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XADREZ ADAPTADO: O DESENVOL- VIMENTO DE UM PRODUTO DE TEC- NOLOGIA ASSISTIVA (TA) PARA POR- TADORES DE NECESSIDADES ESPECI- AIS DA VISÃO Raphael Harry Frederico Ribeiro Kramer (UFPB) [email protected] Renato Rodrigues Lobo (UFPB) [email protected] Marcel de Gois Pinto (UFPB) [email protected] O desenvolvimento de produtos geralmente não considera a utilização dos artigos por pessoas deficientes. Visando reduzir este problema e gerar inclusão social, vêm sendo desenvolvidas Tecnologias Assistivas, ou seja, produtos desenvolvidos com a finalidade de auxiliar pessoas portadoras de deficiência, permanente ou temporária, a realizar ativi- dades cotidianas. Nesse contexto, este trabalho apresenta o desenvol- vimento de um jogo de Xadrez adaptado ao uso por deficientes visuais. A metodologia utilizada foi dividida em três etapas: especificação da oportunidade, realizada a partir de pesquisa de mercado e tecnológi- ca; projeto conceitual, que utilizou a matriz morfológica além de as- pectos estéticos e ergonômicos; e projeto detalhado, que utilizou soft- wares CAD para o projeto de tabuleiro, peças e embalagem, sempre buscando a independência dos deficientes visuais durante a utilização do jogo. O resultado é um protótipo do jogo com boas chances de rea- lizar a inclusão proposta. Entretanto, julga-se necessário validar o produto por meio de testes com os usuários finais. Palavras-chaves: Projeto de produto, Tecnologia assistiva, Xadrez XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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XADREZ ADAPTADO: O DESENVOL-

VIMENTO DE UM PRODUTO DE TEC-

NOLOGIA ASSISTIVA (TA) PARA POR-

TADORES DE NECESSIDADES ESPECI-

AIS DA VISÃO

Raphael Harry Frederico Ribeiro Kramer (UFPB)

[email protected]

Renato Rodrigues Lobo (UFPB)

[email protected]

Marcel de Gois Pinto (UFPB)

[email protected]

O desenvolvimento de produtos geralmente não considera a utilização

dos artigos por pessoas deficientes. Visando reduzir este problema e

gerar inclusão social, vêm sendo desenvolvidas Tecnologias Assistivas,

ou seja, produtos desenvolvidos com a finalidade de auxiliar pessoas

portadoras de deficiência, permanente ou temporária, a realizar ativi-

dades cotidianas. Nesse contexto, este trabalho apresenta o desenvol-

vimento de um jogo de Xadrez adaptado ao uso por deficientes visuais.

A metodologia utilizada foi dividida em três etapas: especificação da

oportunidade, realizada a partir de pesquisa de mercado e tecnológi-

ca; projeto conceitual, que utilizou a matriz morfológica além de as-

pectos estéticos e ergonômicos; e projeto detalhado, que utilizou soft-

wares CAD para o projeto de tabuleiro, peças e embalagem, sempre

buscando a independência dos deficientes visuais durante a utilização

do jogo. O resultado é um protótipo do jogo com boas chances de rea-

lizar a inclusão proposta. Entretanto, julga-se necessário validar o

produto por meio de testes com os usuários finais.

Palavras-chaves: Projeto de produto, Tecnologia assistiva, Xadrez

XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

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1. Introdução

As tecnologias assistivas são produtos ou serviços desenvolvidos com a finalidade de auxiliar

pessoas portadoras de algum tipo de deficiência ou limitação, permanente ou temporária, a

desenvolver atividades que para aquelas pessoas que não possuem tais limitações seriam con-

sideradas ordinárias.

O cotidiano dos deficientes é dificultado, dentre outros motivos, pelo fato de os diversos pro-

dutos e serviços que são utilizados no dia-a-dia não serem projetados com tal intenção. A difi-

culdade de justificar economicamente projetos de produtos vinculados a necessidades especi-

ais pode estar relacionada com tal fato, pois os portadores de necessidade não são um grupo

tão amplo da sociedade.

Entretanto, dados do Censo Demográfico do Brasil (2000) mostram que 14,4% da população

brasileira apresenta ao menos um tipo de deficiência. Na região nordeste, onde foi realizado

este trabalho, encontra-se 2,4% da população brasileira portadora de deficiência. (IBGE,

2000). Considerando o público-alvo deste trabalho, a referida pesquisa mostrou que no país há

148 mil pessoas cegas e 2,4 milhões com grande dificuldade de enxergar. Do total de cegos,

77.900 eram mulheres e 70.100, homens. (IBGE, 2000).

Sendo assim, ofertar no mercado algo para tais pessoas pode se tornar lucrativo, considerando

que se trata de um mercado pouco explorado e ávido por ter suas necessidades atendidas. Afo-

ra isto, a inserção dos deficientes no mercado de trabalho vem crescendo nos últimos anos,

seja por políticas públicas de cotas afirmativas ou por meio de políticas de gestão de pessoas

em empresas privadas. Por estas razões, este é um público que tende a aumentar seu poder

aquisitivo.

Por outro lado, não somente a justificativa econômica deve ser levada em consideração, pois

nestes casos estão envolvidas questões sociais muito delicadas: a inclusão de pessoas e a dig-

nidade humana. Por esta razão, é lícito o uso de políticas públicas de subsídio a projetos de tal

natureza ou mesmo o investimento privado que vise um ganho em imagem empresarial ou a

atuação por meio da estratégia de focalização no segmento. Diversas são as possibilidades.

No contexto da inclusão podem-se listar diversas atividades humanas às quais portadores de

deficiência, em especial os cegos ou pessoas com visão subnormal, estão apartados. Este arti-

go trata do desenvolvimento de um projeto conceitual de um jogo de Xadrez Adaptado para

deficientes visuais que visa o entretenimento e a educação dos usuários, podendo ser utilizado

por pessoas que portam tais necessidades ou não.

2. Tecnologia Assistiva

Os artefatos, utensílios e bens de qualquer natureza foram desenvolvidos pelos homens visan-

do facilitar determinadas atividades, ou seja, com o objetivo de serem ferramentas que facili-

tassem a sua realização. A massificação da produção de bens, por meio da revolução industri-

al, e posteriormente do taylorismo-fordismo, instituiu a noção de padronização de produtos

visando à produção em massa e a obtenção de economias de escala.

Entretanto, quando se trata de bens feitos para o público em geral, pessoas com necessidades

especiais ficam à margem de sua utilização. Neste contexto, surgem as Tecnologias Assistivas

(TA). É difícil determinar quando surgiram os primeiros produtos de auxílio das limitações

das pessoas, principalmente quando se considera que lentes de aumento ou conchas nos ouvi-

dos são embriões do que se convencionou chamar tecnologia assistiva nos EUA, tecnologia

de assistência (CIF/OMS) e tecnologia de apoio (Comissão Européia) na Europa ou ajudas

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técnicas no Brasil (Ministério da Saúde). (ROCHA e CASTIGLIONI, 2005).

Para a RESNA (Sociedade de Engenharia de Reabilitação e Tecnologia Assistiva da América

do Norte, em inglês) a tecnologia assistiva encontra-se inserida no âmbito da engenharia da

reabilitação. Este termo representa as aplicações sistemáticas de tecnologia, métodos de enge-

nharia ou princípios científicos utilizados para atender às necessidades e eliminar as barreiras

enfrentadas por pessoas com deficiência em áreas que incluem educação, reabilitação, empre-

go, transportes, vida independente e lazer. Assim, o termo engenharia de reabilitação inclui

dispositivos e serviços de tecnologia assistiva. (RESNA, 2011)

Na literatura existem diversas definições de TA. Dentre elas, destaca-se a conceituação de

Cook e Hussey (1995), segundo a qual TA representa uma ampla gama de equipamentos, ser-

viços, estratégias e práticas concebidas e aplicadas para minorar os problemas funcionais en-

contrados pelos indivíduos com deficiências. Para Mello (1997), a tecnologia é assistiva

quando usada auxiliar no desempenho funcional de atividades cotidianas, reduzindo incapaci-

dades, sendo diferente da tecnologia reabilitadora, usada, por exemplo, para auxiliar na recu-

peração de movimentos diminuídos.

Esta área do conhecimento cresceu tanto que é possível encontrar algumas classificações de

TA na literatura, tais como: ADA – American With Disabilities Act, EUSTAT – Empowering

Users Through Assistive Technology, IPAT - Iowa Program for Assistive Technology e ISO.

Até mesmo a ISO com a norma ISO 9999:2002 - Technical aids for persons with disabilities -

Classification and terminology que classifica as ajudas técnicas em onze níveis diferentes

subdivididos em classes e subclasses de acordo com suas funções. (BERSCH, 2008)

Outra classificação que merece destaque por sua amplitude e simplicidade é a de Bersch

(2008). A autora divide as TAs, também, em onze categorias, quais sejam: (1) auxílio para a

vida diária e vida prática, (2) comunicação aumentativa e alternativa, (3) recursos de acessibi-

lidade ao computador, (4) sistemas de controle de ambiente, (5) projetos arquitetônicos para

acessibilidade, (6) órteses e próteses, (7) adequação postural, (8) auxílios de mobilidade, (9)

auxílios para cegos ou para pessoas com visão subnormal, (10) auxílios para pessoas com

surdez ou com déficit auditivo e (11) adaptações em veículos. Neste trabalho foi desenvolvido

um produto alinhado ao nono tipo de TA apontado por Berch (2008) – auxílios para cegos ou

para pessoas com visão subnormal: o Xadrez Adaptado.

Por outro lado, apesar das intenções declaradas de auxílio da recuperação e aumento da auto-

nomia e independência prometidas pelas tecnologias assistivas, nem sempre os produtos são

bem aceitos pelos utilizadores finais. Rocha e Castiglioni (2005) apontam que os utilizadores

finais são as pessoas com deficiências, com incapacidades transitórias e os idosos, familiares,

cuidadores pessoais. Segundo as mesmas autoras, outros agentes envolvidos com TA são os

profissionais de reabilitação, fabricantes, fornecedores e consultores de TA. Este último grupo

deve buscar projetar, produzir e fornecer produtos que estejam realmente adaptados aos seus

usuários, levando a um uso fácil, maior independência e auto-estima.

Mas nem sempre é isso o que ocorre. Zhao e Phillips (1993) realizaram uma pesquisa entre os

utilizadores de TA com o objetivo de identificar fatores associados com o abandono da tecno-

logia assistiva. Como primeiro achado do trabalho, os autores mostraram que 50% dos apare-

lhos ou produtos foram abandonados. Posteriormente, foram identificados quatro fatores sig-

nificativamente relacionados ao abandono, quais sejam: (1) falta de consideração pela opinião

do usuário; (2) procura de aparelho fácil (3) desempenho ruim do aparelho e (4) mudança na

necessidade ou prioridade do usuário. Rocha e Castiglioni (2005) vão além ao afirmar que “se

a tecnologia representar um fracasso, significar uma acusação de sua impotência, um atributo

negativo de denúncia social e psicológica de suas limitações, ela (tecnologia assistiva) não irá

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promover independência e autonomia”.

Sendo assim, é imperativo reconhecer que, quando se trata de usuários especiais, atender aos

seus requisitos é algo muito mais delicado que o sucesso comercial de um produto, pois recai

até mesmo em aspectos psicológicos dos indivíduos, não podendo ser apenas jargão ou políti-

ca de qualidade vazia. Sendo assim, provavelmente a tecnologia assistiva deve caminhar no

sentido do desenho universal. Esse termo, segundo o RESNA (2011), significa uma filosofia

de projeto de produtos e serviços que possam ser utilizados por pessoas com o maior número

possível das capacidades funcionais, que incluem produtos e serviços que são diretamente

acessíveis e produtos e serviços que são operáveis com conexões a tecnologias de apoio.

A partir de tais conceituações e os problemas ligados ao projeto e uso de TA, foi possível es-

colher uma abordagem de projeto de produtos que visasse a uma maior probabilidade de acei-

tação do Xadrez Adaptado por parte das pessoas com cegueira ou visão subnormal.

3. Processo de Desenvolvimento de Produtos

Os profissionais e pesquisadores que atuam no campo da engenharia do produto têm desen-

volvido, no passar dos anos, várias metodologias e ferramentas para dar suporte ao processo

de desenvolvimento de produto. Atualmente é possível sintetizar o conhecimento desenvolvi-

do na área e agrupá-lo, por exemplo, em correntes de pensamento ou abordagens.

Em um primeiro momento, o desenvolvimento ocorria de maneira sequencial, onde as ativi-

dades de projeto não são integradas e vão sendo passadas entre os envolvidos como pacotes

concluídos. Posteriormente, começam a ser pensadas melhores metodologias de projeto, en-

tretanto com uma visão um tanto funcional que buscava ótimos locais a ainda não havia inte-

gração entre os envolvidos internos à empresa, tão pouco fornecedores e clientes.

Considerando os pontos fracos existentes sugeriu-se a engenharia simultânea, que visava o

paralelismo de atividades e a participação de clientes e fornecedores; o funil de desenvolvi-

mentos, que quebra a visão funcional e faz surgir uma abordagem baseada em processos e em

seleção de ideias com base em crivos; a abordagem do stage-gate, que tem por objetivo a ava-

liação contínua do processo de projeto e seus resultados, não apenas checar o resultado final.

O Desenvolvimento integrado, por sua vez, busca fazer com que o desenvolvimento de produ-

tos esteja integrado com pesquisa e desenvolvimento (P&D) e com a estratégia da organiza-

ção, além de buscar uma metodologia que una os pontos positivos das metodologias e aborda-

gens já desenvolvidas. Há o surgimento de novas abordagens (projeto para os seis sigmas,

lean design) e aplicações pontuais (engenharia e análise de valores, prototipagem rápida, en-

genharia virtual e simulação, desenvolvimento sustentável e eco-design). (WHEELWRIGHT

e CLARK apud KLEMENT e MORALES, 2009; COOPER, 1990; ROZENFELD, 2006).

Mesmo considerando essa abundância de diferentes abordagens teóricas em desenvolvimento

de produtos, a maioria dos autores sugere que o projeto de um produto possua as etapas de

identificação ou especificação da oportunidade e geração do conceito, a realização de pré-

projeto e elaboração de um projeto final com todos os detalhes técnicos do produto. (BAX-

TER, 1998; ROZENFELD, 2006; SLACK, 1996; PAHL, G. et al.).

Assim sendo, os aspectos conceituais constantes na literatura foram pinçados conforme a ne-

cessidade do projeto de produto que se estava realizando, constituindo uma miscelânea ade-

quada ao projeto de um produto de tecnologia assistiva. O resultado dessa investigação teórica

é apresentado nos tópicos que se seguem.

3.1 Especificação da Oportunidade

Uma oportunidade no mundo dos negócios quer dizer uma necessidade humana a ser atendida

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por meio do desenvolvimento de um produto ou serviço. No caso do artigo em questão, as

necessidades são as deficiências visuais e o que se busca atender, por meio do produto adap-

tado, é a independência e interação social a essas pessoas.

Segundo Baxter (1998), a especificação da oportunidade deve desembocar na determinação

de uma proposta básica de benefício, ou seja, aquilo a que o produto se propõe a fazer. Para o

autor, tal definição deve ser feita por meio de pesquisas de mercado e tecnológica.

Para Rozenfeld et al. (2006), a pesquisa de mercado pode contar com dados de natureza pri-

mária ou secundária. Os autores afirmam, ainda, que os últimos devem ser coletados a priori

de modo a permitir a identificação de um panorama geral do setor econômico em que se está

querendo inserir um novo produto. Tais dados já se encontram disponíveis por meio de publi-

cações dirigidas ao grande público do setor, tais como revistas, dados de agências de informa-

ção, participação em agências e órgãos, bem como associações do setor. A partir disto, pode-

se realizar a pesquisa com levantamento de dados primários, tais como observação direta,

entrevistas individuais, clínicas (focus group), enquetes ou experimentos controlados.

As oportunidades de mercado identificadas por meio das técnicas elencadas devem ser aten-

didas por produtos tecnicamente viáveis. Deste modo, faz-se uso de pesquisas tecnológicas.

Segundo os referidos autores, o estudo de bases de dados de patentes e de revistas científicas,

o mapeamento de competências (pessoas e instituições) e a participação em feiras e congres-

sos do setor são as melhores maneiras de manter-se atualizado tecnologicamente.

3.2 Projeto Conceitual

O projeto conceitual envolve um estágio no processo de desenvolvimento de um novo produ-

to, através do qual a equipe de projeto busca converter os requisitos identificados na especifi-

cação de oportunidade em um desdobramento de funções a serem criadas para atender aos

referidos requisitos. (ROZENFELD, et al., 2006).

A primeira técnica de projeto de produto comumente utilizada é a modelagem funcional. Po-

de-se dizer que a sua realização se justifica por proporcionar algumas vantagens: concentra-

ção sobre “o que” tem que ser realizado, um novo conceito ou projeto, e não “como” vai ser

realizado; auxilia a organização da equipe de projeto, tarefas e processo; as funções podem ser

obtidas ou geradas diretamente das necessidades dos clientes, definindo os contornos da solu-

ção final do projeto; a criatividade é favorecida pela possibilidade de decomposição de pro-

blemas e manipulação de soluções parciais, etc. (OTTO e WOOD, 2007).

Rozenfeld et al. (2006) recomenda que a esta modelagem seja sucedida a busca pela definição

dos princípios de solução, ou seja, dos efeitos físicos e seus portadores de tal modo que cada

função seja desempenhada por um dispositivo presente no produto. Os autores sugerem que

sejam desenvolvidos vários princípios e que a combinação ideal pela compor um produto

harmônico seja realizada por meio da Matriz Morfológica. Nesta técnica de projeto, a matriz é

composta pela especificação das funções do produto em suas linhas e pelos princípios de so-

lução desenvolvidos nas colunas. O chamado princípio de solução total é definido pela esco-

lha da melhor combinação de princípios de solução para cada função.

Nesta fase do desenvolvimento também são definidos os aspectos semânticos do produto, que

estão diretamente relacionados com a sua estética e ergonomia. Semântica do produto, segun-

do é o estudo das qualidades das formas feitas pelo homem no contexto cognitivo e social de

seus usos e a aplicação do conhecimento aos objetos de desenho industrial. (KRIPPEN-

DORFF apud MARGOLIN e BUCHANAN, 1996). A partir destas atividades ter-se-á desen-

volvido o conceito do produto, sendo possível o desenvolvimento detalhado de componentes.

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3.3 Projeto Detalhado

O projeto detalhado de um produto visa deixá-lo pronto para a produção. Assim, são desen-

volvidos os sistemas, subsistemas de componentes dos produtos (SSC). Rozenfeld et al.

(2006) propõe que esta fase seja realizada por meio de três ciclos, quais sejam: detalhamento,

aquisição e otimização. Na figura 1, são mostradas as principais atividades de cada ciclo.

Figura 1 – Ciclo do Projeto Detalhado (Fonte: Rozenfeld et al., 2006)

Para os referidos autores, também é responsabilidade desta fase a criação de material de su-

porte do produto, tais como manual de instalação e operação, o projeto da embalagem, o pla-

nejamento do fim de vida útil do produto, prototipagem, testes e homologação e a preparação

de dispositivos e gabaritos de máquinas que possibilitam a fabricação do produto.

4. Metodologia

Um trabalho científico pode ser classificado segundo diversos critérios de acordo com o autor

utilizado como referência. Vergara (1997) põe dois critérios básicos para a classificação das

pesquisas: quanto aos fins e quanto aos meios.

Quanto aos fins, este trabalho pode ser classificado em aplicado – devido o seu valor prático,

visando à solução de problemas dos deficientes visuais –, metodológico – ligado ao uso de

métodos e procedimentos aplicados ao desenvolvimento de produtos – e intervencionista –

ligada ao caráter de mudança da realidade a partir da aplicação do produto pelos deficientes

visuais. (FERRARI apud ZANELLA, 2006; ZANELLA, 2006; VERGARA, 1997).

No que tange aos meios, o trabalho é: bibliográfico, pois utiliza elementos da literatura relati-

va à engenharia de reabilitação, tecnologias assistivas e desenvolvimento de produtos e estudo

de caso, pois procura conhecer profundamente a realidade de grupo específico, os deficientes

visuais. (VERGARA, 1997).

Tendo em mente tais finalidades e os referidos meios de abordagem, pôde-se desenvolver

uma estratégia de intervenção que consistia na execução das etapas de trabalho previstas na

Figura 2. A definição da forma de atuar visou adaptar complexos modelos presentes na revi-

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são bibliográfica à atuação acadêmica que objetivava, dentre outras coisas: a aprendizagem de

conceitos e técnicas de projeto de produtos, uma orientação de fases e etapas que fosse eficaz

e gerasse simplicidade no ato de projetar e o projeto de um produto relevante socialmente.

Os dados utilizados no trabalho foram de natureza secundária, seja por bibliografia técnica da

área de engenharia (reabilitação e de projeto de produtos) ou por pesquisa tecnológica de pro-

dutos similares e identificação da realidade da pessoa com problemas na visão.

O levantamento de dados foi realizado a partir de buscas em sítios na internet especializados

em TA e bases de dados de publicações científicas relacionadas aos temas abordados no tra-

balho. As informações permitiram a identificação de oportunidades de desenvolvimento de

produtos para atender necessidades que outros produtos não vinham fazendo. Assim, foi pos-

sível cumprir os requisitos de Especificação da Oportunidade constante na Figura 2.

Figura 2 – Etapas de Trabalho para o Desenvolvimento do Xadrez Adaptado (Elaborado pelos autores)

As fases de Projeto Conceitual e Detalhado seguiram a abordagem constante na revisão da

literatura e fizeram uso de reuniões de projeto com sessões de braintorming, uso de softwares

CAD (Autodesk AutoCAD 2010), chegando à elaboração de um protótipo virtual do produto.

Nos próximos tópicos são apresentados os resultados da execução de tais etapas de trabalho.

5. Identificação de soluções existentes para o problema

Para a determinação dos parâmetros a serem adotados no projeto do Xadrez Adaptado foi

realizada uma pesquisa de tecnológica com o intuito de avaliar os produtos já existentes. Esta

pesquisa identificou alguns produtos existentes no mercado que já vislumbravam a sua utili-

zação por pessoas cegas e/ou com visão subnormal. Apresentam-se assim, na Tabela 1, alguns

modelos de tabuleiros de xadrez adaptados, mostrando seu modo de utilização com foco em

seus pontos fortes e fracos.

A partir disso, identificaram-se características ainda inexploradas e foi possível utilizar as

boas ideias desenvolvidas e idealizar um produto com possibilidade de ser uma melhor solu-

ção para os portadores de necessidades especiais da visão. Isso permitiu o desenvolvimento de

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novas soluções, buscando corrigir as falhas encontradas e inserindo novos conceitos no modo

de jogar (identificar as peças, as casas e a leitura da situação do jogo).

Assim, a ideia consiste em um projeto de natureza incremental que tem finalidade lúdica e ao

mesmo tempo desenvolve uma maior habilidade na comunicação, aumento da criatividade, da

concentração e da autoconfiança, melhoria da memória e ajuda na tomada de decisões com-

plexas, a lidar com eventos inesperados e no reconhecimento de padrões. Todas essas habili-

dades são fundamentais, por exemplo, para a locomoção independente de pessoas cegas.

Produto Identificado Características Pontos fortes e fracos

Base semi-sólida de papelão com

diferenciação das casas por recortes

de papel colados sobre a base, ne-

cessitando do tato para identificação

se “preta ou branca”. As jogadas

feitas são faladas e anotadas por

ambos os jogadores para posterior

consulta.

Pontos Fortes: Fabricação fácil e

de baixo custo;

Pontos Fracos: O tabuleiro é feito

com material flexível e as peças

não têm nenhum dispositivo que

evite quedas. Não possui boa iden-

tificação de cor das casas e as

peças não possuem boa distinção.

São utilizados dois tabuleiros, um

tradicional e outro adaptado. O

primeiro fica disposto entre os

jogadores, próximo do jogador sem

deficiência visual, enquanto o menor

próximo ao deficiente. As jogadas

devem ser faladas e as peças

movimentadas nos dois tabuleiros.

Pontos Fortes: Plena noção da

localização das peças pelo defici-

ente e possibilidade da permanên-

cia das mãos sobre o tabuleiro para

consulta do jogo;

Pontos Fracos: Necessidade de um

jogador não portador de deficiên-

cia visual e de dois tabuleiros.

Utiliza pedaços de camurça em

formatos quadrangular e circular

colados ao tabuleiro, funcionando

como identificador de casas e

fixador de peças, que contém

pedaços de velcro colados à sua

base.

Pontos Fortes: É um tabuleiro

tradicional com modificações que

podem ser feitas em casa sem a

necessidade de tecnologia;

Pontos Fracos: Não existe um

meio de diferenciar as peças pretas

das brancas, o velcro e a camurça

perdem aderência com uso.

Tabuleiro e peças de vidro com

identificação de peças e casas das

diferentes cores por meio do tato,

pois há diferentes tipos de polimento

nas peças e no tabuleiro.

Pontos fortes: não denunciar a

deficiência do usuário, permitindo

uma maior inserção social;

Pontos fracos: o efeito de espe-

lhamento pode confundir jogado-

res com visão subnormal e a não

fixação das peças na base.

Tabuleiro feito de metal e peças com

ímãs na sua base que as seguram no

tabuleiro. As casas pretas são

ligeiramente mais elevadas que as

casas brancas.

Pontos Fortes: Elevação das casas

e ponta metálica em cima das

peças para identificar cores, ser

utilizável por dois deficientes;

Pontos Fracos: Movimentos brus-

cos podem derrubar as peças (os

ímãs das peças são pequenos).

Ímãs escuros no tabuleiro confun-

dem pessoas com visão subnormal

na distinção das casas.

Possui a ligeira elevação das casas

pretas. No centro das casas existe

Pontos Fortes: Identificação das

casas pela elevação, identificador

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um pequeno orifício para o encaixe

das peças que por sua vez possuem

um pequeno pino em sua base, para

fixação, e uma ponta metálica na

parte superior, para identificação.

da cor das peças e o sistema de

fixação das peças.

Pontos Fracos: dificuldade para o

encaixe das peças nas casas e a

necessidade da utilização das mãos

para mapear as peças no jogo.

Fonte: Elaborado pelos autores com base em pesquisa tecnológica

Tabela 1 – Identificação de Tabuleiros de Xadrez Adaptados

6. Xadrez Adaptado: modelagem funcional e desenvolvimento de princípios de solução

Para a execução da modelagem funcional do Xadrez Adaptado, decidiu-se por apresentar, de

forma agrupada, as funções do mesmo de modo a classificá-las quanto a algumas característi-

cas técnicas e interativas, apresentadas no Quadro 1.

Funções Técnicas Funções Interativas

Funções Estruturais:

Encaixar as peças; identificar as peças através dos

pinos na parte inferior; elevar o tabuleiro através

de hastes (pés).

Funções Ergonômicas:

Adaptar o jogo ao usuário deficiente (tato); proporcionar

comodidade na utilização do tabuleiro (hastes nos vérti-

ces); garantir a preservação do jogo (embalagem).

Funções Operativas:

Possibilitar inclusão e lazer; exercitar a memória.

Funções Comunicativas:

Identificar peças; sentir hachuras; sentir pinos.

Quadro 1 – Modelagem Funcional do Produto (Fonte: Elaborado pelos autores)

Após os conhecimentos referentes às funções do produto em questão, pode-se concluir que a

meta deste Xadrez Adaptado é conseguir uma maior agilidade na realização de uma partida de

xadrez através de uma nova possibilidade de leitura das peças, de modo a proporcionar o la-

zer, bem estar e inclusão social dos deficientes visuais.

A partir disso, desenvolveram-se algumas alternativas de solução para que, juntamente com

análises mais profundas, fosse possível determinar qual ideia seria a mais coerente com as

necessidades especiais do público-alvo (Quadro 2).

FUNÇÕES ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO

1 2 3 4 5

Identificar as

peças

Combinação de 4

pinos na base

Combinação de 4

pinos na base

Pino único na

base com Braile

na extremidade

inferior

Pino único na

base com Braile

na extremidade

inferior

Tato sobre as

peças

Identificar as

cores das

peças

Diferença nos

formatos dos

pinos

Pinos sobre as

peças pretas

Diferença no

tamanho dos

pinos

Leitura em braile

(invertida / não-

invertida)

Pinos sobre as

peças pretas

Fixar as

peças ao

tabuleiro

Pinos (sistema

eixo-furo)

Pinos (sistema

eixo-furo)

Pinos (sistema

eixo-furo)

Pinos (sistema

eixo-furo) Imã

Delimitar as

casas do

tabuleiro

Rugosidade (ha-

chura) nas casas

Juntas elevadas

entre as casas

Rugosidade (ha-

chura) nas casas

Frestas entre as

casas

Juntas elevadas

entre as casas

Identificar as

cores das

casas

Rugosidade (ha-

chura)

Alto relevo (parte

superior do tabu-

leiro)

Rugosidade (ha-

chura)

Rugosidade (ha-

chura)

Alto relevo (parte

superior do tabu-

leiro)

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XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no

Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.

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Elevar o

tabuleiro

4 Hastes(pés)

removíveis de

encaixe em rosca

- localiz. nos

vértices do tabu-

leiro

4 Hastes (pés)

móveis, fixadas

com pino nos

vértices do tabu-

leiro

4 Hastes (pés)

móveis, fixadas

com pino nos

vértices do tabu-

leiro

4 Hastes (pés)

móveis, fixadas

com pino nos

vértices do tabu-

leiro

-

Guardar as

peças e o

tabuleiro

Tabuleiro-caixa Caixa de emba-

lagem

Caixa de emba-

lagem Tabuleiro-caixa Tabuleiro-caixa

Explicar

regras do

jogo

Manual em braile Instruções em

áudio (CD) Manual em braile Manual em braile Manual em braile

Quadro 2 – Desenvolvimento de Alternativas de Solução Globais (Fonte: Elaborado pelos autores)

Sendo assim, a concepção do produto como um todo partiu de uma análise das ideias expostas

por meio de uma Matriz Morfológica que apresenta as funções e as alternativas possíves de

solução do problema.

Dentre as cinco alternativas de solução geradas, a escolhida para ser trabalhada foi a terceira

alternativa. A escolha foi realizada porque, por entendimento dos autores, representa a alter-

nativa que mais se adéqua aos objetivos iniciais de melhorar a acessibilidade ao jogo.

7. Especificações Detalhadas do Xadrez Adaptado

Conforme o que foi anteriormente mencionado, através de uma pesquisa tecnológica de análi-

se de produtos já existentes, foi possível identificar algumas características inexploradas e,

com o intuito de promover a diferenciação do novo produto, buscou-se melhorar algumas

peculiaridades referentes aos componentes do Xadrez. Sendo assim, de forma detalhada, po-

de-se dizer que:

A identificação dos pinos, podendo ser observada através da Figura 3a, é dada pela leitura

de informações em alto relevo contidas na extremidade inferior dos mesmos;

Com relação ao pino, este terá a sua base em formato cônico, para que o encaixe seja faci-

litado e realizado de forma correta (Figura 3a);

Cada peça terá uma nomenclatura baseada no padrão de dados (números de 1 a 6) que pro-

porcionará sua distinção e entendimento do significado das demais peças (Figura 3b);

(a) (b)

Figura 3 – Forma de Identificação das peças do Xadrez Adaptado (Fonte: Elaborado pelos autores)

A diferenciação entre as cores das peças, brancas e pretas, será dada através do tamanho da

base do pino, podendo ser percebida após a realização do tato na parte inferior do tabuleiro

e dos pinos. (Figura 4a). Os pinos pretos serão 2 mm mais longos, permitindo a fácil dis-

tinção dos pinos brancos;

A diferenciação e delimitação das casas do tabuleiro foram feitas através de hachuras que,

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por meio do tato, permitem identificar a cor da casa e perceber seus limites (Figura 4b).

(a) (b)

Figura 4 – Identificação das peças e casas pretas e brancas (Fonte: Elaborado pelos autores)

É importante ressaltar que as cores apresentadas na Figura 4 (azul e vermelha) foram utili-

zadas com o objetivo de se facilitar o esclarecimento das ideias, não sendo, portanto, as co-

res reais pretendidas para produto físico;

A fixação dos pinos ao tabuleiro (sistema eixo-furo) foi desenvolvida com o intuito de evi-

tar a queda dos mesmos no momento em que fosse necessário movimentá-los na execução

do jogo. Para tal, pensou-se no formato cônico da base dos pinos e, como dito anteriormen-

te, no acréscimo milimétrico nos pinos pretos com a finalidade de proporcionar a diferen-

ciação entre as peças brancas e pretas (ilustrado na Figura 4b);

Toda essa técnica de fixação, diferenciação das casas através das hachuras na parte inferior

do tabuleiro não teria funcionalidade se o usuário não conseguisse senti-las. Sendo assim,

pensou-se em um método de elevar o tabuleiro através de hastes móveis fixadas nos vérti-

ces do tabuleiro (ilustrado pela Figura 5b). A lógica de mobilidade dessas hastes é justifi-

cada por facilitar o armazenamento do produto após a sua utilização;

(a) (b)

Figura 5 – Fixação dos pinos no tabuleiro e leitura do jogo

Por fim, com o intuito de preservação e garantia de qualidade de todo o produto, desen-

volveu-se uma caixa de embalagem com as seguintes especificações: caixa retangular cuja

face frontal é removível, com a presença de frestas na caixa para favorecer o encaixe e des-

lizamento da face, bem como a criação de um orifício na sua lateral.

A caixa foi projetada com dimensões internas de 36,5cm x 37,0cm x 11,8cm (respectiva-

mente: comprimento, largura e altura) de modo a facilitar a colocação do produto (ilustra-

ção pela Figura 6).

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Figura 6 – Embalagem do Xadrez Adaptado

Tendo em vista o resultado obtido, o desenvolvimento do produto foi concluído. Entretanto,

para a devida implantação deste produto em um chão de fábrica e mercado algumas atividades

ainda precisam ser realizadas, tais como: o desenvolvimento de gabaritos e instruções de pro-

dução e a realização de testes de aceitação das soluções definidas por parte do público-alvo,

as pessoas portadoras de necessidades especiais da visão.

8. Considerações finais

A Tecnologia Assistiva (TA) vem cada vez recebendo mais destaque pelo fato de lidar com

pessoas especiais (no caso em específico, os deficientes visuais) e tentar, ao máximo, desen-

volver ferramentas ou métodos que facilitem a utilização de qualquer bem físico. O desenvol-

vimento do Xadrez Adaptado pode assim ser reconhecido como uma proposta de um produto

de natureza incremental que visa atender aquelas pessoas que, por motivos especiais, geral-

mente são excluídas de certas atividades rotineiras de pessoas sem limitações.

Tratando-se de qualquer tipo de deficiência, pode-se dizer que os benefícios a serem percebi-

dos estão muito além da inclusão social ou do exercício do raciocínio (como propõe o Xadrez

Adaptado). Pretende-se alcançar, ainda, a dignidade humana através do acolhimento daquelas

pessoas que mais precisam de atenção.

Através de pesquisas tecnológicas e análises referentes aos produtos já existentes, foi possível

estabelecer o que poderia e deveria ser adaptado ou melhorado para que, do ponto de vista dos

autores, fosse possível atender as necessidades dos deficientes visuais de modo mais eficiente.

Essa decisão foi baseada em diversas alternativas de solução, sendo escolhida, apenas, aquela

denominada como mais qualificada.

Entretanto, não é conveniente elaborar novas ideias de produtos e impô-las aos usuários fi-

nais. Por esta razão, ressalta-se a necessidade de realizar uma clínica ou testes de uso com os

deficientes visuais para que, através de sessões participativas, aprovem ou não o produto. Tal

ação ainda possibilita visualizar a viabilidade de inserção do Xadrez Adaptado no mercado.

Deste modo, considera-se que o projeto do produto ainda está em desenvolvimento e que o

resultado final deste trabalho ainda não foi obtido.

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