XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO NORTE … · índices de crimes, como homicídios e tráfico de...

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XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO NORTE NORDESTE e PRÉ- ALAS. 04 a 07 de setembro de 2012, UFPI, Teresina-PI. Ciências Sociais e esporte: conjugando abordagens e perspectivas em um campo de pesquisa plural e interdisciplinar- GT02 O CAMPO É A PRAIA: O Surf Como Mecanismo de Não-Violência Hélida Lopes da Silva Universidade Federal do Rio Grande do Norte- UFRN [email protected]

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XV ENCONTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO NORTE NORDESTE e PRÉ-

ALAS.

04 a 07 de setembro de 2012, UFPI, Teresina-PI.

Ciências Sociais e esporte: conjugando abordagens e perspectivas em um

campo de pesquisa plural e interdisciplinar- GT02

O CAMPO É A PRAIA: O Surf Como Mecanismo de Não-Violência

Hélida Lopes da Silva Universidade Federal do Rio Grande do Norte- UFRN [email protected]

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O CAMPO É A PRAIA: A ESCOLA E SEU SURF NO TITANZINHO

O presente trabalho é fruto de pesquisas de campo e devido a isto,

descrita em primeira pessoa, é uma pequena etnografia que tenta situar o leitor

em relação à estrutura física e pedagógica da Escola, tanto quanto aproxima-lo

do cotidiano da mesma.

A Praia do Titanzinho, situada no bairro Serviluz, apesar de está entre

os mais belos cartões-postais da Cidade, é, além de ponto turístico, uma área

em que há presença de casas de prostituição, bem como o aumento dos

índices de crimes, como homicídios e tráfico de drogas, colaborando para a

construção do medo e a conseqüente incerteza sobre se deve ou não visitar o

lugar devido ao imaginário da insegurança.

Esta área é constituída por uma população que apresenta, em sua

maioria, aspectos socioeconômicos em níveis considerados insatisfatórios,

detectado no cotidiano dos moradores. Assim como a praia, o Serviluz vem

apresentando problemas urbanos como a ocupação de terras públicas por

habitantes de baixa renda, criando áreas de favela e sem planejamento urbano,

problemas característicos de grandes metrópoles assim como Fortaleza.

Compartilho da idéia de Magnani ao falar sobre Metrópoles: “Trata-se enfim, de

uma metrópole, com suas mazelas e também com os arranjos que os

moradores fazem para nela viver.” (2008, p.19). São esses tais arranjos que

possibilitaram o estudo sobre o tema.

O Titanzinho, nome que dá referência a marca dos tratores que foram

usados para remoção das antigas casas da praia mansa, os Titan, sofre há

muitos anos com a poluição, resultado da falta de investimentos públicos em

saneamento básico, associado a falta de educação ambiental da população

que joga lixo na praia, que causa sujeira, doenças e deformações dos corais e

da natureza local. O esgoto despejado no mar agrava a escassez de

instrumentos de desporto, espaços de recreação e lazer. Tal quadro é

alarmante e prejudicial a todos os que depositam no mar sua fonte de

sobrevivência e lazer.

2

O Serviluz localiza-se na ponta da histórica enseada do Mucuripe e tal

área se desenvolveu graças ao Porto de onde desembarcavam mercadorias e

estrangeiros, atraindo muitos comerciantes e prostitutas. O nome Serviluz

surgiu por força da existência da Companhia de Serviço de Força e Luz de

Fortaleza (Serviluz), na década de 1950, utilizada pelos moradores como

referência para situar a localidade. A maior parte da população vive na

informalidade, exercendo atividades como a pesca. Com isso, os antigos

pescadores que habitavam a área reuniram-se e formaram a colônia dos

pescadores Z-8, em 1973.

O bairro é um dos que têm menor Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), que é de 0,386. Nele, 90% da população é beneficiada com o Bolsa Família e 80% têm apenas o Ensino Fundamental e vivem na informalidade. Dos 21 mil habitantes, 20% sobrevivem da pesca. Além disso, a comunidade é carente de serviços. Os moradores dispõem apenas de um pequeno comércio, mas que, segundo eles, dá para suprir as necessidades.

1

(MOSCOSO, 10/02/2010).

O bairro começou a ser construído na década de 1940, com a

transferência de pescadores e estivadores que habitavam a Praia Mansa, pela

Companhia das Docas do Ceará, para o local. Assim, em conseqüência da

construção do Porto do Mucuripe, cerca de 200 famílias foram transferidas para

a área conhecida hoje como Serviluz. Localizado entre a Beira-Mar e a Praia

do Futuro, o bairro ficou conhecido por seu potencial turístico e pela prática do

surf na Praia do Titanzinho. Em relação a linguagem do surf, é necessário aqui

esclarecer que dentro do bairro existem no mínimo três picos2 diferentes:

Hawaizinho, Vizinho e Titanzinho, este último sendo o escolhido para ser o

lócus da pesquisa, apesar de que tais picos são geograficamente muito

próximos.

Há entre a praia e seus moradores uma relação de natureza dialética,

onde não apenas os atores são impactados pelo ambiente próprio da

urbanidade, mas também participam ativamente do processo de constituição

do ambiente representacional em que vivem.

1 Matéria publicada no Jornal Diário do Nordeste. Ver:

http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=734403#diariovirtal 2 Lugar onde é favorável a prática do surf, onde há boas condições do mar para prática dos esportes que

dependem dele.

3

O Titanzinho é um desses lugares deixado de lado nesse enorme país, longe do sonho econômico da nação inteira. Por ali, você acha que as pessoas do Brasil foram esquecidas, são aqueles que ninguém quer ver. Estão na periferia, longe da sua visão. Vivem em precariedade e pobreza, sofrendo pelas drogas, prostituição e violência extrema. As crianças na favela freqüentemente são deixadas de lado, têm de encarar todos os perigos por conta própria.

3

(RIBEIRO, 29/12/2010.)

São crianças que, em sua maioria, se encontram em situação de

abandono, o que agrava ainda mais o índice de vulnerabilidade social de tais

crianças que, por diversas vezes, amadurecem e aprendem a cuidar de si de

forma abrupta, visando a sua sobrevivência a cada dia. Isto me faz refletir

sobre o conceito de “mortos-vivos” (SOARES, 2004) os quais estão presentes

em nosso cotidiano, porém invisíveis; são indivíduos que, para a maioria dos

moradores da Cidade já estão mortos, mesmo continuando vivos, porém em

péssimas condições de sobrevivência, tornando-se seres socialmente

invisíveis. “A gente deixa de ver (...) porque se visse não conseguiria tocar a

vida.” (SOARES, 2004, p.135) É a chamada amnésia seletiva, que nos

proporciona a indispensavel paz interior, cauterizando os canais de percepção

de certos fatos sempre seletivamente.

Percebo que o “ser” visível de tais crianças e adolescentes se torna

evidente, principalmente, quando há uma quebra no marasmo do cotidiano da

sociedade.

A situação de crianças e adolescentes no Brasil coincide, (...) com expressões agudas da violência social, a compor um paradoxal quadro e invisibilidade social desse amplo segmento (...) somente rompido em momentos de crise, conflito e violência extrema, sofrida ou praticada por eles. (SOARES, 2000a apud MIONE, 2007 p.22).

A insuficiência de projetos e equipamentos educativos e culturais faz

com que os jovens do bairro sejam excluídos das oportunidades de trabalho,

que consequentemente, como observado, levam uma vida ociosa e, por vezes,

muitos se envolvem com o tráfico de drogas e violência urbana presentes no

cotidiano, fazendo surgir mais vítimas, muitas das quais são jovens também.

Diante da ênfase dada a relação entre a categoria juventude e o

conceito de violência, podemos perceber que a juventude tem sido, 3 Descrição feita no site mochileiro. Ver: http://www.mochileiro.net/guias/titanzinho-ce/

4

constantemente vítima e/ou algoz de diversos casos de violência registrados.

Mesmo aqueles que não estão diretamente envolvidos em algum caso podem

facilmente falar sobre o assunto, já que a proximidade com a violência, e

conseqüente banalização faz com que ela se naturalize mais rapidamente,

principalmente entre os jovens da periferia. Essa relação de proximidade com a

violência surge nas palavras de Diógenes (1998) como importante objeto de

análise, onde a autora nos mostra que a juventude está quase sempre no

centro de debates sobre violência, ora sendo pensada como agente da

violência, ora se apresentando como vítima a experimentá-la no próprio corpo.

Porém,

é possível mostar que a cidade oferece também lugares de lazer, que seus habitantes cultivam estilos particulares de entretenimento, mantên vínculos de sociabilidade e relacionamentos, criam modos e padrões culturais diferenciados. (MAGNANI, 2008, p.19).

São estes diferentes padrões culturais que diferenciam os jovens da

EBST. Assim como seus antepassados eles depositam no mar uma fonte de

sobrevivência e satisfação. Agora, não mais atraves da pesca, como seus pais,

mas por meio do surf, depositam seus anseios e aspirações de mudança, seus

desejos de melhoria de vida, já que o mar eestá bem próximo pronto para

desafios do surf.

A clássica frase geralmente usada pelos surfistas de todo país: “Não há

nada que um dia de surf não cure!” nos transmite como o surf surge também

como uma válvula de escape do estresse da modernidade e como forma de

reanimar as forças para continuar a jornada do cotidiano, bem como ferramenta

para inibir desejos dos jovens pela busca da “aventura” que acabam no

“mundo da criminalidade”4.

2.1 O Surf

O surf é uma prática desportiva marítima, freqüentemente associada

ao grupo de atividades denominadas desportos radicais, dado o seu aspecto

criativo, cuja proficiência é verificada pelo grau de dificuldade dos movimentos

executados ao acompanhar o movimento de uma onda do mar sobre uma

4 Ter como exemplo, para analisar, de tipos de criminalidade, a prática de assalto, o tráfico de drogas, etc.

5

prancha, denominada prancha de surf, à medida que esta onda se desloca em

direção à praia. Apesar da pouca bibliografia sobre o surgimento do surf, há

certo consenso sobre a informação de que esta prática tenha se iniciado

através dos reis, nas Ilhas Polinésias. Os povos que habitavam aquelas ilhas

tinham o mar como trabalho e também como diversão. Tal “esporte” significava

o ato de ficar em pé em um tronco, sobre as ondas; com o passar do tempo foi

sendo praticado pelos nativos como uma forma de cerimônia religiosa, cultural

e até mesmo social.

Percebo, assim, a coerência da fala do idealizador da Escola, João

Carlos Sobrinho, o Fera, quando diz que “o surf é um esporte nobre criado para

os Reis, mas que alcançou os pobres.” (ESPETACULAR, 21/08/0211.) Esta

representação em relação à cidade de Fortaleza tem relação com o fato de que

os melhores lugares para a prática de tal esporte nesta Cidade estão

localizados em áreas de pouco investimento estatal e geralmente classificadas

como pobres e envolvidas com criminalidade.

No Titanzinho é fácil perceber a forte relação que seus moradores

possuem com a praia; é um local situado literalmente a beira-mar. Os alunos

da escola demonstram uma intimidade com o mar característica do bairro. Ao

acordar, muitos deles, saem de suas casas e vão à praia “olhar o mar” 5, como

uma forma de rito cotidiano. Mesmo os que estudam pela manhã possuem este

hábito, mesmo sabendo que, em caso positivo, não poderão ir surfar por causa

do compromisso com a escola formal.

2.2 Escola Benefiente de Surf Titanzinho- EBST

Quem olha “de dentro” do mar para a comunidade encara uma

paisagem de pobreza.

Caminhar por entre suas ruelas é um exercício social ao qual me

esforço em completar, haja vista que, para chegar ao meu destino de pesquisa,

a Escola Beneficente de Surf Titanzinho- EBST é necessário adentrar no bairro

(Ver Anexo A) e penetrar no interior de becos estreitos que fazem crescer o

5 Expressão usada para explicar o ato e ir até a praia para ver se as condições de surf estão boas.

6

imaginário social de uma arquitetura profundamente perigosa.

Consequentemente, a EBST não pode ser vista da avenida principal, mais

ampla e movimentada, onde trafegam os ônibus que “cortam” o bairro. A escola

e suas façanhas do surf dirigidas a crianças e adolescentes é invisível, neste

sentido. Da mesma forma, o mar que embeleza o bairro fica escondido aos

olhos dos transeuntes, e isso faz com que a imaginação dos que não

conhecem o bairro, os que apenas “passam” dentro dos ônibus e carros se

torne mais fértil ao pensar sobre os fatos noticiados pelos programas policiais,

em especial.

Os jovens da periferia estão situados em “comunidades estigmatizadas, situadas na base do sistema hierárquico de regiões e onde os problemas sociais se congregam e infeccionam, atraindo a atenção desigual e desmedidamente negativa da mídia, dos políticos e dos dirigentes do Estado. (WACQUANT, 2001, p. 7 apud SÁ, 2010,

p. 25).

Entretanto, o cotidiano envolve e, com olhos atentos, não nos deixa ver

apenas um lado da moeda. Nas minhas andanças, pude ver outros lados.

Deparei-me com um ambiente que, de certos ângulos e em determinados

horários6, aparentava ser um bairro como qualquer outro; crianças nas ruas a

correr brincando de bola, pessoas sentadas nas pedras a beira mar

conversando, enfim, de uma agitação social comum aos bairros periféricos da

Cidade.

A Escola se localiza nas imediações da praia do Titanzinho, um pedaço

do oceano encravado entre as pedras que servem de refúgio para crianças e

adolescentes do bairro. Estas, aos quatro anos de idade, já querem começar a

treinar a prática do surf. É no fim da rua, na última esquina da rua de principal

acesso ao mar que podemos encontrar a Escola Beneficente de Surf

Titanzinho (Ver Anexo B). Sua localização privilegiada, em relação à vista para

o mar, ajuda na instigação dos alunos para surfar, pois olhando da Escola em

direção ao mar já dá para perceber se o dia está propício para a prática do surf.

6 Vale ressaltar que minha pesquisa foi feita sempre no horário da manhã e, em alguns casos à tarde, no

mais tardar até as 17horas. Não pesquisei à noite, horário badalado como mais perigoso, pelos moradores

e freqüentadores da Escola.

7

Funciona em um prédio estruturalmente pequeno, porém com compartimentos

bem divididos.

Ao adentrar a Escola pela porta frontal me deparo com uma espécie de

Hall (Ver Anexo C), um corredor cheio de pranchas espalhadas pelo chão e

cadeiras amontoadas. O corredor contêm cinco portas: duas do lado esquerdo,

duas do lado direito e uma ao fundo. A primeira porta do lado esquerdo guarda

um espaço que está sendo reformado (Ver Anexo D), abriga apenas alguns

materiais de construção usados na reforma e ampliação da Escola e alguns

objetos dos alunos da escola. Apesar de não possuir uma definição prévia,

pode-se observar, por meio da estrutura física, que lá será inaugurada a

recepção da escola; Já na primeira porta do lado direito percebemos que se

refere à uma espécie de biblioteca e uma sala dos troféus (Ver Anexo E); onde

são guardados os poucos livros que a escola possui, assim como as medalhas

e troféus ganhos pelos alunos nos campeonatos.

Continuando o percurso por dentro da Escola, tem-se a segunda porta

do lado direito que leva a uma sala ampla (Ver Anexos F e G). A primeira vista

é fácil defini-la como uma sala de aula de reforço escolar, já que esta possui

uma lousa para pincel e cadeiras, porém seu antigo quadro para giz foi pintado

com a imagem de uma onda. É nesta sala onde funcionam as aulas de Yoga,

alongamentos, dança, assim como as aulas de leitura, de história do Surf e, às

vezes, as aulas do Katá, que será abordado mais adiante. Adentro mais no

corredor, avisto à segunda porta do lado esquerdo (Ver Anexo H) que guarda

uma surpresa; É que esta nos leva a uma sala aconchegante, com sofá,

televisão e todos os aparatos básicos de uma sala de estar. Percebo assim,

estar diante da casa do idealizador da Escola, João Carlos Sobrinho, o “Fera”,

artista plástico e uma figura carismática no “meio Surf”, tal casa por vezes é

confundida com a Escola, haja vista que ela serve de apoio aos surfistas

alunos da Escola. É nela onde tais jovens buscam refúgio, ou seja, é lá onde

eles vão beber água, tomar banho e até mesmo se alimentar após o surf7. Vejo

que é mais precisamente nesta casa onde a “magia” da Escola se concentra. A

casa do Fera, além de todos estas funções já expostas, serve como um tipo de

7 Entender aqui o surf como a ação em si, o ato de sufar, a prática do surf.

8

secretaria da Escola, já que ainda não há um espaço físico para tal função. É lá

onde se desenrola um dos pilares da Escola, o diálogo; o diálogo tanto com os

pais, em relação ao andamento dos seus respectivos filhos, quanto com os

alunos, a fim de conversar sobre comportamento, aproveitamento, conduta etc.

Nestes momentos é possível ver o vínculo estreito entre o indivíduo Fera e a

ação social da escola que parecem misturar-se a sua própria estrutura de vida.

Elias (1994) fala dos vínculos indivíduo e sociedade cuja explicação mais fácil

se dá pela dicotomia entre um e outro e pela normatividade do dever ser como

estratégia da compreensão.

Por estarem os indivíduos vinculados, quase que rotineiramente, ao sistema de valores de um campo ou do outro, verificamos com freqüência que, na tentativa de descobrir o que realmente é a relação entre indivíduo e sociedade, é comum adotarem-se os gritos de guerra dos campos opostos, que estão predominantemente interessados no que essa relação deve ser. (ELIAS, 1994, p.113)

Entretanto, o que podemos ver é uma estreita relação indivíduo e

sociedade. Para Elias, o indivíduo não é completamente autônomo em suas

decisões já que também é movido pelas contingências da vida social, mas

também ele não é absolutamente determinado pelo social. O que há é

interdependência do indivíduo com os laços em que se encontra vinculado, a

partir do qual suas opções passam a ter profunda motivação social, portanto,

sua biografia tem profunda pertinência e cumplicidade com as relações e

práticas sociais que constrói ao longo da vida. Há, no caso do Fera uma

confrontação clara entre sua trajetória pessoal e social em relação a Escola de

Surf8.

Voltando para a descrição da Escola, deparo-me então com a suposta

última porta, ao fundo do corredor (Ver Anexo I) que, quando aberta, dá acesso

ao que seria o quintal do prédio, por assim dizer e esperado. A vista de tal

porta é esplêndida (Ver Anexo J), o quintal visto é diferente do esperado, é

composto por uma pequena faixa de grama, e no lugar de um muro tem-se

8 Esta reflexão tem relação com a própria biografia de Norbert Elias. Alguns comentadores de Elias vêem

uma “saudável confrontação entre a trajetória pessoal do autor e sua produção teórica”, não que

determinada prática seja resultado de uma opção pessoal, mas da interdependência entre o indivíduo e

seus vínculos. Ver Resenha do livro “Norbert Elias por ele mesmo”, na Revista de Ciências Sociais, UFC.

(RODRIGUES, 2003, p. 139-142).

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uma barreira de madeira separando o quintal do espaço externo da escola; a

areia e o mar fazem parte do cenário, é a praia do Titanzinho “cortada” pelo

espigão de pedras, cuja imagem é como um cartão postal da praia, vista de um

ângulo que quase me faz esquecer sua localização precária.

Ainda de frente para o mar, mas já na parte interna do prédio, percebo

que há duas portinhas escondidas uma do lado esquerdo (Ver Anexo L) e outra

do lado direito (Ver Anexo M). A porta do lado esquerdo é um tipo de despensa

onde há vários sacos e um amontoado de coisas. Em um primeiro olhar, é

possível visualizar roupas a serem lavadas, visto que há também um tanquinho

de lavar roupas escondido por debaixo de tantas sacolas, já a porta do lado

direito é um pequeno banheiro, que, além de servir para atender a

necessidades fisiológicas dos alunos da escola, é onde eles, ao término da

prática cotidiana do surf, se dirigem para tomar banho, como eles mesmos

dizem, serve para “tirar o sal do corpo”.

Esta descrição é para deixar o leitor conhecedor do ambiente escolar

do surf e me serve para retomar a análise de forma mais confortável, visto que

estamos conhecendo o espaço do Serviluz, na praia do Titanzinho que guarda

segredos, esporte, beleza, lutas, amor pelo surf e tantas outras práticas sociais

e subjetividades.

2.2.1 A Origem

Em uma entrevista realizada com o idealizador da ESBT, o Fera, ele

me contou como se deu a criação e qual o motivo principal do interesse em

fundar a Escola. Em meados de 1990, Fera alimentava uma vontade de se

tornar missionário na África e com isso ele viajou para o Sertão Central com o

intuito de passar por determinadas dificuldades, que em sua opinião seriam

necessidades pertinentes também em solo africano,

eu fui pro interior do estado lá pro sertão central fazer um treinamento pra ir pra África porque eu queira ser missionário na África. Então eu tinha um desejo de ser missionário na África e fui pro Sertão: é pegar sol, passar fome, beber lama, enfim enfrentar mil e uma dificuldades lá já me preparando pra ir pra África. (FERA, 10/09/2011.)

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Retornando ao bairro, segundo a narrativa de Fera, quando ele foi

visitar sua mãe, que morava a algumas ruas de distância de sua casa, avistou

de longe uma multidão que se aglomerava em forma de círculo e,

aproximando-se, viu sangue.

No caminho eu encontrei uma multidão e vi ali sangue, um sangue derramado e uma cena que eu não tive coragem de ver; eu vi crianças entrando entre as pernas das pessoas pra ver aquela cena: que era uma pessoa morta caída lá no chão (FERA, 10/09/2011.)

Tratava-se de mais um morador assassinado no bairro em decorrência

da briga entre gangues. Fera continua sua narrativa afirmando que era “uma

cena muito triste”; a tristeza se devia ao fato de ver crianças correndo e se

desviando em meio as pernas da multidão para poder enxergar de perto o

morto caído no chão, se nem ele mesmo tivera coragem de ir ver. Falava de

crianças magras, raquíticas, que faziam um grande esforço físico para ver

aquela cena. Foi exatamente esta cena que chamou atenção de Fera:

aquilo ficou na minha mente e eu quis então fazer alguma coisa pra tentar tirar os garotos da ociosidade, só que na minha opção então criar, foi de criar uma Escola, uma Escola de Surf e eu não tinha pranchas, eu não tinha recursos, mas eu não consegui mais dormir direito por conta da necessidade de querer tirar os meninos da ociosidade e foi quando então realmente eu parti, é decidi visando o resgate da cidadania através do surf e o fato de tirar os garotos da ociosidade, isso em 1995 nós começamos a Escola com 5 alunos no dia 2 de fevereiro de 1995. (FERA,10/09/2011.)

Era o primeiro impulso que originaria a Escola. E foi assim, de acordo

com o próprio idealizador que, sem recursos, sem pranchas, que no dia 2 de

fevereiro de 1995 a Escola Beneficente de Surf Titanzinho foi inaugurada, uma

iniciativa individual em razão de estar cansado de esperar que atitudes

governamentais fossem tomadas diante da banalização da vida e da

normalização das drogas e tráfico.

. 2.2.2. Pedagogia e Desafios

Logo cedo, pela manhã, as mediações da EBST já começam a ser

ocupadas pelos meninos e meninas participantes da escola. Mesmo nos dias

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em que não há aula esta rotina se repete, é como um rito rotineiro: ir a EBST,

olhar o mar, surfar. Apesar de não possuir um método que controle a

freqüência dos alunos, Fera conhece individualmente cada um deles e sabe

quem participa das aulas.

A Escola possui, em 2011, 40 alunos inscritos, porém um pouco mais

da metade é que freqüenta constantemente. Os outros são os que no começo

do ano se inscreveram, mas que por um motivo ou outro se afastaram. A faixa

etária dos freqüentadores está entre 7 anos e 18 anos, mas o objetivo do

projeto é atender pessoas a partir de sete anos, sem limites de idade máxima:

“o nosso objetivo é de 7 a 100 anos, mas muitas pessoas por já terem a idade

mais avançada, não aprendem as técnicas do surf por vergonha”, diz Fera.

Os participantes da Escola necessitam de alguns pré-requisitos:

consentimento dos pais ou responsáveis, que são perviamente comunicados

que deverão participar quando necessário; os jovens só poderão se engajar na

EBST se estiverem regularmente matriculados na Escola formal. A

mensalidade da Escola é de R$ 1,99, uma taxa simbólica que serve para

colaborar com as inscrições dos alunos, que não possuem patrocínio, em

campeonatos e também para fazer com que os pais tenham comprometimento

com a causa. É valido citar que hoje a inscrição do campeonato cearense custa

no mínimo R$60,00. Assim, analisando juntamente com o Fera, em um ano de

competições a Escola devolve ao aluno que cooperou quatro anos, o

equivalente a mais ou menos, nove ou dez anos. Este investimento, nas

palavras do Fera, não é cobrado retorno, a única coisa que a Escola pede é

que se, após formados, se tornarem grandes campeões, não esqueçam da

Escola, e que se tornem multiplicadores e mantenedores desta.

Que essas pessoas depois de formadas e de repente se tornam grandes competidores como tem alguns que ganham 8, 7, 6 mil reais e antes eram nada e a gente se esforçou por eles (...) depois que se eles conseguirem chegar a ser profissional que eles possam de uma certa forma é, ajudar a Escola se tornando não só mantenedores como também multiplicadores porque é importante ele multiplicar a nossa ideia, mas também se ele tiver recurso ele manter nossa Escola. (FERA, 10/09/2011).

A EBST possui uma técnica metodológica própria, baseada no Katá;

surfando no imaginário, que consiste na realização de manobras expressivas,

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(Ver Anexo N), o aprendizado do Katá tem como principal meta fazer com que

o corpo do aluno vá se adaptando às manobras. Os alunos respondem ao

comando do professor quando este diz o nome das manobras, com a

realização das mesmas na areia, como se estivessem sendo realizadas no

mar. Aliado ao Katá, o Yoga é associado ao surf como meio de proporcionar

maior flexibilidade e melhor preparo respiratório ao atleta na hora das

manobras,além de aprender a técnica, os alunos têm aulas sobre a história do

surf, reforço escolar, aulas práticas e teóricas sobre o surf. Possui duas

cartilhas básicas, em que o aluno aprende desde as noções básicas do surf,

manobras expressivas, técnicas, até estratégias para competir, que são “curso

básico de surf” e a “como competir melhor”. Vale ressaltar que Fera se orgulha

ao dizer que foi ele quem inventou todas as cartilhas usadas na Escola, e que

foi através delas que o trabalho vem dando certo e que ele tem o respaldo

entre os surfistas competidores, tanto do Serviluz quanto de outros bairros,

graças a Deus assim aquilo que eu inventei, existem várias invenções minhas também para competição, para, tipo comunicação com os atletas, tudo isso eu inventei para que o surf pudesse ter uma evolução a mais e eu pudesse me ajudar assim a cada dia mais, ficar mais, posso dizer é, com mais voz. (FERA, 10/09/2011).

A Escola conta com alguns profissionais de diferentes áreas que

ajudam na preparação física dos alunos, dois professores de Yoga que dão

aula as segundas e quartas pela manhã e à tarde, e um professor de educação

física, que trabalha a resistência física dos alunos. Em geral as aulas da Escola

como um todo acontecem de segunda a sábado. Desta forma, percebo que o

dia dos alunos, pelo menos durante a semana, é quase todo preenchido com

ações que fortalecem o trabalho da Escola, visando surtir o efeito da ideia de

“retirar o jovem da ociosidade”. Para Fera, significa ensiná-los uma profissão

para que eles possam sobreviver do surf, sem que seja necessário recorrer aos

meios ilícitos para tal; se não for sendo um grande competidor, mas que seja

como um bom técnico, um preparador físico etc.

A rotina diária fortalece os alunos. Logo cedo, pela manhã, as

mediações da EBST já começam a ser ocupadas pelos meninos e meninas

participantes da escola, mesmo nos dias em que não há aula esta rotina se

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repete, é como um rito rotineiro: ir a EBST, olhar o mar, surfar. Apesar de não

possuir um método que controle a freqüência dos alunos, Fera conhece

individualmente cada um deles e sabe quem participa das aulas.

De acordo com o Idealizador, a EBST tem a intenção de formar atletas

competidores, atletas cidadãos, os quais devem ter consciência da aplicação

dos seus direitos e cumprimento dos deveres. A escola apesar de possuir

poucos recursos, toma para si a obrigação de inscrever seus alunos em

competições. Pode-se tomar, por exemplo, o campeonato cearense que é

dividido em quatro etapas durante o ano, a maioria das famílias dos alunos não

tem condições de arcar com as inscrições em todas as etapas dos

campeonatos, assim Fera costuma dizer, “a EBST tem a obrigação de colocá-

los em campeonatos, porque se não é como se o trabalho fosse em vão”.

Por outro lado, os conflitos permanecem, ora ativando as práticas da

Escola em busca de manter seus alunos longe das drogas e da violência, ora

ativando problemas como evasão da Escola e outros conflitos diversos

ocasionados pela situação de vulnerabilidade. Mesmo com a idealização do

Fera e tantas atividades que se confrontam com a ociosidade dos jovens, é

claro que as condições de vida e vulnerabilidade social, e mais ainda, as

classificações estereotipadas sobre eles, atingem cotidianamente tais jovens

que residem em bairros populares, como o Serviluz. Eles vivem em um mundo

visivelmente e socialmente contraditório, marcado pelo estereótipo de lugar de

bandido. Para Michel Misse trata-se de sujeitos encobertos por um tipo de

“sujeição criminal”, processo pelo qual são identificados previamente os

supostos sujeitos que irão compor um tipo social negativo cujo caráter é

socialmente considerado “propenso a cometer um crime” (2008, p.14). Assim,

muitos moradores passam a desacreditar em suas atividades e constroem o

estereótipo de que o pobre é um potencial transgressor e, ainda, os sujeitos

alvos dessa discriminação e preconceito também passam a se classificarem

como tais, gerando um ciclo de estigmas sobre eles e seus semelhantes de

difícil resolução.

Tudo aquilo que distingue a pessoa, tornando-a um individuo, tudo o que nela é singular desaparece. O estigma dissolve a identidade do

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outro e a substitui pelo retrato estereotipado e a classificação que lhe impomos. (SOARES, 2006, p. 132-133).

Neste sentido, o imaginário seletivo da punição se constitui e,

geralmente, recai sobre alguns adolescentes expostos e vulneráveis diante das

condições de desigualdade social. Verifica-se, portanto um processo de

incriminação social que ganha maior autonomia quanto maior for o grau de

segregação, exclusão e distância social máxima do acusado (MISSE, 2008).

Uma frase de Wacquant (1994, p.24) traz um esclarecimento didático

sobre o que foi exposto: “a maldição de ser pobre no meio de uma sociedade

rica”, nos faz perceber o crescimento da concepção de que “ser pobre” tem

relação direta com o “ser violento”, já que seria imaginariamente um

instrumento do ódio dos que não têm contra os que têm para alcance de

objetos de consumo. Esses obstáculos são agravados pela situação de

precariedade que as famílias vivem no bairro que, consequentemente gera a

discrimação por endereço,

o endereço faz diferença, abona ou desabona, amplia ou restringe acessos. [...] Hoje certos endereços também trazem consigo o estigma das áreas urbanas subjugadas pela violência [...]. Ao preconceito e à discriminação de classe, gênero e cor adicionam-se o preconceito e a discriminação por endereço. (NOVAES, 2006, p. 106).

Diante de quadro de incriminação e sujeição criminal apontados por

Misse, percebo que a Escola se mobiliza para motivar mais os seus alunos e

seus professores também. Projetos como cyber café, curso de línguas, salão

de dança, recepção e uma sala de shaper9 estão em processo de construção,

com o intuito de colaborar com a formação de surfistas cidadãos, como diz

Fera: “nosso objetivo aqui é formar grandes competidores, grandes campeões,

porém, acima de tudo nós queremos fomentar a educação e a formação do

surfista cidadão.”

9 Um shaper é o profissional que dá forma a prancha de surf, é o que faz a prancha.

15

O curso dura quatro anos, os alunos aprendem primeiramente, noções

básicas sobre o oceano, ventos, marés, como ficar em pé na prancha e como

fazer manobras; a segunda parte, que precisa da prancha, é a prática do surf

no mar. As aulas, como expostas anteriormente, são aplicadas semanalmente

de segunda a sexta, pela manhã e a tarde, e aos sábados pela manhã,

abrangendo desde o primeiro contato com o equipamento até a formação

completa do atleta. Refletindo em relação ao período do curso, após os quatro

anos o que acontece com os alunos? “É, depois, dependendo do nível dele, ele

vai permanecer conosco né. Porque assim, depois de 4 anos ele já, eles já

estão formados”. (FERA, 10/09/2011).

Após estes quatro anos eles estão formados para serem competidores

e, a partir daí, o trabalho do Fera aumenta; ele é quem vai atrás de patrocínio

para os que querem realmente competir, mas a realidade do cenário do surf é

que há poucas empresas dispostas a dar este apoio ao atleta. Desta forma,

nem todos os “formados” possuem patrocínio.

Diante deste quadro, as ações voltam-se para o cotidiano para manter

o Projeto já que há desafios maiores do que a falta de patrocínio. A

preocupação cotidiana da Escola é pela alimentação dos alunos. Eu mesma fui

absorvida pelo Fera como uma candidata a contribuir com alimentos para as

crianças. A pergunta mais discutida entre os membros da Escola é: de que

maneira alimentar os alunos, já que muitos vão para a aula de manhã cedo em

jejum por não terem o que comer em casa?

Questão social permanente nos países pobres, em bairros pobres

como Serviluz. Fera sabe que não se resolverá com suas atividades na Escola,

mas quer mantê-la como subterfúgio de muitas crianças que andam na

ociosidade, como ele diz sempre. Neste sentido, ele se demonstra confiante,

falando de avanço na estadia desses jovens na EBST e do desejo deles de

querer ser alguém na vida, de “ser gente” quando crescer. Fala também de

avanço nas questões éticas e educacionais, já que considera que eles

melhoram na escola pelo incentivo à leitura. Para isso, a Escola dita um

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prêmio: o aluno que no final do ano conseguir se alfabetizar é premiado pela

Escola, a fim de estimular ainda mais os estudos.

Eu vejo o avanço no desejo de querer ser alguém na vida, de buscar um futuro promissor, eu vejo o avanço na questão educacional assim, da ética, da moral, de saber dizer as palavras mágicas; obrigado, com licença é, eu vejo assim um avanço até mesmo na questão da, não só da convivência, mas do falar é, (...) a educação da convivência do dia-a-dia, de estar sabendo se locomover entre as pessoas de forma educada e respeitosa. (FERA, 10/09/2011).

Vejo essas questões como estratégias da Escola para continuar

sobrevivendo às adversidades as quais está exposta no Serviluz. Assim, Fera

transpõe para os alunos a ideia do desejo tanto de sobrevivência e se

transformar em profissional pela Escola, quanto de surf como diversão. Diante

disso, percebo na fala do Fera, que há dois tipos de visões por parte dos

alunos da Escola,

Eles vêem a Escola como, alguns, como a tábua de salvação, como meio de que vindo eles irão ter uma oportunidade pra ser grandes competidores e alguns, quando muito ainda jovem vê como um meio de diversão porque, pranchas, por ter esse lado de incentivos pro surf. (FERA, 10/09/2011)

A primeira é a visão dos que depositam na Escola a esperança de

mudar a realidade individual, vendo na Escola uma chance de se tornarem

grandes competidores, como se ela fosse a “tábua de salvação”, são jovens

que realmente gostam do surf e se tornam dependentes dele, surfam todos os

dias. A segunda visão é a dos mais jovens, que vêem a escola apenas como

diversão. São esses que compõem o índice de evasão. Fera diz que as

crianças do bairro se interessam muito rápido, mas também se desinteressam,

porém com o passar do ano, elas tomam consciência e querem voltar, mais

são indicadas a esperar pelo próximo ano.

Outro obstáculo, citado pelo Fera, levanta debates que há algum tempo

estão sendo questionados.

O principal, eu acho assim, o principal desafio é o fato de educar pessoas que tem uma família desestruturada, que a maioria são filhos de pais separados, de pessoas que tem envolvimento com drogas, de meninos que muito das vezes até nasceram de um erro, então são

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pessoas meio que abandonadas e essas pessoas pra gente educar, pra gente formar, é muito difícil porque é, eles já vêm de uma educação muito errônea, e então assim nosso desafio é educar essa pessoas, educar essas crianças. (FERA, 10/09/2011).

A questão da organização familiar é alvo de questionamentos, um novo

modo de ser família existe, não é porque uma criança é educada apenas pela

mãe, ou pai, pelos avós ou tios, que ela possui uma família desestruturada.

Cresce o número de famílias em que os pais, mesmo sem conjugue, criam

seus filhos. O problema das crianças e adolescentes do Serviluz é o caráter de

abandono em que elas estão expostas devido o alto índice de envolvimentos

dos pais com as drogas, pais viciados que deixam seus filhos sozinhos em

casa e/ou entregues ao cuidado dos avós, já idosos, que na maioria das vezes

não conseguem evitar que os mesmo se entreguem para a dinâmica das

drogas.

Enfim, estes são apontamentos de uma Escola em busca de crianças e

adolescentes para, surfando, se manterem sob controle diante da

vulnerabilidade das drogas e da violência no bairro. A ideia segue sob a prática

cotidiana de um indivíduo que construiu uma Escola não de forma autônoma

completamente, nem tampouco determinado apenas pela questão social, mas

pelo vínculo e interdependência entre indivíduo e sociedade (ELIAS, 1994). Se

mantém sob os auspícios de exemplos de sucesso no Titanzinho, que fazem

os olhos das crianças brilharem, como o caso de Pablo Paulino. Surfista

Profissional, cresceu no Serviluz, começou a surfar aos 8 anos, destacava-se e

logo cedo começou a ganhar campeonatos. A exemplo de Pablo, outros

surfistas e novos talentos surgiram no cenário do surf nacional e internacional,

mostrando o lado do sucesso da praia do Titanzinho e o grande potencial de

projetos sociais nesta área.

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ANEXOS

Anexo A: Imagem da principal Rua de acesso a EBST. Fonte: Pesquisa direta,2011.

Anexo B: Escola Beneficente de Surf Titanzinho.

Fonte: Pesquisa Direta, 2011.

22

Anexo C: Hall de entrada do prédio da EBST.

Fonte: Pesquisa Direta, 2011.

Anexo D: Primeira sala, do lado esquerdo, da EBST.

Fonte: Pesquisa direta, 2011.

23

Anexo E: Primeira sala, do lado direito, da EBST.

Fonte: Pesquisa direta, 2011.

Anexo F: Segunda sala, do lado direito, da EBST.

Fonte: Pesquisa Direta, 2011.

24

Anexo G: Segunda sala, do lado direito, da EBST. Fonte: Pesquisa Direta, 2011.

Anexo H: Segunda sala, do lado esquerdo, da EBST.

Fonte: Pesquisa Direta, 2011

25

Anexo I: Porta do fim do corredor do prédio da EBST. Fonte: Pesquisa Direta, 2011.

Anexo J: Imagem do “quintal” da EBST.

Fonte: Pesquisa Direta, 2011.

26

Anexo L: “Portinha” do lado esquerdo; despensa da EBST. Fonte: Pesquisa Direta, 2011.

Anexo M: “Portinha” do lado direito; banheiro da EBST.

Fonte: Pesquisa Direta, 2011.

27

Anexo N: Katá do surf realizado na praia.

Fonte: Diário do nordeste, 2010.