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Quatro Textos e um Roteiro
Cosmogonia Experimento n 1
Sobre Ventos nas Fronteiras
Transex
Kaspar ou a Triste Histria doPequeno Rei do Infinito Arrancado
de sua Casca de NozO Vento nas Janelas
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Quatro Textos e um Roteiro
Cosmogonia Experimento n 1
Sobre Ventos nas Fronteiras
Transex
Kaspar ou a Triste Histria doPequeno Rei do Infinito Arrancado
de sua Casca de NozO Vento nas Janelas
Rodolfo Garca Vzquez
So Paulo, 2010
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Coleo Aplauso
Coordenador-Geral Rubens Ewald Filho
Governador Alberto Goldman
Imprensa Oficial do Estado de So Paulo
Diretor-presidente Hubert Alqures
GOVERNO DO ESTADODE SO PAULO
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No Passado Est a Histria do Futuro
A Imprensa Oficial muito tem contribudo coma sociedade no papel que lhe cabe: a democra-tizao de conhecimento por meio da leitura.
A Coleo Aplauso, lanada em 2004, um
exemplo bem-sucedido desse intento. Os temasnela abordados, como biografias de atores, di-retores e dramaturgos, so garantia de que umfragmento da memria cultural do pas ser pre-servado. Por meio de conversas informais com
jornalistas, a histria dos artistas transcrita emprimeira pessoa, o que confere grande fluidez
ao texto, conquistando mais e mais leitores.Assim, muitas dessas figuras que tiveram impor-tncia fundamental para as artes cnicas brasilei-ras tm sido resgatadas do esquecimento. Mesmoo nome daqueles que j partiram so frequente-mente evocados pela voz de seus companheiros
de palco ou de seus bigrafos. Ou seja, nessashistrias que se cruzam, verdadeiros mitos soredescobertos e imortalizados.
E no s o pblico tem reconhecido a impor-tncia e a qualidade da Aplauso. Em 2008, aColeo foi laureada com o mais importanteprmio da rea editorial do Brasil: o Jabuti.
Concedido pela Cmara Brasileira do Livro (CBL),a edio especial sobre Raul Cortez ganhou nacategoria biografia.
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Mas o que comeou modestamente tomou vultoe novos temas passaram a integrar a Coleo
ao longo desses anos. Hoje, a Aplauso incluiinmeros outros temas correlatos como a his-tria das pioneiras TVs brasileiras, companhiasde dana, roteiros de filmes, peas de teatro euma parte dedicada msica, com biografias decompositores, cantores, maestros, etc.
Para o final deste ano de 2010, est previsto olanamento de 80 ttulos, que se juntaro aos220 j lanados at aqui. Destes, a maioria foidisponibilizada em acervo digital que podeser acessado pela internet gratuitamente. Semdvida, essa ao constitui grande passo paradifuso da nossa cultura entre estudantes, pes-
quisadores e leitores simplesmente interessadosnas histrias.
Com tudo isso, a Coleo Aplauso passa a fazerparte ela prpria de uma histria na qual perso-nagens ficcionais se misturam daqueles que oscriaram, e que por sua vez compe algumas p-
ginas de outra muito maior: a histria do Brasil.Boa leitura.
Alberto GoldmanGovernador do Estado de So Paulo
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Coleo Aplauso
O que lembro, tenho.Guimares Rosa
A Coleo Aplauso, concebida pela ImprensaOficial, visa resgatar a memria da culturanacional, biografando atores, atrizes e diretoresque compem a cena brasileira nas reas de
cinema, teatro e televiso. Foram selecionadosescritores com largo currculo em jornalismocultural para esse trabalho em que a histria cnicae audiovisual brasileiras vem sendo reconstitudade maneira singular. Em entrevistas e encontrossucessivos estreita-se o contato entre bigrafos ebiografados. Arquivos de documentos e imagensso pesquisados, e o universo que se recons-titui a partir do cotidiano e do fazer dessaspersonalidades permite reconstruir sua trajetria.
A deciso sobre o depoimento de cada um na pri-meira pessoa mantm o aspecto de tradio oral
dos relatos, tornando o texto coloquial, comose o biografado falasse diretamente ao leitor.
Um aspecto importante da Coleo que os resul-tados obtidos ultrapassam simples registros bio-grficos, revelando ao leitor facetas que tambmcaracterizam o artista e seu ofcio. Bigrafo e bio-
grafado se colocaram em reflexes que se esten-deram sobre a formao intelectual e ideolgicado artista, contextualizada na histria brasileira.
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So inmeros os artistas a apontar o importantepapel que tiveram os livros e a leitura em suavida, deixando transparecer a firmeza do pen-samento crtico ou denunciando preconceitosseculares que atrasaram e continuam atrasandonosso pas. Muitos mostraram a importncia paraa sua formao terem atuado tanto no teatroquanto no cinema e na televiso, adquirindo,
linguagens diferenciadas analisando-as comsuas particularidades.
Muitos ttulos exploram o universo ntimo epsicolgico do artista, revelando as circunstnciasque o conduziram arte, como se abrigasseem si mesmo desde sempre, a complexidade
dos personagens.So livros que, alm de atrair o grande pblico,interessaro igualmente aos estudiosos das artescnicas, pois na Coleo Aplauso foi discutidoo processo de criao que concerne ao teatro,ao cinema e televiso. Foram abordadas a
construo dos personagens, a anlise, a histria,a importncia e a atualidade de alguns deles.Tambm foram examinados o relacionamento dosartistas com seus pares e diretores, os processos eas possibilidades de correo de erros no exercciodo teatro e do cinema, a diferena entre essesveculos e a expresso de suas linguagens.
Se algum fator especfico conduziu ao sucessoda Coleo Aplauso e merece ser destacado ,
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o interesse do leitor brasileiro em conhecer opercurso cultural de seu pas.
Imprensa Oficial e sua equipe coube reunir umbom time de jornalistas, organizar com eficciaa pesquisa documental e iconogrfica e contarcom a disposio e o empenho dos artistas,diretores, dramaturgos e roteiristas. Com aColeo em curso, configurada e com identida-de consolidada, constatamos que os sortilgiosque envolvem palco, cenas, coxias, sets de filma-gem, textos, imagens e palavras conjugados, etodos esses seres especiais que neste universotransitam, transmutam e vivem tambm nostomaram e sensibilizaram.
esse material cultural e de reflexo que podeser agora compartilhado com os leitores detodo o Brasil.
Hubert AlquresDiretor-presidente
Imprensa Oficial do Estado de So Paulo
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Do Cosmo ao Quarto
Se a permanncia da dramaturgia reside napersistncia, no homem, do desejo de contarhistrias, em muitos casos esse desejo vem acom-panhado da necessidade de expressar, por meioda palavra de fico, aquilo que testemunhamosdo mundo que nos cerca. Podemos dizer queisso define, em primeira instncia, a dramatur-gia de Rodolfo Garca Vzquez. Em seus textosevidencia-se um interesse no apenas de cons-tituir a fbula, mas tambm de dizer algo sobreo homem, que aparece neles desmembrado emmltiplas dimenses. As peas que constituem
este repertrio, cada uma tem sua gnese, umarazo que o motivou a escrever.
A par esse interesse pela natureza humana epelo homem em sociedade, os textos de RodolfoVzquez tm ainda um constituinte peculiar:
esto contaminados por resduos da realidadeque cerca o autor. Suas personagens corres-pondem muitas vezes a pessoas reais com asquais Rodolfo convive e suas fbulas dramticasreproduzem episdios vividos ou relatados porelas. Pensando no texto-espetculo quando
a pea sai do papel e constitui a escrita cnica, essas interferncias ganham materialidadecom a eventual presena fsica dessas pessoas
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na rea de jogo, fazendo as vezes delas mesmasou parafraseando a si prprias.
A existncia dOs Satyros no miolo da Praa Roo-sevelt tem sido um fator de vivncia no apenaspara a dramaturgia de Rodolfo, mas para toda aproduo do grupo, uma vez que o ambiente doentorno, a princpio hostil, foi sendo conquistado
por essa trupe destemida, insuflada pela vontadede envolver e sensibilizar os habitantes do local.
A contaminao mtua entre Os Satyros e apraa tambm se revela na presena constantede temas vinculados ao homoerotismo, ao tra-
vestismo, transexualidade: so tanto ecos doentorno como evidncias da orientao sexuale afetiva de seus diretores-dramaturgos.
Outra dominante do teatro de Rodolfo conterj no papel muito do grotesco que emergir nacena sob a batuta de sua direo. Suas peas
sempre contemplam os bastidores, o bas fond,o interior escuro, as margens, que so tema ecenrio das tramas e dramas humanos que retra-ta. Essa dominncia tambm aparece na escolhados outros autores que Rodolfo opta para suasdirees nOs Satyros Valle-Incln, Sade, Bch-
ner, Nelson Rodrigues... tornando o grotesco,tanto em sua dimenso cmica quanto em suafaceta sinistra, uma caracterstica estilstica das
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obras do grupo. Na dramaturgia de Rodolfo, oestranhamento provocado pelas figuras grotes-cas que ele dispe em cena como personagens um dos elementos que permitem, por contraste,a averiguao das desumanidades que contami-nam a nossa civilizao, em todos os nveis.
Na coletnea que ora apresentamos, podemos
traar um caminho que cumpre um trajeto domais elevado ao mais simples, do nvel maistranscendente onde convivem a filosofia e areligio , ao asfalto, onde transita o Homem Co-mum. Os exemplos da dramaturgia de Rodolfoaqui selecionados permitem abarcar os principais
delineamentos de seu teatro, no mbito maisamplo de suas realizaes cnicas.
Cosmogonia Experimento n 1 (2004) abre acoletnea. Para testemunhar os instantes derra-deiros de um homem em coma, Vzquez constriuma fantasia que rene o doente, os enfermeiros
que o assistem e figuras mticas como as Moiras ea Musa Calope, a de bela voz. O que vemos emcena a tripla dimenso de um homem agnico,na condio clnica de sua enfermidade. umhomem de quem ouvimos fragmentos de seupsiquismo alerta, pela descrio do que pensa,
percebe e registra, mas tambm um Homemuniversal que vislumbramos ali, ecoando a buscade sentidos para a existncia.
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As rubricas sugerem uma ambientao etrea,lugar abstrato e transcende no espetculodirigido por Vzquez, a cenografia constitu-da por panos, bales de gs, luzes azuladas epenumbrosas, aliada a uma sonoplastia envol-vente, dava conta desse propsito. As rubricasso literrias, na medida em que tm qualidadenarrativa, e no apenas instrues para a cena.
Somos levados a entender a pea como a des-crio de uma epifania, o momento da mortecomo uma reintegrao do homem ao Cosmo,condio que aparece explicitada na cena doencontro entre o agonizante e Calope, musa da
epopeia, a mais velha e sbia entre as nove irms.As Moiras (que na indicao do autor deveroser conduzidas pela mesma atriz que encarnaCalope) regem o tempo do espetculo. So 49minutos de agonia, antes do suspiro final.
A inteno filosfica, transcendente, da pea
reforada por uma dominante lrica, com as per-sonagens relembrando suas origens e tomandodo acervo mtico os contedos que se prestam situao terminal da personagem. Assim fala-se do tempo, da memria, do amor, da gnesee do fim.
A segunda pea da coletnea aponta para umadireo totalmente oposta a Cosmogonia, mas
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tambm uma fabulao que brinca com refe-rncias fora do teatro. No mais os relatos m-ticos, mas o cinema. Sobre Ventos na Fronteiraadere ao roteiro de Casablanca em seus traosessenciais: a fbula, as personagens e a ambien-tao bebem nessa fonte, mas escapam dela nasua configurao final. A comear pelo fato deque as personagens se renem em um lugar
indefinido no Casablanca, mas preserva acaracterstica de ser um lugar de passagem, umposto avanado de transio entre um lugar deonde se quer fugir e outro para onde se desejair, no sentido figurado entre a opresso e aliberdade. As personagens que esto em cena
remetem, at por seus nomes, aos protagonis-tas de Casablanca: Rick, Lzaro, Elisa e Sam sofrancamente clonados, no nome pelo menos,de seus antecedentes flmicos Rick, Lazlo, Ilsa eSam, aquele que toca o clssicoAs Time Goes By,moldura sonora para o romance entre Humphrey
Bogart e Ingrid Bergman.
Como no filme, h uma disputa por salvo-condu-tos e o reencontro entre ex-amantes no Bar doRick; h ainda a figura de um policial corrupto ede um facnora, papel que, no cinema, pertencia
ao sinistro Peter Lorre. Mas na pea de RodolfoVzquez as coincidncias terminam por aqui. Hum deslocamento proposital no jogo de xadrez
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representado pelas personagens, com a introdu-o de um par de forasteiros, assumindo o lugardo casal ansioso por obter os salvo-condutos, deuma prostituta, Ivete, e da irm de Samul, Val-dvia, figura um tanto ambgua, que funcionacomo uma comentadora muda e funesta dasdesgraas que acometem os protagonistas. Mas,sobretudo, h uma mudana radical na ndole
das personagens. No h nobreza nessa Elisa,nem em Lzaro, ou em Rick, e mesmo o casalde forasteiros entrega a dignidade em troca doto desejado documento. como se fosse umacontinuao de Casablanca, passado algum tem-po, com suas personagens, agora, decadentes,
desonradas e vis.
Rodolfo Vzquez escreveu Sobre Ventos na Fron-teira em colaborao com o elenco, oferecendo-lhe um roteiro de cenas que foram preenchidascom as improvisaes dos atores e, depois,formatadas por ele na verso final. O resultado uma pea que, beirando o pastiche, transfor-ma-se num drama constitudo por personagensmesquinhas em disputa feroz pela sobrevivncia.
SeSobre Ventos na Fronteira remete a um me-lodrama extrado do clssico do cinema, na via
contrria, Transex uma fantasia que poderiaperfeitamente ser transposta para as telas comouma tragicomdia delirante e surpreendente.
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Delirante porm verdadeira, sendo essa uma desuas surpresas: a histria da pea levada ao pal-co extrada diretamente do relato de uma figurade carne e osso, habitante do entorno da PraaRoosevelt. Para contar essa fbula de uma tra-vesti apaixonada por um anjo, Rodolfo Vzquezreproduz o ambiente coquete das travestis, comsua exuberncia e linguajar prprios, deixando
vislumbrar, no entanto, o lado sombrio que asaparncias escondem.
Por meio de assuntos aparentemente banais,como cirurgias plsticas e ataques de ciumeira, oautor oferece um desenho de trao preciso dessa
populao margem. As personagens de Tran-sexso seres cuja humanidade emerge de suasbuscas por identidade e, nesse vis, a definiodo gnero um dos motivos que congregama todos na pea, com exceo da personagemporteiro mas que, ainda assim, tambm no
aquilo que pretende ser. Apesar dessa incidncia,a sexualidade no o principal tema; esse lugarfica destinado ao amor. Os cinco mandamentospreconizados pela personagem Ren apontampara o amor corts, no que ele pressupe dedevotamento, abnegao e impossibilidade; a
entrega de Teresa fantasia do anjo flamejante,por sua vez, promessa romntica, tambm im-possvel, de libertao dessa quase uma mulher,
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ainda uma larva aprisionada no casulo esperade ser borboleta.
O autor realiza um bela confluncia desseselementos no desfecho inesperado, no qual,por meio de um deus ex machina sanguinrio,sela o destino da personagem. Como em Cos-mogonia, aqui tambm a pea se encerra com
uma epifania.
A virtude de Transexest no apenas no fatode que algumas de suas personagens centraisestejam referidas a pessoas que existem na vidareal, mas tambm porque realiza esse gesto
to caro aos Satyros de abrir o palco melhordiria estend-lo para as imediaes da PraaRoosevelt, promovendo a fuso dessas duasexistncias. A fbula e em especial a personagemTeresa reaparecero, depois, emA Vida na PraaRoosevelt, de Dea Loher, e ter em Ivam Cabral,nos dois casos, o seu comovente intrprete.
Em Kaspar ou a Triste Histria do Pequeno Reido Infinito Arrancado de sua Casca de Noz, omotivo da inadequao e do ser humano mar-ginalizado , novamente, a prpria essncia dapersonagem e ganha uma evidncia maior na
medida em que ao protagonista se ope, comopano de fundo, a sociedade ajustada que noaparece em Transex.
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A ideia de escrever a pea veio quando, em pas-seio pela Alemanha, Rodolfo visitou o tmulo deKaspar Hauser na pequena cidade de Ansbach,na regio da Baviera, e deu-se conta de que aliestava uma boa histria, perfeitamente ajusta-da explorao dos temas que lhe interessavadiscutir, em especial questes concernentes aosprocessos de insero do homem na sociedade.
Mais uma vez, a pea foi escrita para o conjuntodos atores e atrizes dOs Satyros e isso explica, emparte, o nmero generoso de personagens queformam o elenco (ampliado depois da primeiraverso da pea, que esteve a cargo de apenasseis atores).
Rodolfo conta a saga de Kaspar em 36 cenas,todas tituladas (procedimento que tambm apa-rece em outras peas), fornecendo uma chavepara os recortes que faz da histria. Sem fugirda matriz real, o Kaspar desta fico cumpre sua
trajetria de aculturao e aniquilamento, masas escolhas de Rodolfo destacam e agudizam osmomentos crticos desse processo civilizatrio,construindo uma exposio que nos faz ques-tionar, com o protagonista, o sentido de viverem sociedade. Para atualizar na mente do es-
pectador o episdio do sculo XIX, o autor lanamo de situaes e personagens assimiladas atualidade, como a presena de um skatista e
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uma personagem; a contaminao de persona-gens do mundo real marginalizado, habitantesdo entorno da Praa Roosevelt, com profusode travestis, transexuais, prostitutas e cafetes.Podemos tambm reconhecer como a linguagemdo cinema est prxima do modo como Rodolfoconstri suas peas: a segmentao da histriapor cortes, a titulao das cenas, a linguagem
econmica, metonmica s vezes, com a qualconduz o evolver das histrias.
Tematicamente, temos mais um retrato semadornos do homem solitrio e infeliz no centroda paisagem urbana, a quase impossibilidade
de comunicao efetiva e afetiva entre aspessoas. Neste episdio cruzam-se vrias per-sonagens, num ambiente rido de concreto erostos indiferentes: o Homem da Pasta, sua mu-lher e o av, o travesti Veruska e seu cafeto,o Homem Tatuado e em contraste com tudo
isso a inocncia da menina Muriel. O destinocruza a vida das personagens, sem que isso altereo que parece ser uma rotina enfadonha umritual obrigatrio de infelicidade, como diz ame. Sobram culpa, remordimentos, apatia. So vento na janela anima as cortinas e sugere
desenlaces. So pessoas comuns com suas vidi-nhas comuns na desolao urbana. Em algunsmomentos, lembra Nelson Rodrigues.
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A verso produzida do episdio ressalta os aspec-tos angustiantes de solido e pulso de mortepela cenografia que lembra o filme Dogville, deLars von Trier, e pelo ritmo lento, marcado pelotique-taque de um relgio e pela sonoplastia mi-nimalista de Ivam Cabral. No final do teledrama,uma grua termina por revelar os bastidores doambiente cenogrfico. O uso da metalinguagem
outra presena forte nas peas de Rodolfo eindica uma opo pela teatralidade mostra,pelo desejo de contar a histria sem os truquesda iluso.
A dramaturgia de Rodolfo Garca Vzquez
uma dramaturgia cristalina, direta, no que temde objetividade, de inteno revelada. Nenhumpsicologismo gratuito, nada de firulas estilsticas.Ele pe em primeiro plano aquilo que quer di-zer, e o faz no apenas na escolha da trama, nacriao de personagens, mas tambm na ateno
que d ao que cerca a fico. Rodolfo um ar-tista integrado ao seu espao no sentido maisamplo, que abarca os dois teatros dOs Satyrose a Praa Roosevelt e sobretudo a seus par-ceiros. Quem acompanha suas encenaes nose surpreende ao ler as peas desta antologia.
Lendo, elas falam ao ouvido pelas vozes de Ivam,Silvanah, Clo, Gusik, Phedra, Soraya, Nora... (emuitos outros), pelo tanto que essa dramaturgia
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est impregnada por aqueles que a levaram aopalco. Uma dramaturgia viva, portanto.
Silvana Garcia
Nota Os bastidores das montagens de quase todas essaspeas podem ser visitados no livro de Alberto Gvzik sobreOs Satyros (Um Palco Visceral, Imprensa Oficial).
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Cosmogonia Experimento n 1
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Cosmogonia Experimento n 1
Pea teatral em ato nico e 10 quadros, deRodolfo Garca Vzquez, baseada em temas daTeogonia, de Hesodo.
Cosmogonia Experimento n 1 teve duas mon-tagens. A primeira, que estreou, em dezembro
de 2004, no Espao dos Satyros, em Curitiba/PR,contou com a seguinte ficha tcnica:
Elenco: Elder Gattely, Pagu LealDireo, cenrio e iluminao: Rodolfo GarcaVzquezTrilha sonora: Ivam Cabral
Assistente de direo e figurinos: Silvanah SantosDireo de produo: Dimi CabralAssistente de produo: Gisa GutervilOperador de som: Karina RenckOperador de luz: Eduardo AmaralRealizao: Cia. de Teatro Os Satyros
Em abril de 2005, Cosmogonia Experimento n1 estreava no Espao dos Satyros de So Paulo/SP. A ficha tcnica era a seguinte:
Elenco: Ivam Cabral, Clo De Pris, EduardoCastanho e Eduardo Metring
Direo, cenrio e iluminao: Rodolfo GarcaVzquezTrilha sonora: Ivam Cabral
Clo De Pris e Ivam Cabral
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Figurinos: Silvanah SantosOperador de Luz: Emerson FernandesOperao de som: Rafael SoaresProgramao visual: Larte Kssimos e ZedProduo: Cia. de Teatro Os Satyros
Cosmogonia Experimento n 1 se apresentouem vrios festivais de teatro no Brasil Curi-
tiba/PR e Recife/PE, entre outros , alm deexcursionar por diversas cidades do interior doEstado de So Paulo. Recebeu, em 2005, cincoindicaes ao Trofu Gralha Azul, 26Edio,em Curitiba/PR: melhor espetculo, direo,texto e cenrio (Rodolfo Garca Vzquez) e
atriz (Pagu Leal).Fortuna Crtica:
O espetculo j em si emocionante.
Roberta Oliveira,O Globo, 22 de maro de 2005
O espetculo ganha quase tudo o que temde melhor quando decide pela sntese nas
solues encontradas. Cenografia e figurinosso econmicos e sem imposio do conta decomprometer a plateia ao universo da pea.
A direo de Rodolfo Garca Vzquez conduz serenamente o andamento das cenas, e sencontra limite em certa impostao que refe-
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rencia o desempenho dos atores, quase sempreredundando a dramaticidade j anunciada. Fi-lhos legtimos de sua poca, os Satyros batizamo trabalho como experimento, expresso quea montagem traduz muito bem, e que avana
seus sentidos para alm da indumentria quea plateia usa. O texto de Hesodo alquimi-
zado sob um tratamento cnico que procura
equilibrar, e equilibra com sucesso, o rigor doprocedimento cientfico respirao desmedi-da da coisa potica que o espetculo, enfim,acaba por fazer prevalecer.
Kil Abreu,Dirio do Fringe, 22 de maro de 2005
Nessa encenao os recursos sonoros e ceno-grficos, ainda que muito bonitos, no cha-mam ateno para si, mas convergem de formaharmoniosa para que essa encenao intimista
provoque no espectador uma profunda reflexo
sobre as eternas perguntas sem resposta sobrea existncia.
Beth Nspoli,O Estado de S. Paulo, 24 de maro de 2005
No terreno das experimentaes, vale destacar
Cosmogonia em cartaz no Espao dos Satyros emCuritiba. Traz como diferencial um figurino parao pblico que entra numa UTI ( uma discusso
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metafsica), coisa que eu pessoalmente creionunca ter visto.
Maria Lcia Candeias,Gazeta Mercantil, 24 de maro de 2005
Cosmogonia, partindo de um texto difcil deRodolfo Vzquez, triunfa pela engenhosidadedo cenrio.
Srgio Slvia Coelho,Folha de S. Paulo, 28 de maro de 2005
O experimento nmero um impressiona pelotrabalho teatral, que tem a participao do p-blico vestido de mdico e mergulha em vrias
dimenses da vida.Dirio de Pernambuco, maro de 2005
A longa jornada dos dez dias do Fringe, mostraparalela do Festival de Teatro de Curitiba, encerra-do ontem, reafirma o experimento de linguagementre os espetculos destacados pela cobertura
da Folha. O tempo da delicadeza, a consideraro despojamento da cena e a potica do texto. Osmelhores espetculos foram Por Elise, do grupoEspanca!, de Belo Horizonte; Sute 1 , da Cia.Brasileira de Teatro; e Cosmogonia, do grupo OsSatyros, ambos de Curitiba o ltimo tem outro
ncleo em So Paulo.Valmir Santos,
Folha de S. Paulo, 28 de maro de 2005
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Na montagem de Curitiba, protagonizada porElder Gatelly e Pagu Leal, a agonia da morte eratemperada pela sensualidade. Ivam Cabral e CloDe Pris, agora encarregados dos persona-gens, revigoram a pea ao fazer o caminhoinverso. O erotismo uma consequncia parareforar a densidade do texto e fazer o espec-tador compreender que o universo infinito.
Afinal, ele comea e termina para cada um emdois momentos bem especficos: o nascimentoe a morte.
Dirceu Alves Jr.,Isto Gente, 18 de abril de 2005
Um trabalho delicado e inteligente sobre a efe-meridade da vida e da arte.
Erika Riedel,O Estado de S. Paulo, 8 de abril de 2005
teatro pnico Expressionismo, Simbolismo,vanguarda, tudo junto. Sem repetir frmulas,Os Satyros apresentam uma significativa traje-tria esttica e, com o novo espetculo, almde renovar suas pesquisas, cumprem com vigoro prometido no programa da pea, o que, con-venhamos, no pouco.
Alexandre Mate,Bravo!, maio de 2005
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Os cenrios e figurinos brancos impressionam,na mesma medida que o texto, denso e potico,e a comovente e sensual atuao da dupla (IvamCabral e Clo De Pris).
Mnica Santos,Veja S. Paulo, 4 de maio de 2005
Delicadeza e criatividade marcam Cosmogonia,
pea interativa que acerta no tom e na formade envolver o pblico.
Mariangela Alves de Lima,O Estado de S. Paulo, 23 de julho de 2005
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Cosmogonia Experimento n 1
Dramatis Personae:Homem em ComaMoiras e Belavoz, vividas pela mesma atrizEnfermeiro 1Enfermeiro 2
Cena 1 Entrada(Enfermeiros prestando assistncia ao Homemem Coma)
Enfermeiro O paciente est entubado, comventilao mecnica, sendo administrado nitro-
prussiato. As enzimas esto normalizando. Opaciente evolua com edema agudo de pulmoe foi administrado furozemida.
Enfermeiro 2 Sem palavras,O mundo lhe faz mais sentido do que nunca.O mundo o chama de volta.
Mas suas vsceras ainda querem ficar vivas.
Enfermeiro 1 Saturao est diminuindo. Pa-ciente hipotenso. Paciente com pouca diurese.
Enfermeiro 2 Vocs vo poder assistir a este
corpo sendo explodido em fragmentos e depoisrefazendo o corpo em dez mil aspectos infames,que vocs nunca esquecero.
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Enfermeiro 1 O paciente entrou com um infartosupra ST. Acometeu parede lateral do ventrculoesquerdo.
Enfermeiro 2 O rosto vazio,Olhos fechados,Respirao ofegante, o final de quem j respirou
Um milho de anos,Atravs de seus antepassados,E aprendeu muitoMas ainda no sabe quem .
Enfermeiro 1 Pelo cateterismo, o paciente tinha
obliterao na artria descendente posteriorde 80%. Paciente com insuficincia cardaca em perfuso.
Enfermeiro 2 Ele ainda no abandonou o seucorpo,Seus nervos ainda percebem.Seus ouvidos ouvem.Ele ainda est pulsando entre ns.
Cena 2 Invocao e pedido(Atores entram no palco e fazem a invocao eo pedido)
Atores Pelas Musas comecemos a cantar. Elasum dia a Hesodo ensinaram belo canto, e agora
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a ns... Pelas Musas comecemos, elas que dizem opresente, o futuro e o passado. Filhas da Mem-ria, nove noites teve unies com ela o sbio Zeus.E Memria pariu, ento, nove moas. Nove musas:Glria, Alegria, Festa, Danarina, Alegra-coro,Amorosa, Hinria, Celeste e Bela-Voz. Musas,deusas da Arte, protetoras dos Artistas, que fazemexistir o belo a partir do que no existe, dai-nos
a sabedoria para conduzir todos aqui presentes auma experincia da Verdade-Revelao, pelo usoperfeito do Corpo, do Esprito e da Palavra! Trazeia luz! Trazei a Realidade dos entes diante de ns!
(Coreografia xamnica)
Cena 3 Coma(Homem deitado em coma. Som de mquinas dehospital, batida do corao)
Moiras Ns, que h sculos fazemos a partilhada vida a cada ser, ns afirmamos: na partilha,
quela mulher grvida cabem mais dois anosde vida. E quele homem velho que tosse noquarto ao lado cabem mais vinte e dois anos. Eao beb que acaba de nascer na maternidadecabem apenas mais duas horas de vida. E que-le jovem discreto que passou debaixo da tua
janela h pouco, mais doze anos. E na partilhados deuses, que parece to absurda aos homens,mas que segue o Logos divino, voc, que est
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a, respirando com dificuldade, sentindo dores,confuso, pensando em sobressaltos, voc aindatem 49 minutos... 49 minutos... 49 minutos...Voc agora sabe. Voc tem 49 minutos. A parteque te cabe nessa diviso divina de 49 minutosdo tempo terreno.
Homem em Coma Depois de tudo, depois de
tanta luta, esse ento o tempo que te resta...ento a pergunta: e se voc no tivesse feito nadadesde o primeiro grito que deu, no teu primeirodia, saindo da barriga daquela mulher, qual seriaa diferena? Se voc nunca tivesse aprendido essegrito? Se voc nunca tivesse aberto a boca para
berrar a tua presena nesse mundo, o mundo seriaoutro? E se voc nunca tivesse aprendido a escre-ver, se nunca tivesse aprendido a falar, e a amar,e a odiar, e a chorar... Qual seria a diferena? Ese voc nunca tivesse sado desta cama, se tivessesido um vegetal humano, paraltico, desenganado
pelos mdicos desde o teu primeiro dia, qual seriaa diferena? (Angustiado) Qual seria a diferena?Qual seria a diferena? Qual seria a diferena?(Pausa. Com desprezo) A humanidade? Pequena nossa fora, vs nossas preocupaes, momen-tnea a nossa vida, incessante nossa luta. Mas
elas pairam implacveis sobre todos igualmente.Elas, as Moiras, vivem em todos ns e tratam comimparcialidade os bons e os maus.
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Belavoz Na vida mortal, nada isento de sofri-mento. E a sabedoria no acessvel ao entendi-mento humano. Ela pulsa fora dos homens. Elaest no Cosmo... No Cosmo... No Cosmo... NoCosmo... No Cosmo...
Homem em coma (Levantando-se) Entre mim eo Universo, pra que lado corre a vida? Se que
ela ainda existe para mim. Tantos anos passeisem perceber a verdade das estrelas. Estudava,catalogava, memorizava os seus pontos no hori-zonte e seus nomes. Mas, de fato, eu no sentia asua pulsao, eu no via nada. E o mundo ficavado tamanho do que eu via, ou seja, o mundo no
era nada alm das paredes que me cercavam. E,agora, essas paredes to minhas no me deixamver mais nada... No consigo ver nada. Mas eleest vivo, em algum lugar dentro de mim, oUniverso est vivo, em algum quarto escondidoda minha memria.
Belavoz Olha para o alto e reconhece. Estre-las... Lua... Cu... Infinito... Tudo isso est emvoc. Basta olhar dentro de voc mesmo, ele tehabita, o Universo.
Homem em Coma Busquei na cincia a Respos-
ta durante toda a minha vida. O cosmo, tantosmistrios nos bilhes de galxias, estrelas, pla-netas, luas. Tudo to distante... Tudo visto das
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paredes do meu laboratrio, dos meus equipa-mentos, atravs de tantas e tantas teorias... Maso tipo de resposta que eu encontrei continua tofrgil, to humana quanto as respostas que meusantepassados davam h tantos sculos.
Belavoz A Cincia e o Mito, duas teofanias.Ambos so cantos de exaltao aos Deuses. He-
sodo e Einstein foram homens que buscaram aresposta para a mesma pergunta.
Homem em Coma E tantos outros... Mas, nomeu castelo cientfico, nunca tentei entender oscaminhos da poesia. Talvez ela sempre tivessesido a resposta. Musa, o que pode a poesia?
Musa, o que pode a poesia?
Cena 4 O Canto das Musas
Belavoz Diremos como no comeo Deuses eTerra nasceram, os Rios, o Mar infinito impetuo-so de ondas, os Astros brilhantes e o Cu amploem cima. E os Deuses deles nascidos, doadores debens, como dividiram a opulncia e repartiramas honras e como no comeo tiveram o rugosoOlimpo. Diremos isto, ns que temos o palcioolmpio desde o comeo. Primeiro nasceu Caos.
(Um turbilho de sons inunda o espao. Movimen-tos no ar. Vento e troves, gemidos insuportveis.No caos, tudo existe e nada tem forma prpria.)
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(Silncio profundo. Escurido)
Belavoz Caos, onde tudo mora sem forma,sem vida. Onde tudo est pronto para deixarde no existir.
Cena 5 Terra(Uma pequena luz ilumina o centro do palco.
Ator se aproxima com um balo. Brinca com obalo no ar)
Belavoz Depois tambm Terra, de amplo seio,morada irresvalvel de todos para sempre.
Belavoz E Terra primeiro pariu, igual a si mes-ma, Cu constelado, para cerc-la toda ao redore ser aos deuses venturosos sede irresvalvelsempre. E do coito com o Cu, surgiram Oceanode fundos remoinhos e Cois e Crios e Hiprio eJpeto e Teia e Reia e Tmis e Memria, nossa
me e Febe e Ttis. E Cronos, filho mais terrvel.
Cena 6 Trtaro
Belavoz Nove noites e dias uma bigorna debronze cai do cu e s no dcimo atinge a terra
e, caindo da terra, atinge o Trtaro nevoento.E nove noites e dias uma bigorna de bronze caida terra e s no dcimo atinge o Trtaro.
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(Barulho)
Belavoz Trtaro, nevoento, no fundo do chode amplas vias, vasto abismo onde no sobrevivesentido de direo, cuja nica possibilidade aqueda cega, sem fim e sem rumo. O Trtaro quese basta...
Cena 7 Eros
Belavoz Ah, Eros, o Amor, deus supremo, prin-cpio que nos rege, filho da penria e da habili-dade. O Amor, o mais belo dos deuses imortaisque nasceu do que nos falta, e da capacidade
de conquist-lo, nem que seja por um brevemomento. Eros, o pequeno deus que domina atodos, homens e deuses, em seu esprito e suavontade. Ele nos obriga ao outro, porque s nooutro e com o outro podemos criar algo novo.
(Os atores se aproximam e se tocam. Dana da
seduo)
Atores O desejo de acasalar-se domina a Terra.Ama o sagrado Cu penetrar a Terra. A chuva, aocair de seu leito celeste, fecunda a Terra, e estapara os mortais gera as pastagens dos rebanhos
e os alimentos dos homens.
Cena 8 Lembrana e Esquecimento/ Mnemosyne
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(Homem em Coma entra na casa dos tomos.Perdido entre eles, perde-se de si mesmo)
Homem em Coma Depois de tantos bilhes deanos da origem de tudo, jogado em um pequenoplaneta de uma pequena estrela de 4 bilhesde anos, em uma galxia distante, ainda souarrogante o suficiente para pensar que entendo
alguma coisa da grandiosidade do Cosmo. Eu,to insignificante, to pequeno, posso dizerque o que vivo se chama vida de um homem?Sou tambm o que falhei ser. A minha verdadetambm aquilo que nunca consegui. Sou aquiloque nunca vou poder ser. Quantos reis eu fui!
Quantos reis eu fui!
Belavoz Filha do Cu e Terra, que casada comZeus teve como filhas ns, as Musas, a Memriadefine o que deve ser revelado ou perder-se noEsquecimento. E se voc no se revelar um rei ouum grande cientista, mas um homem comum?O que voc poder fazer? Um homem comum,abandonado na escurido da Noite do Esqueci-mento, para alm da histria...
(Belavoz se aproxima do Homem em Coma)
Belavoz Faltam agora 18 minutos para o teultimo respiro. 18 minutos. O que pode um ho-mem pensar em 18 minutos?
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Homem em Coma O que pode um homempensar em 18 minutos?
(Afastam-se)
Homem em Coma Memria, te invoco! Me-mria, grande deusa Mnemosyne, senhora filhado Cu e da Terra, fundadora de todos os seres,
eu imploro: no me apague, no me abandonepara o Esquecimento.
Belavoz Ela nunca olhou para os homens, massomente para as foras csmicas. Voc no deveinvocar a Deusa que faz os fatos e os seres sur-girem diante da luz ou serem abandonados. Adeusa-memria do Cosmo est para todos, atmesmo o Cu e a Terra.
Homem em Coma Algo em mim exige que eume mantenha e tudo o que fiz e o que fui na luzda Presena. Eu preciso ficar vivo, pelo menos na
lembrana daqueles que me amaram. Musa, filhada Memria, imploro ento. Que a vossa palavrame mantenha ainda vivo, respirando atravs dequem menciona meu nome.
Belavoz De alguma forma, sempre, em algum
lugar, voc vai estar abandonado ao Esqueci-mento e, de novo, ser trazido Luz, e depoisnovamente jogado na Noite do Esquecimento,
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e novamente trazido ao Dia e Verdade. Noi-te. Dia. Noite. Dia. Esquecimento. Memria.Esquecimento. Verdade. Noite. Luz. Noite. Luz.Infinitamente.
(A luz se acende e apaga sobre o Homem emComa em uma sucesso sem fim. O Homem emComa vai se desesperando. Grita)
Cena 9 Os tempos so tantos quanto os seres(Ouve-se o tique taque de um relgio)
Moira Os gritos vieram de todos os nortes e ossilncios caram sobre os mundos. E voc, entre
os gritos e os silncios, vai escoando. So mais13 minutos.
Homem em Coma H mais de dois anos euouo a tua voz dizendo que o fim j chegou. Esempre penso que este meu ltimo minuto. Eporque penso, deixo de viver o ltimo minuto,
que, afinal, ainda no chegou.
Belavoz Os tempos so tantos quanto os seres... Eo que significa um ano? Um minuto? Um segundo?
Homem em Coma Estou tonto, tonto... De
tanto lutar, de tanto esperar, ou de ambas ascoisas. Afinal, que vida fiz eu da minha vida?Nada. Tudo desperdcio. Tudo aproximaes
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cientficas. Tudo buscando a exatido, mas emfuno do irregular e do absurdo. Chegando aofinal, eu vejo que meu tudo foi nada.
(Moira aproxima-se do Homem em Coma)
Moira Somos a Fiandeira, que tece o fio da vida,a Distribuidora de bens e a Inflexvel, que corta
o fio da vida no tempo adequado. As Moiras.Regemos o que de bem e de mal passa na vidados seres humanos e dos deuses. E ao dizer o quecada um , tambm dizemos o que nunca foi,nem nunca ser, nem nunca . Voc chega agoraao final. Dizemos que estes so teus ltimos sus-piros em forma humana. Dizemos tambm quevoc um homem e, portanto, nunca um deus.Que amou uma mulher e, portanto, no amoua todas. Que teve um filho e, portanto, no setornou o ltimo de uma linhagem. Enfim, que um homem, que lutou sempre muito, e semprevai lutar e, por isso, nunca teve paz.
Cena 10 O Tempo e Herclito
Moira 10 minutos... 10 minutos...
Homem em Coma O tempo... Eu no queromais ouvir sobre o tempo. Nada.
Moira Sendo os seres infinitos, os tempos infi-nitos so e se entrelaam e se cruzam em tantas
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variveis. O tempo de cada um absoluto. A tuaessncia o teu tempo, porque tambm em vocvive a divindade. Ento, por que essa preocupa-o com o findar das horas? Quem exige o teutempo o teu ser.
Homem em Coma Mas eu no quero maismexer, eu no quero mais sentir o ar entrando
e saindo de dentro de mim e me obrigando aviver. Nunca senti paz, desde o primeiro mo-mento. Eis uma palavra que at hoje nunca fezsentido para mim, nem se apresentou diante demim. Sempre esse turbilho me atravessando eeu vivendo afogado. At nos momentos mais
felizes, sempre a nuvem da incerteza rondando aminha existncia. At mesmo quando eu beijavaos beijos mais doces e belos, ou olhava a belezado sol e das estrelas, sempre a presena do Ter-ror em volta do meu corpo. Agora, aqui, o queposso fazer? Eu sinto o cansao antecipado da
minha morte. Eu desisto. Eu desisto.
Belavoz Mesmo que tua alma implorassepelo fim, tudo ainda seria difcil. Ouve! Porquea Vida Conflito e Necessidade, e todos osseres so filhos da diferena e do conflito. S
no conflito um homem pode surgir, e existir,e morrer. E at mesmo para morrer voc vaiprecisar lutar.
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Cena 11 A Fonte Sagrada do Hades
Belavoz esquerda da Morada de Hades, vocvai encontrar uma fonte e ao lado dela existeum cipreste branco. No beba dessa gua. Mais frente, voc vai encontrar outra, do Lago daMemria, da qual brota gua fresca, e frente qual se postam guardies. Diga ento o que
voc precisa.
Homem em Coma Estou ressecado pela sede eestou morrendo. D-me rpido da fresca guaque brota do Lago da Memria.
Belavoz E eles vo te perguntar: Quem voc?De onde que voc vem?
Homem em Coma Sou filho da Terra e doCu estrelado. Mas minha raa do Cu. Istotodos sabem.
Belavoz E ento vo te dar de beber da fontesagrada, e depois disso voc vai ter soberaniasobre todos os outros heris.
(Homem em Coma se aproxima do momento daMorte. Mas esmorece)
Homem em Coma Mas me vem o medo dospensamentos que me invadem. Eu vagueio, e com
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tdio vou de um lado para o outro. Ando atravsda escurido com desconfiana. Eu tenho medo, eusuo. Tenho medo de no ter amado a vida. Tenhomedo porque no entendo a origem e o fim... Maseu preciso ficar vazio, oco, completamente oco...
Belavoz Ah, homem, ouve. Est reconhecendo?
Homem em Coma Vazio... vaazio... vaa...Belavoz Ah, ele, de nobre origem. Ele viveagora o momento. chegado agora aquilo quese denomina morte. chegada a ocasio debuscar o Caminho.
(O corao do Homem em Coma para de bater)
Homem em Coma J existi como menino e meni-na, como peixe e pssaro, e peixe do mar sem voz.Agora, o momento, de homem passo a ser deus.
(Belavoz d de beber ao Homem em Coma)
Belavoz Tudo sagrado: os ventos, as nuvens,as estrelas, os homens e os seus desejos, a dor eo medo, o teatro e a vida, a solido e o amor.Tua vida tambm foi sagrada. Agora a paz, nosbraos daquele que sempre esperou pela tua
volta, o Cosmo.
FIM
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Sobre Ventos na Fronteira
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Sobre Ventos na Fronteira
Pea teatral em ato nico e 26 quadros, de Ro-dolfo Garca Vzquez, a partir de roteiro elabo-rado em processo colaborativo com o elenco deestreia do espetculo.
Sobre Ventos na Fronteira estreou no Espao dosSatyros, em Curitiba, em 22 de outubro de 2004,com a seguinte ficha tcnica:
Elenco: Silvanah Santos, Helio Barbosa, MateusZuccolotto, Arno Pruner, Carlos Vilas Boas, Gisa
Gutervil, Rozana Percival, Tarciso Fialho, KarinaRenck e Maurcio PrcomaDireo e iluminao: Rodolfo Garca VzquezTrilha Sonora: Ivam CabralFigurinos: Silvanah SantosDireo de produo: Dimi CabralAssistente de produo: Gisa GutervilRealizao: Cia. de Teatro Os Satyros
Sobre Ventos na Fronteira concorreu 25 edi-o do Trofu Gralha Azul, em Curitiba/PR, em 4
categorias: melhor espetculo, ator (Mateus Zuc-colotto), ator revelao (Tarciso Fialho) e atrizrevelao (Gisa Gutervil, que levou o prmio).
Elenco de Sobre Ventos na Fronteira
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Sobre Ventos na Fronteira
Dramatis Personae:Rick, dono do bar, ex-amante de ElisaLzaro, scio de Rick, ex-marido de ElisaElisa, aquela que voltaPiotr, forasteiroSofia, sua Mulher
Geraldo, um punguistaWagen, o delegadoSamul, empregado do barIvete, a prostituta, sua amanteValdvia, a irm de Samul, portadora de defi-cincia mental
Cena 1 Rarefeito(Delegacia de polcia. Geraldo e Wagen sentados)
Wagen T aqui o salvo-conduto, como sempre,mas com uma pequena diferena...
Geraldo Mas a minha porcentagem a desempre?
Wagen A porcentagem sim, 20% como sempre,mas o valor de venda outro. Voc sabe, no ?Os ventos mudaram.
Geraldo Como assim?
Wagen A fonte secou. O Coronel Weygand foi
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exonerado e o seu substituto linha dura. Eleno vai mais desviar os salvo-condutos pra gente.
Geraldo Quer dizer ento que o nosso negciocorre perigo?
Wagen Pelo menos por alguns meses... At agente conseguir derrubar o salafrrio. (Passando
o salvo-conduto para Geraldo) Presta ateno:este o ltimo. Consiga o melhor preo quepuder. Est valendo mais do que um punhadode diamantes, principalmente pros desesperadospra fugir daqui. Essa grana vai ter que livrar anossa cara por um bom tempo.
Geraldo (Olhando o salvo-conduto com ar decobia) O ltimo...
Cena 2 Desespero(Samul joga com Piotr e Sofia, os forasteiros
desesperados. Eles querem atravessar a fron-teira. Piotr e Sofia jogam vrias vezes e perdem
seguidamente)
Samul Samul ganha de novo! Querem mais uma?
Piotr Acabaram todas nossas moedas.
Samul Ento, at logo...
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Piotr No, espere um pouco... A gente temainda algum dinheiro no quarto.
Samul Eu espero por vocs. Talvez da prximatenham mais sorte.
(Piotr e Sofia se afastam da mesa de jogo)
Sofia (Sussurrando) E agora?
Piotr No sei.
Sofia Voc perdeu o pouco que a gente tinha!E agora o que que a gente faz?
Piotr No sei. Cala a boca! Me deixa pensar.
Sofia Que pensar o qu! Voc no pensa! Viua merda que voc fez?
Piotr Cala a boca, no atrapalha, eu vou dar
um jeito! Eu vou falar com ele de novo.
Sofia Falar o qu?
(Piotr se aproxima do balco do bar onde estSamul. Este olha desconfiado. Sofia se aproxima
em seguida)
Piotr O senhor tem um minutinho?
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Samul Pode falar.
Piotr (Pausa) A gente t jogando porque pre-cisa sair daqui. Disseram que podemos comprarum salvo-conduto e sair deste lugar.
Sofia A gente no pode mais ficar aqui.
Samul Nem vocs nem ningum aguenta ficarneste lugar.
Piotr Ento como que a gente pode conseguir?
Samul No tem como! Vocs vo ter que ficar.
Sofia Mas isso no...Piotr Tem que haver um jeito! Com quem eu falo?
Samul Vocs no tm dinheiro.
Piotr Eu sei disso, mas com quem eu poderia
falar?
Samul No tem ningum... A no ser...
(Geraldo se aproxima)
Geraldo Me d um copo de vinho, Samul.
Samul Mas olha quem chega. Em boa hora. Ele,sim, pode ajudar vocs.
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Sofia O senhor pode nos ajudar?
Piotr(Sussurrando para ela) Cala a boca! Quemfala aqui sou eu! (Para Geraldo) O senhor teriaalguma sugesto? Como que a gente consegueum salvo-conduto?
Geraldo Mas vocs no tm dinheiro.
Piotr No. Mas a gente faz qualquer coisa parasair daqui.
Sofia Qualquer coisa.
Geraldo Qualquer coisa pra mim no nada.O meu negcio dinheiro vivo.
Samul Difcil... (Pausa, refletindo) A no ser...
Sofia A no ser o qu?
Samul Vocs podem falar com o chefe de po-lcia. O nome dele Wagen.
Piotr Chefe de polcia?
Sofia Por que o chefe de polcia?
Samul Porque ele o nico por aqui que aindapode conseguir um salvo-conduto.
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Piotr Mas ele de confiana?
Samul Se vocs no acreditam, podem pergun-tar para o meu chefe, o Rick. Mas sem dinheiro?Hum... Nesse mundo no se pode fazer nada semdinheiro. Mas pra quem acredita em milagres...
Sofia A gente no vai conseguir, Piotr.
Piotr Cala a boca, Sofia, vamos logo atrs dele.
Samul De qualquer maneira voltem pra jogar.
Cena 3 Lembranas
(Lzaro e Rick no bar)Lzaro Traz outra garrafa, Samul!
Samul Seu Lzaro, o estoque de vinho estno fim.
Lzaro Isso no da sua conta. No se metacom coisa onde no chamado. Bota um poucode gua no barril.
Samul Mas j fizemos isso na semana passada.Os clientes podem desconfiar.
Lzaro Eles que se danem. Eles tm que bebero que tem a.
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Samul Mas que pra amanh o nosso estoquevai estar zerado.
Lzaro E a minha pacincia com voc tambm.
Rick Samul! Cuide do seu servio, porque Lza-ro e eu cuidamos da bodega.
(Samul, sem graa, retoma suas tarefas)Lzaro Bebe um copo comigo.
Rick No.
Lzaro S um copo. dos bons. Vinho das Cal-
das. (Bebe um gole) Das melhores safras.
Rick No. Voc sabe que eu no bebo desdeque ela...
(Clima em suspenso. Rick e Lzaro se olham edepois olham pra Samul. Samul sai)
Lzaro Por Deus! Por que falar nisso de novo!?
Rick Eu nem queria falar nisso. Me parece quevoc quem sempre insiste.
Lzaro Eu? Pra que eu vou insistir em falar deuma desgraada que s destruiu com a minhavida? Ela acabou comigo.
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Rick Voc v, Lzaro! Parece que a imagemdessa maldita vive muito mais em voc e no seucopo do que em mim e em minha sobriedade.
Lzaro Mas era minha mulher! Era com ela quedividia a minha cama.
Rick No importa como as coisas comeam,
importa como terminam. E no final ela dividiaa cama comigo tambm.
Lzaro Voc acha que isso foi o final?
Rick Claro que no. No final eu e voc estamosencostados nesse balco, e eu tenho que dividir
um maldito copo contigo.
Lzaro No final ela conseguiu se dar bem eatravessar a fronteira. Vai, bebe e esquece.
(Os dois riem)
Rick J disse que no quero beber!
Wagen(Aproximando-se, depois de acompanharo final do dilogo) Ento bebo eu.
Lzaro Mas agora, pra variar, bem que voc
podia pagar.
(Lzaro ri. Wagen tem um sobressalto)
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Wagen Isso o que eu chamo de poltica deboa vizinhana.
Rick No existe nenhuma maldita pocilga nomundo onde a polcia pague por um copo.
Wagen Exatamente, Rick. Porque se a polciativer que pagar, o lugar deixa de existir.
Lzaro Fcil, no mesmo? Viva a lei e vivaa ordem! Viva a nossa polcia, que nos protegedela mesmo.
(Risos. Rick serve os dois. Brindam)
Wagen Pois ! Parece que o comboio j deveestar chegando.
Rick J estou comeando a sentir o cheiro dedesespero dessa gente.
Lzaro Todos loucos pra atravessar a fronteira.
Wagen E voc, Lzaro, louco pra ganhar di-nheiro enquanto eles enchem a cara esperandoa melhor oportunidade. Com licena, tenho quevoltar pra chefatura.
Lzaro Essa gente estpida... Fazer o que dooutro lado?
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Rick Tem gente que ainda acredita no para-so, Lzaro.
Lzaro Ela, por exemplo... E acabou se dandobem.
Cena 4 Negociao(Piotr e Wagen esto sentados mesa da taberna)
Piotr Com licena, o Sr. Wagen?
Wagen Depende. O que que voc quer?
Piotr Fiquei sabendo que o senhor quempode fornecer os salvo-condutos para sair daqui.
Wagen E da?
Piotr Eu pensei que...
Wagen Na sua situao, pensar no ajuda mui-
to... Quem te contou isto talvez tambm tenha tedito que um salvo-conduto custa muito dinheiro.
Piotr Eu sei que custa caro... Acontece queeu tenho muitas posses, tenho dinheiro, sim...De herana. Mas fui assaltado. Quando a gen-
te tava chegando aqui. Depois tentei ganharalgum no jogo, mas tambm perdi o poucoque tinha.
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Wagen (Rindo) Voc caiu no velho golpe do Sa-mul? Que tolice... At as pedras do deserto conhe-cem esse velho truque! E como se chama este tolo?
Piotr Me desculpe, senhor, eu esqueci de meapresentar... Eu sou Piotr, sou blgaro. E eupreciso muito sair daqui.
Wagen At agora no ouvi nenhuma novidade.Portanto, no me faa perder tempo.
Piotr Eu e minha mulher queremos atravessara fronteira.
Wagen Mulher? Voc ainda no tinha me dito
que tem uma mulher.
Piotr Tenho, senhor. Por isso preciso de doissalvo-condutos.
Wagen Ah, ento, assim fica muito mais caro!
Piotr Mais caro? Mas eu no tenho dinheiro al-gum. Ser que no existe nenhuma outra formade pagamento? Talvez eu possa pagar depois,ou fazer algum trabalho, quem sabe existe outraforma de pagamento.
Wagen Existe Existem muitas formas de pa-gamento Resta saber se voc est disposto apagar o preo.
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Piotr Pois o senhor diga.
Wagen Mande sua mulher falar comigo, ela a pessoa mais indicada para tratar desse assunto.
Piotr Mas por que minha mulher?
Wagen Porque as mulheres so muito mais
sensveis aos negcios.Piotr Mas o senhor no pode resolver issocomigo?
Wagen At poderia Mas nesse momentono seria o caso O negcio poder ser muito
melhor resolvido com a sua mulher. E dependen-do do talento dela, podemos at fazer um bomnegcio a minha nica proposta.
Piotr (Constrangido, depois de longa pausa) Tudo bem, eu vou ver o que fao. Obrigado!
Cena 5 Confiana(Geraldo e Rick num canto do bar)
Geraldo Pensando nos negcios?
Rick ... Nessa maldita espelunca voc sempre
tem que manter os olhos abertos. Voc nuncasabe quando um punguistazinho sujo e ordinriopode se aproximar...
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Geraldo No seja cnico, Rick. At mesmo umpunguista sujo pode surpreend-lo.
Rick O que que voc quer agora?
Geraldo Desta vez estou aqui, no pra tiraralgo do seu bolso... Mas para colocar.
Rick Sem rodeios, o que voc quer?
Geraldo Sei que voc j se estabeleceu aquie nunca mais vai querer sair daqui. Por isso,tambm sei que o que tenho no vai sair daqui.
Rick E o que voc tem?
Geraldo (Mostra o salvo-conduto) Este umvalioso documento para sair deste inferno. Ven-dendo posso fazer o que eu quiser. E assim levaruma boa soma em dinheiro!
Rick E onde que eu entro nisso?
Geraldo Fique com ele por algum tempo ateu arrumar um comprador.
Rick E por que voc confia em mim?
Geraldo Desculpe, Rick, mas voc nunca fez
nada por dinheiro. No vai ser agora que vaimudar. Alm disso, eu sou a pessoa que vocmais despreza nesse lugar.
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Rick At quando voc usa sua inteligncia,voc desprezvel, Geraldo. Mas eu fico comisso, eu guardo.
(Geraldo entrega o salvo-conduto nas mos deRick e sai)
Cena 6 Informaes
(Samul, Ivete e Valdvia no bar fechado)Ivete Samul, enche um copo de vinho pra mim!
Samul O estoque t acabando, Ivete!
Ivete Por que demorou tanto pra fechar a
espelunca?Samul Esse escroto me atrapalhou.
(Valdvia tenta pegar o copo de Ivete)
Ivete Porque essa retardada da sua irm t
aqui ainda? No presta pra nada... Ahhh... Buh!(Assustando Valdvia. Para ela, fazendo-a bebermuito do copo at engasgar) Vai ficar bbada,bbada, bbada... Imbecil! Assim pode ser queela pare de me encher o saco.
(Valdvia sai)
Samul No precisa gritar com ela. Vai, Valdvia,vai buscar mais vinho pra gente.
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(Ivete vai at Samul. Valdvia traz mais vinho,Ivete toma e cospe em Valdvia. Ela sai.)
Ivete Essa sua irm s serve para atrapalhar.Mas logo a gente vai ficar livre dela, dela e detodo mundo nessa bosta de lugar. (ChamandoSamul) Vem aqui! (Agarra-o) Tem alguma novi-dade do salvo-conduto? Hein? Cachorro!
Samul Tenho, tenho, tenho...
Ivete (Violenta) Ento me conta logo, vai!
Samul Fecha essa boca podre, minha vadia.
Ivete No t querendo me contar, ? Por queno quer me contar? T escondendo algumacoisa? Filho da puta!
Samul(Derrubando Ivete no cho, os dois come-am a se bulinar) Ah... Ivete, voc to safada,to ordinria!
Ivete E no disso que voc gosta?
Samul . Eu sei de uma coisa que voc vai adorar...
Ivete Ento conta pra sua putinha o que .
Samul sobre o salvo-conduto.
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Ivete Onde que t o maldito do salvo-conduto?
Samul T com o meu chefe. T com o Rick, seunamoradinho chifrudo.
Ivete T com o tonto do Rick? (Levantando-se)Mas como assim? E o Geraldo? Mentiroso!
Samul Aquele ladrozinho barato do Geraldopediu pro Rick guardar pra ele. Eu vi tudo. Elecolocou no bolso do palet. Ficou feliz agora?
Ivete Cala a boca! Vem aqui! (Beijam-se) Nemacredito que a gente vai conseguir sair daqui logo.
Samul Como que a gente vai fazer?Ivete Deixa comigo. Quando voc menos es-perar, a gente vai estar longe daqui, do outrolado da fronteira.
Samul E eu vou rir muito dos dois babacas.
Cena 7 Condies(Wagen e Sofia esto em p na delegacia)
Sofia Senhor Wagen?
Wagen Pois no?
Sofia O meu marido, o Piotr, me disse que osenhor queria falar comigo.
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Wagen Sofia?
Sofia Isso mesmo.
Wagen Ah, sim Vocs esto numa situaocomplicada, no ? Ele me contou!
Sofia Pra falar a verdade, o senhor nossa
ltima esperana.Wagen Mas fugir daqui no nada fcil, na-da fcil.
Sofia Eu sei, eu sei muito bem. Mas a gente fazo que for preciso. s o senhor dizer.
Wagen Bem, eu posso arranjar os salvo-con-dutos. Mas isso no vai sair de graa. Aqui tudotem um preo.
Sofia Mas a gente perdeu todo o nosso dinheiro.
Wagen O dinheiro manda neste lugar mas,em algumas ocasies especiais, o preo pode serpago de outra forma.
Sofia Como assim?
Wagen Por exemplo, o que vale o dinheiro?Algum se esfora para construir uma cadeira.Essa cadeira tem um valor, vale dinheiro.
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Sofia Cadeira?
Wagen Tudo na vida vale alguma coisa: umamoeda, vinte moedas, um milho de moedas.Esse salvo-conduto vale muito. E como vocpode pagar por ele? Com aquilo que voc temde mais precioso. (Se aproxima de Sofia e passaa mo no ombro dela)
Sofia Eu acho que o senhor est me entenden-do mal...
Wagen Eu acho que estou entendendo a situ-ao melhor do que voc. (Beija o ombro dela)
Voc pode conseguir o seu salvo-conduto seaparecer amanh noite no meu quarto.
Sofia (Constrangida) Eu no sei se deveria...
Wagen Mas quem disse que faria qualquer
coisa pra sair daqui foi voc.
Sofia Eu sei... Mas...
Wagen A circunstncia traa destinos. Eu souum admirador da beleza feminina. E voc tem
um corpo lindo. Eu tenho salvo-condutos. E vocest desesperada pra sair daqui. Tudo se encaixaperfeitamente. Ento?
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Sofia(Depois de uma longa pausa) A que horas?
Wagen s nove horas, amanh!
Sofia E o senhor entrega os dois salvo-condutosem seguida?
Wagen Ningum aqui falou em dois.
Sofia Mas eu s saio daqui com meu marido.
Wagen Ento ele que venha buscar o dele.
Sofia Como assim?
Wagen Uma das coisas mais excitantes de
possuir uma mulher casada poder ver os olhosvazios do marido enquanto ela sente prazer comoutro homem.
Sofia Mas ele nunca vai aceitar uma coisa dessas.
Wagen E ele aceita ficar por aqui? Na minha
opinio, meia hora de humilhao nunca podevaler mais do que a liberdade do outro lado dafronteira. Entende? Eu adoraria receber umamulher que vem de braos dados com o mari-do... Receb-la das mos dele... E ter o maridopor testemunha do prazer que ela vai me dar. E
sabe o que melhor de tudo isso? olhar parao lado e ver o maridinho ali, sentado, olhos es-bugalhados, iluminado pela luz do abajur.
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Sofia Eu no sei... Eu tenho certeza que ele novai aceitar a ideia.
Wagen Maridos tambm podem ser surpreen-dentes. Amanh noite, nove horas, eu vou ficaresperando por vocs aqui, na delegacia.
Cena 8 Deciso
(Sofia volta para o quarto onde est o marido)Piotr Como foi com o chefe de polcia?
Sofia Ele me disse que vai me vender os salvo-condutos.
Piotr Como se ns no temos dinheiro, estpida?Sofia Nosso problema, agora, no mais esse.
Piotr No esse? Ento, fala de uma vez.
Sofia Calma, Piotr, calma. A gente precisa sair
daqui, no precisa? Se a gente no tem dinheiro,tem que encontrar outra soluo.
Piotr Eu sei disso, o que vocs fizeram, o queaconteceu l?
Sofia No aconteceu nada, Piotr.
Piotr No minta para mim que eu te quebroa cara!
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Sofia No aconteceu nada... Ainda. Mas issodepende de voc.
Piotr Como assim?
Sofia Aquele porco nojento me pediu para irl no quarto dele, amanh noite, na delegacia.
Piotr O qu? Transar com voc? Esse filho daputa t querendo me foder? E voc parece queest gostando, vagabunda.
Sofia (Irnica) No, pelo amor de Deus, Piotr.Eu vou ter que transar com ele para conseguir
um salvo-conduto. Para voc conseguir o seu,voc vai ter que fazer a sua parte.
Piotr Que parte?
Sofia Assistir!
Piotr Canalha! Canalha!
Sofia Ele disse que s com essa condio vo-c pode ganhar o seu. Mas eu j disse que novou aceitar o jogo dele se voc no escaparcomigo tambm.
Piotr O que que ele pensa? Onde que elequer chegar.
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Sofia Eu disse que voc no ia aceitar. A gented um jeito. Vamos levantar esse dinheiro deoutra maneira.
Piotr Espera. Eu preciso pensar. Vou dar umavolta. Vou pensar.
Cena 9 A chegada
(Elisa entra observando distraidamente o am-biente. Samul est no balco. Quando v Elisa,fica surpreso)
Elisa Oi Samul. Quanto tempo, hein?
Samul Quem a senhora?
Elisa Samul, no est me reconhecendo? Seteanos no so suficientes pra destruir uma mulher...
Samul Elisa.
Elisa Como vo as coisas por aqui, Samul?Samul Quase do mesmo jeito de antes.
Elisa Eu tambm sou quase a mesma.
Samul Voc sempre foi a surpresa. Agora vai
ter uma grande surpresa.
Elisa timo, tudo o que eu preciso na vida.
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Samul Eu posso imaginar. Mas, se voc quiserfazer um favor a si mesma, abra mo das surpre-sas e suma daqui.
Elisa O que voc quer dizer com isso, hein,Samul?
Samul Ontem noite eu ouvi o vento uivar nes-
sas areias. Ontem eu no sabia, mas agora tenhocerteza. Sua chegada no traz boas novidades.
Elisa Onde que esto todos?
Samul Faa um favor a si mesma e suma daqui.
Voc traz azar.
(Elisa fica tensa por um momento e depois re-toma)
Elisa Toca aquela cano pelos velhos e bonstempos.
Samul Os velhos tempos s so bons porquepassaram, Elisa.
Elisa Vamos, Samul! Toca! Voc sabe o que euquero ouvir.
(Samul comea a tocar. Elisa aos poucos se en-volve com a msica e comea a danar)
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Cena 10 Encontro(Lzaro entra)
Lzaro J no disse para nunca mais tocar essamusica. (Eles se veem. Samul sai)
Elisa Lzaro...
Lzaro (Visivelmente constrangido) Voc?!Aqui de novo?! De onde que voc est vindo?
Elisa Acho que no interessa muito de ondeeu venho. O que interessa que eu voltei praminha casa.
Lzaro Sua casa? (Ri) Nenhuma casa espera porum dono que foge dela.
Elisa Voc acha mesmo isso, Lzaro?
Lzaro Acho.
Elisa Eu no estou falando de uma casa qual-quer. Estou falando de ns, dessa cidade.
Lzaro Elisa! Nessa cidade, ningum se lembramais que um dia voc existiu. Todos os que teconheceram atravessaram a fronteira. E os que
esto aqui, acabaram de chegar. Voc no ningum aqui, agora. E ningum est disponvelpara te aguentar mais.
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Elisa (Insinuante) Ser, Lzaro!? Ser mesmo?(Gargalhadas) Acho que no! Voc se lembracomo me suportava quando eu danava e can-tava para voc? E como me suportava quandoeu dormia no seu ombro. Ou ser que voc seesqueceu de tudo? Se bem me lembro, vocnunca me disse no, nunca. Acho que tambmno vai ser desta vez...
Lzaro A que voc se engana. Vai ser dessavez, sim. E se bem me lembro nunca te disse no,como tambm sempre te dei o que voc queria,mas me parece, se bem me lembro, que paravoc no era o suficiente. Voc precisou de mais,
precisou de outro homem. Mas parece que issotambm no foi o bastante. Tanto que vocfugiu. Agora me responde, Elisa. Dois homensno era o que voc queria? No era o bastante?Afinal Elisa, o que que voc queria? O que que voc quer?
(Rick entra)
Rick Se bem me lembro Lzaro, ns dois ramoso que ela queria. S que ao mesmo tempo e semque a gente ficasse sabendo.
(Elisa surpresa)
Elisa Rick! Voc continua por aqui?
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Rick Pra voc, tudo seria mais fcil se um dens no estivesse mais por aqui, no ?
Lzaro Voc se esqueceu de uma coisa, Elisa.A humilhao pode unir dois homens.
Elisa Tambm senti saudades de voc, Rick.Muita saudade.
Lzaro (Para Rick) Ela est de passagem.
Rick Se bem me lembro a senhorita galho emgalho sempre esteve de passagem. Inclusive en-tre ns. Que ventos te arrastaram para c, Elisa?
Elisa O mesmo que me levou... A mesma vozque me chamou. E aqui estou eu. No sei se depassagem... Ou se no. Tudo vai depender dosacontecimentos. Confesso que ver os dois juntos um jogo muito interessante.
Rick Que curioso, Lzaro! Vento... Voz... Meparece que aquele cara mudou de nome.
Lzaro Veio sozinha?
Elisa Por que essa pergunta?
Lzaro Ento ele te abandonou, afinal...
Elisa Quem sabe o que aconteceu?
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Rick Provavelmente, nem ele sabe tudo o queaconteceu. Mas afinal, voc veio sozinha?
Elisa Se to importante assim saber... Estou s.
Lzaro Pode apostar que est!
Rick E como estar s, Elisa?
Lzaro , Elisa, pra voc que no se satisfazianem com dois homens, deve ser difcil ficar so-zinha, no?
Rick S dois, Elisa? Ou teve outros no caminho?
Lzaro Ele te deixou por uma mais nova?
Rick Voc deve ter arrancado at a ltimamoeda do cara!
Lzaro No arrancou?
Rick claro que arrancou! Voc se lembra decomo ficaram os nossos bolsos quando voc fu-giu? Elisa, com quem voc aprendeu a roubar?
Lzaro Ou voc veio devolver o que levou, Elisa?
Rick O que voc acha de desaparecer por maissete anos?
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Lzaro Ou prefere quatorze?
Elisa Se vocs preferem assim... Eu vou embora.(Silncio colossal)
Lzaro Voc sabia, Elisa, que as pessoas poraqui dizem que voc d azar? , Elisa, acho quens trs damos azar.
Rick Por que voc voltou, Elisa?
Lzaro Por mim, Elisa?
Rick Por ele, Elisa? Por quem voc voltou?
Lzaro , Elisa, por mim ou por ele?
Rick Ou talvez seja melhor perguntar: pra quevoc voltou?
Lzaro Tem certeza que quer ficar, Elisa?
Rick O que que voc est tramando dessa vez?
Lzaro Porque voc voltou, Elisa?
Rick Apenas uma vez na vida, arrisque ser ho-
nesta e responda: por que voc voltou?
Lzaro Por que voc voltou?
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Rick Por que voc voltou?
Elisa Chega! Chega, vocs dois! Voltei porqueeu no tenho para onde ir.
Cena 11 Desespero II
Piotr Senhor Rick , tem um minuto?
Rick a primeira vez em alguns anos que al-gum me pede algo que no seja dinheiro.
Piotr Meu nome Piotr e eu queria... Eu nemsei como dizer... O seu funcionrio, Samul, me
disse que o senhor podia me esclarecer...Rick V em frente, pode falar.
Piotr Eu e a minha mulher estamos precisandode salvo-conduto. Ns temos que ir embora...Mas no temos dinheiro pra isso. E falamos com
o Senhor Wagen. Mas no sei se devia... Ele fezuma proposta.
Rick Qual proposta?
Piotr Ele disse que... se a minha mulher... se ela
fosse... O senhor entende, no?
Rick Eu conheo muito bem o Wagen...
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Piotr Mas ele vai cumprir o trato? O que osenhor acha?
Rick O que ele pediu em troca?
Piotr Alm de tudo eu ainda preciso assistir.Em troca, ele nos d os dois salvo-condutos. Oupelo menos, est dizendo que nos d.
Rick E ela concorda?
Piotr Ela acha que pode dar certo. Mas eu nosei... Essa situao. Eu no confio muito.
Rick Nele ou nela?
Piotr Nele. (Mais irritado) Nele claro.
Rick Desculpe, era s a ttulo de informao.Mas se ela concorda, qual o problema?
Piotr O problema no ela, com ela eu meajeito... Mas e o meu orgulho? O que que eufao com o meu orgulho, o senhor pode dizer?
Rick Infelizmente, nesse assunto, eu no seise posso te aconselhar bem... Faz muito tempoque perdi o meu.
Piotr O senhor trocaria seu orgulho pela liber-dade da fronteira?
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Rick No se trata do que eu faria, trata-se doque voc vai fazer. uma aposta. E, pelo quevejo, vocs no esto apostando to alto assim.Quanto ao Wagen, ele um policial, correto?
Piotr Correto!
Rick Fique de olhos abertos, porque nessa
cidade, no se deve confiar em policiais. E sepor acaso voc perder o seu orgulho por aqui,voc ainda pode recuperar em outro lugar. Ou,na pior das hipteses, voc pode ficar por aquimesmo, e no existe melhor lugar no mundo praquem perdeu o seu orgulho. Mas sinto no poder
ser mais claro, eu no tenho mulher.
Piotr Obrigado, senhor Rick.
Cena 12 O bolso
(Rick est bebendo sozinho, chega Ivete e oabraa por trs)
Ivete E o meu beijo?
Rick Faa como tudo feito aqui, adie praamanh.
Ivete Pede pra tua amante atual mudar deperfume. de vagabunda barata.
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Rick No acho o perfume to ruim assim, acombinao que no me agrada muito.
Ivete Que combinao?
Rick O dela e o teu.
Ivete Se voc no gosta do meu, ento me d
algum dinheiro pra que eu possa comprar ummelhorzinho.
Rick Quem diria, Ivete! Quando te conheci,voc s precisava dar uma voltinha no salo praconseguir o que quisesse...
Ivete Se voc pensa que vai me agredir, estmuito enganado. Foi no salo que voc se apai-xonou por mim, voc e muitos outros homens...Como vocs so ingnuos. Ou voc se esqueceassim to fcil das coisas boas da sua vida?
(Entra Samul, agitado)Samul (Fingindo estar constrangido diante deIvete) Desculpe, dona Ivete... Seu Rick, eu nosabia que estava atrapalhando...
Rick A gente j estava acabando, Samul.
Samul Seu Rick, t acontecendo um tumultona porta. O senhor precisa vir correndo.
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Rick Mas o Lzaro no pode ver isso?
Samul Eu no vi seu Lzaro.
Rick(Saindo) Ento, vamos.
Samul(Para Ivete) Acho que o problema vai serresolvido logo. Em alguns minutos, ele vai estarde volta, dona Ivete. (Sai)
(Ivete revira as coisas de Rick. Encontra o salvo-conduto no bolso do palet e sai)
Cena 13 Perdidos(Rick sentado na mesa do bar. Chega Geraldo.)
Geraldo Rick, agora no preciso mais de pro-blemas. Vim pegar o salvo-conduto. Conseguio comprador! E que vai me pagar muito bem.
Rick Lembra-se quando voc disse que eu eraa nica pessoa em quem voc poderia confiar?
Geraldo Claro!
Rick Pois ento voc estava enganado, o velhoRick foi passado pra trs.
Geraldo Como assim, Rick!?
Rick Parece que existe outra mo-leve por aquialm de voc. Surrupiaram o salvo-conduto!
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Geraldo Pare com isso, Rick... (Partindo paracima de Rick) Voc no est querendo sair daqui,no ? Onde est o salvo-conduto!? Onde?
Rick Geraldo, melhor voc ser mais cuidado-so ou ainda vai perder a vida atacando genteerrada. Seu salvo-conduto sumiu, desapareceu,evaporou! Algum me roubou. Mas se voc forlevar em conta que ladro que rouba ladro...
Geraldo ladro morto! Vou ter que me acer-tar agora com o Wagen! Como? O que que euvou dizer pra ele?
Rick Tenho certeza que vocs vo encontraruma soluo para o problema. Afinal, vocssabem muito bem como lidar com esse tipo desituao. Cada um da sua maneira...
Geraldo Maldito seja, Rick. Seu verme!!! (Sai)
Cena 14 Ameaa(Sentado na delegacia. Wagen lendo um livro. Ge-raldo lvido, plido, quase entrando em desespero)
Wagen Sabe aquele casal de blgaros que tem
andado por a?
Geraldo Sei.
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Wagen Amanh vou comer a mulherzinhadele E ele ainda vai ter que assistir.
Geraldo Voc e tuas histrias de sempre.
Wagen Minha especialidade...
Geraldo E por falar em salvo-conduto, Wagen...
Tenho uma histria meio esquisita pra te contar.Wagen No venha com historinhas dessa vezque eu j te conheo Desembucha.
Geraldo Dessa vez verdade.
Wagen Fala.
Geraldo O salvo-conduto foi roubado.
Wagen Roubado? Como roubado? Como as-sim? Voc t louco?
Geraldo Juro, a mais pura verdade.
Wagen Se voc estiver me enganando, vocsabe muito bem do que eu sou capaz quandoalgum tenta me passar a perna.
Geraldo Mas eu t falando a verdade. Entre-guei para uma pessoa de confiana, mas elafoi roubada.
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Wagen Confiana? E desde quando existempessoas de confiana nesse lugar?
Geraldo Era o Rick.
Wagen Ouve bem, Geraldo. Se voc estiverpensando em me enganar, voc vai sair prejudi-cado. Voc sabe muito bem o que eu fao com
quem tenta me aplicar um golpe.Geraldo Calma, Wagen, calma! Quando queeu te deixei na mo? Eu vou conseguir recuperaro salvo-conduto.
Wagen Eu acho bom mesmo E logo Ou
ento vou ter que tomar uma atitude que achoque voc no vai gostar muito.
Cena 15 Convite para o jantar(No bar, Lzaro faz as ltimas contas. Elisa chegacom uma garrafa. Lzaro faz meno de sair)
Elisa Lzaro, voc tem certeza que vai sair? Olhao que eu trouxe pra ns. (Mostra a garrafa.) Vocgostava tanto desse vinho. Vem. Bebe comigo.(Ele hesita mas acaba ficando.) Ah, Lzaro! Voce o Rick juntos no bar! (Ela serve e eles brindamcasualmente.) A vida d tantas voltas, hein?
Lzaro Nada melhor do que o tempo pra colo-car as coisas nos seus devidos lugares.
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Elisa Nesses sete anos, aprendi a ver a vida comoutros olhos, sabia? Tambm comecei a ver anossa relao de outro jeito. Ns dois... Quantacoisa. Voc se lembra da primeira vez que nosvimos? Era vero, fazia muito calor e eu tinha idobuscar gua no poo. Quando te vi, escorregueie me molhei toda. (Ela derrama vinho sobre seu
peito propositadamente.) E foi assim que tudocomeou. Voc no sente saudade?
Lzaro A escolha foi tua.
Elisa No, Lzaro. Foi o destino que me fez to-
mar o caminho errado. Mas, agora, eu conseguienxergar o erro. Quanta saudade! (Eles se pegam
sexualmente com ferocidade. Ela interrompe)Voc est feliz aqui, Lzaro?
Lzaro O que voc quer dizer com isso?
Elisa Voc no acha que a gente podia ser fe-liz sozinhos?
Lzaro Podia ser?
Elisa Lzaro, me ouve! Eu voltei... Porque penseimuito... Revi o nosso passado... Eu voltei porqueescolhi voc.
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Lzaro E da?
Elisa Presta ateno, Lzaro! Eu quero voc denovo, eu sempre te quis. S voc.
Lzaro E eu nunca te esqueci, Elisa. Nunca.Todas as noites, durante estes sete anos, eu melembrei de voc... Mas tambm toda noite me
vinha aquela pergunta horrvel: por que vocfugiu? Por que voc tinha que me enganar?
Elisa Ficar repetindo mgoas no ajuda emnada, Lzaro. (Aproxima-se dele e o beija) O queimporta que estou aqui, agora, e estou dizendo
que te amo muito. Eu quero voc.
Lzaro No faz isso comigo, Elisa. Eu jurei quenunca mais ia olhar na tua cara.
Elisa E eu jurei que um dia ia ter voc de volta.
Lzaro Mesmo que fosse verdade, Elisa, a gentesempre vai ter que conviver com um fantasmaentre ns dois.
Elisa Mas como voc mesmo disse: ele apenasum fantasma. E eu no tenho medo de fantasmas.
Lzaro Mas no tem lugar pra trs aqui, mesmoque seja um fantasma.
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Elisa Voc merece muito mais do que a metadedesse lugar. Voc pode ter tudo isso s pra voc.E eu vou ser toda sua, s pra voc.
Lzaro Mas como? Como?
Elisa Agora olha pra mim e diz: Elisa, vem jantar com a gente amanh, pra lembrar dos
velhos tempos.
Lzaro Elisa, vem jantar com a gente amanh,pra lembrar dos velhos tempos.
Elisa s nove horas.
Lzaro s nove horas.
Elisa E eu aceito o teu convite. E digo que nojantar, amanh, eu, voc e o Rick vamos beber elembrar do passado. Ele vai confiar em ns. Elevai rir tambm. Ento, eu vou chamar o Rick para
danar. Quando eu enterrar as mos no cabelodele o sinal pra voc se aproximar e cravar umpunhal nas costas dele. Lzaro, ele vai tombar.O fantasma vai sumir da nossa vida. E tudo aquivai ser seu... S seu e meu.
Lzaro assim que tudo termina?
Elisa No, Lzaro... assim que tudo comea.
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Cena 16 Cena de amor(Ivete chega esbaforida)
Ivete Samul, a pinga t limpa?
Samul T.
Ivete Estou precisando beber... Me d uma
pinga de verdade.
Samul Se deu mal, vagabunda?
Ivete Me d logo, que eu quero atolar o cu depinga, porra!!
Samul (Para Valdvia) Pega a pinga, imbecil!(Para Ivete) Fale, o que voc tem?
Ivete Aquele verme do caralho, desgraadome humilhou...
Samul O que ele fez agora?
Ivete Me sacaneou, ele quer que eu morra aqui...
Samul E o que tem isso? Todo mundo vai mor-rer aqui. Eu, voc e at o verme vai apodrecer
nesse lugar.
Ivete Voc to diferente dele...
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Samul Eu quero voc, porca interesseira. Elepodia no existir.
Ivete Voc acha, Samul? Eu quero tanto voc,sabia?
Samul Eu sei, voc minha vagabunda.
Ivete Sua vagabunda!!!
(Os dois se agarram)
Cena 17 Nada de atrasos
Piotr Eu andei pensando no assunto, procureisaber mais sobre esse chefe de polcia e resolvique at que o que ele t pedindo no deixa deser razovel.
Sofia Razovel?
Piotr Afinal de contas, quando a gente sairdesse buraco, ningum vai se lembrar do queaconteceu aqui, no mesmo, Sofia?
Sofia verdade, vai tudo pra debaixo do tape-te... Como se nunca tivesse acontecido.
Piotr E depois a liberdade do outro lado dafronteira... Pra sempre.
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Sofia Ele disse que nove horas em ponto agente precisa chegar l.
Piotr Problema seu. Eu nunca me atraso... Voc que precisa comear a se arrumar j.
Sofia Ele pediu pra voc chegar comigo de bra-o dado e depois sentar numa cadeira, do lado
de um abajur. Ele quer que voc fique sentadol, do lado da gente...
Piotr Mas v se no enrola muito com ele. R-pido... Rpido... Entendeu?
Sofia Com o nojo que eu tenho dele, nem
precisa se preocupar. A gente sai rapidinho... E,da... Liberdade.
Piotr Agora vai se arrumar logo... Anda. Sfaltava, depois de tudo, a gente perder essachance por causa dos seus atrasos.
Sofia J vou.
Cena 18 O prato frio da vingana(Lzaro e Rick no caixa do bar)
Lzaro Como est o movimento?
Rick E eu vou querer saber disso agora depoisdessa apario?
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Lzaro Eu convidei ela pra jantar amanh.
Rick Sete anos, Lzaro! Sete anos depois e o de-mnio volta, e voc convida prum jantarzinho?
Lzaro Um jantar pra ns trs, Rick.
Rick De novo, ns dois fazendo papel de pa-lhaos.
Lzaro Ns no.
Rick Voc tinha que convidar ela pra jantar?Tinha?
Lzaro Eu pensei que ela no tivesse mais podernenhum em cima de mim.
Rick Mas ainda tem. Ainda tem, sempre vai ter.
(Silncio)
Lzaro Eu no sei o que fazer.Rick Voc nunca conseguiu tirar ela da cabea...Nem eu.
Lzaro No quero mais, Rick. No posso mais.Nem consigo chegar perto dessa maldita.
Rick Desgraa. A melhor e a pior desgraa queeu conheci.
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Lzaro Continua insinuante... Continua apaixo-nante... Sempre foi e sempre arrumou um jeitode destruir tudo o que estava por perto. Noquero mais Rick.
Rick Ento por que no escorraamos ela parafora daqui de uma vez? No me importa que elano tenha para onde ir. Ela que se dane. No me
interessa saber como ela vai se virar.
Lzaro Pois me interessa. Me interessa muito. a nica coisa que me interessa.
Rick Depois de tanto tempo...
Lzaro Ela devia deixar de existir.
Rick Se ela vai embora, pode voltar ainda.
Lzaro E comea tudo de novo, tudo de novo.
Rick Se ela sumisse pra sempre...Lzaro Ningum ia perceber que ela desapa-receu, s ns dois.
Rick Ela podia mesmo morrer.
Lzaro No jantar.
Rick Quando ela estiver danando comigo.
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Lzaro Ou comigo.
Rick Quando ela estiver muito feliz.
Rick Quando ela estiver rindo...
Lzaro Voc apunhala a Elisa pelas costas.
Rick Ou voc apunhala a Elisa pelas costas.
Lzaro Enquanto ela estiver sorrindo.
Rick Enquanto ela estiver sorrindo.
Cena 19 Mentiras(Samul e Ivete retomam a ao da cena anteriorde ambos. Ouve-se um barulho)
Ivete Samul, me d alguma coisa pra beber.
Samul T. (Para Valdvia) Vai l, Valdvia,busca um vinho pra gente! (Valdvia sai) Conse-
guiu achar?Ivete Achar o qu?
Samul O salvo-conduto, porra. O que quea gente t procurando? Ou voc acha que euinventei aquela histria pro Rick pra qu?
Ivete Ah, no... No achei nada. Aquele vermedo caralho, o desgraado me humilhou.
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Samul O que ele fez agora?
Ivete Me sacaneou, melhor nem falar disso...Ele quer que eu morra aqui.
Samul E o que tem isso? Todo mundo vai mor-rer por aqui. Eu, voc e at o verme vai apodrecernesse lugar mesmo.
Ivete (Irritada) Cad essa porra desse vinho,Valdvia? Imprestvel!
Samul J falei pra parar de falar assim comela, Ivete.
Ivete Voc pensa que a sua irm tonta entendealguma coisa?
Samul No interessa. minha irm.
Ivete Que besteira... Ficar brigando por causa
dela? Acho que a gente tem mais coisa pra fazer...(Os dois se agarram)
Ivete A gente ainda vai acabar com o Rick.
Samul E com o desgraado do Lzaro tambm.
Ivete Eles pensam que so os donos do mundo.Nada! Eles no so nada.
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Samul Ivete... Nunca existiu uma mulher comovoc.
Ivete Voc acha mesmo, Samul?
(Ivete e Samul se agarram no balco do bar.Valdvia por perto. Ouve-se um barulho)
Ivete Que barulho esse?
Rick (Voz ao longe) Samul! Samul!
Samul O que ele quer agora?
Ivete Ele no pode me ver aqui.
(Ivete sai e esquece a bolsa)
Rick Samul, tem um larapiozinho por aqui, deveser algum funcionrio. Entrou no meu escritrioe me roubou.
Samul Roubou o qu, patro?
Rick Dinheiro e... Mais algumas coisas. Era bomvoc dar uma espiada e ver se tem alguma coisasuspeita. Eu vou procurar l na frente. (Sai)
Samul Vou tentar encontrar... (Para si, s) Coisasuspeita...
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(Samul v a bolsa de Ivete, resolve vasculhar ospertences da amante. Encontra o salvo-conduto)
Samul Ento essa vadia roubou o salvo-condu-to, desgraada! E ainda dinheiro do chefe... Ah,Ivete... Ivete!
(Valdvia ri)
Samul Cala a boca, Valdvia! (Ela continua arir) Valdvia! Quieta! A sacana tinha razo mes-mo: voc no entende nada. Essa vadia queriafugir daqui sozinha. Ela me paga, me enganousempre, acredita em mim, minha irmzinha...
Ningum engana Samul.
Valdivia Ahahahahaha...
Samul Isso, eu vou acabar com ela, traidora,vadia, vai se fuder, vai se fuder...
(Samul esconde o salvo-conduto no palet)
Cena 20 Convite para jantar II(No bar. Rick est s. Elisa chega com uma gar-rafa. Rick faz meno de sair, mas impedido)
Elisa Rick, acho que voc no vai querer sairagora.
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Rick Pra mim, mais que suficiente ter quejantar com voc amanh.
Elisa Voc devia ser mais gentil com um an-tigo amor que veio pra te visitar... Olha o queeu trouxe pra ns. (Mostra a garrafa)Voc selembra.Voc gostava tanto desse vinho. Vem.Bebe comigo. (Ele hesita, mas acaba ficando) Ah,Rick! (Ela serve e eles brindam casualmente) Avida d tantas voltas, hein?
Rick A maior das voltas foi voc aparecer poraqui.
Elisa Isso te deixa triste?
Rick Acho que irritado a melhor palavra.
Elisa No fundo, no fundo, voc sempre sonhouque eu voltasse logo. Mas tenho que te dizer
uma coisa. Fugi porque no conseguia maisaguentar. Eu no conseguia decidir nada.
Rick E o seu milionrio acabou decidindo por ns.
Elisa Se eu te disser que nunca te esqueci?
Se eu te disser que tive que fugir porque noaguentava tanto amor que eu sentia por voc?!Nunca me esqueci da nossa primeira vez.
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Rick(Comeando a ceder) Antes do teu casa-mento com o Lzaro.
Elisa Exatamente, uma semana antes. Voc selembra? Foi tudo por acaso. Eu nunca ia imagi-nar. De repente, aquela noite, eu e voc ficamossozinhos.
Rick O Samul tocando.
Elisa E j no tinha mais ningum no bar.
Rick Voc falou do casamento.
Elisa E os teus olhos mergulharam dentro de
mim. E eu no consegui me controlar.
Rick Voc me beijou.
Elisa Eu te beijei. Como agora eu tenho vonta-de de te beijar de novo, Rick. (Elisa se aproxima
e beija Rick)Rick Eu tenho uma promessa.
Elisa Psiu! Fica quieto. Eu tambm tenho umapromessa. Mas as promessas foram feitas paraserem quebradas.
Rick Por que voc nunca largou dele? Por quevoc nunca ficou s comigo?
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Elisa Porque s o
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