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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino, na Pesquisa e na Extensão Região Sul 1 Zona Fronteiriça entre Corpo e Comida: O Piquenique no Colégio Catarinense Thiago Perez Jorge Universidade Federal de Santa Catarina [email protected] Eixo temático: Conhecimento Interdisciplinar Pela fresta do guarda-comida entreaberto sua mão avança como um amante pela noite. Uma vez familiarizada com a escuridão, tateia em busca do açúcar ou amêndoas, uvas passas ou compotas. ... Como o mel, punhados de passas e mesmo o arroz, como todos entregam-se lisonjeiramente à mão! (Walter Benjamin, 1926 1928). 1. Travessia pelas Áreas As palavras de Benjamin (2009a, p.105-106) 1 , são necessárias e, um tanto urgentes de serem tratadas, na medida em que questões contemporâneas sobre a alimentação quase que diariamente desdobram-se, das conversas mais informais entre familiares e colegas às pautas dos programas de uma indústria cultural, na chamada epidemia da obesidade, esta, que se relaciona a uma série de outras desordens orgânicas 2 . Mas, como pode se relacionar a tal epidemia, escritos que abordam certa experiência dos sentidos, da mão que “tateia em busca do açúcar ou amêndoas, uvas passas ou compotas” (BENJAMIN, 2009a, p.106)? Frente a uma epidemia colada a uma racionalidade biomédica, inicia-se aqui uma travessia 3 . Por ora, abandonam-se tentativas de diálogo entre experiência dos sentidos e utopia da saúde perfeita 4 . Assim, este trabalho trata-se de um ensaio que visa se distanciar dos pressupostos das Ciências Naturais 1 Que compõem um dos trechos do texto “Rua de mão única” 2 De acordo com a Organização das Nações Unidas (WHO, 1998), a epidemia da obesidade é de alcance global junto aos países industrializados, sendo definida como uma doença crônica não transmissível de caráter multifatorial e caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo. A tal epidemia relacionam-se desordens metabólicas que acarretam no aumento da incidência de doenças cardiovasculares, dislipidemias (alterações do aumento da síntese e/ou demora da degradação das lipoproteínas VLDL, HDL, IDL, LDL, LP(a), Quilomicrons estas, responsáveis pelo transporte dos lipídios fornecidos pela dieta e pela produção do organismo aos tecidos), diabetes mellitus tipo 2 (desordem na deficiência ou resistência relativa de insulina, que acarreta na diminuição da captação de glicose pelos tecidos muscular e adiposo e culmina no estado hiperglicêmico), hipertensão arterial sistêmica, câncer, dificuldades respiratórias, problemas dermatológicos, distúrbios do aparelho motor, acidente vascular cerebral, dentre outras. 3 De acordo com Nunes (1985) a racionalidade biomédica, ocidental, orienta-se em suas práticas nos termos de: a. Combater doenças por meio de tratamento e prevenção; b. Agir a partir da definição biológica das doenças; c. Otimismo à erradicação vitoriosa sobre as doenças; d. Ensinar uma medicina orientada a partir dos pressupostos biológicos de uma Ciência Natural. Uma racionalidade cuja fé se expressa nos avanços de seu progresso científico. Ironia do progresso nas taxas da epidemia da obesidade? 4 Parece que há uma produção discursiva, nos termos, que aponta Sfez (1997), no sentido de construir, entre uma elite científica e tecnológica, a partir de interesses econômicos e financeiros, um paradigma utópico e de prática da saúde perfeita.

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Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,

na Pesquisa e na Extensão – Região Sul

1

Zona Fronteiriça entre Corpo e Comida: O Piquenique no Colégio Catarinense

Thiago Perez Jorge Universidade Federal de Santa Catarina – [email protected]

Eixo temático: Conhecimento Interdisciplinar

Pela fresta do guarda-comida entreaberto sua mão avança como um amante pela noite. Uma vez

familiarizada com a escuridão, tateia em busca do açúcar ou amêndoas, uvas passas ou compotas. ... Como o mel, punhados de passas e mesmo o arroz, como todos entregam-se lisonjeiramente à mão!

(Walter Benjamin, 1926 – 1928).

1. Travessia pelas Áreas

As palavras de Benjamin (2009a, p.105-106)1, são necessárias e, um tanto urgentes de serem

tratadas, na medida em que questões contemporâneas sobre a alimentação quase que diariamente

desdobram-se, das conversas mais informais entre familiares e colegas às pautas dos programas de uma

indústria cultural, na chamada epidemia da obesidade, esta, que se relaciona a uma série de outras

desordens orgânicas2.

Mas, como pode se relacionar a tal epidemia, escritos que abordam certa experiência dos sentidos, da

mão que “tateia em busca do açúcar ou amêndoas, uvas passas ou compotas” (BENJAMIN, 2009a,

p.106)? Frente a uma epidemia colada a uma racionalidade biomédica, inicia-se aqui uma travessia3. Por

ora, abandonam-se tentativas de diálogo entre experiência dos sentidos e utopia da saúde perfeita4.

Assim, este trabalho trata-se de um ensaio que visa se distanciar dos pressupostos das Ciências Naturais

1 Que compõem um dos trechos do texto “Rua de mão única” 2 De acordo com a Organização das Nações Unidas (WHO, 1998), a epidemia da obesidade é de alcance global junto aos países industrializados, sendo definida como uma doença crônica não transmissível de caráter multifatorial e caracterizada pelo acúmulo

excessivo de tecido adiposo no organismo. A tal epidemia relacionam-se desordens metabólicas que acarretam no aumento da

incidência de doenças cardiovasculares, dislipidemias (alterações do aumento da síntese e/ou demora da degradação das

lipoproteínas – VLDL, HDL, IDL, LDL, LP(a), Quilomicrons – estas, responsáveis pelo transporte dos lipídios fornecidos pela

dieta e pela produção do organismo aos tecidos), diabetes mellitus tipo 2 (desordem na deficiência ou resistência relativa de

insulina, que acarreta na diminuição da captação de glicose pelos tecidos – muscular e adiposo – e culmina no estado

hiperglicêmico), hipertensão arterial sistêmica, câncer, dificuldades respiratórias, problemas dermatológicos, distúrbios do

aparelho motor, acidente vascular cerebral, dentre outras. 3 De acordo com Nunes (1985) a racionalidade biomédica, ocidental, orienta-se em suas práticas nos termos de: a. Combater

doenças por meio de tratamento e prevenção; b. Agir a partir da definição biológica das doenças; c. Otimismo à erradicação

vitoriosa sobre as doenças; d. Ensinar uma medicina orientada a partir dos pressupostos biológicos de uma Ciência Natural. Uma racionalidade cuja fé se expressa nos avanços de seu progresso científico. Ironia do progresso nas taxas da epidemia da obesidade? 4 Parece que há uma produção discursiva, nos termos, que aponta Sfez (1997), no sentido de construir, entre uma elite científica e

tecnológica, a partir de interesses econômicos e financeiros, um paradigma utópico e de prática da saúde perfeita.

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que “substituem” o “corpo como sede de emoções e vivências” para um “corpo mecânico, de uma

biologia invariante” donde a saúde é tomada por “uma normalidade cuja normatividade” reduz a

experiência vivencial humana ao âmbito de uma “história natural das patologias infecciosas ou não

transmissíveis”, uma noção de saúde predominante nas Ciências da Saúde5 cuja terapêutica se orienta na

“construção das forças de afirmação da vida” no sentido da “eliminação dos sinais e sintomas ou

(re)encaixamento nos padrões de boa forma e beleza” (CARVALHO; CECCIM, 2006, p.158).

Ambiguidades do paradigma da saúde perfeita, que para afirmar a vida, precisa enquadrar o discurso

positivo da boa forma e beleza, a partir da racionalidade biomédica voltada ao discurso negativo das

enfermidades.

Em verdade, como destaca Severino (1995, p. 160, grifos do autor), a questão do interdisciplinar não

se trata apenas de uma preocupação epistemológica, visto que “o saber não estabelece nexos puramente

lógicos entre conceitos e relações formais; ele parece penetrar a dimensão axiológica, envolvendo

questões de natureza ética e política”, de forma que “o saber tem também a ver com o poder e não

apenas com ser e com o fazer”.

Nesse sentido elabora-se, aqui, algumas ideias a partir de um olhar interdisciplinar, nas Ciências

Humanas, para problematizar uma prática que, por excelência, é uma zona fronteiriça na relação corpo-

comida: o piquenique. Envolvimento entre sentimentos, afetos, sentidos e processos de subjetivação.

Deslocamentos necessários cuja inspiração para tal se orienta em algumas das ideias de Norbert Elias,

Michel Foucault e de Walter Benjamin. Conhecimento interdisciplinar construído a partir de

perspectivas filosóficas, sociológicas, históricas e artísticas. Uma travessia necessária da “Grande Área

da Saúde” para a “Área Interdisciplinar das Sociais e Humanidades”6, ao entender que os trabalhos sobre

alimentação parecem focalizar o objeto óbvio e evidente, o alimento, não se ocupando em tratar daquele

que incorpora o produto culturalmente elaborado e socialmente permitido: o corpo daquele que come.

Para tratar desta travessia iniciemos pela relação entre interdisciplinaridade e problema de pesquisa.

2. Interdisciplinaridade e Problema de Pesquisa

Este, um trabalho de história que problematiza relações que envolvem corpo, alimentação e lazer no

contexto do desenvolvimento da cidade de Florianópolis. Uma prática de interdisciplinaridade que visa tanto

5 Segundo a Tabela Capes a “Grande Área da Saúde” agrupa uma variedade de profissões, como: Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Medicina, Nutrição, Odontologia, Saúde Coletiva. 6 De acordo com a Tabela Capes a “Grande Área Interdisciplinar” é subdividida em quatro câmaras temáticas: 1. Meio Ambiente

e Agrárias; 2. Sociais e Humanidades; 3. Engenharia, Tecnologia e Gestão; 4. Saúde e Biológicas.

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integrar diversas disciplinas quanto “um salto cognitivo que não esteja pressuposto em qualquer somatória

de abordagens disciplinares” (LEIS, 2011, p.110). Portanto, amparado pela Nova História Cultural

(BURKE, 2008; HUNT; 2001; PESAVENTO, 2005) a interdisciplinaridade se desenvolve nesta pesquisa de

modo contextualizado, e orienta-se, nas palavras de Selvino Assmann à Joana Pedro e Luiz Scheibe (2011,

p.432), “pela fidelidade ao objeto de estudo e não ao modo de abordar o objeto”. O piquenique, este ritual

praticado no Colégio Catarinense, que envolve corpo e comida, na mediação de elementos como banhos de

mar, lagoa ou rio, longos passeios, esforço físico e contato com a natureza (JORGE; DALLABRIDA; VAZ,

2012). Pode-se, numa prática de produzir conhecimento ao mesmo tempo “empírico, interpretativo e crítico”

(LEIS, 2011, p.119), contribuir, através de uma leitura historiográfica do convescote na Ilha de Santa

Catarina, com atuais questões sobre corpo e alimentação?

No caso, o lócus por onde esta investigação se inicia é o Colégio Catarinense, educandário dirigido

por padres alemães, que no decorrer de mais de um século de existência, passou por algumas mudanças de

nomes. Da fundação até 1917, Ginásio Santa Catarina, de 1918 até 1942, Ginásio Catarinense, desta data

até os dias de hoje acompanha a instituição o seu nome atual, Colégio Catarinense7. Problematizemos o

lazer.

Lazer, palavra polissêmica, aqui é lido como passatempo na perspectiva que tratam Elias e Dunning

no livro “A busca da excitação”8, que, de forma geral refere-se à ideia de que na sociedade moderna há

diversas formas de lazer que provocam “excitação emocional controlada mas agradável”, (ELIAS;

DUNNING 1992, p.82), o que leva a “duas funções contraditórias”, pois de um lado há “o prazer de

desencadear sentimentos humanos”, uma “excitação agradável”, e de outro há “a conservação de um

conjunto de dispositivos de vigilância para manter o agradável descontrole das emoções sob controle”

(ELIAS; DUNNING, 1992, p.80).

As ideias desenvolvidas sobre lazer referem-se aos desdobramentos das questões do “processo

civilizador” que Elias (1994a, 1994b) elabora sobre mudanças das sensibilidades e tipo de controle que

reflete em níveis de pacificação no decurso do tempo numa dada sociedade. São tipos de emoções distintas,

cotidiana e de passatempo, que devem ser lidas menos como condição catártica de liberação das emoções e

mais inseridas no próprio “processo civilizador”, através do dever ser das normas que levam a tipo de

adestramento, e, assim, evidencia um autocontrole das emoções na personalidade social que se desenvolve.

7Os trabalhos de João Pick (1979), Norberto Dallabrida (2001) e Rogério Souza (2005) são as referências historiográficas desta

instituição. O título deste ensaio apenas aponta o recorte amplo, século XX, ou seja, faz referência à Tese, cujo objetivo é

descrever e analisar as formas de piqueniques ao longo deste século na cidade de Florianópolis. Assim sendo, a investigação se

inicia, mas não se fecha ao colégio. Neste texto utilizo o nome da instituição em acordo com o recorte empírico selecionado. 8O livro é um agrupamento dos trabalhos de Norbert Elias e Eric Dunning na década de 1960. Logicamente há outros autores que

desenvolvem perspectivas do “lazer”, mas, parece oportuno dialogar o ritual do piquenique junto ao “processo civilizador” e

atravessando por questões que envolvem mimesis e excitação.

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Na teoria do “processo civilizador” Elias elabora um pensamento sintético e interdependente entre

ser humano e sociedade, e, suas questões não deveriam ser reduzidas a um tipo de teoria evolucionista que

intenta prever algum futuro no desenvolvimento da humanidade. Espécie de anunciação de uma raça de

super-homens (ELIAS, 2008, p. 175). Pois, embora este pensador parta de uma história progressista, isto é,

uma historiografia apreendia por narrativas que se sucedem, e se insira na tradição de uma sociologia

teleológica (Marx e Durkheim) o qual crê que grupos apontam suas condutas para destinos, o processo

civilizador, para Elias culmina, no entendimento de Ghiraldelli Jr (2007a, p.3), “para situações de maior

liberdade”. No entanto, tal processo não se trata de uma felicidade, mas uma incorporação no curso de uma

vida de padrões de condutas, de comportamentos (GHIRALDELLI JR, 2007b, p.80).

A partir de ampla pesquisa empírica Elias (1994a, 1994b) inter-relaciona os níveis de autocontrole e

formação do Estado na diminuição da violência, hoje se tolera menos ações violentas do que em outras

épocas; e banalização do visível, há relaxação das normas do dever ser referentes a tipos de comportamento

social que vão desde os modos à mesa, passando pelos hábitos corporais de higiene. Portanto há pressões

que atuam sobre indivíduos de modo a “produzir uma transformação de toda a economia das paixões e

afetos rumo a uma regulação mais contínua, estável e uniforme” dos impulsos em todos os setores da vida

(ELIAS, 1994a, p.202).

Nesse sentido, o que interessa nos objetivos das pesquisas de longa duração sobre o processo

civilizador, seria uma leitura retrospectiva da história dos níveis de sensibilidade. Por isso aqui uso tal autor

e seus desdobramentos sobre lazer. Se for possível tal abordagem nos termos do “processo civilizador”

quando se refere à ilha de Santa Catarina, então quais os tipos de economia das paixões que afetam corpos

na(s) prática(s) do(s) piquenique(s)? Passemos à questão de método.

1.1 Questão de Método

Para abordar interdisciplinarmente este objeto, uma ampla empiria (Jornais de época, Diários dos

Padres Prefeitos, Relatórios e Fotografias do Colégio e trabalho de História Oral) é cruzada no sentido de

evidenciar e analisar o “corpo humano”, esta “expressão simbólica da própria sociedade” (RODRIGUES,

1999, p.165) em contato com a alimentação. Questão de método interdisciplinar, inspirado na genealogia

foucaultiana, com vistas a problematizar uma construção histórica de um corpo, biológico, psicológico,

social e cultural, e, que possui sua natureza na história. Tratar o piquenique como “exterioridade do

acidente” que evidencia uma “proveniência que diz respeito ao ... corpo: superfície de inscrição dos

acontecimentos” (FOUCAULT, 2012a, p.65). Um olhar às fontes pode ajudar.

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Quinta-feira pela manhã, 15 de março de 1906, ocorre um banho de mar, “mas o primeiro já ocorrera

antes, em 10 de março”, e à tarde ocorre passeio, “o primeiro foi em 2 de março, uma sexta-feira”

(DIÁRIO..., 1906). No dia seguinte, novamente aparece o banho pela manhã, e um escrito se destaca dos

demais: “o lugar não poderia ser melhor” (DIÁRIO..., 1906, grifo meus). Estas notas esparsas do Diário

do Padre9 no primeiro ano de funcionamento do então Ginásio Santa Catarina apontam primórdios do que

serão os convescotes nesta instituição. Volto-me ao termo em si.

Pique-nique, palavra de origem francesa10

. Na França do século XVII significava uma prática na qual

cada parte levaria sua refeição, e, no século XIX, tal atividade de alimentação estende-se a lugares como

campos e florestas, locais de contato com a natureza e vida selvagem. O quadro de Édouard Manet, Le

Déjeuner sur l`Herbe, de 1863, ilustra bem tal prática11

. Interessante destacar que diversas releituras desta

obra, incluindo a de Pablo Picasso, podem ser encontradas pela internet. O que levaria a uma questão: O que

tal prática representa em dada sociedade?

Até o início das atividades destes padres-professores neste educandário na cidade, não há quaisquer

outros indícios de que o piquenique envolvendo usos da força física, brincadeira e alimentação em contato

com a vida na natureza fosse assim ritualizado em Florianópolis (ou na Desterro de outros séculos)12

.

O jornal O Dia, a 14 de dezembro de 1915 noticia o “Passeio à Lagoa”. Uma “festa” entre políticos

dirigentes e elite da Cidade, cuja “comitiva” fora “recebida ao espoucar de foguetes” e,

“depois de alguns minutos de descanso e de ser servido o café foram os excursionistas

apreciar o lançamento de uma rede, sendo por essa ocasião pescados 47 peixes, dos quais alguns dos

melhores espécimes foram preparados para o almoço. ... O almoço foi servido ao ar livre em uma

comprida mesa, sob a sombra das árvores ... Os excursionistas trouxeram d´essa brilhante festa excelente impressão não só sob o ponto de vista da incomparável beleza natural como do tratamento

dispensado pelos habitantes da freguesia” (O DIA, 1915, p.1).

E, nos relatos dos piqueniques promovidos pelo então Ginásio Santa Catarina, diversos indícios de

um ritual a elaborar. Em 1909, a praia dos Naufragados era qualificada como de lugar “pitoresco e

majestoso” onde os alunos puderam conhecer “as ricas e encantadoras belezas da costa do nosso Estado,

bem como as inúmeras variedades da nossa Flora e Fauna” (GINÁSIO..., 1909, p.11). E, no relato no Diário

do Padre (1907, grifos meus) apresenta que em 29 de maio, na ocasião da “Santa Missa”, grande passeio ao

9Os Diários dos Padres Prefeitos apresentam cotidiano do ambiente escolar jesuítico. A franqueza e a coragem de trechos destes

Diários dos Padres sugerem diferentes maneiras de dizer a verdade. 10Há inclusive o verbo em francês “pique-niquer”, a exemplo da expressão “faire un pique-nique”, que significa “fazer piquenique” (DICIONÁRIO, 2011, p.707). 11Cf.http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Manet,_Edouard_Le_D%C#A9jeuner_surl%27Herbe_(The_Picnic)_(1).jpg 12O trabalho de garimpagem com descobertas de novas fontes poderá mudar perspectivas de análise.

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Morro da Cruz, com saída às 8h e chegada às 13h, no qual corpos estavam “mortalmente cansados”, após

uma “comilança de laranjas”.

O que há de distinto entre o piquenique, remetendo-se à origem do termo na França do século XIX,

entre o “Passeio à Lagoa” de uma elite da cidade, e o “derradeiro piquenique” promovido pelos padres do

educandário jesuíta?

Usos da força física numa atividade de passatempo, pois embora aqueles (políticos e demais elite)

necessitassem de descanso após chegada ao local de “incomparável beleza natural”, não o era como

necessidade resultante de uma deliberada e intencional atividade física associada com diversão. Aqui há um

importante fenômeno sobre um ato de brincar e comer, vinculado a um trabalho físico sobre o corpo num

momento de lazer junto à natureza da Ilha de Santa Catarina. Os piqueniques precisam ser elaborados como

práticas que permitem a emergência de novas sensibilidades e emoções, a partir de uma experiência dos

sentidos, tanto com respeito às questões corporais quanto alimentares.

Esta, uma genealogia do piquenique na Ilha de Santa Catarina, o qual pretende desenvolver questões

sobre a produção da emoção e sensibilidade de comer. Um conhecimento interdisciplinar que, fazendo uso

de categorias analíticas, visa desconstruir a “perenidade dos sentimentos” (FOUCAULT, 2012a, p.71).

Trata-se, portanto, de compreender o ritual piquenique como exterioridade do acidente sobre o corpo, “e

tudo o que diz respeito ao corpo”, como “a alimentação” (FOUCAULT, 2012a, p.65), o que significa

compreender que “nada é mais material, nada é mais físico, mais corporal que o exercício do poder”

(FOUCAULT, 2012b, p.237). É possível pensar num tipo de prática cultural que dê conta de alargarmos as

condições de produção da excitação/emoção/sensibilidade deste corpo que come no piquenique?

Alain Corbin também pode ajudar. Este historiador francês que pesquisou o surgimento do desejo de

estar à beira-mar e dos banhos de mar na Europa no livro “O território do Vazio: a praia e o imaginário

social”, apresentando que a prática do banho de mar na Europa tem suas raízes no século XVII e se firmará

entre os séculos XVIII e XIX. A partir da segunda metade do século XVIII desperta no europeu o “desejo

coletivo das praias”, o qual “as margens do oceano surgirão como alternativa aos males da civilização”

(CORBIN, 1989, p.65). O mar ao ser contornado, como jardins nomeados através dos distintos balneários,

tornar-se-ia expressão da natureza dominada. E aqui, na Ilha de Santa Catarina, quais as formas de

inscrições no corpo, práticas de saber-poder que enquadram, entre representações e práticas, o piquenique?

Trata-se, de investigar, a partir de uma questão de método que, assim como a ampla pesquisa de

Corbin (1989, p.299), que buscou “assinalar a emergência de um prazer e suas modalidades” entre Diários,

crônicas e relatos de viagens, pinturas e poesias, permitindo-o descrever e analisar deslocamentos na Europa

de sensibilidades, infere-se a necessidade de amplo procedimento metodológico com vistas a uma

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historiografia do piquenique na Ilha de Santa Catarina e suas rupturas. Enfim, como, porque e para que

nascem e desenvolvem (se morreram ou foram transformados), mediante distintos imperativos diferentes

piqueniques, pela cidade? Uma genealogia sobre novas economias das paixões (comer, brincar, passear,

exercitar). Passemos à teorização do corpo que come, na perspectiva interdisciplinar das humanidades.

2 Conhecer Interdisciplinarmente Um Corpo que Come

Talvez faça sentido tratar da relação corpo-comida a partir da leitura das práticas e suas

sensibilidades como construções históricas. Segundo Wickberg (2007, p.661-662) a partir da imprecisão do

termo “sensibilidades” o mais indicado seria denominar de “história das sensibilidades” cujo foco trata das

representações. Assim, o “conceito de sensibilidades” pode ser frutífero para a historiografia contemporânea

ao reunir elementos de “percepção sensorial, cognição, emoção, forma estética, julgamento moral e

diferença cultural”, uma ampliada categoria histórica que fornece um modo de “falar sobre um objeto de

estudo histórico que é onipresente e ainda assim estranhamento invisível” (WICKBERG, 2007, p.669).

Portanto, como sugerem Wolff e Silva (2013, p.195, grifos das autoras) “após a virada linguística e a

virada cultural, parece estar se delineando nas ciências sociais uma virada emocional”, esta, inspirada em

teorias amparadas pela psicanálise que ao apontarem à primazia da “subjetividade”, permitem novas

possibilidades para interpretação histórica tomada por categorias como “sentimentos” e “emoções”. Ou, nos

termos de Moraña (2012, p.317), há fecundidade no “giro afetivo” que permite “recuperar e potencializar” o

aspecto emocional nos estudos culturais. Uma história da “afetividade” permeando “relações

intersubjetivas”, esferas pública e íntima, isto é, “o impulso afetivo – em qualquer de suas manifestações

passionais, emocionais, sentimentais, etc – modela a relação da comunidade com o seu passado”

(MORAÑA, 2012, p.315).

Se uma profusão de termos (sensibilidades, emoções) usados de forma indiscriminada pode vir a

desorientar, talvez, possam ser eles mesmos dialogados a partir da noção de “afeto” de Gregg e Seighworth,

a qual se aproxima aos devires deleuzianos, e trata de uma “manifestação intersticial” (apud MORAÑA,

2012, p.318). O “afeto”, esta capacidade de afetar e de ser afetado que marca o pertencimento do sujeito

com respeito a um mundo de encontros e de desencontros, e, de diferentes modos (MORAÑA 2012, p.318).

Afeto que em sua produção e transmissão conecta “as distintas instâncias da vida, os diversos sujeitos, a

relação entre sujeito e ação, entre corpo e não corpo, entre evento e sujeito” (ibidem). Afeto não se trata

apenas de um aspecto do mundo, mas, “é o mundo todo entendido este como universo de potencialidade

afetiva” (MORANÃ, 2012, p.321, grifos da autora). As variadas formas de registros estéticos narrativos

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(cômicos, dramáticos), interpretadas como formações representacionais de estados e devires afetivos, são

inseparáveis do “elemento emocional que articula seu ethos e as inter-relações que as partículas narrativas

desenvolvem como retrato e como imagem do mundo imaginado”, não descolados das interdependências

dos níveis “éticos, estéticos e políticos” (MORAÑA, 2012, p.323). Portanto, o afeto pode ser entendido

como uma ponte entre sensibilidades e emoções.

Afeto, esta via de acesso ao real, ao simbólico, ao imaginário mediante processos de subjetivação.

Para Moraña (2012, p.335) o estudo das emoções, dos sentimentos e das paixões pode ser útil para ir além

“da utopia moderna da cidade como unidade orgânica e harmônica, espaço ideal para desenvolvimento das

instituições, o disciplinamento da cidadania e a busca do consenso”. Isto é, na ponte entre sensibilidades e

emoções pode-se lançar um olhar entre processos que necessariamente não apontem a mesma direção,

podem se complementar ou não, apresentar resistência ou mesmo permitir ambiguidades. Talvez seja plural,

ou rizomático, algum processo civilizador sobre o corpo que come. Por isso a leitura entre diferentes práticas

de convescotes pode ser alargada a partir da noção daquele que afeta e é afetado: o corpo no piquenique.

E, sobre questões alimentares, Claude Fischler13

pode contribuir com suas perspectivas sócio-

antropológicas, que, desde o final da década de 1970, vão elaborar o “paradoxo do onívoro”. Se há uma

sabedoria do corpo, porque o homem come mais do que lhe é necessário ou do que lhe exige sua saúde? Que

processos de subjetivação concorrem num distanciamento das percepções de si? Parece que há uma busca do

prazer para além dos limites fisiológicos, como se os símbolos externos que produzem o apetite

concorressem, e superassem, as percepções internas de nossa saciedade. Que tipo de processo social seria

este no qual as regulações de nossa fome se orientam em normas que buscam padrões corporais magros e,

no entanto, pesquisas apontam aumento de sobrepeso e obesidade? Eis novamente a tal epidemia da

obesidade e o paradigma da saúde perfeita. É possível comer com prazer neste ambíguo contexto revelado

pela evidência da transição nutricional14

?

Na apresentação do numero 31 da revista Communication, Fischler (1979, grifos meus) apresenta a

ideia guia de seu trabalho: “O homem é um onívoro que se alimenta de carne, de vegetais ... de

imaginário. A alimentação nos remete à biologia, mas não fica aí, o simbólico e o onírico, os signos, os

mitos, as fantasias alimentam-nos, eles também, e concorrem para normatizar a nossa alimentação”.

13

Os principais trabalhos de Fischler (1979, 1990) ainda não estão traduzidos para o português, no entanto, há diversos trabalhos

que dialogam com as perspectivas deste francês. Ver por exemplo Rial (2010, p.107-129) que apresenta breve introdução ao

pensamento deste sócio-antropólogo. 14

A transição nutricional refere-se à alteração da dieta e da saúde de milhões de pessoas, deslocamento para a chamada dieta

ocidental: aumento do consumo de carne/derivados, leite/derivados e alimentos processados ricos em açúcares e gordura animal. Dentre as transformações associadas à transição nutricional há a transição epidemiológica: diminuem-se doenças infecto

contagiosas, como parasitárias, e aumentam-se doenças crônicas degenerativas, como câncer, fenômenos típicos das sociedades

urbano-industriais (MAZON, 2010, p.261-273).

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Como alargar as dimensões culturais e sociais, afetivas e imaginárias, se o debate se prende na lógica da

racionalidade biomédica às transições (nutricional-epidemiológica)? Quer dizer, presos às contas entre

calorias e tabelas de nutrientes penso ser difícil chegar ao corpo que se alimenta. Portanto, duplo

deslocamento: de alimento para corpo; e de nutriente para comida15

.

Zona fronteiriça entre corpo-comida que não se orienta no “erro”, vinculado à racionalidade

biomédica, de que “o corpo tem apenas as leis de sua fisiologia e que ele escapa à história”, isto é, o corpo

“é formado por uma série de regimes que o constroem; ele é destroçado por ritmos de trabalho,

repouso e festa; ele é intoxicado por venenos – alimentos ou valores, hábitos alimentares e leis morais

simultaneamente; ele cria resistências” (FOUCAULT, 2012a, p.72, grifos meus). Nesse sentido, em busca

de uma história efetiva que introduz o descontínuo no acontecimento, residem possibilidades em

desenvolver um conhecimento interdisciplinar que trate de sensibilidade, imaginário, prazer, enfim, da

capacidade de afetar e de ser afetado, que diz respeito ao corpo, e atua mediante processos de subjetividades

vinculados à experiência dos sentidos. Um conhecimento interdisciplinar pelas ciências humanas, a partir de

práticas que utilizam da “busca da excitação” em atividades de lazer (ELIAS; DUNNING, 1992), sobre o

que comer pode ser, para além de contas entre calorias e tabelas de nutrientes.

Na ordem do discurso dos profissionais da “Grande Área da Saúde”, a educação alimentar e

nutricional é tratada como o conjunto de ações formativas que objetivam estimular a adoção voluntária de

práticas e escolhas alimentares saudáveis, que colaborem para a aprendizagem, o estado de saúde do

escolar e a qualidade de vida do indivíduo” (BRASIL, 2009, p.6, grifos meus). Mas, talvez seja um tanto

ingênua a ideia sobre a “adoção voluntária de práticas e escolhas alimentares saudáveis” que parece ignorar

toda uma educação do corpo presente na sociedade – instituições e mídias de todo tipo, revistas de boa

forma, discursos morais, científicos. Enfim, uma miscelânea entre os especialistas do alimento os

interessados no lucro deste bem cultural, o que Fischler (1990) denomina de “cacofonia alimentar”, esta

multiplicação de discursos sobre alimentação. Quer dizer, essa profusão e difusão de informações e práticas

que este sócio-antropólogo analisa para constatar sua ideia de que a ocidentalização da cultura desta

sociedade industrial e globalizada contribui para diminuir a capacidade do ser humano em perceber sua

alimentação mais adequada.

Cacofonias16

que distanciam dos processos de autopercepção corporal, e que toma corpus nas

práticas e discursos da polifonia do mais adequado, do mais saudável que pauta estratégias do Estado, de

15

Certamente alimento, alimentação, comida e refeição são termos que devem ser mais bem elaborados, mas neste ensaio utilizo

“comida” como todo alimento e toda refeição no conjunto de qualquer ato alimentar. Além do mais, para sair do ranço nutricional,

talvez o termo comida seja mais bem vindo para alargar outras dimensões da alimentação. Comer na brincadeira, no passatempo, no jogo de futebol na praia, ou num piquenique em dias sem sol. 16

Cacofonia é o encontro de palavras ou sílabas que soam desagradavelmente.

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movimentos organizados de consumidores, de médicos, nutricionistas e todo tipo de especialistas da saúde,

da indústria de alimentos, sua publicidade e mídia, que contribuem para uma situação confusa e

contraditória para aquele que come. Comerciais que produzem desejo de comer tipos de alimentos e

programas que apresentam estes mesmos alimentos como os vilões do mal deste século. Eis mais uma vez a

tal epidemia da obesidade e todas suas correlações – diabetes, dislipidemias, hipertensão arterial, etc e tal, e

a utopia da saúde perfeita. Entre produção do desejo e do medo, uma cacofonia alimentar do pode isso e não

pode aquilo, veja e deseje isso, mas consuma com moderação.

O sujeito soberano, racional e esclarecido, agora está impaciente, confuso e indeciso17

. Eis o que

chamo de cacofonia do corpo. Tipo de patologia contemporânea, afinal de contas tornou-se um tanto

desagradável, a vontade de comer e a vontade de não ser gordo. Práticas e discursos que nos distanciam do

comer com prazer, este ato “apaixonante” no “encontro de dois”, mãos e comidas, “que finalmente se

subtraíram à colher” (BENJAMIN, 2009a, p.106). E, nos aproximam da culpa e do medo, afinal de contas

são tantas evidências18

, na lógica biomédica, que talvez contribuam em afastar outras formas de se

(re)conhecer.

Nesse sentido, creio ser urgente repensar as práticas vinculadas à alimentação de um corpo

contemporâneo mergulhado entre medos, da fome biológica do vazio do estômago; e do medo da morte

social de ser gordo. Corpo, que na lógica disciplinar, biopolítica, numa palavra, pastoral19

, se faz construído

no meio de tantas mensagens sobre coma isso, não coma aquilo. Quimera da saúde perfeita que, em

verdade, se refere a padrões de magreza e de ausência de doença. Há que se superar tal ambiguidade, pois

parece haver pouco espaço possível, e tampouco margens, para apresentar quaisquer experiências de

crianças lambiscando frente à racionalidade que toma o corpo como alvo, marca condutas nelas mesmas.

Normas e condutas que reduzem a experiência vivencial humana. Até aqui, nada distinto com o piquenique

fabricado pelo Colégio Catarinense.

Uma prática pedagógica que se utiliza das normas do dever ser civilizatórias nas técnicas de

formação da consciência. Como exemplo, no Diário do Padre Prefeito (1906) a 17 de março, sábado,

destaca-se que alguns dos alunos não obedeceram para sair da água, e como castigo não puderam participar

17 Para Hall (2005, p.7-22) a identidade do “sujeito do iluminismo” se pauta numa concepção da pessoa humana como um

indivíduo cujas capacidades de razão, consciência e de ação se localizam em um “centro” unificador, um núcleo interior que

emerge quando o sujeito nasce, e, desenvolve-se permanecendo essencialmente o mesmo. Uma noção de identidade que cola tal

“centro” essencial do eu à identidade de uma pessoa é uma consequência deste sujeito esclarecido. 18 Cf. notas 2 (epidemia da obesidade) e 14 (transição nutricional). 19 Na Dissertação (2013) trato o ambiente do Ginásio jesuíta em Florianópolis, trabalhado em Dallabrida (2001) como lócus do

poder disciplinar foucaultiano, expandindo-o para as técnicas do pastorado. Ações que se pautam numa tradição cristã, onde o

pastor se mantém a frente de seu rebanho com vistas a alimentá-lo, tratá-lo, reuni-lo, enfim, guiá-lo pois, as estratégias do pastor tratam do problema “à vida dos indivíduos” (FOUCAULT, 2010, p.364-366). Entendo que análises do pastorado podem ser úteis

para convergir características dos poderes disciplinar e biopolítico.

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do próximo banho de mar. Na condução dos corpos dos alunos, os padres-professores incorporam

características da disciplina, como o olhar de vigia, que acompanhava seu rebanho na prática do piquenique.

Consta no Diário do Padre de 1907 que, a 7 de março, “antes do passeio, a fileira se compôs de forma

miserável. Por isso, após o passeio: direto para o estudo. Deixei os malandros somente ir à latrina” (DIÁRIO

DO PADRE..., 1907).

Na sociedade moderna a disciplina é fundamental na correção de condutas, ao esquadrinhar tempo e

espaço, incitar e verificar comportamentos, como práticas de poder que submetem ao regime das forças

produtivas corpos a serem construídos, talhados, moldados. Certamente neste modelo não se trata mais de

apenas deleite ou contemplação, mas, de um tipo de fabricação.

Parece que o “animal laborans necessita da ajuda do homo faber para facilitar seu trabalho e remover

sua dor” (ARENDT, 2010, p.217). Condição humana da mundanidade em decorrência da condição humana

do trabalho. Vida biológica cujos ciclos de rotina-exaustão-descanso orientam-se no utilitarismo das práticas

como as dos piqueniques, também chamadas de “marchas higiênicas”, cuja “respiração de outro ar mais

desabafado que o das aulas” faz bem “ao físico dos alunos” (GINÁSIO..., 1913, p.18-19, grifos nossos).

Entendo que menos a condição física do local – urbana ou rural – e mais o antídoto do extraordinário frente

às rotinas da vida de trabalho cotidiana. Convescotes que continuamente praticados contribuem para

durabilidade destes corpos que trabalham. Na modernidade o “trabalho produtivo”, isto é, a “glorificação do

trabalho” se anseia por uma durabilidade em seus resultados (ARENDT, 2005, p.178). Afinal de contas “a

maior parte da obra no mundo moderno é realizada sob a forma de trabalho” (ARENDT, 2010, p.175).

E estes fazedores, os pastores-padres-professores, já entendiam que oriundo do tal passeio grande

haveria espécie de alívio do estresse da sociedade de trabalho, visto que “um dia por semana, pelo menos,

será destinado ao descanso” (RATIO...2009, p.78). O corpo que se diverte, cansa, come e retorna ao ciclo

biológico do trabalho escolar, é oportunizado através do instrumento do piquenique. Este, que só o é

“verdadeira obra de fabricação” quando “executada sob a orientação de um modelo segundo o qual se

constrói o objeto” (ARENDT, 2010, p.175). Eis o modelo da “pedagogia da vontade” para conduzir os

alunos, este tipo de animal laborans.

A pedagogia da vontade, honra o ginásio, pois o coloca em alto relevo o valor real do método

educativo da instituição: atender também à formação das forças volitivas. Aí fica também, por

prova cabal da superioridade da educação dada segundo as normas do cristianismo, todo o magistral

discurso do esclarecido, animar a mocidade à subjugação da lei do menor esforço no mundo moral

(GINÁSIO...1912, p.8, grifos do autor).

Uma ética do pastor exercida pela pedagogia da vontade, que através da formação das forças

volitivas, ajuda a desatar mais um nó: entre o controle de si das emoções dos jogos miméticos e a virtude da

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obediência do pastorado no Ginásio20

. Obediência que significa renúncia aos prazeres do corpo. Então, se as

relações entre corpo-comida se respaldam em dispositivo de poder no próprio fator de lazer, não há

possibilidade do prazer de comer para além das técnicas de vigilância e obediência? Passar do desagradável

frente às ambiguidades da saúde perfeita na contemporaneidade da alimentação, para as condições de

controle (indivíduos e população) dos corpos nas atividades agradáveis de lazer me leva a não avançar nas

questões que envolvem corpo-comida? Há condições de uma teorização, esta, nos termos que explica Veiga-

Neto (2009, p.89), como “uma ação de reflexão sistemática, sempre aberta/inconclusa e contingente, sobre

determinadas práticas, experiências, acontecimentos”? Teorização interdisciplinar, que relaciona e expande,

na ponte entre sensibilidades e emoções, a qualidade do afeto do corpo que come no piquenique? Enfim,

trata-se de uma teorização acerca do que o que comer é (ou o que também pode ser).

3 À Guisa de Conclusão: O que Comer É

Como pensar tipo de reconhecimento e cuidado de si nas relações com o mundo (corporal,

alimentar)? Talvez dê para tratar deste sério assunto através do valor da brincadeira, ao inserir o ato

alimentar como experiência dos sentidos. Ruptura com as lógicas de renúncia a quaisquer prazeres

corporais. Em outros termos, lógicas traduzidas na disseminação de pastores de toda sorte pela sociedade.

Agora, não apenas padres-jesuítas, mas também médicos, nutricionistas, pedagogos, professores de

educação física, enfim, uma profusão de práticas controladoras que, no reverso de sua intenção, parecem

pouco contribuir com a percepção de si. Cacofonias do corpo. Penso que apenas circunscrito às normas

civilizatórias e saberes biomédicos há distanciamento do valor da experiência em si.

Valor do corpo em apenas comer alimentos saudáveis, no afã de proteger, de cuidar, de zelar. Mas, o

que de fato se torna saudável frente a tantos distúrbios alimentares?21

Pedagogias que recolocam, marcam

corpos através das inúmeras práticas de obediência, tendem a valorizar condutas nelas mesmas, por isso se

tornam virtuosas. Virtus et scientia nas contracapas de cada Relatório do Colégio Catarinense. Entretanto,

neste jogo relacional, de dependência, obediência, entre o outro e eu, talvez não haja avanços para além dos

dualismos (anti)disciplina e (anti)obediência. Ora, o que comer é (ou o que também pode ser)?

20 Mimesis, rejeitada por Platão e valorizada por Aristóteles, é relevante não apenas aos pensadores da chamada Escola de

Frankfurt , mas, essencial à noção de jogos miméticos que Elias e Dunning (1992, p.123-126) desenvolvem a partir de noção

aristotélica, que trata-se de uma experiência humana que traz em si “efeito catártico das fortes paixões despertadas pela

representação e como tal difundido com prazer”. 21 Distúrbios como obesidade, excesso de gordura corporal; bulimia, compulsão alimentar seguida geralmente de vômitos provocados intencionalmente; anorexia nervosa, imagem corporal distorcida que leva a excessiva perda de peso; e ortorexia,

comer rigidamente os alimentos ditos saudáveis. Uma pergunta sem resposta: cacofonias levam à transtornos alimentares e

corporais?

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Mesmo no imaginário e imaginação que Fischler e Corbin tratam há tipo de processo de subjetivação

dos sujeitos no lazer do convescote. Há na mimesis, que não é mera imitação, mas capacidade de reconhecer

e reproduzir semelhanças, por isso representação, um dado conteúdo deste “dom de perceber similitudes”,

desta “capacidade mimética”, nas palavras de Benjamin (1970, p.49), de “assimilar-se e de conduzir-se de

acordo”, numa palavra, adestramento. No entanto, já apontava o próprio Benjamin (1987, p.109) que “nem

as forças miméticas nem as coisas miméticas, seu objeto, permaneceram as mesmas no curso do tempo”,

variam com as épocas.

E, neste ensaio com intenções de abordar um conhecimento interdisciplinar, iniciei uma travessia da

chamada Área da Saúde para as Humanidades. Reorganizar outras questões a partir de modos de olhar que

permitissem tornar-me “contemporâneo”, nos termos que Agamben (2013a, p.62) propõe, isto é, precisava

“perceber não as luzes, mas o escuro”. Em face das luzes, dos esclarecimentos, que disseminam uma série

de informações a partir das evidências dos instrumentos da razão científica moderna (lógicas biomédica,

indústria cultural) precisava não me deixar “cegar pelas luzes do século” e conseguir “entrever nessas a parte

da sombra, a sua íntima obscuridade” (AGAMBEN, 2013a, p.63-64). Ousar ser contemporâneo como

compromisso e ação (nas palavras deste ato de escrever) “que percebe o escuro de seu tempo como algo que

lhe concerne e não cessa de interpelá-lo, algo que, mais do que toda luz, dirige-se direta e singularmente a

ele. Contemporâneo é aquele que recebe em pleno rosto o facho de trevas que provém do seu tempo”

(AGAMBEN, 2013a, p.64).

Nestas tantas travessias, talvez a saída frente a tantas normalizações e normatividades da vida,

novamente inspirando-se em Agamben, seja profanar o que comer pode ser. Profanar toda sorte de

dispositivos que marcam, recolocam, através dos olhares de vigilância, controle, autoridade, saber-poder,

discursividades e tecnologias que não param de, como maquinarias, produzir “identidade” e “liberdade de

sujeitos no próprio processo de assujeitamento” (AGAMBEN, 2013b, p.46). No entanto, profanar não se

trata apenas de destruir os dispositivos, “nem, como sugerem alguns ingênuos, de usá-los de modo correto”

(AGAMBEN 2013b, p.42). Utopia da educação nutricional e alimentar. Trata-se de, na luz de tudo “que

tenha de algum modo a capacidade de capturar, orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e

assegurar os gestos, as condutas, as opiniões e os discursos dos seres viventes” (AGAMBEN 2013b, p.40),

enfrentar o escuro de romper com o mesmo (dispositivo). Profanar, aqui, significa “restituir ao livre uso dos

homens” (AGAMBEN 2013b, p.45). Recoloco a questão: o que comer é (ou o que também pode ser)?

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Através do objeto piquenique, trata-se de alargar a discussão para uma ética de si com respeito ao

encontro corporal e sensível com o mundo. Desenvolver, por isso, o piquenique como objeto estético22

. Uma

noção de belo, de beleza, fruto do “jogo entre nós e a realidade ao redor” em que “nos harmonizamos e nos

equilibramos” (DUARTE JUNIOR, 2012, p.363). Embora seja esta realidade inventada, imaginada,

fabricada, adestradora e disciplinar, acumulada e proliferada de dispositivos, é ela mesma que nos fornece

elementos com vistas a um quadro organizado de sentido/significação que pode ser profanado. Tipo de

“cultura de si”, que Foucault (1985, p.54) destaca dos ensinamentos de Sêneca, o qual seria como

“transformar a existência numa espécie de exercício permanente”. Retorno à Benjamin.

“Como o mel, punhados de passas e mesmo o arroz, como todos entregam-se lisonjeiramente à

mão!” (BENJAMIN, 2009a, p.106). No alemão os verbos “ver”, “aparentar”, “cheirar”, “saborear” podem

ser usados tanto para objetos quanto para sujeitos, de modo que uma comida pode estar cheirando, possuir

sabor ou paladar. Assim, para o pensador alemão a “visão é o divisor de água dos sentidos, pois capta

simultaneamente forma e cor”, de modo que “pertencem à visão” tanto “correspondências ativas: visão de

formas e movimento, audição e fala”, quanto “as correspondências passivas: a visão de cores pertence ao

campo sensitivo do olfato e do paladar” (BENJAMIN, 2009b, p.79). Nesse sentido, levando em conta

possibilidades de experiência entre sentidos e brinquedos, possibilidades de abertura, no escuro, do

descontrole das emoções sob controle nos rituais de (i)magia(nação). Inversão de lógicas: da evidência dos

dispositivos para a vidência do lúdico, da brincadeira, da arte, enfim, de todas as formas de experiência dos

sentidos.

Todas as formas de conhecimento, do conceitual ao sensível, têm racionalidade (MINAYO, 2006,

p.192). Experiência do entregar-se ao comer através do movimento das mãos, entre passeios grandes,

compõe, no degustar, no experimentar corpo-comida, abertura a “uma forma de conhecer o mundo tão

fecunda quanto a ciência”, a arte (KONESKI, 2002, p.11). Através e pela arte atinge outra via de

racionalidade, pois, há um “jogo lúdico” que transfigura o “instituído”, uma racionalidade que se

“desenvolve no espaço criativo”, “lugar de interação” (KONESKI, 2002, p.12-13).

22

As indicações de Duarte Junior (2000; 2012), podem ajudar. Este autor reflete sobre uma “educação estética”, e distingue duas

formas de conhecimento: o “inteligível”, produto da inteligência simbólica; e o “saber sensível”, fruto da capacidade humana de

sentir, perceber, mover-se fisicamente, pois é com os sentidos que “saboreia-se” o mundo com seus “sons, cores, odores, texturas,

sabores”. Para Duarte Junior (2012, p.363) o processo humano de elaborar o conhecimento joga com o “sensível e o inteligível”,

em signos que “nos conduzem à significação”. Sistema linguístico que educa e “humaniza” atravessado tanto pela matemática,

geometria, física (conhecimento inteligível), quanto por outros sistemas de significação, “presentes nos mitos, na poesia, na

música, na arte em geral”, no qual “estes sistemas estéticos de significação possuem uma maneira própria e peculiar de

funcionamento, auxiliando-nos a perceber elementos de nossa dimensão sensível (corporal e emocional) ... Assim, a arte nos

ajuda a significar o mundo e a existência, iluminando e desvelando aspectos não plenamente acessíveis ao conhecimento

inteligível” (idem).

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Ora, aqui, condições de profanação através de uma outra busca da excitação, fazendo usos do corpo

que come no espaço criativo da brincadeira. “Ritmos” que nos torna “senhores de nós mesmos”

(BENJAMIN, 2009c, p.101) através da interioridade da imaginação, esta, não vista pela “perspectiva do

adulto” (ou, dispositivo), mas, entregue ao valor da experiência “da criança que brinca”, pois, há de ser

superado o “equívoco básico que acreditava ser a brincadeira da criança determinada pelo conteúdo

imaginário do brinquedo, quando, na verdade, dá-se o contrário” (BENJAMIN, 2009d, p.93). Brincadeira,

imaginação em ato, magia que possui valor em si. Seria esta uma experiência de reconhecimento que

resultaria na conversão no próprio sujeito, na relação de si para consigo? Isto é, “se converter-se a si é

afastar-se das preocupações com o exterior, dos cuidados com a ambição, do temor diante do futuro, pode-

se, então, voltar-se para o próprio passado ... e estabelecer com ele uma relação que nada perturbará”

(FOUCAULT, 1985, p.69-70). Portanto, profanar em forma de brincadeira significa, na relação corpo com

comida, imaginação em ato, potência que determina no brinquedo um processo criativo, sensorial e estético.

Eis o elogio da brincadeira de ir ao piquenique.

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