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FACULDADE DOM ALBERTO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIAINSTITUCIONAL
A LUDICIDADE NA PSICOPEDAGOGIA
Rosana Claire Sima Jacobi
Candelária, setembro de 2009.
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Rosana Claire Sima Jacobi
A LUDICIDADE NA PSICOPEDAGOGIA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentadoao Programa de Pós-Graduação da FaculdadeDom Alberto – Especialização emPsicopedagogia Institucional, sob a orientaçãoda Profa. Ms. Luciane Torezan Viegas comorequisito parcial para a obtenção do Título deEspecialista em Psicopedagogia Institucional.
Candelária, setembro de 2009
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“Brincar não é perder tempo, é ganhá-lo. É
triste ter meninos sem escola, mas mais triste é
vê-los enfileirados em salas sem ar, com
exercícios estéreis, sem valor para formação
humana.”
Carlos Drumond de Andrade
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AGRADECIMENTO
Agradeço a Deus que me guiou nesta longa jornada e a todos que, de
uma forma ou de outra, apoiaram, incentivaram e contribuíram para essa
experiência, a fim de que eu pudesse escrever essa monografia.
Agradeço em especial, a minha orientadora, Professora Luciane
Torezan Viegas, pela sua dedicação, compreensão e paciência, encaminhando-me
com mão firme, mas sempre atenta para não impor limites aos meus sonhos a fim
de que eu pudesse realizar e concluir este trabalho.
Agradeço as minhas colegas que contribuíram para somar alegrias e
anseios, multiplicar conhecimentos e dividir experiências.
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DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho ao meu pai (in
memorian) e à minha mãe que sempre
ensinaram a transpor obstáculos e a alcançar
objetivos.
Em especial, ao meu esposo Marcí, que
entendeu o meu envolvimento com esse
trabalho, ajudando-me, apoiando-me, fazendo
com que eu acreditasse sempre na minha
capacidade.
Aos meus filhos, Marcelo e João Vítor, os
quais entenderam o tempo que precisei estar à
frente do computador para realizar esse
trabalho.
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RESUMO
A Psicopedagogia na atualidade preocupa-se com a gênese da aprendizagem,
considerando o sujeito um ser em processo de construção do seu próprio
conhecimento. Nesta tendência atual, ou seja, contemporânea, entende-se o
insucesso escolar como sintoma escolar e não como patologia do aluno. Analisando
o problema enquanto sintoma social é importante considerar a relação que o
indivíduo faz com o processo de aprendizagem e com o saber. Observando o meio
sócio-cultural para melhor compreender o contexto em que está inserido, bem como,
o relacionamento entre professor/aluno e a metodologia de ensino adotada pelo
docente. Este trabalho versa sobre as relações do lúdico como facilitador da
aprendizagem de alunos em turmas de alfabetização, e considerando, a importância
da lecto-escrita no ensino e aprendizagem, temos como objetivo, verificar se os
alunos que desenvolvem a escrita através de estratégias lúdicas evidenciam o gosto
pela mesma. Sabemos que os jogos são importantes, porque são oportunidades de
desenvolvimento da criança. Jogando, as crianças experimentam, descobrem,
inventam, aprendem e conferem habilidades. Para tanto, buscou-se através de uma
abordagem teórico-analítica de cunho bibliográfico discutir a prática pedagógica
relacionada a aquisição da lecto-escrita a partir de uma abordagem lúdica. Para tal
pesquisa serviram de fonte os autores Barbosa (2000), Bossa (2000), Ferreiro e
Teberosky (1993), Neves (1999), Santos (2001) entre outros que contribuíram para a
fundamentação teórica. As conclusões alcançadas neste estudo nos permitem
perceber que o uso da ludicidade facilita a aprendizagem da leitura e da escrita em
turmas de alfabetização.
Palavras-chave: Estratégias – Universo lúdico – Lecto-escrita.
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ABSTRAT
Psicopedagogia at the present time worries about the genesis of the learning,
considering the subject a being in process of construction of his/her own knowledge.
In this current tendency, in other words, contemporary, he/she understands each
other the school failure as school symptom and I don't eat the student's pathology.
Analyzing the problem while social symptom is important to consider the relationship
that the individual does with the learning process and with the knowledge. Observing
the partner-cultural way for best to understand the context in that it is inserted, as
well as, the relationship between professor/aluno and the teaching methodology
adopted by the teacher. This work turns about the relationships of the lúdico as
facilitator of the students' learning in literacy groups, and considering, the importance
of the lecto-writing in the teaching and learning, we have as objective, to verify the
students that develop the writing through strategies lúdicas evidences the taste for
the same. We know that the games are important, because they are opportunities of
the child's development. Playing, the children try, they discover, they invent, they
learn and they check abilities. For so much, it was looked for through a theoretical-
analytical approach of bibliographical stamp to discuss the related pedagogic
practice the acquisition of the lecto-writing starting from an approach lúdica. For such
a research they served as source authors Barbosa (2000), Swelling (2000),
Blacksmith and Teberosky (1993), Neves (1999), Santos (2001) among others that
contributed to the theoretical recital. The conclusions reached in this study allow to
notice us that the use of the ludicidade facilitates the learning of the reading and of
the writing in literacy groups.
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SUMARIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
1. A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL ................................................................. 11
1.1 Breve Histórico ……………………………………………………………………… 11
2. A PSICOPEDAGOGIA PREVENTIVA ............................................................. 13
3. A CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA NA ESCOLA ...................... 15
4. ATIVIDADES LÚDICAS COMO INSTRUMENTO PSICOPEDAGÓGICO ....... 19
4.1 Ludicidade ………………………………………………………………………….. 19
4.2 O lúdico como ferramenta de ensino de lecto-escrita ..................................... 23
CONCLUSÃO .......................................................................................................... 26
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 28
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INTRODUÇÃO
Atualmente, tendo em vista uma caminhada profissional continuada de
cursos de Especialização, sentimos a necessidade de dialogar a respeito da
importância das atividades lúdicas diversificadas e diferenciadas no processo de
construção da lecto-escrita e, concomitantemente, refletir sobre a superação das
dificuldades encontradas nesse processo.
Por outro lado, sabemos da importância do jogo como facilitador da
aprendizagem dos alunos nos anos iniciais do Ensino Fundamental bem como a
relevância de uma metodologia de trabalho diferenciada em turmas de alfabetização
que privilegia tanto o ritmo individual de cada criança como também seu estilo
cognitivo, respeitando suas hipóteses e descobertas e repensando paradigmas
educacionais a respeito de supostas dificuldades de aprendizagem relacionadas à
leitura e escrita.
Nesse sentido, as atividades lúdicas são mediadoras de avanços e
contribuem para tornar a sala de aula um ambiente alegre e favorável. Os jogos que
os alunos aprendem, reforçam conceitos e princípios. Essas ferramentas auxiliam na
construção da formação da personalidade humana, da autoconfiança e agem
eficientemente na vida cooperativa. Sem falar, na motivação oferecida por eles para
que o aluno aprenda.
Nesse contexto, a Psicopedagogia é uma área de atuação que visa a
trabalhar com os processos da aprendizagem humana, considerando todos e
quaisquer tipos de influências ligadas a esta, analisando não somente seus padrões
de normalidade como também suas patologias. Tendo em vista essa realidade,
faremos uma abordagem teórico-analítica de cunho bibliográfico para verificar se
através do lúdico os alunos desenvolvem e aprimoram o gosto pela leitura e escrita,
e consequentemente, verificar as contribuições do psicopedagogo no processo
ensino e aprendizagem como agente mediador de novas propostas, com o intuito de
amenizar supostas dificuldades de aprendizagem em alunos em fase de
alfabetização.
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É relevante que se faça da ludicidade um caminho mais suave para
essa realização. Enquanto a criança estiver envolvida com brincadeiras e com
atividades prazerosas, ela estará motivada a desenvolver qualquer atividade,
porque, despreocupada e descontraída emocionalmente, a criança sentirá mais
prazer na realização das tarefas. Esse estado afetivo contribui de forma positiva
para uma aprendizagem eficiente. Para fundamentar teoricamente nossa pesquisa,
utilizamos autores que defendem o lúdico como forma de ensino e aprendizagem da
leitura e escrita entre outros, dentre eles destacamos, Passareli (1999), Santos
(2001), Bossa (2000), Vygotsky (1991).
O presente trabalho apresenta, no primeiro capítulo, reflexões sobre a
Psicopedagogia no Brasil. No segundo capítulo, abordamos a Psicopedagogia
Preventiva. No terceiro capítulo abordamos a construção da leitura e da escrita na
escola. E por fim discorremos sobre as atividades lúdicas como instrumento
psicopedagógico e como uma atividade natural do ser humano.
Temos na Psicopedagogia uma nova área de estudos que nos permite
relacionar diferentes situações de aprendizagem humana mais eficaz e reflexiva,
uma vez que o aluno está em constante processo de construção do conhecimento.
Nesse processo ocorre a ação de quem ensina e de quem aprende.
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1. A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL
1.1 Breve Histórico
A Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor
compreensão do processo de aprendizagem do ser humano, ou seja, contribuir na
busca de soluções para a difícil questão dos problemas que são encontrados no
decorrer dessa aprendizagem. Quando falamos em aprendizagem, estamos nos
reportando ao modo como os sujeitos adquirem novos conhecimentos, desenvolvem
competências e mudam de comportamento, influenciados por ações que visam esse
aperfeiçoamento.
Historicamente, segundo Bossa (1994), a Psicopedagogia nasceu na
Europa, ainda no século XIX com a preocupação de elucidar tais problemas de
aprendizagem, uma vez que os mesmos estavam estruturados em torno do
desenvolvimento humano. Cabe ressaltar que tais problemas eram estudados pelos
médicos da época com o objetivo de curar ou reeducar o aprendiz, ou seja, fazê-lo
atuar em cima do erro.
Já nas décadas de 1970 e 1980, no Brasil, os profissionais estavam
preocupados e buscavam compreender o processo de aprendizagem, iniciando-se
assim, a interlocução com as áreas da Psicologia, da Pedagogia e da Neurologia e
ocorrendo um gradativo distanciamento com a reeducação. Crescia, portanto, a
preocupação com os aspectos da subjetividade da criança, ou seja, nessa fase, a
principal preocupação da Psicopedagogia passou a ser o processo de aprendizagem
do sujeito, sua evolução, patologias e a influência do meio no seu desenvolvimento.
Para Bossa, nessa fase, a Psicopedagogia trabalhava com a seguinte
concepção de aprendizagem:
Aprendizagem remete a uma visão de homem como sujeito ativo numprocesso de interação com o meio físico e social. Nesse processointerferem o seu equipamento biológico, as suas condições afetivo-emocionais e as suas condições intelectuais. A Psicopedagogia entende,ainda, que essas condições afetivo-emocionais e intelectuais são geradasno meio familiar e sociocultural no qual nasce e vive o sujeito.
(BOSSA,1994 P. 55.)
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Apesar dessa dinamicidade e da articulação entre as diferentes áreas
do conhecimento era preciso construir uma Psicopedagogia que não se confundisse
com as outras áreas e que saísse do enfoque organicista, ou seja, elaborar uma
construção específica na sua essência, o olhar psicopedagógico.
Tal fato se dá na década de 90 quando os profissionais elaboram
instrumentos próprios para melhorar o atendimento a sua clientela. Essa prática
alcançou maturidade Psicopedogógica a partir de experiências acumuladas e de um
contínuo processo de reflexões e reavaliações de suas práticas. Em decorrência
dessas novas descobertas no processo cognitivo dos sujeitos, houve uma maior
preocupação com o Ser em processo de conhecimento e a compreensão dos
aspectos da objetividade e da subjetividade.
Cabe ainda ressaltar um fato histórico que influiu de forma decisiva
para o percurso feito pela Psicopedagogia no Brasil; em 1980, um grupo de
educadores preocupados com o perfil do profissional de Psicopedagogia e com os
resultados obtidos pela educação, reuniram-se para fundar a Associação Estadual
de Psicopedagogia de São Paulo que, em 1988, tornou-se a Associação Brasileira
de Psicopedagogia (ABPp). Bossa (1994, p.47), tece o seguinte comentário: “A
Associação visava, como objetivo inicial, tornar conhecido o campo de atuação
profissional do Psicopedagogo”.
A partir daí, a Psicopedagogia ganhou forças e corpo, abrindo espaço
nos meios acadêmicos, acumulando conhecimentos e contribuindo com mais ênfase
à realidade educacional brasileira, ou seja, os profissionais envolvidos nesta busca
da identidade, enquanto profissão, estavam mobilizados pelo desejo de contribuir
nesse processo de construção.
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2. A PSICOPEDAGOGIA PREVENTIVA
Muitas são as questões, dúvidas, curiosidades e até mesmo
interpretações e pensamentos equivocados sobre a Psicopedagogia. Mas afinal, o
que é Psicopedagogia?
Conforme Rubinstein, “a finalidade da Psicopedagogia contemporânea
continua sendo a aprendizagem e a relação do sujeito com a aprendizagem” (2004,
p.227). Entende-se por aprendizagem um processo individual que provoca mudança
global na maneira da pessoa estar, agir e pensar; o que causa transformação no ser.
Nesse contexto, a Psicopedagogia é uma área de atuação que visa a
trabalhar com os processos da aprendizagem humana, considerando todos e
quaisquer tipos de influências ligadas a esta, analisando não somente seus padrões
de anormalidade como também suas patologias. Por esta área tratar sobre o
processo, as relações e as doenças, pode-se dizer que a Psicopedagogia busca
suporte nas áreas da educação e da saúde para tentar promover, prevenir ou
recuperar a aprendizagem.
Na atualidade, felizmente, não se vive em mundo estático, com
pessoas prezas a um conceito apenas. Pelo contrário, hoje os estudos, as pesquisas
e as informações estão evoluindo e contribuindo com maior velocidade e eficácia,
sempre procurando atingir o progresso em todas as áreas do pensamento. Nesse
sentido, a Psicopedagogia também passa por esse contexto evolutivo, ou seja, os
três momentos históricos pelos quais a Psicopedagogia traz suas contribuições.
Segundo Moojen (1999, p.54), na década de 1960, quando nasceu a
Psicopedagogia, ela tinha como propósito de estudos os “distúrbios de
aprendizagem” e sua etiologia, ou seja, suas causas. Consequentemente, cada
indivíduo era analisado de forma individual e isoladamente de outros contextos.
Nesse sentido, os distúrbios eram de origem psiconeurológica. Continuando a
análise, no segundo momento, década de 1970 e 1980, a preocupação era voltada
para o “processo de aprendizagem humana”, enfatizando tanto os padrões
evolutivos normais como também os patológicos. Pode-se dizer que o terceiro
momento, ao qual se vivencia atualmente, amplia o segundo e preocupa-se, além
deste, com o “ser que está em constante processo de construção do conhecimento”.
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Nessa linha de raciocínio, a Psicopedagogia contemporânea preocupa-
se com a gênese da aprendizagem, considerando o sujeito como um ser em
processo de construção do seu próprio conhecimento, identificando as barreiras que
impedem que essa construção se desenvolva. Sendo assim, entende-se o insucesso
escolar como sintoma escolar e não como patologia do aluno.
Nesse contexto, é importante considerar a relação que o indivíduo
(criança, adolescente ou adulto) faz com o processo de aprendizagem e com o
saber. Observando o meio sociocultural para melhor compreender o contexto em
que está inserido, bem como o relacionamento entre professor e aluno e a
metodologia de ensino adotada pelo mesmo e pela instituição de ensino.
Percebemos com isso, que o campo de atuação está cada vez mais
amplo visto que todos os indivíduos, ou seja, todos os seres humanos são objetos
de estudo da Psicopedagogia, pois todos estão diretamente ligados ao processo de
construção do conhecimento de alguma maneira.
Partindo desse pressuposto, o psicopedagogo não fica mais restrito ao
seu consultório clínico, hoje esse profissional está apto também a trabalhar em
instituições, pois se sabe que nestes ambientes o ser também é um aprendente.
Atualmente, os estudos realizados nessa área voltam-se cada vez
mais para uma ação preventiva, pois se foi percebendo ao longo do tempo que era
preciso uma ação anterior ao aparecimento dos problemas encaminhados à clínica.
Desta forma, a Psicopedagogia chegou até a instituição e está voltada para o
esclarecimento do processo de acesso ao conhecimento e de possíveis problemas
que o dificultam.
Segundo Bossa (2000, pp. 12-13), “na escola, o psicopedagogo
institucional vai atuar junto aos professores e outros profissionais para melhoria das
condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenção dos
problemas de aprendizagem”.
Assim sendo, considera-se relevante o trabalho psicopedagógico
Institucional no âmbito escolar na medida em que se pretende, primeiramente,
prevenir situações de dificuldade de ensino e aprendizagem, dando assessoria junto
ao corpo docente e a equipe diretiva, trabalhando questões pertinentes as relações
existentes entre os sujeitos envolvidos.
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3. A CONSTRUÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA NA ESCOLA
A escola é o lugar no qual vivenciamos situações de aprendizagem e a
escrita é um desafio por excelência. É o produto de um processo no qual a criança,
lentamente, passa do gesto, como veículo de significação, para as marcas que ficam
no papel.
Nesse sentido, a alfabetização é uma fase marcante em crianças que
frequentam os anos iniciais, que precisa ser respeitada, estudada e revista. Nessa
perspectiva, salienta-se a relevância desse tema através dos estudos de Ferreiro e
Teberosky (1993), que redimensionaram a questão do “como se ensina” para o
“como se aprende”, ou seja, preocuparam-se em conhecer e explicitar a maneira
como uma criança concebe o processo da linguagem escrita, permitindo com o
resultado de suas pesquisas, revolucionarem o conceito de alfabetização.
Assim a pesquisa sobre a psicogênese da língua escrita revolucionou o
ensino da língua nos anos iniciais e provocou uma revisão do tratamento dado ao
ensino e à aprendizagem em outras áreas do conhecimento. Estudos apontam que a
escrita não resulta de simples cópia de um modelo externo, mas é um processo de
construção pessoal. Assim, mesmo não sabendo direito como representar uma
escrita apresenta alguma ideia de como pode fazê-la, pois vive num mundo rodeada
de escrituras.
Fica evidente que o desenvolvimento da leitura e da escrita se dá a
partir da construção que a criança realiza com esse mundo escrito, pois o mesmo
lhe oportuniza o poder de analisar as palavras à sua volta, pois a alfabetização é um
processo de construção de hipóteses sobre o funcionamento do sistema de escrita.
A criança, para aprender a ler e a escrever, precisa participar de situações que
expressam a necessidade de refletir, transformado informações em conhecimento
próprio e enfrentando desafios.
Na vida escolar, vez ou outra, as pessoas sentiram maior ou menor
dificuldade para aprender alguma coisa. Tendo em vista que a aprendizagem é um
processo complexo que se realiza no interior do indivíduo e se manifesta em uma
mudança de comportamento e para saber se houve ou não aprendizagem é preciso
que as mudanças ocorridas sejam relativamente permanentes.
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No entanto, no processo da leitura e escrita – alfabetização inicial,
essas mudanças não serão necessariamente permanentes visto que se trata de uma
etapa considerada evolutiva, pela qual a criança constrói sua escrita através de
hipóteses.
Assim, muitas vezes, entende-se que a criança tem dificuldades de
aprendizagem na lecto-escrita quando apresenta desvios da expectativa de
comportamento do grupo etário a que pertence, ou seja, quando ela não está
ajustada aos padrões da maioria desse grupo,às mesmas hipóteses deste
determinado grupo, e, portanto, seu comportamento é diferente dos demais.
Nesse sentido, primeiramente deve-se questionar se, de fato, a criança
apresenta dificuldade de aprendizagem ou se o seu rendimento não satisfaz as
expectativas do educador e dos pais. Pois, um desenvolvimento incomum nem
sempre denuncia alguma patologia, podendo refletir dificuldades pessoais
eminentemente momentâneas.
Ferreiro (1992, p. 25) diz que “as crianças são facilmente alfabetizáveis
desde que descubram, através de contextos sociais funcionais, que a escrita é um
objeto interessante que merece ser conhecido”. Ao aprender a escrever, a criança
passa a sentir necessidade da palavra, tenta entender os processos pelos quais
passa a escrita e o uso da mesma, é a descoberta da função simbólica da palavra.
Por isso, quanto maior a vivência com material escrito, maior a facilidade em
compreender os usos da linguagem escrita; quanto mais a criança participa do ato
de leitura e de escrita, mais fácil será a aprendizagem das mesmas.
Se de um lado do jogo de construir significados estão as habilidades
de compreender a escrita e a oralidade, do outro estão as habilidades de produção
escrita e oral. Somos envolvidos nesse jogo, pois queremos agir no mundo social e
em relação aos nossos interlocutores. É por isso que, ao produzir um texto escrito,
devemos levar em consideração para quem, por que, onde e quando estamos
escrevendo.
A importância da linguagem escrita em situações de aprendizagem é
muito clara. Nesse sentido, Neves (1999, p.37) menciona que “desde as séries
iniciais, o aprender a ler e escrever é tarefa do ensino escolar”. Consequentemente,
se a criança descobre os usos significativos da escrita, passa a compreender melhor
o modo de produção, a estrutura e a organização da mesma, determinando
pressuposições levadas para o texto. Nesse sentido, Vygotsky (1991) enfatiza que
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nós somos obrigados a utilizar mais palavras ao escrever, para que o texto tenha
exatidão e compreensão linear dos fatos uma vez que, nessa atividade, a oralidade
é excluída.
Para Neves (1999, p.13) “ler e escrever são tarefas da escola, uma vez
que são habilidades indispensáveis para a formação de um estudante. Para ela,
ensinar é ensinar a escrever, já que a produção de conhecimento se expressa por
escrito”.
No dizer da autora, atividades de leitura e de escrita, nas diversas
modalidades, propiciam ao aluno poder discutir e criar significados em suas
produções, visto que a linguagem escrita é uma das grandes construções da
humanidade, sendo de fundamental importância para a sociedade letrada. Nesse
contexto, a leitura torna o sujeito capaz de se apropriar de conhecimentos
acumulados em livros, propiciando ao mesmo tempo construir sentidos e produzir
conhecimentos.
Na perspectiva de melhorar a aprendizagem e amenizar as
dificuldades de aprendizagem encontradas na sala de aula e na escola, o professor,
tem na Psicipedagogia e na ação do psicopedagogo, fortes aliados para contribuir
na solução dessas patologias. Ambos trabalham com seres humanos aprendentes
que criam e recriam conhecimentos.
Atualmente percebemos que muitos professores têm dificuldades para
compreender o processo de aquisição da lecto-escrita em seus alunos, e
consequentemente, para caracterizar o que de fato configura-se como uma
dificuldade de aprendizagem na construção de tal etapa.
Partindo dessa concepção, a pesquisa sobre a psicogênese da língua
escrita revolucionou o ensino da língua nos anos iniciais e provocou uma revisão do
tratamento dado ao ensino e aprendizagem. Toda via, nesse processo, o
psicopedagogo pode auxiliar o professor a entender como surgem os transtornos de
aprendizagem no processo escolar, pois o psicopedagogo tem papel fundamental
dentro de uma ação preventiva, uma vez que visa a desenvolver um olhar crítico-
reflexivo sobre as práticas vivenciadas no cotidiano escolar.
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Nesta linha de raciocínio, o professor com o auxílio do psicopedagogo,
pode desenvolver em sala de aula atividades que envolvam a leitura e a escrita de
forma mais prazerosa. Utilizando o jogo como ferramenta importantíssima nesse
contexto, ambos, professor e aluno descobrem o gosto pela atividade proposta, pois
quem joga, joga para e com alguém.
Ao realizar atividades com jogos, o professor consegue que os alunos
fiquem descontraídos, propiciando um ambiente de confiança. Esse ambiente
favorece a expressão oral do aluno e a construção do conhecimento, pois oportuniza
aos mesmos, mais tranqüilidade diante das atividades propostas. “Quem não gosta
de aprender brincando!”
Diante dessa idéia, passamos a entender o que Passarelli (1999)
postula ao enfocar a necessidade do professor propiciar ao aluno que a escrita não
é uma criação que ultrapassa os limites normais, mas um processo de perceber que
a lecto-escrita é resultado de um trabalho feito com presteza.
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4. ATIVIDADES LÚDICAS COMO INSTRUMENTO PSICOPEDAGÓGICO
4.1 Ludicidade
O lúdico é eminentemente educativo no sentido em que constitui a forçaimpulsora de nossa curiosidade a respeito do mundo e da vida, o princípiode toda a descoberta de toda criação.
Santo Agostinho
Nesse sentido, a ludicidade constitui uma forma de atividade natural do
ser humano e é um assunto que tem conquistado espaço no panorama nacional por
ser o brinquedo a essência da infância e seu uso propiciar um trabalho pedagógico
que possibilite uma aprendizagem em diferentes áreas do conhecimento agindo
eficientemente na vida cooperativa, social e cultural do aluno.
O lúdico tem sua origem na palavra latina “ludus” que quer dizer “jogo”.
O mesmo apresenta valores próprios para as fases da vida humana. Assim, a
evolução e as alterações sofridas por esta palavra no tempo e no espaço, passaram
a ser reconhecidas como traço essencial para o estudo das funções do
comportamento humano. Deste modo, deixou de ser o simples sinônimo de jogo,
passando de necessidade lúdica a determinação das diferenças do brincar
espontâneo.
Brincar é uma atividade importante na vida de uma criança, pois é por
meio das brincadeiras que a criança aprende melhor. Brincando, a criança aprende
a se relacionar com o mundo. Brincar atrai a felicidade e afasta a tristeza, a
insegurança e o medo. Os jogos levam a criança a usar suas habilidades.
Complementando essa idéia, Santos diz:
Na verdade, o brincar representa um fator de grande importância nasocialização da criança, pois é brincando que o ser humano se torna apto aviver numa ordem social e num mundo culturalmente simbólico. Brincarexige concentração durante um grande intervalo de tempo. Desenvolveiniciativa, imaginação e interesse. Basicamente, é o mais completo dosprocessos educativos, pois influencia o intelecto, a parte emocional e ocorpo da criança.
(SANTOS, 2001, pp. 79 e 80)
As atividades lúdicas têm o poder sobre a criança de facilitar o
progresso de sua personalidade e o progresso de suas funções intelectuais e
morais. A ludicidade não influencia apenas a criança, ela também traz vários
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benefícios aos adultos, os quais adoram aprender algo ao mesmo tempo em que
brincam.
Enquanto entendermos que o brinquedo, a brincadeira, o jogo são
elementos de suma importância na infância, a criança terá condições de construir
sua identidade, socializar-se, fazer parte de um grupo, conhecer e reconhecer-se,
amar e ser amada.
A infância é composta por uma sucessão de etapas, em que se
desenvolvem os sentidos, a afetividade, a linguagem, a motricidade e a inteligência
num processo contínuo de interação. Nesse sentido, a ludicidade constitui uma
forma de atividade natural do ser humano e é um assunto que tem conquistado
espaço no panorama nacional por ser o brinquedo a essência da infância e seu uso
propicia um trabalho pedagógico que possibilita a produção do conhecimento.
A ludicidade é uma atividade que tem valor educativo essencial, mas,
além desse valor que lhe é inerente, ela tem sido utilizada como recurso
pedagógico. As atividades lúdicas correspondem a um impulso natural da criança, e
nesse sentido, satisfazem a uma necessidade interior, pois o ser humano apresenta
uma tendência lúdica.
Segundo Santos (2001, p.133), “O lúdico (jogo, brincadeira) é a
característica fundamental do ser humano. A criança deve brincar. Seu
desenvolvimento depende em grande parte do lúdico. Ela precisa brincar para
crescer, precisa do jogo como forma de equilibrar-se com o mundo”.
O lúdico é considerado prazeroso por absorver o educando de forma
intensa e total, criando um clima de entusiasmo. Ele é um forte aspecto de
envolvimento emocional, capaz de gerar um estado de vibração e euforia. Portanto,
as atividades lúdicas são excitantes, mas também requerem um esforço voluntário.
Na verdade, a educação lúdica só estará garantida se o professor
estiver preparado para realizá-la e demonstrar um conhecimento sobre as
concepções teóricas e práticas que envolvem a mesma, pois , o que traz ludicidade
para a sala de aula é muito mais uma atitude lúdica do educador e do educando, ou
seja, reside no adulto construir uma relação na qual a criança seja agente da sua
própria brincadeira, e consequentemente, o educador, como parceiro e estimulador
deste processo de ampliação de horizontes. Nesse sentido, Sousa (2000 p. 101)
menciona que:” toda a ação pedagógica deve sempre estar voltada para as
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crianças, vistas como pessoas de direitos, em desenvolvimento, histórica e
culturalmente situadas e com características e necessidades específicas.”
Segundo Passarelli (1999, p.24), “O jogo propicia aculturação e
socialização ao ensinar a dialética da liberdade das regras e das convenções
livremente aceitas, levando assim ao cerne de toda a civilização”. O jogo e o lúdico
têm papel fundamental na história das sociedades e das culturas.
O jogo se caracteriza pelo prazer, pela paixão, pelo delírio. Sobre esse
enfoque, Passarelli (1999, p.24) revela que “Nesses aspectos reside a essência do
jogo: sua intensidade, poder de fascinação e capacidade de excitar”.
Através das atividades lúdicas, jogos, brincadeiras, faz-de-conta,
contos de fadas, o professor torna suas aulas mais alegres, fazendo com que a
produção escrita flua com mais prazer, pois o jogo é um exercício que faz
desenvolver as potencialidades do aluno e prepara-o para a vida adulta.
Tudo isso só é possível quando a criança tem liberdade para brincar,
porque é através da brincadeira que ela pode conhecer o mundo, é no “faz-de-conta”
que vivencia a afetividade, a comunicação com os colegas, os conflitos; entende
regras e desenvolve “normas” de como irão brincar. Essas atividades apresentam
valores que propiciam ao educando explorar muito mais sua criatividade,
melhorando sua conduta no processo de ensino e aprendizagem e sua auto-estima.
O brincar é o momento em que a criança pode desenvolver sua
linguagem, na comunicação com os outros, descobre, inventa novas histórias, sonha
e cria um passado e um futuro: quando eu crescer quero ser... Essas brincadeiras
são importantes na formação de sua personalidade, pois ela se coloca, ora como
falante, ora como ouvinte, nessa brincadeira. De acordo com essa idéia Piaget (in
Almeida, 1984, p.21) afirma que:
É pelo fato de o jogo ser um meio tão poderoso para a aprendizagem dascrianças que em todo o lugar onde se consegue transformar o jogo ainiciativa da leitura ou da ortografia, observa-se que as crianças seapaixonam por essas ocupações tidas como maçantes.
A dinâmica lúdica enriquece a personalidade humana e contribui para
o ensino e aprendizagem em diferentes áreas do conhecimento, agindo
eficientemente na vida cooperativa, social e cultural do aluno. Por meio de jogos,
poderemos amenizar a figura do aluno desanimado, que considera a escola uma
chatice, um lugar de mesmices.
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A ludicidade é importante tanto no desenvolvimento cognitivo como no
desenvolvimento social da criança. Brincando, as crianças descobrem o seu papel
na sociedade e os seus limites, exploram o mundo e aprendem a realidade em que
vivem. Assim, como revela Santos (1997, p.12):
O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, odesenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúdemental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos desocialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento.
Se é brincando que a criança entende o mundo e desenvolve o seu
conhecimento, devemos usar o lúdico como ferramenta importante que é para que a
aprendizagem seja mais prazerosa, tanto para o aluno quanto para o professor.
Piaget (1998, p. 58) diz que “a atividade lúdica é o berço obrigatório
das atividades intelectuais da criança sendo, por isso, indispensável à pratica
educativa”. Essas atividades são mediadoras de avanços e contribuem para tornar a
sala de aula um ambiente alegre e favorável. Os jogos que os alunos aprendem,
reforçam conceitos e princípios. Essas ferramentas auxiliam na construção da
formação da personalidade humana, da autoconfiança e agem eficientemente na
vida cooperativa. Sem falar, na motivação oferecida por eles para que o aluno
aprenda.
Essas atividades são mediadoras de avanços e contribuem para tornar
a sala de aula um ambiente alegre e favorável. Os jogos que os alunos aprendem,
reforçam conceitos e princípios. Essas ferramentas auxiliam na construção da
formação da personalidade humana, da autoconfiança e agem eficientemente na
vida cooperativa. Sem falar, na motivação oferecida por eles para que o aluno
aprenda.
Nos últimos anos tem-se percebido grandes avanços tecnológicos e
inúmeras descobertas nas mais diversas áreas de estudo e pesquisa, pois é
possível, hoje perceber, que para acompanhar essas mudanças rápidas a aquisição
de conhecimentos e as novas formas de perceber a aprendizagem tornam-se
imprescindíveis. Esses fatos, cada vez mais preocupam as pessoas envolvidas com
a educação.
23
Surgem, portanto, novas interpretações e definições do que é o
conhecimento e aprendizagem e novas formas de alcançá-las, pois a velocidade de
tais transformações, nos impõe exigências na forma de aprender e principalmente
como aprender, ou seja, a preocupação com o aprender mais amplo e global da
aprendizagem.
De acordo com a visão atual a aprendizagem modifica todo o ser
humano e não somente algo que está sendo reforçado, pois o aprender não é algo
novo ele acrescenta supostamente algo ao que já foi adquirido, ocorrendo uma
transformação no ser que aprende.
4.2. O lúdico como ferramenta de ensino da lecto-escrita
Diante desse panorama, a Psicopedagogia busca através de uma
visão contemporânea fazer de sua ação uma prática dinâmica, pois é justamente na
sala de aula que se verifica, através de metodologias aplicadas pelos professores,
se estão acontecendo as tão almejadas mudanças educacionais estudadas e
teorizadas por grandes pensadores e colaboradores da área.
Nesse sentido, Bossa (2000, p.72) tece o seguinte comentário que o
psicopedagogo institucional pode colaborar no sentido que “todos que participam da
escola entendam como e por que transformá-la em um lugar de construção de
conhecimento”.
Hoje, mais do que nunca, é preciso efetivar urgentemente, na escola
como um todo, um novo modelo educativo de qualidade no que tange ao que
ensinamos aos alunos e principalmente como ensinamos. Portanto, a ação do
psicopedagogo oferece ao educador estratégias de ensino em relação ao
conhecimento numa perspectiva de construção tendo como caráter transformador, a
sua prática, Essa prática, alicerçada pela ação psicopedagógica, oferece ao aluno
reflexões acerca do conhecimento e do significado envolvidos no momento da
apropriação do concreto.
Conforme Barbosa (2000), a psicopedagogia na escola transforma a
ação individual e do grupo, analisa os sintomas, considerando as inúmeras relações
que existem em uma instituição e também propõe projetos que apontam para
mudanças globais sem deixar de atender os casos concretos que aparecem como
24
sintomas. Não é um elemento milagroso, mas é uma forma diferenciada de
compreender a aprendizagem humana e o professor pode não ser um
psicopedagogo por formação, mas pode adotar uma postura psicopedagógica diante
dessa aprendizagem.
Dessa forma, cabe ao professor ser criativo e buscar novas técnicas,
pois nos tempos atuais não é possível realizar as mesmas tarefas da mesma forma
como outrora eram realizadas. Sobre esse enfoque, Neves (1999, p. 153) afirma que
“Ensinar a escrever é uma tarefa de uma escola disposta a olhar para frente e não
para a repetição do passado que nos trouxe a escola que temos hoje”.
Daí decorre outro entendimento. Ler e escrever são tarefas da escola
já que a produção de conhecimento se expressa por escrito e a leitura e a escrita
não são em si um produto, mas um objeto cultura que cumpre funções sociais e traz
para o ambiente escolar a função que as mesmas têm historicamente e no cotidiano
de nossa sociedade. Mas, diante dessa situação, não deve o professor se acomodar
e continuar ensinando a lecto-escrita como de costume.
De acordo com a autora, é nesse contexto que o lúdico ganha espaço
como ferramenta ideal de aprendizagem na medica em que se propõe estímulo ao
interesse do aluno, ou seja, a aprendizagem é mais significativa quando a atividade
lúdica está presente no contexto educacional. O jogo ajuda-o a construir novas
descobertas, desenvolvendo e enriquecendo sua personalidade. O mesmo, na sua
dimensão pedagógica, leva o professor à condição de condutor, estimulador e
avaliador da aprendizagem.
Aprendemos a caminhar, caminhando; aprendemos a falar, falando e
também aprendemos a escrever, escrevendo. Portanto, ao se aliar a dimensão
lúdica a esse processo, o professor, estará motivando seus alunos e os mesmos
passarão a se libertar um pouco mais das expectativas negativas frente ao
aprendizado da lecto-escrita. Para isso, quem ensina precisa revelar imaginação,
variar situações de aprendizagem para manter a atenção do aluno no processo.
Uma escola se distingue por um ensino de qualidade quando promove
a interatividade entre seus educandos, entre as disciplinas curriculares, entre a
escola e seu entorno, entre as famílias e o projeto escolar. Em suas práticas e
métodos predominam a experimentação, a cooperação, a pesquisa, a curiosidade
de saber sempre cada vez mais tanto dos alunos e professores como pais e
comunidade em geral.
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Nesse campo de transformações e descobertas a Psicopedagogia tem
seu papel importante em um novo momento educacional que é inserir e manter
esses educandos no ensino regular. Portanto, pertence ao psicopedagogo saber
como se constitui o sujeito, como esse se transforma nas etapas da vida, quais os
recursos de conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz
conhecimento e aprende. É preciso que o mesmo saiba como interferem os
sistemas e métodos aplicados pelo docente para que no decorrer do processo possa
auxiliar o aluno na aquisição dos conhecimentos.
Nesse contexto, a Psicopedagogia se insere oportunizando novas
possibilidades de reflexões sobre a educação e, mais especificamente, sobre a
aprendizagem de todos os sujeitos envolvidos nesse processo, sejam eles
professores ou alunos. Toda via, essa área de estudos prioriza o prender e o não-
aprender dos sujeitos, uma vez que a Psicopedagogia oportuniza um olhar mais
atento ao processo de construção de conhecimentos levando em consideração o
aluno com suas objetividades e subjetividades.
Cabe, portanto, ao professor, com o auxílio do psicopedagogo,
acreditar que o processo de leitura e escrita na sala de aula, atualmente, requer
habilidades e experiências para que o ensino seja interessante e produtivo. O lúdico,
enquanto função educativa propicia a aprendizagem do educando, seu saber, sua
compreensão de mundo e o seu conhecimento. Assim, ele é um elemento essencial
para o processo de ensino e aprendizagem de qualquer disciplina. E, nesse trabalho
em especial, é entendido como um elemento diferencial para a prática da lecto-
escrita.
Portanto, se quisermos desenvolver uma aprendizagem agradável e
interessante, devemos escolher caminhos mais suaves e gostosos para os alunos e
ter no psicopedagogo um forte aliado, pois o mesmo é um terapeuta que trabalha
com essa característica básica do ser humano que é a aprendizagem.
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CONCLUSÃO
Realizamos esta pesquisa com o intuito de verificar se fosse
incorporada uma abordagem lúdica à produção da lecto-escrita, as atividades seriam
mais satisfatórias para os alunos, uma vez que muito antes de iniciar o processo
formal de aprendizagem da mesma, as crianças constroem hipóteses sobre esse
processo.
Percebemos que os alunos demonstram interesse pela lecto-escrita
quando a ela são incorporadas atividades lúdicas. As mesmas proporcionam aos
alunos, momentos de descontração, interesse e empenho nas suas produções, de
modo que as mesmas passam a ganhar mais sentido, pois são realizadas de forma
descontraída.
Assim, é possível concluir que, em grande parte, as ditas dificuldades
de aprendizagem de crianças que fracassam nos processos de aquisição do código
escrito relacionam-se, principalmente, ao tipo de metodologia utilizada pelos
professores alfabetizadores.
A escola, na maioria das vezes, trabalha com a idéia de que o
problema está nos alunos e que estes, somente estes, poderão sanar tais
dificuldades, ou seja, leva o educando a assumir a culpa do seu fracasso, pois a
escola na está preparada para inserir tais alunos com problemas no processo de
ensino e aprendizagem, uma vez que as concepções de aprendizagem, de
alfabetização do aprendiz não estão bem claras.
Sabe-se que a aprendizagem da leitura e da escrita não se dá
espontaneamente, ao contrário, exige uma ação consciente por parte do professor.
Exige planejamento e decisões a respeito do tipo, da freqüência, da diversidade, da
sequência das atividades desenvolvidas.
Ao compreender como a criança aprende, o professor poderá definir o
que ensinar, como ensinar e como avaliar, ou seja, cabe ao docente propiciar
atividades que favoreçam a reflexão da criança sobre o código escrito, porque é
pensando que ela aprende.
Como já imaginávamos, confirmam-se as hipóteses de usando
metodologias diferentes e associadas a estratégias lúdicas, os professores
conseguem fazer com que melhore o desempenho e o gosto pela lecto-escrita; as
estratégias lúdicas tornam-se motivadoras, pois atingem o interesse do educando.
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A ludicidade pode ser usada pelos professores como ferramenta
importante para a aprendizagem, pois permite um trabalho pedagógico. Que
possibilita a produção do conhecimento e o progresso no desenvolvimento das
aulas. Brincando, a criança aprende a se relacionar com o mundo afastando as
tristezas e atraindo a felicidade para o momento importante que é, estar em sala de
aula.
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REFERÊNCIAS
BARBOSA, L.M.S. A Psicopedagogia no âmbito da instituição. Curitiba:
Expoente, 2000.
BOSSA, Nadia A. Dificuldades de Aprendizagem: O que são? Como tratá-las?
Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
______________ A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática.
Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares
Nacionais: introdução aos parâmetros curriculares. Brasília: MEC/SEF, 1997.
FERREIRO, Emilia. e TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1993.
NEVES, Iara. et alii. Ler e escrever: Compromisso de todas as áreas. Porto
Alegre: Ed. da Universidade / UFRGS, 1999.
PASSARELLI, Lílian Ghiuro. Ensinando a escrita: o processual e o lúdico. Olho d
´Água, 1999.
RUBINSTEIN, Edith (orgs.). Psicopedagogia: uma prática, diferentes estilos. São
Paulo, 2004.
SANTOS, Marli Pires dos (Org.). A Ludicidade como Ciência: Petrópolis, Rio de
Janeiro: Vozes, 2001.
SOUSA, Maria de Fátima Guerra de. Para além de coelhos e corações: reflexões
sobre a prática pedagógica do educador infantil. Linhas Críticas, Brasília, DF, UNB,
6 (10): 95-109, Jan. a Jun., 2000.
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