Filha natural de Rosa Maria de Lima, Francisca Edwiges nasceu em 17 de outubro de 1847. Para
sua mãe, mulher pobre e mestiça, o nascimento de Francisca foi uma situação muito difícil, sobretudo porque não sabia se seu amado iria assumir a paternidade da
menina. José Basileu, militar de carreira promissora, oriundo de família abastada, sofreu forte
pressão de seus pais, que eram contra a sua união com Rosa.
Mesmo frente a todas as discordâncias, assumiu a criança e
a registrou como sua filha.Seu pai, muito severo com sua educação, preparara para ela um
futuro promissor: um bom casamento que pudesse elevá-la à categoria de
"dama". Desde cedo Francisca foi educada para isso, aprendendo a ler e
a escrever, fazer contas e, principalmente, tocar piano. A música
tornou-se sua grande paixão. Francisca crescia ao som de polcas, valsas e modinhas e participava das
festas domésticas com grande satisfação. Foi assim que, no Natal de
1858, compôs sua primeira música.((AVANÇAR C/ O MOUSE)
Desde 1808, com a chegada da Família Real ao Brasil, as mulheres passaram a circular mais pelas ruas, dançar em recepções festivas da Corte,
comparecer a saraus, teatros e ópera. Mesmo com todas as mudanças sociais, os padrões e a austeridade patriarcal permaneciam inabaláveis. Para
a jovem Francisca, nada lhe restava a não ser obedecer às ordens de seu pai. Foi assim que com 16 anos, em 1863, casou-se com Jacinto do Amaral, 8 anos mais velho, moço de posses e projetos ambiciosos, nascendo-lhes logo
2 filhos: João Gualberto e Maria do Patrocínio.Jacinto, muito ciumento, obrigou-a e ao filho João Gualberto a acompanhá-lo em penosas viagens do seu navio cargueiro até o Paraguai, durante a guerra
contra Solano Lopes, no qual transportava armas, soldados e escravos.
O casamento não era feliz, pois Jacinto, intransigente, não admitia que Chiquinha cultivasse a música, que tanto amava, no piano que levara no dote. Por fim, impõe-lhe um dilema: ou ele ou a música! Chiquinha não
tem dúvidas: "Pois, senhor meu marido, eu não entendo a vida sem harmonia!"Deixa então a casa, mas volta porque se descobre grávida de um
terceiro filho: Hilário. Oito meses após o nascimento, contudo, abandona de vez o lar, para escândalo da sociedade patriarcal e repúdio do pai,
que a "declara morta e de nome impronunciável".Ela só pôde ficar com seu filho João Gualberto. Sua filha Maria foi criada
pela avó materna e o seu filho Hilário, pela tia paterna. Ambos cresceram como órfãos de mãe.
Com o filho João Gualberto ainda no colo, ela partiu em busca de uma nova vida. Quem sabe era a oportunidade de seguir seu desejo: tornar-
se uma compositora. Enquanto a família lhe batia a porta na cara, a boemia carioca lhe abria portas e janelas. O compositor e flautista
Callado a acolheu com a polca “Querida por todos”, editada dia 13 de janeiro de 1869. Esta foi a introdução de Chiquinha no meio musical da
época.
A única pessoa com quem manteve contato era seu irmão Juca.
Logo em seguida, Callado lançou outra polca para a
amiga, chamada “A Sedutora”. Apesar dos
elogios do compositor, é por João Batista de Carvalho Jr.
que Chiquinha se apaixonou. O fato de ele ser
freqüentador da casa dos Amaral (família do ex-marido de Chiquinha) tornou a vida
do casal na corte insustentável. Por isso, foram
morar no interior de Minas Gerais depois que João
Batista recebeu um convite para construir a estrada de
Ferro de Mongiana.Em 1875, nasceu a filha dos dois, chamada Alice Maria.
Mas a felicidade do casal foi aniquilada quando Chiquinha flagrou seu marido com outra mulher no porão de sua casa.
Isso fez com que a jovem compositora abandonasse seu
marido e a filha recém-nascida. Mais uma vez,
Chiquinha Gonzaga pega seu filho João Gualberto pelas
mãos e vai embora.
JOAQUIM CALLADO
Com o primogênito João Gualberto, Chiquinha vai residir no
bairro de São Cristóvão, no Rio. Precisa trabalhar para sobreviver
e, para isso, ministra aulas particulares de disciplinas
escolares e de piano. Reaproxima-se do amigo Callado, com quem consegue alunos de piano e a
oportunidade de tocar em grupos de choro.
Em 1876, Chiquinha Gonzaga começou a fazer parte dos grupos de chorões e boêmios do Rio de
Janeiro. Na verdade, ela começou sua carreira de compositora
através de um sonho que teve com uma melodia. Como não tinha tempo de escrever, chegou na
casa de Henrique Alves Mesquita para uma reunião musical e começou desenvolver a tal
melodia no piano. De repente vários chorões da época
começaram a acompanhar a jovem e sua polca. Era tão atraente a melodia de Chiquinha, que as
pessoas na rua pararam para ouvir e aplaudiram a polca “Atraente”,
que foi publicada em seguida pelos amigos da compositora.
Assim, ela foi a primeira pianeira, pianista dedicada à música
popular de choro, e a primeira chorona. Chiquinha começou a se apresentar com os chorões nos
bailes e o seu filho, João Gualberto de 12 anos, se
apresentava junto tocando clarineta.
Em 1883, conheceu o maestro Carlos Gomes - um grande amigo.
Em 1885, Chiquinha Gonzaga estreou como maestrina ao
musicar o libreto em parceria com Palhares Ribeiro. A obra foi
uma opereta de um ato, chamada “A Corte da Roça” (tratava sobre os costumes do interior do país).
A dança final da opereta foi liberada pela polícia desde que não houvesse “bis”. O público
presente aclamou por um “bis”, mas os atores não puderam atender. A dança era uma
mistura do lundu, da polca e do tango. Assim nasceu o maxixe.
Ainda em 1885, Chiquinha realizou seu primeiro concerto fora da Corte. Depois de tantos
acontecimentos, ela alcançou um sucesso estável e o respeito de
todos.
No começo de 1899, Chiquinha Gonzaga morava no Andaraí, onde o cordão Rosa de Ouro ensaiava. Então,
pela primeira vez um compositor fez uma música inspirada num cordão carnavalesco. Assim, nascia “Ó Abre Alas”, que se tornou o hino do carnaval. Mais um
pioneirismo de Chiquinha Gonzaga que, além de ter sido a primeira mulher a reger no Brasil , lançou a primeira
música de carnaval de que se tem notícia.
Famosa e comentada, alvo da maledicência e de preconceitos, tem ativa participação nos
movimentos que empolgam a época, como a revolta, em 1880, contra o imposto do vintém nas passagens dos bondes, a abolição da escravatura, finalmente alcançada em 1888, e a implantação da
República no ano seguinte.Sempre lutadora, levantou também bem alto a bandeira do direito autoral. Era a única mulher
entre os 21 fundadores, em 1917, da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais), que
acompanharia de perto no seu dia-a-dia enquanto viveu.
Mas nem tudo estava perfeito ainda, os filhos que até então nem sabiam de sua existência resolveram procurar a mãe para cobrar sua ausência. A primeira a procurá-la foi Alice com 28 anos, viúva,
com cinco filhos e sem saber o que fazer com os negócios deixados pelo marido.
Chiquinha Gonzaga recusou a filha e seus netos. Esta foi abrigar-se na casa de uma
tia paterna. Aliás, falando em pai, João Batista de Carvalho Jr. terminou a vida pobre e morando na casa de sua irmã,
Henriqueta.
Maria também foi procurar a famosa mãe depois do marido perder tudo no jogo.
Mais uma vez, Chiquinha Gonzaga recusa filha e os três netos. Na verdade, as duas filhas só procuraram a mãe no momento
em que precisaram, pois quando descobriram quem era sua mãe, ambas
negaram parentesco por se tratar de uma mulher que não obedecia a nenhum
padrão da época.
Para encerrar o desfecho da história familiar de Chiquinha Gonzaga, Hilário virou um humilde sapateiro, que vivia com seu velho e pobre pai no subúrbio
carioca. Jacinto perdeu toda sua fortuna. Chegou a tal ponto sua pobreza, que foi
Chiquinha Gonzaga quem pagou seu enterro.
Seu coração inquieto e ardente ainda tinha espaço para o amor. Também em
1899, já com 52 anos, une-se a João Batista, de apenas 16
anos, e o apresenta como filho, solução que julga
suficiente para evitar maiores constrangimentos. Malgrado
a diferença chocante de idade, foi uma união tão forte
que duraria até seu falecimento, e mais além, já
que Joãozinho jamais trairia a memória da "mãe" com revelações indiscretas.
Na última fase de Chiquinha Gonzaga, a família orgulhava-
se da grande maestrina e compositora . Mas a única pessoa que ela mantinha
perto de si era o jovem João Batista e assim foi até sua
morte.
Trabalhou até o final da vida. Em 1934, aos 87 anos, escreveu a partitura da opereta "Maria". Foi criadora da
célebre partitura da opereta "A Jurity", de Viriato Correia. Ao todo, compôs músicas para 77 peças teatrais, tendo
sido autora de cerca de duas mil composições. Dia 28 de fevereiro de 1935, era véspera de carnaval e os
anjos começaram a cantar “Ó Abre Alas” para receber a grande pioneira Chiquinha Gonzaga que morreu às 18h
com 87 anos de idade.
“...na sua casa recebia todos com o maior carinho, sempre risonha e satisfeita.
Quando pedia-se para tocar um choro,não se fazia de rogada,
abria o piano e com seus dedos hábeis e admiráveisprincipiava com um choro composto por ela..."
Alexandre Pinto - O Choro, 1978
FORMATAÇÃO: CLAUDIA MADEIRAENTRE NO SITE: http://www.corepoesia.com
TEXTOS E IMAGENS: INTERNETSOM: VALSAS “LUA BRANCA”, “PLANGENTE” E “SAUDADE” DE
CHIQUINHA GONZAGA (NÃO PUDE DEIXAR DE INCLUIR AQUI SEU GRANDE PRIMEIRO SUCESSO:
“ATRAENTE”, MENCIONADO NO 5° QUADRO)
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