda é imperante a “ideia” de que o desporto
é um símbolo de masculinidade, através da exibição de características como a
agressividade, o poder e a eficácia (Reis, 1995), havendo ainda muitas
barreiras a transpor pelas mulheres, nomeadamente no que diz respeito ao
contexto político (Gomes, 2004).
De facto, e porque actualmente ainda rareiam os estudos que nos
apresentam dados concretos acerca da quantidade de mulheres presentes em
cargos de direcção do desporto a nível nacional, é nosso intuito conhecer a
representatividade feminina nacional nesses mesmos cargos e perceber se a
percentagem de mulheres tem vindo a aumentar ou não, no caso das
Associações Desportivas nacionais. De igual forma, outro objectivo do presente
estudo é conhecer as verdadeiras funções das mulheres no seio dessas
mesmas Associações, de forma a compreendermos a posição que conseguem
alcançar nos diversos cargos directivos, partindo do pressuposto que, pesar de
II – Revisão Bibliográfica
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 26
algumas mulheres ocuparem posições prestigiadas, são ainda uma pequena
minoria (Neves, 2005; Shaw & Hoeber, 2003).
III - Metodologia
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 27
III. Metodologia
3.1. Caracterização da Amostra
A amostra do nosso estudo é composta por 14 Associações Desportivas
da zona do Grande Porto, as quais foram seleccionadas através de dois
critérios: 1) pertencerem à zona do Grande Porto e 2) possuírem página oficial
na internet com a constituição dos respectivos órgãos sociais. As entidades
seleccionadas foram as seguintes: Associação de Andebol do Porto (AAP),
Associação de Atletismo do Porto (AAtP), Associação de Basquetebol do Porto
(ABP), Associação de Ciclismo do Porto (ACP), Associação de Futebol do
Porto (AFP), Associação de Ginástica do Norte (AGN), Associação de Natação
do Norte de Portugal (ANNP), Associação de Paraquedistas do Norte (APN),
Associação de Patinagem do Porto (APP), Associação Regional do Norte de
Pesca Desportiva (ARNPD), Associação de Ténis do Porto (ATP), Associação
de Ténis de Mesa do Porto (ATMP), Associação Regional de Vela do Norte
(ARVN), e Associação de Voleibol do Porto (AVP).
3.2. Procedimentos
A recolha dos dados relativos às Associações Desportivas foi realizada
em dois momentos distintos: a primeira em Janeiro de 2008 e a segunda em
Julho de 2009. Em ambas os momentos foram recolhidos os
quadros/organigramas inerentes aos cargos/órgãos sociais das Associações,
através das respectivas páginas da internet.
3.3. Análise dos dados
Para a análise à pertença de mulheres nos órgãos sociais recorremos,
primeiramente, ao tratamento estatístico dos dados recolhidos, e
posteriormente à análise qualitativa quanto à sua pertença, i.e., à análise das
funções ocupadas predominantemente por mulheres.
III - Metodologia
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 28
O tratamento estatístico dos dados foi realizado recorrendo ao programa
Excel Office 2003. Ao nível da estatística descritiva, utilizaram-se medidas de
tendência central (média) e de dispersão (desvio-padrão).
IV – Apresentação e Discussão dos Resultados
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 29
IV. Apresentação e Discussão dos Resultados
Para a Apresentação e Discussão dos resultados, recorremos, numa
fase inicial, à análise da representatividade feminina nas Associações
Desportivas da amostra em termos gerais e, posteriormente, à média da sua
representatividade no seio dessas mesmas Associações Desportivas, sem
esquecer a marca percentual que alcançam e os diversos cargos sociais que
ocupam.
Conforme verificámos no Quadro 1, houve uma constância do total de
elementos pertencentes às Associações Desportivas seleccionadas do ano
2008 ao ano 2009, i.e., os órgãos sociais das Associações apresentaram nos
dois anos um total de 386 elementos. No entanto, denotou-se um decréscimo
do número de mulheres de um ano para o outro, tendo este número caído de
40 elementos em 2008 para 37 elementos em 2009.
Quadro 1: Número de elementos nos cargos sociais das Associações Desportivas da zona do Grande Porto nos anos 2008 e 2009, diferenciados por sexo
2008 2009
Total de elementos 386 Total de elementos 386
♂ 346 ♂ 349
♀ 40 ♀ 37
De igual forma, e como é visível no Quadro 2, a percentagem de
mulheres que compõem os órgãos sociais do total de Associações Desportivas
decresceu de 10,3% para 9,6% de 2008 para 2009. Estes valores são muito
inferiores aos pretendidos pelo COI, que esperava 20% até 2005 (Pfister, 2003;
Carvalho & Cruz, 2007). De facto, os valores apresentados afiguram ainda uma
fraca representatividade feminina (Almeida, 2000) dos órgãos sociais das
Associações Desportivas estudadas.
IV – Apresentação e Discussão dos Resultados
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 30
Quadro 2: Percentagem de homens e mulheres nos cargos sociais das Associações Desportivas da zona do Grande Porto nos anos 2008 e 2009
2008 2009
% ♂ 89,7% % ♂ 90,4%
% ♀ 10,3% % ♀ 9,6%
De todas as Associações Desportivas, e conforme podemos observar
através do Quadro 3, em 2009 cada Associação possui, em média, 24±7
elementos, sendo que, destes, apenas 3±2 são mulheres, não tendo sido
encontradas diferenças significativas entre o ano 2008 e o ano 2009.
Estes valores vêm reforçar os resultados que Shaw e Hoeber (2003) nos
apresentaram: em 2001 na Comissão Australiana do Desporto dos 12 cargos
existentes apenas 4 eram ocupados por mulheres, e em 2000 na National
Collegiate Athletic Association em 11 dirigentes existia apenas uma mulher.
Quadro 3: Número de mulheres no total de elementos constituintes das Associações Desportivas nos anos 2008 e 2009
2008 2009 Associações
Total nº ♀ Total nº ♀
AAP 21 2 21 2
AAtP 18 1 18 1
ABP 24 0 23 1
ACP 29 1 29 1
AFP 87 4 88 4
AGN 7 3 7 3
ANNP 36 6 38 6
APN 25 0 25 0
APP 40 9 35 5
ARNPD 25 1 27 1
ATP 17 3 17 3
ATMP 25 2 25 2
ARVN 13 1 13 1
AVP 19 7 19 7
Média 24±8 3±3 24±7 3±2
Os valores apresentados anteriormente referem-se, como já foi dito, a
valores médios dos elementos de cada Associação Desportiva. No entanto,
IV – Apresentação e Discussão dos Resultados
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 31
encontramos a necessidade de especificar alguns casos, no sentido de
verificarmos que não existe homogeneidade de órgãos/funções em todas as
Associações.
Como podemos verificar, há duas Associações cujos valores diferem da
média referida anteriormente para o número total de elementos, o que irá
certamente influenciar a representatividade feminina encontrada. Assim, a
Associação de Ginástica do Norte (AGN) possui na sua constituição
organizativa apenas 7 elementos, dos quais 3 são mulheres, e a Associação de
Futebol do Porto (AFP) possui, no presente ano, 88 elementos, dos quais
apenas 4 são mulheres.
Conforme os valores apresentados no Quadro 3, podemos afirmar que,
na realidade, quase todas as Associações Desportivas estudadas possuem
cargos sociais representados por mulheres, com a excepção da ABP, no ano
2008 e a APN nos dois anos. No entanto, será fundamental compreender essa
mesma representatividade, quer a nível quantitativo, i.e., o valor percentual que
o número de mulheres alcança; quer a nível qualitativo, i.e., as funções reais
que as mulheres realizam no seio dessas Associações.
Na Figura 1 apresentamos a percentagem de mulheres presentes em
cada uma das Associações Desportivas estudadas, no sentido de, como
referimos anteriormente, compreendermos se a sua presença é, na realidade,
representativa, ou não, tendo sempre presentes as indicações do COI, que
referiam que, em 2005, em todas as instituições houvesse, pelo menos, 20%
de mulheres em cargos executivos (Pfister, 2003; Carvalho & Cruz, 2007).
A Figura 1 demonstra-nos que as Associações Desportivas onde
podemos encontrar uma maior percentagem de mulheres em cargos sociais
são a Associação de Ginástica do Norte (AGN), com 42,9% de mulheres e a
Associação de Voleibol do Porto (AVP), com 36,8% de mulheres. Além destas
duas, a única Associação que conseguiu ultrapassar a meta dos 20%
recomendada pelo COI até 2005 foi a Associação de Patinagem do Porto
IV – Apresentação e Discussão dos Resultados
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 32
(APP), em 2008, possuindo 22,5% de mulheres em cargos sociais; no entanto,
este valor decresceu para 14,3% no ano 2009. Estes valores poderão estar
relacionados com a estereotipia de género existente do desporto, uma vez que,
das modalidades estudadas, estas são as mais representativas em número de
praticantes femininas.
Através da análise à Figura 1, observamos ainda que com a excepção
das três Associações referidas anteriormente, a Associação de Natação do
Norte de Portugal (ANNP) e a Associação de Ténis do Porto (ATP), todas as
restantes Associações Desportivas estudadas possuem em cargos sociais
menos de 10% de mulheres. Assim, das 14 Associações Desportivas
estudadas, 9 Associações apresentam percentagens de mulheres em cargos
sociais abaixo dos 10%, sendo que, destas, 5 estão ainda abaixo dos 5%.
A Figura 1 demonstra-nos que houve, ao longo dos dois anos, uma
tendência para a percentagem de mulheres em cargos sociais em cada uma
das Associações se manter, com excepção das ANNP, APP e ARNPD, onde a
percentagem de mulheres diminuiu. Nestes casos, é de salientar que a
diminuição da percentagem de mulheres nas ANNP e na ARNPD é devida ao
aumento do número total de elementos, uma vez que o número de mulheres se
manteve igual.
Podemos ainda observar que em 2008 a Associação de Basquetebol do
Porto (ABP) não possuía nenhuma mulher em cargos sociais, tendo este valor
sido alterado para 4,3% em 2009 com a entrada de 1.
No que diz respeito à Associação de Paraquedistas do Norte (APN),
representa a única Associação, das estudadas, que entre 2008 e 2009 não
possuiu nenhuma mulher em cargos sociais.
IV – Apresentação e Discussão dos Resultados
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 33
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
AAP AAtP ABP ACP AFP AGN ANNP APN APP ARNPD ATP ATMP ARVN AVP
Associações Desportivas
% d
e m
ulhe
res
20082009
Figura 1: Percentagem de mulheres em cargos sociais nas Associações Desportivas da
amostra
Vimos anteriormente os valores médios da participação feminina nos
órgãos sociais de um ponto de vista global. Em seguida, e porque dentro de
uma Associação Desportiva há órgãos variados, com funções diversas,
recorremos à análise dos cargos representados por mulheres, de forma a
compreendermos ao certo em quais a sua presença é mais representativa. De
salientar que, neste momento, reportámo-nos apenas ao ano de 2009, uma vez
que não encontrámos diferenças significativas que justificassem a análise dos
dois anos separadamente.
Desta feita e perante a análise à constituição dos órgãos executivos de
cada uma das Associações Desportivas, foi-nos possível diferenciar 8 órgãos
sociais com distintas funções, os quais passamos a mencionar:
1. Direcção : conjunto de pessoas que dirigem a Associação;
2. Assembleia Geral : é o órgão supremo da Associação e as suas
deliberações, tomadas nos termos legais e regulamentares, são obrigatórias
para os restantes órgãos e para todos os membros desta (Decreto-Lei nº
454/80 de 09-10-1980);
IV – Apresentação e Discussão dos Resultados
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 34
3. Conselho Fiscal : tem como competências principais fiscalizar a
administração da Associação e verificar, quando o julgue conveniente e pela
forma que entenda adequada, a extensão da caixa e as existências de
qualquer espécie dos bens ou valores pertencentes à sociedade ou por ela
recebidos em garantia, depósito ou outro título (Decreto-Lei nº 262/86 de 02-
09-1986);
4. Conselho Jurisdicional : o Conselho Jurisdicional é um órgão de
natureza jurisdicional, disciplinar e consultiva, devendo ter como presidente um
elemento licenciado em Direito (FPV, 2006);
5. Conselho Disciplinar : exerce os poderes que lhe são atribuídos pelos
regulamentos, pelos estatutos ou pela lei, competindo-lhe designadamente o
exercício do poder disciplinar sobre as pessoas e entidades submetidas ao
poder disciplinar da Associação (FPV, 2006);
6. Conselho Técnico : com funções inerentes às competências técnicas de
cada modalidade, i.e, de cada Associação;
7. Conselho de Arbitragem : responsável pela arbitragem da modalidade,
desde recrutamento à colocação de árbitros e à regulamentação do exercício
das suas funções;
8. Conselho Geral .
De todos os órgãos mencionados, e conforme podemos comprovar
através do Quadro 4, o órgão social no qual podemos encontrar um maior
número de mulheres é a Direcção, com um total de 13 elementos femininos
somados de 7 das Associações estudadas, seguida do Conselho de
Arbitragem, com 8 elementos femininos e do Conselho Jurisdicional, com 7
elementos femininos.
IV – Apresentação e Discussão dos Resultados
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 35
Quadro 4: Número de mulheres nos diversos órgãos sociais das Associações Desportivas
Direcção Assembleia
geral Conselho
Fiscal Conselho
Jurisdicional Conselho Disciplinar
Conselho Técnico
Conselho de
Arbitragem
Conselho Geral
AAP 2 AAtP 1 ABP 1 ACP 1 AFP 1 1 1 1 AGN 3
ANNP 1 1 4 APN APP 2 3
ARNPD 1 ATP 1 2
ATMP 1 1 ARVN 1 AVP 3 2 2 Total 13 4 1 7 1 3 8 0
Como vimos anteriormente, e apesar da reduzida percentagem de
mulheres que a AFP apresenta na constituição dos seus órgãos sociais (cerca
de 4,5%), esta é a Associação onde se verifica uma maior dispersão de
mulheres pelos diferentes órgãos, i.e., tem uma mulher presente nos
Conselhos Fiscal, Jurisdicional, Disciplinar e Técnico.
As Associações que apresentam um maior número de mulheres dentro
do mesmo órgão social são a AGN e a AVP, ambas com 3 elementos
femininos na Direcção e a ANNP e a APP, com, respectivamente, 4 e 3
elementos femininos no Conselho de Arbitragem.
Conforme podemos verificar no Quadro 4, de todos os órgãos
apresentados, o único que não possui, em nenhuma das Associações, um
elemento feminino na sua constituição é o Conselho Geral.
Através da Figura 2, observamos que nos Conselhos de Arbitragem, do
total de elementos, quase 20% são mulheres e nos Conselhos Jurisdicionais a
sua representatividade ronda os 15%, valores estes que comprovam o número
IV – Apresentação e Discussão dos Resultados
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 36
de mulheres apresentado no Quadro 4. Por outro lado, e apesar de, como
vimos, o maior número de mulheres estar presente nas Direcções das diversas
Associações Desportivas, a sua representatividade, em função do número total
de elementos, é reduzida, tendo um valor percentual de 10,7%. Os Conselhos
Fiscal e Geral são os órgãos sociais das Associações Desportivas onde a
representatividade feminina é menor, apresentando valores de 2,2% e 0,0%,
respectivamente.
0,0%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
25,0%
Direcção Assembleiageral
ConselhoFiscal
CoselhoJurisdicional
ConselhoDisciplinar
ConselhoTécnico
Conselho deArbitragem
Conselho Geral
% d
e m
ulhe
res
Figura 2: Percentagem da representatividade de mulheres nos diversos órgãos sociais
Na Figura 3 apresentamos os cargos sociais representados por
mulheres no total das Associações Desportivas estudadas. Podemos observar
que os cargos mais representativos da actividade feminina no seio das
Associações Desportivas são o de Vogal e o de Secretária. Encontramos
igualmente 4 Vice-presidentes e 4 Membros, 3 Directoras, 2 Assessoras e 2
Tesoureiras e, por fim, 1 Presidente e 1 Administrativa. Pelo exposto, podemos
afirmar que, apesar de algumas mulheres ocuparem algumas posições
prestigiadas, a grande maioria ocupa cargos inferiores no seio dessas mesmas
Associações Desportivas (Shaw & Hoeber, 2003).
IV – Apresentação e Discussão dos Resultados
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 37
02468
101214
Pres
idente
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Directo
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Asse
ssora
Voga
l
Secretá
ria
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strativa
Teso
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a
Mem
bro
Cargo
Nº
de m
ulhe
res
Figura 3: Representatividade feminina nos diferentes cargos sociais das Associações
Desportivas consideradas
Em seguida iremos salientar os cargos ocupados por elementos
femininos, no seio dos Órgãos Sociais visados anteriormente.
Como podemos observar através da Figura 4, nas diversas Direcções
das Associações Desportivas estudadas, não encontrámos nenhuma mulher no
cargo máximo, i.e., Presidente. No entanto, encontrámos 4 Vice-presidentes,
nomeadamente, na AAP, ATMP, ANNP e ARNPD. É de salientar que, apesar
de não sabermos ao certo o número de praticantes femininos de Pesca
Desportiva ao nível do Norte de Portugal, encontrámos uma mulher com esta
função, no caso concreto de Vice-presidente administrativa; nas restantes três
Associações, as funções inerentes ao cargo não estavam totalmente
especificadas, fazendo parte do conjunto de Vice-presidentes da Direcção que
cada uma possui. Desta forma, e porque cada Associação encerra um número
diferente de Vice-presidentes na Direcção, chamamos ainda a atenção para o
facto de na ATMP e na ANNP as Vice-presidentes encontradas representarem
33,3% do total de Vice-presidentes; por outro lado, no caso da AAP, representa
apenas 10% do total de Vice-presidentes, visto o número total destes ser
consideravelmente superior.
Através da Figura 4, podemos observar igualmente que, com igual
número de mulheres, i.e., 4, encontrámos o cargo de Vogal da Direcção. No
IV – Apresentação e Discussão dos Resultados
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 38
entanto, destas, 3 pertencem à AGN e apenas 1 à AVP. Os 2 cargos de
secretária da Direcção mencionados dizem respeito a AAP e à ATP.
Por fim, encontrámos 1 Directora Financeira na ACP, 1 Directora
Técnica na AGN e 1 Administrativa também na AGN (Figura 3).
012345
Vic
e-pr
esid
ente
s
Dire
ctor
finan
ceiro
Dire
ctor
técn
ico
Vog
ais
Sec
retá
rios
Adm
inis
trat
iva
Direcção
Figura 4: Número de mulheres presentes na Direcção das Associações Desportivas e
respectivos cargos
No que diz respeito à Assembleia Geral das Associações Desportivas, e
conforme podemos constatar através da Figura 5, não encontrámos nenhuma
mulher nos cargos de Presidente nem de Vice-presidente. Neste órgão social
apenas existem 3 Secretárias, nomeadamente, 2 na AVP e 1 na ANNP e 1
Vogal na ARVN.
0
1
2
3
4
Secretários Vogais
Assembleia geral
Figura 5: Número de mulheres presentes na Assembleia Geral das Associações Desportivas e
respectivos cargos
IV – Apresentação e Discussão dos Resultados
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 39
No que diz respeito ao Conselho Jurisdicional, e tal como acontece na
Assembleia Geral, não encontrámos nenhuma mulher com cargo de Presidente
ou Vice-presidente. Como podemos observar na Figura 6, apenas existe 1
mulher como Secretária deste Conselho, a qual pertence à APP, 2 Membros do
Conselho, 1 da AFP e 1 da AAtP e 4 Vogais, 2 da AVP, 1 da APP e 1 da ATMP.
0
1
2
3
4
5
Secretário Membros Vogais
Conselho Jurisdicional
Figura 6: Número de mulheres presentes no Conselho Jurisdicional das Associações
Desportivas e respectivos cargos
Através da Figura 7, podemos observar que no Conselho Técnico das 14
Associações Desportivas, apenas encontrámos 3 elementos: 1 Directora
Técnica na ATP, 1 Assessora na AFP e 1 Membro na ATP.
0
1
2
Director Assessora Membro
Conselho Técnico
Figura 7: Número de mulheres presentes no Conselho Técnico das Associações Desportivas e
respectivos cargos
IV – Apresentação e Discussão dos Resultados
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 40
0
1
2
3
4
5
Presidente Secretário Vogais Tesoureiro
Conselho deArbitragem
Figura 8: Número de mulheres presentes no Conselho de Arbitragem das Associações
Desportivas e respectivos cargos
O Conselho de Arbitragem, e conforme podemos constatar através da
Figura 8, foi o único órgão social onde encontrámos 1 mulher como Presidente,
desta feita, na APP, a qual é uma das Associações em que a percentagem de
atletas femininos é maior do que a de masculinos. No mesmo órgão social,
encontrámos 1 Secretária, na ANNP, 4 Vogais, 1 na ABP e 3 na ANNP e 1
Tesoureira, na APP.
V - Conclusão
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 41
V. Conclusão
Apesar da participação das mulheres no fenómeno desportivo ter
aumentado nas últimas décadas (Hargreaves, 1994) e do aumento verificado
nos últimos 30 anos no que diz respeito ao número de mulheres em cargos de
direcção desportiva (Shaw & Hoeber, 2003; Carli & Eagly, 2001), a sua
participação nos cargos de direcção das Associações Desportivas analisadas
encontra-se ainda aquém dos valores esperados, alcançando valores médios
de 3±2 elementos femininos em cada Associação, o que representa uma
percentagem que ronda os 10%.
Em 1999, num estudo levado a cabo por Almeida verificou-se uma
percentagem igual à anterior de elementos femininos que integravam os órgãos
das principais federações desportivas nacionais, o que nos leva a concluir que,
apesar dos esforços legislativos no sentido de aumentar o número de mulheres
nos órgãos sociais das instituições desportivas (Carvalho & Cruz, 2007), numa
década completa não foi verificado nenhum progresso neste campo ao nível
das Associações Desportivas consideradas no presente estudo.
No que diz respeito às metas percentuais apontadas pelo Comité límpico
Internacional (COI), i.e., 10% de mulheres nos órgãos sociais até ao ano 2000
e 20% até ao ano 2005 (Pfister, 2003; Carvalho & Cruz, 2007), podemos
também verificar que, de uma forma geral, não foram atingidas pelas
Associações Desportivas estudadas. Em termos gerais, podemos mesmo
afirmar que a meta estabelecia para 2000 foi atingida em 2009; no entanto, e
porque o objectivo daquelas recomendações do COI era aumentar essa
mesma meta para os 20% até 2005, os 10% de mulheres encontradas nas
Associações Desportivas no presente ano não são suficientes para afirmarmos
que o objectivo foi alcançado.
Pelo exposto, podemos afirmar que, tal como nos diz Goellner (2004) e
Carvalho e Cruz (2007), as mulheres continuam a representar uma parte muito
reduzida dos órgãos de direcção e gestão das organizações desportivas. E
visando o que já dizia Hargreaves em 1994, os desportos que detêm uma forte
identidade masculina, como é o caso do Futebol, cuja Associação possui
V - Conclusão
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 42
apenas 4 mulheres num total de 88 representantes, são os que se opõem mais
vivamente à incursão das mulheres. A mesma ideia é comprovada pela APN,
onde ainda não existe uma única mulher nos seus órgãos sociais. Pelo
contrário, mas pela mesma ordem de ideias, as modalidades mais
correlacionadas com a identidade feminina no nosso país, como são os casos
da Ginástica e do Voleibol, são as que apresentam números superiores de
representantes femininos, respectivamente, 42,9% e 36,8% de mulheres.
Os resultados do presente estudo apontam para que os homens, por
norma, ocupam os cargos superiores de autoridade e as mulheres as posições
inferiores (Hargreaves, 2004; Shaw & Hoeber, 2003) e que, como nos dizem
Carvalho e Cruz (2007), as discriminações continuam a persistir no que diz
respeito ao exercício das funções femininas no seio dos cargos de direcção.
Desta forma, em nenhuma das Associações Desportivas estudadas
encontrámos uma mulher que exercesse funções de Presidente da Direcção,
havendo apenas uma mulher como Presidente do Conselho de Arbitragem da
APP. Por outro lado, o cargo mais ocupado por mulheres em todos os órgãos
sociais é o de Vogal, seguido de o de Secretária. Apesar de algumas mulheres
ocuparem posições prestigiadas (Neves, 2005; Shaw & Hoeber, 2003),
nomeadamente de Vice-presidente e Directora, elas são ainda uma pequena
minoria
Tudo isto aponta para que, e segundo Martins e Teixeira (2005), homens
e mulheres diferem quanto à sua participação política e social, tanto em termos
quantitativos, como qualitativos. Tal como dizia Hargreaves (1994),
comprovámos igualmente que o domínio masculino continua ainda a ser um
dado adquirido na organização social, pelo que as estruturas de poder da maior
parte das modalidades desportivas são fortemente orientadas a favor dos
homens. Desta forma, à medida que se sobe na hierarquia dos órgãos, há uma
diminuição da percentagem de mulheres em cargos de dirigentes (Almeida,
2000).
Como se compreende pelo que já foi referido, a mulher continua sub-
representada nos cargos sociais das instituições desportivas (Carvalho & Cruz,
2007), sendo que as soluções apresentadas para este problema passam pela
V - Conclusão
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 43
elaboração e implementação de políticas capazes de incentivar, promover e
fortalecer a participação feminina (Goellner, s.d.). No entanto, essas estratégias
preocupam-se apenas com alterações quantitativas nas estruturas
organizativas do desporto (Hargreaves, 1994), as quais não têm conseguido
atingir os seus propósitos.
Desta forma, entendemos que o grande problema se centra na cultura
da nossa sociedade, que tende sempre a desvalorizar as capacidades das
mulheres, afigurando-se importante a implementação de outros tipos de
reconhecimento do potencial feminino, uma vez que a evolução das
sociedades deve ser determinada em primeiro lugar pela cultura, e em segundo
pelos modos de produção ou regimes políticos (Gomes, 2004). Podemos ainda
afirmar que a intervenção do Estado tem pouco poder para serem alterados os
padrões estruturais e culturais que estiveram (e por vezes ainda estão de facto)
na origem de algumas formas de discriminação existentes no desporto.
(Hargreaves, 1994).
Torna-se fundamental que estudos como este sejam levados a cabo, no
sentido de tomarmos consciência da realidade social do universo desportivo,
visto que, como confirmam os resultados deste estudo, a desigualdade é ainda
muito acentuada no que se refere aos cargos dirigentes em todas as
organizações desportivas ou ligadas ao desporto.
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 44
VI - Bibliografia
A representatividade feminina nos cargos de direcção do desporto 45
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