1
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
A História em quadrinhos como prática de Ensino de História:
Resultados e Reflexões no PROEJA – IF Baiano – Campus Guanambi
– Bahia
Bárbara Khatarine Alves Borges Lessa1
Poliana da Silva Gomes2
RESUMO
O artigo constitui em uma reflexão sobre a prática do Ensino de História a partir do conteúdo História da
África para os alunos de modalidade EJA no Instituto Federal Baiano – Campus Guanambi, no ano de
2016 que teve como experiência avaliativa a produção de Histórias em Quadrinhos (HQs) com foco nos
Reinos Africanos, utilizando o aplicativo HagáQuê/UNICAMP. Sendo um estudo sobre a formação e
prática do Professor de História com foco no público da EJA – IF Baiano – Campus Guanambi - BA,
mostrando a importância dos Quadrinhos para o incentivo à leitura e formação do alunado ao salientar a
necessária ressignificação do conhecimento histórico no cotidiano escolar.
Palavras-chave
Ensino – História – África – HagáQuê – PROEJA
INTRODUÇÃO
Pensar sobre o Ensino de História constitui-se atualmente numa complexidade
centrada no hibridismo, nas sobreposições, nos “entre lugares” das grandes áreas de
referência, quais sejam, a Educação e a História. A Educação contemporânea se torna
um caminho de significações de culturas. Ela não é mais somente nacional, é pensada,
fomentada em nível planetário porque passa a ter funções relacionadas à manutenção de
modelos democráticos em defesa da vida em uma rede globalizada de ensejos políticos.
1 Coordenadora do EJA – IF Guanambi, Especialista em psicopedagogia e Graduada em Pedagogia pela
UNEB – Campus VII;
2 Especializanda em Teoria e Metodologia em História pelo Centro de Estudos Dimensão/ UNIP –
Universidade Paulista; Especialização incompleta em Leituras, Memórias e formação docente – UNEB
Campus VI (2014) e Graduada em Licenciatura em História – UNEB – Campus VI, 2011.
2
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
Quanto ao ensino de História pressupõe o subjetivismo do indivíduo, saber
identificar problemas, analisar dados e interpretá-los.
Referente ao ensino na EJA (Educação de Jovens e Adultos) é preciso que o professor
tenha em vista que este perfil de aluno prioriza a aplicabilidade imediata do que está
aprendendo. Neste sentido, faz-se necessário compreendê-la como uma educação
multicultural, que desenvolva o conhecimento e a integração na diversidade cultural,
contra a exclusão por motivos de raça, sexo, cultura ou outras formas de discriminação
e, para isso, o educador deve conhecer bem o próprio meio do educando, pois somente
conhecendo a realidade desses jovens e adultos é que haverá uma educação significativa
e de qualidade.
A pretensão do presente trabalho consiste em relatar a prática didática a partir do
conteúdo África Antiga, 1º ano do Ensino Médio Técnico em Informática – modalidade
EJA - Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Baiano - Campus Guanambi -
BA, no intuito de ressignificar os processos de indução à inovação das atividades
didático-pedagógicas concernentes à educação dos jovens e adultos, que no caso em
estudo refere-se a produção da História em Quadrinhos, com foco nos antigos Reinos
Africanos. Logo, damos ênfase aos reinos de Kush; Axum; Gana; Mali e Congo a partir
da ferramenta do HagáQuê produzido pelo NIED (Núcleo de Informática Aplicada a
Educação)/UNICAMP (Universidade de Campinas), que tem como proposta incentivar
os professores e professoras a adequarem suas metodologias às novas tecnologias da
informação, sendo portanto uma maneira de proporcionar novas formas de ensinar
História da África, além de possibilitar a reflexão sobre a prática docente no Ensino de
História no curso Técnico na modalidade EJA.
Professor de História da teoria para prática
O processo de formação do professor de História requer um olhar multifacetado
considerando a conjuntura plural e dinâmica que nos circunda. Questionar sobre o que
ensinar em uma sociedade multicultural, onde existem valores e percepções sociais
diferentes, faz surgir indagações como: Quais temas, fontes e/ou materiais utilizar para
fazer uma mediação entre passado histórico e o mundo presente e vivido por nossos
alunos? Será de fato que temos posse de um currículo para o ensino de História que
contemple esse coletivo de interesses?
Não obstante, o perfil dos educandos do Ensino básico que temos hoje apresenta
3
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
formas de pensar e de estar definidas pelo modelo contemporâneo de
comportamento. São situados dentro da instantaneidade e simultaneidade. Logo, pensar
essa instantaneidade no ambiente escolar necessita do domínio sobre nossa realidade
educacional com afirmada por Vieira:
(…) Eu só sei que nas escolas brasileiras nós não estamos preparados
para esse aluno que aprende de um jeito diferente; por isso tratamos a
dispersão, a fragmentação como caso de “indisciplina” dos nossos
alunos e não como essa questão de um novo processo mental (...)
(VIEIRA, 2006, p.41).
Nessa perspectiva, torna-se fundamental pensar em um Ensino de História que
seja capaz de articular as ciências com os problemas inerentes a sociedade do
indivíduo/educando, que como aponta Stange:
A ciência contemporânea está entrelaçada com os segmentos
pertinentes a vida diária, apresentando, então novas perspectivas
culturais nas quais a formação do cidadão se faz fator preponderante
nas esferas do conhecimento, enquanto exercício consciente da
cidadania (STANGE et al, 2011, p. 3).
Estamos lidando com uma época de quebra de paradigmas, em especial no
tocante à prática pedagógica do docente. Subjaz um momento no qual a escolarização
atual perceba a necessidade de um profissional atualizado e motivado para realizar uma
nova prática educativa no Ensino de História, que esteja apto a compreendê-la no seu
fazer cotidiano, em que os sujeitos não são apenas agentes passivos diante da estrutura.
Ao contrário, trata-se de uma relação em contínua construção, de conflitos e
negociações em função de circunstâncias determinadas.
A escola, enquanto espaço de confronto entre uma infinidade de ideologias, tem
a função de educar para a cidadania, para superar os dogmas e inculcamentos típicos da
ciência moderna. E, neste processo de construção-reconstrução indentitária, a escola
precisa empenhar-se na criação de uma cultura de valorização do outro, de seus saberes,
fomentando discussões sobre o papel social de cada indivíduo.
Só “ensinar” História não é o suficiente, faz-se mister construir a História. Isso
implica em mudanças de postura educacional e consciência da práxis pedagógica no
tocante ao rompimento de metodologias ultrapassadas. A História se apresenta, assim,
como uma das disciplinas fundamentais no processo de formação de uma identidade
4
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
comum. Saber História talvez possa significar reconhecer sua existência no
mundo e para o mundo, implicando num redirecionamento da prática pedagógica frente
à História.
Construir um ensino significativo a partir da História é repensar os caminhos já
traçados sobre como é visto o conteúdo África a partir de uma metodologia que
apresente aproximação como o mundo do alunado, partindo das suas experiências de
leituras de mundo para fazer do espaço da sala de aula, local de aprendizado e de
transformação para a vida.
A EJA no âmbito do PROEJA – IF Baiano Campus Guanambi - BA
Entender a escolarização como pressuposto de desenvolvimento bio-psíquico-
social do sujeito subjaz condição premente de quaisquer níveis e modalidade de ensino.
Nesta perspectiva, o PROEJA - Programa Nacional de Integração da Educação
Profissional à Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos
sintetiza as oportunidades educacionais tanto a jovens e adultos que ainda não
finalizaram o ensino fundamental, como àqueles que já o completaram, mas não
concluíram nem o ensino médio, nem um curso que os habilitem em uma profissão
técnica de nível médio.
Ao tratar da realidade do Curso Técnico em Informática – PROEJA, de acordo
com NASCIMENTO et all:
O Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio
na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) foi
instituído, inicialmente, pela Portaria Nº 2.080, de 13 de junho de
2005. [...] Com a revogação do Decreto Nº 5.478/2005, algumas das
inovações foram feitas [...] como a obrigatoriedade da rede federal de
educação profissional tecnológica oferecer a EJA e [...] Apesar da
obrigatoriedade, a implantação da EJA no Instituto Federal
Baiano – Campus Guanambi só iniciou no segundo semestre de 2007,
com o curso Técnico de Nível Médio em Informática, que até o ano
presente, vem passando pela dificuldade de adequação ao público e a
modalidade de ensino. (NASCIMENTO; BONFIM e SILVA (2014, p.
02)).
Dessa forma, discussões em torno do direcionamento do curso Técnico em
Informática – PROEJA e das turmas existentes nessa modalidade (1º e 3º anos) no
Campus Guanambi – BA são frequentes, tendo em vista as especificidades vividas,
5
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
levando a equipe pedagógica a refletirem enquanto sujeitos e educadores, como
construir um conhecimento significativo que esteja aliado a realidade do alunado e as
necessidades de formação exigida no curso Técnico em Informática?
Oliveira (2007), ao salientar que Educação de Jovens e Adultos não deve ser
vista apenas como uma questão de especificidade etária, mas primordialmente cultural,
revela que esse público não é apenas “não-criança”, são sujeitos que não concluíram
seus estudos no período dito regular por motivos mais ou menos similares: foram
“expulsos” por sucessivas reprovações, abandonaram a escola para assumirem um
trabalho.
Logo, ao abordar sobre o público alvo em análise - a Turma do Curso Técnico
Médio em Informática – AI – 1º ano – I semestre 2015/2016, é necessário compreender
a realidade do alunado encontrado no espaço da sala de aula a partir das seguintes
reflexões: Que aluno temos? Que aluno queremos formar? E, além disso, refletir sobre
o papel desempenhado pela instituição escolar ao indagar que Escola é construída no
cotidiano? Que Escola queremos?
Assim, é necessário observar que desde o início do curso (2015), a turma
composta por 18 alunos, de idade entre 20 a 30 anos e entre os frequentes (dez no total)
03 (três) foram identificadores como alunos especiais (surdo e restrição motora e
cognitiva) o que tem chamado a atenção especial da equipe pedagógica envolvida com o
Curso técnico em Informática sobre o trabalho desenvolvido com aquele público,
buscando diagnosticar causas de desistências dos alunos, as dificuldades de alunos e
professores na relação ensino-aprendizado, tendo também como referências
diagnósticas feitas em anos anteriores.
Desconstruir o mito de que a escola, dadas às circunstâncias da idade do
alunado, não pode mais responsabilizar-se pela formação cidadã, permitindo que os
alunos associem a sua compreensão pessoal do mundo científico com o mundo
construído pelo homem, é condição precípua para o processo de formação. Se o nosso
compromisso é de fato com o homem concreto, “com a causa de sua humanização, de
sua libertação, não posso por isso mesmo prescindir da ciência, nem da tecnologia, com
as quais me vou instrumentando para melhor lutar por essa causa” (FREIRE, 2007.
p.22).
Nessa perspectiva vale refletir: Será que a falta de uma metodologia adequada
para esses alunos seria a causa de tanta dificuldade para se apropriarem dos
6
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
conhecimentos a eles apresentados? E quanto a nós, que muitas vezes nos
sentimos frustrados por não conseguirmos observar resultados esperados pelo nosso
trabalho, onde está o desencontro? Diante dessas inquietações, e com o intuito de
dividir a responsabilidade da mediação do processo ensino-aprendizagem, de alunos que
já sofreram, além dessas, tantas outras exclusões, a coordenação do curso Técnico em
Informática -PROEJA em parceria com a Assessoria Pedagógica propõe repensar o
trabalho até então realizado, e a partir dessa reflexão conjunta e coletiva estabelecer
estratégias que possam contribuir para descortinar essa realidade, no sentido de
transformá-la promovendo a inserção de todos.
Foi em busca de superação a essa realidade que a aproximação aos alunos do
curso Técnico em Informática fez-se crucial observar, desde o domínio de leitura, do
conhecimento em História e do conhecimento da área técnica em Informática
(Hardware e Softwares), que ao planejar as aulas sobre o conteúdo História da África,
buscou-se aliar a necessidade de aproximar todos esses conhecimentos ao aplicativo
denominado HagáQuê, formulado pela NIED/UNICAMP, no ano de 2003, como
recurso multidisciplinar utilizada na prática abordada com forma de metodologia e
avaliação para a disciplina de História.
Metodologia Aplicada
A preparação dos planos de aula para o ensino de África para os alunos do Curso
Técnico em Informática – I ano/ PROEJA, visou a desconstrução sobre África, o
conhecimento sobre a Antiga História Africana e a aproximação às novas formas de
produção de conhecimento, o que levou a identificação do espaço do Continente
Africano e reflexão sobre a atualidade dos países africanos, a partir da pergunta: O que é
África para você? Entre as respostas, muitas se aproximavam em unificar as realidades
daquele continente à visão de país, o que demonstra a necessidade de aprofundamento
daquelas realidades, além de outros alunos já trazerem consigo uma visão mais ampla
sobre a condição vivida pelos africanos/países. Diante do exposto pela turma, foi feito
um trabalho pormenorizado sobre a História dos Reinos africanos, que além da
exposição dos acontecimentos por períodos históricos em que era perceptivo o
desconhecimento de alguns alunos sobre a História antiga Africana. Após as aulas,
dialogadas, sobre os Reinos Africanos trabalhados (KUSH, AXUM, GANA, MALI e
CONGO), foi solicitado aos alunos como avaliação a produção de histórias em
7
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
quadrinhos a partir do aplicativo HagáQuê na tentativa de aproximar e direcionar
os alunos a utilizarem as ferramentas inovadoras do mundo da informação. Para tal
ação, foi solicitado uma releitura de trechos do material didático escolar História Geral
e do Brasil, vol. 01 de Cláudio Vicentino e Gianpolo Dorigo, trechos da coleção de
História da África - UNESCO, Vol. II, pesquisas a partir da utilização de dados online
e da biblioteca escolar, e ainda, para a construção do objeto fruto de avaliação foi
cedido o endereço online da UNICAMP e oferecido o aplicativo HagáQuê produzido
pela professora Silvia Amélia Abin e Eduardo Hideki Tanakam sobre a orientação da
professora doutora Heloisa Viera da Rocha, através do Núcleo de Informática Aplicada
a Educação(NIED) no ano de 2003 e disponível no site da Universidade de Campinas –
UNICAMP – São Paulo, que tem por intuito “facilitar o processo de criação de uma
História em Quadrinhos por uma criança ainda inexperiente no uso do computador, mas
com recursos suficientes para não limitar sua imaginação”. E, de acordo nota do site da
UNICAMP , “como resultado do crescente uso por pessoas com necessidades especiais,
atualmente encontra-se em processo de redesign pelo NIED”, o que demonstra o
crescente uso pelas escolas de formação básica no Brasil.
Para execução das atividades propostas foi instalado o aplicativo nos notebooks
dos alunos. Inicialmente, o alunado sentiu dificuldade em estruturar o trabalho,
principalmente por não dominarem a utilização das ferramentas do aplicativo e por não
encontrarem durante a pesquisa material conciso e de linguagem acessível sobre a
História da África, o que foi necessário um direcionamento em sala de aula, além de
buscarem apoio aos professores da área técnica, o que teve resultado positivo, tendo em
vista que na semana seguinte o trabalho foi entregue por todas as equipes, a exemplo
das figuras abaixo:
Figura 01: Trechos - História em Quadrinhos produzidas pelos alunos do I ano – Tec.
Informática – EJA - If Guanambi –Bahia, 2016.
8
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
Todavia, é necessário não somente repensar o olhar sobre o Ensino de História
que tradicionalmente é visto como uma prática da arte de decorar, que nada traz além de
fatos históricos, muitas datas e vários heróis, como afirma Fonseca (2008, p. 90) “a
principal característica dessa história é a exclusão: sujeitos, ações e lutas sociais são
excluídos”, abrindo espaço para uma nova fase do ensino de História, a da inclusão
social a partir da escola e dos trabalhos desenvolvidos em sala de aula, aumentando o
acesso aos produtos culturais existentes, além de contribuir para o aumento da
autoestima de alunos e alunas que se sentem negados pela estrutura social enraizada.
O gênero textual HQ e a utilização do aplicativo HagáQuê no ensino de História
É imensurável as possibilidades de recursos para o ensino de Histórias, mas há
também muito que se pesquisar sobre as possibilidades de ensino a partir das Histórias
em Quadrinhos, tido como novo gênero textual, produzido desde final do século XIX
na Europa e nos Estados Unidos e difundido por todo o mundo, mas que são valorizados
como meio incentivador do acesso a leituras para crianças, adolescentes e também entre
os adultos por sua mesclagem entre quadros de imagens e textos, pois os quadrinhos,
segundo Moya (1977, p.110) “são um conjunto e uma sequência” (...)“são compostos
por quadros que combinam dois meios de comunicação diferentes: o desenho e o texto.
Sua principal unidade narrativa é o próprio quadrinho,[...]”. O que numa linguagem
simples, leva o alunado a dominar o conteúdo a ser enfatizado nos quadrinhos,
aproximando o aluno da História e a reflexão sobre o espaço vivido, estudado e
reesignificado ao inseri-lo como sujeito, produtor e transformador da própria História.
Atualmente, aborda-se muito sobre as contribuições das Histórias em
Quadrinhos (HQs) para a formação do leitor, tais como apontados por PINA (2012, p.
03) em Literatura em quadrinhos e a formação do leitor que hoje ao entender que “o
texto literário não apenas traz implícito seu desejado interlocutor, mas ele o representa,
muitas vezes, em atos de leitura que, ao serem desdobrados e reinventados pelo leitor
empírico, podem provocar e, ou desenvolver o gosto pela leitura literária”, sendo
interessante pensar não somente a leitura feita a partir dos quadrinhos, mas utilizar
como recurso de produção textual Ensino de História e principalmente para alunos de
9
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
curso técnico em Informática, que tem por meta de formação o domínio do
Hardware e dos Softwares computacionais. Logo, trazer essa possibilidade de
construção do conhecimento histórico nas aulas de História é, como afirma SANTOS in
SANTOS ( 2010, p. 02) em Formação de leitores: um estudo sobre as Histórias em
quadrinhos que:
A linguagem e os elementos dos quadrinhos, quando bem utilizados,
podem ser aliados do ensino, e a união do texto e da imagem facilita a
compreensão dos conceitos que, ficariam abstratos se relacionados
unicamente com as palavras.
Logo, cabe frisar que práticas inovadoras nos cursos de aperfeiçoamento só
tendem a construir mudanças nas práxis dos docentes, sendo um exemplo, a utilização
do aplicativo HagáQuê, como um editor de Histórias em Quadrinhos, durante a
formação do (eu) docente, durante o curso de Especialização em Leituras, Memórias e
Formação docente UNEB – Campus VI no ano de 2013, pela professora Patrícia da
Costa Pina, essa que desenvolveu pesquisas no entorno da importância das Histórias em
Quadrinhos para o incentivo de leituras entre crianças e jovens, levando os seus
discentes a terem contanto com novos recursos para utilização em sala de aula como o
já citado recurso didático inovador: o HagáQuê.
Discussão e resultados
Tendo em vista que os planos de aula (06 horas/aula) para o conteúdo África
visavam a desconstrução do Conceito de África, a atualidade nos países africanos e em
seguida para o domínio sobre a História antiga da África, utilizando recursos tais com
slides, documentários, textos impressos, foi possível direcionar o alunado a
desconstrução do conceito sobre o Continente Africano, já internalizado erroneamente
por alguns alunos como um país, portanto, sem diversidade, ou seja, de uma História
una, estabelecendo um olhar para um continente possuidor das histórias mais antigas do
mundo, de múltiplas culturas, mas que foi massacrado a partir dos desejos
“imperialistas” europeus desde os primeiros séculos da era cristã e reforçado durante o
século XIX, o que direcionou a divisão política e étnica, reproduzida principalmente
pelos meios de comunicação de massa de maneira acrítica. Ao apresentar e discutir a
história dos Reinos Africanos foi perceptível o espanto de alguns alunos, principalmente
10
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
sobre o reino de KUSH (atual região do Sudão) e AXUM (região da Etiópia), pois
além de aproximar com a riqueza do grandioso Egito, mostra-se como uma história
cheia de dinamicidade e riqueza, além das criações arquitetônicas impressionantes para
o tempo, que interferem diretamente no modo de viver dos povos e suas visões
religiosas, que iam desde as religiões animistas às culturas religiosas advindas com o
cristianismo e islamismo.
Enquanto prática pedagógica, a aplicação do HagáQuê, ressaltou a importância
da formação continuada do professor nesse tempo de novas tecnologias da informação,
tendo em vista a necessidade de aproximação com o mundo do alunado e a necessidade
de acompanhamento as exigências de mercado a partir da existência dos Cursos
Técnicos, como é o caso do Curso Técnico em Informática/ EJA. Logo, foi perceptível
o prazer do alunado ao superar seus limites a partir da dedicação e estudo do conteúdo
para produção das atividades da disciplina de História e que tornaram-se significativas
para a formação enquanto Técnico em Informática, proporcionando-lhe sentidos na sua
práxis escolar.
Considerações finais
“Ensinar é um ato de amor” como aponta Rubem Alves, mas antes de qualquer
coisa, é necessária a devida formação, onde diversas habilidades são construídas e
aperfeiçoadas em contanto com a realidade escolar para o fim da formação consciente
dos sujeitos para o exercício em sociedade, sendo necessários então, constantes curso de
formação continuada, fornecidas pelas unidades de educação, para que as demandas de
cada curso/público sejam atendidas, tal como é o caso do PROEJA no IF – Guanambi –
Bahia que desde sua exigência de implantação pelo governo federal, tornou-se uma
tentativa de enquadramento dos sujeitos/escolas a uma nova realidade social, mas que
deve ser repensada, tendo em vista as lacunas deixadas ao longo do processo de
implantação que até hoje tem seus impactos ao observarmos a quantidade e qualidade
do ensino/aprendizado nos espaços escolares em que se voltam para atender esse
público específico, como salientado por NASCIMENTO, BOMFIM e SILVA (2014 p.
02/03).
Concernente ao ensino da História, e principalmente da História da África, a
aliança entre pesquisa e ensino é essencial, devido as lacunas na escrita da própria
História, pois mesmo com obrigatoriedade do Ensino sobre a África a partir da lei
11
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
10693/10, a disponibilização de material sobre a História da África,
principalmente, obras lançadas pela UNESCO não suprem a necessidade dos
professores nem do alunado, tendo em vista a linguagem de difícil acesso, dificultando
o direcionamento das discussões no ambiente escolar, necessitando, portanto, maior
apoio governamental às pesquisas e disponibilização de livros e diversos gêneros,
inclusive no formato de História em Quadrinhos(HQs), visando a inovação da
linguagem de acordo as gerações, principalmente para as escolas públicas, seja nos
formatos de livros impressos ou digitais, para que não continuemos com um ensino e
aprendizado deficitário sobre a base de todas as culturas do mundo: O continente
Africano .
Contudo, é notável que um ensino e aprendizagem de sucesso acontece quando
propostas de formação estão unidas, quando profissionais que se propõem a ensinar e
sujeitos que se propõem a aprender colaboram para o resultado positivo, buscando nos
recursos inovadores formas de construir um conhecimento significativo, fazendo dos
espaços de formação, espaços de transformação da realidade encontrada.
12
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social
v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
Anais da XVII Semana Acadêmica de Ensino, Pesquisa e Extensão – Universidade e Comunidade: em busca da transformação social v.1, nº. 1, 2016. ISSN – 2448-1319
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Rubem. A Alegria de Ensinar. 3ª edição. Ars Poética Editora. São Paulo,
1994.
BITTENCOUIT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e
métodos. São Paulo: Cortez, 2008b.
BONFIM S.V.M.S.; NASCIMENTO, M. C. e SILVA, P.P.O. Trajetória do EJA no
Instituto federal Baiano – campus Guanambi. Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede
Norte e Nordeste da rede Tecnológica, ano 2014 (p. 1-12)
FONSECA, Selva Guimarães. Didática e Prática de Ensino de História:
experiências, reflexões e aprendizados. 7 ed. São Paulo: Papirus, 2008.
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2007.
GATTI, B. A. Formação de professores no Brasil: características e problemas.
Educação e Sociedade. Campinas, v. 31, n. 113, p. 1355-1379, out.-dez. 2010.
MANACORDA, Mário Alighiero. História da Educação: da antiguidade aos nossos
dias. 12ªed. São Paulo: Cortez, 2006.
PAVIANI, Jayme. Interdisciplinaridade: conceito e distinções. Caxias do Sul: Educs;
Porto Alegre: Pyr, 2005.
PINA, Patrícia Kátia da Costa. Literatura em quadrinhos e a formação do leitor .VI
colóquio Internacional de Educação e Contemporaneidade, 2012 p. 1-12.
SANTOS, Mariana Oliveira dos. Formação de leitores: um estudo sobre as Histórias
em quadrinhos. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.15,
n.2, p. 05 jul./dez., 2010, (p. 1-19)
UNESCO. História Geral da África. Vol. II. Disponível em http://unesdoc.unesco.org.
images/0019/001902/190250POR.pdf. Acesso em 05/03/2016.
UNICAMP. HAGAQUÊ. Disponível em: http://www.nied.unicamp.br/?q=conten
t/hag%C3%A1qu%C3%AA. Acesso em: 12/05/2016.
Top Related