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PROGRAMA DE PÓS‐GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO
GUSTAVO LUIZ MESTRINER
A CIDADE COMPACTA E OS PROJETOS URBANOS CONTEMPORÂNEOS INVENTÁRIO ANALÍTICO DE ESTUDOS DE CASO EM VAZIOS URBANOS EM ÁREAS CENTRAIS
Orientador: Profº Carlos Leite de Souza
São Paulo 2008
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GUSTAVO LUIZ MESTRINER
A CIDADE COMPACTA E OS PROJETOS URBANOS CONTEMPORÂNEOS. INVENTÁRIO ANALÍTICO
DE ESTUDOS DE CASO EM VAZIOS URBANOS EM ÁREAS CENTRAIS
Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós‐graduação em
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie para
obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Orientador: Prof. Dr. Carlos Leite de Souza
São Paulo
2008
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Mestriner, Gustavo Luiz.
A Cidade Compacta e os Projetos Urbanos Contemporâneos. Inventário Analítico de Estudos de Casos em Vazios Urbanos em Áreas Centrais / Gustavo Luiz Mestriner. São Paulo, 2008.
119 f.; 30cm.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2008. 1. Cidade compacta. 2. Projetos urbanos. 3. Desenvolvimento urbano sustentável.
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GUSTAVO LUIZ MESTRINER
A CIDADE COMPACTA E OS PROJETOS URBANOS CONTEMPORÂNEOS. INVENTÁRIO ANALÍTICO
DE ESTUDOS DE CASO EM VAZIOS URBANOS EM ÁREAS CENTRAIS
Dissertação apresentada à Coordenação do Programa de Pós‐graduação em
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie para
obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Carlos Leite de Souza Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. José Magalhães Junior Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Bruno Roberto Padovano Universidade de São Paulo
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AGRADECIMENTOS
Meus reais agradecimentos ao Mackenzie, pela estrutura de seu corpo docente e administrativo,
para a o desenvolvimento sólido de seus alunos em suas pesquisas.
A CAPES, pela bolsa de estudo parcial propiciada, ao Mackenzie pela complementação da
mesma, e ao Mackpesquisa, pelo apoio na publicação do material. Sem eles, este trabalho não
teria sido realizado.
Ao Prof. Dr. Carlos Leite, pelo apoio, pela clareza na definição dos caminhos que poderiam ser
tomados, pelo auxílio na construção do conhecimento, e pela sua dedicação para com seus
orientandos. E ao Grupo de Pesquisa “Projetos Urbanos Contemporâneos”, pela riqueza
bibliográfica ofertada.
À Prof. Dra. Gilda Collet Bruna, pelo incentivo, quando me orientou na graduação, a buscar a
pós‐graduação.
À minha esposa novamente, pelo amor incondicional, pelo incentivo, pelo apoio e pela
compreensão na graduação, na especialização, e agora no mestrado.
Aos meus pais, pelo carinho e pelo incentivo sempre presente.
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À minha família, em especial às mestrandas Vivian e Lilian (minha esposa e minha cunhada), por
compartilhar da mesma experiência de uma pós‐graduação.
Aos meus amigos de sala, em especial, Camila Oliveira, Rechilene Maia e Ricardo Caco Ramos.
Às minhas irmãs, meu sobrinho, e aos meus amigos e parentes que tiveram paciência e
compreensão pela minha ausência.
E a todas as pessoas que colaboraram para a efetivação e realização deste mestrado, e por fim,
desta pesquisa.
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RESUMO
Cidades pelo mundo inteiro passam por um processo de mutação urbana jamais visto. Os dados
do desenvolvimento substancial demográfico nas cidades, somados aos êxodos urbanos
oriundos das zonas rurais são as causas do inchaço, e posterior espraiamento urbano explosivo
causado nas cidades.
Neste processo, a valorização da terra nos centros urbanos e o incentivo fiscal e de mão de obra
mais barata nas cidades vizinhas, fez com que as grandes indústrias se deslocassem dos centros
urbanos, deixando grandes áreas obsoletas. Por outro lado, as cidades, inicialmente criadas para
a celebração da vida, e para celebrar o que temos em comum, hoje são poços drenantes de
recursos energéticos, e direta e indiretamente, a maior fonte poluidora do planeta.
Desta forma, os novos projetos urbanos devem levar em consideração essa realidade complexa,
para então atender certos princípios contemporâneos, como o desenvolvimento urbano
sustentável, reestruturação produtiva e os ambientes de pesquisa e inovação tecnológica e
biotecnológica. Para tanto, agências de desenvolvimento foram criadas para conciliar os
interesses públicos e privados envolvidos. Nesse contexto, utilizamos o conceito da cidade
compacta, como base conceitual desta pesquisa à luz dos projetos urbanos contemporâneos em
vazios urbanos em áreas centrais. Para contextualizar, buscamos os estudos de caso,
I 9 I
construindo um inventário analítico das obras selecionadas, com maiores detalhamentos e
sempre os relacionando à nossa realidade e contexto locais.
Palavras – chave: Cidade compacta. Projetos urbanos contemporâneos. Vazios urbanos.
Desenvolvimento urbano sustentável.
I 10 I
ABSTRACT
Cities all over the world, go through a process of urban changing never seen before. Data from
great developing population in cities, added with the urban exodus from rural areas, are the
causes of swelling, and later, an explosive urban sprawlling caused in cities.
In this process, the land appreciation in urban centers and tax incentives and the cheaper labor
in neighboring towns, made that big industries change from urban centers, leaving the obsolete
large areas. On the other hand, the cities, originally created for the celebration of life, and to
celebrate what we have in common, today are draining energy resources, and the most polluting
source of the planet.
The new urban projects should consider this complex reality, then look for some contemporaries
principles, such as sustainable urban development, productive restructuring, the environments
of research and technological innovation and biotechnology. To do so, development agiencies
have been created to conciliate the public and private interests. We explore the concept of
compact city, in the light of contemporary urban projects in wastelands in central areas. To
context, we selected some case studies, building an analytical inventory and always relating
them to our context and reality.
Key – words: Compact city. Contemporaries urban projects. Wastelands. Sustainable urban
development.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Exposição no Tate Modern 22
Figura 2 – As três maiores representações financeiras num mapa mundi
invertido, formando “yes” 28
Tabela 1 – Ranking e classificação quanto ao índice de competitividade
entre nações 29
Tabela 2 – Distribuição setorial dos investimentos estrangeiros diretos relativos
aos países de origens e destinos destes investimentos, 1970‐2003 30
Tabela 3 – Estoque de IED no Brasil, participação estrangeira total, distribuição
por atividade econômica principal, base 2000 31
Figura 3 – Foto de satélite da mancha urbana de São Paulo 32
Figura 4 – As cidades como pontos estratégicos 33
Figura 5 – Cabos de fibra óptica submarinos em uso 34
Figura 6 – As cidades globais, segundo o GaWC 36
I 12 I
Figura 7 – São Paulo 37
Figura 8 – O território fragmentado de São Paulo 39
Figura 9 – Antigas áreas industriais de Barcelona 40
Figura 10 – Potsdamer Platz 41
Figura 11 – London Docklands Development Corporation, primeiro programa de
regeneração urbana em vazios urbanos do Reino Unido, criado em 1981 42
Figura 12 – Cluster urbano em Barcelona 43
Figura 13 – Cluster urbano em São Francisco 44
Figura 14 – Crescimento populacional mundial nas áreas urbanas 46
Figura 15 e 16 – O espraiamento urbano americano. Cidade de Miami 47
Figura 17 – A poluição atmosférica em São Paulo mata indiretamente oito pessoas
por dia, e reduz em dois anos a expectativa de vida dos habitantes 48
Figura 18 – Sistema de bicicletas públicas em Barcelona, que visa a
meta de despoluição da cidade 49
Figura 19 – La Rambla, em Barcelona, modelo de espaço público multifuncional
I 13 I
que proporciona a riqueza do encontro, do inesperado 50
Figura 20 – Usos mistos compactos cria nós de redução de jornadas, e criam
vizinhanças mais atraentes e sustentáveis 51
Figura 21 – Foto exposta no Tate Modern: São Paulo em “Size and Diversity”.
Contraste entre Paraisópolis e Morumbi. São Paulo 52
Figura 22 – Serra da Cantareira, em São Paulo. Área de proteção ambiental
invadida pelo espraiamento urbano 53
Figura 23 e 24 – A mancha central marca a projeção que a população da
metrópole inteira ocuparia se a densidade fosse igual a da Favela
Paraisópolis, que atinge em alguns pontos 1.000hab/ha 54
Figura 25 – Foto exposta no Tate Modern. São Paulo em “Size and Diversity”.
Copan, em São Paulo 55
Figura 26 – Docklands antes do processo de regeneração urbana 57
Figura 27 – Vazios urbanos no bairro Plobenou, em Barcelona 58
Figura 28 – Vazios urbanos em Montreal 59
I 14 I
Figura 29 – Vazios urbanos em Paris (1989) 61
Figura 30 – Docklands em transformação 63
Figura 31 – Discussão sobre os projetos em Mission Bay 64
Figura 32 – Prédio onde fica instalada a agência 22@ em Barcelona 65
Figura 33 – Campus de biotecnologia da Universidade da Califórnia, em Mission
Bay, São Francisco 66
Figura 34 – Campus da Universidade de Barcelona em um edifício industrial
reconvertido, no bairro Poblenou, em Barcelona 67
Tabela 4 – Melhores cidades européias para expansão de negócios e investimento 68
Tabela 5 – Melhores cidades européias em termos de qualidade de vida
para empregados 69
Tabela 6 – Ranking das cidades não‐européias onde as empresas investiriam 70
Gráfico 1 – Cidades européias que mais investem em si mesmas 71
Figura 35 – Battery Park City, Manhatan, Nova Iorque 72
Figura 36 – Potsdamer Platz, Berlim 73
I 15 I
Figura 37 – Euralille, em Lille 74
Figura 38 – 22@, em Barcelona 75
Figura 39 – Vale do Silício, região da Califórnia 77
Figura 40 – Áreas de redesenvolvimento de São Francisco. 78
Figura 41 – Laboratório da UCSF em Mission Bay 79
Figura 42 – Projeto de Desenvolvimento de Mission Bay (geral) 80
Figura 43 – A linha amarela demarca a área de intervenção, e a linha vermelha
demarca a área de implantação da UCSF 81
Figura 44 – Centro de visitação da Catellus na área de intervenção 81
Figura 45 – Padrões de ocupação e volumetria 82
Figura 46 – Uso das quadras. Plano de Redesenvolvimento Mission Bay Norte 82
Tabela 7 – Padrões de ocupação, por zoneamento 83
Figura 47 – Zoneamento do Plano de Redesenvolvimento Misssion Bay Sul 83
Figura 48 – Projeto urbano para o Campus da UCSF 84
Figura 49 – Centro de Tecnologia Genética 85
I 16 I
Figura 50 – Centro de Tecnologia Genética 85
Figura 51, 52, 53 e 54 – Campus Centro Comunitário da UCSF 86
Figura 55 – Metrô de superfície em Mission Bay 87
Figura 56 – Linha de metrô que liga Mission Bay ao centro de São Francisco 87
Figura 57 – Rotas de pedestres e Ciclovias 88
Figura 58 – Espaço público no campus da UCSF 89
Figura 59 – Montreal, em destaque Cité Multimédia 90
Figura 60 – Localização das principais áreas de Montreal 91
Figura 61 – Vazio urbano, espaços desutilizados 92
Figura 62 – Espaço em transformação 93
Figura 63 – Edifício construído em Cité Multimédia 94
Figura 64 – Edifício reconvertido em Cité Multimédia 94
Figura 65 – Motorola, uma das empresas a se estabalecer na área 95
Figura 66 – Implantação da área e diversos usos 96
Figura 67 – Vista aérea de Montreal 97
I 17 I
Figura 68 e 69 – Vista externa e interna de um dos edifícios da Cité Multimédia 98
Figura 70 – Canal Lachine após sua revitalização 99
Figura 71 e 72 – A revitalização do Canal Lachine e a criação de ciclovias 100
Figura 73 – Tranformação do território de Poblenou 101
Figura 74 – Vista aérea do bairro Poblenou, em Barcelona 102
Figura 75 – Projeto que demarca as quadras de intervenção na área do bairro
Poblenou, em Barcelona 103
Figura 76 – Projeto de um edifício em uma das quadras 104
Figura 77 – Prédio da T‐systems, construído em 22@ 105
Figura 78 – Planta de infra‐estruturas a serem instaladas 106
Figura 79 – Instalação de novas infra‐estruturas 107
Figura 80 e 81 – Prédios residenciais e parque linear 109
Figura 82 e 83 – Avenida Diagonal 110
Figura 84 – Vista do parque linear e da orla marítima de Barcelona, ao término da
Avenida Diagonal 110
I 18 I
Figura 85 – Catálogo do patrimônio arquitetônico de Plobenou 111
Figura 86 – Skyline formado pelas gruas e guindastes em Plobenou 112
Figura 87 e 88 – Antigos prédios industriais reconvertidos 113
I 19 I
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
LDDC London Docklands Development Corporation (Agencia de desenvolvimento dos
Portos de Londres)
USFC University San Francisco Campus (Campus da Universidade de São Francisco)
TAV Trem de Alta Velocidade.
MPGM Modificação do Plano Geral Metropolitano.
PGM Plano Geral Metropolitano.
PEI Plano Especial de Infra‐estruturas.
TIC Tecnologia da Informação e Comunicação.
CIAM Congresso Internacional de Arquitetura Moderna
SFRA San Francisco Redevelopment Agency (Agencia de Redesenvolvimento de São
Francisco)
CDTI Centro de Desenvolvimento de Tecnologia da Informção
I 20 I
SUMÁRIO
pag.
1 INTRODUÇÃO 22
2 CONCEITUAÇÃO
2.1 Cidades e sociedades informacionais 27
2.2 Regeneração urbana e reestruturação produtiva 39
2.3 A cidade compacta e o desenvolvimento urbano sustentável 46
3 PROJETOS URBANOS CONTEMPORÂNEOS : CONTEXTUALIZAÇÃO
3.1 Vazios urbanos em áreas centrais 57
3.2 O papel das agências de desenvolvimento urbano 63
3.3 Projetos urbanos contemporâneos 72
4 ESTUDOS DE CASO : INVENTÁRIO ANALÍTICO
4.1 Mission Bay, São Francisco, EUA
4.1.1 Introdução 77
4.1.2 A agência de desenvolvimento 80
4.1.3 Projetos Urbanos 82
4.1.4 Desenvolvimento urbano sustentável 87
I 21 I
4.2 Cité multimédia, Montreal, Canadá
4.2.1 Introdução 90
4.2.2 A agência de desenvolvimento 93
4.2.3 Projetos Urbanos 96
4.2.4 Desenvolvimento urbano sustentável 99
4.3 22@, Barcelona, Espanha
4.3.1 Introdução 101
4.3.2 A agência de desenvolvimento 105
4.3.3 Projetos Urbanos 108
4.3.4 Desenvolvimento urbano sustentável 111
5 CONCLUSÕES 114
6 BIBLIOGRAFIA 115
I 22 I
1 . INTRODUÇÃO
Em Londres, na galeria de arte moderna e contemporânea Tate Modern, onde se encontrava
uma exposição chamada Global City discutiu‐se e foram expostos os dados e estatísticas
demográficas e urbanas das dez maiores metrópoles do mundo, entre elas, São Paulo. E várias
perguntas foram colocadas de modo a refletir como
essas metrópoles vão se comportar nos próximos
cinqüenta anos, ao absorver verdadeiros êxodos rurais, e
indicies demográficos substanciais. Na entrada principal,
a especulação introdutória era: “Há cem anos, apenas
10% da população mundial viviam em cidades.
Atualmente, somos mais de 50%, e até 2050, seremos
mais de 75%”. 1
Somamos a isso, o crescimento absurdo da população
mundial nos dois últimos séculos (de 1 bilhão para 7
bilhões de habitantes), e já visualizamos o impacto que o
1 Em visita feita em julho de 2007 pelo autor. Disponível também em www.tate.org.uk
Figura 1: Exposição no Tate ModernFonte: foto do autor, em julho de 2007
I 23 I
crescimento urbano e demográfico causou ao meio ambiente. Na atual crise ambiental em que
vive o planeta, vimos a importância da conscientização de todos os atores envolvidos, na
construção de um ambiente urbano sustentável, e damos o primeiro passo, nós, arquitetos,
quando transmitimos a esses atores, e a todos, o sentimento solidário dessa busca, em tentar
quebrar essa barreira que impede a maioria da população, de projetar o futuro para além da sua
segunda geração.
A atual reflexão em como serão desenhadas nossas metrópoles nas próximas décadas, desafia o
papel do arquiteto nessa busca pelo desenvolvimento urbano sustentável, e nos faz buscar, uma
base conceitual, uma construção inicial do conhecimento, para em estudos posteriores,
avançarmos nesse tema.
Nesse contexto, buscamos os projetos urbanos contemporâneos, que contemplam essa busca
por um desenvolvimento urbano sustentável. Para tanto, focamos tais projetos, em áreas que se
esvaziaram, por conta da saída das indústrias dos centros urbanos, ou pela transformação
produtiva que ocorreu nas últimas décadas, da passagem do fordismo, com suas plantas
produtivas enormes, para a atual fragmentação da indústria, num sistema produtivo mais
complexo, mais compacto, mais eficiente, mais produtivo, e mais competitivo.
Fechamos assim, o foco dessa pesquisa em AS CIDADES COMPACTAS E OS PROJETOS URBANOS
CONTEMPORÂNEOS, um inventário analítico de estudos de caso em vazios urbanos em áreas
I 24 I
centrais. Essas áreas foram selecionadas, por causa da contradição em aumentar o espraiamento
urbano, que, além de invadir áreas verdes destinadas às reservas, aumentam o fluxo de
deslocamento das pessoas e mercadorias, opondo‐se ao desenvolvimento urbano sustentável já
citado. Para abordarmos estas contradições e justificativas, nos referenciamos sempre na
conceituação da cidade compacta. Ou seja, visa‐se o estudo de casos de Projetos Urbanos
Contemporâneos que tem atuado no sentido de fazer a cidade compacta2.
TEMA E OBJETO
O tema dessa pesquisa são os projetos urbanos contemporâneos, à luz de seu objeto, a
metrópole, e seus vazios urbanos em áreas centrais. Abordaremos este tema e objeto, levando
sempre em consideração como background o conceito das cidades compactas.
Faz‐se necessário então, uma busca por estudos de casos, para ficar explícito o tema e o objeto
que estamos dissertando. Vários estudos de casos foram analisados, mas apenas três deles
foram selecionados para esta dissertação, pois levam fundamentalmente em consideração o
conceito de cidade compacta, de desenvolvimento urbano sustentável, em vazios urbanos, e em
áreas centrais. São eles:
2 esta investigação insere‐se no Grupo de Pesquisa Projetos Urbanos Contemporâneos em Vazios Urbanos, liderado pelo Profº Dr. Carlos Leite.
I 25 I
1 – Mission Bay, em São Francisco, Estados Unidos;
2 – Cidade Multimídia, em Montreal, Canadá;
3 – 22@, em Barcelona, Espanha;
Trata‐se de projetos urbanos que estão em evidência e em desenvolvimento, mas que
estão em elevado estágio de eficiente realização3.
OBJETIVOS E JUSTIFICATIVA
Busca‐se um inventário analítico dos projetos urbanos contemporâneos, em vazios urbanos em
áreas centrais, a fim de constituir uma base conceitual e analítica desses projetos, e assim, trazer
para São Paulo um aporte conceitual que ajude na promoção do desenvolvimento de projetos
urbanos futuros. São Paulo, nossa maior metrópole, precisa urgentemente promover tais
políticas públicas e receber projetos urbanos que promovam a sua regeneração de áreas
centrais. A intenção é sistematizar um inventário que possa servir de instrumento crítico de
pesquisa às abordagens possíveis para as nossas demandas locais: projeto se estuda e se
pesquisa a partir daquilo que já foi produzido, através de uma análise crítica. Podem e devem
servir de subsídio às nossas carências locais.
3 Idem.
I 26 I
METODOLOGIA
Inicialmente, buscou‐se a conceituação dos temas envolvidos, através da definição do quadro
teórico, logo após, a leitura dos autores envolvidos, para finalmente, avançarmos na construção
e seleção de um quadro analítico de projetos urbanos contemporâneos, em vazios urbanos em
áreas centrais. Foram selecionados apenas casos internacionais, pelo aporte dos projetos
realizados. Enfatizamos que não se pode importá‐los como modelos, mas servem como
referencial na construção de uma crítica construtiva a respeito.
I 27 I
2 . CONCEITUAÇÃO
2.1 CIDADES E SOCIEDADES INFORMACIONAIS
A economia capitalista passa por um processo constante de reestruturação, onde ocorre cada
vez mais uma hierarquização das estruturas econômicas em cada país, mostrando o alto poder
de adaptação do capitalismo contemporâneo.
Países e sociedades que se adaptaram a reestruturação capitalista, mesmo com alto ou baixo
poder de desenvolvimento tecnológico e informacional, se incorporaram à economia global
(Castells, 2005). A ação destas realidades se expressa na cidade e no seu tecido urbano.
Caracterizada pela revolução tecnológica4, pela formação de uma economia global e pelo
surgimento de uma forma informacional de produção econômica e gestão, este momento
do capitalismo provoca profundas modificações na estrutura das cidades, condicionando
sua dinâmica de crescimento. (Carlos Leite, 2007 – pg. 2)
4 Conforme Manuel Castells (2005), a revolução tecnológica é composta por um conjunto de tecnologias, como tecnologia da informação, da comunicação, genética, eletrônica, informática, nanotecnologia, entre outras. Porém, a associação entre revolução industrial e revolução informacional deve ser cautelosa, por causa da disparidade de avanço na produção de bens e riquezas, que a revolução industrial proporcionou, sendo esta, muito maior do que a proporcionada pela revolução informacional.
I 28 I
Vimos assim, que as grandes corporações e empresas multinacionais, visando lucratividade, com
mão de obra mais barata, somados a incentivos fiscais, exportam a produção de seus produtos,
gerando assim, filiais estabelecidas fora de seu país de origem. Porém, são apenas filiais de
produção, mas não de concentração do grande capital, apenas geram administração e
gerenciamento no local da produção. No entanto,para a administração e gerenciamento, as
movimentações financeiras internacionais, a produção e transporte de mercadoria, as empresas
determinam lugares estratégicos para implantação das suas filiais, como zona de processamento
das exportações, centros bancários off‐shore, cidades globais, portos, e enormes distritos
industriais (Sassen, 2001).
Segundo Castells (2005), na economia atual, a
tecnologia é o principal fator gerador de
produtividade, inclusive, a tecnologia
organizacional e a de gerenciamento. A
produtividade está ligada à fonte de riqueza das
sociedades. Todavia, agentes econômicos trazem
a perspectiva de que a produtividade não é um
objetivo em si, assim como investimentos em
tecnologia não são feitos por causa da inovação Figura 2: As três maiores representações financeiras num mapa mundi invertido, formando “yes”. Fonte: foto do autor na exposição do escritório OMA de Rem Koolhaas, no Tate Modern, em Londres
I 29 I
Tabela 1Ranking e classificação quanto ao índice de
competitividade entre nações.
Fonte: Fiesp.
tecnológica. As empresas e a sociedade não buscam tecnologia
ou aumento da produtividade por causa do desenvolvimento
da humanidade, mas se enquadram às regras do sistema
econômico vigente, que trará sucesso ou fracasso na sua
escolha.
“...as empresas estarão motivadas não pela
produtividade, e sim pela lucratividade e pelo aumento
do valor de suas ações, para os quais a produtividade
e a tecnologia podem ser meios importantes, mas com
certeza, não são os únicos. E as instituições políticas,
moldadas por um conselho maior de valores e
maximização da competitividade de suas economias5.
A lucratividade e a competitividade são os verdadeiros
determinantes da inovação tecnológica e do
crescimento da produtividade.” (Castells, 2005 ‐ pg.
136).
5 Conforme a tabela 1, o Brasil ocupa a 39ª colocação, pois este índice está formulado com base na renda per capita (PIB), no desenvolvimento humano, taxa de crescimento, e outros fatores que constituem o conceito de competitividade entre as nações.
I 30 I
Fonte: Fiesp.
Mas um fator que incidiu bruscamente
no capitalismo global nas últimas
décadas, foi o Investimento
Estrangeiro Direto. O Investimento
Estrangeiro Direto é a causa de
mudanças radicais em diversas
sociedades, e nas suas estruturas
econômicas. O IED se caracterizou,
quando o processo de exportações de
mercadorias se transformou, e os
países começaram a exportar capital,
gerando assim, instituições financeiras
diferenciadas, refinadas e
especializadas numa nova forma de
gerar capital no mercado financeiro
internacional (Sassen, 2001).
Na tabela 2, vimos os investimentos
estrangeiros em diversos setores, e
Tabela 2Distribuição setorial dos investimentos estrangeiros diretos relativos aos
países de origens e destinos destes investimentos, 1970‐2003.
Grupo de países
e setores
1970 1990 2003 1970 1990 2003
Bilhões de dólares Participação
(porcentagem)
A. Origem dos fluxos de IED
Países desenvolvidos
Primário 29 160 400 22,7 11,2 5,3
Secundário 58 556 2117 45,2 38,7 27,9
Terciário 41 720 5058 32,1 50,1 66,8
Total 129 1436 7575 100 100 100
B. Destino dos fluxos de IED
Países desenvolvidos
Primário 12 94 428 16,2 9,1 6,5
Secundário 44 439 2081 60,2 42,5 31,9
Terciário 17 499 4015 23,6 48,4 61,5
Total 73 1032 6524 100 100 100
Países em desenvolvimento
Primário ‐ 46 144 ‐ 21,9 7,1
Secundário ‐ 102 779 ‐ 48,6 38,3
Terciário ‐ 62 1110* ‐ 29,5 54,6
Total ‐ 210 2033 ‐ 100 100
Fonte: UNCTAD *Dentro deste setor, em Atividades de Negócios, uma parte considerável do investimento está na China, o qual responde por 60% das economias em desenvolvimento e 21% do total mundial.
I 31 I
como a exportação do capital alternou‐se nesses setores, mas nada se compara a evolução do
setor terciário entre países desenvolvidos nas últimas 3 décadas.
Segundo dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados ‐ SEADE (2003), só o Estado
de São Paulo representa 31,8 % do Produto Interno Bruto nacional (PIB), e ainda, a Região
Metropolitana de São Paulo, representa 49,4 % do estado. Se somarmos o PIB das 12 cidades do
Estado de São Paulo mais bem colocadas no ranking da produção do PIB nacional, teremos
17,14% do montante nacional, sendo que só a capital do Estado, responde por 9,44% de tudo
que é produzido no país. Isso nos mostra uma hierarquia radiocêntrica, uma distribuição
organizada e polarizada das cidades dentro do Estado, demonstrando que a capital é a grande
representante no cenário econômico internacional, conforme mostra a tabela 3. Seus recursos
são maiores do que todos os outros estados
somados.
Segundo Sassen (2001), o Investimento
Estrangeiro Direto exige de cidades que
representam seu país no mercado financeiro
internacional e globalizado, uma infra‐
estrutura de serviços e telecomunicações,
Tabela 3Estoque de IED no Brasil, participação estrangeira total,
distribuição por atividade econômica principal, base 2000.
Setores U$ em
bilhões
Estado
de S.P.
(U$ bi)
% do
total
Primário 2,4 1,4 58,3
Secundário 34,7 23,3 67,1
Terciário 65,9 43,3 65,7
Total 103,0 68,0 63,7
Fonte: Banco Central do Brasil
I 32 I
caracterizando assim, o que vários autores chamam de cidade global6.
Por causa da descentralização industrial, achou‐se que as cidades ficariam obsoletas, e que, com
a criação de tecnologia que levasse comandos de
operações a qualquer lugar do planeta, as cidades
grandes faleceriam. Mas, uma nova estruturação de
controle centralizado e a expansão das
telecomunicações em larga escala nas cidades
centralizadas, trariam uma densificação, gerando uma
estrutura informacional densa, com geração da
economia diversificada e globalizada (Sassen, 2001).
Antes, onde costumava haver dois principais
parceiros econômicos – empresas e governos
federais – há agora um terceiro: a cidade global.
6 As transformações na economia mundial teriam conduzido a uma crise da centralidade econômica das metrópoles que perderam o controle sobre as atividades industriais, porque as empresas por elas responsáveis, favorecidas pelo desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação e informação, passaram a dispor de maior flexibilidade para escolher os lugares de menor custo para suas sedes. Se, por um lado, as metrópoles pareciam caminhar para um futuro incerto, por outro, readquiriam importância estratégica como locais destinados ao setor terciário, acompanhando a mudança de direção da economia mundial. Não se tratava, portanto, da perda de sua centralidade econômica, mas de sua re‐significação no interior do sistema produtivo internacional (Carvalho, 2000)."
Figura 3: Foto de satélite da mancha urbana de São Paulo Fonte: http://en.wikipedia.org
I 33 I
A tecnologia de informação, que tornou possível a economia global, criou intensas redes
de comunicação centradas na cidade. Empresas que operam globalmente dependem de
uma infra‐estrutura de serviços e recursos humanos capacitados, existentes apenas nas
cidades.(Rogers, 2001 – pg. 161)
A partir do quadro da economia mundial, Sassen (2001) definiu as cidades globais como os
lugares mais propícios ao desenvolvimento de estruturas chave da sociedade informacional,
identificando Nova Iorque, Londres e Tóquio como seus três principais pólos. Essas metrópoles
cobrem, sem interrupção, todas as zonas horárias de um dia, o que permite que o mercado
financeiro esteja sempre aberto. Para Sassen, são quatro as principais determinantes que
definem as cidades globais: empresas financeiras que operam nos mercados globais,
conseqüentemente pontos de comando da economia mundial; centro de inovação de produção
tecnológica; e enfim, um mercado para tais
inovações.
A cidade global está no centro desta nova ordem
econômica e espacial, que propõe uma nova
interação entre pessoas, conhecimento e meio
ambiente. Além disso, as cidades globais são
locais de imensa concentração do poder Figura 4: As cidades como pontos estratégicosFonte: http://www.businessinnovationinsider.com
I 34 I
econômico. Os serviços financeiros proporcionam enormes lucros. No início de 2000, conforme
informativo da Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa, todas as operações no mercado de
renda variável do país se concentraram apenas na Bovespa, que hoje é realizada exclusivamente
por meio de seu sistema eletrônico. Ainda segundo dados da Bovespa, o mercado de ações no
Brasil movimentou mais de 200 bilhões de dólares em 20057.
Figura 5: Cabos de fibra óptica submarinos em uso Fonte: TeleGeography Research
7 No início de 2000, a Bovespa respondia por 95% das operações no mercado de renda variável do país, o que culminou, no mesmo ano, com a integração de todas as bolsas de valores do país, passando assim, a concentrar toda a negociação de ações apenas na Bovespa.
I 35 I
Segundo o Banco Mundial, só a bolsa de Nova York responde por 2/3 de todas as ações norte‐
americanas, e a bolsa de Tóquio, por 90% das ações japonesas, o que nos mostra uma alta
concentração de movimentação financeira num mercado internacional globalizado.
Porém, segundo o GaWC (Globalization and World Cities ‐ Study Group & Network), um grupo de
estudos fundados por Peter Hall, Saskia Sassen e Nigel Thrift, São Paulo se enquadra num
segundo quadro de cidades globais. Eles dividem esse ranking em três grupos principais: A –
Alpha world cities (Londres, Nova Iorque, Paris, Tóquio, Chicago, Frankfurt, Hong Kong, Los
Angeles, Milão e Singapura); B – Beta world cities (São Francisco, Sydney, Toronto, Zurich,
Bruxelas, Madri, Cidade do México, São Paulo, Moscow e Seul); C – Gamma world cities (outras
35 cidades).
E ainda, Ferreira (2003), em sua tese de doutorado, afirma que a cidade de São Paulo pouco
corresponde à essa imagem de cidade global: “Mais do que globais, as dinâmicas que dirigem a
produção da cidade de São Paulo são a representação do mais arcaico patrimonialismo”.
Há casos em que importa mais demonstrar que determinadas metrópoles possuem os atributos
necessários a alcançar à condição de cidade global do que analisar suas especificidades históricas
que poderiam até a ela se contrapor. A leitura total do conceito de cidade global revela suas
diversas formas e, embora a propriedade da análise seja especificar cada uma delas, a sua
I 36 I
compreensão só se realiza quando todas são percebidas como expressão de um único processo:
a transformação das metrópoles em cidades globais.
Figura 6: As cidades globais, segundo o GaWC Fonte: www.lboro.ac.uk/gawc/
Nessa busca pelo seu lugar no mercado global, as cidades promoveram a implementação de
políticas públicas e urbanas, além de projetos urbanos bem definidos, nos vazios urbanos em
I 37 I
Figura 7: São PauloFonte: www.wikipedia.org
áreas centrais, para preparar estas áreas para a instalação de empresas voltadas às novas
economias baseadas em pesquisas, em tecnologia, em biotecnologia, e outros. Mas para tanto,
vários critérios foram considerados, como as questões de regenaração urbana, reestruturação
produtiva e o desenvolvimento urbano sustentável.
Esses critérios, que recolocam em destaque certas cidades e principiam a rearticulação de
outras, foram criadas em determinados lugares, necessitando um meio cultural, financeiro e
social diverso do das cidades industriais. Porém, as cidades guardam seu papel fundamental,
pois formam diversidade, atraem e dispersam valores que nelas se transformam (Carvalho,
2000; Duarte, 2002).
Nesse meio cultural, financeiro e social diverso, a
conscientização ambiental é fundamental para
constatar que nosso meio ambiente é um
patrimônio frágil e limitado, e desta forma, a
tecnologia da informação traz consigo um novo
conhecimento que está forçando a criação de uma
sociedade global – uma sociedade que reconheça a
necessidade de ser absolutamente cuidadosa no
tocante às conseqüências ambientais e sociais de
I 38 I
suas ações.
A nova tecnologia está libertando o aprendizado das atividades de ontem – as fábricas, o
escritório, a universidade – e estão sendo substituídos por conexões flexíveis ligadas em
rede às fontes de informação. As pessoas, cada vez mais, irão utilizar o conhecimento
quando quiserem e não apenas onde ele é institucionalizado: as pessoas serão capazes de
conectar a rede mundial de computadores e comunicar‐se em casa, num café ou no
parque. O aprendizado, a moradia e o trabalho irão se sobrepor continuamente.(Rogers,
2001 – pg. 162)
Para estas sobreposições acontecerem, as novas tecnologias atuarão como recursos
indispensáveis. A rapidez e a escala das transformações são fatores importantes nesta
discussão, pois atuam sobre os processos de reestruturação produtiva.
I 39 I
Figura 8: o território fragmentado de São Paulo.Foto: Nelson Kon Fonte: Leite, 2002
Figura 8: O território fragmentado de São Paulo.Foto: Nelson Kon Fonte: Leite, 2002
2.2 REGENERAÇÃO URBANA E REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
Regeneração urbana é um processo de recuperação de áreas em transformação, que prioriza a
reestruturação produtiva. Um novo conjunto de ações que programam novas funções ao
território deteriorado, em um processo chamado de refuncionalização urbana.
Os processos de regeneração urbana e os novos equipamentos urbanos operam como agentes
transformadores da metrópole, enquanto o vazio urbano se revela no processo de reorganização
do território fragmentado e desarticulado,
ilustrando a imensa dificuldade dos países
periféricos em resolver os problemas espaciais de
suas metrópoles superpopulosas (Carlos Leite,
2002).
Analisar o desenvolvimento urbano a partir do
processo de reestruturação produtiva, contempla
as mudanças de mercado de trabalho e a
redefinição do papel das cidades. O
desenvolvimento de projetos de regeneração
urbana de centros históricos, o reaproveitamento
I 40 I
Figura 9: antigas áreas industriais de Barcelona Fonte: www.22barcelona.com
dos vazios urbanos e o desenvolvimento de infra‐estruturas, são algumas das condições
contemporâneas para o surgimento do conceito de planejamento estratégico.
Porém, estratégias e projetos urbanos em vazios urbanos, dos quais abordamos neste trabalho,
devem operar novas funções e programas produtivos – diferentemente, portanto, dos
programas de revitalização de áreas centrais tradicionais, normalmente de viés cultural, turístico
e cenográfico. Por outro lado, no atual quadro de
competição global das cidades, os programas de
reestruturação produtiva devem buscar aliar
competitividade e inovação através das várias
oportunidades geradas pelos novos sistemas produtivos.
Esses novos sistemas produtivos estão relacionados a um
intenso movimento de desindustrialização nos países
centrais, tornando as antigas áreas industriais em áreas
decadentes e ao mesmo tempo, em espaços potenciais para
a implantação de grandes complexos imobiliários
elaborados para regenerar e recuperar essas áreas.
Dentro desta nova dinâmica territorial, estas imensas áreas
em processo de reestruturação produtiva, devem servir de
I 41 I
Figura 10: Potsdamer PlatzFonte: Powell, 2000
subsídio fundamental na regeneração urbana de nossas metrópoles. Os projetos atuais de
“refuncionalização” do território apontam novos parâmetros de atuação: a refuncionalização do
espaço deteriorado é a alternativa que o projeto urbano contemporâneo deve oferecer.
Programas urbanos regeneradores do território de vocação produtiva: atividades sócio‐
econômicas específicas para cada área que de fato impulsionem o seu crescimento através de
atividades, funções e programas claros.
Não podemos confundir aqui, a perda da produtividade econômica com a descaracterização de
uma área. Projetos e programas já realizados na Europa mostram a importância das antigas
áreas produtivas ao buscar novos papéis, novas funções e novos programas produtivos, mas que
conservam sua característica fundamental, sua
vocação produtiva. Nesse contexto, a
regeneração urbana deve estar envolvida num
processo de desenvolvimento balanceado,
onde projetos pilotos devem atrair e
estabelecer novos usos e novos programas
produtivos.
Embora cada área requer uma estratégia e um
programa de regeneração própria, os
I 42 I
Figura 11: London Docklands Development Corporation, primeiro programa de regeneração urbana em vazios urbanos do Reino Unido, criado em 1981, que gerou grande gentrificação. Fonte: www.dockland.co.uk
princípios gerais devem buscar combinar: uma visão compartilhada; promover resultados o mais
rápido possível; responder a uma demanda potencial; buscar objetivos sociais e ambientais que
beneficiam as necessidades comerciais e de investimento; capital humano para novas atividades;
senso de parceria e cooperativismo entre interesses públicos e privados.
No entanto, existem ainda algumas preocupações. Primeiro, o problema da especulação
imobiliária, que pode trazer gentrificação8.
Segundo, o problema dos pacotes de
financiamentos para os tipos de projetos
complexos que são necessários, e que podem
levar anos para serem realizados. E ainda, a
descontinuidade política, que em longos
contratos de gerenciamento, principalmente em
parcerias público‐privado, podem sofrer
alterações em seus mecanismos, advinda de
possível alteração das prioridades políticas.
8 Derivado do termo gentrification, a gentrificação é um processo de enobrecimento de uma determinada área, onde ocorre a expulsão de moradores, quando a valorização de uma área degradada anteriormente, forma uma especulação, tornando o custo de vida e o preço dos aluguéis inviáveis aos padrões dos moradores originais, forçando sua mudança para áreas mais distantes ou igualmente degradadas.
I 43 I
Figura 12: Cluster urbano em Barcelona.Fonte: www.22barcelona.com
Recentemente estudado, uma das ferramentas eficientes contemporâneas para a regeneração
urbana através de programas urbanos regeneradores, é o cluster urbano. Responsável por
transformações no espaço urbano reutilizado, o cluster urbano se apresenta como um
instrumento de desenvolvimento local e um indutor de processos inovativos aliado às novas
demandas industriais e aos novos serviços
tecnológicos. O território se reorganiza, atuando
com novas funções e demandas.
Nos clusters de alta tecnologia, ambientes com
alta concentração de pessoas criativas crescem
mais rapidamente e atraem mais pessoas de
talento. As metrópoles se diferenciam, pois
algumas contêm maior número de pessoas de
talento do que outras. O trabalho de Richard
Florida em sistematizar um ranking das cidades
criativas, demonstrou que talento, tolerância e
diversidade são os ingredientes indissociáveis no
crescimento destas metrópoles que lideram esse
ranking (Carlos Leite, 2005).
I 44 I
Figura 13: Cluster urbano em São Francisco.Fonte: www.sfgov.org
O capital humano é a chave para o desenvolvimento econômico local desta nova economia:
empresas e pesquisas inovadoras e de alta tecnologia. Idéias criativas são o maior ingrediente
nas empresas ligadas a esse tipo de economia que predominará neste século. Nesta nova
economia baseada no conhecimento, estar em ambiente criativo é fundamental.
Jamies Simmie (2001) co‐relaciona densidade e inovação, espaços inovativos e os padrões da
indústria de alta tecnologia, mostrando que densidade, diversidade e conhecimento, são
aspectos inseparáveis no
processo de criação de um
ambiente inovador e criativo.
A nova geografia industrial
tem mostrado algumas
hipóteses interessantes para
explicar as razões pelos quais
novas economias
aglomerativas afetam
diretamente as escolhas de
suas instalações pelas
empresas inovativas. Isto
I 45 I
está associado a um cooperativismo e competitivismo entre as empresas, em um ambiente que
permite trocar experiências, fundamentadas em pesquisas. Para tanto, unir espacialmente áreas
de estudo, trabalho e moradia, é essencial para entender as inovações como um processo
econômico e social, e para a criação de um ambiente próspero e inovador.
Nos próximos capítulos, veremos que diversidade, tolerância e ambiente inovador, são
ingredientes fundamentais para o crescimento econômico, e para o desenvolvimento urbano
sustentável.
I 46 I
Figura 14: Crescimento populacional mundial nas áreas urbanas Fonte: Urban Age, em www.urban‐age.net
2.3 A CIDADE COMPACTA E O DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL
As cidades, como são concebidas atualmente representam uma enorme ameaça à própria
sobrevivência da humanidade – as áreas urbanas geram 75% da poluição, e o impulso ao
crescimento urbano ultrapassam os limites considerados pelas instituições de proteção ao meio
ambiente.
Em apenas um século, a população mundial
quadriplicou. O futuro da civilização será
determinado pelas cidades e dentro das cidades.
O futuro das cidades é o futuro do planeta. Desta
forma, o volume de recursos consumidos e
poluição gerada aumentarão substancialmente.
Porém, pelo menos metade desta população
urbana em crescimento estará morando em
favelas sem as mínimas condições de
salubridade. E nos países desenvolvidos, a
migração das pessoas e atividades dos centros
urbanos tradicionais para o sonhado mundo dos
I 47 I
Figura 15 e 16: O espraiamento urbano americano. Cidade de Miami. Fonte: www.transitmiami.com
bairros residenciais distantes levaram a um enorme
desenvolvimento dos subúrbios, construção de estradas,
aumento substancial do uso de automóveis,
congestionamento e poluição do ar.
As cidades são antes de tudo, o lugar de encontro das pessoas. No entanto, uma grande parcela dos espaços públicos da cidade, incluindo quase a totalidade das ruas e praças, é agora dominada pelos veículos automotivos: são lugares pensados para atender às necessidades do trânsito. (Rogers, 2001 – pg. 126)
O deslocamento dos centros urbanos teve sua origem no
modelo de cidade‐jardim inglês, liderado por Ebenezer
Howard, que em 1898 produziu o livro “Tomorrow: A
Peaceful Path to Real Reform”, produzindo zonas de uso e
baixas densidades, visto como a resposta para os problemas
da época, desde a tuberculose até os preconceitos raciais.
Hoje, esse deslocamento dos centros urbanos para bairros
residenciais afastados geram a pobreza crescente na área
I 48 I
Figura 17: A poluição atmosférica em São Paulo mata indiretamente oito pessoas por dia, e reduz em dois anos a expectativa de vida dos habitantes. Fonte: Núcleo de Estudos para o Meio Ambiente da USP
urbana central, por causa da procura por segurança privada, pelo transporte individual e a
proliferação de espaços monofuncionais.
O modelo americano de espraiamento urbano passou do limite de centro urbano e subúrbio,
para centro urbano, subúrbio e exúrbio (subúrbio do subúrbio), exponenciando a conurbação, e
trazendo trágicos desastres ambientais, além do aumento substancial de emissão de CO² pelos
automóveis, pois os transportes públicos de massa são pouco promovidos.
A cada hora, 20 hectares de terreno cultivável se submetem ao desenvolvimento imobiliário
desenfreado. Entre 1970 e 1990, a população da área metropolitana de Chicago cresceu 4%,
enquanto que o terreno edificável aumentou
46%9
As comunidades devem se organizar com usos
mistos que devam ser agrupados em torno de
núcleos de transporte público de massa, com a
comunidade planejada em torno de distâncias
capazes de serem vencidas a pé ou de bicicleta.
9 conf. Kw inter e F abricius, em M utations (2001)
I 49 I
Figura 18: Sistema de bicicletas públicas em Barcelona, que visa a meta de despoluição da cidade Fonte: do autor, em visita feita em julho de 2007
Um fator claro que tem mudado significamente o processo de desenvolvimento da cidade, é a
acessibilidade ao transporte. A expansão da rede de transporte público iniciou um processo de
dispersão e expansão nas cidades, de sua densidade e usos mistos tradicionais, para o
desenvolvimento de subúrbios providos das estações de transportes públicos. O preço baixo das
terras em subúrbios, o expansivo uso do carro como meio de transporte individual, e a
construção massiva de rodovias, fizeram com que os centros das cidades ficassem mais distantes
ainda de seus subúrbios, Esses fatores são os responsáveis pelo grande incremento de
congestionamentos, barulho, poluição e pobreza ambiental, e contribuem para esse processo
de descentralização.
Hoje, o desenvolvimento urbano sustentável objetiva, a longo prazo, a criação de uma estrutura
flexível para uma comunidade forte, dentro de
um ambiente saudável e limpo. Quando
propiciamos o contato olho a olho, propiciamos
também um momento saudável de convívio, com
mais rotas para caminhadas e ciclovias, reduzindo
o uso dos automóveis, e diminuindo a poluição
gerada. Para a criação dessa comunidade, faz‐se
necessário trazer de volta os moradores ao
centro da cidade, pois este fator é essencial para
I 50 I
Figura 19: La Rambla, em Barcelona, modelo de espaço público multifuncional que proporciona a riqueza do encontro, do inesperado. Fonte: do autor, em visita feita em julho de 2007
um planejamento sustentável.
O encontro das funções sociais dos cidadãos (moradia, trabalho e lazer) deve ser expresso na
condição urbana que o centro propicia. Os usos mistos e as densidades tradicionais dos centros
urbanos devem trazer de volta a vivência que foi perdida após a implementação do uso do carro
como transporte individual, e que, em algumas sociedades, onde essa mentalidade pobre é tão
exacerbada, que o carro acaba se transformando em status social, para demonstração do poder
de compra de cada indivíduo, mostrando claramente, a falta de cidadania e do espírito de
coletividade necessários para se viver em comunidade.
A composição de atividades sobrepostas, permite
maior convivência e reduz as necessidades de
deslocamentos em automóveis, reduzindo
drasticamente a energia utilizada para
transporte, reduzindo também o
congestionamento e melhorando a qualidade do
ar, fato que estimula o cidadão a caminhar ou
andar de bicicleta em substituição ao carro.
I 51 I
Figura 20: usos mistos compactos criam nós de redução de jornadas, e criam vizinhanças mais atraentes e sustentáveis. Fonte: Rogers, 2001
As cidades garantem estrutura física para oportunidades de emprego e riqueza, além de
habitação de qualidade para a formação de uma comunidade urbana. O domínio público nas
cidades tem sido negligenciado aos cidadãos. As cidades cresceram e transformaram‐se em
estruturas tão complexas e difíceis de administrar, que quase não nos lembramos que elas
existiam em primeiro lugar, e acima de tudo, para satisfazer as necessidades humanas e sociais
das comunidades. As cidades foram originalmente criadas para celebrar o que temos em
comum. Agora, são projetadas para manter‐nos afastados uns dos outros.
I 52 I
Figura 21: Foto exposta no Tate Modern: São Paulo em “Size and Diversity”. Contraste entre Paraisópolis e Morumbi. São Paulo Fonte: Tuca Vieira. Folha Imagem
As cidades estão destruindo o equilíbrio ecológico do planeta porque nossos padrões de
comportamento econômico e social são as causas principais do seu desenvolvimento,
acarretando desequilíbrio ambiental.
I 53 I
Figura 22: Serra da Cantareira, em São Paulo. Área de proteção ambiental envadida pelo espraiamento urbano. Fonte: Leite, 2002
Nesse sentido, uma cidade mais densa e pouco espraiada evitaria a invasão das áreas rurais, ou,
como no caso de São Paulo – pior ainda – a não invasão das reservas ambientais. Isto traz
benefícios ecológicos maiores. Através de um planejamento integrado, as cidades podem ser
pensadas tendo em vista um aumento de sua eficiência energética, menor consumo de recursos,
menor nível de poluição. Uma cidade densa e socialmente diversificada onde as atividades
econômicas e sociais se sobreponham e onde as comunidades sejam concentradas em torno das
unidades de vizinhança (Rogers, 2001)
Podemos imaginar a cidade ocupando menos seu entorno, densificando seu centro. Podemos
comparar a ocupação que a cidade de São Paulo teria, se sua densidade fosse comparada a
outros centros urbanos, ou outras densidades de
seus próprios bairros.
A região metropolitana de São Paulo possui hoje
20 milhões de habitantes, numa área de
8.500km2, e uma densidade de 23,5 hab/ha ‐ a
25ª cidade mais densa do mundo, porém, a 2ª
mais populosa10. Se aplicássemos a densidade
10 conf. C ity M ayors em w ww .citym ayors.com
I 54 I
média da Favela Paraisópolis (1000hab/ha11), toda essa população ocuparia apenas esta mancha
quadrada mais clara (figura 23), que possui 15 km em cada lado, e ocuparia apenas essa faixa do
centro expandido da cidade.
Figura 23 e 24: a mancha central marca a projeção que a população da metrópole inteira ocuparia se a densidade fosse igual a da Favela Paraisópolis, que atinge em alguns pontos 1.000hab/ha. Fonte: do autor, em trabalho apresentado no Mackenzie
Claro, que esta densidade estaria longe de ser adotada e aceita, mas trata‐se de uma simulação
para visualizarmos essas densidades à que estamos nos referindo. Este conceito, difere
radicalmente do atual modelo urbano dominante, aquele dos Estados Unidos: uma cidade
dividida em zonas por funções, com áreas de escritórios centrais, shopping centers e áreas de 11 conf. estudo realizado pela Sehab / D iagonal U rbana (2002)
I 55 I
Figura 25: Foto exposta no Tate Modern. São Paulo em “Size and Diversity”. Copan, em São Paulo. Fonte: Montagem de Andreas Gursky. Disponível em www.tate.org.uk
lazer fora da cidade, bairros residenciais distantes e vias expressas. Tão poderosa é esta imagem
e tão intensas as forças que motivaram sua criação (estabelecidas pelos critérios comerciais de
mercado), que os países menos desenvolvidos estão ainda focados em uma trajetória que já
fracassou nos países desenvolvidos.
Se o modelo de cidade compacta e sobreposta inclui a complexidade, o modelo de divisão por
zonas a rejeita, reduzindo a cidade a divisões simplistas e pacotes econômicos e administrativos
facilmente manejáveis. Os
edifícios urbanos, nos quais
encontramos consultórios,
residências, escritórios e
lojas, dão vitalidade às ruas e
reduzem a necessidade do
indivíduo sair de carro para
satisfazer suas necessidades
cotidianas. Um bom exemplo
desse tipo de edifício, é o
Copan, em São Paulo.
I 56 I
Projetado por Oscar Niemeyer em 1951, o edifício foi concluído em 1966, e é a maior estrutura
de concreto armado do país. O prédio tem 115 metros de altura, 120 mil metros quadrados de
área construída, 1.160 apartamentos que variam de 26 a 350 metros quadrados e cerca de cinco
mil moradores distribuídos em seis blocos. No térreo distribuem‐se cerca de 70 lojas, sendo
algumas delas: igreja (antigo cinema), alfaiate, fast‐food chinês, restaurantes, lavanderia,
lanchonetes, lojas de roupa e acessórios de moda, cabeleireiros, imobiliária, relojoaria, cafés,
vídeo locadora, telefones públicos, doceria, agência de turismo, papelaria e despachante. Esse
uso misto, permite aos moradores a aquisição de suas necessidades no próprio prédio. Neste
sentido, o edifício é um exemplo de ‘cidade sustentável’, pois se trata de uma cidade dentro de
outra cidade.
Porém, o conceito de cidade sustentável reconhece que a cidade precisa atender aos nossos
objetivos sociais, ambientais, políticos e culturais, bem como aos objetivos econômicos e físicos.
É um organismo dinâmico tão complexo quanto à própria sociedade e suficientemente ágil para
reagir rapidamente às suas mudanças.
Para ampliar esse conceito, recorreremos aos projetos urbanos contemporâneos, que atuam nos
vazios urbanos em áreas centrais.
I 57 I
Figura 26: Docklands antes do processo de regeneração urbana, em 1982. Fonte: www.lddc‐history.org.uk
3 . PROJETOS URBANOS CONTEMPORÂNEOS: CONTEXTUALIZAÇÃO
3.1 VAZIOS URBANOS EM ÁREAS CENTRAIS
Entre as diferentes dimensões da crise urbana provocada pelo processo global de reestruturação
econômica que se tem identificado ao longo dos últimos 25 anos, destaca‐se o surgimento de
grandes áreas ociosas ou subutilizadas, particularmente nas cidades e setores urbanos, cujo
crescimento havia se amparado na indústria de transformação. Na última década emergiram as
metrópoles pós‐industriais e, com elas, as oportunidades e desafios oferecidas aos novos
projetos urbanos enquanto instrumento de
regeneração territorial das áreas produtivas
deterioradas ou em transformação.
Terrenos baldios e galpões desocupados junto
aos antigos eixos industriais, antigas áreas
produtivas, hoje inoperantes. A maior parte
dessas grandes áreas abandonadas, geralmente
está localizada ao longo das principais vias de
transporte, ao longo de rios, canais e junto ao
I 58 I
Figura 27: Vazios urbanos no bairro Plobenou, em Barcelona. Áreas centrais desutilizadas com grandes expectativas de transformação. Fonte: www.22barcelona.com
mar. O declínio industrial gerou o esvaziamento de áreas urbanas inteiras, transformações que
os territórios metropolitanos vêm sofrendo ao passar
de cidade industrial para pós‐industrial e de serviços,
abandonando imensas áreas de atividades
produtivas.
O território metropolitano tornou‐se depositário de
enormes transformações ao mesmo tempo em que o
abandono e desperdício urbanos tornaram‐se
evidentes: zonas industriais subtilizadas, armazéns e
depósitos industriais desocupados, edifícios centrais
abandonados, corredores e pátios ferroviários
desativados, os chamados vazios urbanos12.
12 A definição desse espaço residual em sua origem francesa, terrain vague, está sob um contexto cultural: uma área
sem limites claros, sem uso atual, vaga, em vacância, de difícil compreensão na percepção coletiva dos cidadãos,
constituindo normalmente um rompimento na trama urbana. Mas é também uma área disponível, cheia de
expectativas, de forte memória urbana, com potencial original: o espaço do possível, do futuro. (SOLÀ‐MORALES,
2002 – pag. 186)
I 59 I
Figura 28: Vazios urbanos em Montreal. Áreas centrais desutilizadas com grandes expectativas de transformação. Fonte: www.citemultimedia.com
A maior parte das cidades sofreram um agudo processo de diminuição da função
industrial nos últimos 20 anos, deixando grandes áreas abandonadas, geralmente
localizadas ao longo das principais vias de transporte, ao longo de rios, canais e junto ao
mar. Não importa a causa que levou à decadência dessas áreas, se guerra ou perda da
função industrial, tais áreas a serem recuperadas são uma importante oportunidade para
melhorar o grau de sustentabilidade das cidades. (ROGERS, 2001 – pg. 56)
Cada cidade tem sua história,
seus pontos de referência. Locais
que pertencem à memória da
cidade e que são pontos
fundamentais da identidade, do
sentimento de pertencer a uma
cidade. Quando uma indústria de
porte abandona o seu sítio
original, o estrago causado na
área é gigantesco. Ultrapassa, em
muito, o já grande vazio deixado
no seu território industrial
I 60 I
desativado. Mas como já não é mais possível recuperar essas áreas e reviver as antigas
atividades, temos que encontrar novos usos, novas atividades que tragam vida a essa área.
Assim como os demais recursos, os ambientes existentes não podem deixar de ser reciclado e
transformado. É mais inteligente a transformação dos espaços existentes e subutilizados do que
a sua negação e substituição.
Muitos dos grandes problemas urbanos ocorrem por falta de continuidade. O vazio de uma
região sem atividade ou sem moradia pode se somar ao vazio dos terrenos baldios. As áreas
residuais metropolitanas devem suportar os novos projetos urbanos e articular as novas
territorialidades. O vazio urbano e o terreno vago como instrumento potencial para a construção
do novo espaço público.
As áreas residuais são também a presença viva de um potencial imenso. Da reconstrução,
renovação, revitalização, mudança. A construção do novo território. Da nova vida
coletiva. Da nova metrópole que está à espreita. A crise traz a angústia da ausência clara
do uso atual, mas também a esperança de algo novo, indeterminado e promissor. (Carlos
Leite, 2002 – pg. 113)
No atual quadro de competitividade entre as cidades, somados à crise ambiental tão divulgada,
faz‐se necessário o reaproveitamento dessas áreas abandonadas, espaços urbanos com
potencialidade, preparados para receber a implantação de projetos urbanos que contemplem
I 61 I
Figura 29: Vazios urbanos em Paris (1989). Áreas centrais desutilizadas com grandes expectativas de transformação. Fonte: www.cabe.org
sua regeneração urbana, e sua reestruturação produtiva. Tais projetos são casos de sucesso em
diversas cidades.
Nessa nova análise do desenvolvimento urbano, a partir do processo de reestruturação
produtiva em vazios urbanos em áreas centrais, devemos contemplar a redefinição do papel das
cidades num mercado globalizado e competitivo, onde as novas formas de planejamento e de
gestão urbanos, atendem os quesitos conceituais de uma nova ordem, da implantação de novas
formas de produção do capital, do conhecimento, e das novas tecnologias. Espaços urbanos que
perderam boa parte de suas
funções produtivas, se
reconverteram em bairros
especializados nas indústrias
baseadas nas novas tecnologias da
informação e comunicação,
biotecnologia, nanotecnologia, e
outras demandas desse mercado
que, são diretamente
impulsionados a uma nova forma
de produção. A produtividade de
I 62 I
um mercado inovador e criativo, atrelado à pesquisa, com cooperação e competitividade entre
empresas e instituições de ensino e pesquisa.
Vazios urbanos e terrenos vagos, regeneração urbana e reestruturação produtiva, mercado
inovativo e informacional, trabalho e pesquisa, ambiente criativo e sustentável. Ingredientes na
expectativa de uma nova forma de planejamento, que tem conseguido sua efetividade através
das agências de desenvolvimento urbano.
I 63 I
Figura 30: Docklands em transformação.Fonte: www.lddc‐history.org.uk
3.2 O PAPEL DAS AGÊNCIAS DE DESENVOLVIMENTO URBANO
Em Londres, quando as áreas centrais já sofriam com a migração da população para os bairros
jardins (em torno dos anos 60), o governo britânico iniciou o Urban Programme, porém, focado
somente nos problemas sociais. Nos anos 70, esse programa ganhou ênfase econômica, e
culminou com o Inner Urban Areas Act, em 1978. Em setembro de 1979, foi proposta o
estabelecimento das agências de desenvolvimento urbano (Urban Development Corporations),
em uma revisão das políticas públicas, para regeneração e renovação urbana de áreas
degradadas, sendo a primeira delas a ser criada, a London Docklands Development Corporation.
Nos anos posteriores, dezenas de agências foram
criadas pelo Reino Unido.
Porém, esse modelo de agência de
desenvolvimento estimulou um empreendimento
que atendeu apenas à demanda de mercado, e o
resultado foi uma abundância de espaços para
escritórios, uma mistura acidental de
desenvolvimento comercial, unindo grupos de
escritórios com grupos de habitações. É um
I 64 I
Figura 31: Discussão sobre os planos urbanísticos para Mission Bay.Fonte: www.sfgov.org
empreendimento insustentável, sem qualidade cívica efetiva ou benefícios comuns duradouros.
O dinheiro que o governo gastou indiretamente para encorajar este empreendimento
transformou‐o em um caríssimo fiasco para o contribuinte, que subsidiou grandes negócios, mas
não teve voz em relação à forma de gastar aquele dinheiro. O governo garantia grandes isenções
de impostos e ainda pagava os custos de infra‐estrutura. Em vez de um novo bairro vibrante e
humano, que assumiria seu lugar na estrutura metropolitana, e enriqueceria as comunidades
mais pobres em seu entorno, os londrinos ganharam um caos de edifícios comerciais e a cidade
bancou uma das mais espetaculares falências da década de 1990 (Berry, 1995; Copans, 2001;
Rogers, 2001).
Desta forma, a agência ficou sujeita à uma
considerável controvérsia. Embora a
agência seja diretamente responsável e
representante pública pelo programa, ela
não levou em consideração as condições
sociais e econômicas das pessoas que
viviam na área, tornando‐se um processo
sem democracia, e com poderes de
iniciativas de imposição na localidade, sem
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Figura 32: Prédio onde fica instalada a agência 22@ em Barcelona. O edifício faz parte do projeto de transformação do bairro. Fonte: do autor, em visita feita em julho de 2007
participação e sem consulta públicas. Após essa experiência, os planejamentos estratégicos
iniciaram um trabalho de inserção popular, desde os debates sobre o papel das agências e dos
projetos a serem implementados até os orçamentos participativos, democratizando o processo,
e buscando uma parceria com o setor privado, pois os custos elevados de instalação de novas
infra‐estruturas não poderiam ser pagos somente com isenções de taxas e incentivos fiscais.
Os correntes projetos de parceria público‐privado inseriram‐se em um clima de alta expectativa
e num consenso sobre a necessidade para um desenvolvimento urbano de alta qualidade.
Acordos de cooperação e a participação mútua são fatores importantes na formação de uma
parceria público‐privado, porém, a
troca de conhecimento, a busca por
novas possibilidades,e acima de
tudo, clareza sobre as capacidades e
restrições de cada parte, são
ingredientes vitais.
As agências de desenvolvimento
urbano atuam como ferramentas
importantes nessa parceria entre o
governo e a indústria, e que,
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Figura 33: Campus de biotenologia da Universidade da California, em Mission Bay, São Francisco. que impulsionou a instalação de empresas do setor, próximo ao campus, interessadas nos contratos de cooperativismo, pesquisa e parceria . Fonte: www.sfgov.org
somados ao sistema de planejamento participativo, estabelecem uma instituição onde
diferentes interesses envolvidos satisfazem todas as partes. A riqueza do conhecimento e das
idéias contidas no conceito de cidadania é a chave para resolver os problemas urbanos. O
aproveitamento desta riqueza não só impulsiona os urbanistas a visitarem idéias antes
impensáveis, mas atende ao objetivo essencial de garantir aos cidadãos que suas idéias e
conhecimento constituam parte integral da solução. Neste sentido, deixando de lado a retórica
da ideologia política, a realização de desenvolvimento promovido pelas agências de
desenvolvimento refletem o sucesso da parceria público‐privado na renovação e na regeneração
dos centros urbanos. (Berry,
1995; Rogers, 2001)
Vimos agora, a importância dos
projetos urbanos, tão discutido
entre urbanistas, mas que com
a atual crise ambiental e o
desperdício de áreas urbanas
centrais, tornou‐se ferramenta
essencial numa discussão mais
ampla, com a participação e
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Figura 34: Campus da Universidade de Barcelona em um edifício industrial reconvertido, no bairro Poblenou, em Barcelona. Fonte: do autor, em visita feita em julho de 2007
envolvimento dos demais fatores que formam um conjunto de ações. Projetos urbanos que
envolvam a sobreposição de atividades, integrando moradia, trabalho, pesquisa, mobilidade, em
um ambiente próspero, criativo, inovador,
participativo.
Nesse contexto, as agências de
desenvolvimento urbano trabalham como
conciliadoras, pois devem atender interesses
diversos, como os interesses públicos
(planejamento estratégico, planos diretores
e participação dos atores sociais envolvidos)
e os interesses privados (espaço produtivo
inovativo, qualidade de vida para os
funcionários, ambiente de cooperação e
competitividade entre campos de pesquisa,
estudo e produção).
O resultado destas implementações,
caracterizado por planejamento estratégico
e a criação de uma agência de
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desenvolvimento conciliadora, fica explícito nos interesses das empresas em instalar filiais e
unidades produtivas e de pesquisa, nessas áreas onde se desenvolvem tais processos inovativos,
e nos interesses das pessoas em estar em tais ambientes com sobreposição de diversas
atividades.
Pesquisas feitas com as 500 maiores empresas da Europa, desde 1990, revelam os interesses de
investimentos nas cidades européias. A Cushman & Wakefield Global Real State Solutions13 foi
contratada para esse estudo, para que as
empresas conseguissem enxergar seus
interesses em comum. Por esse trabalho,
conseguimos ver como as cidades européias se
empenham para conquistar uma boa imagem
para investidores.
Para compor esse trabalho, as empresas foram
questionadas sobre cidades européias quanto
a: disponibilidade de equipe qualificada;
facilidade de acesso a mercado, clientes e
consumidores; qualidade em
13 d isponível em w ww .cushm anwakefield.com
Tabela 4 ‐Melhores cidades européias para expansão de negócios e investimentos. Fonte: www.cushmanwakefield.com
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telecomunicações; transportes que ligam a outras cidades internacionais; custo de equipe;
línguas faladas; qualidade de vida dos empregados; disponibilidade de espaço; facilidade de
acesso dentro da cidade; poluição; clima governamental criado para as empresas por políticas de
impostos e incentivos fiscais.
Na tabela 4 vimos como os interesses de investimentos das empresas se alteraram nos últimos
anos. Destaque para cidades como Barcelona, Madri e Berlin que avançaram e muito neste
ranking. Essa tabela qualifica as cidades européias
com a somatória das pontuações das demais
tabelas.
Na tabela 5, as empresas foram questionadas
quanto à imagem que cada empresa tem das
cidades européias, e quais cidades que oferecem
melhor qualidade de vida para seus empregados.
Destaque para Barcelona e Genova, que
receberam vultosos investimentos em programas
de regeneração urbana e reestruturação produtiva
em seus vazios urbanos e portos. Tabela 5 ‐Melhores cidades européias em termos de qualidade de vida para empregados. Fonte: www.cushmanwakefield.com
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Na tabela 6, as empresas foram questionadas quanto aos investimentos em expansão fora da
Europa. Shanghai e Beijing se destacam como líderes desse ranking, que pode ser explicado pela
grande expansão de mercado de produção que a China vem desenvolvendo ao longo dos últimos
anos. Mas cidades de países em desenvolvimento, como São Paulo e Cidade do México já
aparecem à frente de países desenvolvidos, mostrando o interesse em empresas em exportar
sua produção para esses países.
Essas informações nos mostram como as cidades
européias estão se diferenciando num mercado
cada vez mais globalizado e competitivo, e nos
mostra como as cidades buscam uma imagem
acolhedora para os investimentos para expansão
das empresas.
Nesse contexto, vimos a importância de um
planejamento estratégico com a criação de uma
agência de desenvolvimento para que os anseios
destas empresas em investir e expandir sua rede
de produção e atendimento, vai de encontro aos
anseios de desenvolvimento urbano de uma Tabela 6 ‐ Ranking de cidades não‐européias onde as empresas investiriam. Fonte: www.cushmanwakefield.com
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determinada área, a fim de gerar juntos, um ambiente inovativo, criativo e próspero para
pesquisa e produtividade.
No gráfico 1, as empresas foram questionadas quanto à imagem que as cidades européias
transmitem quanto aos investimentos que elas fazem em si mesmas para seu próprio
desenvolvimento.
Devemos buscar então, experiências
internacionais que são casos de sucesso,
construindo para tanto, um inventário analítico
dessas agências de desenvolvimento urbano que
criaram projetos urbanos e fizeram com que
grandes áreas centrais obsoletas se
transformassem em potenciais pólos de
investimento. Expansão produtiva desses novos
mercados inovativos, que estão atrelados ao
cooperativismo e competitividade existente na
troca de experiências e pesquisa entre empresas
e instituições de ensino e pesquisa. Gráfico 1 ‐ Cidades européias que mais investem em si mesmas. Fonte: www.cushmanwakefield.com
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3.3 PROJETOS URBANOS CONTEMPORÂNEOS
Algumas cidades da América e da Europa estão sendo estudadas e entendidas num despertar da
mudança social e econômica, que, tem produzido e transformado antigas áreas portuárias,
espaços residuais, bairros industriais abandonados por causa da expansão da cidade, lugares de
imensa potencialidade, em áreas novamente
produtivas e densificadas, pois são servidas de boa
infra‐estrutura, boa localização e trazem diversos
benefícios já descritos neste trabalho. Esses projetos
urbanos que contemplam a reutilização dessas áreas,
estão em franca evidência, pois despertam nos
cidadãos uma saída para a atual crise ambiental, tão
enfatizada por ONG’s, instituições e formadores de
opinião.
Entre eles, Battery Park City, em Manhattan, Canary
Wharf, em Londres, Kop van Zuid, em Roterdã, Seine
Rive‐Gauche e Parque La Villete, em Paris, Puerto
Madero, em Buenos Aires, 22@, em Barcelona, Mission Figura 35 – Battery Park City, Manhattan, Nova Iorque. Fonte: Powell, 2000
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Bay, em São Francisco, Potsdamer Platz e Alexander Platz, em Berlim , Euralille, em Lille, Cité
Multimédia, em Montreal, e outros.
Trata‐se de cidades que receberam projetos urbanos de porte, e que consideraram inicialmente,
que a cidade é uma estrutura de vida e trabalho, a
integração das funções sociais.
Essa consideração veio como resposta aos
problemas que trouxe a separação entre trabalho
e moradia. Separou‐se trabalho e vida. Planejava‐
se a cidade com prescrições políticas, sociais e
econômicas, monitorando, regulando e ajustando‐
a como uma máquina, e não como um organismo
vivo e mutante, interativa e humana, com suas
funções urbanas integradas e derivadas da
complexidade de um mundo globalizado.
Estamos presenciando a realização teórica
e prática da “arquitetura metropolitana”.
Em um momento onde as informações são Figura 36 – Potsdamer Platz, Berlim.Fonte: Powell, 2000
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fragmentadas e efêmeras, nos parece urgente fazer a discussão dessas abordagens e
fazer a análise reflexiva desses estudos de caso, sob o risco de vermo‐nos, no Brasil,
novamente, à margem da arquitetura global. Há que se retomar no Brasil, urgentemente,
o importante papel do projeto urbano nas nossas cidades. (Carlos Leite, 2002 – pg. 19)
Nesse contexto, é de vital importância entender a substituição de planos gerais por processos
estratégicos, que sejam expressos por projetos urbanos com capacidade executiva, que façam a
cidade movimentar e ter vida, econômica e social. Para tanto, investimento em novas infra‐
estruturas urbanas, ou a modernização
da existente, atuam como agente
estimulador ao estabelecimento de
novas empresas e residências. Melhor
ainda, reaproveitando o espaço físico
construído, enfrentando a cidade
existente, sem negá‐la. Procurar
refletir a complexidade da metrópole
contemporânea. Buscar alternativas
de intervenções que respondam às
demandas geradas pela nova lógica Figura 37 – Euralille, em Lille.Fonte: www.euralille.com
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territorial, pela rede de fluxos de informação, de mercadoria, e de pessoas. (CASTELLS, 2005;
DUARTE, 2002; LEITE, 2002)
O urbanismo atual debruça‐se então sobre a questão nova da cidade sobre a cidade. Não
há mais modelos rígidos ou fixos. Trata‐se sempre de verificar quais as estratégias
dominantes na
reconfiguração das
cidades existentes para
entendê‐las e tornar‐se
um posicionamento
crítico. (Carlos Leite,
2002 – pg. 127)
Precisamos voltar a crescer para
dentro da metrópole e parar de
expandi‐la. Reforçamos que
reciclar o território é mais
inteligente do que substituí‐lo.
Reestruturá‐lo produtivamente
é possível e devemos buscar Figura 38 – 22@, em Barcelona.Fonte: www.22barcelona.com
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exemplos que conseguiram atrair novos setores produtivos, baseados na tecnologia da
informação e comunicação, mas vinculadas à vocação do território, com novos valores
locacionais, aliados às políticas de desenvolvimento econômico e urbano local e a gestão urbana
eficiente. Desta forma, podemos contribuir para a redução do esvaziamento produtivo de áreas
centrais a partir da re‐utilização dos espaços vagos, combatendo a perda de vitalidade do tecido
urbano.
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