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A HIPNIATRIA NAS NEUROSES*

Dr. Miguel. Cal 1 i l e Júnior**

Há aplicação da h i p n i a t r i a nas neuroses?

Respondendo a e s t a questão teremos que o p e r a c i o n a r , a n t e s , os termos "hipnotera_ p i a " e " h i p n i a t r i a " .

Compreendemos por h i p n o t e r a p i a a terapêutica p e l a h i p n o s e ; por h i p n i a t r i a o mé­todo de cura médica o b t i d a através da utilização, p e l o médico, da hipnose como meio predo n i n a n t e no conjunto terapêutico.

Mas era que vamos empregar t a l "cura médica"? 0 que ê neurose? 0 que ê hipnose?

GENERALIDADES

0 termo "neurose" aparece, pela p r i m e i r a v e z , nos f i n s do século X V I I I , nos t r a balhos do médico escocês WILLIAM CULLEN,cirurgião, c o n s i d e r a d o como fundador da Escola de Medicina de Glasgow, designando uma série de quadros ( h i s t e r i a , nervosismo, síndromes neurológicas) sem uniformidade c o n c e i t u a i ^ (Synopsis N o s o l o g i c a e Medicae). Importante em CULLEN e o c o n c e i t o de l o c u r a como condição patológica da mente; p o r t a n t o , já uma o r i e n t a ção psicológica em p s i q u i a t r i a .

Em 1871, KRAFFT-EBING c r i a o termo " P s i c o n e u r o s e " : "Para d e s i g n a r os tr-«nstor -nos psíquicos nos quais os indivíduos de cérebro s a d i o são a t i n g i d o s . Preferimos a p a l a ­vra p s i c o n e u r o s e e aqueles t r a n s t o r n o s que se desenvolvem em um cérebro doente o termo de ge n e r e s c e n c i a psíquica.

Tal termo é retomado por DUBOIS, em 1909, para título de um seu t r a b a l h o , d e s i g nando formas de transição e n t r e quadros que podem s e r c o n s i d e r a d o s como psicopáticos e psicóticos.

A P s i c o l o g i a e a P s i q u i a t r i a modernas devem seus avanços a d o i s nomes que sentam i d e i a s opostas, aparentemente. De I n t e i r a e a b s o l u t a v a l i d a d e científica são suas afirmações, pois que obedecem aos r e q u i s i t o s e s s e n c i a i s para aquela v a l i d a d e : repetição- por outrem, nas mesmas condições, obtendo-se os mesmos r e s u l t a d o s . Foram IVAN PETROVICH PAVLOV e SIGMUND FREUD fundadores da M e d i c i n a C o r t i c o - v i s c e r a l e da l o g i a Profunda.

Inúmeros e i l u s t r e s seguidores vêm mantendo opostos os campos, mas confirmando, aperfeiçoando, permitindo a evolução das duas grandes e s c o l a s , sem — e n i s t o r e s i d e a g r a n deza de ambos - a l t e r a r seus postulados básicos.

Depois de FREUD é que a p a l a v r a "neurose" a d q u i r e compreensão psicológica e f o i com PAVLOV que a hipnose encontrou o caminho científico para a sua explicação, t i n d i s c u ­tível que a rejeijão, por FREUD, da hipnose, trouxe a e s t a arma terapêutica um período de esquecimento de vários anos. Mas, paradoxalmente, é a psicanálise um dos f atoresresponsã v e i s p e l a projeção científica extraordinária que vem tomando a h i p n o t e r a p i a nos últimos ã" nos. Muitas das modernas técnicas e muitas das modernas t e o r i a s da hipnose têm base no? princípios e na penetração científica da p s i c a n a l i s e , a q u a l , por sua vez, teve origem na hipnose, o que t a l v e z , de acordo com a própria t e o r i a , e x p l i q u e a rejeição da hipnose pe lo s p s i c a n a l i s t a s . Importante é, também, a preocupação dos mais destacados p s i c a n a l i s t a s -

•com os fenómenos hipnóticos, tentando torná-los caudatários de sua escola.com explicações que procuram r e d u z i - l o s , quando hipniãtricos, ã terapêutica de superfície ou ã medicina de fachada.

O QUE E NEUROSE

P a r t i n d o da hipnose e c r i a n d o seu método e s p e c i a l , c o n s i d e r a v a FREUD, i n i c i a l -mente, as neuroses como a r e s u l t a n t e de c o n f l i t o s e n t r e o princípio do prazer-desprazer (guia i n i c i a l do recém-nascido em contato com a v i d a ) e o princípio da r e a l i d a d e (guia p r o g r e s s i v o da c r i a t u r a , o r i g i n a d o nas coerções e exigências s o c i a i s ) . Tal concepção se foi modificando até que, em seus últimos t r a b a l h o s , a d m i t i a serem os sintomas neuróticos expressões do Ego, s o f r e d o r e expiatório, vítima dos c o n f l i t o s e n t r e os impulsos do Id e as repressões do Super-ego.

As neuroses seriam, p o i s , como que um "acordo", proposto p e l o Ego, para defen -der-se daquelas l u t a s de outrem, nas quais l e v a s s e a p i o r .

* - Trabalho apresentado nos I9s Congressos Pan Americano e B r a s i l e i r o de H i p n o l o g i a . R i o de J a n e i r o , 16-22, j u l h o , 1961. Trabalho p u b l i c a d o na Rev. Bras. de Saúde Mental,vo1. IX, no único, 1965.

** - E x - P r e s i d e n t e da SEHM. L i v r e Docente da Fac.Medicina do Rio de J a n e i r o da Uni v e r s i d a de do B r a s i l . Da Academia B r a s i 1 e i r a ' d e Medicina de Reabilitação. Da Academia B r a s i ­l e i r a de Medicina M i l i t a r .

repre as

- a el e s

Ps ico

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A vantagem de t a l ponto de v i s t a f o i a p o s s i b i l i d a d e da compreensão dos mecanis mos profundos das neuroses, escapando-se ao esquematismo fictício e rígido das formas clí n i c a s de evolução e s i n t o m a t o l o g i a uniforme das e s c o l a s noso1õgico-causais . ~

Dentro da compreensão de seus mecanismos, as neuroses s e r i a m :

- a t u a i s - de transferência - de nao transferência

Nas a t u a i s h a v e r i a sempre um f a t o r orgânico ou m a t e r i a l predominando e que.afas tado, por vezes, b a s t a r i a para curã-las (masturbação e x c e s s i v a , insatisfação s e x u a l , úlce­ra duodenal, e t c . J . 0 tratamento psicanalítico s e r i a i n s u f i c i e n t e sem a remoção daquelas causas; útil, porem, para o e s c l a r e c i m e n t o de seu papel nos sintomas neuróticos.

Nas de transferência h a v e r i a , como que, e como d e f e s a , uma diluição do Ego no mundo externo e incorporação pelo Ego daquele mundo. 0 Ego se t o r n a r i a extra-erõtico, as sumindo uma grande expansão e surgindo a "fome s e x u a l " por um mecanismo que FERENCZI'denõ minou de "introjeçao". -

Impor-se-ia a terapêutica e a transferência do o b j e t o .(reca1cado, ignorado, cul poso, e t c . ) sobre o a n a l i s t a ; s e r i a um dos estágios obrigatórios da mesma. Tal transferãn :

c i a , no d i z e r de FREUD, o r g a n i z a - s e por "impressões e reproduções de emoções e fantasias, que devem ser despertadas e t r a z i d a s ã consciência durante o progresso da análise e se ca r a c t e r i z a m porque substituem o u t r a pessoa, a n t e r i o r , p e l a pessoa do médico". No d i z e r dê FERENCZI, "a t r a n s f e r e n c i a ê umjmecanismo psíquico característico das neuroses, mas quo s e v i d e n c i a em todas as situações da v i d a , e, su b j a c e n t e ao q u a l , encontra-se a maior par te das manifestações patológicas". -

Nas de não transferência h a v e r i a , ao contrário, uma concentração do Ego e perda de I n t e r e s s e pelo mundo ext e r n o . 0 Ego se t o r n a r i a auto-erõtico ( n a r c i s i s m o ) ; em vez da "fome s e x u a l " , s u r g i r i a o d e s i n t e r e s s e s e x u a l , por um mecanismo de projeção e consequente e s t r e i t a m e n t o do Ego.

A terapêutica psicanalítica s e r i a de menos v a l i a , a não s e r que, se possível, houvesse o "desligamento da l i b i d o em sua aplicação sobre o Ego" e a transformação daque l a neurose, em t r a n s f e r e n c i a l . Aí, então, e x e r c i t a r - s e - i a a psicanálise.

.* * * Enquanto que para FREUD as neuroses não t e r i a m conteúdo psíquico e s p e c i a l que

lhe s f o s s e p e c u l i a r e só o c o r r e s e n e l a s , p a r a JUNG os neuróticos s o f r e r i a m de complexos c o n t r a os quais todos os indivíduos também lutam.

A p s i c o l o g i a i n d i v i d u a l de ADLER, p a r t i n d o do enquadramento do indivíduo pela h e r e d i t a r i e d a d e e meio ambiente, o qual responde em termos de seu característico, marcado e pessoal poder c r i a d o r , c o n s i d e r a a neurose como s u p e r e s t r u t u r a compensadora, da nual o indivíduo lança mão para r e a l i z a r seu i d e a l t r a n s c e n d e n t e de afirmação e de t r i u n f o sobre seu complexo i n f a n t i l de i n f e r i o r i d a d e . 0 d e s a j u s t e neurótico d e c o r r e r i a de seu fictício e s t i l o de v i d a , em oposição ao s e n t i d o de s o l i d a r i e d a d e c o l e t i v a ( s e n t i d o de comunidade). 0 iieurõtico, então, p r o c u r a r i a inconscientemente vencer p e l a compaixão ou pelo temor.Para KAREN HORNEY, o mecanismo das neuroses s e r i a mais do t i p o p s i c o - s o e i a 1, c u j o núcleo dinâ­mico se s i t u a r i a na angústia. Sem subestimar o f a t o r s e x u a l , d i v e r g e do panséxualismofreu d i a n o , i n c l u i n d o no mesmo nível de importância os costumes, c u l t u r a , padrão de v i d a , etcT Nega o carãter estático da p e r s o n a l i d a d e .

Quando, em seus t r a b a l h o s , PAVLPV se r e f e r i a a estados psicopatolõgicos, d e c l a ­rava sempre, a n t e s , ser um f i s i o l o g i s t a er. incursões na P s i q u i a t r i a . Experimentand" em an i m a i s , p r i n c i p a l m e n t e em cães, não g e n e r a l i z a v a suas conclusões, p r e c i p i t a d a m e n t e , apli_ cando-as ao ente humano. Foi no último período de suas a t i v i d a d e s que, passando a frequen t a r regularmente clínica psiquiátrica, procurou a p l i c a r ao homem seus estudos de l a b o r a t o r i c . Era seu t r a b a l h o sobre neuroses e x p e r i m e n t a i s , assim se exprime: — "Por neuroses, en­tendemos os d e s v i o s crónicos (de semanas, meses ou mesmo anos) da a t i v i d a d e nervosa com relação ã normal". Em seu estudo sobre a a t i v i d a d e nervosa s u p e r i o r , a f i r m a que "a doença pode l i m i t a r - s e a pequenos pontos c o r t i c a i s , i s o l a d o s . I s t o p r o v a , i n c o n t e s t a v e l m e n t e , o carãter de mosaico do córtex. Nos últimos tempos, em laboratório, pudemos provocar um trans t o r n o , em grande parte semelhante â h a b i t u a l neurose de g u e r r a , na qual o p a c i e n t e revive, durante o sono ou hipnose, terríveis cenas de g u e r r a , ço« g r i t o s e movimentos correspon -dentes". Procurando a interpretação flsiolõlica das neuroses, chama a atenção dos que a t a i s estudos se dedicam, para o s e g u i n t e mecanismo:

1 - existência, no córtex, de pontos patológicos claramente i s o l a d o s ; 2 - inércia patológica do processo de excitação (zona de excitação persistente); 3 - fase u l t r a - p a r a d o x a l . Nas neuroses, especialmente nas de t i p o o b s e s s i v o , h a v e r i a preponderância, con­

comitância ou alternância da inércia patológica e da f a s e u l t r a - p a r a d o x a l , bem como pon tos patológicos i s o l a d o s

Para p e r f e i t a compreensão de t a l mecanismo, recordemos o que é "inércia patoló­g i c a " e " f a s e u1tra-paradoxa1".

T a i s concepções encontram seu i n t e i r o e s c l a r e c i m e n t o nos estudos de WEDENSKI e OUTCHOMSKY sobre 5 que denominaram "Parab1ose", i s t o é, a perda de capacidade de r e a g i r

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A vantagem de t a l ponto de v i s t a f o i a p o s s i b i l i d a d e da compreensão dos mecanis mos profundos das neuroses, escapando-se ao esquematismo fictício e rígido das formas clí n i c a s de evolução e s i n t o m a t o l o g i a uniforme das e s c o l a s nosológico-causais .

Oentro da compreensão de seus mecanismos, as neuroses s e r i a m :

- a tua i s - de transferência - de nao transferência

Nas a t u a i s h a v e r i a sempre um f a t o r orgânico ou m a t e r i a l predominando e que.afas tado, por vezes, b a s t a r i a para curá-las (masturbação e x c e s s i v a , insatisfação s e x u a l , úlcc ra duodenal, e t c . ] . 0 tratamento psicanalítico s e r i a i n s u f i c i e n t e sem a remoção daquelas causas; útil, porem, para o e s c l a r e c i m e n t o de seu papel nos sintomas neuróticos.

Nas de transferência h a v e r i a , como que, e como d e f e s a , uma diluição do Ego no mundo externo e incorporação pelo Ego daquele mundo. 0 Ego se t o r n a r i a extra-erõtico, as sumindo uma grande expansão e surgindo a "fome s e x u a l " por um mecanismo que FERENCZI"denõ minou de "introjeção". ~

Impor-se-ia a terapêutica e a transferência do o b j e t o . ( r e c a l c a d o , ignorado, c ul poso, e t c . ) sobre o a n a l i s t a ; s e r i a um dos estágios obrigatórios da mesma. Tal transferên­c i a , no d i z e r de rREUD, o r g a n i z a - s e por "impressões e reproduções de emoções e f a n t a s i a s que devem ser despertadas e t r a z i d a s ã consciência durante o progresso da análise e se ca r a c t e r i z a m porque substituem o u t r a pessoa, a n t e r i o r , p e l a pessoa do médico". No d i z e r dê" FERENCZI, "a transferência ê um "mecanismo psíquico característico das neuroses, mas que s e v i d e n c i a em todas as situações da v i d a , e, su b j a c e n t e ao q u a l , encontra-se a maior par te das manifestações patológicas". ~

Nas de não transferência h a v e r i a , ao contrário, uma concentração do Ego e perda de I n t e r e s s e pelo mundo externo. 0 Ego se t o r n a r i a auto-erõtico ( n a r c i s i s m o ) ; em vez da "fome s e x u a l " , s u r g i r i a o d e s i n t e r e s s e s e x u a l , por um mecanismo de projeção e consequente e s t r e i t a m e n t o do Ego.

A terapêutica psicanalítica s e r i a de menos v a l i a , a não s e r que, se possível, houvesse o "desligamento da l i b i d o em sua aplicação sobre o Ego" e a transformação daque l a neurose, em t r a n s f e r e n c i a l . Aí, então, e x e r c i t a r - s e - i a a psicanálise.

,# * * Enquanto que para FREUO as neuroses não t e r i a m conteúdo psíquico e s p e c i a l que

lhe s f o s s e p e c u l i a r e só o c o r r e s e n e l a s , para JUNG os neuróticos s o f r e r i a m de complexos c o n t r a os quais todos os indivíduos também lutam.

A p s i c o l o g i a i n d i v i d u a l de ADLER, p a r t i n d o do enquadramento do indivíduo pela h e r e d i t a r i e d a d e e meio ambiente, o qual responde em termos de seu característico, marcado e pessoal poder c r i a d o r , c o n s i d e r a a neurose como s u p e r e s t r u t u r a compensadora, da nual o indivíduo lança mão para r e a l i z a r seu i d e a l t r a n s c e n d e n t e de afirmação e de t r i u n f o sobre sei> complexo i n f a n t i l de i n f e r i o r i d a d e . 0 d e s a j u s t e neurótico d e c o r r e r i a de seu fictício e s t i l o de v i d a , em oposição ao s e n t i d o de s o l i d a r i e d a d e c o l e t i v a ' ( s e n t i d o de comunidade). 0 iieurõtico, então, p r o c u r a r i a inconscientemente vencer p e l a compaixão ou pe 1 o .temor. Pa ra KAREN HORNEY, o mecanismo das neuroses s e r i a mais do t i p o p s i c o - s o e i a l , c u j o núcleo d i n a ­mito se s i t u a r i a na angústia. Sem subestimar o f a t o r s e x u a l , d i v e r g e do pansexual ismo freu_ d i a n o , i n c l u i n d o no mesmo nível de importância os costumes, c u l t u r a , padrão de v i d a , e t c . Nega o carãter estático da p e r s o n a l i d a d e .

Quando, em seus t r a b a l h o s , PAVLPV se r e f e r i a a estados psicopatolõgicos, d e c l a ­rava sempre, ant e s , ser um f i s i o l o g i s t a en incursões na P s i q u i a t r i a . Experimentando em ani m a i s , p r i n c i p a l m e n t e em cães, nao g e n e r a l i z a v a suas conclusões, p r e c i p i t a d a m e n t e , ap 1 i_ catido-as ao ente humano. Foi no último período de suas a t i v i d a d e s que, passando a frequen t a r regularmente clínica psiquiátrica, procurou a p l i c a r ao homem seus estudos de laboratõ r i c . Em seu t r a b a l h o sobre neuroses e x p e r i m e n t a i s , assim se exprime: - "Por neuroses, en­tendemos os d e s v i o s crónicos (de semanas, meses ou mesmo anos) da a t i v i d a d e nervosa com relação ã normal". Em seu estudo sobre a a t i v i d a d e nervosa s u p e r i o r , a f i r m a que "a doença pode l i m i t a r - s e a pequenos pontos c o r t i c a i s , i s o l a d o s . I s t o p r o v a , i n c o n t e s t a v e l m e n t e , o carãter de mosaico do córtex. Nos últimos tempos, em laboratório, pudemos provocar um trans^ t o r n o , em grande parte semelhante ã h a b i t u a l neurose de g u e r r a , na qual o p a c i e n t e revive, durante o sono ou hipnose, terríveis cenas de g u e r r a , com g r i t o s e movimentos correspon -dentes". Procurando a interpretação fisiolólica das neuroses, chama a atenção dos que a t a i s estudos se dedicam, para o s e g u i n t e mecanismo:

1 - existência, no córtex, de pontos patológicos claramente i s o l a d o s ; 2 - inércia patológica do processo de excitação (zona de excitação persistente); 3 - fase u l t r a - p a r a d o x a l . Nas neuroses, especialmente nas de t i p o o b s e s s i v o , h a v e r i a preponderância, con­

comitância ou alternância da inércia patológica e da f a s e u l t r a - p a r a d o x a l , bem como pon tos patológicos i s o l a d o s

Para p e r f e i t a compreensão de t a l mecanismo, recordemos o que é "Inércia patoló­g i c a " e " f a s e u l t r a - p a r a d o x a l " .

T a i s concepções encontram seu i n t e i r o e s c l a r e c i m e n t o nos estudos de WEDENSKI e OUTCHOHSKY sobre 6 que denominaram " P a r a b i o s e " , i s t o ê, a perda de capacidade de r e a g i r

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corretamente quando as células c o r t l c a l s são submetidas a agentes v i o l e n t o s t a i reação i n c o r r e t a apresenta as se g u i n t e s f a s e s , cuja nomenclatura é - d e n t i c a ã do sono fisiológi­co, mas a localização é f o c a l , i r r e g u l a r e transitória ipontos i n e r t e s ) . " gerando a t i v i d a -des físicas ps i copa to 1õg i ca s

- de igualização - todos os estímulos, sejam quais forem as suas i n t e n s i d a d e s , resultam no mesmo grau de irritação.

- paradoxal - na qual as intensidades dos estímulos produzem um e f e i t o -nverso - O S estímulos f o r t e s provocam uma reaçao débil e inversamente;

- u l t r a - p a r a d o x a 1 - os estímulos e x c i t a d o r e s provocam inibição e os i n i b i d o r e s a excitação

Em suas experiências sobre a f i s i o l o g i a das neuroses, PAVLOV e seus colaborado res v e r i f i c a r a m que a doença a p a r e c i a com f a c i l i d a d e nos caes de t i p o s nervosos extremos: excitáveis e i n i b i d o s ; e, d i f i c i l m e n t e , nos t i p o s c e n t r a i s , e q u i l i b r a d o s

E, a q u i , vem a propósito lembrar o que FREUD escreveu em "Minha Vida e a P s i c a ­nálise": - "Sem alguma condição fa v o r e c e d o r a , c o n s t i t u c i o n a l , congénita, é provável que nenhuma neurose se m a n i f e s t a s s e "

V e r i f i c a m o s , p o r t a n t o , que, para a Escola C õ r t 1 c o - V i s c e r a 1 . as neuroses. para sua manifestação, necessitam de condições c o n s t i t u c i o n a i s biológicas e de estímulos exter nos e i n t e r n o s v i o l e n t o s .

0 t i p o nervoso, o enfraquecimento do tono das células c o r t i c a i s , a criação de r e f l e x o s v i c i o s o s por estímulos v i o l e n t o s ou inadequados, se r i a m , em seu conjunto,os p r i n c i p a i s responsáveis pelo aparecimento das neuroses

Baseando-se nas i n t e r r e l ações dos dois Sistemas de Sinalização da Realidade, PA VLOV d i s t i n g u i u , no Homem, três t i p o s de a t i v i d a d e nervosa s u p e r i o r

- t i p o artístico, no qual h a v e r i a predominância do 19 SSR, - t i p o i n t e l e c t u a l , no qual h a v e r i a predominância do 20 SSR. - t i p o médio no qual h a v e r i a equilíbrio dos d o i s SSR Segundo a h i s t o r i a da vi d a do paciente e o t i p o de neurose apresentada, PAVLOV

propôs a s e g u i n t e classificação: - H i s t e r i a , com predominância do 19 SSR, - Ps i c a s t e n i a , _ c o m oredomináncia do 29 SSR Ambas l i g a d a s a estruturação p a r t i c u l a r do cérebro, ac tmo nervoso e ao t i p o de

a t i v i d a d e nervosa s u p e r i o r . As demais formas neuróticas seriam combinações ou predominância de uma destas

duas, básicas (Congresso I n t e r n a c i o n a l de Neurologia de Londres, em 30 de j u l h o de 1935)

Dentro de uma concepção f i s i o 1õgico-dinãmica, a E s c o l a Cõrtico-Viscera1 vê as neuroses como r e s u l t a n t e s de c o n f l i t o s entre forças que já existem nas condições normais fisiológicas. Quando se chocam, inibem - s e ou se estancam, determinam jogo de tensões p s i ­cológicas, das quais a neurose é o r e s u l t a d o .

# * *

Assentando o nosso po n t o - d e - v i s t a em bases fenomenolõgico-ex í stenciais e na nos sa experiência p e s s o a l , r e s u l t a n t e da l i d a contínua com doentes mentais, considera - ios mais o indivíduo que a síndrome "neurose" que e l e apresente

Partimos de que o indivíduo só é porque tem que ser, logo, sua existência é uma t a r e f a da qual só e l e mesmo poderá encarregar-se

Parte dessa reflexão o compreender-se que. na tem p o r a l i d a d e , o momento essen -c i a i é o vir-a-aev ( p o r v i r ) . 0 ente humano é sempre p r o j e t o , p o i s a existência deste ente nunca lhe é dada, mas algo que está sempre para a c o n t e c e r ^ donde a c e i t a r - s e . somente, uma existência possível.

Podemos t e n t a r a captação ontológica do p r o j e t o desta existência possívei a par t i r da i n t e n c i o n a l i d a d e da consciência e da r e s p o n s a b i l i d a d e :

- consciência é- sempre de algo e pressupõe a coexistência e n t r e s u j e i t o e obje-to (Eu + a l g o ) ;

- r e s p o n s a b i l i d a d e é sempre de alguma c o i s a , uma aspiração que tende a r e a l i z a r -se (quero + v i r a s e r ) .

Consciência e r e s p o n s a b i l i d a d e tornam possíveis, no tempo, a coexistência (Eu * o u t r o ) e a sucessão (Nós + v i r a s e r ) , que vão c o n f e r i r a cada indivíduo um s e n t i a ' de vi da e um p r o j e t o de mundo.

Compreendemos as neuroses como sendo alterações deste s e n t i d o de vida e deste p r o j e t o de mundo.

Para que uma neurose se ma n i f e s t e , e n t r e t a n t o , é necessário a conjugação de

a) Fundamentos c o n s t i t u c i o n a í s , i u e , por sua ordem de importância se estruturam; - na d e b i l i d a d e neurológica', - na constituição c o r p o r a l ; - na h e r e d i t a r i e d a d e

li»

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b) Fundamentos c o n d i c i o n a i s , que são:

- as reações intrínsecas do Eu;

- as reações extrínsecas do Eu.

Os Fundamentos c o n s t i t u c i o n a i s emolduram os fundamentos c o n d i c i o n a i s , que se ex

pressam:

em modos de existência gerando

- a t i t u d e s e x i s t e n c i a i s , que podem ou não f i x a r

- decisões e x i s t e n c i a i s .

A característica g e r a l das neuroses é o v a l o r I n t e n c i o n a l de seus sintomas -mensagens que podem re p r e s e n t a r a consequência, a expressão d i r e t a e os meios de e x p l i c a ­ção i n d i r e t a dos fundamentos. Por outra p a r t e , o sintoma a l i v i a o s o f r i m e n t o de que é pre sa o p a c i e n t e , daí a sua u t i l i d a d e , o seu estar-ã-mão e o a c l a r a r - s e porque, embora não forneça a origem de uma neurose, e l u c i d a a sua persistência.

Em face do exposto, consideramos nas neuroses d o i s mecanismos básicos: Catagêne se (LOPEZ IBOR) e Syngênese.

CATAGENESE: Nas neuroses predominantemente orgânicas, desencadeadas por mecanismo emocio­

n a l , mas nas quais de t a l forma se Implantou a síndrome orgânica que, a q u i l o que se produ z1u por mecanismo psíquico, não mais se reduz por qualquer forma de p s i c o t e r a p i a e x c l u s i v a mente.

E uma conversão sem reversão. São as Psicossomatoses.

SYNGÊNESE: As neuroses reduzidas pela p s i c o t e r a p i a . E uma conversão com reversão. São P s i -

coneuroses. 0 QUE E HIPNOSE

Adotando o mesmo critério que para o estudo c o n c e i t u a i das neuroses, v e r i f i c a r e mos o que vem a ser hipnose, sem nos r e f e r i r m o s aos históricos e ãs t e o r i a s derivadas dõ pensamento mágico a n t e r i o r ; r e s t r i n g i r - n o s - e m o s ao que há de básico e fundamental nas o r i g i n a i s e modernas t e o r i a s .

* * * A t e o r i a de FREUD, para e x p l i c a r o fenómeno "Hipnose", v a i ao início de seus es

tudos e da criação da Psicanálise. Baseia-se em observações de alguns p a c i e n t e s seus,quan do ainda empregava a hipnose terapêutica e que reagiam, ao ac o r d a r , de maneira e x p l o s i v o -a T e t i v a . Oecisivãmente, porém, um caso p e r m i t i u a FREUD a generalização de sua do u t r i n a so bre a "entrega amorosa", que s e r i a a hipnose, e abandono de t a l técnica pela da a s s o c i a " ção l i v r e de i d e i a s .

FREUD i d e n t i f i c a a hipnose com o masoquismo, necessidade i n s t i n t i v a de submis -são, que e n v o l v e r i a gratificação de caráte- l i b i . d i n o s o ; a relação sexua 1 - a f e t i v a s e r i a , n a hipnose, um f a t o r impossível de ser dominado e muito mais poderoso que o t r a b a l h o "catãr-t i c o " , a n u i ando qualquer bom r e s u l t a d o ao mtnor d i s s a b o r ou desarmonia e n t r e o médico e o enfermo.

Mas é com FERENCZI que vamos e n c o n t r a r , melhor e l a b o r a d o , o ponto-de-v1sta p s i ­canalítico sobre a hipnose. Oeclara-se convencido da correção do c o n c e i t o de BERNFEIN: a hipnose é só uma forma de sugestão (sono sugerido) e, por i s t o , c o n s i d e r a como sendo i mesma c o i s a hipnose e sugestão,usando, mesmo,um termo pelo o u t r o .

A c e i t a também a "condição de dissociação" da mente, afirmando que t a l d i s s o c i a ­ção e x i s t e , segundo a psicanálise, em todas as pessoas despertas ( i n c o n s c i e n t e , pré-cons-d e n t e e c o n s c i e n t e ) .

Assim e x p l i c a o fenómeno "hipnose": no i n c o n s c i e n t e , s e n t i d o f r e u d i a n o do termo, encontram-se todos os impulsos rep r i m i d o s durante o desenvolvimento c u l t u r a l do i n d i v i d u o ; t a i s impulsos estão pejados de a f e t o s , i n s a t i s f e i t o s , famintos de estímulos que lhesper a i -tam " t r a n s f e r i r - s e " para objetos ou pessoas do mundo e x t e r n o , conexar o b j e t o s ou pessoas com o Ego e "introjetá-1 os".

A hipnose s e r i a a r e s u l t a n t e de t a l transferência: as forças mentais i n c o n s c i e n tes do h i p n o t i z a d o usariam o h i p n o t i z a d o r como obj e t o t r a n s f e r e n c i a l . Entre t a i s _ forças mentais i n c o n s c i e n t e s seriam s e l e c i o n a d o s "os complexos p a t e r n a i s " , p o i s estes têm orande e extraordinária importância em toda a formação da v i d a . T a i s complexos p a t e r n a i s então, pejados de a f e t o s , famintos de estímulos de natureza s e x u a l , germinariam o que a ps í ca ná 1 j_ se denomina "fome s e x u a l " , que s e r i a o mais poderoso vínculo ent r e os desejos sexuais r e ­primidos e i n c o n s c i e n t e s e a pessoa s i g n i f i c a t i v a , no caso, o h i p n o t i z a d o r . Repetimos suas a l a v r a s : - "a capacidade de ser h i p n o t i z a d o e i n f l u e n c i a d o pela sugestão depende da possi i l i d a d e de que se desenvolva uma t r a n s f e r e n c i a , ou,mais claramente, uma a t i t u d e sexual pn

s i t i v a , embora i n c o n s c i e n t e , que a pessoa h i p n o t i z a d a adote com relação ao h i p n o t i z a d o r . A

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t r a n s f e r e n c i a , como todo "objeto-amor", tem sua* profundas raízes nos r e p r i m i d o s comple­xos paternos". E. em continuação: - "o que desejo e s t a b e l e c e r mediante os f a t o s apresenta dos e o c o n c e i t o de que o "médium" está realmente enamorado pelo h i p n o t i t a d o r e que esta tendência vem da infância".

Em s e g u i d a , continuando a r e p e U r suas p a l a v r a s , v e r i f i c a m o s que, embora preca­riamente, f u n c i o n a sua auto-crítica: - "nao c o n t i n u a r e i estudando a a n a l o g i a entre o ena­moramento e a hipnose para não dar a impressão de que deduzo sobre semelhança banal".

Acaba afirmando que t a l hipótese é bem fundada sobre investigações suas e de FREUD e que é p e r f e i t a m e n t e c o r r e t a .

Tal concepção, que é g e r a l para as e s c o l a s p s i c a n a l T t i c a s .^ortodoxas ou d i s s i -dentes, c o n c l u i pela submissão i n c o n s c i e n t e ao h i p n o t i z a d o r . l i g a d a i submissão f i l i a l f r e n t e ã a u t o r i d a d e dos g e n i t o r e s . Daí o considerarem a hipnose como terapêutica maternal ou paterna 1.

Se concordássemos com as e s c o l a s psicanalíticas, teríamos que c o n s i d e r a r a h i p ­nose como sendo, somente, o eco de f a n t a s i a s i n c e s t u o s a s , p r o i b i d a s , numa criança.

Situando-se como um f i s i o l o g i s t a fazendo incursões na P s i q u i a t r i a , PAVLOV consi^ dera a hipnose como um estado de f a s e , intermediário e n t r e a vigília e o sono. Tal estado de fase r e s u l t a r i a :

1 - de diferentes níveis de extensão da inibição, i s t o e, maior ou menor difusão da Inibição nos d i f e r e n t e s s e t o r e s , quer do córtex, quer em profundidade.nos d i f e r e n t e s estágios do cérebro;

2 - de d i v e r s a s i n t e n s i d a d e s de inibição, mais ou menos profunda e i n c i n d i n d o s o bre os mesmos pontos.

Para a E s c o l a C o r t i c o - V i s c e r a 1 , a hipnose é um fenómeno neuro-fisiolõgico devi do a u m r e f l e x o de indução; t a l r e f l e x o é condicionado por estímulos d i v e r s o s e vários,o? quais são e x c i t a d o r e s e c o n d i c i o n a d o r e s . T a i s estímulos provocam uma inibição c o r t i c a l d i f u s a e i r r a d i a d a , mantendo conexões temporárias e n t r e o córtex e o cérebro profundo.Man têm-se, e n t r e t a n t o , um ponto vígil excitãvel, o qual permite a interrelação " s u j e t " - hip" n o t i s t a . ~

Quando estuda o aspecto "sugestão" em hipnose, assim se exprime PAVLOV - "Suges tao e auto-sugestão sao a concentração da excitaçao em um ponto de sua r e s u l t a n t e - a repre­sentação; Esta excitação concentrada pode ser provocada pela emoção (origem s u b c o r t i c a 1 ) : por excitação e x t e r n a o u por ligações i n t e r n a s de associações. A d q u i r e , então, s i g n i f i c a ­ção dominante, inelutável. Sua existência, sua exteriorização em movimentos, não e causa­da por outras associações, sensações ou representações presentes ou passadas, o que se­r i a um ato r a c i o n a l . Nao, a q u i , com o enfraquecimento do tono c o r t i c a l , e s t a associação concentrada acompanha-se de uma f o r t e indução n e g a t i v a , que a i s o l a de todas as demais in fluências".

Este é o mecanismo da sugestão hipnótica ou põs-hipnõtica que, no cérebro nor­mal, o c o l o c a , momentaneamente, num estado de tono p o s i t i v o mais b a i x o , p o s i t i v o porque e uma r e s p o s t a a t i v a ã excitação.

Das t e o r i a s que aceitam para a hipnose a dissociação ou exclusão de aspectos da mente, vamcs nos r e f e r i r ã de RAPHAEL RHODES, denominada " t e o r i a da exclusão psíqui­ca r e l a t i v a " .

0 autor c o n s i d e r a que em todas as pessoas existem duas mentes: - o b j e t i v a e sub j t t i v a . A mente o b j e t i v a r e l a c i o n a - s e com os s e n t i d o s e tem a capacidade de r a c i o c i n a r ? t a n t o i n d u t i v a como dedutivamente; a mente s u b j e t i v a r e l a c i o n a - s e com a memória, só pode r a c i o c i n a r dedutivamente e não dispõe de capacidade de síntese.

Há equilíbrio p e r f e i t o , em cada indivíduo normaj, t a l coroo no travessão de uma balança ou como num vaso que contenha líquidos de densidades d i f e r e n t e s , entretanto,o pre domínio de uma destas mentes e x c l u i a a t i v i d a d e da o u t r a , de maneira r e l a t i v a e concomi -ts nte.

I s t o ê válido para oindivíduo acordardo, dormindo ou em hipnose. Quando acorda do, o que determina a predominância de uma dessas mentes são as necessidades s o l i c i t a d o r

ras de um ou de outro t i p o de raciocínio.

Na hipnose, é a ação do h i p n o t i s t a que induz ã retração a mente o b j e t i v a (senso r i a l ) , p e r m i t i n d o que a mente s u b j e t i v a avance para o p r i m e i r o p l a n o ; aí, então, por mecã n i s m o s ^ s u g e s t i v o s , t o r n a - s e capaz de ser d i r i g i d a e se submete ao operador. Tal submissão e possível em fac e de a mente s u b j e t i v a ser incapaz de síntese e a c e i t a r , passivamente, as sínteses que lhe forem sugeridas pelo h i p n o t i s t a , com carãter incontrovertível; a aneste­s i a , por exemplo, por prender-se ao s e n s o r i a l , é conseguida na hipnose porque a mente sub j e t i v a a c e i t a a sugestão e rechaça a sensação dolor o s a que, como d e t a l h e , não faz parteda síntese s u g e r i d a pelo h i p n o t i s t a .

No sono normal, o mecanismo é idêntico, mas a mente s u b j e t i v a c o n t i n u a , apesar da sua preponderância, a ser d i r i g i d a pela mente o b j e t i v a do próprio indivíduo. A auto hipnose , é _ v a r i a n t e na qual,por vontade própria, a mente s u b j e t i v a avança com a a u t o - s u ­gestão e ê d i r i g i d a pela mente do próprio indivíduo.

A capacidade de recordação, que é aguçada no estado hipnótico, ê devida ã pre­ponderância da mente s u b j e t i v a , a qual se r e l a c i o n a com a memória.

* * *

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Estas três são, a nosso v e r , as t e o r i a s modernas básicas que tentam a e x p l i c a ­ção do fenómeno "hipnose". Podemos, apenas para ilustração, lembrar a t e o r i a de MORTON PRINCE (1908), da dissociação e dupla consciência; a de ANOREW SALTER (1944), do c o n d i c i o namento; de HULL (1933), da elevada s u s c e p t i b i l i d a d e ã sugestão (para HULL a hipnose nada tem a ver com o sono e afirma que o c o n c e i t o de íono só serve para obscurecer a compreen­são da hipnose) e a de SOLOVEY-MILECHNIN (1955-60), da hipnose como resp o s t a emocional, cu j a i n t e n s i d a d e é semelhante aos estados emocionais da vigília.

* * *

0 NOSSO P0NTO-0E-VISTA Não encontrando na P s i q u i a t r i a d e s c r i t i v a r e s p o s t a ao que perguntávamos ante ca

da caso de distúrbio mental que se nos apresentava,nos dirigimos para a psicanálise; os en tusia'smos i n i c i a i s arrefeceram quando v e r i f i c a m o s que, também a q u i , continuavam, em seus fundamentos, os critérios rígidos de causa e e f e i t o , as generalizações, as formas a r t i f i c i a i s, sofisticadas e s u p e r f i c i a i s de compreensão e a t e n t a t i v a de e n c o n t r a r o paciente atra vês dos seus sintomas.

P r i n c i p a l m e n t e o carãter estático da p e r s o n a l i d a d e que, segundo FREUD, e s t a r i a e s t a b e l e c i d a entre 5 a 6 anos de idade e, daí por d i a n t e , apenas r e p e t i n d o os padrões de conduta a d q u i r i d o s , f o i a grande fon t e das nossas desilusões. Mesmo as i d e i a s mais avança das de KAREN HORNEY, s i n t e t i z a n d o e desenvolvendo os p o n t o s - d e - v i s t a d i s s i d e n t e s e ortodõ xos, negando t a l estratificação, considerando a transferência como o conjunto de elemen­tos i r r a c i o n a i s na a t i t u d e emocional do pa c i e n t e com referência ao médico, p r i n c i p a l m e n t e , da l u t a c o m p e t i t i v a e n t r e c a p i t a l e t r a b a l h o , entre segurança, prestígio e frustração na l u t a s o c i a l , não nos s a t i s f i z e r a m .

A fenomenologia e x i s t e n c i a l , concebida como d o u t r i n a para o P s i q u i a t r a e não como método terapêutico, que realmente não o ê nem e x i s t e como t a l , v e i o trazer-nos aque l a p o s s i b i l i d a d e que procurávamos: - compreender o sintoma através da existência mórbida do p a c i e n t e e, assim, poder realmente t r a t a r ao pa c i e n t e e não ã síndrome.

Compreendemos as neuroses dentro do critério fenomenolõgico existencial, já d e s c r i t o . No que que se r e f e r e ã hipnose, concordamos, em princípio, com a Escola Cortiço

- V i s c e r a l que inibição, sono e hipnose são um mesmo processo; queremos a c r e s c e n t a r , po­rém que geram fenómenos fisiológicos d i f e r e n t e s e que a inibição, na hipnose, n e c e s s i ­ta de e s c l a r e c i m e n t o quanto ao seu processamento. Tal afirmação b a s e i a - s e na fenomenoio -gia do estado hipnótico, no e l e t r o e n c e f a l o g r a m a e nas a t u a i s aquisições neurofisiolõgicas, no que concerne ao cérebro profundo.

São poucos, muito poucos mesmo, os casos que pudemos c o n t r o l a r com o EEG; mas ele s nos conduzem a a f i r m a r que a hipnose é uma resposta bioelétrica: - o aparelho capta e o EEG r e g i s t r a a sua presença.

0 EEG no sono e na hipnose, para o mesmo indivíduo, aparentemente, não aoresen-tadiferenças; é esta a afirmação de muitos hipnõlogos em suas pesquisas e l e t r o e n c e f a 1 o -grãficas;_a nõs, parece necessário algo mais que a simples observação mecanográfica do e l e t r o ; sao f i l i g r a n a s , alterações pequenas de amplitude e de frequência, por vezes ver dadeira "coartaçao", se assim pudermos nos e x p r e s s a r , da função eletrogênica da substãn" c i a nervosa, por o u t r a s , d i s c r e t o s aumentos que devem ser i n t e r p r e t a d o s de acordo com a problemática psicológica do " s u j e t " e nunca estática e isoladamente como "mais um" traça­do eletroencefalogrãfico.

0 número mínimo de pesquisas nos impede de maiores afirmações neste sentido. Aí está, somente, um a l e r t a e a comunicação de uma hipótese de t r a b a l h o , cuja invest'gaçãode ve ser f e i t a e que pretendemos c o n t i n u a r .

Aceitamos as t e o r i a s psicanalíticas cr e d e n c i a d a s : - e l a s explicam as diferenças s u p e r f i c i a i s da hipnose, c e r t a s reações psicológicas, as resistências do " s u j e t " , a eficã c i a de um processo para t a l indivíduo e sua inocuidade em o u t r o , e t c . Entretanto,por se­rem as t e o r i a s psicanalíticas de mera observação s u p e r f i c i a l e u n i l a t e r a l , nenhuma delas e x p l i c a o fenómeno "hipnose", nem os r e s u l t a d o s g e r a i s da h i p n i a t r i a .

De maneira esquemática, como convém ao presente t r a b a l h o , tentaremos r e l a d o nar com a hipnose os achados a t u a i s no que d i z r e s p e i t o ã Formação R e t i c u l a r do Tronco C e r e b r a l , especialmente ao Sistema R e t i c u l a r A t i v a d o r Ascendente.

A descoberta das funções da substância r e t i c u l a r deve s e r considerada como a mais importante da moderna n e u r o f i s i o l o g i a . T a i s investigações vêm sendo f e i t a s no últi­mo decénio.

Desde a descrição, por HERRICK, do que denominou de " n e u r o p i l " , na salamandra, até aos estudos de DELL, MAGOUN, MORUZZI e tan t o s outros sobre a F.R.T.C, no homem, t a l conjunto é considerado como zona de integração, como campo de convergências e s p a c i a i s s i ^ nãpticas.

Os estímulos são levados ao córtex por dois sistemas de condução a f e r e n t e :

- 0 pausinãptico - constituído de v i a s longas, poucas s i n a p s e s , já conhecido como v i a s e n s i t i v a . Permite uma distribuição c o r t i c a l bem g e n e r a l i z a d a , com zonas de recepção específica. S e r i a um sistema Exõtropo;

- 0 mui tissinâptico - constituído pela substância r e t i c u l a r desde os bastões da r e t i n a , passando pelas e s t r u t u r a s mediobasais do cérebro, até a substância i n

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t e r n u n c i a l da medula. Oe f i b r a s c u r t a s , multas s i n a p s e s , sem zonas c o r t i c a i s de recepção e s p e c i f i c a e distribuição d i f u s a . S e r i a um slstíema Endótropo. Pa­ra f i n s didãticos consideramos a s e g u i n t e divisão:

- Formação R e t i c u l a r do Tronco C e r e b r a l (FRTC):

- Sistema r e t i c u l a r ascendente a t i v a d o r (SRA);

- Sistema r e t i c u l a r descendente, d e s a t i v a d o r ;

- Sistema Difusotalãmico, antagónico.

Cabe ao córtex função a n a l i s a d o r a , seiec1onadora e d e s a t i v a d o r a dos estímulos; t a l r e s p o s t a , no que d i z r e s p e i t o aos estímulos inespecíficos, é i n i b i d o r a e con t r o l a d o r a (desativação c o r t i c a l ) .

A Formação R e t i c u l a r é e s t r u t u r a nervosa s i t u a d a e n t r e o d i e n c i f a l o e o mesencé f a l o (do bulbo ã par t e i n f e r i o r do tálamo] e está constituída, segundo DELL, por conver­gências e s p a c i a i s de inervação a f e r e n t e , nao específica, t a n t o somáticas caio v e g e t a t i v a s .

Ao nosso estudo i n t e r e s s a o SRA. Recebendo de MAGOUN e colaboradores t a l denomi_ nação, tem por função manter o animal d e s p e r t o . A excitação d i r e t a provoca no e l e t r o c e f a -lograma uma "reaçao de despertamento" i g u a l a que se v e r i f i c a quando o I n d i v i d u o é acorda do bruscamente (aumento da frequência e diminuição da i n t e n s i d a d e do rit m o EEG). A des ~ truição do SRA em gatos e macacos, sendo p a r c i a l , determina um estado de obnubilação da consciência, tanto mais i n t e n s o quanto maior f o r a área destruída e semelhante ao coma.no homem. A t o t a l destruição do SRA é incompatível com a v i d a .

E o SRA que mantêm o córtex em a l e r t a , vígil e, p o r t a n t o , capaz de perceber os estímulos d i s c r i m i n a d o s e específicos da s e n s i b i l i d a d e t r a n s m i t i d o s ã cortiça c e r e b r a l pe l a s v i a s longas e s e n s i t i v a s ( a u d i t i v a , v i s u a l , tãtil, e t c ) .

MAGOUN e colaboradores v e r i f i c a r a m o e f e i t o da a n e s t e s i a pelo éter e pentobarbi t a l sódico, r e g i s t r a n d o os p o t e n c i a i s elétricos, quer de um quer de o u t r o sistema, e v e r i f i c a r a m que:

- os.estímulos projet a d o s pelo mu 11issinãptico são bloqueados;

- os projeta d o s pelo paussinãptico são, por ve z e s , e x a l t a d o s .

E n t r e t a n t o , o animal c o n t i n u a i n c o n s c i e n t e , sem o estado de a l e r t a . Embora a informação d i s c r i m i n a d a chegue ao córtex,- não pode s e r u t i l i z a d a , por f a l t a de estímulo que lhe confere a capacidade de aperceber. E o SRA que mantém o córtex desperto, conscien­t e .

O EEG r e g i s t r a toda e qualquer alteração do SRA e, segundo GASTAUT:

- a excitação do SRA provoca desincronização no EEG (aumenta a frequência e d i ­minui a a m p l i t u d e ) , i s t o é, há descargas neuronais mais frequentes e menor nú mero de neurónios em f a s e ;

- a inibição do SRA provoca sincronização no EEG ( d i m i n u i a frequência e aumen­ta a amplitude ), i s t o é t diminuem as descargas neuronais e aumenta o número de neurónios em fa s e .

Tanto a a d r e n a l i n a como a a c e t i 1 " o l i n a são os mais poderosos d e s i n c r o n i z a d o r e s do EEG. Parece que os colinérgicos exercem açao predominante na par t e s u p e r i o r do SRA e os adrenérgicos na p a r t e i n f e r i o r .

Embora pareça p a r a d o x a l , p o r t a n t o , quer os adrenérgicos (norad r e n a l i n a , simpíti-na) como os colinérgicos ( s e r o t o n i n a , a c e t i 1 - c o l i n a ), ao e x c i t a r e m c e n t r o s hipota iâmicos, simpáticos ou parasimpáticos, vão r e s u l t a r em EEG muito semelhante.

As f e n o t i a z i n a s , antiadrenalínicos, que inibem os c e n t r o s hipotalãmicos simpãt^ co s , diminuem a frequência e aumentam a amplitude no ÈEG. A r e s e r p i n a , que l i b e r t a a sero t o n i n a e a t i v a os centros hipotalãmicos par?simpáticos , dá em r e s u l t a d o um EEG muito seme­l h a n t e ao a n t e r i o r (mesmo e f e i t o por outra v i a ) . São, p o r t a n t o , ambos s i n c r o n i z a n t e s .

Ta i s estudos nos permitem afirmar- que a a t i v i d a d e do SRA e as respostas c o r t i ­c a i s são de origem bio-e1étricas, p o i s o EEG as r e g i s t r a f i e l m e n t e ; que as funçõesda FRTC estão r e l a c i o n a d a s , intimamente, com os fenómenos da hipnose. Quer a reaçao de desperta­mento, a vigília; quer a reação de recrutamento (ã qual não nos r e f e r i m o s no presente tra_ b a l h o j ; quer a desativação e c o n t r o l e c o r t i c a l , bem como o sono, as ações adrenérgicas e c o l i n e r g i c a s , e t c . são fenómenos bio-e1étricos, que o EEG r e g i s t r a . Também as alterações bio-elétricas do estado de hipnose sao r e g i s t r a d a s pelo EEG.

Repetimos, são mínimas as nossas observações, mas e l a s nos levam a c r e r , como hipótese de t r a b a l h o , que busca e exige confirmações e e s c l a r e c i m e n t o s , ser a hipnor.-e uma resposta bio-elétrica de tipo inibitório, a estímulos sensoriais feitos com determinada técnicat resultando em fenómenos fÍ3Íol ó^gioos espec i a i s e disposições psicológicas exsep-aionaie, incidindo', principalmente , no estado de consciência e na função afetivo-emocio-n a l - continua no próximo número

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