ISSN 2176-1396
A GESTÃO DO CONHECIMENTO E O USO DE NOVAS
TECNOLOGIAS (NT’S) EM SALA DE AULA: UMA CONTRIBUIÇÃO À
SALA DE AULA, UTILIZANDO GEOTECNOLOGIAS
ÀS CIÊNCIAS NATURAIS E DA TERRA
Reginéa de Souza Machado1 - IAP-Faculdade
Evandro Lombardi2 - IAP-Faculdade
Evelyn Damasceno Silva de Freitas3 - IAP-Faculdade
Eixo – Educação, tecnologia e comunicação
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Este trabalho pretende fornecer possibilidades teóricas e uma contribuição a práxis do professor
dentro da sala de aula através de um aplicativo em geoprocessamento. Ao acompanhar turmas
de graduação em Pedagogia de uma instituição particular da região de Maringá-PR nas
discussões sobre planejamento de aulas na área de ciências naturais e da Terra, percebeu-se o
desconhecimento do uso de softwares de geotecnologia e suas múltiplas aplicações. Objetivou-
se, assim, oferecer uma contribuição, através da Geotecnologia, especialmente nas áreas de
Biologia e Geografia, que utilizam imagens para a interpretação e intervenção do cotidiano, do
uso de novas tecnologias que auxiliassem, de maneira intuitiva, reunir gratuidade e dados
suficientes a uma (re)leitura do ambiente, permitindo que o aluno pudesse gerir essas
informações, usando-o como ferramenta no processo de aprendizagem. Neste sentido
procuramos oferecer uma busca por um software que possa ser utilizado na área segundo
critérios de análise específicos, explorando a multidisciplinaridade, construindo novas formas
de ensino e aprendizagem. Para tanto, oferecemos uma análise do Software Google Earth
Engine, com possíveis encaminhamentos para uso em sala de aula, no monitoramento das
diversas informações, que permitiriam estudar o ambiente físico e biológico. Essa contribuição
não pretende formulação de planos e estratégias pedagógicas, mas a discussão e apreensão do
uso que pode ser feito de novas tecnologias. É perceptível a contribuição que o software pode
oferecer como apoio a sala de aula, especialmente linkado a um planejamento eficiente, com
objetivos definidos e realizáveis. A sala de aula é carente desses recursos, especialmente no que
diz respeito a relação professor e aluno, que sai fortalecida com uma experiência que une novas
1 Mestranda em Gestão do Conhecimento nas Organizações - UNICESUMAR. Professora da Faculdade
Adventista Paranaense (IAP-Faculdade). Bolsista PROSUP-CAPES E-mail: [email protected]. 2 Mestrando em Educação - UNOESTE. Professor da Faculdade Adventista Paranaense (IAP-Faculdade). Bolsista
PROSUP-CAPES. E-mail: [email protected]. 3 Mestranda em Gestão do Conhecimento nas Organizações - UNICESUMAR. Professora da Faculdade
Adventista Paranaense (IAP-Faculdade). E-mail: [email protected].
1679
tecnologias e gestão do conhecimento. Torna-se fundamental aproveitar os recursos das novas
tecnologias a uma melhor compreensão e intervenção de seu próprio ambiente, das múltiplas
formas de análise e depuramento das informações.
Palavras-chave: Gestão do Conhecimento. Novas tecnologias. Geoprocessamento. Sala de
aula.
Introdução
Do ponto de vista social, nossa sociedade exige pessoas muito diferentes das que até
agora haviam, pois a forma como ressignificamos as coisas ao nosso redor mudou (DAVIES,
MARQUES & SILVA, 1997; MARQUES, 2002; OLIVEIRA, MARIN, PIRES, FRIZZO,
RAVANELLO & ROSSATO, 2002). Esse choque do conhecimento adquirido e daquele
ressignificado começa na escola.
Essa sociedade do consumo, se mostra estranha ao mundo do trabalho, exigindo dos
estudantes um comportamento com relação ao conhecimento que se choca com o obtido nas
escolas (NEVES, 1992; POLANYI, 2000). Essa situação acaba por produzir uma percepção de
abandono da significação do por que estudar, com alunos pouco interessados por sua formação
acadêmica. Essa problemática acaba por identificar o professor como alguém cada vez menos
como autoridade a ser seguida. Essas características fazem com que o atual modelo de ensino
aprendizagem não pareça eficaz, provocando nos alunos a rebeldia e/ou apatia tão comuns em
salas de aula (SANTOS & SOARES, 2011). Esse choque do conhecimento, transitando entre a
escola e a sociedade, tem seu ápice no mundo tecnológico.
Em nosso contato com os professores e alunos das áreas de Ciências Naturais, no
acompanhamento de estágio com turmas de Pedagogia de uma faculdade particular da região
de Maringá; podemos perceber o desconhecimento das ferramentas de geotecnologias e a
carência no uso de novas tecnologias (NT’s). Percebemos um distanciamento entre o que se
aprende em sala de aula, com aquilo que se vislumbra no cotidiano. Muitos deles nos
confessaram que tudo o que aprendem, deve ser aprendido pois “cai no vestibular ou no
ENEM”. Essa mesma condição nos foi retratada pelos professores, que estão carentes de
sugestões de como conduzir determinados temas. Essa situação nos levou a estudar um meio
de relacionar e dar significado a uma área fundamental para a efetiva cidadania, que é a forma
como utilizamos o meio ambiente, e oferecer uma contribuição à sala de aula usando o que há
de mais moderno em informações, reunidas pelas NT’s, que pudessem ser transformadas em
conhecimento enquanto geridas pelos próprios alunos.
1680
Ensinar e aprender, então, estão sendo discutidos para uma sociedade carente, não mais
de informação, pois esta está disponível on-line, mas de atribuir significado ao que se observa.
Muitos são os pesquisadores em educação que têm proposto novas teorias sobre o aprender e o
ensinar. Em suas pesquisas, alguns discordam, outros sugestionam e questionam sobre as
práticas metodológicas em educação. Mas há uma característica que permeia esses discursos:
cada um aprende de uma forma diferente dos demais (DELEUZE, 2003; PENNAC, 2009).
É preciso sugestionar novas formas de aprender, de maneira a fornecer ferramentas para
um novo ensinar, pois conforme aponta Witgenstein (apud DUARTE JUNIOR, 1984, p.27) “os
limites de nossa linguagem denotam os limites de nosso mundo”. Esse processo não pode ser
imposto aos professores, mas negociado, mostrando-se as benesses relativas ao aprendizado.
Como afirma Almeida e Valente (2005, p. 8), o “uso das Novas Tecnologias da Informação
(NT’s) e Comunicação impõe mudanças nos métodos de trabalho dos professores, gerando
modificações no funcionamento das instituições e no sistema educativo”.
Para tanto, nosso objetivo é fornecer uma contribuição à sala de aula, utilizando NT’s
de forma significativa através de um software educacional. Este conceitua-se como um
“produto [...] adequadamente utilizado pela escola, mesmo que não tenha sido produzido com
a finalidade de uso no sistema escolar” (OLIVEIRA, 2001, p. 73).
É preciso ampliar a forma como a comunicação dos conteúdos disciplinares vem sendo
realizada. É preciso ressignificar esse aprendizado num momento de questionamento sobre sua
real importância, pois os jovens possuem um acesso ilimitado a informação, mas possuem
grande dificuldade em transformá-la em conhecimento. Mesmo quando as notícias são
explicitadas, possuem grande dificuldade em filtrar tudo o que os rodeia, construindo inclusive,
uma terminologia específica para esse fato, as fakenews. Essa situação, torna complexa a real
significação do chamado conteúdo disciplinar, aplicando-o a uma prática do cotidiano do aluno,
capaz de fazê-lo compreender como intervencionar nesse ambiente, seja para preservá-lo, seja
para planificá-lo à ocupação humana.
A educação, nos moldes como está formatada em nossos dias, sofre muito com esse
quadro. Como boa parte dos professores acaba por optar por uma educação, em sua maioria,
distante de práticas, até mesmo as relacionadas com a vida social, os alunos acabam por se
distanciar da compreensão dos conteúdos e não relacioná-los com suas práticas cotidianas.
Convertendo informação em conhecimento
1681
É inegável o paradoxo estabelecido em nossos dias, onde cada vez mais as pessoas
possuem dificuldades de aprender o que a sociedade do trabalho exige; enquanto que, a oferta
de conteúdos on-line é extensa e supera o que um indivíduo consegue esgotar no período de um
dia. A julgar pelos índices decrescentes em interpretação de texto, matemática e conhecimento
das ciências naturais, entendemos que a escola não tem cumprido seu papel de agente formador.
Mas como essa sociedade da aprendizagem (POZO, 2002) lida com esse conjunto de
informações?
Exige-se então, indivíduos capazes de aprender cada vez mais de maneiras diferentes e
fora do ambiente formal escolar, formando uma cyber cultura, numa nova forma de receber,
reconhecer, ressignificar e gerir esse conhecimento, pois “o uso do computador pode se tornar
um grande aliado para o desenvolvimento cognitivo dos alunos, viabilizando a realização de
novos tipos de atividades e de novas formas de pensar e agir”. (BALACHEFF & KAPUT,1996,
p.472).
As tecnologias da informação permitem criar novas formas de distribuir esse
conhecimento, manipulá-lo e compartilhá-lo, pois deseja-se que produza efeitos práticos a uma
sociedade carente de ações presentes. Assim, gerir o conhecimento é fundamental a estruturação
do que se recebe e a Gestão do Conhecimento (GC), torna isso possível. É preciso mencionar
que essa gestão ocorre também com o professor, pois precisa possuir definidos os objetivos na
utilização de softwares educacionais em seu planejamento. “A utilização de um software está
diretamente relacionada à capacidade de percepção do professor em relacionar a tecnologia à
sua proposta educacional” (TAJRA, 2001, p.74).
De modo geral, o conhecimento disponibilizado nas redes sociais e nos veículos de
busca e informação acabam por criar um cenário complexo, pois a informação aparece muito
desorganizada e miscigenada a tantos outros links de conhecimento que filtrá-lo já é tarefa
árdua, mas gratificante, pois aproxima o jovem da escola. Para Mercado (2002, p. 12): “A
incorporação das NT’s como conteúdos básicos comuns é um elemento que pode contribuir
para uma maior vinculação entre os contextos de ensino e as culturas que se desenvolvem fora
do âmbito escolar”.
A produção de conhecimento ocorre quando entendemos que a escola já não possui a
hegemonia de ser a única fonte relevante de conhecimento, não mais portando os únicos
materiais disponíveis para pesquisa ou possuindo as únicas vozes de tutores do conhecimento.
Há mais a ser explorado e aprendido.
1682
Quando usamos as NT’s como ferramenta na compreensão do mundo que nos rodeia,
passamos a gerir o conhecimento de maneira a manipulá-lo na busca por informações que
mudem o status quo, permitindo novas formas de abordagem e intervenção, ressignificando a
forma como lidamos com o conhecimento.
[...] a análise de um sistema computacional com finalidades educacionais não pode
ser feita sem considerar o seu contexto pedagógico de uso. Um software só pode ser
tido como bom ou ruim dependendo do contexto e do modo como ele será utilizado.
Portanto, para ser capaz de qualificar um software é necessário ter muito clara a
abordagem educacional a partir da qual ele será utilizado e qual o papel do computador
nesse contexto. E isso implica ser capaz de refletir sobre a aprendizagem a partir de
dois pólos: a promoção do ensino ou a construção do conhecimento pelo aluno
(VALENTE, 1997, p. 19).
A escola do novo século deve preparar o indivíduo a saber se apropriar, filtrando,
selecionando, questionando esse conhecimento. Dessa maneira, cria-se uma nova forma de
encará-lo na busca por respostas aos problemas cotidianos.
Novas forma de aprender e ensinar
Em nossa sociedade é crescente a procura por novas e eficazes formas, estruturas,
metodologias e práticas para um, cada vez maior, eficiente aprender e ensinar, especialmente
usando as NT’s, ampliando sua dispersão e proporcionando o afastamento de barreiras físicas
(BIZZOTO, 2000).
Essas NT’s permitem construir uma nova relação com o conhecimento, pois ampliam
os recursos a disposição e permitem coletar/analisar uma maior quantidade de informações.
Cabe ao educador proporcionar esse contato e depuramento da informação, não utilizando a
tecnologia apenas para receber informações, mas para lê-las, interpreta-las, pensa-las e na
discussão, criar alternativas com o objeto analisado (CHAVES, 2004).
Nesse processo de apropriação da informação, cresce também a motivação, pois agora
esse conhecimento (fornecido/mediado por tecnologia), permite análise e material para
interação entre os estudantes que buscam sua resolução. Quando trabalhamos questões
cotidianas, percebemos a potencialização da liberdade intelectual, a flexibilidade da utilização
de variadas fontes e a criatividade na proposição de alternativas as possíveis soluções ao
observado.
Quando as NT’s são acionadas, os limites da sala de aula são ultrapassados, e talvez,
um dos requisitos mais importantes, o biorritmo de cada um é respeitado. Mercado (2002, p.
131) amplia essa noção, pois o software educativo, “pode contribuir para auxiliar os professores
1683
na sua tarefa de transmitir o conhecimento e adquirir uma nova maneira de ensinar cada vez
mais criativa, dinâmica, auxiliando novas descobertas, investigações e levando sempre em
conta o diálogo”.
Uma contribuição à sala de aula
Essa contribuição foi elaborada em etapas de trabalho.
Etapa 1: Ao acompanhar as turmas de Pedagogia, no estágio em sala de aula, na área de
ciências naturais e da terra, tivemos a oportunidade de discutir a temática planejamento, e
oferecer o uso de softwares de geotecnologia. Causou-nos estranheza, os seguintes fatos:
a. O desconhecimento do uso desses softwares e sua aplicação a sala de aula;
b. Uma discussão mais ampla a respeito do uso de NT’s e da parceria dessas com o
conteúdo – cotidiano – aluno, ampliando a GC que esses poderiam fazer da informação, e de
sua transformação em conhecimento.
Importante frisar que as conversas ocorreram em ambiente informal (Tabela 1), relativas
ao planejamento das aulas de estágio e por isso, não são quantificadas nesse trabalho, que
pretende apenas apresentar uma colaboração à práxis do professor e uma discussão sobre a
temática do uso de NT’s à sala de aula. Um trabalho posterior será levado a efeito, coletando
dados para uma proposta mais ampla e com o sentido de oferecer um plano didático.
Tabela 1: Conversas de coleta do objeto de pesquisa
Escolas
Envolvidas
Nível Turmas Professores envolvidos Alunos envolvidos
Escola 1 EF II 2 2 68
Escola 2 EM 2 2 52
Fonte: Dados da pesquisa dos autores, 2017.
Com essa realidade percebida, nas conversas informais, procedeu-se as outras etapas de
construção desse trabalho.
Etapa 2: Busca por um software que possa ser utilizado na área de Ciências Naturais e
da Terra, especialmente em Geotecnologia. Para isso, elaborou-se os requisitos essenciais a sua
escolha:
a. Gratuidade;
b. Fácil utilização e/ou propriedades intuitivas de utilização;
c. Carregamento rápido e simplificado (baixa taxa de pixel);
d. Amplo espectro de utilização;
e. fidelidade das informações prestadas.
1684
Etapa 3: A busca por softwares que se encaixassem nesse panorama. O Ministério do Meio
Ambiente - MMA (BRASIL, 2005), através de sua página, já possui um mapa dos softwares
livres disponíveis, possuindo um modelo de classificação próximo ao elaborado para esse
estudo (Figura 1). O resultado aponta para a busca a novas ferramentas, mais intuitivas e com
maior número de informações disponíveis.
Figura 1: Softwares analisados pelo MMA
Programa Descrição Restrição
SPRING
Software nacional desenvolvido pelo INPE com
funções completas de geoprocessamento. Não
pode ser considerado a rigor como um software
livre, uma vez que o código fonte não está
disponível, mas foi incluído por ser gratuito e ter
um extenso parque instalado no Brasil e exterior.
- utiliza banco de dados próprio
-interface pouco intuitiva
JUMP
Visualizador com funções avançadas de edição de
dados vetoriais e cruzamentos espaciais entre
vetores. Desenvolvido em Java, pode ser
facilmente instalado em vários sistemas
operacionais.
-não acessa dados raster
diretamente
-não possuí boa impressão de
mapas
-dificuldade na manipulação de
grandes volumes de dados
QGis
Visualizador com vários plugins que adicionam
funcionalidades específicas como acesso a dados
de GPS, exportação para banco de dados PostGis,
conexão com GRASS, etc. A conexão com o
software GRASS possibilita seu uso como
substituto da interface gráfica original.
-não possui boa impressão de
mapas
-poucas opções de
exportação/importação de dados
OpenEv
Biblioteca de funções para processamento de
dados raster e vetoriais com um visualizador de
temas. A biblioteca GDAL é instalada junto com o
OpenEv, podendo ser utilizada na linha de
comando do sistema operacional.
-não possui boa impressão de
mapas
-interface pouco elaborada
-poucas opções de configuração
dos temas
Udig
Visualizador e editor de dados com ênfase no uso
de padrões abertos de acesso, como web services.
Possuí uma boa interface gráfica, com módulo
específico para geração de mapas. Importa dados
de vários formatos, incluindo bancos de dados
Oracle e PostGis.
-poucas opções de definição da
legenda
-não possui funções de análise
espacial
Ossim
(imagelinker)
Sistema de processamento de imagens de satélite
(imagelinker) baseado na biblioteca Ossim. Possui
várias funções como filtragem, mosaicagem,
linkagem de imagens, etc. Ossim é uma biblioteca
para o desenvolvimento de sistemas de
geoprocessamento
-não faz classificação de
imagens
-não trabalha com dados
vetoriais
Thuban
Visualizador com boas funções de definição de
legenda e consulta.
-não edita dados vetoriais
-não sistema de impressão de
mapas
Saga
Sistema com muitas funcionalidades incluindo
edição de dados, análise espacial, elaboração de
gráficos, elaboração de layout para impressão,
visualização em 3d, etc. Permite a criação de
módulos de análise espacial e seu
compartilhamento entre usuários.
-deficiências no módulo de
criação de layout
-não se conecta com PostGis ou
outro banco de dados
-não roda em Linux
TerraView
Visualizador completo desenvolvido pelo INPE
tendo como base a biblioteca TerraLib. Possuí
-ausência de módulo de
impressão
-utiliza um banco de dados
1685
funções de análise espacial, consulta, importação
de dados, etc.
próprio, exigindo a importação
dos dados vetoriais.
Grass
É um sistema completo para processamento
incluindo dados vetoriais e raster.
- interface pouco amigável
- banco de dados próprio
Qvgis
Visualizador de dados geográficos em Java. - não tem saída para impressão
- não realiza análises espaciais
(overlays)
- não permite edição dos dados
Além do MMA, variados outros sites nos serviram de base de busca. Seguindo os
requisitos de escolha, foram analisados vários softwares, disponíveis em diversas plataformas
de base. Após a análise desses com os critérios elaborados, optou-se pelo Google Earth Engine.
Etapa 4: aplicar o software gratuito Google Earth Engine (GEE) as necessidades da sala
de aula e a multidisciplinaridade necessária a essa proposta. Esse software consiste num
sistema que organiza milhares de imagens, atuais e antigas, a fim de comparar e monitorar o
meio ambiente ao longo do tempo.
A plataforma foi construída para vários pesquisadores da área de geociências e facilita
o trabalho de mapeamento e interpretação de dados, sendo útil para verificar mudanças
climáticas, níveis de desmatamento, mapeamento de águas e, até mesmo, as consequências de
diversos desastres naturais (Figura 2).
Figura 2: Google Earth Engine
Fonte: https://earthengine.google.com/, 2017.
No youtube, existem tutoriais (em língua inglesa), que orientam novas formas de utilizá-
lo em sala de aula (GOOGLE, 2016).
Fonte: MMA/CGTI. , 2005. (Figura adaptada pelos autores)
1686
Com base no software, é possível analisar uma determinada área do globo, e poder
acompanhar sua evolução ao longo do tempo. O Google Earth mapeia o planeta, utilizando
fotos de satélite e posição de geoprocessamento (GPS).
O GEE as acumula ao longo do tempo, permitindo visualizá-las e perceber as alterações
no terreno (figuras 2 a 4). Tomemos por exemplo, a cidade sede de nossa pesquisa, Maringá,
no noroeste do Estado do Paraná.
Figuras 3, 4, 5 e 6: Maringá ao longo do tempo de 1994 à 2015
Maringá em 1984
Maringá em 1995
Maringá em 2005
Maringá em 2015
Fonte: https://earthengine.google.com/timelapse/, 2017.
Com o GEE, podemos perceber a evolução de nossa cidade ao longo do tempo,
percebendo as mudanças no terreno, a expansão humana e as rotações de cultura ao seu redor.
Outra frente de análise e subsídios para pesquisas é a função Timelapse, onde todas as imagens
ficam armazenadas ao longo do tempo e podem então ser fornecidas em modo visualização. O
GEE armazena imagens dos últimos 30 anos, permitindo ao aluno acompanhar, por exemplo:
Em Geografia: A expansão urbana, a área cultivável, o desvio de rios e córregos, as
mudanças climáticas, etc.
Em Biologia: O desmatamento, a dispersão de espécies nativas, a introdução de espécies
não nativas e sua interação, etc.
Outro recurso desse software livre é o datasets, um catálogo de dados público do GEE
que inclui uma variedade de conjuntos de dados geofísicos da Terra, como imagens dos
principais satélites disponíveis, análises geofísicas, dados de clima e tempo e densidades
demográficas.
1687
Outra ferramenta muito útil é que os dados podem ser importados para a montagem de
planilhas e catálogos de maneira muito intuitiva. Além disso, pode-se carregar seus próprios
dados, fornecidos por sua cidade/estado e compartilhá-los com outros grupos de pesquisa.
Na aba Casestudies, por exemplo, é possível acompanhar estudos de caso a respeito da
biodiversidade e da vegetação planetária (figura 7).
Figura 7: Abas do Case studies
Fonte: https://earthengine.google.com/case_studies/, 2017.
Assim, há uma variedade muito grande de informações, que servirão a
multidisciplinaridade das ciências biológicas e da Terra, e que pode ser observada e analisada
em diferentes projetos de pesquisa.
A expansão urbana pode ainda, ser tratada em outras áreas, como língua portuguesa, na
pesquisa que seguirá a que povos e regionalidades linguísticas, por exemplo, está ocupando
essas áreas. Em sociologia, sobre as localidades originais e intenções dos ocupantes emigrados.
Podem ser usados, caso se desabilite a tradução, os textos em língua Inglesa, para seu estudo
em grupo, por exemplo.
O uso de softwares auxilia na atividade de interação e percepção dos envolvidos em
relação ao conteúdo programático apresentado, que muda de mais um na lista de “conteúdos”
para possuir um significado na percepção das transformações sofridas pela região onde mora
ao longo do tempo. As NT’s, quando analisadas nesse sentido, como ferramenta, transformam
a informação em conhecimento, uma GC que valoriza e amplia o que se aprende.
Dessa análise, reside informar que trabalhos ou propostas de pesquisas em grupo, em
muito auxiliam nas descobertas de questões de análise de problemas reais, como infraestrutura,
ocupação humana, meio ambiente, planejamento urbano, etc.
1688
Nosso intento não é o de, nesse momento, orientar na produção de planos e projetos de
aula, pois o espaço não permite. Mas o de contribuir para o uso de novas formas de abordar
essas áreas, usando NT’s, na busca por um ensino que permita novas formas de aprendizagem
e interação com o conteúdo.
É importante ressaltar que essa forma de gerir o conhecimento, de uma GC, permitirá
novas interações, especialmente aos grupos de pesquisa, destinados a receber membros por sua
afinidade, não só com a temática, mas com as áreas do conhecimento reunidas para esse fim.
Resultados e Discussões
O ensino prático das geociências tem sido substituído por um acadêmico em sala de
aula. Nossa contribuição ocorre no sentido de auxiliar o professor numa ponte entre as NT’s, e
a GC, em paralelo com objetivos práticos para um ensino e aprendizagem de qualidade e
significação.
Na busca pela aplicação do uso do software, percebemos que sua utilização em sala de
aula ainda é um tanto tímida e de pouca abrangência, podendo em muito ser ampliada, o que
entendemos, ser fruto do desconhecimento de seus efeitos e usos técnicos. Ações nesse sentido
já se podem perceber pois,
o Google Earth Engine integra-se ao desenvolvimento curricular nas Escolas,
tornando-se uma ferramenta que possibilita aos professores a mediação do processo
de ensino-aprendizagem, e ajuda aos alunos a adquirir uma postura de aprendizes
pensadores/investigadores, diante dos conteúdos apresentados. Não substituindo as
aulas, mas acrescentando outro recurso didático, inovador e interessante para manter
a atenção do aluno, despertando sua curiosidade e vontade de aprender. (CANÃ,
ROSA & COSTELLA, 2015, p.554).
Há que se mencionar outro fator importante como, o uso da ferramenta em situações
fora do contexto regional do aluno. As sugestões de trabalhos escolares usando a ferramenta,
em sua maioria, são relativos a espaços que não são o do aluno, desprezando, por exemplo, sua
localidade ou seu estado de origem.
Ao explorar a temática mais atual, da ocupação e expansão humana, em relação ao meio
ambiente, o aluno inicia sua jornada a uma cidadania plena, de participação objetiva nas
decisões políticas de sua cidade/bairro. O uso de um software educativo, que possui essa
demanda, intuitivo, gratuito e que pode ser utilizado mesmo em um celular, é o de favorecer os
processos de ensino e aprendizagem em sua característica principal, de converter informação
em conhecimento, aplicando a esse, um caráter didático, de ferramenta. Segundo Chaves (2004,
1689
p.1): "[...] pode ser considerado software educacional aquele que puder ser usado para algum
objetivo educacional ou pedagogicamente defensável, qualquer que seja a natureza ou
finalidade para a qual tenha sido criado”.
Para tanto, por mais que a informação esteja em todos os lugares, escolher e gerenciar
essas plataformas tem sido muito complexo. Nossa contribuição age no sentido de informar e
prover um recurso que será utilizado como material didático, como um meio de ensino que
complementem e ampliem o trabalho feito em sala de aula.
Salientamos que o planejamento deve propiciar um start inicial, um gerador do debate,
como o uso de jornais e revistas da cidade a ser analisada, por exemplo, de porque meu bairro
está “superlotado” de pessoas? Por que a enchente arruinou somente essa área da cidade? Entre
outras questões, que poderão ser visualizadas e analisadas com o uso desse software. Como
reforça Vieira (2005, p.3), para que estas tecnologias “promovam as mudanças esperadas no
processo educativo, devem ser usadas não como máquinas para ensinar ou aprender, mas como
ferramenta pedagógica para criar um ambiente interativo”.
Quando professor e aluno ampliam o conteúdo programático, de forma a permitir uma
investigação mais dinâmica de sua condição social, há uma verdadeira colaboração intelectual.
Se essa contar com a mediação de tecnologia, linguagem a que os jovens possuem amplo
acesso, poderão dividir experiências das mais diversas. Quando esse ambiente é criado, os
problemas são agora resolvidos como parceria, transformando os agentes tradicionais em
gestores do conhecimento, um processo de colaboração que não tem fim.
O software educativo “é uma dessas ferramentas privilegiadas que podem integrar
favoravelmente o projeto pedagógico da escola, ampliando a efetividade do processo ensino
aprendizagem” (OLIVEIRA, 2001, p. 87). Esse ambiente de aprendizagem se desvincula do
conteúdo programático, pois o amplia, em muitas situações, quando o grupo recebe mais “mão
de obra” capaz de gestar ideias e questões de pesquisa, além de somar seu capital intelectual, a
construção de criativas formas de abordagem e resolução de problemas, pois age como
facilitador de uma aprendizagem com maior qualidade e permitindo um avanço
pedagógico da escola. Esses ambientes irão favorecer a comunicação, a cooperação e
colaboração entre professores e alunos, tornando esta nova maneira mais estimulante
e divertida (MERCADO, 2002, p. 134).
Uma GC cada vez mais, eficiente dos recursos e das ferramentas a sua disposição,
capacitando-o ao mundo do trabalho.
Considerações Finais
1690
Temos formado durante anos, alunos que não conseguem, por limitações que
permitimos existir, questionar o que veem, talvez por medo de serem, nesse processo,
questionados. Mas o que fazer? O aprender com significado só existirá num ambiente onde
professor e aluno estão pesquisando, debatendo e criticando esse saber. NT’s são bem vindas
não como algo estático e pronto, mas como algo que possa ser usado como ferramenta, que
possa dar significado as questões sociais, propiciando uma rela GC.
A sala de aula encontra-se carente de processos auxiliares, ferramentas que possam
ampliar o processo ensino e aprendizagem. Os alunos possuem grande apreço pelas tecnologias,
então unir NT’s e sala de aula, muito podem conferir ao processo e a relação professor e aluno.
Dentro de um planejamento eficiente, as NT’s irão contribuir para uma aprendizagem
efetiva, que deixa de ser enciclopédica e passa a permitir, de forma globalizada, uma ação
cidadã. Para isso, capacitar os professores é fundamental para o uso das NT’s, para que possam
julgar qual software deva ser utilizado de forma pedagógica, como recurso/ferramenta
pedagógica, e quais os objetivos a serem buscados.
Nosso objetivo imediato foi o de sugestionar um aplicativo que poderá ser muito
explorado no ensino e aprendizagem nas áreas de Biologia e Geografia, por exemplo; mas não
exclui a multidisciplinaridade de ações resultantes dos dados obtidos com o uso do software
GEE. Se utilizados de forma contextualizada com os conteúdos trabalhados em sala de aula e
com objetivos claramente estabelecidos pelos professores e equipe pedagógica da escola, essa
NT’s amplia a compreensão do ambiente e de suas transformações ao longo do tempo.
A medida que explora o ambiente virtual, as funções do software, o aluno é capaz de
interagir com as propriedades do conhecimento, estabelecer uma dialética necessária a GC; sua
gestão, que agora sofrerá o debate e a ressignificação necessária a uma nova postura diante do
problema.
Essa construção própria, carregada de significado, intencionalidade, faz com que os
alunos aprendam a valorizar o significado de outrem, da mesma forma que o desejam para si; e
assim (re)construir conhecimento a partir da análise do cotidiano, como elemento fundamental
a um país que precisa e muito, de inovações nas mais diversas áreas.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, F. J. de; VALENTE, J. A. Visão Analítica da Informática na Educação no
Brasil: A Questão da Formação do Professor. 2005. Disponível
em:<http://www.proinfo.gov.br>. Acesso em: 16/09/2005.
1691
BALACHEFF, N. & KAPUT, J. Computer-based Environments in Mathematics, pp. 469-
501. In International Handbook of Mathematical Education. Bishop, A. Et all (eds),
Kluwer Academic Publishers, 1996.
BIZZOTO, N.M. Metodologia e prática de ensino de ciências: A aproximação do estudante
de magisterio das aulas de ciencias no 1º grau. Faculdade de Educação da USP, 2000.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Software livre para Geoprocessamento. Retirado de:
http://www.mma.gov.br/governanca-ambiental/geoprocessamento/item/893-software-livre-
para-geoprocessamento , Brasília, 2005. Acessado em 20/05/2017.
CANÃ, B.B. ROSA; K. K. COSTELLA, R. Z. Análise da transformação da floresta
amazônica a partir do uso de geotecnologias – google earth engine - nas aulas de geografia do
ensino fundamental. Boletim Gaúcho de Geografia, Associação dos Geógrafos Brasileiros.
v. 42, n.2: 553-567, maio, 2015.
CHAVES, E. O. O computador na educação, 2004. Disponível em:
http://www.chaves.com.br/TEXTSELF/EDTECH/funteve.html Acesso em 20/05/2017.
DAVIES, D., MARQUES, R., & SILVA, P. Os professores e as famílias: A colaboração
possível (2a ed.). Lisboa: Livros Horizontes. 1997.
DELEUZE, G. Proust e os Signos. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.
DUARTE JUNIOR, J. F. O que é realidade? São Paulo: Brasiliense, 1984.
GOOGLE EARTH ENGINE. Tutorial Introduction. Publicado em 15/05/2016.
https://www.youtube.com/watch?v=uHtehTSw7vg Acessado em15/05/2017.
________. Displaying Data – Part 1. https://www.youtube.com/watch?v=qy6P4hrbvQQ.
Acessado em 15/05/2017.
MARQUES, R. O envolvimento das famílias no processo educativo: Resultados de um
estudo em cinco países. Retirado em 12 de maio 2015, de http://www.eses.pt/usr/Ramiro/
Texto.htm. 2002.
MERCADO, L. P. L. (Org.). Novas tecnologias na educação: Reflexões sobre a prática.
Maceió: EDUFAL, 2002.
NEVES, M. Verfassung und Positivität des Rechts in der peripheren Moderne: Eine
theoretische Betrachtung und eine Interpretation des Falls Brasilien. Berlin: Duncker &
Humblot, 1992.
OLIVEIRA, C. C. Ambientes informatizados de aprendizagem: Produção e avaliação de
software educativo. Campinas, SP: Papirus, 2001.
OLIVEIRA, E. A., MARIN, A. H., PIRES, F. B., FRIZZO, G. B., RAVANELLO, C., &
ROSSATO, C.. Estilos parentais autoritário e democrático-recíproco intergeracionais,
1692
conflito conjugal e comportamento de externalização e internalização. Psicologia:
Reflexão e Crítica, 15(1), 1-11. 2002.
PENNAC, D. Chagrin d’école. Paris: Gallimard (Folio), 2009.
POLANYI, K. A grande transformação: as origens da nossa época. Rio de Janeiro, Campus,
2000.
POZO, J.I. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre. Artmed,
2002.
SANTOS, C. P. & SOARES, S. R. Aprendizagem e relação professor-aluno na
universidade: duas faces da mesma moeda. Est. Aval. Educ., São Paulo, v. 22, n. 49, p.353-
370, maio/ago. 2011.
VALENTE, J. A. (Org.). O Uso Inteligente do Computador na Educação. In: Pátio: Revista
Pedagógica. Porto Alegre: Artes Médicas Sul. ano 1, n.º 1, 1997.
VIEIRA, F. M. S. A. Utilização das Novas Tecnologias na Educação numa Perspectiva
Construtivista. Disponível em: <http://www.proinfo.gov.br>. Acesso em: 16 set. 2005.
TAJRA, S. F. Informática na educação. São Paulo: Érica, 2001.
Top Related