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(/sites/default/files/gn/12/12/foto20carr-101-ferias-d1.jpg)Accio Queiroz,64, CEO da Chubb Seguros, passou a tirar frias regulares h sete anos. "Quando saio, meu tempo da famlia"
20/12/2012 - 00:00
Frias para descansar de verdade
Por Adriana Fonseca
No mercado de trabalho desde os 11 anos de idade, Accio Queiroz, hoje com 64, consegue tirar frias
regulares h apenas sete anos. Mesmo ocupando o cargo de CEO da Chubb Seguros do Brasil, ele no abre
mo de v iajar por alguns dias para "sair do furaco" e descansar.
"Comecei muito cedo e percorri uma longa carreira. A gente acaba ficando fantico por trabalhar", conta o
executivo, explicando uma das razes pelas quais no aproveitava as frias. Para ele, entre os membros da
sua gerao, a dos "baby boomers", era comum dedicar praticamente toda a v ida ao emprego. "Tive que
reaprender a importncia de ter mais equilbrio na v ida", diz Queiroz.
Desde que comeou a tirar frias, o executivo procura descansar os 30 dias a que tem direito - ainda que
div ididos, caso seja necessrio. "No vendo frias", afirma. Em sua ltima v iagem de lazer, ele passou cerca
de um ms na Europa com a mulher. Para janeiro, est planejando ficar 20 dias em uma praia aqui mesmo no
Brasil.
Executivos como Queiroz ainda so maioria, mas o nmero de profissionais que usufruem efetivamente de
um perodo de descanso vem diminuindo. Uma pesquisa da filial brasileira da International Stress
Management Association (Isma-BR) mostra que, em 2005, 28% dos executivos brasileiros no tiravam frias
regularmente. O dado mais atualizado j indica uma porcentagem superior: 32%.
Emendar um projeto no outro e no fazer uma pausa, no entanto, pode ter consequncias tanto para a sade
do executivo quanto para os negcios. Sem frias, o estresse aumenta e, do lado pessoal, crescem as chances
de adoecimento. Nesses casos, os sintomas mais comuns, segundo pesquisas da Isma-BR, so dores
musculares, de cabea e problemas estomacais. Sem contar que a ansiedade tambm se intensifica e, com
ela, surge a frustrao, que acaba levando algumas pessoas a fazerem uso mais frequente de medicamentos e
lcool.
Segundo Ana Maria Rossi, presidente da Isma-BR, a falta de frias aumenta o desgaste do dia a dia
corporativo, diminuiu a criativ idade e a produtiv idade, alm de prejudicar a destreza mental para a tomada
de decises. "Com o acmulo de trabalho, o executivo fica cronicamente estressado. Isso faz com que o
corpo produza mais hormnios como cortisol e adrenalina, que limitam a agilidade mental", diz Ana Maria.
"s vezes, chega-se a um ponto de exausto", afirma.
Queiroz, da Chubb, garante que, desde que comeou a tirar frias regularmente, est mais equilibrado
emocionalmente. Ele diz ser, hoje, uma pessoa mais compreensiva tanto no trabalho quanto na v ida pessoal.
"Aps tirar frias, tenho condies melhores de controlar meus impulsos. Isso ajuda a sair na frente em
qualquer discusso de negcio", afirma Queiroz. Na v ida pessoal, ele tambm sentiu o impacto do descanso
fsico e mental. "Tenho 40 anos de casado e, agora, um pouco mais de cinco de namoro", brinca. "Quando saio
de frias, um tempo que tenho apenas para mim, minha mulher e a famlia."
No caso de Queiroz, no foi um marco, um problema grave de sade, por exemplo, que lhe abriu os olhos
para a necessidade de tirar frias regulares. Foi a percepo de que precisava "ser um lder mais moderno" e
aprender a delegar. Para conseguir o perodo de descanso, o executivo teve de aceitar que outras pessoas na
empresa podem fazer o seu trabalho, desde que sejam preparadas para isso. "Voc vai percebendo que no
o centro do universo. Antes, eu interferia nas tarefas at da minha assistente", diz.
Ao sair de frias, Queiroz desliga o telefone celular, mas nem por isso fica incomunicvel. Em sua opinio,
um CEO no pode ficar totalmente "fora do ar". Assim, o executivo costuma deixar o telefone do hotel onde
estar hospedado - e o de sua esposa - com a assistente. A orientao, porm, procur-lo apenas quando
isso for realmente necessrio. "Nas ltimas frias, no fui incomodado", garante.
O mtodo adotado por Queiroz correto, segundo Ana Maria, da Isma-BR. Para ela, no so necessrios 30
dias de frias para que um executivo consiga realmente descansar e "recarregar as baterias", como diz. O
mais importante se desconectar, mesmo que por poucos dias. "Se difcil para um executivo ficar fora por
um ms, ele deve tentar tirar frias curtas, mas regulares", afirma.
Um estudo da professora da PUC de Minas Gerais Betania Tanure, com mais de mil executivos das 500
maiores empresas do pas, mostra que essa mesmo a realidade da maioria dos executivos brasileiros. Entre
os cerca de 7 0% que conseguem tirar frias regularmente, nove em cada dez nunca tiram 30 dias corridos.
"H momentos na empresa em que mesmo difcil o profissional se afastar", diz.
Mas, segundo ela, a verdade que muitos se acham insubstituveis e acabam no formando uma equipe que
possa tomar decises na ausncia deles. "Colocar a presso apenas no mercado pelo fato de no poder tirar
frias terceirizar o problema", afirma Betania.
Ela diz que essa percepo de no poder se ausentar do trabalho sempre existiu, mas foi acentuada nos
ltimos tempos principalmente por conta da competitiv idade e do ritmo exacerbado das coisas. Estudos
feitos pela Isma-BR e tambm pela professora Betania tentaram identificar as causas pelas quais os
executivos no saem de frias.
Entre as maiores razes foram citados o receio de que decises importantes sejam tomadas na ausncia
deles, a possibilidade de haver mudanas na empresa enquanto esto fora, a insegurana de que sero
substitudos e o fato de no gostarem de tirar frias - especialmente por no saberem o que fazer com o
tempo livre e por no se sentirem confortveis com a presena mais intensa dos familiares.
"No chega a surpreender", diz Ana Maria. De acordo com ela, o atual ritmo de trabalho leva muitas pessoas a
se distanciarem de seus companheiros e filhos. Portanto, quando surge a oportunidade de passar mais tempo
com eles, acabam no sabendo como agir. "No sair de frias acaba sendo uma fuga dessa situao", analisa.
No comando da Even Construtora e Incorporadora, Carlos Terepins mais um exemplo de presidente de
empresa que consegue se desligar por alguns dias. Ele conta que, ao longo da carreira, sempre preferiu tirar
frias mais curtas. Por isso, duas ou trs vezes por ano pega dez dias para descansar. "A companhia tocada
perfeitamente na minha ausncia", diz.
O segredo para que isso acontea programar as frias com antecedncia e ter uma equipe de diretores
capacitados para cobrir sua ausncia. "Mesmo quando estou presente na empresa, os diretores j respondem
cada um por sua rea. Na minha ausncia, seguem deliberando dessa forma e tm autonomia para decidir",
afirma.
As ltimas frias de Terepins foram em setembro, quando v iajou com sua mulher. Agora, neste fim de ano,
vai emendar mais cerca de dez dias. Durante as frias, o executivo admite que acaba checando seus e-mails -
"a menos que no haja disponibilidade de sinal" -, mas diz que faz isso apenas uma vez ao dia, para no
atrapalhar o descanso. Ana Maria, da Isma-BR, diz que o ideal mesmo no ficar conectado o tempo todo. "
preciso se afastar mentalmente, e no s fisicamente", ressalta.
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