Trabalho realizado por:
Maria Pires Nº.:5390
Mariana Mira Nº.:53
Mariana Cruz Nº.:5389
Patrícia Freitas Nº.:5441
ESAG – Torres Novas
Português 11ºA
Eu, que sou feio, sólido, leal,A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatadaNuma existência honesta, de cristal.
Sentado à mesa dum café devasso,Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,
Nesta Babel tão velha e corruptora,Tive tenções de oferecer-te o braço.
E, quando socorreste um miserável,Eu, que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sintoQue me tornas prestante, bom, saudável.
« Ela aí vem!» disse eu para os demais;e pus-me a olhar, vexado e suspirando,o teu corpo que pulsa, alegre e brando,
na frescura dos linhos matinais.
Via-te pela porta envidraçada;E invejava, - talvez que o não suspeites! -
Esse vestido simples, sem enfeites,Nessa cintura tenra, imaculada.
Ia passando, a quatro, o patriarca.Triste eu saí. Doía-me a cabeça;
Uma turba ruidosa, negra, espessa,Voltava das exéquias dum monarca.
Adorável! Tu, muito natural,
Seguias a pensar no teu bordado;
Avultava, num largo arborizado,
Uma estátua de rei num pedestal.
Sorriam, nos seus trens, os titulares;
E ao claro sol, guardava-te, no entanto,
A tua boa mãe, que te ama tanto,
Que não te morrerá sem te casares!
Soberbo dia! Impunha limpidez do teu semblante grego;
E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar sobre o teu peito.
Com elegância e sem ostentação,
Atravessavas branca, esbelta e fina,
Uma chusma de padres de batina,
E de altos funcionários da nação.
«Mas se a atropela o povo turbulento!
Se fosse, por acaso, ali pisada!»
De repente, paraste, embaraçada
Ao pé dum numeroso ajuntamento.
E eu, que urdia estes fáceis esbocetos,
Julguei ver, com a vista de poeta,
Uma pombinha tímida e quieta
Num bando ameaçador de corvos pretos.
E foi, então, que eu, homem varonil,
Quis dedicar-te a minha pobre vida,
A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
Eu, que sou hábil, prático, viril.
Este poema, redigido em 1875, aborda um dos elementos mais comuns nas
obras de Cesário Verde, a figura feminina.
Porém, neste poema em particular, a figura feminina retratada contrasta
com a típica mulher provocante e deslumbrante que este poeta tão
frequentemente enquadra nas suas descrições citadinas.
Assim, “A Débil”, retrata uma mulher que sobressai no meio citadino não
pela sua excentricidade, mas pela sua pureza e simplicidade.
O sujeito lírico considera-se "feio, sólido, leal; sente-se prestável, bom
e saudável quando a vê, ao ponto de desejar beijá-la. Afirma ainda ser
"hábil, prático e viril", ou seja, com força suficiente para a socorrer
quando ela precisar.
Este poema põe em relevo uma figura feminina que escapa à típica mulher
citadina, à mulher que surge no espaço rural.
O sujeito serve-se de um conjunto de termos para caracterizar esta típica
mulher:
"bela, frágil, assustada, recatada, honesta, fraca, natural, dócil, recolhida", re
metendo para o seu retracto moral.
Já os vocábulos "loura, de corpo alegre e brando, cintura
estreita, adorável, com elegância e sem ostentação, esbelta e fina, ténue"
remetem para o seu aspecto físico.
Apesar da oposição que Cesário Verde costuma estabelecer entre a mulher
do campo e a mulher da cidade, a figura feminina aqui retratada é uma
espécie de mistura entre ambas.
Neste poema, o retrato da figura feminina está associado à mulher do
campo que se movimenta num espaço que lhe é estranho. Assim, esta sente-se
perdida, necessitando de protecção masculina pois sente-se desnorteada num
espaço que não está adequado à sua fragilidade.
Vs
O sujeito poético caracteriza os espaços citadinos de forma negativa.
Nestes espaços movimentam-se figuras sórdidas, que ele caracteriza por
“turba ruidosa, negra" e por " uma chusma de padres de batina". Tal permite
destacar a fragilidade da jovem, que torna estes locais mais brilhantes e
atrativos.
Com o intuito de evidenciar o contraste entre o espaço e a jovem senhora, o
sujeito poético faz referência à agitação e a confusão que predominam na
cidade, onde sobressaem as diferentes classes sociais.
Cesário Verde utiliza um vocabulário preciso e exacto, e as suas descrições
dão-nos uma visão perfeita da realidade. Além disso, imprime objetividade ao
conteúdo, afastando-se do lirismo romântico. Emprega adjectivação e as frases
preposicionais de valor adverbial para retratar fielmente a realidade.
O uso das quadras e dos versos decassilábicos que permite uma maior
aproximação à prosa.
O poema está cheio de referências à realidade social, onde se percepciona a
crítica e a ironia de que Cesário Verde se serve e que reflectem o seu carácter
subjectivo.
Eu, que sou feio ,sólido, leal,A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatadaNuma existência honesta, de cristal.
Sentado à mesa dum café devasso,Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,
Nesta Babel tão velha e corruptora,Tive tenções de oferecer-te o braço.
E, quando socorreste um miserável,Eu, que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sintoQue me tornas prestante, bom, saudável.
Introdução
Contraste:Ele é feio, ela é bela.Ele é sólido, ela é frágil.
Eu, que sou feio ,sólido, leal,A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatadaNuma existência honesta, de cristal.
Sentado à mesa dum café devasso,Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura,
Nesta Babel tão velha e corruptora,Tive tenções de oferecer-te o braço.
E, quando socorreste um miserável,Eu, que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sintoQue me tornas
prestante, bom, saudável.
Adjetivação expressiva/enumeração;
Metáfora;
Dupla adjetivação;
Hipálage;
Adjetivação expressiva/enumeração;
Hipérbole;
« Ela aí vem!» disse eu para os demais;e pus-me a olhar, vexado e suspirando,o teu corpo que pulsa, alegre e brando,
na frescura dos linhos matinais.
Via-te pela porta envidraçada;E invejava, - talvez que o não suspeites! -
Esse vestido simples, sem enfeites,Nessa cintura tenra, imaculada.
Ia passando, a quatro, o patriarca.Triste eu saí. Doía-me a cabeça;
Uma turba ruidosa, negra, espessa,Voltava das exéquias dum monarca.
Adjetivação dupla
Hipálage
Adjetivação tripla
Sinestesia
Adorável! Tu, muito natural,
Seguias a pensar no teu bordado;
Avultava, num largo arborizado,
Uma estátua de rei num pedestal.
Sorriam, nos seus trens, os titulares;
E ao claro sol, guardava-te, no entanto,
A tua boa mãe, que te ama tanto,
Que não te morrerá sem te casares!
Soberbo dia! Impunha limpidez do teu semblante grego;
E uma família, um ninho de sossego,
Desejava beijar sobre o teu peito.
Com elegância e sem ostentação,
Atravessavas branca, esbelta e fina,
Uma chusma de padres de batina,
E de altos funcionários da nação.
«Mas se a atropela o povo turbulento!
Se fosse, por acaso, ali pisada!»
De repente, paraste, embaraçada
Ao pé dum numeroso ajuntamento.
E eu, que urdia estes fáceis esbocetos,
Julguei ver, com a vista de poeta,
Uma pombinha tímida e quieta
Num bando ameaçador de corvos pretos.
E foi, então, que eu, homem varonil,
Quis dedicar-te a minha pobre vida,
A ti, que és ténue, dócil, recolhida,
Eu, que sou hábil, prático, viril.
• Métrica - versos decassílabos;
• Rima - emparelhada e interpolada (ABBA);
• Ritmo – ternário.
• Sonoridades - aliterações, ecos rimáticos, etc.;
• Tipos de frases - declarativas;
• GUERRA, João; VIEIRA, José.(2001) “Aula Viva”. Porto Editora, Porto.
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