Fármacos com heterósidos antracénicos
Universidade dos Açores – Departamento de Ciências AgráriasCurso Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
(Preparatórios)Fitoquímica e Farmacognosia I – 2008/2009
Docente: Professora Doutora Maria Adelaide Lobo
Trabalho realizado por:Andreia Pereira (20072108)
Luís Teixeira (20073153)
Terra Chã, 18 de Novembro de 2008
Sumário:
Fármacos com heterósidos antracénicos:
Distribuição e localização Constituintes naturais Ruibarbo Cáscara-sagrada Amieiro-negro Sene Araroba Aloés
Distribuição
Encontram-se frequentemente:
No reino vegetal, encontram-se nas diversas regiões das plantas, apresentando uma coloração amarela ou vermelha nos órgãos onde o conteúdo è abundante.
Foram identificados em varias famílias de plantas, tais como: Poligonáceas,Ramnáceas, Leguminosas, Rubiáceas, Liliáceas;
Em fungos (Penicillium, Aspergillus, Claviceps) e líquenes;
No reino Animal: cochonilhas, Hemípteros do México.
Figura 3- LíquenFigura 2- Hemípteros Figura 1- Cochonilhas
Localização/Identificação Métodos microquimicos:
• Aparecimento de cor vermelha nas células observadas em cortes histológicos quando montadas no hidróxido de potássio
• Expõem-se também os cortes, em caixa PETRI, aos vapores amoniacais durante alguns minutos; estes observam-se depois em parafina líquida.
Constituintes naturais Na base dos compostos naturais antracénicos encontra-se a dicetona 9,10-
antraquinona, que ao sofrer redução origina um antranol , que em meio alcalino dá a respectiva antrona. Consideram-se ser os antranóis e as antronas os primeiros compostos que se formam na planta dando por oxidação as antraquinonas. A redução moderada da antraquinona dá a antra-hidroquinona, cujo tautómero é a oxantrona. Das antronas podem ser obtidas as correspondentes diantronas, as quais, ao contrario dos compostos antraquinónicos, já não apresentam a acção laxativa. (Figura 4)
Figura 4-tipos de redução e oxidação que os compostos antraquinónicos
podem sofrer
Constituintes naturais
Todas estas são reversíveis, estando nas plantas a relação entre as formas oxidadas e as reduzidas, dependente especialmente, da época do ano (as formas reduzidas mais no começo do período vegetativo, para depois predominarem as oxidadas). A fácil oxidação das formas reduzidas leva a que quando se pretende dosear ou isolar estes constituintes os processos extractivos e de dosagem têm de ser conduzidos na ausência de luz e de oxigénio.
Constituintes naturais Nos compostos antraquinónicos é característica a existência de
hidroxilos nos C1 e C8, substituintes em C3 (metilo, carboxilo e metoxilo) e, por vezes, em C6. Aparecem nas plantas sob a forma de heterósidos, mas também as respectivas formas aglicónicas.
As oses provenientes da sua hidrólise são geralmente a glucose e a ramnose, raramente a apiose.
Figura 5- D-Apiose Figura 6- Ramnose Figura 7- D–Glucose
Constituintes naturais Os compostos antracénicos mais vulgares encontram-se sob a forma de
mono e diglucósidos, ramnósido e glucoramnósidos. A maioria dos compostos são O-heterósidos com ligações dos hidroxilos presentes nos C1, C8 ou C6. Os C- heterósidos mais vulgares, de que são exemplo as aloínas, são derivados das antronas, em que a ligação C-C é em C10.
Alguns constituintes comuns nos fármacos deste grupo são: - Ácido crisofânico ou crisofanol (1,8-di-hidroxi-3-metil-antraquinona), cujo
glucósido é crisofaneína;- A reína (1,8-di-hidroxi-3-carboxi-antraquinona), que com o respectivo
glucósido se encontra, entre outros fármacos no ruibarbo e no sene. - A aloé-emodina (1,8-di-hidroxi-3-metilol-antraquinona), que aparece, sob a
forma de O-heterósidos e de C- glucósido nas folhas de várias espécies de Aloe.
Figura 8- constituintes dos fármacos
Constituintes naturais
- A aloína A, um (10-R)-C-glucósido da 1,8-di-hidroxi-3-metilol-9-antrona e a aloína B existem também nos aloés.
Figura 9- Aloínas A e B
Constituintes naturais (resumo) Classificação segundo a estrutura química:
1- Antrona Um grupo ceto no anel central. Muito instável que se oxidam facilmente dando antraquinonas.
2 – Antraquinonas As mais oxidadas : 2 grupos ceto no anel central
É o grupo com bastante interesse terapêutico:
Grupos OH em C1 e C2 : corantes
Grupos OH em C1 e C8 : laxantes/purgantes
Podem estar oxidados ou reduzidos
Frequentemente podem estar na forma heterosídica (glucose, ramnose ou outra)
Constituintes naturais (resumo)
O-Heterósidos: por OH de C1, C8 e às vezes C6
Exemplo: Glucofrangolina ( Amieiro negro)
C-Heterósidos: por C10 : uniões directas C-C
Exemplo: Aloína (Gel de aloé)
C-Heterósidos e O-heterósidos (na mesma molécula)
Exemplo: Cascarósidos (Cáscara-sagrada)
Ruibardo
Família: Poligonaceae
Género: Rheum
Origem: o ruibarbo é um arbusto vivaz originário do Nordeste da China, e das regiões montanhosas do Tibete Oriental
Características (parte utilizada):
Do ruibarbo são usados os órgãos subterrâneos, inteiros ou fragmentados e secos de Rheum palmatum L., de Rheum officinale Baillon, dos hibridos das duas espécies ou da mistura delas.
Figura 10 – Parte aérea do Ruibarbo
Figura 11 – Partes do Ruibarbo
Ruibarbo Constituição quimica:
Os rizomas dos ruibarbos oficinais têm entre 3 a 12% de derivados hidroxiantracénicos (crissofanol, emodina, aloé-emodina), reína 60 a 80%, diantronas 10 a 25%, fisciona, sob a forma de glucósidos expressos em reína, para além de taninos gálhicos 5 a 10%, oxalato de cálcio e outros sais minerais.
Propriedades Medicinais/ Indicações Terapêuticos- Em doses baixas (0,1 a 0,4g de rizoma de ruibarbo, por dia), predomina a acção adstringente e colagoga.- Em doses superiores (1,2 a 4,8 g de rizoma correspondendo a cerca de 30 a 120 mg de derivados hidroxiantracénicos) tem acção laxativa ou já purgativa.Os heterósidos actuam como pró-farmaco, pois não sendo absorvidos nem alterados a nível do tracto intestinal, são degradados pelas enzimas das bactérias do cólon a antronas. São estas que vão actuar por redução da absorção dos líquidos e aumento da mobilidade do cólon.
Fig 12- constituintes dos fármacos Fig 13- emodina
Cáscara-sagrada Nome científico: Rhamnus
purshiana D.C.
Família: Rhamnaceae
Género: Rhamnus
Origem: é espontânea da região americana do Oceano Pacífico, desde o Norte dos Estados Unidos da América até á colombia.
Características (parte utilizada):
São utilizadas as cascas secas do tronco e dos ramos da árvore
Figura 14 – Cáscara-sagrada
Figura 15 – tronco (casca) de Rhamnus purshiana D.C
Figura 13 –Rhamnus purshiana D.C
Cáscara-sagrada Constituiçao quimica:
Tem como constituintes activos derivados antraquinónicos (8 a 10%) onde predominam ao carcarósidos A e B, em menor quantidade os C,D, formando dois pares de isomeros que diferem pela parte aglicónica. Nos carcarósidos A e B a parte aglicónica é aloé-emodina-antrona, enquanto que nos C e D é a crissoferol-antrona como se mostra na figura abaixo:
É constituido ainda por aloínas e antraquinonas livres (crisofanol e emodina). Segundo a Farmacopeia Portuguesa VIII, o fármaco seco deve conter 8% de heterósidos antraquinónicos, dos quais 60%, no mínimo, são constituídos por cascarósidos expressos em cascarósido A.
Figura 16 – Cascarósidos A,B,C e D
Cáscara-sagrada Propriedades Medicinais/ Indicações Terapêuticos
- Os constituintes antraquinónicos originam acção prolagoga e laxante em doses baixas ou acção progativa em doses maiores.
- A dose média diária não deve ser superior a 1,5g. Começar a administração com doses baixas e aumentá-las no caso de não produzir fezes brandas.
Contra indicações
- Deve usar-se só a casca envelhecida (com pelo menos um ano) ou após aquecimento a 100ºC. Quando é recente pode provocar vómitos e espasmos gastrointestinais devido á existência de compostos em quantidade elevada sob a forma reduzida.
-O uso prolongado de cáscara–sagrada, além de produzir a depleção de minerais , nomeadamente provocar hipocaliémia, pode originar um cólon atónico, sem as haustras normais, dilatado, com destruição dos seus plexos nervosos intramurais.
Amieiro-negro Nome científico: Rhamnus frangula
L. (Frangula alnus Miller)
Família: Rhamnaceae
Género: Rhamnus
Origem: pode apresentar-se sobre a forma de arbustro a árvore, na Europa não editerrânea e no Nosdeste dos Estados Unidos da América, crescendo nas margens dos cursos de água, em terrenos ácidos e húmidos. É espontêneo em Portugal junto a linhas de água.
Características (parte utilizada):
A parte da planta usada em terapêutica é a casca do tronco e dos ramos.
Figura 17 – Amieiro-negro
Figura 18 – ramo (casca) de Rhamnus frangula L.Figura 19 –Rhamnus frngula L.
Amieiro-negro Constituiçao quimica:
Nas cascas recentes predominam as formas reduzidas, o glucofrangularósido (6-ramnósido-glucósido da frângula-emodina-antrona) e o frangularósido ou frangulina antrona (6-apiósido da frângula-emodina-antrona), que após oxidação por secagem originam o glucofrangulósido A (glucofrangulina A) e o glucofrangulósido B (glucofrangulina B).
Tem ainda compostos antraquinonas livres (crisofanol e emodina) ou sob a forma de heterósidos (frangulósidos A e B), resultante da hidrólise parcial dos glucofrangulósidos A e B (7 a 10%).
Figura 20 – Glucofrangulina A (I) e Glucofrangulina B (II)
Amieiro-negro Propriedades Medicinais/ Indicações Terapêuticos
- Tem acção colagoga em doses baixas, em doses superiores, actua como laxante ou purgante, devendo ter sido submetido a secagem a 100ºC pelo menos durante uma hora ou envelhecido por um período não inferior a um ano, para que se produza tranformação das formar reduzidas dos compostos antraquinónicos nas formas oxidadas, mais convenientes para utilização terapêutica.
-utilizado na obstipação ocasional, como laxativo ou porgativo, quando é necessário uma evacuação rápida com fezes brandas, caso de fissuras anais e de hemorroidal.
Administração e posologia recomendadas:
- cozimento: 0,5 a 2 g por chávena, a tomar á noite;
- pó: 1 a 2 g por dia, como laxante, e 4 a 5 g por dia como porgante, em cápsulas de 0,5g;
- extracto seco (5:1): 100 a 300 mg por dia, em 1 a 2 tomas
SeneNome cientifico: Cassia angustifolia Vah
Família: Leguminosas
Género: Cassia
Origem: Sul da Índia e nordeste da África.
Características:
O sene é o fármaco com derivados antraquinónicos mais usado na terapêutica, empregando-se tanto as folhas (folíolos) como os frutos (folículos)
Figura 21 – Folhas se sene
Figura 22 – Fruto de sene
Sene
Figura 23 – Partes constituintes do sene
Composição química:
Na composição, tanto do sene folhas como do sene frutos, contêm sensivelmente os mesmos constituintes antracénicos. Encontram-se as diantronas-8-8’- diglucósidos (senósidos), que são os principais constituintes, e também outros componentes antraquinónicos (crisofanol, aloé emodina, reína e os respectivos glicósidos), mucilagens (10%), flavonóides (isorramnetol, campferol e respectivos glicósidos), resinas, ácidos orgânicos e fitosteróis.
Sene
Figura 24 – Senósidos A e B
SenePropriedades medicinais/Indicações terapêuticas
O sene é das plantas laxativas mais usadas em automedicação.
O medicamento Pursennide, comprimidos, possui extracto de sene equivalente as 12 mg de senósidos totais calculados como senósidos A e B (outros exemplos: Dual-Lax, drageias, e o Midro).
São recomendadas as seguintes formas de administração e posologia:
-Infusão: 0,5 a 2 g de sene de folhas por chávena, 1 a 2 chávenas-Pó de sene folhas: 100 a 300 mg, 1 a 4 vezes por dia, em cápsulas-Extracto seco: 0,5 a 2 g por dia
Araroba ou Pó de Goa Nome cientifico: Andira araroba Aguiar
Família: Leguminosa
Origem : Típica das florestas húmidas em particular do Estado da Baía, no Brasil.
Composição química:
Fig 25- Araroba
Contém aproximadamente 50% de uma mistura de derivados da antraquinona, crisofanol antrona / crisofanol antranol (= 1,8-dihidroxi-3-metil-9-antrona) e physcion antrona / physcion anthranol ( = 1,8-dihidroxi-3-metil-6-metoxi-9-antrona) .Uma pequena quantidade de ácido livre chrysophanic (= chrisofanol) também está presente em Goa Pó. É a crisarobina nome também se aplicava à pura substância 1,8-dihidroxi-3-metil-9-antrona o que corresponde a cerca de 30% da mistura que ocorre naturalmente
Fig 26-Crisofanol antrona, crisofanol antranol, ditranol
Araroba ou Pó de GoaPropriedades medicinais/Indicações terapêuticas
A araroba possui propriedades cáusticas e irritantes quando aplicada sobre a pele; utiliza-se em diversas dermatoses, em particular na Veterinária.
A goa em pó foi usada para combater a psoríase, eczemas, acne, e outras doenças da pele
Contra-indicações
Nos olhos produz conjuntivites de carácter perigoso
Apesar de ter propriedades laxativas, não se usa para este efeito
Fig 27- Doente com psoríase
AloéNome cientifico: Aloe vera L., Aloe
barbadensis Mill.
Família: Liliáceas
Género: Aloe
Origem : Ásia, da África Oriental e do Sul, encontram-se aclimatados em todo o Mundo, embora preferindo clima quente e húmido.
Características:
O aloés corresponde ao suco ou látex concentrado e seco proveniente das folhas.
Figura 28 - Aloé Vera
Aloé Composição química:
No suco seco predominam os derivados hidroxiantraquinónicos, sendo os C- glucósidos (aloínas A e B) e os aloinósidos A e B os principais; outros constituintes são os derivados cromónicos, as aloeresnas B (aloesina), A e C os flavonóides.
O gel de aloés vera, que corresponde, ao suco viscoso do parênquima mucilaginoso que se encontra no interior das folhas, sendo obtido após eliminação dos tecidos mais externos, ricos em derivados antraquinónicos. No gel, predominam mucilagens, das quais a mais importante é o acemanano, mistura de polissacáridos do tipo B - (1-4)- mano-O-acetilados, glucomananas neutras e com ácido glucorónico. Possui, ainda, glicoproteínas (lectinas), aminoácidos, enzimas, sais minerais, taninos e vestígios de compostos antraquinónicos.
Figura 29- Aloínas A e B
Aloé
Propriedades medicinais/Indicações terapêuticas
Em terapêutica usa-se o gel de aloé vera que possui propriedades hidratantes, anti-inflamatórias cicatrizantes, antibacterianas e antivirais.
Contra-indicações
Não usar, na obstrução gastrointestinal de qualquer origem, na gravidez, aleitação e em crianças com menos de 10 anos.
Bibliografia Bruneton, J., Pharmacognosie, Phytochimie,
Plantes médinales,3éme ed., Ed. Technique et Documentation – Lavoisier, (1999)
Costa, A. F., Farmacognosia, II volume, 4ª. Ed., Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, págs. 3-47(1994)
Cunha, A. P., Farmacognosia e Fitoquímica, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian(2005)
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Bibliografia http://images.google.pt/imgres?imgurl=http://
www.irishhealth.com/clin/psor/images/plaque3.jpg&imgrefurl=http://www.irishhealth.com/clin/psor/prescription.html&usg=__omsigu8f3O5rkD2WmxxH_DathXE=&h=406&w=221&sz=26&hl=pt-PT&start=4&tbnid=J4mo1mWwfPeXGM:&tbnh=124&tbnw=67&prev=/images%3Fq%3DGoa%2BPowder%26gbv%3D2%26hl%3Dpt-PT Araroba em psoríase
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