(1) Intenção clara e definida: há sempre um propósito no que dizemos, cada acto comunicacional é orientado para um fim específico;
Por ex.º: o cão tem diferentes ladrares, mas são muito mais vagos comparativamente à linguagem humana.
Karl von Frisch (Univ. Munique) estudou a linguagem das cigarras e notou que estas, através da vibração das asas, manifestavam uma intenção.
“as abelhas que descobrem uma fonte de néctar informam as companheiras onde está essa fonte. Sobre a prancha de descolagem fazem isso com uma dança elaborada, com determinados movimentos, com uma certa velocidade e apontando para uma direcção"
Karl von Frisch
(2) Significação permanente: os conteúdos, na sua maioria, conservam o seu significado;
No caso da linguagem animal, é difícil captar uma significação exacta, o significado pode ser fixado por aproximação, enfermando de inexactidão.
"para meu espanto, todas as abelhas com pontos azuis, que visitavam a taça próxima, dançavam em círculo para avisar as companheiras, enquanto as vermelhas, que visitavam a taça afastada, faziam pequenos movimentos agitados”
K. von Frisch
(3) Divisibilidade: possibilidade de o falante dividir os enunciados, de os segmentar, destacando-os das séries em que estão inseridos e, com essas partes segmentadas, construir novas séries.
Ex.º: “Tenho frio.” “Tenho de ir às compras.”; “Este Inverno foi frio.”
O traço da divisibilidade, de forma alguma, é encontrável na linguagem animal, e mesmo os papagaios não o detêm, visto que se limitam apenas a repetir frases aprendidas.
André Martinet:
A dupla articulação é uma característica da linguagem humana. Na primeira articulação, combinam-se unidades mínimas significativas – os monemas – em infinitas possibilidades. Na segunda articulação, estão os fonemas, limitados em número e formadores do sistema.
A segunda articulação diz respeito às unidades meramente distintivas, os fonemas. Por sua vez, pela primeira articulação da linguagem, as experiências a transmitir, as necessidades que se pretendem revelar a outrem, analisam-se em uma série de unidades, cada uma delas possuidora de uma forma vocal e de um sentido. (André Martinet, 1973:11)
Monemas – unidades mínimas dotadas de significação, segmentam-se em lexemas ou semantemas (léxico) e morfemas (gramática);
Fonemas – unidades sonoras, desprovidas de qualquer sentido e que, combinadas, compõem os monemas;
Morfemas – unidades intermédias, são também unidades mínimas de significação: não são divisíveis sob pena de perderem o seu sentido.
Língua Parte essencial e social da linguagem; Linguagem menos a fala; Instituição social; Sistema de valores; O indivíduo, por si só, não consegue criá-la nem
modificá-la; Contrato colectivo; Produto social; Manejável mediante aprendizagem.
Língua “entidade puramente abstracta, uma
norma superior aos indivíduos, um conjunto de tipos essenciais, que realiza a fala de um modo infinitamente variável”
V. Brondal
FalaParte acessória e individual da linguagem;
Essencialmente um acto individual de selecção e actualização;
Constituída, em primeiro lugar, pelas “combinações graças às quais o sujeito falante pode utilizar o código da língua para exprimir o seu pensamento pessoal e os mecanismos psicofísicos que lhe permitem exteriorizar essas combinações”;
Combinatória.
A língua só existe perfeitamente na massa falante; não se pode manejar uma fala sem partir de uma língua, mas, por outro lado, a língua só é inteligível na fala – é a dialéctica língua-fala.
Historicamente, os factos da fala precedem sempre os da língua.
A língua é produto e instrumento da fala.
(1) Noam Chomsky: Competência-performance: A competência é o conjunto de
virtualidades de um sujeito, em qualquer momento, para compreender, captar ou emitir um número infinito de frases que, na sua maioria, nunca ouviu ou emitiu.
A Performance é o modo como a competência se concretiza em cada indivíduo, em actos específicos.
Noam Chomsky, contrariamente a Saussure que configura a sua dicotomia numa perspectiva social, atribui-lhe uma configuração individual.
(2) Eugenio Coseriu: Sistema, norma e fala: O sistema é o conjunto de
potencialidades próprias de falantes integrados na mesma comunidade linguística. É mais amplo que a língua e conhece apenas como freio a compreensão.
“É sistema de possibilidades de coordenadas que indicam caminhos abertos e caminhos fechados: pode ser considerado como conjunto de imposições, mas também, e talvez melhor, como conjunto de liberdades, pois admite infinitas realizações e só exige que não se afectem as condições funcionais do instrumento linguístico: mais que imperativa, a sua índole é consultiva.”
Eugenio Coseriu, Teoria da Linguagem e Linguística Geral
A norma é um sistema de realizações obrigatórias, formas de restrição à liberdade implementada pelo sistema.
3 tipos de norma: (1) norma-padrão: a norma modelo, a norma das
elites, do bem dizer ou fazer compreender; (2) norma regional: própria dos habitantes de uma
região, com hábitos linguísticos próprios – os dialectos;
(3) norma individual – a forma como cada indivíduo concretiza o sistema, manifestável e materializável na fala.
Desvios à norma: (1) voluntários: o seu infractor está
consciente do desvio, não o pratica por ignorância, mas intencionalmente; fazem evoluir a língua;
(2) involuntários: o seu infractor fá-lo por ignorância, degenerando o uso correcto da língua.
(3) Louis Hjelmslev: Esquema, norma, uso: O esquema é a língua considerada na sua
forma totalmente pura, quase platónica, por fazer parte do mundo das ideias, tem existência impalpável e virtual; é o tesouro a que se refere Saussure.
A norma refere-se às estruturas correspondentes às ideias, que podem ser empregues aquando das falas, para significar e comunicar.
O uso corresponde à fala saussuriana; é a socialização da fala.
Forma pura: esquema; Forma material: norma; Forma social: uso.
“linguagem enquanto falada por um só indivíduo”
Martinet
Mas a linguagem é sempre socializada, pois, quando nos dirigimos a alguém, queremos fazer-nos entender e, para tal, utilizamos o seu vocabulário.
Concepção ilusória; útil em alguns casos (Jakobson):
(1) a linguagem do afásico; (2) o estilo de um escritor; (3) linguagem de uma comunidade
linguística.
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