Museu da Santa Casa de Misericórdia da Vila da Ericeira
A “Monumental” da Ericeira
Por João Pedro da Silva Henriques Gil
Uma particularidade notável caracteriza a chamada comunidade banhista que regular e
habitualmente escolhia a Ericeira para destino de veraneio desde meados do século XIX.
Pertencente a uma nova aristocracia emergente ou a uma burguesia patrimonialmente
importante, nada impedia a que, em todos os verões, todos se unissem em esforços com um
objectivo comum e bem determinado: - a ajuda aos pobres e carenciados da vila. Juntos ao
pároco ou a instituições de solidariedade social como a Santa Casa de Misericórdia,
delineavam-se projectos, definiam-se estratégias colocando-se no terreno acções e eventos
que conduziam á recolha dos fundos, desesperadamente, necessários. Para qualquer acção,
por pequena que fosse, juntavam-se de imediato os nomes mais sonantes agregados nessa
fantástica vontade tradicional de fazer o Bem.
Também a tradição tauromáquica da Ericeira foi durante décadas aproveitada para o mesmo
fim. Instalada em 1909 junto ao dito Parque das Águas de Santa Marta, a “monumental” praça
de touros da Vila ergueu-se em varedo, de madeira junto aos terrenos do Dr. João Henrique
Ulrich e da família Castro Pereira inaugurando-se numa corrida noturna na noite de 5 de
Setembro daquele ano. Várias se lhe seguiram, durante quase trinta anos, e todas para grande
alegria da “afición” e da generalidade do povo da Ericeira
A intensa actividade e o contacto permanente com a maresia, ditaram-lhe obras de restauro
imposto pela Inspecção Geral dos Teatros, pela degradação atingida em 1925, e o seu
posterior encerramento, tornado definitivo no final da década de 40.
Pela mão do grande aficionado, cavaleiro e toureiro José Canas da Malveira, será construída
uma nova praça junto à Estrada Nacional no lugar dos Pocinhos que terá um dos seus pontos
mais altos a corrida em beneficência da Santa Casa de Misericórdia dirigida pelo senhor D.
António de Bragança.
Assim era e se propagavam as obras de caridade social registadas desde 1890! Teatros, récitas,
saraus de poesia e musicais, corridas de touros, garraiadas e vacadas, filmes (1929) e as
celebérrimas Revistas da Ericeira dos anos 50 e 60.
Muito se deve a muitos banhistas, mas há alguém que deles sobressai e se releva na
concepção na direcção, e no acompanhamento daqueles eventos. Presença constante,
simpatia permanente e contagiante, D. António José Manuel de Bragança (1895-1964) filho de
D. José Bernardino de Bragança e Ligne de Portugal e Castro Álvares Pereira de Melo e de D.
Sofia Ribeiro da Silva, foi casado com a Exmª Senhora D. Ana do Carmo Zarco da Câmara de
quem descende ilustre geração ainda e sempre presenta na Ericeira.
Santa Casa de Misericórdia da Vila da Ericeira, 30 de Setembro de 2012.
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