A MÚSICA COMO MEIO E PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO DO ALUNO SURDO.
Mariana de Lima Alves Hathenher; Dorcelita Barbosa Gonçalves; Gislaine Sousa Silva; Sarita Araújo
INTRODUÇÃO
A inclusão e a educação de pessoas surdas tem sido alvo de grandes discussões em todo
mundo. É certo que a surdez compromete certos níveis de aprendizagem dos alunos,
porém, estudos demonstram que é perfeitamente possível o aprendizado por parte dos
mesmos, se estimulados de forma correta. Por este motivo, embora as propostas
educacionais tenham como objetivo proporcionar o desenvolvimento pleno de suas
capacidades, as diferentes práticas pedagógicas têm lhes determinado uma série de
limitações. E a música vem nesse sentido, mostrar que é possível reverter tal situação.
Alunos surdos inseridos no espaço escolar impõe-nos um grande desafio uma vez que, dada à
diferença linguística que lhes é peculiar, é muito difícil seu acesso aos conteúdos de ensino,
de forma igualitária, em relação aos demais alunos, tendo em vista que, neste contexto, a
forma usual de comunicação é a língua oral, para a qual essa parcela de educandos encontra
maior dificuldade, devido ao impedimento auditivo.
Também, em sala de aula, a interação deverá estar estruturada de modo a estimular o
intercâmbio e a valorização das ideias, o respeito por pontos de vista contraditórios e a
valorização da pluralidade e da diferença.
Dentro do contexto escolar encontramos a presença do profissional Tradutor/Intérprete de
Língua de Sinais (doravante TILS), o mediador na comunicação entre surdos e ouvintes, nas
diferentes situações de interação social. Esse profissional tem como função traduzir e
interpretar a língua de sinais para a língua portuguesa e vice-versa em qualquer modalidade
em que se apresentar (oral ou escrita). Quando há na sala de aula a presença de um TILS, o
ambiente escolar torna-se acessível ao aluno surdo. A função de um TILS não está restrita à
tarefa de interpretar, seu objetivo em classe é, acima de tudo, contribuir para que o aluno
surdo construa/compreenda os conteúdos trabalhados.
Privadas de informação fornecidas pela escuta normal da linguagem falada, as crianças surdas
são obrigadas a disfarçarem essa falta por meio de uma tentativa constante de auto
interpretação dos atos e das atitudes das pessoas que lhe cercam.
O aluno surdo é usuário de uma língua que nenhum companheiro ou professor efetivamente
conhece. Ele é um estrangeiro que tem acesso aos conhecimentos de um modo diverso dos
demais e se mantém isolado do grupo (ainda que existam contatos e um relacionamento
amigável). Portanto, não é só colocar o educando com surdez em sala de ensino comum,
faz-se necessário que o mesmo possa ser atendido conforme as suas necessidades.
Esta dificuldade pode ser percebida se verificarmos a história da educação especial do Brasil e
no mundo, desde os primórdios, em que várias barreiras foram interpostas para a inclusão do
educando com limitações auditivas no espaço escolar.
Conforme Sacks (1990), as pessoas que não ouviam não eram consideradas, na sua essência,
pois se acreditava que esta limitação influenciava na forma como as mesmas processavam as
informações linguísticas. Nesse sentido a pesquisa com o tema relacionado, justifica-se pela
necessidade de conhecer e compreender as dificuldades de um aluno surdo, matriculado em
uma escola regular na qual fizemos a maior parte do nosso estágio na graduação e que
frequenta aulas de música, por acharmos que a música é um excelente método para a
aquisição da Libras e consequentemente para a aquisição da comunicação com o mundo; E
pelo contato direto com surdos, alunos do Conservatório Estadual de Música Cora Pavan
Capparelli.
O presente projeto apresentou em 2008, como parte de um trabalho monográfico, uma
pequena amostra do que temos obtido como resultados dessa investigação e até os dias de
hoje, observamos, coletamos dados e propomos novos estudos e metodologias apropriadas
para um ensino de qualidade não só na área da música, como na escola regular como um todo.
Há 11 anos o Conservatório vive uma realidade diferente com um grupo de alunos surdos que
participam da Banda Ab’surdos, inserida no Projeto “O surdo: Caminho para a Educação
Musical”¹ dentro do Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli (CEMCPC)
onde estes vivenciam música de maneira plena sendo este o nosso principal objetivo de
ensino. Citamos a banda porque se tornou uma prova concreta de que se for oportunizado à
estes alunos um ensino adequado de música, estes poderão sim aprender / vivenciar música
no seu mais amplo contexto. Os não participantes da Banda têm suas aulas normalmente
ministradas por professores qualificados e também não qualificados para tal.
Baseado na questão de que nossos alunos surdos são capazes sim de vivenciar música de
maneira plena e considerando a atual conjuntura da educação especial no Brasil, no que diz
respeito aos procedimentos e práticas de ensino existentes para o ensino de música para este
público, nos deparamos com inúmeros problemas que permeiam nesse processo de ensino
aprendizagem. Considerando que toda atividade musical é uma atividade projetiva que
envolve o indivíduo de maneira muito direta e particular, este projeto visa olhar mais de perto
a realidade do aprendizado musical e instrumental dos alunos surdos, suas dificuldades nos
processos de aprendizagem, suas limitações e potencialidades, fazendo uma coleta de dados/
materiais e de como o professor pode ser o facilitador dessa aquisição de habilidades
musicais, concluindo o trabalho com a elaboração de um plano de ação para a formação de
professores com dados e atividades específicas relacionadas com a prática de ensino de
música para alunos surdos.
Cervellini coloca que “Ouvir e fazer música é uma possibilidade do homem, que lhe
proporciona alegria da realização pessoal, o enriquecimento de seu mundo interior, uma nova
forma de comunicação. Entretanto ela tem sido privilégio dos ouvintes...” (CERVELLINI,
1986, p.14). Pensando nisto e baseado na questão de que nossos alunos surdos são capazes
sim de vivenciar música de maneira plena e considerando a atual conjuntura da educação
especial no Brasil, no que diz respeito aos procedimentos e práticas de ensino existentes para
o ensino de música para este público, nos deparamos com inúmeros problemas que permeiam
nesse processo de ensino aprendizagem. Acreditamos que os educandos aprendem melhor e
não sentem tanta dificuldade, a partir do momento que têm o primeiro contato com a música,
pois conseguem se soltar, socializar, sentindo na pele o ritmo e com isso a atenção e a calma
passam a fazer parte do seu cotidiano diário.
Considerando que toda atividade musical é uma atividade projetiva que envolve o indivíduo
de maneira muito direta e particular, este projeto visa olhar mais de perto a realidade do
aprendizado musical e instrumental dos alunos surdos, suas dificuldades nos processos de
aprendizagem, suas limitações e potencialidades, fazendo uma coleta de dados/ materiais e de
como o professor pode ser o facilitador dessa aquisição de habilidades musicais. Devido à
necessidade de se obter mais informações sobre o tema em questão, foi aplicado um
questionário que contou com a participação de professores da Escola Municipal de
Sobradinho, do Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli, da Escola
Municipal Professor Otávio Batista Filho e da Escola Municipal Professor Afrânio Rodrigues
da Cunha em Uberlândia-MG, no nível Fundamental de ensino. A elaboração deste teve como
preocupação a necessidade de buscarmos adquirir informações que norteassem o que ocorre
nas instituições educacionais em relação ao processo inclusivo e ao aprendizado da música
pelo surdo.
O estudo, como um todo, foi dividido em três capítulos. No primeiro capítulo “O processo
histórico da Educação Especial no Brasil e no Mundo” abordamos um breve histórico sobre a
Educação Especial no Brasil, em especial sobre a Educação do Surdo no Brasil. No segundo
capítulo “A surdez seus conceitos e pré-conceitos, uma revisão de literatura” discutimos os
vários conceitos sobre o que é deficiência auditiva e/ou surdez, sobre o processo de aquisição
da Língua Brasileira de Sinais “Libras” e também em um sub-tópico, discutimos a relação da
surdez com a música e suas contribuições para o aprendizado dos educandos. No terceiro
capítulo “O processo inclusivo do deficiente auditivo no ensino regular: contribuições da
educação musical” discutimos sobre o processo de construção do conhecimento do surdo na
sala regular de ensino e como é avaliada a união da música e das aulas em sala, em uma
análise mais abrangente dos dados recolhidos na pesquisa qualitativa realizada, pois
acreditamos que esta é uma forma de valorizar as falas dos participantes envolvidos no
processo e ao mesmo tempo refletir sobre suas práticas e suas metodologias.
E por fim, nas considerações finais, foi feita uma análise geral do estudo desenvolvido,
explicitando todas as dificuldades e as possibilidades vivenciadas durante a realização deste
trabalho. Comentamos também sobre as conclusões obtidas ao longo desta proposta,
considerando que esse será objeto de novos e incansáveis estudos, tendo em vista que, a
proposta é relativamente nova e será preciso investimento nessa área, uma vez que, foi
possível constatar grandes avanços antes mesmo de se obter um resultado final.
METODOLOGIAO presente estudo tem como proposta a realização da análise dos dados coletados através de
uma pesquisa de campo, num enfoque qualitativo, adotando um questionário com perguntas
abertas que contemplam as informações sobre o deficiente auditivo, a prática pedagógica e as
metodologias utilizadas por professores de uma escola regular, do conservatório de música,
intérpretes de Libras, professores de música e familiares, que favorecem o processo de
educação do deficiente auditivo e, também, como agem seus familiares diante dos desafios
diários enfrentados por eles.
A pesquisa foi direcionada a três escolas municipais e uma estadual, da cidade de
Uberlândia/MG. Para sua realização, foram enviados oito questionários (em anexo), que
foram divididos da seguinte forma: dois questionários para as mães, dois para as professoras
do ensino regular, dois para as professoras de música, dois para os intérpretes de língua de
sinais (LIBRAS) e dois para os alunos surdos. No entanto, uma professora do ensino regular e
um dos intérpretes, não conseguiram responder a tempo e um dos alunos surdos, não
consegue responder. Por isso, realizamos com eles, um diário de bordo, em que observamos
seu cotidiano escolar e analisamos com base nas questões do questionário. Neste contexto,
esse trabalho tem como objetivos: - Estudar e analisar o processo de aquisição do
conhecimento dos alunos (as) surdos com o auxílio da música; - Mostrar como o aprendizado
da Música, seja através de instrumento musical, seja através do coral de Libras é uma
ferramenta de grande valia para o professor da escola regular, pois o surdo ao tocar com as
mãos o instrumento musical demonstra habilidade e domínio em uma área inesperada,
percebendo e decifrando os sons de uma música em execução, confrontando assim, o mundo
que discrimina, desenvolvendo nele, desenvoltura suficiente para superar obstáculos e,
certamente conseguirá reverter situações cotidianas de difícil assimilação e consequente
solução a seu favor, transformando assim sua deficiência num detalhe pequeno, que mesmo
sem a capacidade de ouvir sons, far-se-á escutar; - Conhecer o processo de alfabetização do
aluno surdo nas escolas regulares, considerando ser importante que todos aqueles que atuam
junto a esta criança devam aprender, saber e entender como acontece a alfabetização desta; -
Refletir sobre qual a concepção do professor quanto ao seu papel frente a esse aluno surdo e o
trabalho de parceria entre o atendimento educacional especializado e o ensino regular.
Acreditamos que os educandos aprendem melhor e não sentem tanta dificuldade, a partir do
momento que têm o primeiro contato com a música, pois conseguem se soltar, socializar,
sentindo na pele o ritmo e com isso a atenção e a calma passam a fazer parte do seu cotidiano
diário.
Devido à necessidade de se obter mais informações sobre o tema em questão, foi aplicado um
questionário que contou com a participação de professores da Escola Municipal de
Sobradinho, do Conservatório Estadual de Música Cora Pavan Capparelli, da Escola
Municipal Professor Otávio Batista Filho e da Escola Municipal Professor Afrânio Rodrigues
da Cunha em Uberlândia-MG, no nível Fundamental de ensino. A elaboração deste teve como
preocupação a necessidade de buscarmos adquirir informações que norteassem o que ocorre
nas instituições educacionais em relação ao processo inclusivo e ao aprendizado da música
pelo surdo.
No final do Ensino Fundamental a maioria dos alunos surdos não são capazes de ler e
escrever satisfatoriamente ou de terem domínio adequado dos conteúdos acadêmicos. Um
dos principais objetivos da política de inclusão é inserir o aluno no ensino regular. Porém,
alunos surdos só apresentarão bom desempenho escolar se a escola apresentar condições
linguísticas e culturais especiais, com a presença da Língua Brasileira de Sinais. Para que
isso aconteça é essencial a presença de interpretes de LIBRAS e de educadores, surdos ou
não, que divulguem os conteúdos escolares nesta língua, bem como o uso de auxílios
tecnológicos. Para os profissionais que trabalham com Psicopedagogia e Educação Especial é
comum se deparar com situações em que é preciso estabelecer a intervenção psicopedagógica
em funções das necessidades especiais da criança. A música torna-se um instrumento de
grande relevância nesse sentido. Segundo Mantoan (2006, p. 49):
Ensinar significa atender às diferenças dos alunos, mas sem diferenciar o ensino para cada um, o que depende, entre outras condições, de se abandonar um ensino transmissivo e adotar uma pedagogia ativa, dialógica, interativa, integradora, que se contrapõe a toda e qualquer visão unidirecional, de transferência unitária, individualizada e hierárquica do saber.
Portanto, durante o planejamento das estratégias de ensino, é importante refletir se a
metodologia está contemplando não só a aprendizagem, mas também a socialização. Por isso,
além dos questionários utilizados na pesquisa, observando o projeto idealizado pela
professora Sarita Araújo, PROJETO “O SURDO: CAMINHO PARA EDUCAÇÃO
MUSICAL”, foi proposto por ela, materiais diferenciados dentro da metodologia da música
que facilitam o aprendizado dentro e fora do conservatório. Utilizando técnicas próprias,
instrumentos e o livro de Termos Musicais em LIBRAS1, escrito pelos professores,
tradutores\intérpretes, que passa agora a ser mais um objeto de estudo a partir do presente ano.
Apresentaremos um breve resumo dos três capítulos destacados nesse texto.
CAPÍTULO I - O processo histórico da educação especial no Brasil e no mundo.
Para compreendermos o percurso histórico das pessoas com deficiências, é preciso deixar
claro que a deficiência não é uma invenção do século XX. O fato é que pessoas com certas
limitações sempre existiram e sempre passaram por caminhos dolorosos, de exclusão e
abandono. Portanto, conhecer a história da Educação e do atendimento à pessoa com
deficiência é buscar compreender como chegamos ao momento atual com tantos avanços nas
áreas humana e social.
Sabe-se que crianças nascidas com deformidades físicas eram jogadas em esgotos, na Roma
Antiga, isso em meados do século XV; Em Esparta eram abandonadas e expostas à morte por
negligência e inanição. Como não havia explicações para tais deficiências e como a ciência 1 (Sarita Araújo, professora de música no Conservatório Cora Pavan Capparelli, autora do projeto “Surdo, Caminho para a Música). Livro: Termos Musicais em Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS
também não podia suprir essas dúvidas, as mesmas eram vistas de forma mítica e até mesmo
sobrenatural.
A partir do século XVI, as pessoas com deficiência passam a ser vistas sob o ponto de vista
médico, embora ainda as causas da deficiência serem vistas como acontecimentos
sobrenaturais. Somente entre os séculos XVII e XVIII, com o advento das ciências, as pessoas
com deficiência passaram a ser vistas sob uma ótica científica.
O médico Jean Marc Gaspard Itard (1774-1838), na França, começou a desenvolver os
princípios educacionais para os deficientes de forma rigorosa, ele assim inaugura os
primórdios do que hoje é chamado de educação especial. O aluno de Itard, Edward Seguin
(1812-1880), também médico, deu continuidade aos processos de ensino para as pessoas
gravemente “retardadas”. Maria Montessori (1870-1956) foi outra importante educadora que
contribuiu para a evolução da educação especial; Médica, italiana, também foi influenciada
por Itard e desenvolveu um programa de treinamento para crianças deficientes mentais,
baseado no uso sistemático e manipulação de objetos concretos. Suas técnicas para o ensino
de deficientes mentais foram experimentadas em vários países da Europa e da Ásia. Seus
trabalhos e as idéias sobre a educação de pessoas com deficiência foram trazidos para o Brasil
através da professora Helena Antipoff, fundadora do Instituto Pestalozzi de Belo Horizonte
em 1932.
As metodologias desenvolvidas por esses três estudiosos durante quase todo o século XIX,
foram utilizadas para ensinar as pessoas denominadas “idiotas” que se encontravam em
instituições. Todas as tentativas de educabilidade eram realizadas tendo em vista a cura ou
eliminação da deficiência através da educação. Ao olharmos para a história da Educação
Especial no Brasil, podemos observar que a evolução do atendimento educacional especial irá
ocorrer com características diferentes daquelas observadas nos países europeus e
norte-americanos. A fase da negligência ou omissão, que nos outros países, pôde ser
observada até o século XVII, no Brasil pode ser estendida até o início da década de 50. Entre
os séculos XVIII e XIX, podemos identificar a fase da institucionalização em outros países do
mundo, marcada pela concepção organicista, que acreditava que a deficiência mental seria
hereditária com evidências de degenerescência da espécie. Dessa maneira, o fim dessa
espécie, seria a única forma de combater a ameaça que essa população representava. Nesta
mesma época, no nosso país, não existia nenhum interesse por educar essas pessoas
consideradas idiotas e imbecis.
Somente no final da década de 50, no Brasil, começavam a aparecer iniciativas
governamentais, em nível nacional, relacionadas à educação de pessoas com deficiência. Tais
iniciativas eram estimuladas por movimentos como os pais da Sociedade Pestalozzi e
Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais.
A história da Educação Especial no Brasil tem como pontos principais a criação do “Instituto
dos Meninos Cegos” (hoje “Instituto Benjamim Constant”) em 1854 e do “Instituto dos
Surdos-Mudos” (hoje, “Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES”) em 1857, ambos
na cidade do Rio de Janeiro, por iniciativa do governo Imperial. Segundo Mazzotta, (1996,
p.29), a fundação desses dois institutos representou uma grande conquista para o atendimento
dos indivíduos deficientes, abrindo espaço para a conscientização e a discussão sobre a sua
educação. No entanto, não deixou de se constituir em uma medida precária em termos
nacionais, pois em 1872, com uma população de 15.848 cegos e 11.595 surdos, no país eram
atendidos apenas 35 cegos e 17 surdos nestas instituições.
A Educação Especial ganha força e aparece pela primeira vez na Lei de Diretrizes e Bases das
Educação, em 1961, apontando que a educação dos excepcionais deve, no que for possível,
enquadrar-se no sistema geral de educação. Mas, até a década de 70 todos os modelos
Educacionais direcionados às pessoas com deficiência tinham orientação segregadora. Esse
modelo acreditava que essas pessoas, deveriam ser educadas de maneira especializada e
separada do ensino comum. Nas décadas de 70 e 80 avançava-se para o modelo Integrador,
que acreditava que depois de alguns anos de estudo em escolas especializadas, quando
atingissem a normalização eram encaminhadas ao sistema regular de ensino, mas em nada
adiantava, pois não permitia trocas de experiência e união entre pessoas com e sem
deficiência, isolando as crianças do convívio com as pessoas de seus bairros, fazendo com que
as escolas especiais, fossem seu único refúgio.
A educação inclusiva tem início nos Estados Unidos da América. através da Lei nº. 94.142 de
1975, que estabelece a modificação dos currículos e a criação de uma rede de informações
entre escolas, bibliotecas, hospitais, e clínicas, no sentido de facilitar a inserção social das
pessoas portadoras de deficiência nos circuitos sociais. Em meados da década de 90, no
Brasil, começaram as discussões em torno do novo modelo de atendimento escolar
denominado inclusão escolar. Esse novo modelo surge como uma reação contrária ao
processo de integração, e sua prática tem gerado muitas discussões.
O conceito de inclusão passa a ser trabalhado na educação especial de forma diferente do
conceito de integração, no entanto, eles têm a mesma proposta de inserir os alunos que
apresentam necessidades educacionais especiais no ensino regular. Para Carvalho (1998, p.
146), é importante destacar que, em relação à inclusão, dois eventos foram mundialmente
significativos e podem ser considerados marcos dessa proposta, pois trataram de questões
referentes à viabilização da educação para todos. Esses eventos foram “A Conferência
Mundial sobre Educação para Todos”, realizada em Jontiem, na Tailândia em 1990, que
buscou garantir a igualdade de acesso à educação a pessoas com qualquer tipo de limitação e
“A Conferência Mundial sobre Educação Especial” ocorrida em Salamanca, na Espanha, em
1994. Nessa conferência, foi elaborado o documento “Declaração de Salamanca e Linha de
Ação sobre Necessidades Educativas Especiais”, que propõe ações a serem assumidas pelos
governos em atenção às diferenças individuais. De acordo com a Declaração de Salamanca, o
conceito de inclusão é um desafio para a educação, na medida em que estabelece que o direito
à educação é de todos e não só daqueles que apresentam necessidades educacionais especiais,
como podemos observar no trecho abaixo:
As escolas devem acolher todas as crianças, independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem acolher crianças com deficiência e crianças bem dotadas; crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças de populações distantes ou nômades, crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros grupos ou zonas desfavorecidas ou marginalizadas (p. 17,18).
Em 1855, chega ao Brasil Hernest Huet (surdo congênito) e com apoio de D. Pedro II, funda o
Instituto de Surdos Mudos, difundindo a Língua de Sinais. Dois anos mais tarde, foi fundado
o INES, Instituto Nacional dos Surdos; Entre 1923 e 1929 surge no Brasil a Associação
Brasileira de Surdos, mobilizando a sociedade pelo direito do ensino para surdos em Língua
de Sinais. A Federação Brasileira de Surdos é fundada em 1971 e em 1977, é criada a
FENEIDA, Federação Nacional de Educação e Integração dos Deficientes auditivos,
federação composta apenas por ouvintes, envolvidos na questão da deficiência auditiva. Em
1983, a comunidade surda funda a Comissão de Luta pelos direitos dos Surdos, entidade não
legalizada. Nessa mesma época, reivindicaram e foi-lhes negada a participação de surdos na
FENEIDA. No ano de 1987, em assembleia geral a FENEIDA passa a se chamar FENEIS,
Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos. Retiram o atributo até então
imposto ao surdo de “deficiente”, tomam sua própria responsabilidade opinando e decidindo
sobre seus próprios assuntos, reivindicam para que o ensino de Libras passe a ser reconhecido
oficialmente e aprendido nas escolas públicas. Outro dado importante é que discordam que os
alunos surdos sejam agrupados em escolas normais, sem estarem alfabetizados, sem terem o
direito ao acesso a libras, a escola como está hoje “não pode oferecer condições satisfatórias
de aprendizagem”. Atualmente a FENEIS possui 20 entidades associadas, observando que no
Brasil temos 65 associações distribuídas no território Nacional, sendo que dessas, 13 estão no
Estado de São Paulo e 14 em Minas Gerais.
De acordo com Alcântara, Rosseto e Silva (2003, p. 153), o ambiente acadêmico foi pensado
somente para os ouvintes e por essa razão todos os conhecimentos relativos à surdez não
surtiram nenhum efeito. O direito do surdo de ter um ensino de qualidade exige dos
profissionais uma atuação e um repensar de sua prática, assumindo novas atitudes e
desfazendo mitos. Sendo assim, é necessário que os profissionais da educação e familiares
estejam aptos a novos meios, principalmente no que diz respeito à comunicação e o ideal seria
que os mesmos conhecessem a Libras. No dia 24 de Abril de 2002, foi homologada a lei
federal que reconhece a Língua Brasileira de Sinais como língua oficial das comunidades
surdas brasileiras. Tal lei representa um passo fundamental no processo reconhecimento e
formação do profissional intérprete da língua de sinais no Brasil, bem como, a abertura de
várias oportunidades no mercado de trabalho que são respaldadas pela questão legal. Para
Quadros (2003, p. 15), entende-se como Língua Brasileira de Sinais-Libras a forma de
comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora com
estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos,
oriundos de comunidades surdas no Brasil. É a linguagem natural dos surdos pelo fato de que,
quando um surdo se comunica através dela, não é limitado. Como é uma verdadeira língua,
ele pode falar de tudo e mais um pouco. Dessa forma, a aprendizagem de Libras possibilita às
crianças surdas, maior rapidez e naturalidade na exposição de seus sentimentos, desejos e
necessidades, desde a mais tenra idade. Possibilita a estruturação do pensamento e da
cognição e ainda a fluente interação social, e consequentemente, ativa o desenvolvimento da
linguagem. É muito importante, porém, que, seus pais tenham também condições de utilizar
semelhante recurso linguístico; Portanto, se os pais optarem pela aprendizagem e utilização de
duas línguas pelos filhos surdos, devem sugerir que se inclua no atendimento, um momento
lúdico de muita descontração, com um ou mais instrutores surdos, para que eles fiquem
expostos também a LIBRAS e possa adquiri-la de forma espontânea e natural.
CAPÍTULO II - A surdez, seus conceitos e pré-conceitos: uma revisão de literatura.
Para entrarmos no universo dos surdos, é preciso entender e conhecer o que é deficiência
auditiva. Em pesquisas informais realizadas por nós, em hospitais, é possível afirmar que,
pelo menos uma em cada mil crianças nasce com surdez profunda. Por outro lado, há aquelas
que desenvolvem problemas auditivos ao longo dos anos, por causa de doenças, acidentes,
etc. A deficiência auditiva é classificada como deficiência de transmissão: a alteração se
localiza no ouvido externo ou médio, como nos casos de perda condutiva ou problema do
nervo auditivo interno ou ouvido interno, afetando a transmissão do impulso ao cérebro, e
ainda como nos casos de perda neurosensorial. Há casos de perda mista, em que a alteração na
condução do som está localizada no ouvido externo e/ou médio e ouvido interno.
Na deficiência congênita podemos citar as seguintes causas: fatores genéticos, viroses
maternas (rubéola, sarampo), doenças tóxicas de gestantes (sífilis, citomegalovírus,
toxoplasmose, ingestão de medicamentos ototóxicos), que lesam o nervo auditivo. Já na
chamada deficiência adquirida, as causas estão relacionadas à predisposição genética
(otosclerose), quando ocorre meningite, ingestão excessiva de remédios, caxumba ou
sarampo, ou no decorrer da vida, causadas por infecções de ouvido, como exemplo a
hipoacusia neurosensorial. A deficiência, exceto em casos raros, afeta a comunicação que
representa a base para a interação social. O deficiente auditivo adquire linguagem interior ao
se relacionar à experiência que está vivenciando com a verbalização.
A deficiência auditiva é a diminuição da capacidade de percepção normal dos sons, portanto,
surdo é aquele indivíduo cuja audição não é funcional na vida comum e parcialmente surdo,
aquele que ainda que deficiente, é funcional. É preciso ficar clara a diferença entre surdez e
deficiência auditiva. De um lado, temos o conceito médico, limitando-se à questão de
quantificar a perda auditiva, utilizando o termo deficiente auditivo para se referir ao indivíduo
com falta de audição ou de algo que ele não, possui que o deixa “deficiente” (BRASIL, 1994).
Segundo Northem e Downs (1989), deficiência implica dano material, uma “desvantagem
imposta por um dano capaz de afetar a eficiência de uma pessoa nas atividades do cotidiano”.
Nesse sentido, podemos considerar um deficiente auditivo, aquele indivíduo que possui
perdas na audição, o que prejudica suas ações cotidianas e corriqueiras. Segundo Gotti (1992,
p. 25), o portador de deficiência auditiva é um ser social que necessita do convívio com as
crianças ouvintes e participa das atividades curriculares gerais da escola, (por exemplo, festas)
durante as quais deverá ser estimulado a cantar e a dançar com os demais colegas.
A inclusão que funciona valoriza as peculiaridades de cada aluno atendendo a todos, incorporando a diversidade sem nenhuma distinção, não para destacarem e receberem prêmios. Mas, para desenvolver suas habilidades, facilitar a socialização, ampliar a aprendizagem, construir seu conhecimento junto às escolas regulares e na comunidade. (SAAD, 2003, p. 179-180).
Nesse contexto, é possível afirmar que, a união entre surdos e ouvintes só traz benefícios,
respeitando as diferenças e limitações que cada um possui, é perfeitamente possível o
convívio entre essas duas formas de comunicação: Oral e Libras, e nada é mais estimulante do
que a arte para unir essas duas linguagens, e a música consegue vários benefícios, o que
veremos no item a seguir.
II.I - A surdez e a música
É preciso oferecer às crianças todas as possibilidades de desenvolver potenciais, seja para
falar, ouvir, cantar, habilidades práticas, facilitando o processo, principalmente, para aquelas
que nasceram com algum problema e que poderão ter bloqueios no seu desenvolvimento por
via natural.
É surpreendente como os portadores de necessidades especiais são capazes de realizar excelentes trabalhos, pois têm muita sensibilidade, habilidade e, sobretudo criatividade. (SAAD, 2003, p. 19).
Assim, quando essas pessoas são estimuladas e têm oportunidade de mostrar suas habilidades,
conseguem realizar vários projetos de vida e quando não é possível, a tendência ao isolamento
é um fator que, em geral, a criança com surdez apresenta, podendo dificultar seu
relacionamento com a família e com os amigos mais próximos.
A música mostra diversos significados e está presente desde a mais remota origem da
humanidade, como podemos citar os sons da natureza, como o canto dos pássaros, o barulho
da chuva, trovões, etc. Falar, ouvir e compor música, são possibilidades humanas que
proporcionam a alegria e o prazer aos encontros e essas situações não são diferentes para
quem tem algum tipo de limitação, já que se retira da melodia musical, as emoções, a voz, os
sentimentos, inerentes a qualquer pessoa.
Conforme Cal Coimbra (2003), pensar em música para surdos é um assunto muito polêmico e
os Estudos Surdos, que defendem uma cultura surda legítima (feita por e para surdo) dizem
que a música, entendida de acordo com a concepção ouvinte, não faz parte da cultura surda,
ou seja, os surdos não curtem a música da mesma maneira como os ouvintes a fazem, como
sentar-se em um sofá, depois de um dia cansativo, e colocar uma música clássica suave para
relaxar; Mas é fato que, a criança com surdez pode desenvolver habilidades para a música, o
que a auxilia no processo de desenvolvimento da comunicação oral.
Para a aprendizagem auditiva, a educação musical dessas crianças é feita com o uso de
aparelhos de amplificação sonora (AASI). Em decorrência da falta de controle auditivo, seus
movimentos são descoordenados, precisando melhorar as atividades corporais, tornando-as
mais rítmicas e suaves. As vibrações sonoras captadas pelo tato são importantes para elas
perceberem os sons da fala. Os exercícios com o corpo auxiliam a percepção auditiva,
propiciando a aquisição linguística. Algumas atividades em grupo, com instrumentos
musicais, associadas a movimentos rítmicos corporais, como balancear o corpo, tocar palmas,
sapatear, são indicadas e necessitam de treinamento constante. Dessa maneira, a criança vai
sentindo melhor as vibrações por todo seu corpo, chegando mais facilmente ao som. O corpo
é fundamental no processo de comunicação pelos gestos, mímicas, olhares firmes e o ritmo
musical que são essenciais para sensibilizá-la para o ritmo da fala, propiciando a melodia, que
é o “existir” da música e da palavra. Segundo Snyders (1992, p. 131), com a educação
musical sendo incorporada às escolas, também os novos métodos que estavam sendo
disseminados na Europa foram adotados. Então, o ensino de música passa a ter outro enfoque
e a ser entendido, tocado, dançado e cantado, usando jogos, instrumentos de percussão, rodas
e brincadeiras buscando um desenvolvimento auditivo, rítmico e a expressão corporal e a
socialização das crianças foram estimuladas a experimentar, improvisar e criar. Assim,
podemos afirmar que, o aluno portador de Necessidades Educativas Especiais, está
alcançando o seu espaço na escola e em se tratando da música os professores vem criando
métodos de ensino para que os mesmos possam se aperfeiçoar.
Para que a aprendizagem da música possa ser fundamental na formação de cidadão é necessário que todos tenham a oportunidade de participar ativamente como ouvintes, intérpretes, compositores e improvisadores, dentro e fora da sala de aula. Envolvendo pessoas de fora da sala, no enriquecimento de ensino e promovendo a interação com os grupos musicais e artísticos, as localidades, e a escola contribuem também para que os alunos se tornem ouvintes sensíveis, amadores, talentosos ou músicos profissionais. (BRASIL, 1996, p. 06).
Portanto, é na escola que surge uma grande porta para o desenvolvimento musical dos surdos,
basta que o educador propicie um ambiente rico na diversidade de materiais e estimule a
criança a manuseá-los constantemente, mas em atividades significativas. A educação musical
contribui não só para o desenvolvimento intelectual, perceptivo e motor da criança, como
também para o conhecimento de si próprio; Os surdos sentem a vibração sonora e com isso
conseguem desenvolver o potencial expressivo musical que está em sua alma. Com isso, é
possível notar que as crianças que se alfabetizam juntamente com a educação musical,
respeitando sua realidade, obtêm resultados intelecto-sensoriais mais satisfatórios, além de um
desenvolvimento emocional mais estável.
Segundo a professora Sarita Araújo (2001, p. 01), os surdos possuem uma grande capacidade
e dentro da educação musical é perfeitamente possível que eles consigam se expressar pela
música, pois a única coisa que os difere das demais pessoas é o fato de não ouvirem. Mas é
preciso um cuidado maior, visto que, a música quando aplicada a um portador de deficiência
auditiva, requer atenção e responsabilidade por parte do profissional que irá atuar com eles.
Vários são os objetivos que devem ser levados em conta, em se tratando de educação musical
para surdos e/ou deficiente auditivo, dentre eles, está o estímulo à sua autoconfiança que é
muito abalada, pois ele mesmo desconhece seu potencial, o apoio à socialização pela
convivência, pois na maioria das vezes, o surdo não tem com quem conversar, inclusive em
casa; A sensibilidade dos alunos surdos é trabalhada o tempo todo, fazendo com que se
conheçam melhor; O trabalho com a família desse aluno, facilita o processo educativo e deve
ser constante para que o mesmo adquira confiança em si mesmo e nas pessoas com quem
convive. A professora ressalta ainda que, ao se explorar as potencialidades de quem não pode
ouvir o som de uma música, não devemos esquecer das sensações que nascem das
informações recebidas pelas vias não auditivas, ou seja, as vibrações sentidas no corpo,
dependendo da sensibilidade desenvolvida por cada discente especial, pois esta é uma
característica individual. As informações transmitidas ao cérebro dos surdos se adaptam para
o “sentir” a música, permitem a percepção de ritmo e suas variações, portanto há uma relação
entre música e o corpo, em que o deficiente auditivo é levado a entender e dominar o que
“ouve” com seus sentidos remanescentes, aprendendo a estabelecer um tempo, mantê-lo e
variá-lo (...). A avaliação de aprendizagem do aluno surdo é ponto merecedor de profunda
reflexão. Nesse processo temos que estar conscientes de que o mais importante é que os
alunos consigam aplicar os conhecimentos adquiridos em seu dia-a-dia, de forma que esses
possibilitem uma existência de qualidade.
Acreditamos que esta seja uma proposta muito responsável e dedicada a um futuro mais
verdadeiro, não só para os surdos, mas para todos os que estão ao seu redor; Em relação à
aprendizagem, é notório que a valorização das diferenças e o incentivo a autoestima através
da educação musical, traz certa tranquilidade para o deficiente auditivo e sua família.
Para verificarmos como este processo inclusivo nas escolas regulares e de música de
Uberlândia/MG está sendo encarado, realizamos uma pesquisa de campo que será apresentada
no próximo capítulo.
CAPÍTULO III - O processo inclusivo do deficiente auditivo no ensino regular:
contribuições da educação musical
Nesse capítulo, abordamos os seguintes questionamentos: A Relação Pais/Filhos e a Surdez;
O Trabalho do Intérprete com a Criança Surda A Música e a Criança Surda; O Ensino Regular
e a Criança Surda; O Deficiente Auditivo e a Infância; O Deficiente Auditivo e o Ensino
Regular. O presente estudo tem como proposta a realização da análise dos dados coletados
através de uma pesquisa de campo, num enfoque qualitativo, adotando um questionário com
perguntas abertas que contemplam as informações sobre o deficiente auditivo, a prática
pedagógica e as metodologias utilizadas por professores de uma escola regular, do
conservatório de música, intérpretes de Libras, professores de música e familiares, que
favorecem o processo de educação do deficiente auditivo e, também, como agem seus
familiares diante dos desafios diários enfrentados por eles.
A pesquisa foi direcionada a três escolas municipais e uma estadual, da cidade de
Uberlândia/MG. Para sua realização, foram enviados oito questionários (em anexo), que
foram divididos da seguinte forma: dois questionários para as mães, dois para as professoras
do ensino regular, dois para as professoras de música, dois para os intérpretes de língua de
sinais (Libras) e dois para os alunos surdos. No entanto, uma professora do ensino regular e
um dos intérpretes, não conseguiram responder a tempo e um dos alunos surdos, não
consegue responder. Por isso, realizamos com eles, um diário de bordo, em que observamos
seu cotidiano escolar e analisamos mais a fundo, com base nas questões do questionário.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma das grandes preocupações nossa era no fato de verificarem-se as mudanças ocorridas na
trajetória dos deficientes auditivos no Brasil e as necessidades básicas de aprendizagem dos
alunos (com a qualificação dos profissionais de educação), seja na elaboração do projeto
político pedagógico da escola, ou no oferecimento dos serviços de apoio especializado, são
questionamentos que pontuaram o nosso estudo, estimulado inúmeras reflexões.
Ao final dos estudos realizados para a construção da monografia, ao darmos continuidade aos
estudos até os dias de hoje, constatamos mais uma vez, que muito se discute, muito se debate,
mas a efetiva proposta de mudanças, ainda é bem remota. Inclusão, Integração, Alfabetização,
Libras X Fonoaudiólogos, Música, Deficiente ou Surdo, essas são alguns contextos que
precisam urgentemente serem entendidos e compreendidos. Entende-se que a inclusão dentro
das escolas é uma tendência internacional deste século. É considerada escola inclusiva, aquela
que abre espaço para todas as crianças, abrangendo aquelas com necessidades educativas
especiais. Na qual a escola em conjunto com seu corpo docente e de apoio, se adequar às
necessidades destas crianças, para que sejam inseridas na instituição sem maiores problemas.
Apesar de debates, palestras, congressos, declarações e até mesmo as leis, pouco se fez até
agora. É necessário que sai dos papéis, palavras, para criar “vida” e deixar de ser apenas
promessas.
A construção de uma Educação Escolar inclusiva democrática para os indivíduos surdos não
se concretizará se não fizer parte integrante dos processos de democratização da escola em
geral, no sentido da construção de uma educação verdadeiramente inclusiva, que possibilitem
a todos os alunos a sua formação integral e acesso ao exercício da cidadania. Assim, do ponto
de vista do estabelecimento de relações sociais significativas, que permitam a construção
efetiva de sujeitos participantes; cabem as escolas a nível geral ultrapassarem a visão que
reduz os problemas de escolarização dos surdos ao uso deste ou daquele recurso e de
ampliá-lo para campo sociopolítico.
Os obstáculos desse processo são inúmeros, mas podem ser vencidos, basta que para isso,
encontrem profissionais dispostos a enfrentar tais obstáculos, fazendo que esses, sejam
degraus para escalada rumo ao conhecimento. Nesse curto espaço de tempo, pudemos
perceber que o papel do educador é de extrema importância, tanto na esfera educacional,
quanto na emocional e a música nesse contexto traz uma sensibilidade à vida dessas crianças
o que contribui para seu desenvolvimento cognitivo. Segundo uma professora do coral em
Libras, ao considerar o sujeito Surdo como um indivíduo detentor da musicalidade, a música
torna-se mais uma estratégia metodológica no processo ensino-aprendizagem. Através da
vivência do aluno e sua percepção, pode-se alcançar resultados satisfatórios de forma
prazerosa e lúdica, sem tornar o ensino da Língua Portuguesa um fardo.
Não podemos deixar de nos referir a política educacional, pois ela depende da universalização
e o acesso de todo e qualquer individuo deficiente (entre eles os surdos) a uma escola de
qualidade que contribua de forma efetiva, para sua inserção critico e participativa no meio
social. No geral torna-se ainda mais forte o fator “descriminação” em nossa sociedade,
principalmente no que se refere ao portador de necessidade especial. A avaliação em relação à
inclusão do portador de necessidade especial na rede regular de ensino é positiva, embora haja
ainda um longo trajeto a percorrer. Há várias metas ainda a serem executadas, a principal é
conseguir que todos os cursos de formação profissional dêem aos professores condições de
atuar adequadamente com a diversidade humana, sem preconceitos, propiciando uma
verdadeira sociedade inclusiva. É necessário que a comunidade escolar tenha um diagnostico
da realidade social econômica e política em que viveu e vive a fim de que reconheça as
diferenças étnicas, sociais, religiosas, políticas, sexuais, e, portanto, individuais na qual está
interagindo. Tal atitude é fundamental que ao confrontarmos conhecimentos reorganizarmos
nossa estrutura intelectual e psíquica esteja aptos para trabalhar com as inúmeras redes de
subjetividades os sujeitos, presentes na escola.
Além disso, as atividades psicomotoras auxiliam o aluno no desenvolvimento cognitivo e
social, aprimorando também sua expressão corporal e facial, essenciais para uma boa
interpretação em LIBRAS.
Esse é mais um ponto a ser levado em conta, a música ajuda também na aquisição ou
aperfeiçoamento da Língua Portuguesa pelos surdos e esse ponto será mais explorado em
outra oportunidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Secretaria de Educação Especial. Deficiência auditiva/ organizado por Guiseppe
Rinaldi et al. – Brasília: SEESP, 1997. Vol. I (série Atualidades Pedagógicas; n.4).
BRASIL, Código de ética do Regimento Interno do Departamento Nacional de Intérpretes
– FENEIS, 2003.
BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria da Educação Especial – Anais do
Seminário Surdez: Desafios para o próximo Milênio. (organização) INES, Divisão de
Estudos e Pesquisas. Rio de Janeiro, 2000.
CARDOSO, Rosseni Silvado. Anais do Congresso. Rio de Janeiro: INES, 2003.
CERVELLINI, N.G.H. A criança deficiente auditiva e suas reações à música. São Paulo. Ed
Moraes, 1996
GONÇALVES, D. B.; OLIVEIRA, M. R. Termos Musicais em Língua de Sinais-LIBRAS.
Uberlândia, Pessália, 2011.
GOTTI, M. O. Português para deficiente auditivo. Brasília: UNB, 1992, 144 p.
MANTOAN, Maria Tereza. Compreendendo a deficiência Mental. São Paulo: Scipione,
1989.
SACKS, Oliver. Vendo Vozes: Uma jornada pelo mundo dos surdos. Rio de janeiro: imago,
1990.
SOUZA, Regina M. Que palavra que te falta? O que o surdo e sua linguagem de sinais têm a dizer à Linguística e à Educação. Tese de Doutorado apresentada no Instituto de Estudos da Linguagem. Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, 1996
SNYDERS, Georges. A escola pode ensinar as alegrias da música? São Paulo. Cortez, 1992.
ANEXOS
ANEXO A.1 - QUESTIONÁRIO PARA O ALUNO DEFICIENTE AUDITIVO EM
PORTUGUÊS
I – A inclusão do deficiente auditivo no ensino regular
1 - Desde quando você frequenta o ensino regular? Você precisou receber algum tipo de atendimento
especializado antes de ingressar na escola?
2 - Como foi o seu ingresso no ensino regular? Comente sobre sua adaptação à escola e a adaptação da
escola a você.
3 – O que a escola representa em sua vida?
4 - Você acompanha as atividades que são realizadas na sua sala de aula? Se sim, como faz? Se não,
por quê?
5 - Na escola que freqüenta tem intérprete? Se sim, ele colabora com seu aprendizado? Se não, você
considera importante a escola ter um?
6 - Você considera importante o uso de língua de sinais (LIBRAS) para se comunicar com as demais
pessoas? Explique sua resposta.
7 - Você já sentiu algum preconceito na escola por parte de seus colegas e professores? Como é seu
relacionamento com eles?
8 - Seus pais/responsáveis acompanham seu desenvolvimento na escola? Se não, por quê? Se sim,
como?
9 – Como é pra você, mesmo sem ouvir, fazer aulas de música? O que mudou na sua vida, foi bom ou
não, comente.
10 – O que a música significa pra você?
11 - O que você gostaria de dizer para os professores que têm alunos (as) com necessidades especiais
auditivas?
12 – O que você acha que poderia mudar tanto nas aulas regulares da escola, como nas aulas de
música?
ANEXO A.2 - QUESTIONÁRIO PARA O PROFESSOR (A) DO ALUNO (A) COM
DEFICIÊNCIA AUDITIVA
I – A inclusão do deficiente auditivo no ensino regular
1 - Para você, o que é deficiência auditiva/ surdez?2 – Como foi pra você saber que iria trabalhar com crianças especiais? Qual foi a sua reação?3 - Você já trabalhou ou trabalha com crianças surdas? Se sim, como foi o trabalho realizado com ela? Comente sua resposta.4 - Quais metodologias você recomendaria para o trabalho com o aluno com deficiência auditiva e/ou surdez? Comente-as.5 - Você considera a surdez como único fator que interfere na aprendizagem matemática do aluno? Justifique sua resposta.6 - Para você, como a família pode ajudar no processo de aprendizagem da criança com surdez?7 - Você acredita ser esta dificuldade de aprendizagem um fator que influencia na formação profissional da criança?8 - Em qual idade se torna perceptível a surdez na criança? Você conseguiria identificar essa deficiência? Comente sua resposta.9 - Em sua opinião, como a escola pode ajudar o aluno surdo em seu desenvolvimento?10 – Como a música pode contribuir para a aquisição o conhecimento pela criança com surdez? (Sugestão).
ANEXO A.3 - QUESTIONÁRIO PARA A FAMÍLIA/RESPONSÁVEL
I – Dados Pessoais:
1 - Responsável: ........................................................................................................................................
2 - Grau de parentesco: _____________________________________________________________
3 - Idade: ________________________________________________________________________
4 - Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
5 - Estado Civil: ( ) Casado(a) ( ) Solteiro(a) ( ) Separado(a) ( ) Outro. Qual?
______________
6 – Filhos: ( ) Não ( ) Sim Quantos? ___________________________________________
II – A inclusão do deficiente auditivo no ensino regular
1- Desde quando seu (sua) filho (a) frequenta o ensino regular? Ele (a) precisou receber algum tipo
de atendimento especializado antes de ingressar na escola?
2- Como foi o ingresso de seu (sua) filho deficiente auditivo no ensino regular? Comente sobre a
adaptação dele à escola e a adaptação da escola a ele.
3- Para você, seu (sua) filho (a) tem um bom acompanhamento das atividades na sala de aula que
frequenta ou ele (a) precisa do ensino especializado?
4- Você considera importante o uso de língua de sinais (Libras) para se comunicar com seu (sua)
filho (a)? Explique sua resposta.
5- Você já encontrou algum preconceito na escola onde seu (sua) filho (a) estuda ou estudou? Qual
foi sua reação?
6- Você acompanha a aprendizagem de seu (sua) filho (a) na escola? Se não, por quê? Se sim, como?
7- O que você gostaria de dizer para os profissionais da educação que trabalham com as crianças com
necessidades especiais auditivas?
8- O que você gostaria de dizer para os pais que têm filhos com necessidades especiais auditivas?
ANEXO A.3 - QUESTIONÁRIO PARA O ALUNO DEFICIENTE AUDITIVO EM
PORTUGUÊS
I – Dados Pessoais:
1 - Idade: _____________________________________________________________________
2 - Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
3 - Série em que estuda: __________________ 4 - Turno(s) em que estuda: _______________
5 - Irmãos: ( ) Não ( ) Sim Quantos? ______________________________________
6 - Mora com: _________________________________________________________________
II – Como foi sua infância, o que você lembra dela.
1 – O que você entende sobre sua deficiência?
2 – Como foi pra você, quando entendeu que não poderia ouvir como as outras crianças?
3 – Você teve o apoio que precisava e quem foram as pessoas que mais te ajudaram?
4 – Você lembra-se da 1ª escolinha que frequentou? Comente sobre ela.
5 – Você já foi discriminado (a) alguma vez? Quando? Como?
6 – Como foi pra você o 1º contato com as letras e o português?
7 – E com a Libras, como foi seu 1º contato?
8 – Como foi pra você a mudança do ensino especializado para o ensino regular?
9 – E com a música, como você a conheceu?
10 – Você tem lembrança de ouvir ou sentir música quando bebê. Sua mãe cantava pra você, consegue
lembrar algum som ou alguma canção?
ANEXO A.4 - QUESTIONÁRIO PARA O (A) INTÉRPRETE DE LIBRAS
I – A inclusão do deficiente auditivo no ensino regular
1 - Para você, o que é deficiência auditiva/ surdez?2 – Como foi pra você saber que iria trabalhar com crianças especiais? Você sempre quis ser intérprete? Como foi isso?
3 – Qual é a sua formação e como foi esse processo de formação?4 - Você já trabalhou ou trabalha com crianças surdas? Se sim, como foi o trabalho realizado com ela? Comente sua resposta.5 – Você enquanto intérprete considera favorável seu ambiente de trabalho?6 – Como é a sua relação com o professor regente em sala de aula? 7 - Quais metodologias você recomendaria para o trabalho com o aluno com deficiência auditiva e/ou surdez? Comente-as. Você e o professor regente discutem essas metodologias?8 - Você considera a surdez como único fator que interfere na aprendizagem matemática do aluno? Justifique sua resposta.9 - Para você, como a família pode ajudar no processo de aprendizagem da criança com surdez?10 - Você acredita ser a dificuldade de aprendizagem um fator que influencia na formação profissional da criança?11 – Com relação à música, qual a sua opinião, ela ajuda ou é insignificante no processo de construção do conhecimento? 12 - Em sua opinião, como a música pode ajudar o aluno surdo em seu desenvolvimento?13 – Após o contato com a música o aluno surdo se desenvolve melhor nas atividades diárias da escola? Comente sua resposta.
ANEXO A.5 - QUESTIONÁRIO PARA O PROFESSOR (A) DE MÚSICA DO ALUNO (A)
COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
I – A inclusão do deficiente auditivo no Conservatório de Música Cora Pavan Capparelli
1 - Para você, o que é deficiência auditiva/ surdez?2 – Como foi pra você saber que iria trabalhar com crianças especiais? Qual foi a sua reação?3 - Você já trabalhou ou trabalha com crianças surdas? Se sim, como foi o trabalho realizado com ela? Comente sua resposta.4 - Quais metodologias você recomendaria para o trabalho com o aluno com deficiência auditiva e/ou surdez? Comente-as.5 - Você considera a surdez um fator que interfere na aprendizagem de seus alunos, no que diz respeito à música? Justifique sua resposta.6 - Para você, como a família pode ajudar no processo de aprendizagem da criança com surdez?7 - Você acredita ser esta dificuldade de aprendizagem um fator que influencia na formação profissional da criança?8 - Em qual idade se torna perceptível a surdez na criança? Você conseguiria identificar essa deficiência? Comente sua resposta.9 - Em sua opinião, como a escola pode ajudar o aluno surdo em seu desenvolvimento?10 – Como a música pode contribuir para a aquisição o conhecimento pela criança com surdez? (Sugestão).
ANEXO A.6 - QUESTIONÁRIO PARA O ALUNO DEFICIENTE AUDITIVO EM LIBRAS
I – Dados Pessoais:
1 - Idade: _____________________________________________________________________
2 - Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino
3 - Série qual: __________________ 4 - Hora qual: _______________
5 - Irmãos: ( ) Não ( ) Sim Quantos? ______________________________________
6 - Morar junto: _________________________________________________________________
I – A inclusão do deficiente auditivo no ensino regular
1 – Perguntar: Escola surdo junto ouvinte bom? Gostar?
2 – Perguntar: Escola sua gostar?
3 – Perguntar: Brasil grupo surdo sofrer discriminar sempre? Como você sentir?
4 – Perguntar: Você conseguir aprender aula junto ouvinte? Difícil ou fácil?
5 – Perguntar: Intérprete escola ter? Importante?
6 – Perguntar: Libras importante? Como?
7 – Perguntar: Mamãe ou papai ajudar você escola sua?
8 – Perguntar: Música estudar bom? Importante por quê?
9 – Perguntar: Você falar algum coisa professora sua?
10 – Perguntar: Escola sua precisar mudar algum coisa? O que?
II – Você lembrar você criança
1 – Perguntar: Surdez você entender o que?
2 – Perguntar: Mamãe explicar você não pode ouvir você sentir como?
3 – Perguntar: Ajudar você muito quem?
4 – Perguntar: Primeira escola sua você Lembrar?
5 – Perguntar: Você sentir abandonar. Quando. Como?
6 – Perguntar: Você conhecer português, letras Como? Gostar
7 – Perguntar: Você conhecer libras Como? Gostar
8 – Perguntar: Aluno surdo junto aluno ouvinte você gostar? Por quê?
9 – Perguntar: Música conhecer? Como gostar?
10 – Perguntar: Criança mamãe cantar música, você lembrar?
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