63c46daf-7d30-4f73-8aad-05102ec08a4b
Equipa de Sérgio Conceição regressa às vitórias antes de visitar o Ben ca p29
O Ministério da Justiça diz que pagamento voluntário de dívidas aumentou 50% p14
Matteo Salvini deixa desembarcar 27 menores “com desagrado” p20
Per l de Alexandre Soares dos Santos, o líder histórico da Jerónimo Martins p18/19
FC Porto goleia Vitória de Setúbal e dá pontapé na crise
Simplificar uma carta fez subir pagamento de dívidas
Imigrantes do Open Arms peões na crise política italiana
Soares dos Santos, o “sonhador acordado”
MIGUEL MANSO
Recuo do sindicato nos salários é teste a patrões e trabalhadoresPlenário do Sindicato de Motoristas de Matérias Perigosas decide hoje se suspende greve Destaque, 2 a 4
Reportagem O Alentejo é o novo eldorado da imigração?
Locarno Pedro Costa ganha o Leopardo de Ouro e Vitalina Varela, a própria, o prémio de Melhor Actriz
Cultura, 24/25
Edição Porto • Ano XXX • n.º 10.709 • 1,70€ • Domingo, 18 de Agosto de 2019 • Director: Manuel Carvalho Adjuntos: Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro Directora de Arte: Sónia Matos
ISNN-0872-1556
9 1,70€ Domingo, 18 de Agosto de 2019 Director: Manuel Carvalho Adju
2 • Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019
DESTAQUE
CRISE DOS COMBUSTÍVEIS
Governo ignorou ferrovia como alternativa aos camionistasEm Portugal, há capacidade para transportar combustíveis por caminho-de-ferro, mas não foi considerada pelo Governo na crise dos combustíveis, que abrandou a mobilidade rodoviária
Carlos Cipriano
O transporte de combustível em com-
boio, desde que devidamente planea-
do, poderia ter sido uma das alterna-
tivas para minimizar o impacto da
greve dos motoristas de matérias
perigosas, mas o Governo nem sequer
a estudou. As opções tiveram como
base a grelha actual de distribuição
por via rodoviária sobre a qual se
impuseram as obrigações de serviço
mínimo. No entanto, o país dispõe de
uma frota de vagões-cisterna — que
está operacional — destinada ao trans-
porte de combustíveis e de outros
líquidos in amáveis.
A Medway, empresa que resultou
da privatização da CP Carga, herdou
desta última várias dezenas desses
veículos, os quais só usa pontualmen-
te. A própria empresa anuncia no seu
site que “o transporte de combustí-
veis, dada a sua natureza, exige
vagões e cuidados especiais”, mas
que a Medway “dispõe de vagões
apropriados e know-how especializa-
do de forma a transportar este tipo de
produto com a maior segurança”. Os
produtos passíveis de serem trans-
portados são, segundo o mesmo site,
“o petróleo, o gás, o gasóleo, o jet fuel,
os resíduos, entre outros”.
Carlos Vasconcelos, presidente da
Medway, con rmou ao PÚBLICO a
existência desta capacidade disponí-
vel e disse que nunca foi contactado
pelo Governo para estudar qualquer
operação de transporte de combustí-
veis. O transporte ferroviário poderia
assegurar o fornecimento de grandes
quantidades de gasóleo e gasolina
desde Sines até qualquer ponto da
rede ferroviária desde o Minho ao
Algarve, se bem que, na distribuição
na, fosse sempre necessário o uso
de camiões para fazer chegar o pro-
duto ao consumidor nal.
O administrador diz que Portugal
está demasiado dependente do modo
rodoviário no transporte de combus-
tíveis e que, até por razões estratégi-
cas, seria desejável uma maior repar-
tição deste mercado entre a rodovia
e a ferrovia.
Em Portugal apenas existe uma
linha regular de transporte de com-
bustíveis sobre carris, que, curiosa-
mente, é realizado pela empresa
concorrente da Medway — a Takargo,
que pertence ao grupo Mota-Engil.
Todos os dias realiza-se um comboio
entre Sines e Loulé destinado a abas-
tecer com jet fuel o aeroporto de Faro.
A composição é formada por cister-
nas montadas em vagões porta-con-
tentores, que depois são movimenta-
das para camiões que executam o
troço nal deste transporte entre Lou-
lé e o aeroporto.
Esta operação teve início em 2004
(ver PÚBLICO de 23/03/2004) e
decorreu sempre sem problemas.
Começou ainda com a CP Carga,
depois foi concessionada à Takargo,
depois à Medway e, desde 2016, nova-
mente à Takargo. Cada comboio evita
a circulação diária de 25 camiões-tan-
que entre Sines e o Algarve e poupa
um milhão de quilómetros por ano
de transporte rodoviário, o que equi-
valia, em 2004, a 5% da quilometra-
gem da frota da Galp.
Apesar do seu êxito, não se sucede-
ram em Portugal operações idênticas
de transporte de combustível por via
Último balanço do Ministério do Ambiente demonstra “uma crescente normalidade da situação” no postos
Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019 • 3
Quando partiu para o protesto,
o Sindicato Nacional de
Motoristas de Matérias Peri-
gosas (SNMMP) avançou com
duas linhas vermelhas bem
vincadas nos piquetes de gre-
ve: aumentos salariais mais acelera-
dos do que aqueles previstos no acor-
do assinado pelos outros sindicatos
da Fectrans e um pagamento mais
substancial das horas extraordiná-
rias, para travar longos dias de traba-
lho. Uma semana depois, com o país
a normalizar os abastecimentos de
combustível (os stocks estão em níveis
como nunca se tinha visto desde o
início da greve) e os grevistas assumi-
damente cansados, uma das linhas
vermelhas já perdeu força, a dos salá-
rios, mas a outra, a das horas extras,
permanece em cima da mesa. Como
contrapartida, o sindicato pede que
o subsídio de operações (que pode
envolver as cargas e descargas) suba
face ao acordado previamente com
os patrões.
É este o menu laboral que será tes-
tado hoje em Aveiras e, se passar,
chegará à mesa das negociações que
o Governo vai continuar a montar e
que, esperam o sindicato e o minis-
tro Pedro Nuno Santos, consiga con-
vencer os patrões a regressar de ni-
tivamente ao diálogo, depois das
hesitações da manhã de ontem. E,
pelo caminho, desconvocar de niti-
vamente a greve.
Ainda de madrugada, os primeiros
sinais foram de desânimo, com minis-
tro das Infra-Estruturas e sindicato a
revelarem que tinham fechado uma
proposta mais próxima do que já
tinha sido assinado pelos outros sin-
dicatos, mas a revelarem que a
Antram continuava intransigente na
postura não negocial.
O porta-voz dos patrões con rmou
isso mesmo, logo de manhã, ao
defender que o que tinha sido previs-
to na tal negociação entre Governo e
sindicato (com o contributo do con-
sultor do sindicato, Bruno Fialho, do
sindicato de pessoal de voo da avia-
Recuo do sindicato nos salários vai a teste com patrões e trabalhadores
— fosse além do aumento do salário
base em 2020 para os 700 euros
(mais complementos e subsídios),
reclamando que os valores fossem de
800 em 2021 e 900 em 2022.
A Antram — Associação Nacional
de Transportadores Públicos Rodo-
viários de Mercadorias recusou sem-
pre, admitindo apenas actualizações
salariais dependentes da evolução do
salário mínimo. No nal do plenário
de há uma semana, o SNMMP esticou
a corda, em vésperas de greve, e exi-
giu 900 euros já em 2020.
Seis dias de greve decorridos, esta
exigência caiu. Em alternativa, o sin-
dicato exige uma compensação maior
no subsídio de operações, que foi
xado no acordo colectivo nos 125
euros no caso das matérias perigosas
(superior ao das mercadorias), recla-
mando um aumento de 40% desse
subsídio — isto é, mais 50 euros por
mês, aproximadamente.
Adicionalmente, revelou o SNMMP,
a proposta fechada com o Governo
também passa por “reconhecer que
o trabalho suplementar tem de ser
pago sem recurso a uma carta branca
cujo resultado é a normalização de
turnos até 16 horas, impostos com
regularidade pelos patrões”. Neste
aspecto, não são dados pormenores,
sendo certo que este tem sido um dos
pontos de maior discórdia entre as
partes, dado que contrato colectivo
xou um tecto de duas horas extraor-
dinárias pagas como tal, complemen-
tadas com o pagamento de uma isen-
ção de horário. Características que os
trabalhadores contestam, acusando
as empresas de pagarem horas extras
ao quilómetro como forma de esten-
derem os horários de trabalho.
Neste cenário, o sindicato está
aberto a sentar-se à mesa com os
patrões, desde que a Antram esteja
disposta a rever a sua intransigência
em questões-chave do acordo. São
Bento já admitiu, ontem à tarde, em
Aveiras, que “há possibilidade de
uma reunião no Ministério das Infra-
Estruturas. Se houver, vamos lá estar
para negociar”.
Pedro Ferreira Esteves
Há possibilidade de uma reunião no Ministério das Infra-Estruturas. Se houver, vamos lá estar para negociar Francisco São Bento Presidente do Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP)
[email protected] [email protected]
NUNO FERREIRA SANTOS
ção civil) não era comportável pelas
empresas. E que não podia privile-
giar o SNMMP face aos outros sindi-
catos.
Mais tarde, André Matias de Almei-
da, na SIC Notícias, anunciou que,
a nal, a associação já admitia nego-
ciar e ia pedir a mediação do Governo
nesse sentido. Mas não explicou quais
as suas linhas vermelhas que estaria
disponível a exibilizar. E o país cou
sem saber quando é que essa media-
ção iria ter lugar, embora a expecta-
tiva era que pudesse acontecer ainda
antes do plenário de Aveiras.
Ao início da tarde de ontem, o sin-
dicato liderado por Francisco São
Bento revelou a sua nova posição,
depois do “esforço negocial do Gover-
no” durante a maratona negocial de
dez horas. E con rmou que a nova
proposta abre “mão do desdobramen-
to para 2021 e 2022 [dos aumentos
salariais], centrando-se num plano de
ganhos inferior aos 900 euros de salá-
rio base pelos quais” o sindicato se
bateu inicialmente.
No arranque desta crise negocial,
o SNMMP exigia que o contrato colec-
tivo de trabalho vertical (CCTV) —
assinado entre a Fectrans e a Antram
ferroviária. Uma realidade que con-
trasta com a da vizinha Espanha,
onde diariamente circulam comboios
com gasóleo e gasolina desde as re
narias de Puertollano (Ciudad Real) e
Escombreras (Murcia) para diversos
centros de consumo e distribuição.
Operações que são realizadas pela
estatal Renfe Mercancías e por ope-
radores privados, num negócio que
é rotina e se tem revelado lucrativo.
Para isso contribui a existência de
terminais ferroviários junto dos cen-
tros de produção e de distribuição de
combustível, situação que também
contrasta com a portuguesa. O centro
logístico de Aveiras foi construído a
escassos 21 quilómetros do Carrega-
do, onde passa a Linha do Norte e
onde existia na altura espaço dispo-
nível para o parque de combustíveis
bem como um terminal ferroviário.
Alguns anos depois, esse terminal
ferroviário seria desmantelado. Hoje,
toda a distribuição realizada a partir
de Aveiras é feita por camiões.
O PÚBLICO tentou saber junto do
gabinete do ministro Pedro Nuno San-
tos que razões impediram o estudo
de uma solução ferroviária para o
transporte de combustível durante a
greve, mas não obteve resposta.
Nem a CP usa os carris O abastecimento de gasóleo à frota de
comboios a diesel da CP está também
totalmente dependente do modo
rodoviário. A empresa possui depó-
sitos nas estações de Viana do Castelo,
Contumil (Porto), Sernada do Vouga
(Águeda), Régua, Entroncamento,
Lisboa Santa Apolónia, Caldas da Rai-
nha, Beja e Faro, que são abastecidos
por camiões.
Estando estes depósitos em meio
ferroviário, seria relativamente fácil
transportar o combustível desde a
re naria de Sines para qualquer uma
destas estações, mas a CP não está
hoje licenciada para o transporte de
mercadorias (só pode transportar
passageiros), pelo que essa operação
teria de ser feita com recurso a um
operador privado (Medway ou Takar-
go). Fonte o cial da empresa disse ao
PÚBLICO que a empresa não espera-
va rupturas no abastecimento duran-
te a greve porque os serviços mínimos
contemplavam o fornecimento de
gasóleo, com níveis de serviço de 75%,
a empresas de transporte público de
passageiros.
Com o país a normalizar os abastecimentos de combustível e os grevistas cansados, “linha vermelha” das horas extra permanece em cima da mesa
4 • Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019
DESTAQUE
CRISE DOS COMBUSTÍVEIS
O primeiro a entrar em cena
com o tema “férias” foi Antó-
nio Costa, que, à saída da
reunião com o Presidente da
República na sexta-feira,
menosprezou as críticas do
líder do PSD por ter passado os últi-
mos 15 dias ausente. Costa desejou a
Rio que “concluísse com felicidade o
período de descanso”. Rio respondeu
ontem e de uma forma que lhe é inco-
mum: “O que está aqui em causa nes-
te caso era eu entrar ou não num
circo mediático durante quatro ou
cinco dias. Mas o que esteve em causa
quando ele, pura e simplesmente,
não interrompeu as férias foi a morte
de mais de 60 pessoas”, a rmou Rio,
numa referência ao incêndio em
Pedrógão Grande, em 2017.
“Foi de infelicidade enorme aquilo
que António Costa ontem referiu e
revela que não tinha resposta para
aquilo que eu tinha dito”, concluiu
em Viseu.
O primeiro-ministro não fez férias
durante o incêndio de Pedrógão
Grande, entre os dias 17 e 24 de Junho
de 2017, mas foi de férias pouco
depois, na primeira quinzena de
Julho. Naquele incêndio morreram
66 pessoas.
O próprio gabinete de Costa fez
questão de esclarecer que o primeiro-
ministro não estava de férias durante
os incêndios de Junho de 2017. “Em
17 de Junho de 2017, o primeiro-minis-
tro não estava de férias e no dia 18 de
manhã estava em Pedrógão reunido
com os presidentes de câmara dos
concelhos mais atingidos. Os presi-
dentes de câmara da Sertã ou da Pam-
pilhosa, por exemplo, podem con r-
má-lo. Os deputados do PSD-Leiria
também estiveram com o primeiro-
ministro quando visitou o posto de
comando.” O gabinete de Costa fez
questão de esclarecer que “nos dias
seguintes o primeiro-ministro coor-
denou os apoios de emergência e a
preparação dos trabalhos de recons-
trução. Esteve presente com o Presi-
dente da República, o presidente da
Assembleia da República e — a seu
convite — todos os líderes partidários
no primeiro funeral”.
Mas, apesar de, tal como a declara-
ção do gabinete refere, Costa só ter
ido “de férias no nal do mês, como
tinha acertado no princípio do ano
Sandra Rodrigues e Ana Sá Lopes
ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
António Costa desejou a Rui Rio, em Belém, que “concluísse com felicidade o período de descanso”
com o ministro dos Negócios Estran-
geiros, que o substituiu”, a ausência
do primeiro-ministro pouco tempo
depois da tragédia deu azo a uma
enorme polémica.
Ontem, além da questão das
“férias”, Rui Rio acusou o Governo de
ser o “elefante no meio da sala” na
questão da crise energética, mas que
agora tem a possibilidade de, com
“habilidade e inteligência”, conseguir
que as duas partes em confronto che-
guem a um “ponto de encontro”.
O líder do PSD falava em Viseu, um
pouco antes de a Antram (Associação
Nacional de Transportadores Públi-
cos Rodoviários de Mercadorias) ter
também anunciado que vai pedir a
mediação ao Governo, na sequência
da intenção do Sindicato Nacional de
Motoristas de Mercadorias Perigosas
(SNMMP) de suspender a greve desde
que retomada a negociação.
Rui Rio espera que se encontre
uma solução nos próximos dias. “Tem
de se continuar a tentar e esse é o
papel que o Governo deve ter, para
deixar de ser o elefante na sala que
parte tudo, para ser, como no futebol,
aqueles árbitros que nem se dá por
eles. Esses são os melhores e era
assim que o Governo devia estar, com
recato, com sentido de Estado, quase
sem se dar pela sua presença. Era a
melhor forma de ser um mediador”,
reforçou.
O presidente do PSD acusou o
Governo de ter criado “um teatro” à
volta da greve dos motoristas, tal
como o fez nas vésperas das eleições
europeias com a questão dos profes-
sores, e a rmou que o executivo,
apesar de ter “mudado de direcção”,
sai “enfraquecido”.
“Nos primeiros dias parecia que
ganhava politicamente com isto. Nes-
te momento acho exactamente o
contrário, acho que os portugueses
perceberam que se montou aqui uma
farsa demasiado exagerada com ns
eleitorais”, frisou.
Também ontem, Ana Catarina
Mendes, secretária-geral adjunta do
PS, veio criticar o PSD e o Bloco de
Esquerda, em declarações à Lusa:
“Julgo que Catarina Martins está com
febre eleitoral, a pensar em 6 de Outu-
bro, e, por isso, acaba por ser a porta-
voz da demagogia ao nível de Rui Rio.
Aquilo a que assistimos, quer com as
declarações de Catarina Martins quer
com as de Rui Rio, são de uma pro-
funda demagogia, de uma profunda
irresponsabilidade, de quem não está
preocupado com o interesse nacio-
nal, mas que está preocupado com
interesses meramente eleitorais.”
Julgo que Catarina Martins está com febre eleitoral e por isso acaba por ser a porta-voz da demagogia ao nível de Rui Rio Ana Catarina Mendes Secretária-geral adjunta do PS
Como as férias de Rio de 2019 e as de Costa de 2017 entraram na crise dos motoristas
Costa desejou que Rio concluísse com “felicidade” as férias, menorizando as críticas do líder do PSD por ter estado ausente. Rio atacou com a tragédia de Pedrógão, mas Costa só entrou de férias 15 dias depois
Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019 • 5
CONTEÚDOCOMERCIAL
Na terceira viagem pelas regiões de Portugal e pelas marcas que marcam essas regiões, damos agora um salto até Aveiro. Venha connosco descobrir a “Veneza Portuguesa”, e fique a conhecer o melhor que Aveiro tem para oferecer. Será que foi desta que acertou nas marcas extraordinárias que esta região tem?
Quem conhece ou mora em Aveiro,
sabe que esta cidade é, muitas vezes
apelidada de “Veneza Portuguesa”,
já que é uma cidade repleta de
canais, tal como a Veneza original,
a italiana. Por outro lado, enquanto
em Veneza são as gôndolas que
transportam os turistas, em Aveiro
são os barcos Moliceiros ou
Mercantel a fazê-lo. Estas particula-
ridades e a beleza própria de Aveiro,
levam-na a ser considerada uma das
mais idílicas regiões portuguesas.
Comecemos então esta viagem a
falar de descanso e do retemperar
forças! E que melhor forma de o
fazer do que nas Termas de Luso?
Este Complexo Termal, aberto
durante todo o ano, apresenta um
inovador conceito de Medical Spa
suportado em três pilares que se
complementam: Termalismo, Spa
Termal e Medical Center, sendo que
neste último contará com Medicina
Física e de Reabilitação. Na verdade,
as Termas de Luso reúnem no
mesmo espaço diferentes valências
que proporcionam uma experiência
extraordinária. E, no final de um dia
de revitalização de corpo e mente,
a nossa sugestão Cinco Estrelas para
alojamento não poderia deixar de
ser outra que não o Grande Hotel
de Luso! Integrado no mesmo
Complexo Termal e com acesso
direto às infraestruturas termais,
este hotel oferece um complementar
e merecido descanso, colocando à
disposição dos hóspedes um
restaurante, um bar com vista
panorâmica sobre a piscina olímpica,
uma piscina interior aquecida, um
campo de squash, jardins, ginásio
totalmente equipado e um espaço
dedicado aos mais pequenos.
Sem dúvida que o Grande Hotel de
Luso proporciona o máximo
conforto para os seus hóspedes.
E já que falamos em conforto,
seguimos para duas marcas Cinco
Estrelas no que toca ao bem-estar
caseiro: a Pollux e a Bongás.
A Pollux, emblemática loja de
artigos para a casa e decoração,
conjuga qualidade e bom preço.
Por lá, encontramos a maior
variedade de artigos para as várias
divisões da casa, até para o exterior.
Aproveite e faça as suas compras na
Pollux através da loja online que
está disponível para si. Quer maior
comodidade que isto?
E uma vez que o tema é o conforto
do lar, vamos à segunda marca que
merece a preferência dos portugue-
ses nesta região: a Bongás Energias!
Na verdade, o próprio nome já ajuda
a perceber a qualidade da marca, no
entanto, nós ajudamos um pouco
mais: a Bongás Energias é uma
referência no setor da energia a nível
nacional e foi considerada
Cinco Estrelas pelos portugueses,
no gás em garrafa.
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Termas
GRANDE HOTEL de LUSOVencedor na Categoria
Hóteis Termais
É bom saber que podemos contar
com uma marca que distribui gás
ao domicílio através de uma rede de
proximidade e sempre com níveis
de satisfação garantidos por parte
dos clientes.
Para terminar, escolhemos uma
marca que é um dos símbolos desta
região, falamos do Forum Aveiro.
Dizemos muitas vezes que os
últimos são os primeiros e podería-
mos ter começado por aqui, já que
o Forum Aveiro é uma referência em
diversas áreas e tem tudo o que
precisamos! Desde restaurantes a
lojas de decoração, moda, tecnolo-
gia, desporto ou até saúde, encon-
tra tudo por lá. O Forum Aveiro é
mais que um Centro Comercial,
é um espaço a céu aberto.
Para a semana, teremos a Beira interior em destaque neste espaço. Assim, vamos dar a conhecer as marcas que marcam as regiões da Guarda e de Castelo Branco.Contamos consigo para nos acompanhar na próxima paragem desta viagem Cinco Estrelas. Até lá.
POLLUXVencedor na Categoria
Lojas de Artigos para o Lar
FORUM AVEIROVencedor na Categoria
Centros Comerciais
BONGÁS ENERGIASVencedor na Categoria
Gás em Garrafa
6 • Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019
ESPAÇO PÚBLICO
As cartas destinadas a esta secção
devem indicar o nome e a morada
do autor, bem como um número
telefónico de contacto. O PÚBLICO
reserva-se o direito de seleccionar e
eventualmente reduzir os textos não
solicitados e não prestará
informação postal sobre eles.
Email: [email protected]
Telefone: 210 111 000
CARTAS AO DIRECTOR
Porque falta pessoal na MAC? Lembram-se de terem querido
fechar a Maternidade Alfredo da
Costa (MAC) no Governo anterior,
dispersando o pessoal,
desfazendo equipas? Para o evitar
z parte de um grupo de pessoas
que pôs uma acção em tribunal
para evitar o encerramento da
melhor maternidade do país.
Pretendiam dispersar o pessoal
por privados, Estefânia, Santa
Maria, Loures, etc. Até chegou
um cirurgião a dizer que não
percebia como a MAC fazia
cirurgias sem ter ressonância
magnética, pois o seu hospital
também não tinha...
Felizmente, o tribunal deu-nos
razão, mas já muito pessoal tinha
saído e as excelentes equipas
desfeitas. Agora vêm protestar
pelos erros que favoreceram? Claro
que teremos de recriar o desfeito,
mas sejamos sérios, quem atacou
nessa altura o SNS não foi este
Governo...
Francisco Crespo, médico
Corrupção, ditadura e democracia
Li no último domingo, como
sempre faço, a crónica de
António Barreto, que bem
discorre sobre o fenómeno da
corrupção e da sua incidência
tanto em democracia como em
ditadura. Da conclusão nal de
que, mal por mal, antes um
regime democrático do que uma
ditadura também não deixo de
concordar. Acima de tudo,
porque numa ditadura os meios
que o povo tem para com ela — a
corrupção — acabar, limitar ou
controlar são escassos ou nulos e
numa democracia eles existem,
assim saibam ser usados — mas
isso é outra conversa.
Há, porém, um aspecto que
António Barreto não refere e que
muito contribui para diluir aos
olhos de muita gente essa vantagem
da democracia. É que enquanto a
qualidade da corrupção em
qualquer dos regimes é
praticamente igual, a quantidade
não o é. Numa ditadura, o número
de corruptos “aceites” não passa
daqueles — comparativamente
poucos e imutáveis no tempo — que
apoiam e suportam o regime,
enquanto numa democracia, por
cada legislatura — e tanto mais
quanto mais vezes muda o partido
no poder —, há uma nova e, por
vezes, sedenta vaga de potenciais
corruptos (…). Compete então à
população ser “sábia” na hora do
voto e escolher sempre aqueles que
mais garantias e con ança de
seriedade derem, escolha que não
é fácil porque de demagogia está o
discurso político prenhe.
Jorge Mónica, Parede
OK? SOS
O já falecido escritor Vasco Graça
Moura, em Novembro de 2009,
escreveu o artigo SOS. Isabel,
apelando à ministra da Educação
de então para se debruçar sobre o
português escrito e falado e,
especialmente, sobre os
estrangeirismos utilizados. Tudo
se encontra na mesma ou pior,
mesmo levando em consideração
determinados termos técnicos que
não têm tradução. O vocábulo
“OK”, que se tornou uma doença a
precisar de tratamento urgente, é
empregue a propósito ou a
despropósito por novos, velhos ou
de meia-idade. Seja onde for, lá
vem o fatídico “OK”. No
conhecido concurso da RTP 1,
denominado Joker, o apresentador
é um especialista no emprego
doentio da referida palavra, o que
se lastima.
Carlos Leal, Lisboa
Há anos que o cineasta português andava a rondar o Leopardo de Ouro — conseguiu-o com um filme a que a crítica internacional se
rendeu, oscilando entre adjectivos como “magistral” e “sumptuoso”. O prémio máximo do Festival de Locarno que, até aqui, apenas José Álvaro Morais conquistara é, claro, de Pedro Costa, mas também da fulgurante Vitalina Varela — e vem dar, finalmente, ao cinema nacional um pedestal à altura do reconhecimento que tem lá fora. (Págs. 24/25) I.N.
Já tinha deixado boas indicações, mesmo nos jogos que não correram de feição ao FC Porto, e ontem mostrou que poderá ser um
activo importante para Sérgio Conceição ao longo da época. Forte no jogo aéreo e de finalização fácil dentro da área, Zé Luís apontou o primeiro hat-trick desta edição do campeonato e juntou-se a Pizzi no topo da lista de melhores marcadores. Foi a face mais visível de uma exibição colectiva avassaladora, a responder aos desaires recentes (Pág. 29). N.S.Pedro Costa Zé Luís
O exemplo de Alexandre Soares dos Santos
Alexandre Soares dos Santos
morreu num tempo em que os
exemplos da sua carreira e da
sua condição de homem livre
fazem mais falta do que
nunca. Porque raramente como nos
últimos anos se viu tanta amplitude
e tanta veemência no discurso
contra a iniciativa privada, a criação
de riqueza, o lucro ou liberdade
empresarial. A devastação da troika,
a obsessão com as rendas fáceis, a
corrupção e a destruição do pouco
valor acumulado pelo capitalismo
português podem explicar a
mudança da forma como o país vê
os seus empresários. É por isso
importante dar um passo atrás e
lembrar que, para lá dos danos
causados pelos outrora donos disto
tudo, houve milhares de
empresários que ajudaram a salvar o
país da crise nanceira. Como
Alexandre Soares dos Santos.
Visionário, corajoso e arrojado, o
homem que transformou a Jerónimo
Martins numa multinacional faz
parte daquela estirpe de homens de
negócios rara em Portugal que
privilegia as regras dos mercados em
detrimento dos favores políticos. A
sua intervenção pública jamais se
pautou por qualquer tipo de
seguidismo ou reverência para com
os poderes. Essa irreverência fez
dele um alvo prioritário do discurso
de uma certa esquerda que continua
a associar o lucro privado a um
crime colectivo — os salários dos
seus gestores ou a decisão de levar a
sede scal da holding para a Holanda
também ajudaram. O velho Portugal
de mão estendida ao poder político
não perdoa o sucesso nem estimula
a liberdade dos que pensam contra a
corrente — mesmo os que pelo
mecenato criam instituições com a
valia social da Fundação Francisco
Manuel dos Santos.
Gente da estirpe de Alexandre
Soares dos Santos faz cada vez mais
falta porque o país precisa de criar
riqueza capaz de alimentar o Estado
social e de gerar empregos
quali cados. Esse é o grande
desígnio nacional que foi
subalternizado na legislatura que
acaba. Não porque não faça parte
programa do PS, mas porque o PS
está no que diz respeito ao mundo
dos negócios atado pela ortodoxia
dos seus parceiros da esquerda. O
discurso contra as grandes empresas
e os grandes empresários que o
Bloco e o PCP alimentam não se
instituiu no poder, mas condicionou
a acção do Governo. Continuamos
por isso a discutir muito a
distribuição de riqueza e muito
pouco a melhor forma de a criar.
Neste contexto, Alexandre Soares
dos Santos teve uma história
exemplar. Homenageá-lo é uma
forma de recusar a cultura de
dependência e o miserabilismo que
trava a iniciativa privada e impede o
país de dar o salto em frente de que
tanto precisa.
Manuel CarvalhoEditorial
Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019 • 7
SEM COMENTÁRIOS INDONÉSIA
BAG
US
INDA
HO
NO
/EPA
Agradecer, sempre
Não estou à beira da morte mas
imaginar que estou torna-me
uma pessoa melhor. Pensar que
as pessoas de quem eu gosto
estão à beira da morte torna-me
melhor ainda.
Experimente. Vai ver. Pense
que as pessoas de quem gosta só
têm mais um dia de vida. Quais
são as coisas que gostaria de lhes
dizer enquanto eles ainda têm ouvidos para
ouvir e um coração para entender?
O mais importante é pensar — durante
umas horas que seja — para descobrir o que
é que aquela pessoa tem que mais ninguém
tem e que tornou a nossa vida mais segura,
mais risonha, mais sossegada, mais
interessante, mais valiosa.
O elogio que importa é aquele que não se
pode aplicar a mais nenhuma pessoa.
Aquele que é generalizável (“foste um
amigo, tiveste graça, aturaste-me e
zeste-me rir”) é o que menos interessa
ouvir. Pode ser verdade mas é um ready
made e nós precisamos é de ouvir um elogio
que só nos diga respeito, que reconheça a
nossa particularidade, o nosso contributo, a
maneira como escolhemos passar por esta
vida.
Desatei então, neste mês de Agosto, a
escrever elogios às pessoas que melhoraram
mesmo a minha vida. Aprendi com a Amália
Rodrigues. Três anos antes de ela morrer
enchi três páginas de jornal a elogiá-la. Ela
cou desiludida (não havia uma única
novidade), mas, apesar de tudo, preferiu
assim do que estando já morta.
Falei sobre isto com a Maria João e, como
se não bastassem as coisas que eu já tenho
para lhe agradecer, ela disse: “Deve ser por
isso que a coisa mais importante que os
nossos pais nos ensinam é a dizer
‘obrigado’.”
Miguel Esteves CardosoAinda ontem
A opinião publicada no jornal respeita a norma ortográfica escolhida pelos autores
ESCRITO NA PEDRA
Eu nunca me disporia a morrer com os jornais em greve Bette Davis (1908-1989), actriz norte-americana
EM PUBLICO.PT
Dez frases fortes de Soares dos Santos
O antigo patrão da Jerónimo Martins, que morreu na sexta-feira, era conhecido pelas suas opiniões fortes. Recordamos algumas. publico.pt/economia
Vamos ouvir um álbum perdido de John Coltrane
Blue World vê a luz em Setembro. O disco inclui temas gravados em 1964 para uma banda sonora, que só usou dez minutos de gravações. publico.pt/culturaipsilon
Queria atravessar costa sul da Terceira a nado
Ainda nadou uma hora, mas as dores do contacto com uma caravela-portuguesa obrigaram o alemão Christoph Kneppeck a desistir. publico.pt/sociedade
“Sem nunca perdermos a segurança jurídica, temos a obrigação de sermos mais pragmáticos e simples”, diz a secretária
de Estado da Justiça. Os resultados mostram que Anabela Pedroso tem razão e que vale a pena o Estado fazer esse esforço. Bastou ao Ministério da Justiça simplificar o conteúdo e o aspecto gráfico de notificações relativas a injunções para que o pagamento voluntário das importâncias em causa aumentasse 50%. (Pág. 14) A.V.
Foi o dínamo que fez funcionar o ataque do Benfica, quer em organização ofensiva quer em transição. Aparentemente indiferente ao
péssimo estado do relvado, Rafa fez das acelerações em condução um bicho de sete cabeças para o Belenenses SAD e complementou essas acções de desequilíbrio com um golo e uma assistência. É um dos casos mais óbvios de subida de rendimento desde que Bruno Lage tomou as rédeas da equipa, e atravessa um momento tremendo (Pág. 28). N.S. Anabela PedrosoRafa
8 • Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019
este paradigma emergem as noções de uidez
e hibridez, a dinâmica dos uxos e circuitos,
concebendo-se a possibilidade de uma
segunda “natureza”, induzida pela
tecnologia. Enquanto a ideia do ciborgue
nega a homogeneidade do humano, a loso a
do “pós-modernismo”, nomeadamente com
a metáfora do rizoma (Deleuze & Guattari)
pretende substituir saberes e racionalidades
substantivas por “linhas de fuga”,
“narrativas”, interconexões entre superfícies
de conhecimento. Dito de outro modo, é a
intensidade das correntes discursivas, da
energia e do movimento, que reverte os
indivíduos em meros pontos de passagem,
interligados por redes em aceleração,
expressão de uma “sociedade líquida”, em
permanente desconstrução, inclusive a da
própria identidade dos sujeitos e
coletividades que a compõem.
Estas teses são questionáveis, mas a
cibernética e a linguagem digital ajudam-nos a
interpelar desa os de um futuro que já está
entre nós, pois a era da robótica e da
inteligência arti cial vem colocar novos
desa os. Com a evolução da biotecnologia, da
manipulação genética, os novos fármacos,
próteses, transplantes, etc., surge toda uma
variedade de inovações que acrescentam
arti cialidade ao natural e mostram como a
“biologia”, na sua conceção tradicional, cede
cada vez mais perante o progresso da
tecnologia. As novas técnicas de clonagem, os
avanços da robótica, do digital e da
“inteligência arti cial”, etc., obrigam-nos a
questionar: “onde acaba o humano e começa
a máquina?”; ou antes: “onde acaba a
máquina e começa o humano?”.
Não só o natural e
o arti cial se tornam
indistintos como há
cada vez mais
exemplos em que o
último suplanta o
primeiro — os
transplantes, a
inseminação arti cial
ou a mudança de
sexo são exemplos
disso. As teorias
feministas foram das
primeiras a encarar o
assunto. Como
assinalou uma
conhecida socióloga
dessa corrente, “as
dicotomias entre
mente e corpo,
animal e humano,
organismo e
máquina, público e
privado, natureza e
cultura, homens e
mulheres, primitivo e
civilizado estão,
Professor da Faculdade de Economia e investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Elísio Estanque
Homo digitalis
Os clássicos Homo economicus e
Homo sociologicus estão a sofrer
profundas mutações na era da
digitalização. Chegou o advento
do Homo digitalis. Desde os
primórdios da modernidade que
a inovação tecnológica e as suas
implicações sociais são motivo de
re exão e controvérsia. Perante o
avanço da revolução digital
ressurgem antigos paradoxos e novas
perplexidades. Entre a utopia e a distopia,
além dos prognósticos contrastantes, o futuro
permanece enigmático. Num texto célebre de
início dos anos 1960, os autores
interrogavam-se recorrendo a metáforas
poderosas: “Poderá um peixe adaptar-se a
viver em terra?” À partida, a resposta era
óbvia — “impossível!” —, mas e se esse peixe
pudesse dispor de uma racionalidade,
técnicas so sticadas, laboratórios e um
conhecimento cibernético avançado? Nesse
caso, talvez a metamorfose se tornasse
verosímil. Estávamos em 1960 e o mundo
assistia às primeiras incursões na era espacial.
Cientistas da biofísica e da psiquiatria
dedicavam-se ao estudo da cibernética e
teorizavam sobre o advento do ciborgue no
campo da astronomia. A noção pretende
expressar a conjugação homem-máquina, em
que sistemas homeostáticos integrados
seriam capazes de resolver problemas
automaticamente, sem recurso à consciência,
“deixando o homem livre para explorar, criar,
pensar e sentir” (Cyborgs and Space, Clynes &
Kline, 1960).
Num outro plano, mais próximo de nós,
pensadores “pós-estruturalistas” e
“pós-modernos” (Lacan, Derrida, Foucault,
Deleuze, etc.) diagnosticaram a “morte do
sujeito”, embora, paradoxalmente, numa
época em que se assistia à rápida
multiplicação de “sujeitos” e movimentos
socioculturais (feminismo, paci smo,
ambientalismo, LGBT, etc.), perante a
extinção do “hipersujeito histórico” da
sociedade industrial (o velho proletariado).
Nesta linha de pensamento, é a própria noção
de sujeito racional, lho da modernidade, a
sua capacidade re exiva e o poder da sua
consciência como motor da história, que
estão em causa. Concorde-se ou não, com
todas, ideologicamente em questão” (Donna
Haraway, Simians, Cyborgs and Women, 1991).
Nesta perspetiva, a metáfora do ciborgue
ajudou a desconstruir velhas ideologias e
crenças enraizadas, tais como o patriarcado e
outras formas de discriminação. Ao
questionar estereótipos e dogmas
autojusti cados, contribuiu para enfrentar
assimetrias de poder social, e
designadamente a ancestral subalternização
da condição feminina, abrindo novas
possibilidades emancipatórias para diversos
segmentos marginalizados ou excluídos.
Mas a revolução digital apoia-se em forças
mais tangíveis. O poder crescente das grandes
cadeias de negócio e redes globais
protagoniza hoje uma luta sem tréguas pela
hegemonia. De um lado, as empresas de
Silicon Valley, como a Google, Apple,
Facebook e Amazon (o chamado grupo
GAFA), usam os meios digitais e o monopólio
das principais redes informáticas para
perseguir as “pegadas” dos incautos
consumidores — por exemplo, desenhando
per s de clientes e formatando as suas
escolhas. De outro, as novas empresas
chinesas do campo digital, como a Baidu,
Alibaba e Tencent (o grupo chamado BAT),
sob coordenação estratégica do Estado
chinês, disputam com os rivais americanos os
mercados emergentes, ao mesmo tempo que
aperfeiçoam sistemas de vigilância capazes de
observar ao detalhe a vida privada de milhões
de cidadãos.
Em todo o mundo, o imenso potencial
tecnológico em marcha arrasta consigo um
leque de consequências sociais e psicológicas
Na aparência, o mundo e o conhecimento estão no bolso de cada um. Na realizade, esta iconografia digital parece anular o cidadão
impossíveis de vislumbrar. A combinação
entre o capitalismo global, o neoliberalismo e
a digitalização parece desenhar diante de nós
um sistema social cada vez mais
mercadorizado, mas em que a autonomia dos
indivíduos se vê cada vez mais con nada. Em
rigor, a “escolha racional” nunca passou de
um mito. Mas agora trata-se simplesmente de
fabricar racionalidades consentâneas com os
produtos e serviços disponíveis no mercado.
Por um lado, promove-se e estimula-se a
iniciativa individual na crescente
dependência das tecnologias digitais; por
outro, anula-se ou constrange-se fortemente
a emergência de novos sujeitos coletivos que
se oponham ao sistema ou que nele
pretendam abrir brechas para novas utopias.
Apoiando-se no marketing multidimensional
das redes digitais, a exploração do potencial
cliente dá lugar à sua fabricação em massa.
Com a ajuda decisiva de so sticados softwares
destinados a vigiar, passo a passo, os nossos
gestos diários, de nem-se segmentos de
clientes com padrões de gosto especí cos e
devidamente moldados para receber cada
novo produto que as grandes marcas lançam
no mercado.
E neste processo são os próprios indivíduos
— a aposta nas camadas mais jovens não é
acidental — que se tornam os principais
lubri cadores do sistema. As nossas
faculdades sensoriais e modelos
comportamentais estão a ser alterados sem
que disso nos apercebamos. Alucinados nesta
vertigem coletiva, seduzidos pelo brilho e
afabilidade dos gadgets que transportamos no
bolso, guiados por estímulos e rotinas que nos
evadem do mundo real, perdemos o sentido
da cadeia comunicacional ou da busca do
conhecimento. Diversos estudos têm revelado
que a dependência dos aparelhos, a crescente
viciação no dedilhar, a in nita panóplia de
ícones, aplicativos animados e plataformas,
estão a induzir mutações impressionantes nos
esquemas cognitivos dos jovens e
adolescentes.
Perante esta imensa voragem
comunicacional e informativa, o ser humano
esgota-se na busca incessante da informação,
num esforço exaustivo e sem alvo de nido,
mas incapaz de consolidar conhecimento.
Em suma, o Homo digitalis corresponde à
imersão do indivíduo no mar de uxos e
equipamentos digitais que penetram e
dominam a nossa identidade pessoal. Na
aparência, o mundo e o conhecimento estão
no bolso de cada um. Na realidade, esta
inebriante iconogra a digital parece anular o
cidadão, ao mesmo tempo que promove a
clonagem massi cada de consumidores
alienados.
Em todo o mundo, o imenso potencial tecnológico em marcha arrasta consigo um leque de consequências sociais e psicológicas impossíveis de vislumbrar
ESPAÇO PÚBLICO
Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019 • 9
ESPAÇOPÚBLICO
suplementar” diárias (e não o “valor xo de
280 euros” com que R.V. sonhou).
Este subsídio remunera um regime legal
diferente (e pior!) dos restantes trabalhadores
(DL 237/2007) cujas regras “prevalecem sobre
as disposições correspondentes do Código do
Trabalho”. Mas se o regime dos trabalhadores
móveis é pior do que o regime normal (e por
isso a Fectrans lutou contra ele quando foi
implementado), nele também se estipula, por
exemplo, que “A duração do trabalho
semanal dos trabalhadores móveis, incluindo
trabalho suplementar, não pode exceder
sessenta horas, nem quarenta e oito horas em
média num período de quatro meses”. E
sublinho: incluindo trabalho suplementar!
É que qualquer regime como o descrito por
R.V. (15 horas de trabalho diário ou as 75 horas
de trabalho semanal que deixa subentendido)
é completamente ilegal, não o permite a lei
nem o CCTV! Onde for aplicado é em violação
da lei, sejam as horas pagas ou não.
R.V., se conhecesse, poderia ter espelhado
algumas das justas
críticas que os
motoristas têm feito
à cláusula 61,
nomeadamente o
conteúdo do seu
ponto 3, que
prejudicava o
pagamento do
trabalho nocturno, e
que foram tidas em
conta na revisão do
CCTV em curso e
contempladas no
memorando
assinado.
Mais à frente R.V.
volta a insistir na tese
da isenção de
horário: “A
questão-chave da
isenção de horário
foi demonstrada
Federação do Sindicato de Transportes e Comunicações filiada na CGTP
Direcção Nacional da Fectrans
Raquel Varela: má-fé, mistificação ou pura ignorância?
No texto de 15/8/2019, Raquel Varela
(R.V.) deixou bem à vista o seu ódio
à CGTP-IN, apoiando-se num
conjunto de mentiras e omissões
que só podem ter origem na má-fé,
na vontade de misti car ou numa
profunda ignorância da realidade
e dos limites do seu próprio
conhecimento.
O texto começa com uma
calúnia onde ca patente que R.V. não faz
sequer ideia do que fala: “A Fectrans, dirigida
maioritariamente pela CGTP, está
eleitoralmente comprometida com o apoio
ao Governo actual.” É que a Fectrans é uma
Federação da CGTP-IN, faz parte da CGTP-IN.
São os sindicatos que se organizam na
CGTP-IN, e que se organizam nas suas
Federações e Uniões. Quanto ao
“eleitoralmente comprometida”, é uma
mera calúnia, desmentida pela realidade, e
que qualquer leitor pode conhecer melhor
consultando www.fectrans.pt. Para dar
apenas alguns exemplos, foram lutas da
Fectrans contra o actual Governo: contra a
introdução do agente único na ferrovia,
contra a destruição da EMEF, contra o
alargamento da idade de reforma dos
motoristas e pela entrada de trabalhadores
nas empresas do sector público. Sem
esquecer a luta contra a revisão do Código de
Trabalho cozinhada por
PS-PSD-CDS-UGT-Patrões e sem esconder
que já neste processo de luta, a Fectrans
tomou posição pública contra os serviços
mínimos (rotulando-os de máximos) e contra
a requisição civil (que viola o direito à greve).
A mentira da isenção de horários
Logo depois, R.V. diz que a Fectrans assinou
“em 2018 um acordo em que os motoristas
cam pior do que estavam”, o que é notável
vindo de quem nem leu o anterior nem o
actual CCTV. Depois continua: “Este acordo
prevê isenção de horário por um valor xo
de 280 euros.” O que é mentira. Não há
qualquer regime de isenção de horário, o
que existe é o alargamento do “Regime de
trabalho para os trabalhadores deslocados”
já existente no anterior CCTV (antiga
cláusula 74, actual 61), que era para os
trabalhadores do internacional e é alargado
aos trabalhadores do nacional. Recebem “o
correspondente a duas horas de trabalho
pelos serviços mínimos. Os trabalhadores
limitaram-se a cumprir a lei, trabalhando oito
horas.” Pois, mas a lei não só não coloca o
limite nas oito horas como ainda soma, como
tempo de não trabalho, o “tempo de
disponibilidade”. Não há qualquer isenção de
horário no CCTV nem ele é a causa dos
problemas dos motoristas.
A misti cação com os horários de trabalho
R.V. fala-nos nos perigos para os condutores
de oito horas “contínuas de condução”,
omitindo que são totalmente proibidas pois
a lei estipula um máximo de 4,5 horas
consecutivas. Mas continua: “O tacógrafo
tem um limite de nove horas de condução,
mas podem e trabalham mais outras cinco a
seis horas por dia em cargas e descargas,
tempos de espera, facturação, etc.”
Naturalmente, R.V. não domina a
complexidade legislativa que regula o
trabalho dos motoristas. É que há o tempo
de trabalho, o tempo de condução, o tempo
de descanso e o tempo de disponibilidade.
Cada um deles coisa diferente e com limites
determinados. São os patrões que
confundem propositadamente este conjunto
de “tempos” para explorar os motoristas.
Mas essa actuação é ilegal. O tempo de
trabalho não é o tempo de condução, se o
motorista conduzir nove horas e depois car
duas horas a tratar de papéis, isso soma-se
ao tempo de trabalho que é remunerado e
tem limites. Mesmo o tempo de
disponibilidade, conceito inventado na
União Europeia, não pode ser usado para
cobrir qualquer coisa, apesar dessas horas
serem consideradas como “não trabalho”. E
as cargas e descargas não são tarefa dos
motoristas, com excepção daqueles casos
(tipi cados no CCTV) em que esse trabalho
está nas suas funções, é remunerado e
contado como tempo de trabalho (por
exemplo, a descarga de combustível).
Raquel Varela fala-nos dos perigos de oito horas ‘contínuas de condução’, omitindo que são proibidas. A lei estipula um máximo de 4,5 horas consecutivas
Não vale a pena entregar carta branca ao
patronato: as leis são más, mas não permitem
situações como a descrita por R.V. — cargas
diárias de nove horas de condução mais seis
horas de trabalho. E o CCTV veio melhorar
esse regime e não agravá-lo!
A misti cação com os salários e os descontos
R.V. a rma que os descontos nos salários dos
motoristas continuam a ser feitos apenas
sobre o salário-base. Mas isso é mentira
desde a entrada em vigor do CCTV de 2018,
pois este alargou a base da remuneração
sujeita a descontos. Os motoristas passaram
a descontar sobre o vencimento-base mais o
complemento salarial mais a cláusula 61.ª
mais o trabalho nocturno mais as
diuturnidades, recebendo ainda um
complemento de doença no caso de
internamento ou convalescença hospitalar
que garante a remuneração integral por um
período de 30 dias.
Diz R.V. que antes poderiam receber por
fora até 800€ em horas extraordinárias.
Talvez, mas por horas extraordinárias feitas
acima dos máximos legais e pagas
ilegalmente. Ora o que o CCTV veio fazer é
impedir esses abusos. Porque, repetimos,
ninguém tem de fazer mais trabalho
suplementar que o que a lei e o CCTV
permitem — conjugação das cláusulas 61 com
a 21 e a 26.
R.V. dá o exemplo dos “estivadores que ao
m de 39 dias de greve total conseguiram um
salário-base de 978,47€ mais subsídio de
turno de 175,32€, isto é, 1153,79€. Tudo na
folha de recibo com todos os descontos legais
inerentes”. É verdade, e a Fectrans
acompanhou solidária a greve e as
negociações. Mas o regime do actual CCTV já
aponta para, no caso de um motorista do
nacional com direito a três diuturnidades, que
o salário seja de 630€ mais 12,60€ mais
325,46€ mais 63€ mais 48€, ou seja, 1079,06€.
E que no caso dos trabalhadores de matérias
perigosas ainda é acrescido de um subsídio de
risco de 165€, totalizando 1244,06€. E,
sempre, “tudo na folha de recibos com os
descontos legais inerentes!”. Valores que
ainda serão aumentados em 2020 (173,4€ no
exemplo inicial), conforme o memorando
assinado ontem!
E isto aplica-se a todos os trabalhadores
(excepto quem deduziu oposição à portaria
de extensão). Onde tal não acontece é por
estarmos perante a actuação ilegal do
patronato. Pelo que a Fectrans não se tem
cansado de exigir uma mais célere resposta da
ACT, que está paralisada pelo Governo (por
falta de meios e de vontade).
NUNO FERREIRA SANTOS
A federação afecta à CGTP responde ao texto Os camionistas a defender a nossa democracia
10 • Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019
POLÍTICA
Rio diz que emigrantes são “peça da solução” que propõe ao país
Rui Rio quer que as comunidades
portuguesas no estrangeiro sejam
um eixo fundamental da política
externa portuguesa e que os emi-
grantes, que vê como os “embaixa-
dores informais” do país, sejam uma
das solução para uma “economia
mais robusta” em Portugal. Em
Viseu, onde discursou no encerra-
mento de um encontro com a diás-
pora promovido pelo PSD, o presi-
dente do partido falou de um “activo
fundamental” e de um “património
brutal” que o país tem para o seu
desenvolvimento.
“Aquilo que é o primeiro objectivo
do PSD ganhando as eleições é aqui-
lo que é a aspiração de todos. Ou
seja, ter uma economia mais forte e
robusta, mais riqueza. Temos de ser
capazes de oferecer melhores
empregos e melhores salários. Se o
salário é mais forte, é porque a eco-
nomia é mais forte e, se a economia
é mais forte, o Estado é mais forte e,
se o Estado é mais forte, pode pres-
tar melhores serviços aos cidadãos
— que é aquilo que não tem sido feito
por este Governo”, disse.
Para Rui Rio, as comunidades por-
tuguesas “são e podem ser uma peça
importante da solução” que o PSD
apresenta a 6 de Outubro ao país.
O líder social-democrata lembrou
as três ligações estratégicas (Europa,
Atlântico e Lusofonia) que Portugal
tem de aproveitar, considerando tra-
tar-se de eixos fundamentais da polí-
tica externa portuguesa. “Nas comu-
nidades portuguesas há muita gente
com uma situação económica boa e
com capacidade de investimento.
Por outro lado, os portugueses que
estão lá fora são pessoas que abrem
com facilidade mercados aos produ-
tos portugueses”, exempli cou.
Aos “embaixadores informais”,
Rui Rio disse-lhes que não são a “úni-
ca solução” nem para as exportações
nem para o investimento, mas
podem ser “uma peça decisiva”.
E se às comunidades portuguesas
é preciso “acarinhá-las e dar-lhes
oportunidades”, aos portugueses o
presidente do PSD disse que é preci-
Líder social-democrata reuniu-se em Viseu com representantes das comunidades portuguesas. Criticou Governo por carregar nos impostos ao mesmo tempo que diz que a economia está “esplêndida”
so dar-lhes “melhores empregos e
melhores salários”.
“Uma das coisas que pretendemos
fazer é inverter o que tem vindo a
acontecer (...), o aumento dos impos-
tos, da carga scal. E se há momentos
na história da nossa economia em que
se justi ca que os impostos tenham
de subir por causa da degradação das
contas públicas, há momentos em que
assim não se justi ca. Não pode o
Governo dizer que a economia está
esplêndida e ao mesmo tempo
aumentar a carga scal de forma bru-
tal como aumentou”, frisou.
Nas promessas do PSD está o alívio
NUNO ANDRÉ FERREIRA/LUSA
Rio foi acompanhado em Viseu pelo actual presidente da câmara, Almeida Henriques, e pelo ex-autarca e ex-eurodeputado Fernando Ruas
no IRS e no IRC e uma distribuição
justa das margens orçamentais, mas
sem ilusões. “Nós cuidámos de fazer
um quadro macroeconómico bem
feito, equilibrado e justo. Mas não
vamos entrar em demagogia, porque
isso seria pegar na folga toda e, por
exemplo, baixar tudo no IRS, porque
é aquilo que as pessoas sentem de
imediato e o Governo ca popular.
Não, vamos dar uma baixa no IRS e
também no IRC, porque aquilo que
nós queremos é preparar o futuro e
são as empresas que devem fazer as
tais exportações e podem fazer os
tais investimentos que nos vão poder
dar os tais empregos melhores e os
tais salários melhores”, concluiu.
Depois do encontro com a diáspo-
ra, com cerca de 20 representantes
das várias comunidades espalhadas
pelo mundo, Rui Rio visitou a Feira
de S. Mateus, onde almoçou.
PSDSandra Rodrigues
Zita Seabra está com a Iniciativa Liberal
Zita Seabra desfiliou-se do PSD e é a mandatária nacional da Iniciativa Liberal (IL) para as legislativas de 6
de Outubro. “Durante o Estado Novo, esteve ao lado dos que lutaram pela liberdade. Depois, esteve ao lado dos que lutavam por um Portugal europeu. Agora, está do lado dos que lutam pelo liberalismo. Representa a evolução de que o país precisa”, sintetiza Carlos Guimarães Pinto, presidente da IL, sobre a escolha da ex-militante do PCP e do PSD para mandatária nacional. Em declarações ao Expresso, Zita Seabra dá nota do seu
afastamento do PSD, há meses e sem ruído, e explica porque aceitou o convite da IL. “A direita está numa situação moribunda, completamente desfeita. (...) A pergunta que se impõe é quais são os caminhos para refazer a direita em Portugal. Acredito que passa por uma direita que não tenha medo de ser de direita e liberal”, argumenta. Quanto à situação do partido de Rio, comenta que, “nas democracias liberais, os partidos nascem e morrem”. “Estou certa de que também o PSD vai estar nesse processo de maturação e encontrar o caminho.” N.R.
Colecção de 6 volumes. PVP Unitário: 7,95 €. Preço total em Portugal Continental: 47,70 €. Periodicidade semanal: sai às Quartas, entre 17 de Julho e 21 de Agosto.
Colecção Representar os Portugueses Breve História de Grandes Partidos.Vasco Ribeiro e José Santana Pereira
Das preocupações ambientais à defesa dos animais, da fundação do
Partido Ecologista “Os Verdes” nos anos 80 à meteórica ascensão eleitoral,
mais recentemente, do ainda jovem Pessoas-Animais-Natureza. Conheça
os bastidores dos dois partidos do parlamento português que fizeram da
bandeira ecológica o elemento central da sua acção política.
Uma colecção de 6 livros Público, que relata a importância dos 7 principais
partidos da actualidade na evolução da sociedade portuguesa. Ilustrada
por um conjunto de fotografias de Alfredo Cunha e selecção de propaganda
de José Pacheco Pereira/Arquivo Ephemera.
+7,95 €QUARTA, 21 AGO
COM O PÚBLICO
12 • Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019
Vagas no pré-escolar: há mais queixas, mas são localizadas
DANIEL ROCHA
No ano lectivo de 2019/2020 só estão garantidas vagas para crianças de 4 e 5 anos; as de 3 anos ainda surgem na segunda prioridade
No Portal da Queixa, uma rede social
de consumidores, continua a subir o
número de reclamações de pais por
não terem conseguido ainda vagas
para os lhos, sobretudo na educa-
ção pré-escolar. Desde o m de Julho
até quarta-feira, 14 de Agosto, pas-
saram de cerca de uma dezena para
perto de 30.
As listas de colocação dos alunos
nas escolas e jardins-de-infância
foram a xadas a 19 de Julho, mas o
Ministério da Educação informa que
não pode ainda fazer um balanço a
este respeito porque “os sistemas de
bases de dados da rede estão em fase
de estabilização”. Mas há municípios
que já têm contas feitas, conforme
comprovou o PÚBLICO numa peque-
na ronda de contactos.
Em Sintra, que é o segundo conce-
lho mais populoso do país, a câmara
municipal indica que a oferta existen-
te garantiu “a integração da totalidade
das crianças em idade de pré-escolar
no próximo ano lectivo”. A maioria
conseguiu lugar na rede pública, que
tem agora uma “capacidade de aco-
lhimento” de cerca de 5000 crianças,
adianta a assessoria de imprensa. A
mesma fonte especi ca que para o
próximo ano lectivo estão inscritas
2650 crianças que já estavam no pré-
escolar, a que se juntarão mais 2350
novos alunos: 1125 de cinco anos, 975
de quatro anos e 250 de três anos.
O Estado está obrigado a assegurar
a frequência da educação pré-escolar
“em regime de gratuitidade” às crian-
ças de quatro e cinco anos. Mas esta
obrigação ainda não abarca as de três
anos por não estarem ainda abrangi-
das pela chamada “universalização
da educação pré-escolar”, apesar de
o Governo ter prometido que tal
aconteceria até ao nal da legislatura.
A verdade é que quando publicou o
despacho das matrículas referentes
ao ano lectivo de 2019/2020 as crian-
ças de três anos continuavam na
segunda prioridade, atrás das crian-
ças de quatro e cinco anos.
Por essa razão, muitas das queixas
apresentadas pelos pais são relativas
à falta de vagas para crianças daquela
área da escola, enquanto outras que
vivem por perto caram de fora.
A autarquia do Porto escusou-se a
apresentar dados quanto à ocupação
de vagas nos jardins-de-infância. “A
entidade competente para responder
é a Direcção-Geral dos Estabeleci-
mentos Escolares, não cabendo à
Câmara Municipal do Porto o proces-
so de gestão de matrículas do pré-es-
colar”, indicou. A Câmara de Almada
também não respondeu.
Já a Câmara Municipal de Setúbal
pediu informação aos seis agrupa-
mentos de escolas da cidade. Dois já
não tinham, na semana passada,
crianças em lista de espera e um não
tinha ainda apurado todos os dados.
No conjunto dos outros três agrupa-
mentos existiam 210 crianças entre
os três e os cinco anos ainda sem vaga.
“Esta informação ainda não é a nal,
porque há crianças que podem não
ter sido colocadas num agrupamento
e tê-lo sido noutro”, ressalva o verea-
dor com o pelouro da Educação,
Ricardo Oliveira.
Cascais tem 1550 vagas na rede
pública do pré-escolar. Foram todas
preenchidas, mas 138 crianças de
quatro e cinco anos acabaram por
não ficar colocados porque os pais só
escolheram uma opção, informa a
autarquia. Que garante, contudo, que
nenhuma criança do concelho “ficará
sem acesso ao pré-escolar”. As que
ficaram por colocar terão lugar na
rede solidária (com frequência com-
participada pelo Estado) ou no priva-
do, adianta.
Sintra garante que houve lugar para todas as crianças no pré-escolar, Lisboa esgotou as novas vagas que abriu e em Setúbal ainda há 210 crianças em lista de espera. Para já, ministério não vai divulgar balanços
EducaçãoClara Viana
que eram de facto necessárias”,
adianta o assessor do vereador
Manuel Grilo, que tem o pelouro da
Educação. A mesma fonte admite,
porém, que possa ainda existir algu-
ma carência de vagas, sobretudo no
centro da cidade.
A autarquia reconhece também
que, entre os pais que só tenham
escolhido uma escola (o ministério
aconselha o registo de cinco opções),
possa haver quem não tenha ainda
um lugar para os lhos. Mas poderá
haver outras razões. O movimento
Chega de Moradas Falsas, constituído
há dois anos por pais de alunos do
agrupamento Filipa de Lencastre, em
Lisboa, entregou na semana passada
uma queixa à Inspecção-Geral da
Educação dando conta de que foram
aceites crianças que não residem na [email protected]
idade, embora também existam
várias reclamações por não existirem
lugares para alunos mais velhos.
“Agradável surpresa” A Câmara Municipal de Lisboa refere
que ainda não sabe qual o número de
crianças de três anos que não tiveram
lugar. Estão à espera que a Direcção-
Geral dos Estabelecimentos Escolares
(Dgeste) lhes envie estes dados. Mas,
pelo que já lhes foi comunicado, indi-
cam que foram preenchidas 500 das
550 novas vagas abertas para o próxi-
mo ano lectivo.
Como 50 destes novos lugares não
foram aceites pelo Ministério da Edu-
cação, tal signi ca que a totalidade
das novas vagas realmente existentes
“foram absorvidas”, o que constituiu
uma “agradável surpresa e mostra
SOCIEDADE
Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019 • 13
A associação ambientalista Zero com-
parou a qualidade das águas nesta
época balnear com as do ano passado
e congratulou-se. Até agora, houve
menos uma zona balnear com banhos
desaconselhados ou proibidos.
Analisando os dados disponibili-
zados pelo Sistema Nacional de
Informação de Recursos Hídricos, a
Zero constatou que há 608 zonas
balneares no território nacional.
Mesmo que durante um curto perío-
do de tempo, já foi desaconselhado
ou mesmo proibido tomar banho em
37, menos uma do que em igual
período do ano passado.
Sete foram interditadas por um
delegado regional de Saúde por
haver um risco de contaminação,
salienta Francisco Ferreira, profes-
sor na área do ambiente na Faculda-
de de Ciências e Tecnologia da Uni-
versidade Nova de Lisboa e presiden-
te daquela organização fundada em
2015. E 30 foram, em algum período,
desaconselhadas por causa de análi-
ses que ultrapassaram os limites
xados dois parâmetros microbioló-
gicos que são avaliados (Escherichia
coli e Enterococus intestinais) ou por
terem historiais de, por exemplo,
microalgas vermelhas, como acon-
teceu em Junho com diversas praias
no Algarve, em particular as situadas
entre Faro e Loulé.
Tendo como ponto de referência o
dia 15 de Agosto e comparando esta
época balnear com a do ano passado,
Francisco Ferreira nota que o núme-
ro de praias com problemas (de 6,3%
para 6,1) pouco diminuiu. Fazendo
uma análise mais na dos dados, veri-
ca que o número de zonas balneares
por alguma razão desaconselhadas
desceu (de 38 para 30). Ao mesmo
tempo, houve um aumento (de três
para sete) das interditadas por algum
delegado regional de Saúde. O
ambientalista destaca que as conta-
minações afectaram oito zonas bal-
neares do interior.
Zonas balneares: 37 já registaram problemas
Qualidade da águaAna Cristina Pereira
Até agora, houve menos uma zona balnear com banhos desaconselhados ou proibidos do que no ano passado
Um grande susto para os tripulantes
do atuneiro Sete Mares, seus familia-
res e amigos. Equipas da Marinha
Portuguesa e da Força Aérea encon-
traram ontem uma balsa com os sete
homens a bordo, a dez milhas a sul
da ilha da Madeira.
Os sete pescadores do atuneiro
madeirense Sete Mares, que esteve
incontactável desde quarta-feira de
manhã, desembarcaram ao nal do
dia no Funchal. Contaram que uma
forte ondulação acabou por fazer a
embarcação naufragar.
O mestre Gregório, o responsável
da embarcação, contou que faziam
a pesca do atum a 12 milhas da Pon-
ta do Pargo, na zona oeste da ilha da
Madeira, quando foram surpreen-
didos por “uma onda com quatro a
cinco metros” e o barco “foi ao fun-
do”. O pescador, que anda “há 43
anos no mar”, salientou que “a
ondulação estava muito forte” e que
tudo aconteceu cerca das 9h15 de
quarta-feira.
Mencionou que “não deu tempo
para nada”, nem para utilizar os
meios de socorro, apenas para “lan-
çar a balsa”, que até caiu “ao contrá-
rio” no mar, tendo um dos pescado-
res conseguido voltá-la. “Três caram
Pescadores de barco desaparecido há três dias estão bem
dentro e os outros lançaram-se ao
mar”, referiu, adiantando que estive-
ram na balsa durante “quatro dias e
três noites”.
Ao nal da tarde de ontem, a Mari-
nha avançava a informação de que os
sete pescadores tinham sido resgata-
dos e que se encontram bem.
O mestre da embarcação de pesca
criticou o facto de a balsa não estar
devidamente apetrechada com água,
mantimentos e elementos de locali-
zação su cientes.
O Sete Mares era um atuneiro com
cerca de 13 metros e naufragou ao
largo do Funchal.
Dos sete pescadores, seis são da
freguesia do Caniçal, no concelho de
Machico, no extremo leste da Madei-
ra. Destes, três são irmãos e um é da
freguesia vizinha de Machico.
Os pescadores foram resgatados e
conduzidos até ao Funchal pela lan-
cha rápida da Marinha Portuguesa
Hidra e a aguardá-los, no porto do
Funchal, estavam familiares e ele-
mentos da Equipa Médica de Inter-
venção Rápida (EMIR) que zeram
uma reavaliação do seu estado de
saúde.
Também estavam o comandante
da Zona Marítima da Madeira, o secre-
tário regional da Agricultura e Pescas
e o director das Pescas da Madeira.
A operação de busca e salvamento,
desencadeada na sexta-feira, envol-
veu a lancha Hidra e o navio-patrulha
Tejo. Ontem foi mobilizado o C-295 da
Força Aérea, que encontrou os pes-
cadores. “Não nos largou até chega-
rem os barcos”, declarou mestre
Gregório. PÚBLICO/[email protected]
Salvamento
Atuneiro Sete Mares foi virado por uma onda na quarta-feira de manhã. Balsa foi a salvação dos sete homens que iam a bordo
As buscas envolveram meios da Força Aérea e da Marinha
ADRIANO MIRANDA/ARQUIVO
SOCIEDADE
VanessaCrónica da
E então chega o Verão e o seu jornal de sempre estica-se ao sol, dá-lhe outros tempos de leitura e temas variados, no P2 diáriopublico.pt/p2
Não conhece a Vanessa?
As suas histórias foram publicadas
no PÚBLICO entre 2001 e 2005.
Voltou agora. Interessa-se mais
ou menos por política mas o grande
problema da sua vida é o amor.
Ou os amores, no plural. , p
De segunda-feira a sábadog
14 • Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019
SOCIEDADE
Simpli car uma carta fez subir em 50% pagamento voluntário de dívidas
PAULO PIMENTA
Novo tipo de notificação, mais claro quanto aos direitos dos cidadãos, também fez subir em 160% os pedidos de apoio judiciário
Pode simpli car o texto de uma carta
ter efeitos signi cativos na actuação
dos seus destinatários? Pode. A prová-
lo está o projecto de simpli cação das
noti cações enviadas aos visados nos
processos que permitem avançar
para a cobrança de dívidas de peque-
no valor, as chamadas “injunções”. A
lei não foi alterada, as regras manti-
veram-se exactamente as mesmas,
mas apenas mudar o texto e a apre-
sentação das noti cações recebidas
pelos alegados devedores fez com
que o pagamento voluntário das dívi-
das subisse 50%.
Quem o diz é o Ministério da Justi-
ça, que garante ter concluído a pri-
meira fase deste projecto “com prata
da casa” e a custo zero. As novas cita-
ções começaram a ser usadas pelos
tribunais em Junho de 2017 e, quase
dois anos depois, em Junho deste
ano, já tinham sido enviadas mais de
400 mil notificações. “As mudanças
realizadas no texto das notificações,
mas também na formatação — com o
tamanho dos caracteres, espaçamen-
to interpalavras e utilização de negri-
to e zonas sublinhadas, com uma
organização mais lógica —, permitiu
um aumento em 50% no pagamento
das dívidas após a noti cação aos des-
tinatários”, explica o Ministério da
Justiça, numa resposta enviada ao
PÚBLICO.
Neste tipo de processos, usados
em massa pelas empresas de teleco-
municações ou de distribuição de
energia, é enviada uma carta para a
morada da pessoa ou da empresa
visada, a informá-la de que deve pro-
ceder ao pagamento da alegada dívi-
da. Num prazo de 15 dias, o visado é
obrigado a pagar ou a apresentar os
motivos que explicam porque consi-
dera não ter essa obrigação. “A lin-
guagem utilizada [na noti cação] era
opaca e muitas vezes os destinatários
nem conseguiam perceber clara-
mente que órgão judicial tinha emi-
tido o aviso, ou como proceder para
liquidar as dívidas, que podem ser
resolvidas de forma simpli cada no
Balcão Nacional das Injunções”,
reconhece o Ministério da Justiça.
secretária de Estado da Justiça adian-
ta que os novos formulários serão
integrados numa nova versão do sis-
tema informático dos tribunais, o
Citius. “Estamos a desenvolver um
upgrade do Citius, que terá um inter-
face adaptado aos vários tipos de
destinatários. Um só para juízes,
outro só para procuradores, etc. Os
novos formulários deixarão de ser em
Word e passarão a estar incorporados
no próprio sistema”, explica Anabela
Pedroso. As novas interfaces deverão
entrar em testes em Setembro e o
upgrade do Citius deve estar a funcio-
nar em pleno no próximo ano, estima
a governante.
Projecto do Ministério da Justiça foi lançado há pouco mais de dois anos no âmbito dos processos que permitem exigir pagamento de dívidas de pequeno valor, as chamadas “injunções”
JustiçaMariana Oliveira
A secretária de Estado da Justiça,
Anabela Pedroso, admite que na área
da justiça a linguagem é tradicional-
mente hermética, cheia de termos
técnicos e siglas que são difíceis de
entender pelos cidadãos. “Sem nunca
perdermos a segurança jurídica,
temos a obrigação de ser mais prag-
máticos e mais simples”, a rma a
governante.
O aumento dos pagamentos volun-
tários não foi o único efeito visível das
novas noti cações, que levaram igual-
mente a um aumento de 160% nos
pedidos de apoio judiciário, tendo
subido em 75% o número de apoios
efectivamente concedidos. “A mudan-
ça permitiu dar aos cidadãos um
melhor conhecimento dos seus direi-
tos, o que fez subir signi cativamente
o recurso ao apoio judiciário”, analisa
Anabela Pedroso.
Os bons resultados do projecto e a
consciência de que há muito a fazer
nesta área zeram o Ministério da
Justiça avançar para uma segunda
fase da iniciativa, que já se encontra
em curso. Em Setembro, deverá nas-
cer uma nova noti cação dirigida às
testemunhas obrigadas a comparecer
em diligências judiciais e um tipo de
citação, transversal a várias área do
direito, como trabalho, família e
menores ou a área cível. A noti cação
terá um tronco e uma estrutura
comum e algumas partes distintas
consoantes as especi cidades de cada
uma das áreas do direito. “O critério
que tem sido seguido é o de identi
car os modelos que apresentam mais
volume de utilização e, por isso, cuja
simpli cação se traduzirá num maior
impacto imediato”, explica o Minis-
tério da Justiça.
Mas o trabalho está longe de termi-
nar. Um levantamento feito pelo
ministério concluiu que as secretarias
têm mais de cinco mil modelos de
noti cações e citações entre as for-
mas de comunicação com os cidadãos
e empresas. “Claro que ninguém con-
segue trabalhar com cinco mil formu-
lários”, reage Anabela Pedroso, que
acredita que, na realidade, estas
comunicações se reduzem-se a 20 ou
30 tipos diferentes, sendo os restan-
tes pequenas variações daqueles. A
Obrigado por escolher o jornalmais lido na internet
Quem lêo Públicosabe maisRanking netAudience do mês de Julho de 2019
PODCASTS cinecartazguiadolazer Culto
16 • Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019
Paula Teles voltou a usar uma bicicle-
ta “muito devagarinho” por estes
dias. Deixara de o fazer em Julho de
2017, depois de um acidente no Porto.
Seguia em passeio com um grupo em
duas rodas, ciclovia da Avenida da
Boavista abaixo, quando um carro,
por sinal bem estacionado, abriu a
porta, criando uma barreira na qual
ela e parte do grupo foi embater. Cul-
pa de uma via mal desenhada, à qual
falta uma distância de segurança
entre a pista e os automóveis para-
dos, esta especialista em mobilidade
foi parar ao Hospital de Santo Antó-
nio. Culpa de uma via mal desenhada,
começou, desde então, a trabalhar no
livro que lançou neste Verão. Cha-
mou-lhe A Cidade das Bicicletas.
Chamou-lhe também, em subtítu-
lo, Gramática para o Desenho de Cida-
des Cicláveis, porque é isso mesmo
que o livro é: um compêndio detalha-
do de regras para planeamento e
projecto, bebidas nas boas práticas
internacionais, para técnicos da área
do planeamento urbano e da mobili-
dade de municípios e “até de empre-
sas concorrentes” poderem ter à
mão, e em português, um guia de
consulta fácil. Ao PÚBLICO, a autora
explicou que se voltou para as ques-
tões da democratização do acesso ao
espaço público quando há 23 anos foi
mãe pela primeira vez, e se confron-
tou com a di culdade de circular com
um carrinho de bebé nas ruas. A cida-
de não estava feita para ela.
Uma questão de linguagem Nessa altura, Paula Teles trabalhava
na Divisão de Trânsito da Câmara de
Matosinhos. E trânsito era trânsito,
ou seja, essencialmente carros, recor-
da, abordando a forma como ainda
somos traídos pela linguagem. Dos
departamentos das universidades aos
nomes dos ministérios, aponta, ainda
se fala muito em transportes, quando
a Europa nos pede que pensemos em
Especialista em mobilidade, Paula Teles escreveu uma gramática para cidades cicláveis. Um contributo para uma mudança na agenda política, assume
A falta de planeamento traduz-se na proliferação de “ciclovias post-it”, coladas de forma desarticuladas no espaço público, repara Paula Teles
mobilidade sustentável. “Eu formei-
me na área dos transportes mas que-
ro ser reconhecida como especialista
em mobilidade”, diz, assinalando que
essa especialidade não existe para a
Ordem dos Engenheiros, a que per-
tence. Uma situação que, revela, está
a ajudar a resolver.
Se a linguagem dos transportes está
muito centrada em veículos, Paula
Teles insiste que hoje é de espaço
público, e do direito do cidadão ao
espaço público, que temos de falar,
em termos urbanos. “No meu dia-a-
dia não me livro de pensar na questão
social, no ambiente, na demogra a e
no envelhecimento, na saúde e na
felicidade, de trabalhar com a antro-
pologia e a sociologia urbana. Há
novas abordagens, multidisciplinares,
que têm de entrar na engenharia dos
transportes”, alerta esta engenheira
civil especializada em planeamento,
cuja tese de mestrado, publicada em
livro em 2005, abordava Os territórios
Sociais da (I)Mobilidade, centrando-se
nas di culdades das mulheres, dos
de cientes, e dos idosos.
Em quase década e meia, muito
mudou, admite. “Nestes últimos
anos falamos muito do direito à cida-
de, e começamos a ter jovens que,
independentemente do seu rendi-
mento, querem andar de bicicleta, a
ter mais homens que levam os lhos
à escola, a ver as pessoas com de
ciência na rua, a ver as mulheres
mais presentes na vida social e polí-
tica”, assinala. “A cidade mudou
socialmente, e vai ter de mudar tam-
bém ao nível da mobilidade”, que
não é um objectivo, mas um proces-
so, insiste. “O objectivo, o que nós
queremos, é a cidade feliz.”
“No exercício diário de planeamen-
to urbano, no nosso pensamento está
a cidade com qualidade de vida, onde
as pessoas possam viver de forma
autónoma, até aos cem anos.” Para
cuidarmos destas pessoas, acrescen-
ta, “temos de cuidar do espaço públi-
co, que não pode ser apenas o resto
que sobra entre prédios”, diz, recor-
dando o desa o do dinamarquês Jan
Gehl, autor de Cidades para Pessoas,
MobilidadeAbel Coentrão (textos), Paulo Pimenta (fotografias)
A Cidade das Bicicletas é um livro que quer ser rua
LOCAL
cidade pública, que é de todos, inde-
pendentemente da sua condição
social. É o único espaço que é demo-
crático”, a rma. Numa altura em que
tanto se fala de smart cities, de cida-
des inteligentes, Paula Teles vinca
numa das suas outras obras mais
conhecidas, A Vida entre Edifícios.
“Queria muito ver em Portugal
mais políticos determinados e com a
consciência claríssima de que a nossa
cidade não é a cidade privativa, é a
Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019 • 17
A dependência do automóvel é um
facto veri cável nas nossas ruas e
estradas, nos inquéritos à mobilidade
mas, também, na própria legislação.
E numa entrevista dada ao PÚBLICO
a propósito de A Cidade das Bicicletas,
a autora, Paula Teles, defende que o
país deve evoluir, “nos próximos
anos, do Código da Estrada para um
Código da Mobilidade”, um conjunto
de regras novo que dê aos vários
modos de circulação no espaço públi-
co o destaque que, na legislação
actual, é dado ao automóvel.
“A estrada, na cidade, tem de se
transformar em rua”, diz Paula
Telles, tocando num ponto que tem
vindo a ser defendido, por exemplo,
por entidades como a Federação
Portuguesa de Cicloturistas e Utiliza-
dores de Bicicletas (FPCUB) ou a
MUBI — Associação para a Mobilida-
de Urbana em Bicicleta: a necessida-
de de redução da velocidade de cir-
culação em espaço urbano, como
forma de diminuir a sinistralidade
rodoviária, e nomeadamente os atro-
pelamentos, que continuam a ser um
problema grave em Portugal, e como
instrumento para a criação de espa-
ços mais frequentáveis pelos utiliza-
dores vulneráveis. Sejam eles crian-
ças, de cientes ou idosos; andem
eles a pé ou de bicicleta.
Mas o caminho até esse código da
mobilidade parece ter muitos bura-
cos. Paula Teles nota que, apesar de
as zonas de coexistência, em que o
carro não tem prioridade, que é dada
aos utilizadores vulneráveis, estarem
previstas no Código da Estrada, o
Regulamento da Sinalização de Trân-
sito não foi actualizado para incor-
porar, e homologar, o respectivo
sinal de informação. Andamos há
anos [desde 2013] à espera disso.
“Queremos ver os miúdos a jogar à
bola na rua, o idoso na rua, vigiando
os miúdos e melhorando a sua pró-
pria saúde, mas não podemos fazer
isso sem esta sinalização, porque o
carro quando entra, entra com velo-
cidade. Podemos usar um sinal de
Zona 30, mas a velocidade de 30km/
hora ainda dá para matar um peão
por atropelamento”, alerta.
A velocidade de 30km/hora ainda dá para matar um peão por atropelamento Paula Teles Autora de A Cidade das Bicicletas
Precisamos de passar de um Código da Estrada para um Código da Mobilidade
lhantes aos demais nas vias de circu-
lação, um ciclista poderá ter proble-
mas por fazer aquilo que o código
lhe permite.
E a legislação urbanística? Estas questões relacionadas com a
legislação que condiciona a expansão
do uso da bicicleta em Portugal foram
abordadas no mês passado numa reu-
nião entre o secretário de Estado dos
Transportes, José Mendes, e o Conse-
lho Consultivo para a Mobilidade
Sustentável da FPCUB, de onde saiu
também um desa o para que o Gover-
no olhe para outra legislação que
contribui para o actual quadro de
predomínio do automóvel em espaço
urbano. Mário Meireles, um especia-
lista nesta área de Braga está a coor-
denar a elaboração de uma proposta
de alteração a uma portaria, prevista
no Regime Jurídico da Edi cação e
Urbanização, que estabelece os parâ-
metros para o dimensionamento das
áreas destinadas a espaços verdes e
de utilização colectiva, infra-estrutu-
ras viárias e equipamentos de utiliza-
ção colectiva.
Nas tabelas desta portaria incluem-
se os números mínimos de lugares
de estacionamento a garantir, por
habitação, em operações de lotea-
mento, nos quais não está xada
qualquer quota para o parqueamen-
to de bicicletas. Apesar de as câma-
ras terem margem de manobra para
alterarem esses parâmetros, o facto
de elas seguirem, na prática, o que
está inscrito na portaria torna impor-
tante a sua alteração, assinala Mário
Meireles, que vem acompanhando o
debate internacional que o tema tem
merecido.
Nos EUA, lembra, há quem esteja
a defender o m do parking minimus,
como forma de desincentivar a com-
pra de mais carros e de direccionar
o espaço público para outros usos.
Mas a lei é para cumprir e nem a
gigante Apple, que chegou a planear
a nova sede livre de lugares de esta-
cionamento, conseguiu dar a volta
às regras do município de Cupertino,
e teve de instalar 11 mil lugares de
estacionamento. Abel Coentrão
infra-estrutura básica, como os pas-
seios, que são a plataforma onde se
processa o segundo modo de mobili-
dade preferencial nas áreas metropo-
litanas, o pedonal”.
“O que eu queria não era apenas
escrever um livro sobre bicicletas,
mas abrir também as consciências, e
um capítulo novo de re exão no nos-
so país, fazendo agenda política, ao
dizer: está tudo mal desenhado, esta-
mos a injectar dinheiro do quadro
comunitário para desenhar vias para
bicicletas, só que para desenharmos
bem não podemos ignorar os peões.”
Paula Teles continua a ver muitas das
nossas cidades a serem pensadas
para o automóvel, e os ciclistas, ou os
utilizadores destas novas formas de
micromobilidade, como as trotinetas,
a ter de andar nos passeios… “Anda-
mos a lutar para eliminar barreiras e
garantir faixas de pelo menos 1,20
metros para circulação de peões, e de
repente temos barreiras móveis?”
Assumindo a vontade de contri-
buir para uma “mudança no país”, é
aos autarcas, diz esta antiga vereado-
ra da Câmara de Pena el, que se
destina o primeiro capítulo de A
Cidade das Bicicletas, em que lhes
pede mais atenção ao espaço públi-
co, aos seus utilizadores mais vulne-
ráveis. Para esta mulher, mãe, e
empresária que fundou a empresa
MPT — Mobilidade e Planeamento do
Território, não há dúvidas de que a
mobilidade ciclável vai ganhar mais
espaço em Portugal, mas o proble-
ma, nota, é que a disponibilidade de
fundos europeus para obras não veio
acompanhada de um envelope de
apoios ao planeamento.
Fruto desta circunstância, há mui-
ta ciclovia a que chama “post-it”, cola-
da em cima do território urbano,
desligada dos trajectos diários da
maioria das pessoas e sem articulação
com o transporte público, ou com as
redes que servem peões e automó-
veis. Não podemos repetir estes erros
no próximo quadro europeu, alerta.
“Temos de planear. O espaço público,
ou o que sobrou, de cem anos a dese-
nharmos cidades para os automóveis,
é mesmo muito reduzido e teremos
de estabelecer prioridades na sua
nova ocupação.” Se não o zermos,
prossegue, a pressão instalada
“rebentará a cidade como se de uma
bomba se tratasse”, no momento de
se implementar ciclovias.
Sinais de zonas de coexistência não foram ainda homologados
Algumas cidades não deixaram de
desenhar essas zonas, mas para as
identi car estão a usar sinais de
trânsito não homologados, ainda
que inspirados no que se faz lá fora.
Mas em caso de acidente esta inde-
nição pode trazer problemas do
ponto de vista legal. As prescrições
resultantes dos sinais têm prevalên-
cia sobre as regras de trânsito, como
se lê no Artigo 7.º do Código da
Estrada, mas, para isso, é preciso
que o sinal em causa exista no regu-
lamento, o que não é o caso. Este
deveria ter sido actualizado em 90
dias, mas já passaram anos e nada,
apesar da pressão de vários partidos
e das associações.
Há outros problemas de articula-
ção entre as regras escritas e a sina-
lização que lhes dá visibilidade. Um
exemplo: apesar de no Código da
Estrada ter sido abolida a regra que
obrigava os utilizadores de bicicleta
a usarem a ciclovia, continua a ver-
se, junto a estas, o sinal circular azul
com uma bicicleta — ou seja, de obri-
gatoriedade — que é o único que
existe no regulamento ainda em
vigor. Ou seja, apesar de a lei lhe dar
liberdade de escolha, e de o tratar,
no geral, como condutor de um veí-
culo com direitos e deveres seme-
que “não nos podemos esquecer de
que essa inteligência deve passar, pri-
meiro, por assegurar autonomia,
segurança e felicidade às pessoas”. A
tecnologia é muito importante, admi-
te, mas “não podemos descurar a
18 • Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019
ECONOMIA
“Nós somos merceeiros, sabe?”,
classi cou-se uma vez Alexandre
Soares dos Santos, a si e ao “seu”
grupo Jerónimo Martins, numa
apresentação de resultados aos
jornalistas, no alto da torre do
Campo Grande onde ca a sede da
companhia. A a rmação,
pronunciada por um dos homens
mais ricos de Portugal — alternou
anos seguidos com Américo
Amorim e Belmiro de Azevedo o
pódio da Forbes —, era sincera. E
também irónica: Alexandre Soares
dos Santos, o homem que criou o
maior grupo de distribuição
portuguesa, sabia bem em que
país vivia de forma permanente
desde 1968.
Foi aos 34 anos que Alexandre
Soares dos Santos tomou conta do
negócio familiar, depois de 12 anos
no exterior a trabalhar na
multinacional Unilever (Fima/
Lever), parceira da sociedade
Jerónimo Martins ( JM) em Portugal.
Antes de Alexandre Soares dos
Santos liderar a companhia, não
havia Pingo Doce (lançado em
1980), a grossista Recheio não
pertencia à holding (foi adicionada
em 1988), o grupo não tinha
entrado em bolsa (1989)
e não havia um grupo português a
liderar o retalho alimentar na
Polónia e com presença na
Colômbia. No último ano completo,
o grupo fez 17,3 mil milhões de
euros de vendas, é a segunda maior
empresa cotada na praça
portuguesa (com uma capitalização
bolsista de 9,12 mil milhões de
euros) e é o maior grupo de
distribuição português (rivaliza
com a Sonae, dona do PÚBLICO,
que domina no mercado nacional).
João Vieira Lopes, cujas funções
de presidente da Confederação do
Comércio Português (CCP) muitas
vezes o colocaram em lados
diferentes do diálogo no sector,
louva o papel de Alexandre Soares
dos Santos no desenvolvimento “do
projecto do grupo Jerónimo
Martins na modernização do
comércio” — o “único que teve
êxito na área da interna-
cionalização” da distribuição
alimentar moderna, defende.
Líder, claro É na Polónia — onde entrou em
1995 na Biedronka — que a JM faz
por ano 67% das suas vendas.
“Pouca gente tem a noção”, explica
um antigo gestor do grupo, “mas
quando fomos para a Polónia já
havia 12 a 15 dos maiores grupos de
distribuição do mundo”, num
mercado “quatro vezes maior do
que o nosso”. Nesse período inicial,
Soares dos Santos percorreu de
carro o mercado polaco, passando
uma semana por mês naquele país,
a conhecer o território em que
queria “ser líder de mercado”
desde o início da expansão.
Quatro anos depois do arranque,
a JM tinha 550 unidades Biedronka
a operar. Foram “momentos
difíceis”, conta quem os viveu,
vencidos por uma “determinação”
ímpar, uma postura “claríssima” no
que toca a valores éticos e “um
apoio total” à equipa por parte de
Alexandre Soares dos Santos. Hoje,
a JM lidera o mercado do retalho
alimentar polaco, com 2916
unidades e vendas anuais a tocar os
12 mil milhões de euros.
Foi da Polónia de que não
abdicou quando no arranque deste
século teve de reduzir os activos.
Isso, para quem trabalhou com ele
de perto, também é “prova de uma
clarividência enorme”. “Vão-se os
anéis, cam-se os dedos”, dirá
Alexandre Soares dos Santos aos
seus colaboradores.
É por esta altura, já nos nais da
década de 1990, que Jerónimo
Martins e Sonae chegam a discutir a
sua união, por iniciativa de
Alexandre Soares dos Santos. O
“Um sonhador ac
remonta a 1792. Com presença
então em Portugal (distribuição e
indústria), Polónia, Brasil e Reino
Unido, uma das mais antigas
cotadas da Bolsa de Lisboa avisou
em 1999 o mercado de que os
resultados iriam car aquém do
previsto. É o famoso profit warning
da JM, que irá marcar o grupo
durante muitos anos.
Escolhas foram feitas para
reduzir dívida. Foram vendidas as
águas Vidago, Melgaço e Pedras
Salgadas e, englobando um plano
estratégico em 2002, foram
acordo não chegou a bom porto
com Belmiro de Azevedo, mas anos
mais tarde, em 2007, o patrão da JM
assumiu ter sido “uma pena não se
ter feito” a fusão com a distribuição
da Sonae. Anos mais tarde, os dois
cresceram de tal forma que seria
impossível uma fusão desse tipo em
Portugal, do ponto de vista
concorrencial.
Assumir a culpa No limiar do século, a forte
expansão causaria dores de
crescimento ao grupo cuja génese
Quando teve de lidar com uma crise dentro do grupo, “não o vi, então, endossar culpas a terceiros nem apontar o dedo a inimigos externos”, diz Filipe Pinhal
Alexandre Soares dos Santos (1934-2019) Dono de uma ambição e determinação férreas, era claro nas metas e exigente nos resultados. Lúcido, reescreveu muitas vezes os seus sonhos
Obituário Isabel Aveiro
Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019 • 19
ENRIC VIVES-RUBIO
alienados outros activos não
estratégicos, retirando o grupo do
Brasil, com a venda dos
supermercados Sé.
“Decidimos vender algumas
empresas e o Eng. Jardim
Gonçalves [então à frente do BCP]
foi de um auxílio extraordinário:
‘Conte comigo.’ Nunca me falhou”,
contou Alexandre Soares dos
Santos ao PÚBLICO em 2012.
“Muita gente alimentou grande
apreço pelo Sr. Soares dos Santos”,
a rmou ontem Jorge Jardim
Gonçalves ao PÚBLICO. “A mim
sempre me sensibilizou por ser
uma pessoa que se manteve
sempre igual: a pensar, a estudar, a
correr riscos, em família, com os
amigos ou no trabalho. Em
qualquer situação procurava ter
uma posição coerente, fazendo
tudo para dar satisfação aos outros,
mesmo em pequenos gestos.”
Alexandre Soares dos Santos
reconhecerá em entrevistas anos
mais tarde o que sentiu na fase mais
crítica do crescimento do grupo:
que “o responsável era eu, tinha de
pôr o meu lugar à disposição”. Foi
nessa altura que pensou que
deveria sair da JM. “Pedi a demissão
ao Dr. [Artur] Santos Silva e ao Dr.
Nogueira de Brito [na altura
administradores da JM]. Não a
aceitaram. E a minha família, numa
reunião, entregou-me um papel
assinado garantindo-me o apoio.
Fiquei.” Num ano, o grupo reduziu
a dívida de 1,8 mil milhões de euros
para 800 mil euros.
Filipe Pinhal, ex-administrador
do BCP, volta hoje a essa altura para
homenagear a memória do
empresário: “O melhor registo que
guardo foi o da forma como o vi
lidar com a grande crise que quase
deitou por terra o seu grupo
empresarial. Não o vi, então,
endossar culpas a terceiros nem
apontar o dedo a inimigos
externos. O assunto era com ele e
era ele que o tinha de resolver com
as ajudas que ele próprio teria de
identi car.”
Luís Palha da Silva, que entrara
na JM como administrador
nanceiro em 2001, passa a liderar
a comissão executiva em 2004,
cargo que ocupa até 2010. Foi o
único presidente executivo da
história da Jerónimo Martins SGPS
não pertencente à família Soares
dos Santos. É Palha da Silva que
recorda Alexandre Soares dos
Santos como “um sonhador
acordado”. Porque, justi ca este
gestor, que liderou o grupo numa
das fases que seriam de
recuperação da vida da companhia,
Alexandre Soares dos Santos
“sempre teve uma atitude muito
motivadora”, com objectivos
sempre “muito ambiciosos”.
“Motivava pela exigência, pela
qualidade, pelos objectivos” a que
se propunha e que propunha à
equipa de gestão.
Mas era, também, “uma pessoa
cordado”
Alexandre Soares dos Santos, em Abril de 2008, quando era então presidente do conselho de administração do grupo Jerónimo Martins, cujas origens remontam a 1792
muito generosa”. Palha da Silva
lembra-se de que aquando das
inundações de 20 de Fevereiro de
2010 na Madeira, que mataram 47
pessoas na ilha, Alexandre Soares
dos Santos mobilizou “um esforço
muito grande e um investimento
signi cativo” do grupo no apoio às
vitimas (a doação imediata, na
altura, foi de um milhão de euros).
“Não era muito normal” e
surpreendeu Palha da Silva, que
sublinha que Alexandre Soares dos
Santos “não era um homem de
negócios tradicional”.
Exercendo a sua capacidade de,
como de ne Palha de Silva,
“reinventar, de criar um sonho
novo”, Alexandre Soares dos
Santos saiu da empresa em 2013,
dedicando-se a partir daí à
Fundação Francisco Manuel dos
Santos.
Antes, contudo, será alvo de
críticas pela decisão de mudar a
sede social da empresa familiar
(Sociedade Francisco Manuel dos
Santos, que controla 56% da JM)
para a Holanda. Várias vezes
recusou os ataques: “Aceito
perfeitamente que não gostem
daquilo que represento — a
iniciativa privada nunca foi nada de
que o português gostasse. O que
não aceito são ataques pessoais”,
responde ao Expresso em 2012. E
recordou, por diversas vezes, que o
grupo era, entre os portugueses
cotados no PSI-20, dos poucos que
ainda tinham sede no país de
origem.
Quem com ele trabalhou justi ca
a decisão empresarial pela opção
polaca: “para se estar lá tinha de se
estar na Holanda, todos os
concorrentes estavam, porque eles
têm acordos bilaterais” que
facilitam o negócio. Alexandre
Soares dos Santos, sublinha este
gestor que prefere não ser
identi cado, tinha um “profundo
orgulho de ser português”.
“O que ele dizia era o que ele era”
— e a sua “independência” fazia-o
dizer muitas coisas, nem sempre
bem recebidas. Dizia, “porque
podia — não me lembro de o
[grupo] JM ter tido negócios com os
Estado”, além de autorizações
camarárias para licenciar um
supermercado ou base logística,
num sector que, ao contrário de
outros, não tem por tradição
depender de apoios públicos.
“Uma sociedade deverá ser
consciente dos seus direitos, mas
também dos seus deveres”, e
assumir “as suas responsabilidades.
Que obriga os seus deputados e o
seu Governo a ouvi-la e a decidir de
acordo com o que ela quer” —
defendia Alexandre Soares dos
Santos. Que voltou a sonhar uma
vez mais.
Criada em 2009, a fundação foi
apresentada como tributo a
Francisco Manuel dos Santos, avô
de Alexandre Soares dos Santos,
que em 1921 entrou com outros 12
sócios no capital da loja — os mais
tarde Estabelecimentos Jerónimo
Martins. Por iniciativa desta foi
criada a Pordata, base de dados
estatísticos de Portugal e Europa,
de consulta gratuita. A meta de
tornar acessível a informação a
toda a sociedade motiva a edição
de ensaios críticos em formato de
livro de bolso e publicações
periódicas com o selo da fundação.
Jorge Jardim Gonçalves relembra
que a experiência de Alexandre
Soares dos Santos, “desde cedo, foi
muito rica, começando a lutar
novo para manter um património
que envolvia muita gente da
família. O que fez sempre dentro
de um espírito de grande
coerência”.
Rui Vilar, presidente da
administração da CGD, relembra “a
actividade de mecenato criando
duas fundações [Francisco Manuel
dos Santos e Oceano Azul] e
apoiando universidades como a
Católica, a de Aveiro e a Nova de
Lisboa”, realça “a preocupação de
estar informado e atento às grandes
tendências económicas e políticas
mundiais” e, ao mesmo tempo,
“alguém preocupado com o
pormenor, um empresário ‘mãos
na massa’ que aparecia muitas
vezes às 8h da manhã nas fábricas
ou nas lojas para ouvir o que os
trabalhadores lhe tinham a dizer”.
Elogia ainda a “grande tenacidade e
perseverança” que “lhe permitiu
ultrapassar os momentos difíceis
do grupo que liderou”.
“As elites”, disse uma vez
Alexandre Soares dos Santos, “têm
uma responsabilidade acrescida
para uma mudança social e
política”. Venham de onde vierem.
com Cristina Ferreira
20 • Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019
“Com desagrado”, Salvini autoriza desembarque de 27 menores
Após enorme pressão, e de uma vio-
lenta carta aberta do primeiro-minis-
tro italiano, Giuseppe Conte, no Face-
book, em que acusa o seu ministro do
Interior de “colaboração desleal”,
Matteo Salvini permitiu ontem que
desembarcassem 27 menores desa-
companhados que estão a bordo do
navio Open Arms, impedido de atra-
car na ilha de Lampedusa pela Guar-
da Costeira italiana.
Há 16 dias que o navio tem a bordo
134 migrantes resgatados no Mediter-
râneo. Ontem, o psicólogo Alessandro
di Benedetto, que está no navio da
organização não governamental espa-
nhola Open Arms, deu o alerta: “A
situação é insustentável, pode haver
uma tragédia”, disse ao El País.
Após tantos dias no mar, a ver terra
mas proibidos de lá chegar, vendo
que só quem cou muito doente foi
autorizado a desembarcar, os imi-
grantes estão no limite das suas for-
ças, da sua resistência psicológica.
Nas últimas horas, contou Benedetto,
viram-se “comportamentos agressi-
vos” entre alguns passageiros, causa-
dos pelo desespero. “Houve uma
tentativa de suicídio e um pequeno
grupo tentou atirar-se ao mar.”
A retirada de pequenos grupos faz
crescer a raiva e a frustração dos que
permanecem no barco, avisa. “Por
um lado, dá esperança, mas por outro
criam-se frustrações ao resto do gru-
po”, explicou o psicólogo ao El País.
Mas essa é a única via entreaberta
pelo ministro do Interior italiano,
Matteo Salvini, e mesmo assim a con-
tragosto, no meio de uma crise polí-
tica que deverá levar à queda do
Governo, esta semana, após o debate
uma moção de descon ança contra
Conte, lançada por Salvini.
“A escolha [de autorizar o desem-
barque dos menores] é exclusivamen-
te do primeiro-ministro e pressupõe
um precedente perigoso”, a rmou o
ministro do Interior, após receber
uma segunda carta do primeiro-mi-
nistro, desta feita privada, sobre a
questão do Open Arms, relata o jornal
Corriere della Sera. Salvini frisou que
espera “novidades na segunda-feira
Imigrantes salvos no mar pelo navio Open Arms tornaram-se peões na crise política. O ministro do Interior de extrema-direita agudiza a sua intransigência, mesmo com países da UE dispostos a receber as pessoas
[amanhã]”, sobre o recurso que apre-
sentou da decisão de um tribunal de
Roma para permitir a entrada do
navio em águas italianas. E manteve
o braço-de-ferro: “Autorizo o desem-
barque dos menores com desagrado”,
a rmou Matteo Salvini.
O ministro do Interior italiano, de
extrema-direita, mantém esta posição
apesar de, na quinta-feira, seis países
europeus, entre os quais Portugal, se
terem oferecido para receber os 134
migrantes a bordo do navio humani-
tário. A Comissão Europeia decidiu
adiar o processo de distribuição dos
migrantes enquanto a Itália não dei-
xar atracar o navio Open Arms.
Na sexta-feira, a Procuradoria de
Agrigento, Sicília, abriu uma investi-
gação contra desconhecidos por deli-
to de sequestro para determinar por
LUCA ZENNARO/EPA
Salvini e Conte comunicaram por carta sobre o navio Open Arms. A bordo, as condições estão a degradar-se
que razão os migrantes são impedi-
dos de desembarcar, depois de a
Guarda Costeira italiana, num docu-
mento enviado ao Ministério do Inte-
rior, ter pedido “urgentemente” uma
solução para o caso e ter assegurado
que “não vê nenhum tipo de impedi-
mento” ao desembarque.
Ontem, a Procuradoria de Agrigen-
to ordenou uma inspecção médica a
bordo do Open Arms, para constatar
as condições de higiene e saúde das
pessoas a bordo.
Perto dali, entre Malta e o Sul de
Itália, está outro navio, desta feita dos
Médicos sem Fronteiras, o Ocean
Viking, com 365 migrantes a bordo
— também sem autorização de desem-
barque em porto europeu.
ItáliaClara Barata
REUTERS
MUNDO
Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019 • 21
MUNDO
Os Estados Unidos anunciaram ter
emitido um mandado de captura
do petroleiro iraniano arrestado
em Gibraltar, um dia depois de o
território britânico ter autorizado
o navio a deixar as suas águas terri-
toriais.
O Departamento de Justiça dos
EUA acusou, em comunicado, o
navio iraniano Grace 1 de servir de
veículo de trá co ilegal para a Síria,
num plano orquestrado pelos Guar-
das da Revolução iranianos, que os
Estados Unidos consideram ser uma
organização terrorista internacio-
nal. “O esquema”, disse Jessie Liu,
advogada do distrito de Columbia
(Washington D.C.), “envolve parcei-
ros relacionados com os Guardas da
Revolução, e apoia-se nas viagens a
pretextos falsos do Grace 1. Há uma
rede de empresas de fachada que
lava milhões de dólares para apoiar
estas entregas”.
Segundo a advogada, a bordo do
navio foi encontrado equipamento
electrónico, e nos telemóveis da tri-
pulação havia mensagens de
WhatsApp que revelaram que o Gra-
ce 1 se destinava a Banias, um porto
na Síria, “em violação das sanções
norte-americanas” e europeias con-
tra o regime sírio. Declarações de
membros da tripulação con rma-
ram esta versão, dizem os EUA.
Além da apreensão do cargueiro,
as autoridades dos EUA solicitaram
a con scação de todo o petróleo
transportado no petroleiro iraniano
(cerca de 2,1 milhões de barris).
Na quinta-feira, pouco antes de
Gibraltar anunciar que o navio tinha
sido autorizado a partir, os EUA
pediram o prolongamento da reten-
ção do petroleiro.
O chefe do Governo de Gibraltar,
Fabian Picardo, acabou por autori-
zar o Grace 1 a partir, dizendo ter
recebido “garantias escritas de Tee-
rão” de que o petroleiro não iria
para Síria. No entanto, o porta-voz
da diplomacia iraniana, Abbas
Moussavi, a rmou que o seu país
não zera tal promessa.
Petroleiro iraniano alvo de mandado de captura
Gibraltar
EUA persistem em impedir que Grace 1 siga viagem. Dizem que leva petróleo para a Síria, violando sanções contra o regime
A principal coligação da oposição e
os militares do Conselho Militar de
Transição assinaram ontem um acor-
do para dividirem o poder nos pró-
ximos três anos, quando deverão ser
realizadas eleições. Foram meses de
negociações e recuos, e até de uma
brutal repressão dos militares.
O acordo foi assinado entre Moha-
med Hamdan Dagalo, vice-presiden-
te desse mesmo conselho e coman-
dante da Força de Apoio Rápido
(FAR), milícia acusada de massacres
no Darfur e espinha do antigo regime
de Omar al-Bashir, e Ahmed al-Rabie,
da Aliança para a Liberdade e
Mudança, em Cartum. Estiveram
presentes o primeiro-ministro etío-
pe, Abiy Ahmed, e o Presidente do
Sudão do Sul, Salva Kiir.
O acordo estipula que um militar,
escolhido por ambos os lados, lide-
rará o conselho, formado por cinco
civis e seis militares, nos primeiros
21 meses, pelo que será depois subs-
tituído por um civil nos 18 meses que
se seguirem. O documento também
prevê um gabinete nomeado pela
coligação, a constituição de um
órgão legislativo e uma investigação
independente ao massacre de deze-
nas de pessoas num ataque ao acam-
Oposição e militares assinam acordo para dividir poder
pamento pró-democracia na capital
sudanesa, em Junho.
O ditador Omar al-Bashir foi
deposto em Abril, liderado pelo
ministro da Defesa e vice-presidente,
Awad Ibn Ouf, após meses de protes-
tos. Os militares criaram o Conselho
Militar de Transição e confrontaram-
se com a resistência da oposição, que
exigia um Governo civil.
Sem cederem, os chefes das forças
armadas optaram pela repressão e
atacaram o acampamento em Car-
tum, usando as FAR. E, nos dias que
se seguiram, perseguiram dissiden-
tes nos bairros da capital e arredores,
com 40 corpos a serem encontrados
no rio Nilo.
Sem alternativa senão uma guerra
civil, os dois lados voltaram à mesa
das negociações, mediadas pela
União Africana, e aceitaram partilhar
o poder com a assinatura de um
acordo preliminar em Julho e, no
início deste mês, ao assinarem uma
declaração constitucional. Porém, a
assinatura do acordo nal foi recebi-
da com euforia e cautela. Um dos
membros que se manterão no con-
selho será Dagalo, de quem se sus-
peita ter ordenado o massacre.
Na cerimónia, os membros da
coligação estavam “excitados”,
enquanto, nas ruas, a postura era
cautelosa, diz a correspondente da
Al-Jazira em Cartum, Hiba Morgan.
“Estão preocupados que o conselho
militar possa atrasar a aplicação de
algumas cláusulas ou encontrar for-
ma de afastar os civis, agarrando-se
ao poder.”
SudãoRicardo Cabral Fernandes
Nos primeiros 21 meses, um militar liderará o país, e nos 18 que se seguirem será um civil. Foi o resultado de meses de negociações
O acordo foi o último passo nas negociações sobre o futuro do país
MORWAN ALI/EPA
Colecção de 11 vinhos. PVP unit.: variável. Preço total da colecção: 103,68€. Periodicidade semanal ao sábado. De 20 de Julho a 28 de Setembro de 2019. Limitado ao stock existente. É proibida a venda de álcool a menores de 16 anos. Seja responsável, beba com moderação.
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COM O PÚBLICO
7,99€SÁBADO,
24 AGOSTO
11 motivospara celebraro VerãoEsta semana a paixão é o mote paradesfrutarcom um vinho vermelho profundo.A sinfonia entre fruta preta, notas apimentadase nuances de café e caramelo transbordamnum vinho penetrante e afrodisíaco. A noite de sábado promete ser irresistível!Descubra, semana após semana, os 11 motivos para brindar ao Verão e compartilhar com a família e amigos o bom sabor da vida
Características:Acompanha bem com: pata negra, queijo curado,estufado de caçaCastas: 100% SyrahSugestão para servir:servir a 12-18ºCRegião: Lisboa
Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019 • 23
O ícone da contracultura que encarnou uma geração
Fonda dizia-se “circunspecto”, mas deixa ao cinema um legado tudo menos discreto
Ícone da contracultura dos anos
1960, estrela e co-autor de um
lme revolucionário, Easy Rider,
que se estreou há precisamente 50
anos, membro de uma dinastia de
Hollywood que começou com o
pai, Henry Fonda, e se estendeu
aos lhos deste, Peter e Jane
Fonda, e à neta Bridget Fonda:
mais do que apenas um actor, Peter
Fonda, que morreu na manhã de
sexta-feira em Los Angeles, aos 79
anos, na sequência de
complicações causadas por cancro
do pulmão, era um símbolo. Por
isso cará para sempre associado
ao lme que xou uma geração e
um movimento social e cultural
que já tinha a sua banda sonora, os
seus livros e a sua imagem. Easy
Rider “era o lme deles”, disse
sobre os seus contemporâneos, os
jovens dos anos 1960.
Actor de “espírito indomável”,
cheio de “amor pela vida” — “Em
honra de Peter, por favor ergam um
copo pela liberdade”, pedia ontem
a sua família, citada pela Reuters —,
“foi-se embora a rir”, con denciou
à Hollywood Reporter Jane Fonda,
cuja fama a certa altura ultrapassou
largamente a do irmão. “Era o meu
irmão bebé e tinha um grande
coração. O falador da família.”
Na manhã de ontem, os tributos
foram-se sucedendo no Twitter.
Peremptório, o realizador Rob
Reiner declarou que “Peter Fonda
foi um cineasta revolucionário
numa altura revolucionária”. A
actriz e autora Illeana Douglas
lembrou que o actor “personi cou
os valores” da cultura hippie e
anti-establishment e que “o cinema
independente começa com Easy
Rider”. “Levarás o meu coração
contigo para onde fores”, prometeu
Nancy Sinatra no Instagram.
A história de Peter Fonda
começou a 23 de Fevereiro de 1940,
quando nasceu em Nova Iorque,
mas tem de começar a ser contada a
partir desse mítico lme que
produziu, co-escreveu e
protagonizou memoravelmente,
Spielberg e George Lucas.
Ironicamente, a ascensão desta
nova geração trazia com ela a morte
simbólica da geração de Henry
Fonda — ícone em nome próprio,
um dos maiores do todo-poderoso
cinema clássico americano cuja
vigência Easy Rider ajudaria a
derrotar. Peter teve com o pai uma
relação diminuta; a mãe, Frances
Ford Seymour, cometera suicídio
quando o actor tinha dez anos.
Um cowboy para os anos 60 Com Easy Rider, considerado a
Melhor Primeira Obra no Festival
de Cannes de 1969, Fonda e
Hopper tornavam-se rostos de uma
nova forma de estar em Hollywood
— Fonda, em particular,
consumidor de ácidos e marijuana,
era amigo dos Byrds e tripou com
três Beatles (só Paul McCartney
não estava presente).
A sua primeira vez numa mota no
cinema não foi Easy Rider, contudo.
Fora o líder de um gangue em The
Wild Angels (1966), de Roger
Corman, dividindo o ecrã com
Bruce Dern e Nancy Sinatra; aí
começou a desenhar-se como gura
da contracultura no grande ecrã. O
actor que se estreara na Broadway e
que teve fugazes presenças
televisivas continuou a trabalhar
com Corman nas temáticas da
contracultura sixties em The Trip,
sobre o consumo de LSD, também
com Dennis Hopper, a partir de um
guião de Jack Nicholson.
Chegados a Easy Rider, os amigos
Hopper, Fonda e Nicholson
atingiam outro patamar de êxito e,
como disse Peter Fonda em 2017 ao
Los Angeles Times, um público: “Era
um mercado para o qual nunca se
tinha tocado. Nunca ninguém lhes
tinha tocado a sua canção. Tinham a
sua poesia. Tinham a sua música.
Tinham a sua maneira de vestir. Não
tinham o seu lme.” Passaram a
tê-lo, e zeram dele o quarto lme
mais rentável de 1969.
No lme que cará para sempre
associado ao seu nome, Fonda era
Wyatt, ou “Capitão América”, e
Hopper o seu comparsa Billy. Como
relata o historiador de cinema Peter
Biskind em Easy Riders, Raging
Bulls, Fonda teve a ideia para o lme
diante de um cartaz de The Wild
Angels em que ele e Bruce Dern
guravam nas suas montadas
motorizadas, desa adores. O lme
foi um western actualizado para os
anos 1960, Wyatt como o xerife
Wyatt Earp e Billy como o fora-da-lei
Billy the Kid.
Casado três vezes, com dois
lhos, Peter Fonda realizou três
lmes, entre os quais o western O
Regresso (1971), que também
protagonizou, e continuou a actuar
profusamente nos últimos anos,
tendo participado no remake de O
Comboio das 3 e 10 (2017). Entre os
muitos lmes em que participou nas
suas seis décadas de carreira estão
Lilith (1964), de Robert Rossen,
Amor sem Promessa (1973), de
Robert Wise, Fuga de Los Angeles
(1996), de John Carpenter, ou The
Limey (1999), de Steven Soderbergh.
Deixa por estrear três projectos: The
Magic Hours, Skate God e The Last
Full Measure, de Todd Robinson,
que deverá chegar a Portugal em
Novembro.
Peter Fonda (1940-2019) Filho de Henry Fonda, irmão de Jane Fonda e pai de Bridget Fonda, produziu, protagonizou e co-escreveu Easy Rider, o lme que ajudou a desencadear a Nova Hollywood
Obituário Joana Amaral Cardoso
legando à história do cinema uma
das suas imagens indeléveis: a de
Wyatt, o motociclista livre e sem
medo que conduzia a sua chopper
através dos Estados Unidos. Com
eles viajava a canção Born to be wild,
que viria a tornar-se o maior êxito
dos Steppenwolf.
Easy Rider valeu-lhe a primeira
das suas duas nomeações para um
Óscar, por ter assinado o guião com
Dennis Hopper (1936-2010) e Terry
Southern — a segunda surgiria em
1997, na categoria de representação,
pelo seu apicultor em Laços de
Amor. Peter Fonda foi essencial
para a existência do lme que ele
próprio e Hopper protagonizariam,
e que se estreou no Verão de 1969,
quando as brisas do abrupto nal da
década começavam a soprar na
Califórnia. Dois motoqueiros
contrabandeiam droga do México
para os Estados Unidos e depois
atravessam o país, camisas às ores
e blusões de franjas ao vento,
encontrando pelo caminho a
história de um momento cultural:
uma comuna hippie, o amor livre, a
polícia descon ada e uma turba de
aldeões violentos, LSD, a América
na sua complexidade.
Produzido por Fonda e realizado
por Hopper, o lme tornou-se um
clássico instantâneo, cuja
rentabilidade nas bilheteiras seria
superada pela in uência que
exerceu sobre uma geração
subsequente de cineastas e sobre os
jovens que navegavam à vista na
contracultura dos anos 1960. A
Guerra do Vietname ainda duraria
mais seis anos, e os protestos contra
esse sacrifício de toda uma geração,
juntamente com a mudança
cultural em curso, à medida que o
studio system de Hollywood
colapsava e dava novos poderes aos
jovens realizadores, serviam de
pano de fundo a uma dinâmica,
social e cinematográ ca, que
alargaria as portas que Bonnie e
Clyde, de Arthur Penn, já tinha
escancarado em 1967. Por aí
entrariam Francis Ford Coppola,
Martin Scorsese, Peter
Bogdanovich, Brian de Palma,
William Friedkin ou Steven
CULTURA
SILVER SCREEN COLLECTION/GETTY IMAGES
24 • Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019
CULTURA
E, sem grande surpresa, o Leopardo
de Ouro, prémio máximo do Festi-
val de Locarno, foi para Vitalina
Varela, de Pedro Costa, acompanha-
do no palmarés pela própria Vitali-
na, destinatária do Leopardo de
Melhor Actriz. O galardão, que o
entusiasmo da recepção do lme
em Locarno parecia prometer-lhe,
é para o realizador português a pro-
va de que “tudo é possível, mesmo
para um tipo velho (...) que fez um
lme pequeno sem dinheiro”.
“Espero que possa abrir portas para
o lme ser visto em mais sítios”, dis-
se numa entrevista ontem disponi-
bilizada pelo festival (até à hora de
fecho desta edição, não prestou
declarações ao PÚBLICO).
Raras vezes um júri terá estado
de tal maneira entrosado com o
burburinho das ruas de Locarno e
das redes sociais: Vitalina Varela
tornou-se o favorito dos observado-
res logo após a sua projecção para
a imprensa na quarta-feira, com
muitos dos críticos presentes a con-
siderarem-no “o lme” do certame
(ver texto nestas páginas). Com esta
distinção, o novo lme de Pedro
Costa, que teve em Locarno a sua
estreia mundial, torna-se também
o primeiro lme português a rece-
ber o prémio máximo de uma com-
petição principal de um festival de
classe A desde O Bobo, de José Álva-
ro Morais, Leopardo de Ouro em
1987. O festival suíço tem, aliás, tra-
zido sorte ao realizador português,
que já merecera o Leopardo de
Melhor Realização em 2014 por
Cavalo Dinheiro, o Prémio Especial
do Júri em 2007 pelo lme colectivo
Memories, e uma menção especial
em 2000 por No Quarto da Vanda.
Mas a aclamação de Vitalina Vare-
la não cou por aí: Vitalina, ela pró-
pria, gura central de um lme ins-
pirado na sua vida, recebeu o Leo-
pardo para a Melhor Interpretação
Galardão máximo do Festival de Locarno foi para o cineasta português, que em 2014 ali conquistara o prémio de Melhor Realização com Cavalo Dinheiro. Vitalina Varela, a própria, foi a Melhor Actriz
O Festival de Locarno tem sido um lugar feliz para Pedro Costa, mas o Leopardo de Ouro só agora lhe chegou às mãos — por um filme que, diz, “pertence” à sua protagonista, Vitalina Varela, igualmente premiada
Feminina, depois de na sexta-feira
ter já vencido um prémio paralelo,
o Boccalino d’Oro, atribuído pela
imprensa. O seu triunfo, combinado
com o Leopardo de Ouro, sugere
que o júri presidido por Catherine
Breillat premiou o yin e o yang do
lme, o criador e a criatura (mas
qual deles, Costa ou Vitalina, é o
criador, e qual a criatura?). Segundo
o realizador, o lme “pertence a
Vitalina”: “Ela é uma força da natu-
reza, do passado e do presente e
também do nosso futuro.”
Também num depoimento ao fes-
tival, Vitalina confessou-se “muito
feliz” com o prémio: “Digo-o do
mais fundo do meu coração. É um
testemunho do amor com que rodá-
mos este lme e do amor que rece-
bemos [em Locarno].”
Curiosamente, con rmou-se uma
“dobradinha” de actores não pro s-
sionais nos prémios de representa-
ção desta 72.ª edição do festival. O
Leopardo para a Melhor Interpreta-
ção Masculina coube a Régis Myru-
pu, o índio desana que tem de esco-
lher entre o seu mundo nativo e a
cidade em A Febre, da brasileira
Maya Da-Rin. Myrupu também nun-
ca tinha entrado num lme, embora
tivesse estado envolvido em grupos
de preservação cultural.
O Leopardo de realização cou
nas mãos do francês Damien Mani-
vel, pelo delicado Les Enfants d’Isa-
dora, sobre o modo como a arte
pode transcender e atravessar vidas
muito diferentes, inspirado pela
história verídica da bailarina Isado-
ra Duncan. O lme francês era tam-
bém um dos favoritos dos observa-
dores — e também Manivel tinha já
uma “história” com Locarno, onde
o seu lme de 2014, Un Jeune Poète,
recebeu uma menção especial na
secção Cineastas do Presente.
O Prémio Especial do Júri foi este
ano para um lme que, exibido já
no nzinho do festival, estava de
fora das bolsas de apostas — Pa-Go
(Height of the Wave), do sul-coreano
Park Jung-bum, um quase-thriller
Vitalina Varela deu a Pedro Costa o seu anunciado Leopardo de Ouro
Festival de LocarnoJorge Mourinha
sobre uma jovem órfã numa ilha
remota. Houve ainda menções espe-
ciais para Hiruk-Pikuk Si Al-Kisah
(The Science of Fictions), do indoné-
sio Yosep Anggi Noen, e Maternal,
primeira cção da documentarista
italiana Maura Delpero. Presidido
por Catherine Breillat, o júri do Con-
curso Internacional incluiu ainda a
realizadora Valeska Grisebach, a
produtora Ilse Hughan, o crítico
Emiliano Morreale e o actor Nahuel
Pérez Biscayart.
Portugueses foram notados Por premiar caram lmes que os
observadores tinham apontado
como alguns dos melhores do festi-
val — casos do alemão Das Freiwillige
Jahr ou do galego Longa Noite, que
se tornou um dos favoritos dos crí-
ticos, apesar da sua exibição tardia.
Também os restantes lmes portu-
gueses caram fora do palmarés —
tanto Technoboss, de João Nicolau,
como O Fim do Mundo, de Basil da
Cunha, regressam sem prémios,
apesar de uma menção especial para
Technoboss por parte de um dos júris
Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019 • 25
CULTURA
A reacção dos críticos internacionais
a Vitalina Varela: elogios rasgados,
acompanhados de preâmbulos sobre
o parentesco ferrenho do cinema de
Pedro Costa com as artes visuais e do
espaço, da pintura à arquitectura, e
de preliminares sobre a própria natu-
reza do cinema. Vista a partir dos EUA
ou de França, a estreia mundial do
novo lme do cineasta português foi
a sensação de Locarno.
“Há muito, talvez há décadas, que
Pedro Costa renunciou à habitual
economia da produção de cinema
para trabalhar em pintura”, enceta
Julien Gester, do Libération, que con-
siderou Vitalina Varela “sumptuoso”.
O jornalista francês fez o elogio simul-
tâneo ao lme e à sua protagonista,
também premiada — “imensa heroí-
na, aparição já inesquecível no lme
anterior [Cavalo Dinheiro], em quem
Costa encontrou um novo ‘espelho
de paciência’, um absoluto de majes-
tade e obstinação”.
Nos balanços de Locarno 2019 é
também uma constante a dialéctica
Vitalina, o lme vs. Vitalina, a actriz.
Tal como são constantes as menções
a Leonardo Simões, director de foto-
gra a de Vitalina Varela e colaborador
habitual de Costa. A referência ao
chiaroscuro, essa técnica da pintura
feita cinema nas mãos de Costa, é
recorrente nas descrições dos jogos
de luz e sombra e dos instantâneos de
Leonardo Simões na obra agora pre-
miada. Menos encantado com o for-
malismo de Vitalina Varela, o crítico
Jay Weissberg, da Variety, sugere
porém que esta “obra punitivamente
escura”, “salva” pela protagonista de
“se afogar na sua opacidade proposi-
tada”, seria mais legível enquanto
exposição de fotogra as.
Weissberg, que guarda os elogios
para Vitalina Varela, a actriz, conside-
ra que “a adesão rígida de Costa ao
formalismo vai excitar os seus fãs”,
mas sugere que “outros podem sentir-
se menos arrebatados pelas suas ima-
gens rigidamente compostas e usadas
para gerar emoções intelectualiza-
A crítica internacional (quase) a seus pés
das”. E recorda que esses fãs são “um
pequeno mas in uente grupo de este-
tas”, lembrete também bem presente
na publicação rival, a Hollywood
Reporter; o crítico desta, por seu tur-
no, dá nota máxima a Vitalina Varela,
que resume como “um pesadelo fas-
cinante”, “uma mood piece inegavel-
mente exigente mas cumulativamen-
te recompensadora”, “um estudo
intrincado e silenciosamente como-
vente sobre a amargura”, um “épico
íntimo”. Que, acredita, dará a Pedro
Costa o seu maior potencial de reco-
nhecimento e circulação internacional
desde Juventude em Marcha (2006).
“Magistral” No Libé, Julien Gester, que faz ainda
um apanhado da armada portuguesa
desta edição do festival, regressa a
Pedro Costa para lhe dar liação.
Entre as luzes (poucas) e as sombras
(tantas) de Vitalina Varela, encontra
evocações das “visões obscurecidas
de um David Lynch ou de um [fotógra-
fo como] Bill Henson, além de Jacques
Tourneur”, referência recorrente. Eric
Kohn, no Indiewire, não o esquece,
sublinhando ter saído de Vitalina Vare-
la convicto da “capacidade magistral
de Costa para extrair a poesia cinema-
tográ ca de um ambiente único e das
guras fúnebres que vagueiam pelas
suas turvas profundezas”.
O realizador português produziu
“mais uma visão arrebatadora e
magistral”, titulou aquele site, concre-
tizando uma vez mais essa visão do
cineasta como artista plástico: “Pou-
cos realizadores pintam com um pin-
cel tão singular. Desde que Béla Tarr
se reformou, Costa tornou-se o porta-
estandarte de um certo tipo de cine-
ma, taciturno, lírico, impregnado de
ambiguidade e rico em implicações.”
E perante essa e outras certezas
(como a de Daniel Kasman, do site
Mubi, para quem Vitalina Varela foi
“de longe o melhor novo lme no fes-
tival, correndo mais riscos, percor-
rendo o caminho mais difícil”, o nal
feliz do Leopardo de Ouro parecia
quase inevitável.
Joana Amaral Cardoso
moderado. Baamum Nafi recebeu
igualmente o prémio de Melhor Pri-
meira Obra, atribuído por um júri
distinto.
O argelino Hassen Ferhani recebeu
o prémio de melhor realizador pelo
documentário 143 Rue du Désert, e a
comédia autobiográ ca de Ivana
Mladenovic Ivana Cea Groaznica (Iva-
na the Terrible) teve o Prémio Espe-
cial do Júri.
Um palmarés inclusivo Numa edição marcada pela retrospec-
tiva de cem anos de cinema negro
Black Light, as escolhas dos vários
júris acabam por convergir numa
mesma celebração — do outro, da
multiplicidade de experiências, de
vidas, de olhares. Desde a experiência
emigrante de Vitalina, que conta a sua
própria história no lme de Pedro
Costa, à cidadezinha senegalesa de
Baamum Nafi, passando pelo choque
cultural entre os índios e a cultura
ocidental de A Febre ou pela ideia da
arte como experiência universal em
Les Enfants d’Isadora, tudo no palma-
rés de Locarno 2019 responde ao
mundo em que vivemos; abre-se à
diferença e à multiculturalidade,
recusa muros, fronteiras, paredes.
É um palmarés inclusivo, o que é
também representativo do papel de
“ponta-de-lança” que o festival suíço
tem vindo a assumir ao longo dos
últimos anos, como defensor arden-
te de um cinema de autor mais pró-
ximo das populações e mais distante
dos ditames do mainstream ameri-
cano. Também por isso foi uma sur-
presa ver fora do palmarés The Last
Black Man in San Francisco, o vence-
dor do Festival de Sundance que
também respondia a esse papel, mas
é verdade que nos últimos anos
Locarno não tem premiado cineastas
americanos, apesar de continuar a
apoiá-los e a mostrá-los.
Mas, para todos os efeitos, 2019 vai
car como o ano de Pedro Costa, o
ano em que, pela primeira vez no
século XXI, uma cinematogra a res-
peitada e aclamada em todo o mun-
do (menos no seu próprio país) como
a portuguesa recebe um prémio
máximo num festival de primeira
categoria.
A 72.ª edição de Locarno encerrou
o cialmente na noite de ontem com
a estreia de To the Ends of the Earth,
do japonês Kiyoshi Kurosawa; a 73.ª
edição do festival terá lugar de 5 a 15
de Agosto de 2020. [email protected]
FOTOS: CORTESIA FESTIVAL DE LOCARNO
Palmarés integral
Concurso Internacional Leopardo de Ouro Vitalina Varela, de Pedro Costa Prémio Especial do Júri Pa-Go, de Park Jung-bum Melhor Realização Damien Manivel, por Les Enfants d’Isadora Melhor Actriz Vitalina Varela, por Vitalina Varela Melhor Actor Régis Myrupu, por A Febre, de Maya Da-Rin Cineastas do Presente Leopardo de Ouro Baamum Nafi, de Mamadou Dia Melhor Realização Hassen Ferhani, por 143 Rue du Désert Prémio Especial do Júri Ivana Cea Groaznica, de Ivana Mladenovic Leopardos de Amanhã Leopardo de Ouro Siyah Gunes, de Arda Ciltepe, e Mama Rosa, de Dejan Barac Leopardo de Prata Umbilical, de Danski Tang, e Tempête Silencieuse, de Anaïs Moog Melhor Realização Anton Sazonov, por Otpusk Prémio Moving Ahead The Giverny Document (Single Channel), de Ja’Tovia M. Gary Primeira Obra Baamum Nafi, de Mamadou Dia
de estudantes. Ambos foram porém
bastante notados, tal como Prazer,
Camaradas!, de José Filipe Costa
(que, fora de concurso, teve até
direito a projecções adicionais), ou
o novo lme da dupla Maya Kosa/
Sérgio da Costa, L’Île aux Oiseaux,
que recebeu críticas muito positivas
e foi considerado uma das melhores
propostas apresentadas pela para-
lela Cineastas do Presente.
Nesta competição secundária, des-
tinada a primeiras e segundas obras,
o Leopardo de Ouro foi para o lme
do senegalês Mamadou Dia, Baa-
mum Nafi (Nafi’s Father), tragédia
familiar à volta de um casamento e
do confronto entre dois irmãos, um
fundamentalista religioso e um imã
Vitalina Varela é uma força da natureza, do passado e do presente e também do nosso futuro Pedro Costa Cineasta
26 • Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019
Uma agulha no palheiro no regresso a Coura de Father John Misty: black midi
Os black midi (em cima) agitaram uma noite encabeçada por Father John Misty (ao lado)
Numa era em que há novos álbuns
editados diariamente e de acesso
quase imediato a partir da barra de
busca de uma plataforma de strea-
ming, nunca foi tão difícil encontrar
aquela banda que não soa ao mesmo
que a outra na qual tropeçámos dias
antes. Escavar, à procura da “nova
grande cena”, um ciberespaço ata-
fulhado pelas dezenas ou centenas
(serão milhares?) de novos trabalhos
atirados todas as semanas para uma
nuvem com espaço ilimitado tornou-
se uma missão quase tão difícil quan-
to a de achar vida em Marte.
Como com quase tudo o que teima
em não aparecer, é quando deixa-
mos de procurar que esbarramos no
que queremos encontrar. Ao terceiro
round da 27.ª edição do Vodafone
Paredes de Coura, tivemos um des-
ses momentos. Não que algo tivesse
manchado a actuação das três ban-
das que repartiam os créditos de
cabeça de cartaz. Father John Misty
fez tudo bem, mas nada além do que
já o vimos fazer neste mesmo palco
ou noutras das suas várias actuações
anteriores pelo nosso país. Os Deer-
hunter encontraram o equilíbrio
perfeito entre o pessimismo e a espe-
rança. E os Spiritualized elevaram a
sua música a outro patamar com a
ajuda de um coro gospel.
Mas foi no palco mais pequeno e
mais escondido do festival que reen-
contrámos os desconcertantes black
midi e o caos organizado do rock
fresco e surpreendente que fazem,
depois de um primeiro encontro em
Outubro passado, então sem garan-
tia de que voltaríamos a vê-los.
Quando os londrinos passaram
então pela última edição do Festival
Mucho Flow, em Guimarães, vinham
referenciados por algumas publica-
ções da especialidade como sendo,
a par dos Shame, que estiveram em
Coura em 2018, uma das melhores
bandas ao vivo da actualidade no
Reino Unido. Embora nos tenha
parecido exagerada a referência,
face a uma actuação muito acima da
média candidatámos a banda a pro-
na mais poderosa do rock 2.0. Têm
a aparência e o som sujo de uma ban-
da de garage, mas encostam-se ao
math rock com frequência, sem qual-
quer tipo de pedantismo virtuoso.
Ao noise vão quando querem abrir
uma via para o caos, mas sem perder
a musicalidade, conseguindo encai-
xar o ruído numa estrutura musical
organizada.
O som destes quatro rapazes de ar
bem-comportado é viciante e suga
todas as atenções. Com apenas dois
anos de banda e um álbum na cartei-
ra, mas já com muitos quilómetros
de estrada, os black midi arriscam-se
a subir vários degraus num só passo
a muito curto prazo.
Zonas de conforto Ao contrário do que sucederá com
os black midi, há muito que as três
bandas que fecharam o palco princi-
pal na sexta-feira já não sentirão a
ansiedade de enfrentar um público
pela primeira vez. Com a experiência
perde-se o efeito-surpresa, mas trará
certamente algum conforto chegar
a um palco e ter à frente uma plateia
conquistada mesmo antes de se toca-
rem os primeiros acordes — como
aconteceu nesta edição de Paredes
de Coura a Father John Misty, Deer-
hunter e Spiritualized.
O primeiro, alter-ego de John Till-
man, continua certinho como um
relógio suíço. Em palco, com um trio
de sopros a dar consistência aos
temas do último God’s Favorite Cus-
tomer, é irrepreensível sem sequer
ter de se esforçar. O indie folk que faz
não chega à genialidade da banda de
que foi baterista até 2012, os Fleet
Foxes; não há nada, porém, que se
lhe possa apontar tecnicamente.
Tem argumentos a nível de compo-
sição e público el, mas talvez não
lhe zesse mal sair da zona de con-
forto para poder reinventar-se.
Os Spiritualized tentaram fazê-lo,
adicionando a um palco aberto com
vista para o fundo, sem nada nem
ninguém a impedir a visão ( Jason
Pierce passou o concerto sentado,
encostado ao lado direito), um coro
gospel composto por três vocalistas.
Estas elevaram a banda do também
fundador dos Spacemen 3 a outro
patamar, sobretudo nos temas do
novo álbum ...And Nothing Hurt,
quando a actuação passou por uma
fase mais introspectiva, depois de
um início inclinado para a fase space
rock. Entre altos e baixos, consegui-
ram recuperar o fôlego para termi-
narem com nota positiva.
Já os Deerhunter foram mais sóli-
dos. Numa fase pessimista desde
que lançaram, já este ano, Hasn’t
Everything Already Disappeared?,
facilmente saem desse estado de
espírito para saltarem sem qualquer
prurido ou problema de consciência
para a festa mais sem-vergonha.
Algures durante o concerto, toca-
ram pela primeira vez em Portugal
Coronado, tema de Halcyon Digest
(2010), com saxofone a evidenciar-
se. Bastante comunicativo, Bradford
Cox disse estar a escavar o universo
da música portuguesa e perguntou
se alguém conhecia Nuno Canavar-
ro e os Street Kids. Ficou à espera
de resposta.
Ao terceiro dia do festival, que terminou nesta madrugada, os londrinos conseguiram intrometer-se com o seu rock 2.0 entre nomes maiores de um alinhamento que também incluía Spiritualized e Deerhunter
MúsicaAndré Borges Vieira (texto), Paulo Pimenta (fotografias)
não insinuava a possibilidade de sur-
presas maiores. Os britânicos seriam
a injecção de adrenalina de que o
terceiro dia do festival precisava.
Os black midi vão buscar o nome
ao género musical japonês que recor-
re a maquinaria, a partir de cheiros
MIDI — compostos por seres huma-
nos, aparentemente sem qualquer
adição biónica, soam como a máqui-
va dos nove a ser feita noutra opor-
tunidade. E eis então que Paredes de
Coura os apresentou anteontem a
um público mais largo, agora já
munidos de um primeiro álbum,
Schlagenheim, editado em Junho. Em
boa hora o fez, e em boa hora quis a
agenda dos londrinos que a melhor
data para actuarem fosse sexta-feira,
juntando-se a um alinhamento que
CULTURA
Público Classi cados • Domingo, 18 de Agosto de 2019 • 27
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A 10 de Janeiro de 1944, e depois de um feroz combate aéreo sobre os céus de Ibiza, um
caça britânico abate um avião Junkers Ju 88 alemão junto à costa, fazendo com que se
despenhasse no mar. Os sobreviventes são salvos por um grupo de pescadores locais, e
o seu destino é desvendado nesta história baseada em factos reais. A obra foi ilustrada
pelo octogenário Juan Escandell, um dos raros veteranos da mítica editora Bruguera
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Todas as quintas, com o Público, os melhores da literatura vão juntar-se aos melhores da
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28 • Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019
Belenenses SAD 0
Benfica 2 Rafa 59’, Pizzi 90+2’
Positivo/Negativo
Estádio do Jamor, em Oeiras a, Belenenses SAD Ko i, Calila a90’, Gonçalo Silva, Kau a35’ (Faraj, 79’), Varela (Uche, 56’), Nuno Coelho, André Santos a68’, Matija Ljujic a65’, Lucca a4’, Licá a82’, Kikas a50’ (Vélez, 64’). Treinador Silas Benfica Vlachodimos, Nuno Tavares a40’, Ruben Dias, Ferro, Grimaldo, Florentino, Samaris, Pizzi (Taarabt, 90’), Rafa, Seferovic (Vinícius, 90’), Raul de Tomás (Chiquinho, 74’). Treinador Bruno Lage Árbitro Fábio Veríssimo (AF Leiria)
Rafa Início de época fulgurante. Explosivo no arranque, deixou sempre os rivais para trás e invadiu com facilidade o espaço entre linhas. Um golo, uma assistência e mais um par de lances de pura classe. Florentino Recuperou uma quantidade absurda de bolas, raramente cometendo falta. A capacidade de ler o jogo e o seu sentido posicional são invulgares. Koffi Seguro entre os postes, o guarda-redes burquinês também foi eficaz no jogo de pés. Evitou uma derrota por outros números. Raul de Tomás Um jogo muito infeliz nos momentos de definição e finalização. Trabalhou muito, mas isso não chega. Relvado Num estado lastimável, teve impacto, e não foi pouco, na qualidade do espectáculo.
DESPORTO
Os festejos que se seguiram ao primeiro golo do Benfica no Jamor
MÁRIO CRUZ/LUSA
Dique do Belenenses SAD cedeu à torrente do Ben ca
Há dias assim, em que (quase) nada
corre bem a uns e (quase) tudo corre
bem a outros. Num jogo praticamen-
te de sentido único, o Ben ca não
pôde contar com a e cácia dos dois
avançados, mas acabou por compen-
sar essa lacuna com o tremendo
acerto dos alas, que deram expres-
são no marcador a um domínio claro
sobre o Belenenses SAD (0-2). À
segunda jornada da Liga, os “encar-
nados” mantêm a liderança.
Foram duas ideias de jogo distintas
as apresentadas sobre um relvado
que não esteve à altura dos artistas
que o pisaram. Silas, que há muito
que já provou ser um estratego
capaz, optou por um sistema que
contemplava cinco defesas (um
5x4x1 em organização defensiva)
graças ao recuo de Nuno Coelho. A
ideia permitiu-lhe ganhar linhas de
passe na saída de bola e desmobilizar
a pressão em cunha que Seferovic e
Raul de Tomás normalmente exer-
cem — o espanhol passou a jogar uns
metros mais atrás, para evitar que a
bola entrasse nos médios.
Se do ponto de vista defensivo o
Belenenses SAD conseguiu manter
alguma solidez, ofensivamente mos-
trou sérias di culdades em entrar no
bloco do Ben ca, que fechava bem
por dentro e era rápido a apertar o
adversário quando a bola entrava no
lateral. De tal forma que a única real
ocasião que criou no primeiro tempo
surgiu na sequência de uma escorre-
gadela de Ruben Dias após uma soli-
citação de Kikas na profundidade: no
frente a frente com Vlachodimos, o
guarda-redes levou a melhor.
Antes, já tinham sido dados múlti-
plos sinais de que não seria a noite
de Raul de Tomás ou de Seferovic.
Aos 7’, Pizzi fez um passe a régua e
esquadro que o espanhol desperdi-
çou primeiro e o suíço a seguir; aos
17’, De Tomás cabeceou por cima
após passe de Rafa; aos 23’, tentou a
sorte de fora da área mas a bola saiu
ao lado do poste direito.
A ansiedade de fazer o primeiro
golo o cial pelo Ben ca também não
o ajudou num segundo tempo em
que a lucidez da tomada de decisão
passava a ter também o desgaste
como inimigo. Percebia-se que a
solução teria de ser outra e a via mais
directa para o sucesso acabaria por
ser Rafa. Imparável nas arrancadas
pelo corredor central (“custou” três
amarelos ao Belenenses SAD), o
extremo mostrou também os dentes
a recuperar bolas e nalizou com
uma precisão cirúrgica aos 58’.
O dique montado pelos an triões,
que até aí tinha aguentado a torrente
de futebol gerado pelo campeão
nacional, cedia e um novo jogo
começava. Silas ainda esperou para
ver qual a reacção do Belenenses
SAD, mas arriscou tudo aos 79’,
quando trocou o central Kau pelo
extremo Imad Faraj, transformando
o 5x4x1 num 4x4x2.
Numa falha individual de Nuno
Tavares, o argentino Nicolas Vélez
esteve perto de empatar (atirou ao
lado só com Vlachodimos pela fren-
te), mas seria o Ben ca a acabar com
as dúvidas. Já com Chiquinho em
campo, um jogador acima da média
quando se trata de de nir no último
terço, a bola voltou a entrar na baliza
de Ko aos 84’, mas foram necessá-
rios cinco minutos de conferência
das imagens para o golo de Seferovic
ser anulado, por fora-de-jogo.
Rafa, porém, não estava satisfeito
e tinha mais uma mudança para
engatar. Com a naturalidade de
quem “funciona” uma velocidade
acima dos outros, disparou pelo cor-
redor central aos 90+2’, libertou para
Pizzi na direita, no momento certo,
e o remate cruzado só parou no fun-
do das redes.
Com o trabalho de casa feito, dian-
te de um adversário de má memória
recente, o Ben ca pode agora cen-
trar atenções no clássico com um FC
Porto que tenta recuperar terreno.
REACÇÕES
“Conseguimos neutralizar a primeira parte do Benfica e, num erro nosso, sofremos o golo e já não conseguimos empatar”
“Fomos inteligentes a procurar o corredor e o espaço certo para chegarmos ao golo. Fico satisfeito com a vitória”
Nelson Santos Belenenses SAD
Bruno Lage Benfica
Crónica de jogoNuno Sousa
“Encarnados” dominaram e ganharam num estádio no qual tinham deixado car três pontos na temporada passada. Rafa esteve sempre uma velocidade acima de todos os outros
Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019 • 29
FC Porto 4 Zé Luís 11’, 20’ e 63’, Luis Díaz 64’
V. Setúbal 0
Positivo/Negativo
Estádio do Dragão, no Porto Espectadores 38.820 FC Porto Marchesín, Corona, Pepe, Marcano, Alex Telles, Romário Baró (Nakajima, 67’), Danilo, Matheus Uribe, Luis Díaz, Zé Luís (Fábio Silva, 78’), Marega (Soares, 72’). Treinador Sérgio Conceição V. Setúbal Makaridze, Mano a77’, Artur Jorge a45+1’, Bruno Pires, Sílvio, Hildeberto (Mansilla, 68’), Leandro Vilela (Carlinhos, 46’), Nuno Valente, Éber Bessa, Zequinha, Hachadi (Guedes, 78’). Treinador Sandro Mendes Árbitro Manuel Mota (AF Braga)
Zé Luís Estreou-se a marcar de azul no campeonato e logo com um hat-trick que dilacerou os setubalenses e lançou o FC Porto para uma noite de gala. Desbloqueou o jogo com uma bomba, bisou pouco depois em suspensão e fechou a contabilidade pessoal com novo golpe de cabeça, elevando-se e elevando o Dragão. Marchesín Numa noite genericamente tranquila, fez o que só está ao alcance de alguns, segurando a vantagem no primeiro susto frente a Hachadi, a quem voltou a negar a felicidade já com 4-0, desviando a recarga de Éber Bessa para a barra. Danilo Ainda não se libertou totalmente do estigma do estágio e continua a lutar para voltar ao que, em condições normais, consegue sem esforço. Um erro podia ter perturbado a equipa, mas Hachadi perdoou.
Inclemente, o FC Porto descarregou,
no regresso a casa para o campeona-
to, toda a sua ira num V. Setúbal (4-0)
que se revelou demasiado frágil para
causar mais danos aos “dragões”. A
uma semana do duelo com os cam-
peões nacionais e actuais líderes da
Liga, Sérgio Conceição não tinha
alternativa. Era preciso uma resposta
contundente, com os jogadores a
darem a cara e a alma no inadiável
reencontro com o futuro.
Depois de um arranque de época
verdadeiramente amargo, os “dra-
gões” dispensaram o menu de degus-
tação, tornando óbvio que não havia
tempo para cerimónias. Apenas uma
mensagem urgente para descodi car.
A operação-relâmpago, mesmo sem
elemento surpresa, aturdia um V.
Setúbal sem tempo nem espaço para
se organizar, preocupando-se apenas
Relâmpago Zé Luís iluminou a noite em que o FC Porto se reencontrou com o futuro
em suster o instinto e ferocidade por-
tistas. Com Corona a lateral direito e
Renzo Saravia na bancada, Sérgio
Conceição concedia a titularidade a
Matheus Uribe e ao jovem Romário
Baró. Na linha da frente, Zé Luís for-
mava com Marega uma dupla de
peso, preparada para funcionar como
um autêntico ariete.
A atmosfera do Dragão tornava-se
demasiado densa antes de car mes-
mo irrespirável para os sadinos, que,
antes de cederem o primeiro golo,
sentiram toda a fúria de uma equipa
de orgulho ferido.
Makaridze fez o que pôde, travan-
do por instinto o primeiro golpe do
avançado contratado ao Spartak,
postura que manteve até nal, sem
responsabilidades no que se seguiu.
O poste mostrou-se solidário e adiou
o inevitável, num livre directo de
Alex Telles, com recarga desastrada
de Marcano. Em oito minutos, os
“azuis e brancos” criavam lances de
perigo em catadupa.
O FC Porto caía positivamente em
cima do V. Setúbal e aos 11 minutos
conseguia o objectivo. Zé Luís bene-
ciava de uma sucessão de erros na
transição defensiva setubalense, recu-
perando a bola junto da baliza adver-
sária para desferir um remate impa-
rável. A vantagem não era, contudo,
su ciente para aplacar a fúria e o
“dragão” não aliviava o garrote. Mare-
ga mostrava estômago para continuar
o massacre, mas a cabeça não atinava
com a baliza. Depois de 15 minutos
sem tréguas, a descompressão pode-
ria trair os intentos portistas e uma
tremenda ga e de Danilo oferecia o
empate a Hachadi, mas, deslumbra-
do, o marroquino viu a grande opor-
tunidade vitoriana esfumar-se na
envergadura de Marchesín, mais uma
vez a justi car a contratação.
Tanto que logo Zé Luís tratou de
dissipar as nuvens do horizonte por-
tista, bisando de cabeça, num mergu-
lho com nota artística. O lance teve
que passar no crivo do VAR, que auto-
rizou a bola ao centro e o 2-0 ao inter-
valo. Antes, porém, Danilo tentara
redimir-se num remate fulminante,
imitando a meia-distância de Romá-
rio Baró, que Makaridze resolveu.
A segunda parte foi uma réplica da
primeira, com Zé Luís a consumar o
hat-trick (novamente de cabeça) e
Luis Díaz a fechar as contas no minu-
to imediato, após passe de Marega. O
V. Setúbal pouco podia fazer, até por-
que Marchesín não o permitiu.
Crónica de jogo Augusto Bernardino
“Dragão” intenso arranca goleada com direito a hat-trick do avançado ex-Spartak, mesmo a tempo da deslocação à Luz
JOSÉ COELHO/LUSA
Zé Luís já é um dos melhores marcadores da presente edição do campeonato
CLASSIFICAÇÃO
Jornada 2 Famalicão-Rio Ave 1-0 Moreirense-Gil Vicente 3-0 Belenenses SAD-Benfica 0-2 FC Porto-V. Setúbal 4-0 P. Ferreira-Santa Clara 16h* Desp. Aves-Marítimo 16h* V. Guimarães-Boavista 18h30* Sporting-Sp. Braga 21h* Tondela -Portimonense amanhã, 20h15* *SportTV
Jornada 2 Ac. Viseu-Académica 0-0 Oliveirense-Sp. Covilhã 0-2 Desp. Chaves-Mafra 2-1 Casa Pia-Penafiel 1-2 Estoril-Farense 11h15* FC Porto B-Varzim 16h** Leixões-Nacional 16h Cova da Piedade-Feirense 16h Vilafranquense-Benfica B 18h15 *SportTV **Porto Canal
J V E D M-S P
J V E D M-S P
1.º Benfica 2 2 0 0 7-0 6 2.º Famalicão 2 2 0 0 3-0 6 3.º FC Porto 2 1 0 1 5-2 3 4.º Sp. Braga 1 1 0 0 3-1 3 5.º Moreirense 2 1 0 1 4-3 3 6.º Boavista 1 1 0 0 2-1 3 7.º Gil Vicente 2 1 0 1 2-4 3 8.º Marítimo 1 0 1 0 1-1 1 9.º Sporting 1 0 1 0 1-1 1 10.º Portimonense 1 0 1 0 0-0 1 11.º Tondela 1 0 1 0 0-0 1 12.º Belenenses SAD 2 0 1 1 0-2 1 13.º V. Setúbal 2 0 1 1 0-4 1 14.º V. Guimarães 0 0 0 0 0-0 0 15.º Rio Ave 1 0 0 1 0-1 0 16.º Desp. Aves 1 0 0 1 1-2 0 17.º Santa Clara 1 0 0 1 0-2 0 18.º P. Ferreira 1 0 0 1 0-5 0
1.º Sp. Covilhã 2 2 0 0 4-0 6 2.º Ac. Viseu 2 1 1 0 2-0 4 3.º Académica 2 1 1 0 3-2 4 4.º Nacional 1 1 0 0 3-0 3 5.º Farense 1 1 0 0 3-1 3 6.º Feirense 1 1 0 0 2-0 3 7.º Benfica B 1 1 0 0 2-1 3 8.º Mafra 2 1 0 1 4-4 3 9.º Penafiel 2 1 0 1 2-3 3 10.º Desp. Chaves 2 1 0 1 2-4 3 11.º Varzim 1 0 1 0 0-0 1 12.º Oliveirense 2 0 1 1 0-2 1 13.º Cova da Piedade 1 0 0 1 2-3 0 14.º Leixões 1 0 0 1 2-3 0 15.º Estoril 1 0 0 1 1-2 0 16.º FC Porto B 1 0 0 1 0-2 0 17.º Vilafranquense 1 0 0 1 0-2 0 18.º Casa Pia 2 0 0 2 2-5 0
Próxima jornada V. Setúbal-Moreirense, Rio Ave-Desp. Aves, Boavista-Paços Ferreira, Benfica-FC Porto, Santa Clara-Belenenses SAD, Marítimo-Tondela, Portimonense-Sporting, Gil Vicente-Sp. Braga, V. Guimarães-Famalicão
Próxima jornada Benfica B-Oliveirense, Académica-Desp. Chaves, Feirense-Ac. Viseu, Sp. Covilhã-Vilafranquense, Penafiel-Cova Piedade, Farense-FC Porto B, Nacional-Mafra, Casa Pia-Estoril, Varzim-Leixões
I Liga 3 golos Pizzi (Benfica) e Zé Luís (FC Porto)
MELHORES MARCADORES
I LIGA
II LIGA
DESPORTO
30 • Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019
DESPORTO
Sem marcas da derrota de Braga e
nada impressionado com o feito
gilista (num auspicioso regresso à
elite, com triunfo sobre o FC Porto
na estreia da Liga), o Moreirense
bateu, sem apelo nem agravo, na 2.ª
jornada, um Gil Vicente chamado à
realidade do campeonato (3-0).
Os três golos dos vimaranenses,
por Fábio Abreu (8’), Bilel (22’) e
Luther Singh (72’), não traduzem,
ainda assim, a superioridade da
equipa de Moreira de Cónegos, que
só na primeira parte criou seis oca-
siões agrantes para marcar.
Os gilistas, pelo brasileiro Lou-
rency — autor do primeiro golo fren-
te aos “dragões” — até prometeram,
tendo construído a primeira grande
situação de golo do jogo, aos 4’,
após arrancada do extremo, que
cruzou para Sandro Lima, com Pasi-
nato rápido a defender. Depois, foi
o descalabro defensivo, com erros
comprometedores que o Moreiren-
se capitalizou, antes de passar a
gerir a vantagem.
Moreirense desperta gilistas para a realidade
Futebol
“Cónegos” vingaram derrota da primeira ronda, em Braga, goleando a equipa sensação por números generosos
Moreirense 3 Fábio Abreu 8’, Bilel 22’, Luther Sing 72’
Gil Vicente 0
Parque Desp. Comendador Joaquim Almeida Freitas, Moreira de Cónegos Espectadores 1792 Moreirense Pasinato, João Aurélio, Iago Santos, Steven Vitória, Djavan, Bilel, Fábio Pacheco, Alex Soares, Filipe Soares (Luther Sing, 68’), Fábio Abreu (Nenê, 86’), Pedro Nuno (Luiz Henrique, 84’). Treinador Vítor Campelos Gil Vicente Denis, Kellyton a7’ (Edwin, 46’), Rodrigo a88’, Rúben Fernandes, Arthur Henrique (Zakaria Naidji, 46’), João Afonso, Soares a82’, Kraev (Samuel, 77’), Erick, Sandro Lima, Lourency. Treinador Vítor Oliveira Árbitro Manuel Oliveira (AF Porto)
HUGO DELGADO/LUSA
Bas Dost apontou 93 golos em 127 jogos ao serviço do Sporting
Marcel Keizer não foi a tempo de
“encerrar a janela” de transferências
e perdeu mesmo a principal referên-
cia atacante do Sporting, na véspera
da recepção ao Sp. Braga (21,
SportTV). Con rmadas as suspeitas
crescentes em torno do futuro do
holandês, é agora o cial que Bas
Dost já não fará parte do grupo, pelo
que não foi convocado pelo treina-
dor para o primeiro jogo do campeo-
nato em Alvalade, numa fase delica-
da, em que os “leões” ainda procu-
ram a primeira vitória o cial.
A saída do ponta-de-lança — que se
antevia iminente, sobretudo pela
necessidade de aliviar a folha salarial
e encaixar uma verba importante —
foi, de resto, tema principal na con-
ferência de Marcel Keizer, antes do
anúncio o cial do Sporting, a dar
conta do acordo com a equipa ale-
mã, na qual actua o português Gon-
çalo Paciência e que esta época per-
deu Luka Jovic, para o Real Madrid.
Bas Dost ruma a Frankfurt e Keizer procura equilíbrios
Ainda que de forma discreta, Kei-
zer mostrou-se conformado, admi-
tindo que até ao encerrar da janela
de transferências tudo era possível,
mesmo que não tivesse escondido o
desejo de manter toda a gente, pelo
que se dependesse do treinador
holandês, o “mercado” fechava ime-
diatamente. Keizer previa, de certa
forma, este desfecho, pelo que sub-
linhou a necessidade de equilibrar a
equipa, que hoje enfrenta um adver-
sário incómodo. Depois da falsa par-
tida frente ao Marítimo, a sublinhar
uma pré-época atípica, sem qual-
quer vitória, ao Sporting de Marcel
Keizer — mesmo sem Bas Dost — não
restam alternativas que não passem
pela vitória na recepção ao Sp. Bra-
ga. O treinador elogiou a formação
bracarense, agora sob o comando
técnico de Sá Pinto, e pediu equilí-
brio aos jogadores.
Na Academia de Alcochete, em
conferência de imprensa de antevi-
são do jogo no Estádio José Alvalade,
Keizer assumia, então, viver na
expectativa. “Bas Dost treinou-se
durante toda a semana. Neste
momento está cá. Veremos o que
acontecerá nos próximos dias”, refe-
riu, recebendo a resposta poucas
horas depois.
“Não queremos perder nenhum
jogador, mas temos de esperar. Pre-
feria que a janela de mercado já esti-
vesse encerrada, pois precisamos de
todos os jogadores do plantel”, pros-
seguia, ainda sem quaisquer garan-
tias da administração. Marcel Keizer
refugiava-se na competição e na obri-
gatoriedade de somar o primeiro
triunfo na I LIga, depois do empate
com o Marítimo (1-1), no Funchal.
“Estou focado neste jogo e na vitó-
ria. Encaro sempre os desa os com
pensamento positivo, para poder
melhorar o rendimento da equipa.
Por isso, estou con ante num bom
jogo”, reagiu perante a possibilidade
de vir a ter o lugar em risco, poten-
ciada pela prolongada ausência de
vitórias. O técnico optou, então, por
falar do Sp. Braga e das diferenças de
estilos de Abel Ferreira e Sá Pinto. “O
Sp. Braga está muito bem, com um
novo treinador e um novo estilo, que
tem produzido bons resultados e
exibições, com uma boa dinâmica do
meio-campo”, descreveu.
Numa semana em que garantiram
a quali cação para o play-o da Liga
Europa, voltando a vencer o
Brondby, os minhotos deslocam-se
a Alvalade com uma ausência força-
da: João Palhinha, emprestado pelos
“leões”, não poderá alinhar, pelo
que Ricardo Sá Pinto deverá recolo-
car o brasileiro Claudemir na zona
mais recuada do meio-campo.
Avançado tem princípio de acordo para sair para o Eintracht e complica vida do técnico do Sporting, que hoje recebe o Sp. Braga
Futebol Augusto Bernardino
Breves
Basquetebol
Ciclismo
Portugal perde na Islândia e fica fora do Europeu de 2021
Rui Costa foi segundo na última etapa da Volta a Burgos
A selecção portuguesa de basquetebol ficou ontem sem hipótese de ultrapassar a fase de pré-qualificação para o Europeu de 2021, ao perder por 96-68 na visita à Islândia. Em jogo do Grupo H da terceira ronda, os lusos já perdiam ao intervalo por 44-30 e, quando apenas falta disputar o Suíça-Islândia, só os nórdicos e os helvéticos podem chegar ao primeiro lugar, devido à diferença entre pontos marcados e sofridos. Portugal lidera o grupo com seis pontos, mas tem uma diferença entre pontos marcados e sofridos de 16 negativos, enquanto a Islândia, com cinco, tem 28 positivos, e a Suíça, com quatro, tem 12 negativos.
O ciclista Rui Costa (UAE-Emirates) foi segundo classificado na quinta e última etapa da Volta a Burgos, em Espanha, prova vencida pelo colombiano Ivan Sosa (INEOS), que conquistou o troféu. Na derradeira tirada, Sosa cumpriu os 146km entre Santo Domingo de Silos e Lagunas de Leina em 3h33m53s, batendo Rui Costa por oito segundos e o eritreu Amanuel Ghebreigzabhier (Dimension Data), que liderava um quarteto, por 14 segundos. Ivan Sosa terminou a competição com 31 segundos de avanço sobre o espanhol Óscar Rodríguez (Euskadi) e 42 sobre o equatoriano Óscar Carapaz (Movistar). Rui Costa assumiu-se como o melhor português, em 10.º lugar, a 2m05s do vencedor.
Público • Domingo, 18 de Agosto de 2019 • 31
Este início de Liga não é para campeões
PHIL NOBLE/REUTERS
Kevin de Bruyne esteve na génese dos dois golos do Manchester City, diante do Tottenham
Barcelona, Bayern Munique e agora
Manchester City, nenhum deles está,
até ver, na frente da competição que
conquistou na época passada. Por
demérito próprio, mas também por
mérito dos rivais mais directos, que
estão a dar uma resposta positiva
neste arranque de temporada.
A 2.ª jornada da Premier League
trouxe um embate de gigantes. Em
Manchester, o City, detentor do títu-
lo, mediu forças com o Tottenham,
nalista da Liga dos Campeões. O
guião não foi muito diferente do de
tantos outros jogos com Pep Guar-
diola no banco, com os “citizens” a
terem quase o monopólio da posse
de bola (73% contra 27%), mas o des-
fecho acabou por ser um empate.
Bernardo Silva foi uma vez mais
titular, mas seria Kevin de Bruyne a
desenhar os melhores momentos da
primeira parte, assistindo para o golo
de Sterling (20’) e repetindo a dose
para a nalização de Kun Aguero
(35’), com um cruzamento da direita.
Pelo meio, os “spurs” tinham reduzi-
do na sequência de uma excelente
acção individual de Lamela (23’) e
chegariam mesmo à igualdade já no
segundo tempo. Aos 56’, Lucas Mou-
ra saltou mais do que a concorrência
e desviou de cabeça para a baliza,
após um pontapé de canto.
Insatisfeito com resultado, bem
mais do que o Tottenham, o Man-
chester City forçou o triunfo até nal
e chegou mesmo ao golo no tempo
de compensação. Não valeria,
porém. Após o visionamento das
imagens, o árbitro aplicou uma das
novas leis de jogo depois de ter des-
cortinado um toque do braço de
Laporte na bola, antes de Gabriel
rematar para o 3-2.
Quem esfregou as mãos com este
desfecho foram o Liverpool e o Arse-
nal, que comandam a tabela. Os
“reds” sofreram, mas ganharam no
terreno do Southampton (1-2), onde
se colocaram em vantagem graças
aos golos de Sadio Mané (45+1’) e
Roberto Firmino (71’). Na recta nal,
o guarda-redes Adrián, decisivo na
Supertaça europeia, colocou a bola
Vigo, os “merengues” impuseram-se
por 1-3 e instalaram-se no topo da
classi cação, tirando também partido
da derrota do Barcelona na véspera.
Gareth Bale, que tem sido sucessi-
vamente dado como transferível para
Zinedine Zidane, foi lançado no
“onze” inicial, mas seria Benzema a
inaugurar o marcador, aos 12’. Já per-
to do intervalo, o Celta conseguiria
introduzir a bola na baliza de Cour-
tois, depois de dois erros consecuti-
vos de Odriozola, mas o golo acabou
por ser anulado por fora-de-jogo.
Aos 56’, Modric teve uma entrada
imprudente sobre Denis Suárez e viu
o cartão vermelho directo, tornando
mais difícil a vida ao Real. Mas a ver-
dade é que, pouco depois, Toni Kroos
assinou o momento do jogo e fez o 2-1,
com um remate teleguiado, de fora
da área, que deixou os “merengues”
mais confortáveis no marcador.
Com o Celta a estender-se mais no
terreno, o Real ainda voltou a marcar
(80’), por Lucas Vázquez (lançado no
jogo a meio da segunda parte), sendo
que o melhor que a formação de Vigo
conseguiu foi reduzir a diferença aos
90’, por Iker Losada.
“Bis” de Alcácer e goleada Algo de semelhante aconteceu na
Alemanha, onde o candidato Borus-
sia Dortmund também soube apro-
veitar o deslize do campeão. Sem o
português Raphael Guerreiro, lesio-
nado, a equipa orientada por Lucien
Favre entrou em cena com uma
goleada ao Augsburgo (5-1), que dá
seguimento ao triunfo obtido sobre
o Bayern Munique na Supertaça.
No Signal Iduna Park, o Borussia
até começou a perder, graças a um
golo de Niederlechner no primeiro
minuto, mas Paco Alcácer, que bisou
na partida, igualou quase de imedia-
to, aos 3’. Na segunda parte, o avan-
çado espanhol, que foi decisivo em
muitos dos jogos na época passada,
voltaria a marcar (4-1, aos 59’), já
depois de Jadon Sancho (51’) e Marco
Reus (57’) terem ampliado a vanta-
gem. Já com o adversário KO, Julian
Brandt, o talentoso reforço prove-
niente do Bayer Leverkusen, fechou
a contagem aos 82’.
Manchester City viu o golo que seria do triunfo sobre o Tottenham ser anulado já na compensação. Real Madrid superou todos os obstáculos em Vigo, e Borussia continua a carburar, agora no campeonato
Futebol internacional Nuno Sousa
CLASSIFICAÇÃO
Jornada 2 Arsenal-Burnley 2-1 Aston Villa-Bournemouth 1-2 Brighton-West Ham 1-1 Everton-Watford 1-0 Norwich-Newcastle 3-1 Southampton-Liverpool 1-2 Manchester City-Tottenham 2-2 Sheffield United-Crystal Palace 14h Chelsea-Leicester 16h30 Wolverhampton-Man. United amanhã, 20h
Jornada 2 Lyon-Angers 6-0 Nantes-Marselha 0-0 Bordéus-Montpellier 1-1 Metz-Mónaco 3-0 Toulouse-Dijon 1-0 Nimes-Nice 1-2 Amiens-Lille 1-0 Saint-Étienne-Brest 14h Reims-Strasbourg 16h Rennes-Paris Saint-Germain 20h
J V E D M-S P 1. Liverpool 2 2 0 0 6-2 6 2. Arsenal 2 2 0 0 3-1 6 3. Manchester City 2 1 1 0 7-2 4 4. Brighton 2 1 1 0 4-3 4 5. Tottenham 2 1 1 0 5-3 4 6. Bournemouth 2 1 1 0 3-2 4 7. Everton 2 1 1 0 1-0 4 8. Manchester United 1 1 0 0 4-0 3 9. Burnley 2 1 0 1 4-2 3 10. Norwich City 2 1 0 1 4-5 3 11. Sheffield United 1 0 1 0 1-1 1 12. Crystal Palace 1 0 1 0 0-0 1 12. Leicester City 1 0 1 0 0-0 1 12. Wolverhampton 1 0 1 0 0-0 1 15. West Ham 2 0 1 1 1-6 1 16. Aston Villa 2 0 0 2 2-5 0 17. Newcastle United 2 0 0 2 1-4 0 18. Southampton 2 0 0 2 1-5 0 19. Chelsea 1 0 0 1 0-4 0 19. Watford 2 0 0 2 0-4 0
J V E D M-S P 1. Lyon 2 2 0 0 9-0 6 2. Nice 2 2 0 0 4-2 6 3. Metz 2 1 1 0 4-1 4 4. Toulouse 2 1 1 0 2-1 4 5. Paris Saint-Germain 1 1 0 0 3-3 3 6. Reims 1 1 0 0 2-0 3 7. Saint-Étienne 1 1 0 0 2-1 3 7. Rennes 1 1 0 0 1-0 3 9. Amiens 2 1 0 1 2-2 3 10. Lille 2 1 0 1 2-2 3 11. Angers 2 1 0 1 3-7 3 12. Estrasburgo 1 0 1 0 1-1 1 12. Brest 1 0 1 0 1-1 1 14. Nantes 2 0 1 1 1-2 1 14. Montpellier 2 0 1 1 1-2 1 16. Bordéus 2 0 1 1 2-4 1 16. Marselha 2 0 1 1 0-2 1 18. Dijon 2 0 0 2 1-3 0 19. Nimes 2 0 0 2 1-5 0 20. Mónaco 2 0 0 2 0-6 0
INGLATERRA FRANÇA
nos pés de Ings, que ainda reduziu
(83’) e injectou uma dose inesperada
de incerteza no resultado. Mas o
campeão europeu segurou mesmo
um triunfo idêntico ao alcançado
pelos “gunners” (2-1), pouco antes.
Em Londres, e com o reforço David
Luiz já a titular no eixo da defesa, o
Arsenal chegou ao 1-0 frente ao Burn-
ley através de Lacazette (13’), com
Ashley Barnes a empatar em cima do
intervalo (43’). Coube ao outro avan-
çado dos an triões, o incontornável
Aubameyang, resolver a partida, num
grande lance individual que nasceu
de uma recuperação alta de Dani
Ceballos (64’) e assegurou o segundo
triunfo em dois jogos a Unai Emery.
Modric expulso O Real Madrid contrariou as perspec-
tivas mais pessimistas, geradas por
uma pré-temporada que esteve longe
de convencer, e entrou na Liga espa-
nhola 2019-20 com uma vitória. Em
DESPORTO
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Domingo, 18 de Agosto de 2019
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Jornalista
A ESQUINA DO MUNDO
O tempo de aprender com as crises
Na tarde de sábado, no
momento em que escrevo,
não era ainda possível dar
por de nitivamente
terminada a greve que há
mais tempo e com maior
intensidade perturbou o país. Mas
os sinais pareciam claros: o
isolamento do sindicato dos
motoristas de matérias perigosas
que liderou o movimento chegara
a um ponto-limite e as suas
energias estariam à beira do
esgotamento. Apesar de todo o
talento histriónico do verdadeiro
líder da greve, o advogado Pardal
Henriques — um fenómeno
inteiramente novo no mundo
sindical, político e mediático
português —, seria absolutamente
improvável que ele, mesmo
acompanhado pela devoção cega
dos seus éis, conseguisse inverter
o equilíbrio de forças em
confronto, quando os dois outros
sindicatos de motoristas já tinham
entrado em acordo com os patrões
e, sobretudo, o Governo
mobilizara uma task-force
ministerial sem precedentes para
enfrentar o desa o.
Dito isto e aprendidas as
necessárias lições, o fenómeno
Pardal Henriques — ou outros da
mesma extracção — terá terreno
para prosperar? O mundo
sindical e político estará
acantonado às fronteiras actuais
— mesmo com adaptações,
variações e radicalismos de
expressão restrita — ou, pelo
contrário, será possível antever
algumas alterações estruturais e
novos protagonismos? Estaremos
de facto imunes aos movimentos
de natureza populista que se têm
espalhado através da Europa?
Não haverá por aí um Salvini (não
um caricatural André Ventura) à
espreita?
O que esta crise pôs a nu foi,
entre outras coisas, um conjunto
de realidades que insistimos em
desvalorizar ou desconhecer no
mundo do trabalho, fora das
fronteiras a que estamos
habituados (quem diria, à
partida, que umas centenas de
camionistas seriam su cientes
para paralisar o país?). A situação
desses motoristas re ecte, num
sector mais sensível e com
impacto maior no nosso
quotidiano, outros tantos casos
de estatuto precário, horários de
trabalho excessivos, ordenados
baixos e falta de garantias para a
reforma. Ora, precisamente,
estas questões acabaram por ser
desvalorizadas no contexto da
discussão sobre a greve e não
parecem ter tocado
especialmente a sensibilidade
governamental, favorecendo até
a suspeita de uma cumplicidade
com o patronato que, através do
seu principal porta-voz, foi
multiplicando as manifestações de
arrogância.
O Governo foi e cazmente
reactivo nas medidas que tomou
para minimizar os efeitos da greve
e não perder o controlo da
situação. Ora, onde o Governo
falha é na sua capacidade de ser
pró-activo, de desenhar o mapa
dos problemas do país para poder
intervir oportunamente e não
apenas quando é ultrapassado
pelos acontecimentos. A
visibilidade da task-force
mobilizada para enfrentar a greve
contrasta com a habitual apatia
burocrática da máquina
governamental. Precisamos de
uma task-force para prevenir, e
não só para remediar. E para
evitar que o mundo laboral —
exceptuando porventura a função
pública — continue em grande
parte marginalizado nos seus
direitos essenciais. Eis, em suma,
uma das matérias essenciais em
que o Governo deveria ser
claramente pró-activo, impedindo
que a marginalização de tantos
sectores do trabalho nos torne
reféns de uma repetição de crises
sem m.
NELSON GARRIDO
Precisamos de uma task-force para evitar que o mundo laboral continue em grande parte marginalizado nos seus direitos essenciais
Vicente Jorge Silva
BARTOON LUÍS AFONSO
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