A manipulação de tecidos moles na obtenção
de sucesso nos tratamentos dentários"Seja por motivos de saúde períodontal, por razões estéticas ou quando se efectua uma reabilitação, existem vários procedimentos que poderemos
efectuar de modo a atingir os resultados pretendidos". Artigo da equipa da GSD Academy.
A chave para um sorriso saudável, estético e fun-
cional não se restringe à restauração de peças
dentárias. Ao longo dos últimos anos, tem sido
dada uma maior ênfase aos tecidos de suporte que ro-
deiam os dentes, incluindo o osso alveolar e o tecido
muco-gengival.
Em zonas estéticas, vários requisitos devem ser tidos em
conta no que respeita aos tecidos moles: uma linha gen-
gival com contornos harmoniosos, harmonia nos com-
primentos coronários, sem alterações bruscas entre den-
tes adjacentes, mucosa vestibular convexa com espessura
suficiente e papilas bem visíveis 1.
Para atingir os resultados pretendidos, por vezes, é ne-
cessário recorrer à manipulação de tecidos moles, que
podemos designar de terapia muco-gengival. Este termo
é utilizado para descrever tratamentos cirúrgicos e não
cirúrgicos que visam a correcção de defeitos na morfolo-
gia, posição e/ou o aumento do tecido mole, bem como
do tecido ósseo subjacente, em torno de dentes ou im-
plantes 2.
Hoje em dia, a manipulação dos tecidos moles é uma
abordagem terapêutica adjuvante a qualquer área de in-
tervenção dentária. Seja por motivos de saúde periodon-
tal, por razões estéticas ou quando se efectua uma rea-
bilitação, existem vários procedimentos que poderemos
efectuar de modo a atingir os resultados pretendidos.
Aumento gengival
O médico dentista é muitas vezes confrontado com a ne-
cessidade de um aumento de espessura gengival. Apesarda espessura diminuída de gengiva, por si só, não ser
uma indicação válida para uma intervenção cirúrgica,
aquela deve ser considerada em situações de desconfor-
to, causada pela escovagem ou mastigação. Estas situa-
ções ocorrem, normalmente, devido a recessões gengi-
vais, associadas a vários factores como: trauma, lesões
inflamatórias, doença periodontal ou mesmo tratamen-
tos ortodônticos 3.
No entanto, nalguns casos, independentemente de exis-
tir saúde periodontal, pode existir uma necessidade esté-
tica de aumento da espessura gengival, quer em torno de
implantes, quer em torno de dentes naturais.
Dois casos distintos de aumento de volume gengival es-
tão ilustrados nas imagens que se seguem (Figuras 1 a 8
e Figuras 9 a 14).
Recobrimento radicularOs principais factores enológicos da recessão gengival
são a inflamação periodontal e o trauma causado poruma escovagem demasiado vigorosa 3
, verificando-se
também uma associação com o mau posicionamento
dentário, deiscência de osso alveolar e inserções mus-
culares altas 2.
Os procedimentos para o recobrimento radicular estão
indicados em caso de necessidades estéticas; hípersen-sibilidade radicular; tratamento de cáries radiculares e
abrasões cervicais; alteração da topografia do tecido mar-
ginal para fins de controlo de placa bacteriana (Figuras15 a 20).
Reconstrução da papila
A perda de papila interdentária pode estar associada a cau-
sas absolutas ou relativas. Como causas absolutas temos a
doença periodontal, terapia cirúrgica e exodontia traumá-
tica. São causas relativas da perda de papila interdentária
o biótipo gengival (e.g. fino ou espesso), o aumento da
ameia dentária devido a divergência radicular, altura ver-
tical e horizontal da crista óssea alveolar '.
A presença da papila interdentária é um factor crucial,
não só porque esta actua como barreira biológica paraa proteção dos tecidos periodontais, como também de-
sempenha um papel determinante em termos estéticos 1
particularmente na região anterior.
Alongamento coronário
No planeamento de qualquer restauração, o médico den-
tista deve sempre ter em consideração a preservação do
espaço livre biológico. O espaço livre biológico, em den-
tes naturais, pode ser definido como a distância entre a
porção apical do sulco gengival e a crista do osso alveolar 1
.
A sua dimensão varia entre os 1,91-2,04 mm em dentes
naturais, e 3,08 mm em implantes 1
.
De modo a que este espaço seja respeitado, é aconse-
lhado que se adicione lmm coronalmente à junção
dento-gengival de 2mm, alcançando-se assim a distân-
cia considerada óptima entre a crista óssea e a margemdessa mesma restauração. Assim, esta adição de lmm ao
espaço biológico estabelece uma dimensão mínima de
3mm coronalmente à crista alveolar, que é necessária pa-
ra permitir uma correcta cicatrização e uma restauração
adequada do dente. Assim, o risco de perda de ligamento
periodontal induzido pelas margens de restauração sub-
-gengivais é reduzido 4. Um aumento da coroa clínica
torna-se por vezes necessário para que este espaço possa
ser preservado.
Existem também razões estéticas que nos podem levar
a optar pelo alongamento coronário; por exemplo, em
caso de uma erupção passiva atrasada pode ocorrer uma
exposição excessiva de gengiva 4.
Figura 3: Local dador exposto cirurgicamente. Note-se
a espessura do retalho muco-periósteo
Figura 4: Local receptor
Figura 5:
Local
receptor
exposto
Figura 6:
Colocaçãodo enxertode tecido
conjuntivono local
receptor
Figura 7:
Local
receptorsuturado
Figura 8: Fotografia final, onde se pode verificar a alteraçãodo contorno gengival do pôntico correspondente ao 11
Gengivectomia/Gengivoplastia
Noutras situações, quer por razões estéticas,
quer por razões funcionais, existe a necessidade
de modificar o formato ou a posição das papilasinterdentárias ou mesmo da posição das margens
gengivais e bordos incisais dos dentes (sorrisos
gengivais, coroas clínicas curtas). Estas modifica-
ções podem ser obtidas através de procedimentos
como a gengivectomia e a gengivoplastia.
A gengivectomia pode ser definida como a excisão
de uma porção de gengiva, normalmente utilizada
para reduzir em volume, seja vertical ou horizon-
tal, o tecido mole existente ou uma bolsa perio-dontal 5
.
Esta técnica é restrita à remoção de tecidos moles
e a uma reconstrução da superfície da ferida re-
sultante. É, no entanto, de extrema importância
que após o procedimento de excisão de gengiva
seja mantida uma quantidade de gengiva aderida
compatível com a saúde periodontal 6.
A gengivoplastia pode ser definida como cirurgia
para a alteração de forma da gengiva 5. Através desta
técnica podemos ajustar e dar forma ao contorno
cervical de um dente/implante ou mesmo ao perfil
de emergência de um pôntico. Este procedimento
pode ser feito à base de instrumentos rotativos dia-
mantados, lasers, lâmina de bisturi e bisturis eléc-
tricos 3 (Figuras 21a 23).
Conclusão
Com os padrões de exigência dos pacientes cada
vez mais elevados, os médicos dentistas devem,
cada vez mais, procurar as melhores soluções para
um tratamento de qualidade. Um bom plano de
tratamento não deve restringir-se ao tratamento/
reabilitação das peças dentárias, mas deve tam-
bém abranger os tecidos adjacentes.
A manipulação de tecidos moles é, por isso, um
complemento essencial para que possamos atingirum resultado final saudável, estético e funcional. ¦Referências bibliográficas1. Zetu L, Wang HL. Management of inter-dental/
inter-implant papilla. Journal of clinicai periodonto-
logy2oos;32(7):B3l-9.2. Dibart S, Karima M. Practical Periodontal Plastic
Surgery. lst cd; 2006.
3. Lindhe J, Karring T, Lang NR Clinicai periodon-
tology and implant dentistry. 4th cd. Oxford, UK ;
Malden, MA: Blackwell; 2003.
4. Hempton TJ, Dominici JT. Contemporary crown-
-lengthening therapy: a review. Journal of the Ameri-
can Dental Association 2010;141(6):647-55.5. American Academy of Periodontology. Glossary
of periodontal terms. 4th cd. Chicago, 111.: American
Academy of Periodontology; 2001.
6. Goldman HM, Cohen DW Periodontal therapy.
6th cd. St. Louis: Mosby; 1980.
Top Related