A menina Inezita Barroso
Assis Ângelo
Ciro FernandesIlustrações
O que você vai ler neste livro é uma história muito bonita, bacana mesmo, de uma menina linda e sapeca chamada Zitinha, que o tempo fez mulher e uma
das mais completas intérpretes da música brasileira: Inezita Barroso.Mas, antes de conhecer a trajetória dessa menina, filha de dona Inez e seu Olyntho,
você vai saber um pouco sobre a quinta maior cidade do mundo: São Paulo.Os nossos guias nessa viagem são o jornalista e estudioso da cultura popular Assis
Ângelo e um dos maiores xilogravadores do Brasil, Ciro Fernandes.O ponto de partida da nossa história é o ano de 1925.
Leia e conte pra todo mundo sobre a beleza que é este livro.
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O Brasil tem muita genteA começar pelo SudesteDesde Inezita BarrosoE até cabra da pesteTem causos de TrancosoRevividos no Nordeste Cantar o que se cantaÉ uma coisa bem bonitaQue nos faz acreditarNa riqueza infinitaDeste Brasil brasileiroDa talentosa Inezita Viva Inezita BarrosoEssa grande brasileiraQue por si própria se fezUma rainha violeiraA cantar as coisas nossasTal e qual uma guerreira
Assis Ângelo
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São Paulo, março de 1925.
Carnaval, corso.
esfile em carro aberto na Avenida Paulista,
com direito a confetes e serpentinas.
Os pobres não participavam de corsos por não
terem automóveis, e por isso se divertiam como podiam:
pulando em grupos chamados de “cordões”, formados, basicamente, por amigos e familiares.
Um desses cordões, o do Bairro da Barra Funda,
criado pelo negro descendente de escravos Dionísio
Barbosa, daria origem à Associação Cultural Sociedade
Escola de Samba Mocidade Camisa Verde e Branco.
No Rio de Janeiro, a capital do País, se realizava o primeiro
concurso de sambas e marchinhas no Teatro São Pedro.
Paralelamente a isso, a incipiente indústria fonográ-
fica se preparava para pôr fim a sua fase mecânica – e de
chiados – dos discos de 76 voltas por minuto (VPM). Com
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o advento da fase elétrica, em 1927, esses discos seriam
substituídos pelos discos de 78 rotações por minuto
(RPM), chamados de “bolachões”.
A moeda vigente no País era o Réis; e o progresso, apenas
um menino de pernas curtas com dificuldade de chegar a
São Paulo, cidade habitada por cerca de 700 mil pessoas.
Havia telefones de três e quatro dígitos para uns,
água encanada e energia elétrica para uns e outros; circos,
teatros e duas dúzias de salas de cinema instaladas em
pontos diversos da cidade ainda longe de ser metrópole.
Era um tempo difícil, diferente, sem as aparentes
facilidades que a vida moderna oferece.
Para telefonar não era como hoje, pois se dependia de uma central onde telefonistas esforçadas completavam ligações após solicitação dos interessados, que quase
sempre amargavam uma longa espera.
Para chegar aos bairros fora do Centro, as pessoas sua-
vam e a razão disso eram os meios de locomoção, precários.
A zona norte ficava no fim do mundo.
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O Brás, na parte leste, e a Barra Funda, na oeste,
eram redutos de operários, como a Mooca e o Cambuci,
arrasados por bombardeios federais durante a chamada
Revolução de 1924, que tinha por alvo a derrubada do
presidente da República Artur Bernardes, mas essa é
outra história.
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O ponto comum que ligava o Brás, a Barra Funda, a
Mooca e o Cambuci, entre outros bairros, era, simplesmente,
a distância. Em suma, a vida em São Paulo no ano de 1925
era: o lugar da gente próspera ficava longe do lugar da
gente pobre.
Os ricos habitavam a região chamada Jardins e não
gostavam do fato de existirem no Brás as melhores salas
de cinema da cidade.
Os pobres moravam onde o vento faz a curva: nos
sítios, nos arrabaldes de pouca ou nenhuma infraestrutura,
como Itaquera, Penha e Lapa.
No Largo do Paissandu, centro da cidade, havia o
Cine Paissandu; e na Praça da República havia o Cine
República, bem frequentados pela elite.
Tinha também o circo do palhaço Piolin, que tremia
em choros e gargalhadas da trupe dos modernistas de 22.
Modernistas eram intelectuais e artistas que
participaram da Semana de Arte Moderna, ou Semana
de 22, organizada pelo misto de empresário e poeta Paulo
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Prado e realizada sob uma intensa chuva de vaias em
fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo.
Da tumultuada Semana participaram, entre outros,
o escultor Victor Brecheret, o pintor Di Cavalcanti, a
pintora Tarsila do Amaral, o poeta Menotti Del Picchia e o
irreverente Oswald de Andrade, musicólogo, poeta
e romancista nascido nas proximidades da Praça
Dom José de Barros e Avenida Ipiranga, na região
central da capital.
Piolin, de batismo Abelardo Pinto, era xodó de gente simples
e importante, tanto que, de tão querido,
chegou a ser elogiado em crônica até pelo
pai do anti-herói Macunaíma, Mário de
Andrade; e em sua homenagem foi instituído,
em 1973, o Dia do Circo: 27 de março.
O antimodernista Monteiro Lobato,
criador do Sítio do Picapau Amarelo e
da boneca Emília, da menina Narizinho
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e do menino Pedrinho e do mal-amanhado Jeca Tatu,
o Tatuzinho, não gostou nem um pouco do que viu, por
considerar extravagantes as ideias de 22.
O criador do Sítio e da frase “Um país se faz com homens e livros” detestava a pintura multicolorida de Anita Malfatti e as esculturas de Brecheret. Mas dedo
em riste, professoral, ele justificava seu olhar crítico sob
as sobrancelhas que lhe realçavam o rosto, dizendo:
– A arte tem de ser simples e de estar perto do povo.
Brecheret, um ítalo-brasileiro silencioso nos gestos
e barulhento nas ações, com obras espalhadas na cidade
desde os inícios do século XX, atendia perfeitamente
a esse requisito, mas o pai de Emília, turrão até nos
momentos mais descontraídos, torcia o nariz e detonava
crítica ferina na sua direção: a matriz é estrangeira e se
acha longe do povo.
E pronto!
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O que você vai ler neste livro é uma história muito bonita, bacana mesmo, de uma menina linda e sapeca chamada Zitinha, que o tempo fez mulher e uma
das mais completas intérpretes da música brasileira: Inezita Barroso.Mas, antes de conhecer a trajetória dessa menina, filha de dona Inez e seu Olyntho,
você vai saber um pouco sobre a quinta maior cidade do mundo: São Paulo.Os nossos guias nessa viagem são o jornalista e estudioso da cultura popular Assis
Ângelo e um dos maiores xilogravadores do Brasil, Ciro Fernandes.O ponto de partida da nossa história é o ano de 1925.
Leia e conte pra todo mundo sobre a beleza que é este livro.
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