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X EXPEDIÇÃO GEOGRÁFICA E II SEMANA INTEGRADA DA GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA 20 ANOS DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO EM GEOGRAFIA ANAIS Marechal Cândido Rondon Universidade Estadual do Oeste do Paraná 2017

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X EXPEDIÇÃO GEOGRÁFICA E II SEMANA INTEGRADA DA

GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

20 ANOS DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO EM GEOGRAFIA

ANAIS

Marechal Cândido Rondon Universidade Estadual do Oeste do Paraná

2017

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JEREMIAS ALECIO LEPERS DE MARINS

MARCIA REGINA CALEGARI

Organizadores

X EXPEDIÇÃO GEOGRÁFICA E II SEMANA INTEGRADA DA

GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

ANAIS

1ª. Edição

Marechal Cândido Rondon

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

2017

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FICHA CATALOGRÁFICA

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca da UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon –PR., Brasil)

Expedição Geográfica (10.: 2017: Marechal Cândido Rondon) E96 Anais [da] X Expedição Geográfica e II Semana Integrada de Graduação e Pós-Graduação em Geografia de

Marechal Cândido Rondon [online] / organização de Jeremias Alécio Leperes de Marins e Marcia Regina Calegari. – Marechal Cândido Rondon: Unioeste - Campus de Marechal Cândido Rondon, 2017.

156 p.

ISBN 978-85-68205-26-6 1. Geografia política. 2. Meio ambiente. I. Marins, Jeremias Alécio Leperes de, org. II. Calegari,

Marcia Regina, org. III. Título. CDD – 22.ed. 910

320.12 304.2

CIP-NBR 12899

Ficha catalográfica elaborada por Marcia Elisa Sbaraini-Leitzke CRB-9ª/539

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REALIZAÇÃO

Apoio

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APRESENTAÇÃO

A discussão sobre a criação do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Unioeste – Campus

Marechal Cândido Rondon surgiu a partir da observada carência de professores de geografia para atuar no

ensino fundamental e médio na rede escolar da região. Assim, em 1997 o curso foi implantado visando a

formação de profissionais que, além de conhecer os conceitos geográficos, sejam capazes de articular os

elementos que compõem os processos naturais e sociais de nosso planeta, bem como que sejam capazes

de desenvolver metodologias de ensino por meio de atividades de pesquisa e aplicá-las em sala de aula.

Desde o início deste curso, momentos de reflexão e divulgação da ciência geográfica foram

entendidos como essenciais para a melhor capacitação dos nossos futuros professores de geografia.

Nasceu assim a nossa semana acadêmica, denominada “Expedição Geográfica”. A primeira exp(edição)

foi em 1999 e desde então, se mantém a periodicidade desse evento de carácter bianual, reunindo pessoas

que possuem algum vínculo (motivado pela pesquisa, extensão ou ensino) com a ciência geográfica e

permite a reflexão qualificada e a apresentação de propostas que influenciam na revisão e condução do

próprio perfil do curso.

Com a aprovação do Mestrado em Geografia no Campus de Marechal Cândido Rondon, em 2011,

a organização da semana acadêmica passou a ser uma atividade integrada entre graduação e pós-

graduação em Geografia. A partir de 2015 nosso evento passou a ser denominado Expedição Geográfica

/ Semana Integrada de Graduação e Pós-Graduação em Geografia.

Neste ano de 2017, a realização da X Expedição Geográfica / II Semana Integrada da

Graduação e Pós-Graduação em Geografia teve como tema norteador “20 anos de ensino, pesquisa e

extensão em Geografia”, em comemoração aos 20 anos de criação do nosso curso de Licenciatura em

Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus de Marechal Cândido

Rondon,

Durante o evento se buscou revisitar os 20 anos de ensino, pesquisa e extensão realizados pelo

curso e possibilitou destacar a quantidade e, sobretudo, a qualidade das atividades e dos profissionais

formados ao longo dessas duas décadas. A presença e o relato dos nossos egressos convidados

demonstraram a importância social desse curso no contexto regional, uma vez que muitos atuam na rede

pública estadual e municipal na região oeste. Isso demonstra que a carência que motivou a criação do

curso, tem sido suprida.

As palestras e mesas redondas foram momentos impares para ampliação das discussões sobre o

ensino em geografia e a formação docente. Foram destacados os desafios a serem enfrentados durante a

docência, bem como a necessidade e as limitações do processo de inclusão nas escolas e a relação com os

conteúdos de geografia nas escolas.

Assim, neste documento apresentamos os resumos (simples e expandidos), que foram apesentados

em forma de painel e exposição oral, respectivamente, durante o evento. No total foram apresentados 44

trabalhos, sendo sete trabalhos do eixo Geografia e Ensino, 14 de Geografia Humana e 23 de Geografia

Física. O conteúdo e a correção gramatical dos resumos aqui publicados são de inteira responsabilidade

de seus respectivos autores e não expressa necessariamente as opiniões dos editores.

Editores

Jeremias Alécio Leperes de Marins

(Mestrando Programa de Pós Graduação em

Geografia- UNIOESTE – MCR)

Marcia Regina Calegari

Profa. Colegiado de Geografia (Graduação e

Pós-Graduação) – UNIOESTE-MCR.

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PROGRAMAÇÃO DAS ATIVIDADES

06 a 10 de novembro de 2017 SEGUNDA

06/11/2017

TERÇA

07/11/2017

QUARTA

08/11/2017

QUINTA

09/11/2017

SEXTA

10/11/2017

MA

NH

Ã

8h

00 –

12h

00

Sem

Atividades

Programadas

Sem

Atividades

Programadas

EXCURSÃO

TÉCNICA

(6h00 – 18h00)

Análise de Perfis de

Solo em Ambientes Fluviais na Ilha do

Papagaio/

Guaíra-PR

Saída: 6h00 –

UNIOESTE/MCR

(Em frente ao

Campus)

Sem

Atividades

Programadas

Sem

Atividades

Programadas

TA

RD

E

14h

00 –

18h

00

Sem

Atividades

Programadas

Sem

Atividades

Programadas

MINICURSOS

1- Ferramentas

interativas do IBGE:

pesquisa e

organização de dados

estatísticos para

ensino de Geografia

(Bloco I – Piso 4 –

Sala X

Laboratório de Informática/

Administração)

2- Geografia

Literária do Cordel

(Bloco III – Piso 4 –

Sala 17)

MINICURSOS

3- Currículo Lattes:

busca, cadastramento

e atualização na

Plataforma da CNPq

(Bloco I – Piso 4 –

Sala X

Laboratório de

Informática/ Administração)

4- Cartografia Tátil e

Ensino de Geografia

(Bloco III – Piso 4 –

Sala 17)

NO

ITE

19h

00

– 2

2h

00

CERIMÔNIA DE

ABERTURA

(19h30 – 20h00)

Apresentação Cultural – Grupo de

Danças de Mal. C.

Rondon

CONFERÊNCIA DE

ABERTURA

“Formação de

Docentes e os

Desafios da

Profissão na Conjuntura Atual”

Profa. Dra. Najla

Mehanna Mormul

UNIOESTE-FB

(Bloco II – Piso 1

Tribunal do Júri)

COFFEE-BREAK

MESA-REDONDA

(20h00 – 22h00)

“Experiências e

Cotidiano dos

Egressos do Curso de

Geografia da

UNIOESTE-MCR”

Mediador: Prof. Dr. José Edézio

da Cunha

(Bloco II – Piso 1

Tribunal do Júri)

APRESENTAÇÃO

DE TRABALHOS

(19h30 – 22h30)

(Bloco III – Piso 4 Salas 17 a 20)

APRESENTAÇÃO

DE TRABALHOS

(19h30 – 22h30)

(Bloco III – Piso 4 Salas 17 a 20)

CONFERÊNCIA DE

ENCERRAMENTO

(20h00 – 22h00)

“Projetos de

Geografia na

Formação de

Professores:

Cartografia,

Trabalhos de Campo

e Inclusão”

Profa. Dra. Carla

Cristina Reinaldo

Gimenes de Sena

UNESP-Ourinhos

(Bloco II – Piso 1

Tribunal do Júri)

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MINICURSOS

Minicurso 1: Currículo Lattes: busca, cadastramento e atualização na Plataforma do CNPq

Responsável: Profa. Ms. Ariadne Farias

Carga Horária: 04 horas

Ementa: A finalidade, os recursos e as possibilidades da Plataforma Lattes – CNPq, bem como a

importância da inserção, atualização e divulgação das informações e produções científicas feitas pelos

profissionais da educação, pesquisadores, e/ou futuros profissionais e pesquisadores, através do Currículo

Lattes.

Minicurso 2: Ferramentas interativas do IBGE: pesquisa e organização de dados estatísticos para o

ensino de Geografia Responsáveis: Mestrandos Ana Paula Azevedo da Rocha e Jeremias Alécio Leperes de Marins

Carga Horária: 04 horas

Ementa: Estudo de alguns elementos do histórico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística). Exposição das diferentes formas de divulgação de dados e das diferentes pesquisas que a

instituição realiza. Compreensão sobre o que é o Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA.

Entendimento sobre a forma de utilização das principais ferramentas do sistema SIDRA.

Minicurso 3: Geografia Literária do Cordel - 2ª Edição Responsáveis: Profa. Denise Scolari Vieira e Acadêmica Vanessa Carla do Amaral

Carga Horária: 04 horas

Ementa: Do que lembram os sujeitos sociais? Como lembram? O que permanece? O que é esquecido?

A partir dessas indagações, pretende-se abordar, no âmbito dos estudos literários e geográficos, as

diversas dimensões atribuídas aos lugares de vida, pois, observa-se, que memória e representações estão

associadas para expressar relações de pertencimento e de poder.

O minicurso, de caráter introdutório, vai mobilizar o estudo de categorias tais como, lírica, cultura

popular, memória e representações sociais, a fim de contribuir com alguns procedimentos

metodológicos, que sejam pertinentes ao estudo da diversidade cultural.

Minicurso 4: Cartografia Tátil e Ensino de Geografia Responsáveis: Profa. Dra. Carla Cristina Reinaldo Gimenes de Sena

Carga Horária: 04 horas

Ementa: A discussão da inclusão na educação básica permeia todas as disciplinas e a Geografia tem na

cartografia tátil uma aliada importante nessa discussão. Os princípios da cartografia tátil reforçam o

potencial dos mapas no ensino de Geografia.

Visita técnica: Solos em Ambientes Fluviais de Guaíra/PR

Responsáveis: Profa. Dra. Vanda Moreira Martins, Doutorando Bruno Aparecido da Silva e Mestrando

Rafael Martins Sanches

Carga Horária: 10 horas

Ementa: Observação, descrição, identificação e classificação de perfis de solos em ambiente fluvial do

rio Paraná – Ilha do Papagaio/Guaíra-PR

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COMISSÕES

Comissão Coordenadora

Docentes José Edézio da Cunha (Coordenação Geral)

Karin Linete Hornes

Ericson Hideki Hayakawa

Discentes

Luiz Paulo da Silva (Presidente Centro Acadêmico de Geografia)

Rafael Martins Sanches

Vanderson Rafael Muller Dapper

Comissão Organizadora

Anderson Alves Baltazar

Carla Michelon Ribeiro

Jennifer Paola Vicini

Jeremias Alécio Leperes de Marins

Jéssica Aparecida de Avila Follmann

Luiz Paulo da Silva

Rafael Martins Sanches

Vanderson Rafael Muller Dapper

Comissão Científica

José Edézio da Cunha

Jeremias Alécio Leperes de Marins

Rafael Martins Sanches

Vanderson Rafael Muller Dapper

Comissão de Avaliação

Alcimar Paulo Freisleben

Ariadne Silvia de Farias

Carla Cristina R. Gimenes de Sena

Djoni Roos

Edson dos Santos Dias

Ericson Hideki Hayakawa

Fabio de Oliveira Neves

Isabel Terezinha Leli

José Edézio da Cunha

Karin Linete Hornes

Leila Limberger

Lia Dorotéa Pfluck

Marcia Regina Calegari

Maristela Ferrari

Marli Terezinha Szumilo Schlosser

Oscar Vicente Quinonez Fernandez

Tarcísio Vanderlinde

Terezinha Correa Lindino

Vanda Moreira Martins

Comissão Infraestrutura e Logística

Ana Caroline Selzler

Caroline Ester Moellmann

Gabriel de Almeida Flopas

Kely Cristina Zimpel

Nayra Caroline Steffen

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SUMÁRIO

GEOGRAFIA E ENSINO .................................................................................................................... 11

RESUMO SIMPLES ............................................................................................................................ 12 PINTURA EM AZULEJO: RECURSO DIDÁTICO NO ESTUDO DA PAISAGEM ......................... 13

AS AÇÕES PEDAGÓGICAS DO PIBID GEOGRAFIA NO COLÉGIO ESTADUAL ANTÔNIO

MAXIMILIANO CERETTA .............................................................................................................. 14

O CYBERBULLYING E O PAPEL DA ESCOLA FRENTE A ESTE NOVO FENÔMENO SOCIAL

........................................................................................................................................................... 15

OS BASTIDORES LÚDICOS DO PIBID GEOGRAFIA: TEORIA E PRÁTICA NA FORMAÇÃO

DOCENTE – UNIOESTE/MCR ......................................................................................................... 16

TEORIA/PRÁTICA: ATIVIDADES DIFERENCIADAS REALIZADAS NO COLÉGIO MONTEIRO

LOBATO ............................................................................................................................................ 17

RESUMO EXPANDIDO ...................................................................................................................... 18 A GEOGRAFIA ESCOLAR E O ESPAÇO VIVIDO DOS ESTUDANTES: NARRATIVAS DOS

PROFESSORES DE GEOGRAFIA DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON/PR.............................. 19

ENSINO DE CARTOGRAFIA NO PROJETO RONDON COM PROFESSORES DA REDE

PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE IBARETAMA- CEARÁ .................................................................. 24

GEOGRAFIA HUMANA .................................................................................................................... 28

RESUMO SIMPLES ............................................................................................................................ 29 JUGLARES DEL SILENCIO, DE CECILIA GLANZMANN: ........................................................... 30

UM OÁSIS NA PATAGÔNIA CHUBUTENSE ................................................................................. 30

O USO DE PLATAFORMAS DIGITAIS COMO FERRAMENTA AUXILIAR NO PROCESSO DE

DIFUSÃO ESPACIAL DO ENCONTRO PARA A CONSCIÊNCIA CRISTÃ EM CAMPINA

GRANDE – PB ................................................................................................................................... 31

RELAÇÕES DE PODER NOS ESPAÇOS URBANOS ...................................................................... 32

RESUMO EXPANDIDO ...................................................................................................................... 33 A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON: A TERRA

SUBORDINADA À ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA ...................................................................... 34

APLICAÇAO DOS ROYALTIES DA USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU BINACIONAL COMO

RECURSO DE DESENVOLVIMENTO NA FRONTEIRA BRASIL E PARAGUAI ......................... 39

APONTAMENTOS INICIAIS SOBRE INTERAÇÕES ECONÔMICO-COMERCIAIS E DE

CONSUMO NUM SEGMENTO DA ZONA DE FRONTEIRA BRASIL/PARAGUAI: GUAÍRA (PR)

E SALTO DEL GUAIRÁ (CANINDEYÚ) ............................................................................................. 43

AS RELAÇÕES NÃO CAPITALISTAS DE PRODUÇÃO E A SUJEIÇÃO DA RENDA DA TERRA

CAMPONESA NA PRODUÇÃO DE TABACO ................................................................................ 47

CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE AS REDES DE INTERAÇÕES TRANSFRONTEIRIÇAS

ENTRE PATO BRAGADO (PR) E COLÔNIA MARANGATU (NUEVA ESPERANZA-

CANINDEYÚ- PY) ............................................................................................................................ 51

GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS, AGENTES E ESTRATÉGIAS: O CASO DE

UMUARAMA – PR............................................................................................................................ 56

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LOTEAMENTO FECHADO – A ILUSÃO DA SEGURANÇA E A NEGAÇÃO DA CIDADE......... 61

MIGRAÇÃO HAITIANA NO MUNÍCIPIO DE PALOTINA (PR) A PARTIR DA DÉCADA DE 2010

........................................................................................................................................................... 68

O TURISMO NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DELTA DO PARNAÍBA – MA, PI

E CE – BRASIL .................................................................................................................................. 73

SURGIMENTO DE UM MOVIMENTO SOCIAL – ANÁLISE DAS ESCOLAS OCUPADAS EM

TOLEDO ............................................................................................................................................ 83

GEOGRAFIA FÍSICA ......................................................................................................................... 87

RESUMO SIMPLES ............................................................................................................................ 88

ESPACIALIZAÇÃO DOS CASOS DE DENGUE NO MUNICÍPIO DE MARECHAL CÂNDIDO

RONDON (PR) ENTRE 2015 E 2016 ................................................................................................. 89

ESTUDO DE CASO DE UM EVENTO DE TEMPESTADE SEVERA OCORRIDO EM NOVA

LARANJEIRAS (PR) EM 13/06/1997 ................................................................................................ 90

MORFOMETRIA DA BACIA DO RIO MATHIAS ALMADA EM FOZ DO IGUAÇU-PR E A

SUSCETIBILIDADE À ENCHENTES .............................................................................................. 91

CAUSAS E EFEITOS DOS PROCESSOS EROSIVOS LINEARES UMA PROPOSTA DE REVISÃO

DA LITERATURA ............................................................................................................................. 92

ESTUDO MORFOPEDOLÓGICO DE UMA TOPOSSEQUÊNCIA DE SOLOS NO MUNICÍPIO DE

TERRA ROXA-PR: Estudo de caso na área de transição entre Basalto e o Arenito Caiuá ................... 93

ESTUDO EM UMA TOPOSSEQUÊNCIA DE SOLOS NO MUNICÍPIO DE TERRA ROXA-PR:

ESTUDO DE CASO NA ÁREA DE PREDOMÍNIO DO ARENITO CAIUÁ .................................... 94

ESTUDO MORFOPEDOLÓGICO EM UMA TOPOSSEQUÊNCIA DE SOLOS NA VERTENTE

STEIN, ENTRE RIOS DO OESTE–PR ............................................................................................... 95

ESTUDO MORFOPEDOLÓGICO EM UMA TOPOSSEQUÊNCIA NA ESQUINA MEMÓRIA –

TOLEDO –PR .................................................................................................................................... 96

GÊNESE DOS LATOSSOLOS NO PLANALTO DE FOZ DO IGUAÇU, PARANÁ – BRASIL ....... 97

ÍNDICE TOPOGRÁFICO DE UMIDADE COMO INDICATIVO DE ÁREAS HIDROMÓRFICAS

NO TRECHO SUPERIOR DO CÓRREGO QUATRO PONTES, PR ................................................. 98

ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS PROCESSOS EROSIVOS NA ÁREA RURAL DE FRANCISCO

ALVES - PARANÁ ............................................................................................................................ 99

RELAÇÃO SOLO-RELEVO: SUBSIDIOS PARA MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO

(ESQUINA MEMÓRIA – TOLEDO –PR) ........................................................................................ 100

RESUMO EXPANDIDO .................................................................................................................... 101 A TOPOGRAFIA E OS SOLOS DA ILHA DO PAPAGAIO-GUAÍRA/PR ..................................... 102

ANÁLISE DA VAZÃO DE DUAS ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS NA SUB-REGIÃO SUL DA

BACIA AMAZÔNICA BRASILEIRA ............................................................................................. 108

AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO

PEROBA NO PERÍODO DE 2005 À 2017 ....................................................................................... 112

CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS VERDES NO PERÍMETRO URBANO DE MARECHAL

CÂNDIDO RONDON-PR ................................................................................................................ 119

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COLEÇÃO DE REFERENCIA DE FITÓLITOS DA FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL

NA ESTAÇÃO ECOLÓGICA CAETETUS - SP .............................................................................. 124

EVENTOS ENOS CANÔNICO E MODOKI.................................................................................... 130

PEDOTOPOSSEQUÊNCIA ORIUNDA DO ARENITO DA FORMAÇÃO CAIUÁ: ESTUDO DE

CASO NO MUNICÍPIO DE TERRA ROXA-PR .............................................................................. 135

POTENCIALIDADE PARA A CRIAÇÃO DE RPPN EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON,

PARANÁ.......................................................................................................................................... 141

SUCESSÃO ECOLÓGICA DO ARQUIPÉLAGO DO ALTO RIO PARANA .................................. 147

VARIABILIDADE PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE CAMPO MOURÃO ........................ 153

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11

GEOGRAFIA E ENSINO

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12

RESUMO SIMPLES

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13

PINTURA EM AZULEJO: RECURSO DIDÁTICO NO ESTUDO DA PAISAGEM

Eliane Liecheski Artigas1; Eliete Woitowicz

1;

Marilene Francieli Wilhelm1; Marli Terezinha Szumilo Schlosser

2

1 UNIOESTE/Francisco Beltrão. E-mail: [email protected];

2UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon e Francisco Beltrão. E-mail: [email protected].

A Geografia é uma ciência que estuda a superfície terrestre e a distribuição espacial de fenômenos, assim

como, a relação entre o homem e o meio ambiente. Uma das formas de entender as relações sociais e

naturais de um determinado espaço pode ser através do estudo da paisagem. Porém na sala de aula,

trabalhar com conceitos geográficos nem sempre é atrativo ao aluno. Nesse sentido, nas turmas dos

primeiros anos do Ensino Médio do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, procurou-se

trabalhar o conceito de paisagem de maneira diferente, por meio da valorização do aprendizado durante

os vários anos de formação e pela vivência do aluno através de duas propostas de estudo: no primeiro

momento a conceituação de paisagem, mediante aulas expositivas e o uso de slides. No segundo momento

buscou-se construir o conhecimento de forma lúdica. Para tanto, realizou-se uma breve explicação com

vídeos tutoriais que ensinavam algumas técnicas de pintura em azulejo. Logo após, cada aluno recebeu

um azulejo, onde deveriam representar o conceito de paisagem. Observou-se perante a realização das

atividades o comprometimento dos alunos e a aprendizagem do conteúdo anteriormente estudado. Sem

dúvidas, a participação e a utilização dos recursos didáticos lúdicos são essenciais para atrair a atenção do

aluno e facilitar o processo de ensino e aprendizagem na sala de aula, sendo o educador responsável por

conduzir este aprendizado, sujeito entendido como mediador na construção do conhecimento. O uso de

imagens no âmbito do ensino geográfico é fundamental, principalmente quando este é construído pelo

próprio aluno, considerando seus valores, crenças e conhecimentos, facilita-se a compreensão, o que torna

o ensino da Geografia significativo e diferenciado. Sabe-se que os desafios encontrados em sala de aula

para a promoção do conhecimento são variados, porém, trabalhar com práticas diferentes no ensino de

Geografia pode levar o aluno a ver o mundo circundante com “outros olhos”, se percebendo como agente

transformador e ativo no espaço geográfico em que vive. Portanto, considera-se este recurso didático

supracitado como uma maneira possível e diferenciada de fazer Geografia nas salas de aula.

Palavras-chave: conceito de paisagem; processo de ensino e aprendizagem; pintura em azulejo.

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14

AS AÇÕES PEDAGÓGICAS DO PIBID GEOGRAFIA NO COLÉGIO ESTADUAL ANTÔNIO

MAXIMILIANO CERETTA

Vanderson Rafael Muller Dapper1; Marco Antonio Sauer Schmidt

1; Nilsa Josiane Steinheuzer

1;

Vanessa Vieira de Oliveira1; Eliane Artigas Liecheski

2, Marli Terezinha Szumilo Schlosser

3

1Bolsistas de Iniciação à Docência, acadêmicos do curso de Licenciatura em Geografia, UNIOESTE/Campus de Marechal

Cândido Rondon, E-mail: [email protected] 2Professora supervisora do PIBID Geografia no Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, mestranda em Geografia

PPGG/UNIOESTE, Campus de Francisco Beltrão 3Professora do curso de Graduação e Pós-Graduação em Geografia e Coordenadora do subprojeto do PIBID

Geografia/UNIOESTE, Campus de Marechal Cândido Rondon e Francisco Beltrão.

O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), por meio do subprojeto do PIBID

Geografia de Marechal Cândido Rondon realiza no Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta –

Ensino Fundamental, Médio e Profissional, ações pedagógicas nos sextos e sétimos anos do Ensino

Fundamental. O projeto possui o intuito de oportunizar a vivência teórica e prática no âmbito escolar e

desenvolver atividades lúdicas diferenciadas, que facilitem o processo de ensino-aprendizagem dos

estudantes. No desenvolvimento das atividades realizam-se observações semanais nas turmas de atuação

da professora supervisora Eliane Artigas Liecheski, com a finalidade de aproximar os acadêmicos da sua

futura profissão. As ações pedagógicas são elaboradas e debatidas em conjunto com os integrantes do

PIBID, visam aprimorar o desempenho das atividades e aprendizagem dos discentes. No decorrer dos

anos de 2014 - 2017 realizaram-se diversas atividades que promoveram o interesse e participação dos

alunos aproximando teoria e prática. Foram desenvolvidas atividades como: caça ao tesouro de

localização, sobre conceitos cartográficos e coordenadas geográficas; bingo como revisão de conteúdos;

monitoramento do tempo; aulas de campo de clima urbano e agricultura orgânica; confecção de

planetário; elaboração de mapas e maquetes; conhecimento da cultura indígena; aulas práticas de

laboratório sobre ciclo das rochas; geomorfologia em bolachas e massinha de modelar; estrutura interna

da Terra com isopor, entre outras. O PIBID possui o diferencial de integrar a universidade com as escolas

públicas e contribuí tanto para a formação de professores quanto ao aprendizado dos estudantes dos

estabelecimentos envolvidos.

Palavras-chave: PIBID; Ensino de Geografia; Ações pedagógicas.

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15

O CYBERBULLYING E O PAPEL DA ESCOLA FRENTE A ESTE NOVO FENÔMENO

SOCIAL

Alcimar Paulo Freisleben1; Gilson Basso

2

1Doutorando em Geografia no POSGEA/UFRGS. E-mail: [email protected] 2Aluno do Curso de Geografia, UNIOESTE/Campus de Francisco Beltrão/PR.

Neste artigo buscamos conhecer melhor o fenômeno bullying, bem como as características do agente

agressor e das vítimas. Analisaremos também as motivações e a capacidade de danos dos diversos tipos

de ataques, bem como os objetivos do bullying/cyberbullying entre jovens estudantes. A pesquisa se deu

no ano de 2015, em fontes bibliográficas e referências na web relacionadas ao assunto, incluindo casos de

incidentes ocorridos no mundo todo, por meio da Internet, principalmente em sites de relacionamentos.

Através da análise propomos ações adequadas de segurança e medidas que podem ser tomadas pelos

profissionais da escola e usuários internautas, sob as leis vigentes no Brasil, bem como a promoção da

utilização responsável, ética e segura das tecnologias de informação, tanto no ambiente escolar como fora

dele, pois com a explosão da internet e das novas tecnologias de comunicação e informação, surgiram

novas formas de estudo, de relacionamento, de negócios, de diversão e também de agressão. Esta nova

forma de violência digital chamada cyberbullying cresce enormemente no mundo todo, muitas vezes sem

que a sociedade se dê conta de sua gravidade. Segundo a organização Opinion Research Corporation; nos

Estados Unidos, cerca de 31% dos estudantes entre doze e catorze anos, já foi vítima de cyberbullying.

Outro estudo realizado pela Universidade de Calgary no Canadá em escolas de primeiro grau aponta que

54% dos estudantes pesquisados já foram vítimas de bullying, e mais de 25% destes já sofreram

cyberbullying. Aqui, Brasília foi apontada pelo IBGE (2011), como a campeã de bullying, onde 35,6%

dos estudantes disseram ter sido vítimas da agressão, em segundo lugar Belo Horizonte (35,3%) e em

terceiro Curitiba (35,2%). A pesquisa envolveu estudantes do 9º ano do ensino fundamental de 6.780

Escolas públicas ou privadas nas 27 capitais. Diante destes dados alarmantes o que nós professores

podemos fazer? É possível tomarmos algumas medidas para coibir o cyberbullying? Algumas

contribuições podem vir da Geografia, já que esta ciência estuda o espaço geográfico e seus fenômenos.

Com a leitura de mundo que a Geografia fornece aos cidadãos, podemos formar indivíduos críticos, que

sabem se posicionar na sociedade, argumentando, dialogando e debatendo sobre fatos ocorridos no

mundo ou no cotidiano da escola. Para desenvolver esse posicionamento crítico, deve-se estimular no

espaço escolar, a discussão sobre temas que afetam este ambiente. O bullying, muitas vezes tratado com

superficialidade, deve ser trabalhado com cautela para que haja o aproveitamento correto do debate.

Através da exposição errônea do assunto, pode-se ao invés de coibir a prática, estimulá-la. Devemos

mostrar aos alunos ideias e conceitos referentes ao tema (através da criação de textos, vídeos, teatro e de

debates mediados) destacando a ética, a cidadania e as relações de amizade no ambiente escolar. Para

concluirmos, acreditamos que a atitude de prevenção é a melhor forma de combater essa agressão, mesmo

sabendo que eliminar este tipo de ação é algo difícil, mas algumas medidas gerais podem ser adotadas

para minimizá-la, é sobre estas medidas preventivas (principalmente no ambiente escolar) que este artigo

procura tratar.

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OS BASTIDORES LÚDICOS DO PIBID GEOGRAFIA: TEORIA E PRÁTICA NA FORMAÇÃO

DOCENTE – UNIOESTE/MCR

Caroline Ester Moellmann1; Dhyonne Fernandes Pessoa

1; Larissa da Cruz Casemiro da Silva

1;

Luiz Paulo da Silva1; Lia Dorotea Pfluck

2; Marli Terezinha Szumilo Schlosser

2

1Bolsistas de Iniciação à Docência, acadêmicos do curso de Licenciatura em Geografia, UNIOESTE/Campus de Marechal

Cândido Rondon, [email protected];

3Professoras colegiado do curso de geografia/UNIOESTE Campus Marechal Cândido Rondon.

O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) através do subprojeto de Geografia

da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus de Marechal Cândido Rondon é

composto por doze bolsistas acadêmicos, dois professores supervisores e uma professora coordenadora do

subprojeto. Os pibidianos são divididos em dois grupos que desenvolvem suas atividades no Colégio

Estadual Monteiro Lobato e Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta. A equipe reúne-se

semanalmente para realizar reuniões nas quais ocorrem diversos debates e atividades que contribuem para

o contato inicial dos acadêmicos com as práticas em sala de aula. Além dos objetivos formais do PIBID,

busca-se novas formas de desenvolver atividades lúdicas e diversificadas nas escolas, de acordo com os

conteúdos que estão sendo trabalhados pelo professor (a) supervisor. Nesse sentido, nas reuniões onde a

equipe se reúne, são discutidas estratégias didático pedagógicas diferenciadas de se trabalhar os

conteúdos em sala de aula. Uma das atividades recorrentes realizadas pelos integrantes do PIBID envolve

as apresentações de seminários sobre conceitos geográficos, recursos e linguagens, ou assuntos que são

importantes para pensar a Geografia. Após a apresentação do seminário os pibidianos organizam uma

atividade prática sobre o tema, que poderá ser utilizada pelos demais colegas pibidianos ou do curso de

Geografia, quando forem aplicar esse conteúdo no Estágio Supervisando ou nas atuações práticas da

equipe do PIBID. Cabe trazer como exemplo a atividade concretizada que envolveu a confecção de um

quebra-cabeça gigante do Brasil, foram recortados os estados separadamente. Esse mapa foi utilizado em

uma festa Julina do grupo, cada pibidiano ficou responsável por trazer um prato típico da festividade de

dois estados. Dessa forma, foram trabalhadas as diferentes culturas existentes no país. Após essa

atividade, o mapa ficou disponível no Laboratório de Ensino de Geografia (LEG), para que possa ser

utilizado em outras finalidades. Outra atividade diferenciada envolveu a utilização de produtos

alimentícios (bolo, canela, gelatina), para demostrar aos pibidianos que o professor pode dispor de

recursos alternativos para ensinar os diversos conteúdos da Geografia escolar. Os acadêmicos/pibidianos

foram desafiados a pensar possibilidades e situações concretas na utilização do recurso em sala de aula.

Portanto, ressalta-se a importância dos debates nas reuniões e a construção de recursos/linguagens que

contribuem na formação docente, incluindo o diálogo e a troca de experiências.

Palavras-chave: Formação docente, práticas, lúdico, PIBID.

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TEORIA/PRÁTICA: ATIVIDADES DIFERENCIADAS REALIZADAS NO COLÉGIO

MONTEIRO LOBATO

Kely Cristina Zimpel

1; Mateus Von Muhlen

1; Ana Paula Kammer

1; Luis Henrique dos Santos

1;

Marli Terezinha Szumilo Schlosser2; Guilherme Felipe Kotz

3

1Bolsistas de Iniciação à Docência, acadêmicos do curso de Licenciatura em Geografia, UNIOESTE/Campus de Marechal

Cândido Rondon; 2Professoras colegiado do curso de geografia, UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon;

3Professor supervisor do PIBID, UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon.

O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), do curso de licenciatura em

Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) campus de Marechal Cândido

Rondon conta com doze bolsistas, dois professores supervisores e uma professora orientadora e atua em

dois colégios estaduais, sendo eles o Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta e o Colégio Estadual

Monteiro Lobato. O presente trabalho refere-se as atividades que foram desenvolvidas pelo PIBID no

colégio Monteiro Lobato no decorrer do ano de 2017. As atividades são selecionadas e elaboradas pelos

pibidianos junto com o professor supervisor Guilherme Kotz, com base nos conteúdos que os estudantes

possuem dificuldade, o lúdico e a prática entram em cena e envolvem os assuntos trabalhados em sala de

aula conforme cita Andrade (1998) os conteúdos necessitam de uma complementação tanto de material

escolar, quanto de métodos não escolares. A primeira atividade desenvolvida abrangeu cinco conceitos

geográficos: território, região, redes, paisagem e lugar. Para a realização da mesma, foram utilizadas

atividades práticas, como brincadeiras e jogos sobre cada conceito supracitado. “O conteúdo da geografia

escolar, atualmente, tem sido o de descrever alguns lugares e alguns problemas, sem conseguir dar conta

de pensar o espaço.” (CALLAI, 1999, p. 75), pensando nisso a atividade teve como objetivo fazer com

que os alunos compreendessem a organização do espaço geográfico e sua construção, a partir dos

conceitos mencionados. A segunda atividade desenvolvida foi sobre coordenadas geográficas, os

pibidianos montaram no pátio da escola com fitas os meridianos e paralelos, então com o auxílio de um

Mapa Mundi davam se as coordenadas e os alunos as procuravam no chão e logo em seguida no mapa as

coordenadas de diferentes pontos do mundo, percebeu-se com esta atividade que os alunos tiveram muitas

dúvidas na compreensão das coordenadas e dos pontos cardeais. No entanto, com a ajuda dos pibidianos e

dos materiais propostos foram sanadas. A terceira atividade realizada foi sobre as regiões brasileiras,

realizada em duas etapas, primeiramente os alunos foram divididos em cinco grupos, cada grupo foi

acompanhado por um pibidiano, que em duas aulas trabalharam a parte teórica sobre determinada região,

com auxílio de slides e explicações, para que na semana seguinte os estudantes colocassem em prática a

produção de um mapa pictórico a partir das explanações, com imagens que poderiam ser desenhadas ou

recortadas de revistas. Os alunos demostraram simpatia pela atividade e a partir dos mapas

confeccionados pode-se perceber que os mesmos entenderam o conteúdo. A última atividade realizada foi

à confecção de mapas altimétricos, onde os alunos elaboraram uma maquete tridimensional em EVA,

tematizaram diferentes lugares, assim ampliaram a noção de relevo e forma a partir da altimetria vista.

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RESUMO EXPANDIDO

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A GEOGRAFIA ESCOLAR E O ESPAÇO VIVIDO DOS ESTUDANTES: NARRATIVAS DOS

PROFESSORES DE GEOGRAFIA DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON/PR

Vanderson Rafael Muller Dapper1; Marli Terezinha Szumilo Schlosser

2

1Acadêmico do curso de Geografia, UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2 Professora da UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon e Francisco Beltrão

INTRODUÇÃO A Geografia presente na grade curricular do

Ensino Fundamental e Médio é a disciplina

responsável por desvendar as relações existentes entre sociedade e natureza no espaço geográfico.

Conforme Castrogiovanni (2014), para atingir esse

objetivo, a Geografia deve lidar com as

representações de vida dos estudantes, atrelando o conhecimento do cotidiano aos conteúdos escolares,

porém, sem distanciar-se do formalismo teórico da

ciência. O trabalho parte dos resultados parciais do projeto

de Iniciação Científica Voluntária intitulado: “A

percepção de fronteira dos discentes e docentes de Geografia em colégios públicos de Marechal Cândido

Rondon/PR (2016/2017)”. A pesquisa foi realizada

com os professores de Geografia e estudantes do 9º

ano do Ensino Fundamental de três estabelecimentos de ensino públicos: Escola Estadual do Campo Porto

Mendes, Colégio Estadual do Campo Professor Nilso

Franceski e Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta.

Durante a investigação, percebeu-se que 46% dos

estudantes da amostragem desconheciam que suas práticas cotidianas ocorriam num espaço de fronteira

(DAPPER, 2017). Esse fato evidencia um

distanciamento entre os conteúdos escolares e o

espaço vivido dos discentes. Para superar essa condição, faz-se necessário valorizar as experiências

vividas pelos educandos, para que eles percebam a

importância da ciência geográfica em seu cotidiano e consigam analisar de forma crítica as relações entre

sociedade e natureza existentes nos espaços onde

estão inseridos.

Portanto, objetiva-se discutir neste trabalho a importância de realizar aproximações e

textualizações dos conteúdos escolares com a

realidade vivida pelos alunos. Para isso, será

analisado a partir das narrativas as experiências de cinco professores de Geografia de Marechal Cândido

Rondon/PR vinculados à Secretaria de Estado da

Educação do Paraná (SEED) sobre suas práticas docente em sala de aula.

MATERIAIS E MÉTODOS

No trabalho o debate focará na importância de aproximar o conhecimento geográfico e o espaço de

vivência dos alunos. Para tanto, o caminho da analise

efetivará por meio das narrativas de cinco professores de Geografia entrevistados no desenvolvimento da

pesquisa citada, com os embasamentos teóricos de

Callai (2014), Castrogiovanni (2014), Kaercher (2014), Kozel; Filizola (1996) e Santos (1996) sobre

o conceito de lugar em sala de aula. As entrevistas

foram realizadas no ano de 2017, compostas por

questões abertas semiestruturadas.

RESULTADOS

A partir dos resultados do projeto de Iniciação Científica Voluntária, observou-se que os estudantes

possuíam dificuldades para perceber que os

conteúdos escolares da disciplina de Geografia fazem parte de suas práticas cotidianas. Isso acontece

segundo Castrogiovanni (2014, p. 12), porque a

Geografia escolar ainda revelar-se desinteressante,

existem poucas aproximações dos conteúdos escolares com a vida dos alunos:

A escola não se manifesta atraente frente ao

mundo contemporâneo, pois não dá conta de

explicar e textualizar as novas leituras de

vida. A vida fora da escola é cheia de

mistérios, emoções, desejos e fantasias,

como tendem a ser as ciências. A escola

parece ser homogênea, transparente e sem

brilho no que se refere a tais características.

É urgente teorizar a vida, para que os alunos

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possam compreendê-la e representa-la

melhor e, portanto, viver em busca de seus

interesses.

A Geografia está presente na vida dos estudantes e

existem várias práticas pedagógicas que podem

tornar a disciplina mais interessante em sala de aula.

Castrogiovanni (2014) aponta as aproximações e

textualizações com o espaço vivido para mediar essa situação e instigar os alunos a aprender. Nas visões

de Callai (2014, p. 72) estudar e compreender o

lugar, palco das práticas cotidianas, significa:

[...] entender o que acontece no espaço onde

se vive para além das suas condições

naturais ou humanas. Muitas vezes, as

explicações podem estar fora, sendo

necessário buscar motivos tanto internos

quanto externos para se compreender o que

acontece em cada lugar.

A partir do lugar pode-se fazer correlações com

outros acontecimentos do restante do mundo. Não existe no planeta um espaço que é neutro ou isolado

dos demais. Para Santos (1996, p. 273), existe uma

relação intrínseca entre o lugar e o mundo “[...] cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global

e de uma razão local, convivendo dialeticamente.”

Na pesquisa, as narrativas dos professores de

Geografia foram estimuladas, orientadas e analisadas com intuito de verificar a importância que eles

agregam às aproximações entre os conteúdos

escolares e o espaço vivido dos estudantes. Para Pinheiro (2010), a experiência de vida dos

professores no decorrer de suas carreiras inclui uma

selação de sucessos, pessoas e situações as quais eles estiveram vinculados. Suas narrativas são mediadas

pelas experiências vividas, crenças, valores e atitudes

que adquiriram ao longo dos anos.

O professor I, é lotado na Escola Estadual do Campo Porto Mendes (que recebe muitos estudantes

oriundos do Paraguai) e complementa seu padrão

com algumas aulas no Colégio Estadual Eron Domingues (centro de Marechal Cândido Rondon),

os estabelecimentos possuem características e

públicos dististos. Para ele, a Geografia é o cotidiano

das pessoas, ela está presente em todos os lugares, faz parte das nossas vidas. Afirma que a Geografia é

como um câncer na sociedade, as pessoas quando

aprendem não conseguem se libertar, onde for ela

estará. Ao trazer a discussão para o ensino e ser

questionado sobre as relações entre Geografia e o espaço vivido, o professor expõe em sua narrativa a

importância onde:

[...] você parte de lá, do espaço que ele está

vivendo para poder entender. Não adianta eu

falar lá de Rondonia - imaginem agora

alunos - se você trazer do espaço onde ele

está fica muito mais fácil. Aqui [Porto

Mendes] dá para trabalhar isso porque são

crianças um pouquinho mais educadas que

na cidade. Porque eles levantam a mão, eles

pedem, ai você dá oportunidade para falar e

a sala toda fica em silêncio. Ai você

consegue trabalhar e ele vai entendendo o espaço dele e o espaço do outro que mora na

vila, do outro que mora no interior, de

espaços diferentes. O outro vai falar – ai eu

moro no Paraguai – mas é um espaço

também (informação verbal).

O professor afirma que deve-se valorizar as

territorialidades conhecidas pelos alunos, revela ser

fundamental construir o conhecimento geográfico a

partir das realidades vivenciadas por eles. Conforme Callai (2014, p. 112):

[...] aprendendo a pensar o espaço, a partir

do lugar, poderemos descobrir o mundo,

tendo a possibilidade de construir com os

alunos um método de análise espacial que

favoreça a construção da cidadania.

Na narrativa do professor isso fica evidente, além

de expor que é mais fácil que o aluno compreenda os

conteúdos relacionados com seu espaço vivido,

afirma que a partir dessas relações os discentes são capazes de contruir a cidadania entendendo não

apenas o seu lugar, mas também o espaço do outro e

suas interrelações. Segundo Kozel e Filizola (1996), é a partir da soma dessas experiências individuais dos

diferentes alunos que o professor deve construir suas

aulas.

Para a professora II, a Geografia é uma disciplina escolar que estuda o espaço geográfico, analisa o ser

humano e como ele transforma esse espaço. Ela

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também trabalha em dois colégios com realidades

distintas: o Colégio Estadual do Campo Professor

Nilso Franceski (localizado no distrito de Iguiporã) e

o Colégio Estadual Eron Domingues (localizado no centro de Marechal Cândido Rondon), quando

questionada sobre o espaço vivido afirma que as

vivências cotidianas influênciam na aprendizagem dos alunos:

[...] Quando você vai trabalhar qualquer conceito, seja de lugar, seja de meio

ambiente, a resposta deles, dependendo do

seu local de vivência vai ser totalmente

diferente das respostas dos outros. Como eu

trabalho aqui [Iguiporã] e trabalho na

realidade lá no centro que é no Eron

Domingues, eu sinto isso bastante. Que o

local de vivências deles ajuda a eles

montarem um conceito de espaço, de lugar

ou até de relação com esse espaço

(informação verbal).

As vivencias dos estudantes auxiliam em sua

alfabetização geográfica. Kozel e Filizola (1996, p.

37) alertam que não pode-se esquecer que antes da

escolarização as crianças possuem a capacidade de observação. Essas experiêcias dos alunos constituem

de um rico acervo vivido, que deve ser explorado em

sala de aula, para que os discentes agreguem significados aos conteúdos e compreendam que a

Geografia faz parte de suas vidas.

A professora nos afirma isso ao dizer que o lugar (e consequentemente as experiências de vida dos

alunos) influenciam na construção do conhecimento

geográfico em sala de aula. O papel do professor de

Geografia é justamente mediar essa relação entre os saberes dos alunos e o conhecimento científico.

Afinal,

[...] os alunos têm as suas próprias

concepções a respeito de muitas coisas.

Porém, o trabalho de superação do senso

comum como verdade e a busca das

explicações que permitem entender os

fenômenos como verdades universais

exigem que se façam reflexões sobre o lugar

como espaço de vivência, analisando a

configuração histórica desses lugares para

além das aparências. (CALLAI, 2014, p.

89).

A professora III, é formada em História com

habilitação em Geografia e trabalha no Colégio Estadual Antônio Maximiliano Cerreta. Para ela, a

Geografia é muito mais que uma disciplina, afirma

que é o nosso cotidiano. Quando questionada sobre a forma que considera o espaço vivido dos alunos,

responde:

Principalmente na questão de contextualizar, por exemplo, estou agora trabalhando a

questão da demografia na Europa,

invevitavelmente vai cair o envelecimento

da população, entra a questão da

previdencia, e ai? Não tem como não puxar

para o espaço vivido, até para eles

entenderem melhor essa situação o

comparativo com o nosso país. Eu poderia

comparar com outros países do mundo, mas

eu prefiro sempre puxar para o nosso país.

Mesmo sendo Estados Unidos, Europa, Ásia

ou Japão... Tudo você consegue contextualizar pra cá. E como é aqui?

Vamos pensar no Brasil, é igualzinho? É

sempre, acho que é praticamente toda aula.

Vai trabalhar vegetação, você fala sobre a

vegetação lá do Norte do Canadá, dá para

comparar com Brasil? Sim, é igual,

diferente... é inevitável. Já está embutido, é

automático, já faz parte da Geografia

(informação verbal).

Para a professora, o espaço vivido e a Geografia

são indissociáveis, afirma que não tem como não

correlacionar com a realidade dos estudantes. Mesmo ao trabalhar aspectos de outros continentes, é

possível relacionar com o espaço cotidiano dos

discentes. Conforme Castrogiovanni (2014, p. 69):

No ensino da Geografia, o local e o global

formam uma totalidade. A partir das

representações dos lugares, o aluno forma o

ideário que envolve a totalidade

indissociável do espaço geográfico.

Essa totalidade auxilia na compreensão do espaço

geográfico, desde aspectos relacionados ao

cotidiano, até acontecimentos e fenômenos do outro lado do planeta. Os lugares cotidianos na concepção

de Callai (2014) funcionam como um laboratório

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para interpretar o mundo e compreender a

diversidade humana.

Para a professora IV, a Geografia é uma disciplina

escolar importante, além de possibilitar o conhecimento sobre outros lugares, ensina os alunos

a se localizarem e reconhecerem seu lugar de

pertencimento. Afirma que busca envolver com espaço vivido em suas práticas:

[...] na medida do possível procuramos trazer à discussão os espaços vividos pelos

alunos, propiciando momentos em que os

alunos exponham suas percepções sobre seu

cotidiano. A tentativa é, que quando estamos

falando sobre o conteúdo o aluno consiga

trazer aquele assunto para a sua realidade e

dessa forma, esse conteúdo terá significado

para os mesmos (informação verbal).

A professora procura despertar a noção que a

Geografia está relacionada com a vida dos

estudantes. Sua narrativa entra em contato com Kaercher (2014), ao reforçar a necessidade de ouvir

os alunos para despertar a curiosidade pela ciência

geográfica. Portanto, deve-se provocar os estudantes

a pensarem o espaço de vivência e problematizarem com os conteúdos geográficos estudados. Segundo

Kaercher (2014, p. 118):

Parece claro que, quanto mais ouvimos os

alunos, ou melhor, os provocarmos a falar,

mais material temos para prepararmos

nossas aulas e melhor entenderemos seus

interesses e sua lógica. Muitas vezes,

tomamos, precipitadamente, como “errados”

certos dizeres ou pensamentos de alunos sem

nos darmos conta de que seu raciocínio

encontra-se em nível distinto do nosso e, o

que para nós é um “erro”, para eles pode ser um caminho, um ponto de partida para o

entendimento.

Conforme a professora V, a Geografia é uma

ciência fundamental na construção da cidadania e

contribui para conhecer o espaço geográfico. A

disciplina dá suporte aos estudantes conhecerem o

espaço onde vivem e o relacionar com outros espaços que não estão tão próximos. Afirma que em sua

prática docente está:

[...] sempre procurando fazer uma análise

das escalas, saindo muitas vezes do espaço

vivido, espaço municipal, estadual, nacional

e até a Terra como um todo e vice-versa.

Dependendo do assunto e da realidade a

gente vai buscando inserir o aluno dentro do

contexto que a gente esta estudando,

buscando claro compreender o espaço vivido

(informação verbal).

A professora utiliza de diferentes escalas para

provocar seus alunos a compreenderem o espaço

geográfico, do local ao global, afinal:

A construção dos conceitos ocorre pela

prática diária, pela observação, pelas

experiências, pelo fazer. Eles vão sendo

ampliados, passando a graus de

generalização e abstração cada vez maiores.

(CALLAI, 2014, p. 88).

A professora V, afirma que a partir das diferentes

escalas, entre local e global, possibilita ao educando se localizar e compreender a dinâmica do espaço

geográfico. Para Callai (2014), ao aprender a pensar

de forma global, o estudante compreende a

organização do mundo e direciona suas práticas para pensar e agir localmente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Através das narrativas dos cinco professores

entrevistados, pode-se perceber em seus discursos a

inexistência da dicotomia entre teoria e prática. Tanto os teóricos, como os docentes, demonstraram a

importância do debate sobre o espaço vivido em sala

de aula para ensinar e aprender Geografia. Para diminuir o distanciamento existente entre os

conhecimentos escolares e o espaço de vivência dos

estudantes, é preciso buscar uma educação

geográfica, que extrapole as páginas dos livros didáticos e aproxime os estudantes do espaço

geográfico. Para isso, os professores precisam

continuar contextualizando a vida e os lugares dos

alunos, dando sentido e significado para os saberes geográficos adquiridos ao longo de suas histórias.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CALLAI, H. C. Estudar o lugar para compreender o

mundo. CASTROGIOVANNI, A. C.; CALLAI, H. C.;

KAERCHER, N. A. (Orgs.). Ensino de Geografia: práticas

e textualizações no cotidiano. 11. ed. Porto Alegre: Editora

Mediação, 2014. p. 71-114.

CASTROGIOVANNI, A. C. Apreensão e compreensão do

espaço geográfico. In: CASTROGIOVANNI, A. C.;

CALLAI, H. C.; KAERCHER, N. A. (Orgs.). Ensino de

Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. 11. ed.

Porto Alegre: Editora Mediação, 2014. p. 11-70.

DAPPER, V. R. M. A percepção de fronteira dos discentes

e docentes em colégios públicos de Marechal Cândido

Rondon-PR (2016/2017). Relatório Final de Iniciação

Científica voluntária. Marechal Cândido Rondon:

Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 2017.

KAERCHER, N. A. Geografizando o jornal e outros

cotidianos: práticas em Geografia para além do livro

didático. In: CASTROGIOVANNI, A. C.; CALLAI, H.

C.; KAERCHER, N. A. (Orgs.). Ensino de Geografia:

práticas e textualizações no cotidiano. 11. ed. Porto

Alegre: Editora Mediação, 2014. p. 115-143.

KOZEL, S.; FILIZOLA, R. Didática de Geografia -

memória da Terra: O espaço vivido. São Paulo: FDT,

1996.

PINHEIRO, A. C. O ensino de Geografia na formação de

professores das séries iniciais do Ensino Fundamental e na Educação Infantil. In: XV Encontro Nacional de Didática e

Prática de Ensino, 2010, Belo Horizonte. Convergências e

tensões no campo da formação e do trabalho docente:

políticas e práticas educacionais. Belo Horizonte: UFMG,

2010.

SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo,

razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.

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ENSINO DE CARTOGRAFIA NO PROJETO RONDON COM PROFESSORES DA REDE

PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE IBARETAMA- CEARÁ

Rafael Krupiniski

Mestrado em Geografia, UNIOESTE/MCR, e-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO

O presente trabalho objetiva relatar as

experiências, vivências e a oficina de cartografia

escolar ministrada pelo autor no Projeto Rondon,

enquanto acadêmico do curso de Geografia da

Unioeste/MCR.

O Projeto Rondon é uma ação voluntária (projeto

de extensão) coordenada pelo Ministério da Defesa

em parceria com as Universidades brasileiras

(públicas e privadas) e as prefeituras locais. Ele busca

contribuir com o desenvolvimento local sustentável,

fortalecimento da cidadania e bem estar da população

em municípios com baixo Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH), e também, na

formação profissional e pessoal do universitário,

oferecendo oportunidades de crescimento pessoal e

incremento da consciência cidadã (PROJETO

RONDON, 2017).

O nome “Projeto Rondon” homenageia Cândido

Mariano da Silva Rondon, mais conhecido como

Marechal Rondon. Bacharel em Ciências Físicas e

Naturais, militar e sertanista brasileiro, que passou

grande parte da sua vida dedicado a integrar o

Centro-Oeste e o Norte do Brasil. Entre suas

principais façanhas está a construção de linhas

telegráficas e a liderança de um grupo de

profissionais que buscaram estudar a geografia,

geologia, topografia, vegetação e outros elementos da

temida região amazônica (PEREIRA, 2009).

A atividade ocorreu entre no período de 15 a 31

de janeiro de 2015 no município de Ibaretama, no

estado do Ceará, através da Operação Mandacaru.

Outras duas operações ocorreram próximo a esse

período: a Operação Jenipapo no estado do Maranhão

e a Operação Portal no estado da Paraíba. As três

operações foram realizadas por estudantes e

professores de 90 universidades em 45 município de

baixo IDH, sendo 30 universidades e 15 municípios

para cada operação.

Cada universidade tem a possiblidade de formar

uma equipe com 10 membros, sendo oito graduandos

e dois professores. Os graduandos da Universidade

Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) desta

operação foram dos cursos de Ciências Biológicas,

Farmácia, Medicina, Odontologia do campus

Cascavel; Enfermagem e Pedagogia do campus de

Foz do Iguaçu; Serviço Social do campus de Toledo;

e Geografia do campus de Marechal Cândido

Rondon; e os professores foram do curso de Farmácia

do campus Cascavel, e Engenharia Química do

campus de Toledo.

Além disso, cada universidade atua juntamente

com outra universidade no mesmo município. Elas

são representados pelo Conjunto A, que desenvolve

ações na área de educação, saúde, cultura, direito e

justiça, e pelo conjunto B, que atua na área de

comunicação, tecnologia e produção, meio ambiente

e trabalho. Nesta operação a Unioeste foi

representada pelo conjunto A, enquanto a

Universidade Federal de Lavras (Ufla) foi

representada pelo conjunto B no município de

Ibaretama-CE.

Este município localiza-se no interior do estado

do Ceará, no bioma da caatinga e possui 822,3 km²

de extensão, e 12.728 habitantes, sendo 8.538 da

zona rural e 4.190 da área urbana (BRASIL, 2010).

Dispõe de 24 escolas de ensino fundamental I e II,

com 162 professores e uma escola estadual, com 32

professores. Os discentes do município apresentavam

dificuldades principalmente em português e

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matemática, pois a média do município no Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) do ano

de 2011 foi abaixo da média (IDEB, 2013). Possui

um hospital público de pequeno porte, que realiza

apenas procedimentos simples, contendo poucos

profissionais e apresentando uma higienização ruim.

Ao total a equipe da Unioeste realizou 48 oficinas,

palestras e demais atividades para a comunidade. Na

área da educação foram realizadas atividades que

tinham como objetivo principal, levar conhecimentos

sobre temas transversais, para contribuir na formação

dos docentes do município. De forma geral, as

atividades buscaram aliar a teoria com a prática.

Como o Projeto Rondon é desenvolvido no

período de férias escolares, as palestras, oficinas e

minicursos foram desenvolvidas durante o “I

Encontro Pedagógico 2015: ampliando a ação

pedagógica na escola”, onde objetivou renovar e

ampliar as ações Pedagógicas nas escolas,

priorizando a qualidade de ensino. Foram os

graduandos da área da Educação da Unioeste que

comandaram o evento ofertando palestras e

minicursos sobre os seguintes temas: evasão escolar,

relação professor-aluno, organização do trabalho na

escola, motivação na aprendizagem, distúrbios da

aprendizagem (relacionada com a área da saúde),

violência e drogas na escola, a língua portuguesa e a

produção textual, as quatro operações matemáticas e

o Mínimo Múltiplo Comum (MMC) e o Máximo

Divisor Comum (MDC), os por quês da matemática,

o ensino da geografia e a cartografia escolar e

construção de maquetes.

Cabe ressaltar que todas as atividades foram

planejadas especificamente para a região de atuação,

considerando o diagnóstico realizado na viagem

precursora por um dos professores da Unioeste, que

apontou as dificuldades e demandas do município.

Foi durante esta viagem que a equipe da Secretaria de

Educação do município pediu para que fosse ofertada

uma oficina sobre Cartografia escolar, como enfoque

em construção de mapas, cálculo de escala, latitude e

longitude.

A necessidade surgiu devido a inexistência de

professores formados em Geografia que atuavam

nesta disciplina nas escolas do município. De acordo

com a equipe da Secretaria de Educação, os docentes

possuem muita dificuldade em lecionar sobre

Cartografia, em especial sobre o cálculo de escalas.

Nesse sentido, foi desenvolvido um minicurso

intitulado “O Ensino de Geografia e Cartografia

Escolar”, com a finalidade de ensinar e tirar dúvidas

sobre os pontos mais pertinentes da presente área do

conhecimento da Geografia.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A atividade contou com a presença de

aproximadamente 80 docentes do Ensino Municipal

(1ª à 9ª séries) e Estadual (Ensino Médio) de

Ibaretama e municípios vizinhos. Ela foi

desenvolvida nas dependências da Escola Municipal

Everaldo Silveira, localizada na área urbana do

município.

Para facilitar a realização do minicurso, foi

desenvolvido pelos graduandos um Caderno

Pedagógico, intitulado “Caderno Pedagógico para

capacitação de docentes do município de Ibaretama

(CE): Ensino, Geografia, Língua Portuguesa e

Matemática”, que objetivou apresentar teorias e

conceitos sobre os conteúdos ofertados nas oficinas,

minicursos e palestras, além e um rol de atividades

que possam ser desenvolvidas e aplicados aos

estudantes.

Para realização do minicurso utilizou-se da

apresentação expositiva e dialogada, com o intuito de

promover a exposição de conteúdos pelo graduando

em Geografia, com a participação ativa dos docentes,

para que os mesmos questionem e interpretem o

conteúdo voltado ao seu conhecimento até então

adquirido. Utilizou-se o quadro branco, caneta para

quadro branco, data show, apresentação em power

point-ppt (slides), o Caderno Pedagógico ao qual foi

desenvolvido uma lista de exercícios entre outros

materiais.

RESULTADOS

O minicurso foi dividido em duas etapas com

duração de 3 horas cada, totalizando 6 horas. A

primeira etapa ocorreu no período matutino (Figura

1) teve um caráter teórico (em forma de minicurso),

ao qual foi apresentado sobre a divisão da Cartografia

(Geral e Temática), as diferenças entre escala

cartográfica e geográfica, a relação entre a área

apresentada e o número de detalhes com escalas

pequenas e grandes, a fórmula para o cálculo de

escalas, os principais símbolos cartográficos para

representações em mapas, os tipos de escala

(numérica e gráfica), conversão de medidas do

sistema métrico e decimal. Após a discriminação das

principais conceitos, foi entregue uma lista de 7

exercícios impressos, extraídos do Caderno

Pedagógico, para a resolução de exercícios sobre

escalas, latitude e longitude.

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26

Figura 1- Apresentação sobre os principais temas e

conceitos sobre Cartografia Escolar.

A segunda etapa ocorreu no período vespertino e

teve por objetivo desenvolver atividades didáticas

com a finalidade de auxiliar, facilitar e melhorar o

ensino da Cartografia nas escolas (em forma de

oficina). As atividades desenvolvidas foram

adquiridas no Caderno pedagógico “O Ensino de

Geografia: da teoria à prática” desenvolvido pelos

pibidianos do curso de Geografia da Unioeste, do

campus de Marechal Cândido Rondon.

A primeira atividade desenvolvida foi “Escala do

corpo humano”, a qual teve por objetivo calcular a

escala do próprio corpo em diversos tamanhos. Para

sua realização foi necessário os seguintes materiais:

barbante, papel sulfite, lápis, fita durex, canetas

coloridas, lápis de cor ou giz de cera. A mesma foi

desenvolvida e duplo ou grupo. Cada docente

recebeu um pedaço de barbante. Em duplas fizeram

as medidas, ou seja, segurando um dos lados do

barbante sobre a cabeça, e o outro na ponta do pé (na

horizontal), eliminando a sobra (Figura 2).

Figura 2- Docentes medindo o tamanho do corpo com o

auxílio de barbante.

Após, o barbante foi dobrado ao meio inúmeras

vezes, sendo que o número de vezes que foi dobrado

representa a escala reduzida. Posteriormente, foi

colado o barbante numa folha sulfite e realizado dois

traços retos entre um canto ao outro da folha: uma

acima da linha e outro abaixo (Figura 3). E, por fim,

cada docente realizou o desenho do seu próprio corpo

a partir do tamanho real, atribuindo legenda, título e

fonte à representação.

Figura 3- Docentes realizando a representação do corpo

humano.

A segunda atividade desenvolvida foi “Rosa dos

Ventos com palitos de picolé”. Para sua realização foi

necessário palitos de picolés de diversas cores e

alfinetes. Foi distribuído para cada docente 4 palitos e

um alfinete. A sua construção ocorre a partir da

sobreposição dos palitos e um furo em seu eixo

central, onde é posto o alfinete que após de se fixar, é

possível mover os palitos formando uma rosa dos

ventos com pontos cardeais (norte, sul, leste e oeste)

e colaterais (nordeste, noroeste, sudeste e sudoeste)

(Figura 4).

Figura 4- Docente construindo sua rosa dos ventos.

A última atividade desenvolvida foi a “Construção

de Maquete de Relevo com E.V.A”, a qual teve por

objetivo representar uma área geográfica em três

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27

dimensões. Para sua realização foi necessário os

seguintes materiais: cartolina; E.V.A de diversas

cores (azul, verde, vermelho, salmão, rosa e

amarelo); cola; tesoura; alfinetes; caneta; e uma base

cartográfica – um mapa. A mesma foi realizada

individualmente.

O desenvolvimento ocorreu a partir do recorte da

representação juntamente com o E.V.A, seguindo a

sequência topográfica do relevo, partindo das áreas

mais baixas para as áreas mais altas (Figura 5). Cada

curva (altitude) foi representada por 10 metros e uma

cor (Quadro 1). A finalização da atividade ocorreu

com a construção da escala, título e legenda da

maquete (Figura 6).

Altitude Cor

0 metros Azul

10 metros Salmão

20 metros Amarelo

30 metros Branco

40 metros Vermelho

50 metros Preto

Quadro 1- Relação entre a altitude e a cor do E.V.A.

Figura 5- Docentes realizando o recorte e colagem do

E.V.A para construção da maquete.

Figura 6- Docentes finalizando a construção da maquete

com a inserção da escala, legenda e título.

CONCLUSÃO

As atividades desenvolvidas na oficina

proporcionaram aos docentes a possibilidade de

ampliar seus horizontes sobre o Ensino da

Cartografia, assim como aprender a „calcular escalas‟

de mapas, uma vez que muitos possuem dificuldades

com esse conteúdo. Os mesmos se mostraram

interessados com o minicurso e a oficina, dedicando-

se arduamente para a realização das atividades

propostas.

AGRADECIMENTOS: Ao Projeto Rondon, pela

oportunidade de poder realizar a presente experiência

no interior da região Nordeste do Brasil.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Defesa. Projeto Rondon inicia

atividades em 2015 com “Operação Mandacaru”.

Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/defesa-

eseguranca/2015/01/projeto-rondon-inicia-atividades-em-

2015-com-operacao-mandacaru>. Acesso: set. 2017.

Brasil. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Plano

Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável:

Território Cidadania do Sertão Central –

MDA/SDT/UNITACE. Fortaleza: Instituto Agropólos do Ceará, 2010. Disponível em: <http://sit.mda.gov.br/

download/ptdrs/ptdrs_qua_territorio080.pdf>. Acesso em:

set. 2017.

IDEB. Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.

Ibaretama: IDEB. Disponível em: <http://www.qedu.org.

br/cidade/4898-ibaretama/ideb?source=PortalIdeb>.

Acesso em: set. 2017.

PEREIRA, D. V. Um Olhar Sobre o Projeto Rondon e a

Dimensão Ambiental. 2009, 90p. Dissertação (Mestrado

em Desenvolvimento Sustentável) – Universidade de

Brasília, 2009. Disponível em: <http://repositorio.unb.br/

bitstream/10482/4194/1/2009_DalineVinhalPereira.pdf>.

Acesso em: set. 2017.

PROJETO RONDON. O que é o Projeto Rondon?.

Disponível em: <http://www.projetorondon.defesa.gov.br/ portal/>. Acesso em: set. 2015.

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GEOGRAFIA HUMANA

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RESUMO SIMPLES

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JUGLARES DEL SILENCIO, DE CECILIA GLANZMANN:

UM OÁSIS NA PATAGÔNIA CHUBUTENSE

Denise Scolari Vieira

UNIOESTE-Letras

Há algo misterioso e atrativo, que gira ao redor dos versos de Juglares del Silencio (2007), da escritora

argentina Cecilia Glanzmann. Seu projeto estético celebra, no “sul-sul da América”, a vida sublime e

mágica advinda da Patagônia Chubutense. De algum modo, apreende-se a luta pela vida, vinculada ao seu

começo, circunstância que se conecta ao eu primordial ligado ao lugar onde viu a luz. No texto, são

deixadas abertas e disponíveis, nutrientes e generosas como “oásis em meio de tanto espaço ilimitado”, as

trilhas impregnadas da vida em si, ao mesmo tempo, individual e coletiva. Por isso, esse estudo vai

considerar, a partir da perspectiva teórica de Gaston Bachelard, quais são as imagens simbólicas

recorrentes na obra, capazes de aludir a uma topofilia, mediante um olhar sensível, cuja força é

salvaguarda, pois está potencializada, no solo fecundo da diversa “coreografia viva da Patagônia”.

Também serão observadas as Estruturas Antropológicas do Imaginário, presentes nos poemas, segundo as

categorias de análise do antropólogo Gilbert Durand, a fim de formular uma leitura possível, por meio da

palavra poética, concernente à humana condição, bem como, sobre a instância extremamente vital, que a

experiência artística pode suscitar.

Palavras-chave: Cecilia Glanzmann; Imaginário; Literatura Argentina; Sensibilidades; Teoria da

Imaginação da Matéria.

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O USO DE PLATAFORMAS DIGITAIS COMO FERRAMENTA AUXILIAR NO PROCESSO

DE DIFUSÃO ESPACIAL DO ENCONTRO PARA A CONSCIÊNCIA CRISTÃ EM CAMPINA

GRANDE – PB

Débora Vanessa Régis Ferreira1; Tarcísio Vanderlinde

2

1 Mestranda PPGG, UNIOESTE /Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2 Docente do PPGG, UNIOESTE/ Marechal Cândido Rondon,

O estudo tem o objetivo de identificar a associação das plataformas digitais como meio auxiliar ao

processo de difusão espacial cristã protestante referente ao 19 Encontro Religioso Para a Consciência

Cristã em Campina Grande – PB no ano de 2017. Sobre o entendimento acerca da difusão espacial,

concorda-se com Rosendahl (2012) quando define essa como um reflexo da experiência de fé no espaço e

no tempo, pelo processo de apropriação do espacial o qual desencadeia a formação de territórios onde a

territorialidade religiosa assume o controle de práticas com o intuito de se perpetuar, se reproduzir e se

fortalecer. Esses fatos tendem a reafirma o intrínseco elo de ligação entre religião e ciência geográfica. O

desenhar da realidade proposta se forma a partir do encontro religioso sediado no período do carnaval

pela instituição paraeclesiástica: Visão Nacional Para a Consciência Cristã (VINACC). Um dos seus

principais objetivos é expandir-se e avançar, alcançando o maior número de pessoas e igrejas que se

disponibilizem em defender a fé protestante tradicional e ortodoxa, seguindo também com o princípio de

disseminação da mensagem do Cristo “Ide por todo mundo, e pregai o evangelho a toda criatura”. Essa

perspectiva desde sempre é vinculada ao projeto evangelizador e missionário de conquistar territórios e os

consolidando por meio da fé. No contexto contemporâneo é possível incluir ao processo, as plataformas

digitais as quais são projetadas como meios estratégicos, impulsionando a fé e auxiliando na difusão

espacial a partir da publicidade pontuada particularmente no canal do YouTube - Vinacc Consciência

Cristã, no streaming Bless, nas redes sociais: Facebook, Instagram e Twitter além do aplicativo para

smartphone consciência cristã e site. Essas fontes representam uma preparação pré-evento, mantendo o

público aquecido de informações e conteúdos durante todo intervalo de tempo até o acontecimento anual

do evento. Para o ano de 2017 mais de 100 mil pessoas participaram ocupando praça, teatro, centro

cultural e tantos outros espaços com intuito de demarcá-los como centros de reflexão e espiritualidade

baseado na fé cristã. Além de estar atenta ao uso das plataformas digitais foram ainda adotadas na

pesquisa as metodologias de revisão bibliográfica, observação não participativa no 19 Encontro Para a

Consciência Cristã e entrevista semiestruturada com o Fundador, diretor executivo da VINACC. Entende-

se que no conjunto a proposta possibilita uma compreensão da religião e suas interfaces para com os

espaços bem como o domínio territorial alimentado em parte pelo planejamento organizacional das

plataformas digitais o qual subsidia o contexto da difusão espacial.

Palavras-chave: Difusão espacial; Encontro Para a Consciência Cristã; Plataformas Digitais.

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RELAÇÕES DE PODER NOS ESPAÇOS URBANOS

Selma Martins Duarte

1

1História, Unioeste/Campus de Marechal Cândido Rondon, [email protected]

A proposta desta comunicação é apresentar a pesquisa realizada para a construção de um texto para o

projeto de extensão Observatório do Mundo Contemporâneo (OMC). As reflexões construídas pela

equipe do projeto são apresentadas em escolas de Marechal Cândido Rondon e região e tem por objetivo

fomentar discussões relacionadas a temas da atualidade. Nos meses de agosto e setembro de 2017

realizamos análise sobre as ações públicas voltadas aos moradores de ruas, bem como aos usuários de

drogas, sobretudo na cidade de São Paulo. Buscamos compreender os interesses que permeiam atos, como

os de João Doria, atual prefeito de São Paulo. Para o desenvolvimento desta análise nos utilizamos de

bibliografia específica tratando tanto das políticas voltadas para a organização das cidades, quanto de

historiografia com análise sobre o tratamento do poder público voltado as distintas classes sociais que

ocupam os espaços urbanos. As fontes analisadas foram matérias produzidas pela mídia, vídeos e

documentários. Concluímos que no Brasil governantes, historicamente tem se utilizado de discursos

apropriados de técnicos sanitaristas para colocarem em prática medidas que promovam um deslocamento

das populações pobres, também compreendidas pelas elites como “classes perigosas”, dos centros das

cidades para as periferias. Esses deslocamentos são travestidos de medidas técnicas sanitárias, que

aparentemente servem para o bem-estar da população. Porém, reside aí relações de poder em que grupos

hegemônicos se apropriam do centro da cidade, pois desejam lucrar com a especulação imobiliária.

Porém os governantes buscam ocultar o sentido classista dessa ação política. Para isso promovem a

associação de doenças às camadas pobres da população, dessa forma, essa parcela da população passa a

ser frequentemente vigiada, e compelida a mudar seus hábitos, mesmo que não tenham recursos para

fazê-lo. São obrigados a dispersar dos locais em que residiam, deixando o espaço para as obras públicas

de alargamento de avenidas, construção de túneis e construção de lojas pomposas. Obrigados a deslocar

para a periferia resistem. A resistência é fruto da falta de recursos para pagar transporte da periferia para o

centro, local onde frequentemente trabalham, além de significar a luta pela manutenção dos espaços que

habitam e das relações sociais constituídas nestes espaços.

Palavras-chave: cidades; conflitos sociais; gentrificação.

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RESUMO EXPANDIDO

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A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON: A TERRA

SUBORDINADA À ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA

Matieli Cardoso Alves Acadêmica do curso de licenciatura em Geografia- UNIOESTE/campus Marechal Cândido

[email protected]

INTRODUÇÃO

No processo de produção e expansão territorial

urbana, é central a compreensão da apropriação

privada da terra e sua consequente transformação em

mercadoria, bem como, da renda que esta gera. Estes

elementos condicionam diferentes paisagens urbanas

existentes e evidencia a divisão das classes sociais no

urbano.

De modo geral, isto pode ser visualizado através

dos bairros de alto padrão equipados com um

conjunto de infraestruturas necessárias e por isso,

“valorizados”, que se contrapõem a bairros distantes

com pouca infraestrutura e “desvalorizados”, ou

ainda, com um conjunto de lotes vazios,

especialmente nas áreas centrais. Entretanto, em

ambas as situações a terra é mercadoria.

A apropriação privada da terra a torna uma

mercadoria no mercado imobiliário com um

determinado preço. Este fator caracteriza a terra

como manipulável ao capital, impossibilitando o

espaço urbano de cumprir sua função social

estabelecida pelo Estatuto da Cidade, pois, a terra

torna-se pertencente a quem tem capacidade de

adquirir esse bem natural.

Isso nos faz compreender que nas cidades,

determinados pontos são menos “valorizados” em

relação a outros. Por um lado, é possível inferir que

tal situação deriva do processo de especulação

imobiliária existente nas cidades.

Por outro, leva a questionamentos do por que a

terra urbana se atribui certa “valorização” sendo que

a mesma é um bem natural? Porque quando

localizada no espaço urbano e apropriada

privadamente à terra se empregam altos preços?

Quem regula ou o que regula os preços das terras

urbanas? Porque na terra, em especial a urbana, não

se aplicam os determinantes da função social? Qual a

razão da ocorrência de concentrações fundiárias no

espaço urbano?

Partindo-se destas interrogações, este presente

trabalho tem como objetivo debater e analisar a

produção do espaço urbano do município de

Marechal Cândido Rondon-PR, visando compreender

os elementos que regem a dinâmica do processo de

urbanização. Assim, na busca pela compreensão dos

fatores que contribuem para a expansão territorial da

cidade, busca-se aqui compreender a análise da

especulação imobiliária e apropriação da renda da

terra urbana no município de Marechal Cândido

Rondon-PR.

Dentro dessa perspectiva se analisará o “valor”

que o homem atribui a terra e a transforma em

mercadoria subordinada aos comandos de uma elite

capitalista que se constitui em minoria, tornando a

mesma como um bem de difícil acesso para grande

maioria da população.

Desse modo, a pesquisa analisa o processo de

especulação imobiliária criada com a expansão do

espaço urbano, sobretudo, busca compreender os

motivos que proporcionam a valorização de

determinadas áreas urbanas e desvalorizam as

demais, no entanto, a localização e a infraestrutura

serão pontos centrais para determinar a valorização e

consequentemente adiciona preço a terra urbana.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho tem como base as reflexões da

pesquisa de monografia em Geografia (Renda da

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terra e produção do espaço urbano de Marechal

Cândido Rondon-PR) na qual se buscou compreender

os elementos que regem a dinâmica do processo de

urbanização. Assim, na busca pela compreensão dos

fatores que contribuem para a expansão territorial da

cidade, trazendo como foco central a análise da

especulação imobiliária e apropriação da renda da

terra urbana.

Desse modo, analisar o processo de especulação

imobiliária criada com a expansão do espaço urbano,

sobretudo, busca-se compreender os motivos que

proporcionam a valorização de determinadas áreas

urbanas e desvalorizam as demais.

Nesse sentido, é de suma importância o estudo do

espaço urbano no âmbito da ciência geográfica, uma

vez que, morar é necessário para sobrevivência

humana, mais devido a problemas econômicos e

políticos presentes em nossa sociedade atual, surgem

questões como as desigualdades sociais que dificulta

a condição de moradia se tornando difícil e escassa a

população urbana, devido a fatores como a

especulação imobiliária que ocorre com a expansão

urbana, tornando-se prejudicial a grande parte da

população trabalhadora em aspectos como moradia

em áreas clandestinas, falta de saneamento básico e

longas distâncias percorridas diariamente por essa

população até chegarem a lugares como área central

da cidade e ao próprio trabalho. Segundo Rodrigues.

Novamente se coloca a questão: os moradores que menos podem pagar vão

comprar lotes mais distantes, em lugares que

não atendem ás exigências de lei, vão ter que

percorre longas distâncias, gastar mais em

transporte-tempo e dinheiro; vão ter que

organizar-se, lutar pelo reconhecimento de

sua propriedade e com seu trabalho

conquistar um direito de morar pelo menos

mais dignamente. (RODRIGUES, 1991, P.

27).

É valido ressaltar que a metodologia utilizada

constituí-o com a analise do plano diretor de

Marechal Cândido Rondon\PR, para compreender e

conhecer a dinâmica da área urbana, tendo como

prioridade pesquisar os fatores que são responsáveis

pela expansão urbana que automaticamente gera a

especulação imobiliária na cidade.

Dessa forma, buscou-se ter conhecimento de

documentos na prefeitura do município, no qual

foram desenvolvidos questionários na prefeitura

municipal nos setores da secretária da Fazenda,

secretária de planejamento urbano e também nas

imobiliárias da cidade.

No decorrer da pesquisa foram levantadas

diferentes referências teóricos e leituras sobre a

respectiva temática, sendo os principais os livros com

os seguintes autores: Ariovaldo Umbelino de

Oliveira, Arlete Moysés Rodrigues, Lucio Kowarick

e Maria Encarnação Beltrão Sposito entre outros.

Sendo assim, a partir destes métodos pelo qual se

desenvolveu a referida pesquisa é possível inferir que

o espaço urbano de Marechal Candido Rondon

encontra-se integrado a dinâmica da expansão do

capitalismo, no qual a terra urbana está subordinada a

especulação imobiliária com o ideário social de

investimento seguro e rentável. Nesse sentido a

especulação imobiliária sobre a terra urbana,

funciona de forma a valorizar proprietários de terra,

ou seja, uma classe dominante no qual ser

proprietário de terra urbana significa poder

econômico e especulativo que tem ditado às regras da

expansão urbana.

RESULTADOS

A especulação imobiliária tem subordinado a terra

para a produção de renda, sobretudo, a atuação do

mercado imobiliário tem determinado o preço da

terra, bem como, o uso do solo urbano, moradia e

principalmente, tem proporcionado a acumulação de

riquezas por meio da valorização constante da terra

urbana.

Primeiramente, para compreender o processo de

produção do espaço urbano de Marechal Cândido

Rondon – PR é preciso entender a dinâmica da

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especulação imobiliária, subordinando a terra para

produção de renda. Segundo Rodrigues, “Embora não

seja específico da terra, está tem sido, historicamente,

um dos repositórios mais comuns e importantes da

acumulação de riquezas”. (RODRIGUES, 2014, p.

16).

De acordo com a citação compreende-se que o

mercado imobiliário apresenta uma perspectiva

idealizadora sobre a terra no qual a mesma atua como

geradora de riquezas por meio de juros e lucros.

Dessa forma, propagandas veiculadas pelo mercado

imobiliário conceituam a ideia de que quem investe

em terra nunca erra.

Por meio de propagandas o mercado imobiliário

de Marechal Cândido Rondon\PR tem idealizado a

terra como o melhor negócio para investir. Desse

modo, a terra urbana passa a compor-se como uma

mercadoria, pois, é vendida a um valor alicerçado no

sistema capitalista de produção, uma vez que, através

da valorização da terra almejam atingir juros, lucros e

renda sobre a mesma.

A imagem a seguir ilustra uma propaganda

idealizando o investimento na propriedade da terra e

imóveis como investimento (Fotografia 1).

Fotografia 1: Propaganda de imobiliária considerando

a comercialização da terra e imóveis como investimento

Fonte: Trabalho de campo. Autor: ALVES, M, C. 2016.

De acordo com o painel publicitário, situado as

margens da rodovia BR-163, no trecho que liga o

município de Marechal Cândido Rondon ao de

Quatro Pontes-PR, torna-se visível a atuação do

mercado imobiliário na divulgação da terra e imóveis

como mercadorias, pois, contextualizam estes como o

melhor investimento. O pensamento imobiliário de

investimento em terra está fundamentado no modo de

produção capitalista que agrega preço a terra, no qual

a terra passa a produzir um excedente do valor

investido no momento da compra, proporcionando

um lucro excedente sobre a mesma, a este fator

denomina-se Mais Valia.

A certeza de investimento seguro e a constante

valorização da terra urbana têm elevado a procura por

aquisição de imóveis na cidade, favorecendo assim as

empresas imobiliárias e proprietários de terra. O

corretor de imóveis da imobiliária Edemar imóveis

narrou que,

Existe uma grande procura por imóveis na

cidade de Marechal Cândido Rondon, por

isso, vale a pena investir no ramo imobiliário

com certeza de venda, pois, existe uma

clientela diversificada, onde o mercado imobiliário estabelece preços de imóveis

variados, com valores que variam de R$

100.000, 00 a 1000.000,00 de reais.

(WOLLSTEIM, E. imobiliária Edemar

imóveis, 2016).

A diferença nos valores atribuídos a terra

urbana em Marechal Cândido Rondon -PR,

sobretudo, nos lotes vazios, remete a um

comparativo de valores em diferentes áreas da

cidade como: centro, bairros valorizados e

bairros periféricos.

A diferença nos valores ocorre em função da

atuação da especulação imobiliária, pois, o

especulador de terras apropria-se de alguns

“privilégios”, como por exemplo, a existência de

infraestrutura urbana (rede de esgoto, ruas asfaltadas,

escolas, creches, bancos e supermercados.) para

aplicar preços elevados e desiguais nas propriedades

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em diferentes pontos da cidade de Marechal Cândido

Rondon - PR.

Tabela 1 – Preço de lotes vazios em diferentes regiões

do espaço urbano

Área central R$ 450.000.00 á

1.000.000.00

Bairros Valorizados R$ 150.000.00 á

300.000.00

Bairros Periféricos R$ 70.000.00 á

120.000.00 Fonte: Imobiliária Edemar Imóveis; Imobiliária Certo

Imóveis , 2017.

Portanto, a terra comporta-se como um

equivalente manipulado pelo capital, pois, esse bem

natural, inserido no mercado imobiliário passa a

compor-se como uma mercadoria tendo seu preço

constantemente elevado pelo processo de

especulação imobiliária. Segundo Rodrigues, “A terra

é um equipamento do capital, porque se “valoriza”

sem trabalho, sem uso”. (RODRIGUES, 2014, p. 17).

Embora, a terra se estabeleça no modo de

produção capitalista a mesma constitui-se como um

falso capital e uma falsa mercadoria, pois não tem

sua origem alicerçada na força produtiva, ou seja, a terra é um bem natural não se constituí pela força de

trabalho.

O preço atribuído a terra dentro do mercado imobiliário independe de sua força produtiva, está

fundamentado no estatuto jurídico da propriedade da

terra, outrora, é determinado pela capacidade de investimento de seus possíveis compradores.

Conforme descrito pela Arquiteta da secretaria de

planejamento urbano de Marechal Cândido

Rondon\PR á determinação do valor de um imóvel na área urbana antes da comercialização do mesmo é

constituído por critérios estabelecidos pelas empresas

imobiliárias e proprietários de terras, em conjunto com vereadores do município por meio de reuniões

de planejamento urbano realizadas na prefeitura do

município, por meio de questionários foram apontados os seguintes critérios,

A localização da terra urbana encontra-se

como um dos principais fatores que

determinam o valor, assim, imóveis no

perímetro urbano com as mesmas

características de infraestrutura e tamanho,

porém, com localizações diferentes

ocasionam preços bastante desiguais.

(BORZATTO. C, secretaria de planejamento urbano, 2016).

Fatores como o preço atribuído a terra e a

capacidade de aquisição do comprador torna a mesma

um bem de difícil acesso para a grande parcela da

população urbana. Desse modo, por exemplo, uma

área comercial dentro do perímetro urbano, pode

alcançar um preço elevado devido a localização e a

infraestrutura oferecida no local, estas características

tornam á terra inacessível às classes de baixa renda,

ou seja, o solo urbano é caracterizado pelos diferentes

usos e acessos.

O espaço urbano de Marechal Cândido Rondon

demostra esse fator por meio da distinta paisagem em

níveis de moradia, localização e infraestrutura

apresentada pelos diferentes bairros da cidade. Os

bairros distantes, menos acessíveis e com menor

infraestrutura abriga a população de baixa renda por

possuírem valores acessíveis. Segundo um

funcionário da secretaria da Fazenda do município,

A atuação do mercado imobiliário tem sido

tão evidente em Marechal Cândido Rondon,

principalmente na questão da grande

quantidade de casas geminadas, pois, o construtor adquire um terreno e constrói três

casas no mesmo, analisando que essas casas

de pequena infraestrutura possui pouco

custo, ao vender cada casa por

aproximadamente R$ 145.000.00 quanto o

construtor terá faturado? (VACARI, K.

secretaria da fazenda, 2016).

O homem para sobreviver necessita ocupar um

determinado local, para que possa desenvolver as

necessidades físicas e econômicas, porém, as relações

capitalistas inseridas no espaço urbano determinam e

regem o modo de ocupar este espaço, ou seja, o

sistema capitalista parte como modelador da estrutura

urbana. Sendo assim, diante da articulação do capital

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fica expresso na paisagem urbana a heterogeneidade

e desigualdade das classes sociais que se insere na

cidade. Segundo Carlos: “O primeiro aspecto que

chama atenção quando se observa a paisagem urbana

é o choque dos contrastes, das diferenças. Contrastes

de tipo e diversidade de utilização da cidade: usos do

solo”. (CARLOS, 1994, p. 40).

Em contrapartida é contraditório no espaço urbano

de Marechal Cândido Rondon a concentração de lotes

vazios evidenciando a acumulação rentista sobre a

terra, sendo que do outro lado existe uma parcela da

população que continua sem moradia ou sendo

destinada a locais precários e distantes.

Está características nos leva a pensar, o porquê

não ocupar essas áreas vazias no espaço urbano, uma

vez que, para o poder público seria mais viável, pois,

diminuiria os custos com infraestrutura, como:

escolas, creches, iluminação pública, pavimentação,

postos de saúde, entre outros.

Porém, observa-se que o espaço urbano privilegia

a atuação de interesses particulares, como por

exemplo, proprietários de terras, poder públicos e

corretores de imóveis. Em contrapartida a população

de baixa renda continua sem moradia ou sendo

destinada a locais precários e distantes.

A especulação imobiliária e interesses particulares

de proprietários de terras têm ditado as regras no

espaço urbano e isso tem impossibilitado o

cumprimento da função social da cidade instituídas

pelo Estatuto da Cidade que visa o bem estar da

população urbana, que consiste em garantir moradia

digna a todos habitantes da cidade, no entanto, isso

se torna impossível diante da especulação que torna

determinados espaços urbanos com elevados preços,

restando a população de baixa renda locais

inapropriados para a moradia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo

que abrangesse a atuação do mercado imobiliário

com estratégias capitalistas que determinam por meio

da especulação imobiliária e do caráter rentista o

processo de expansão urbana de Marechal Cândido

Rondon-PR. De modo, que a expansão urbana ao

longo dos anos sempre ocorreu próxima a áreas com

tendência de valorização, dessa forma, a expansão

urbana é determinada a partir da especulação

imobiliária que se constitui como sujeito na

incorporação de novas áreas ao perímetro urbano.

A especulação imobiliária vem crescendo por

meio da atuação de empresas imobiliárias e interesses

de investidores de terra, determinando assim a

expansão territorial da cidade, o valor da terra urbana

de modo que segrega a população urbana em termos

de poder aquisitivo. Assim o espaço urbano de

Marechal Cândido Rondon tem se expandido através

da acumulação capitalista assentada na extração da

renda da terra urbana. Desse modo, a especulação

com a terra urbana tem evidenciado o caráter rentista

da expansão territorial da cidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RODRIGUES, Arlete Moyses. Moradia nas Cidades

Brasileiras. 10. ed. 1ª reimpressão, São Paulo: Contexto

2015. (Repensando a Geografia).

CARLOS, Ana Fani Alessandri. A Cidade. São Paulo:

Contexto, 1994. (Coleção Repensando a Geografia).

Rodrigues, Arlete Moysés, Moradia nas cidades

brasileiras\ Arlete Moysés Rodrigues; revisão Rosa M. C.

Cardoso e Candida M. V. Pereira. 4ª Ed. São Paulo:

Contexto, 1991. (Coleção Repensando a Geografia).

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APLICAÇAO DOS ROYALTIES DA USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU BINACIONAL

COMO RECURSO DE DESENVOLVIMENTO NA FRONTEIRA BRASIL E PARAGUAI

Nilse Lúcia Girotto

Mestranda PPGG-UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon – e-mail: [email protected].

INTRODUÇÃO

O Brasil possui sua matriz energética

fundamentada nos recursos hídricos, destacando-se o

Rio Paraná, com seu grande potencial de produção de

energia e a proximidade dos centros de consumo.

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica

(ANEEL 2013), as usinas hidrelétricas constituem a

principal fonte de energia elétrica no país, com o

fornecimento de 63,9% da potência instalada - já as

usinas termelétricas respondem por 28,7%; as

pequenas centrais hidrelétricas 3,7%, as usinas

termonucleares 1,6%; as centrais geradoras

eolielétricas (1,9%) e as centrais geradoras

hidrelétricas 0,2%.

Desde o início do planejamento do projeto de

instalação de uma usina hidroelétrica, representantes

do Estado e de empresas responsáveis pela sua

construção, destacam os seus benefícios de ordem

econômica, como a importância da produção

energética para a continuidade do desenvolvimento

do país, principalmente para o setor industrial, mas

também para o cotidiano da população. Desta forma,

geralmente os impactos sociais e ambientais

negativos da implantação de usinas hidrelétricas são

relevados a segundo plano, não raro restritos aos

sujeitos diretamente afetados pela instalação da usina.

No contexto do debate referente à necessidade de

garantir o ressarcimento dos impactos causados pela

implantação de uma usina hidrelétrica, em especial

por conta da formação do reservatório, foi

promulgada a Lei nº 7.990, de 1989, que trata dessa

questão, entre outras1. Essa lei, em seu Art. 1º,

1 Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Institui, para os

Estados, Distrito Federal e Municípios, compensação financeira pelo resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica, de

regulamenta a compensação financeira aos Estados,

Distrito Federal e Municípios, a ser calculada,

distribuída e aplicada na forma estabelecida.

(BRASIL 1989)

A compensação financeira é uma forma de tentar

amenizar e ressarcir os danos causados à população e

ao território afetado pela edificação, e deve

contemplar os custos ambientais, econômicos e

sociais, proporcionando o bem-estar social e o

desenvolvimento regional, na tentativa de compensar

os prejuízos causados. Entende-se como dano, a

desapropriação de terras, vilas, cemitérios, templos

religiosos, diminuição da arrecadação de tributos com

a submersão de terras produtivas, destruição de

estradas, alteração da dinâmica econômica do

município, bem como a historicidade do local e o

sentimento de pertencimento, de identidade do seu

povo.

As perdas geradas pela construção de uma

hidrelétrica devem ser compensadas aos atingidos

através de ressarcimento, buscando compensar por

meio de repasses financeiros. No caso específico da

Usina Hidrelétrica de Itaipu, essa compensação

ocorre através do pagamento de Royalties. Nesse

caso, trata-se da única usina hidrelétrica brasileira

a pagar esse ressarcimento financeiro através de

Royalties, pois constitui-se uma empresa Binacional

criada a partir da assinatura de acordo entre o Brasil e

o Paraguai, logo, é considerada uma empresa

juridicamente internacional, com jurisprudência

própria.

recursos minerais em seus respectivos territórios, plataformas continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, e dá outras providências.

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A Itaipu apresenta um caráter singular de

arrecadação e distribuição dos recursos recolhidos,

com repasses financeiros superiores a média paga

(quando comparado com outras usinas pelo país) em

forma de compensação financeira por produção de

energia. Nesse sentido, o objetivo deste estudo é

analisar a aplicação destes Royalties que, no discurso

político e jurídico, pretendem promover o

desenvolvimento social, econômico e ambiental dos

municípios lindeiros ao Lago de Itaipu.

Como desdobramento do objetivo indicado acima,

essa pesquisa aborda, também possíveis problemas

que os municípios lindeiros enfrentarão com a

renegociação do ANEXO C ao TRATADO DE

ITAIPU, previsto para 20232

, o qual regula o

pagamento dos royalties. Pretende-se analisar o

planejamento estabelecido pelos municípios lindeiros

para, fomentar investimentos produtivos que

proporcionem à manutenção do desenvolvimento

posterior a revisão do valor de repasse dos Royalties.

Por se tratar de uma empresa Binacional com

investimento de recursos brasileiros e paraguaios e

pagamento de compensação a ambos os países,

objetiva-se analisar como ocorre o pagamento desse

recurso também no lado paraguaio, sua destinação e

aplicação.

OBJETIVO

Analisar os resultados da aplicação dos

Royalties pagos pela Usina Hidrelétrica de Itaipu

Binacional para promover o desenvolvimento social,

econômico e ambiental da região de fronteira entre o

Brasil e o Paraguai.

Verificar possíveis impactos que os municípios

brasileiros que atualmente recebem os Royalties,

2 ANEXO C - (Brasília, 26.04.1973), Bases Financeiras e de Prestação dos Serviços de Eletricidade da ITAIPU. Para os efeitos do presente Anexo entender-se-á por: I.1 – Entidades: a ELETROBRÁS, a ANDE ou as empresas ou entidades brasileiras ou paraguaias por elas indicadas, conforme o Artigo XIV do

Tratado assinado pelo Brasil e Paraguai em 26 de abril de 1973.

poderão sofrer em decorrência da revisão do Anexo

C do Tratado de Itaipu.

Compreender as particularidades e diferenças no

processo de normatização da distribuição dos

Royalties entre o Brasil e o Paraguai.

JUSTIFICATIVA

A pesquisa agrega como propósito a discussão da

aplicação dos recursos, analisando se os mesmo

resultaram em benefícios permanentes para o bem

estar social da população afetada, promovendo o

desenvolvimento econômico, social e ambiental dos

municípios atingidos pela formação do reservatório

da Usina, nos territórios brasileiro e paraguaio.

Em decorrência do grande valor recebido e do

grau de dependência dos municípios (no caso

brasileiro) frente a esse recurso, o presente estudo

tem como propósito discutir os possíveis impactos

que os municípios poderão sofrer com a revisão do

Anexo C do Tratado de Itaipu assinado em 1973.

O valor de repasse mensal varia conforme a

geração de energia, a cotação da moeda-dólar e a área

submersa de cada município. Esses recursos podem

ser usados para construção de infra-estrutura nos

municípios, sendo vetada sua utilização para o

pagamento de folha de pessoal e de dívidas, ficando a

aplicação dos Royalties a critério de cada município,

o qual planejará a destinação conforme seus

interesses e necessidades locais.

A esse respeito

a premissa básica para essa compensação é que

uma vez que o capital natural foi utilizado para

promover uma atividade econômica e essa atividade resultou em externalidades negativas,

tem-se uma redução do bem estar da sociedade

(SILVA, 2007, p. 34)

Os recursos pagos na forma de Royalties diferem

da compensação financeira instituída pela

Constituição Federal de 1988, por apresentarem

valores de indenização superior ao estabelecido pela

Constituição devido ao cálculo diferenciado e a não

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recolha de 0,75% referente a cobrança da água

destinada ao Ministério de Meio Ambiente (SILVA,

2007).

O valor superior pago pela Hidrelétrica de Itaipu

através dos royalties decorre devido “a taxa de

câmbio que incide no valor mensal do repasse feito

por Itaipu aos municípios, já que o preço da energia

produzida pela usina é dolarizado”. (ROCHA, 2012,

p. 08).

O cálculo do repasse foi estabelecido com base na

área submersa, a cotação do dólar e o percentual de

energia produzida. Mensalmente os municípios

lindeiros ao Lago de Itaipu (no caso do Brasil)

recebem os Royalties. Segundo Oliveira (2008), a

realidade financeira dos municípios lindeiros é bem

diferente dos demais municípios do Paraná,

principalmente pelo repasse dos Royalties, recurso

que modifica a estrutura orçamentária dos

municípios, alterando o resultado econômico e o

desenvolvimento regional.

METODOLOGIA

Com o propósito de atingir os objetivos previstos,

a pesquisa é amparada por uma abordagem

bibliográfica, documental e de campo. Está em curso

o levantamento de um conjunto de indicadores

sociais e econômicos, a partir do IBGE e IPARDES,

dos municípios brasileiros para avaliar a situação

anterior ao início do recebimento dos Royalties e nos

anos subseqüente a esses repasses.

O levantamento tem por objetivo analisar se os

recursos recebidos promoveram o desenvolvimento

social e econômico nos municípios que recebem os

Royalties, bem como na região abrangente, busca-se

avaliar a evolução dos indicadores e os benefícios

resultantes para a população.

A fase de pesquisa documental ocorre nas

prefeituras dos municípios e no escritório do

Conselho de Desenvolvimento dos Municípios

Lindeiros ao Lago de Itaipu, com sede em Santa

Helena, com o objetivo de analisar estudos e

levantamentos desses órgãos quanto aos impactos

que poderão ocorrer com a revisão do Anexo C do

Tratado de Itaipu, o qual ocorrerá no ano de 2023,

com possível redução significativamente do valor de

repasse dos Royalties.

No estudo também estão previstas entrevistas

para, abordar a revisão do Anexo C do Tratado de

Itaipu perante aos gestores públicos municipais e as

lideranças dos Lindeiros, com o objetivo de perceber

a mobilização dessas autoridades diante da alteração

e a percepção dos mesmos para a possível mudança,

enaltecendo quais medidas estão planejadas para

minimizar possíveis impactos.

Para compreender a dinâmica social, econômica,

ambiental e política que envolve a construção de uma

Usina Hidrelétrica, desde o planejamento até sua

construção final, será de grande relevância a consulta

às dissertações e teses sobre o assunto, e ao acervo

documental digital on-line do “Centro da Memória da

Eletricidade no Brasil”, localizado na cidade do Rio

de Janeiro, o qual abriga a principal biblioteca sobre

o setor elétrico do País.

Para viabilizar o estudo em uma perspectiva mais

ampla, para além do território brasileiro, foi

estabelecido contato com autoridades do lado

paraguaio com o objetivo de estudar a sistemática

adotada pelo país vizinho para a divisão, distribuição

e aplicação dos Royalties, buscando compreender a

dinâmica de aplicação desses recursos na fronteira

Brasil e Paraguai.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para Santos (2004), o território em um primeiro

momento é fruto das feições naturais e das

construções e adaptações do homem através das

técnicas. Porém a estrutura material e o dinheiro vão

impondo novas circunstâncias de vida a toda a

sociedade. Desta forma, podemos analisar que as

alterações estruturais e financeiras, que os municípios

lindeiros e sua população obtiveram no decorrer dos

últimos anos com o repasse dos Royalties, criaram

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uma mentalidade de que estes recursos não seriam

findáveis, fazendo uso momentâneo do dinheiro sem

criar mecanismos de desenvolvimento posterior.

Caso ocorra a diminuição do repasse desses

valores, os municípios terão de reorganizar sua

economia, a gestão pública dos recursos, iniciar corte

de gastos públicos, repensar prioridades e,

principalmente resolver a insatisfação da população

perante a falta de receitas e o problema da

manutenção da estrutura criada durante o período do

recebimento dos Royalties.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO ANEEL. Agencia Nacional de Energia Elétrica.

Compensação financeira pela utilização de recursos hídricos para a geração de energia elétrica. Brasília, DF,

2008. (Cadernos temáticos ANEEL, n. 2).

BRASIL. Decreto nº 72.707, de 28.8.1973. Promulga o

Tratado de 26.4.1973, celebrado entre a República

Federativa do Brasil e a República do Paraguai, bem como

as seis Notas trocadas entre os Ministros das Relações

Exteriores dos dois países. Publicado no “Diário Oficial”

de 30.8.1973, págs. 8.642-45.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil,

de 05 de outubro de 1988. Publicado no D.O.U. de 05.10.1988.

BRASIL. Lei 7990, 28 de dezembro de 1989. Publicada no

D. O. U. de 18.01.1990.

ROCHA, Renata Rodrigues de Castro, A revisão do

tratado de Itaipu e a necessidade de um novo marco

regulatório para a compensação financeira pelo uso dos

recursos hídricos: um desafio para o Brasil de 2023. 2012.

Universidade Federal de Viçosa (UFV). Viçosa, MG.

SANTOS, M.. Por uma outra globalização: do

pensamento único à consciência universal. 11 Ed. Rio de

Janeiro: Record, 2004.

SILVA, L. L. da. A compensação financeira das usinas

hidrelétricas como instrumento econômico de

desenvolvimento social, econômico e ambiental. 2007.

157p. Dissertação (Mestrado em Gestão Econômica do

Meio Ambiente). Departamento de Economia –

Universidade de Brasília (UnB). Brasília.

ITAIPU BINACIONAL. Royalties. 2017. Disponível em:

<http://www.itaipu.gov.br>. Acesso em: 01 maio de 2017.

________. Royalties. 2017. Disponível em:

<http://www.itaipu.gov.br>. Acesso em: 01 maio de 2017.

OLIVEIRA, Leoveraldo Curtarelli de. Economia, instituições e royallties: o caso dos municípios lindeiros ao

lago de Itaipu Binacional no oeste paranaense. 2008.

Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e

Agronegócio) – Toledo, Universidade Estadual do Oeste

do Paraná. Disponível em:

http://tede.unioeste.br/tede/tde_arquivos/2/TDE-2008-07-

17T132449Z-253/Publico/Leoveraldo%20C

%20de%20Oliveira.pdf. Acesso em: 17 de março de 2017.

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APONTAMENTOS INICIAIS SOBRE INTERAÇÕES ECONÔMICO-COMERCIAIS E DE

CONSUMO NUM SEGMENTO DA ZONA DE FRONTEIRA BRASIL/PARAGUAI: GUAÍRA

(PR) E SALTO DEL GUAIRÁ (CANINDEYÚ)

Ana Paula Azevedo da Rocha1; Maristela Ferrari

2

1Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia (Bolsista Capes), Unioeste/Marechal Cândido Rondon,

[email protected]

2Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia /Marechal Cândido Rondon.

INTRODUÇÃO

Refletir sobre interações econômcio-comerciais e

de consumo em zonas de fronteira implica em pensar

imediatamente no poder político dos territórios e em

conflitos entre a escala local (população) e a escala

nacional (governo). O limite fronteiriço é ao mesmo

tempo elemento de fechamento dos territórios e de

atuação de distintos poderes dos Estados nacionais,

(RAFFESTIN, 1993). Mas, pode-se pensar que, em

zonas de fronteira, o Estado nacional não é a única

fonte de poder, o poder também está em diferentes

atores econômicos e sociais. Assim, em espaços

fronteiriços, pode se estabelecer poderes antagônicos:

de um lado o poder de proteção aos territórios, de

outro lado, o poder econômico-comercial que

estimula o consumo.

Guaíra e Salto Del Guairá (que podem ser

observadas na Figura 1 - mapa de localização dos

municípios estudados), constituem bom exemplo de

análise graças à recente exploração das disparidades

fronteiriças, sobretudo no campo econômico-

comercial e monetário. Uma observação empírica

destas cidades indica que passaram recentemente por

significativas transformações. Até o começo de 1980

as duas cidades mantinham fracas redes de interações

transfronteiriças entre si. Entretanto, a partir das

décadas de 1980 e 1990, sucessivas mudanças

econômicas e sociais foram responsáveis por

alterações nestas interações, notadamente das

interações econômico-comerciais e de consumo.

Figura 1: Mapa de localização da área de estudo.

Um dos fatores de tais mudanças foi a construção

da Ponte nacional Ayrton Sena (1994-1997), ligando

o Paraná ao Mato Grosso do Sul, o que favoreceu a

circulação e permitiu que as duas cidades passassem

a explorar as descontinuidades territoriais

estabelecendo inúmeras redes de interações

transfronteiriça até então quase inexistentes. Frente a

tais mudanças, Salto Del Guaíra, passou a receber

grandes investimentos no setor econômico-comercial

com a construção de inúmeros shoppings e lojas

tornando-se rapidamente polo comercial a exemplo

de outras cidades fronteiriças do Paraguai: como,

Pedro Juan Caballero e Cuidad Del Este.

Atualmente Salto Del Guairá mobiliza intensos

fluxos de consumidores brasileiros, fluxos que

parecem extrapolar a escala local da zona fronteiriça.

Quais são as escalas dos consumidores brasileiros?

Essa é a questão central do presente trabalho. O

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44

mesmo faz parte de trabalho mais amplo que é a

pesquisa de mestrado que estamos desenvolvendo

junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia

da UNIOESTE – Campus Marechal Cândido

Rondon.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os principais procedimentos operacionais deste

trabalho consistiram em revisão teórico-bibliográfica

sobre território, fronteira, limite, rede e escala

geográfica, categorias que servem de base para que se

possa analisar nossa problemática; e pesquisa de campo

nas cidades de Guaíra e Salto Del Guairá. A pesquisa

de campo baseou-se na pesquisa qualitativa, tendo em

vista que essa modalidade de pesquisa poderia

responder de maneira mais eficiente à indagação que

este trabalho estabelece. Ainda neste sentido é válido

considerar a fala de Raffestin (1993), com relação a

estudos qualitativos e quantitativos sobre território:

[...] É ilusão pensar que a passagem do

qualitativo ao quantitativo leva a fazer um salto

positivo na direção da clareza, uma vez que a

problemática permanece idêntica. O único

ganho possível é na coerência. Não é de se

desprezar, muito pelo contrário, mas é

insuficiente. (RAFFESTIN, 1993, p. 24).

A compreensão do processo de funcionamento e da

motivação das ações observadas foram norteadores da

pesquisa, e por conta disto a opção pela metodologia

qualitativa. Para a elaboração dos mapas de localização

foram utilizados dois softwares: QGIS, no qual as

bases cartográficas foram manipuladas. Posteriormente

fizemos uso do CorelDRAW, para organizar o mapa, a

fim de que ele tivesse a configuração atual.

RESULTADOS

As recentes mudanças ocorridas na zona

fronteiriça de Guaíra e Salto Del Guairá, têm

propiciado inúmeras interações transfronteiriças,

tanto legais quanto ilegais. Na escala local, as

primeiras pesquisas de campo apontam que de Guaíra

para Salto Del Guairá, além dos fluxos de

consumidores, outros fluxos se estabelecem

cotidianamente, dentre eles, os fluxos de brasileiros

que trabalham no lado paraguaio. Já de Salto Del

Guairá para Guaíra os fluxos mais frequentes são

aqueles de consumidores de produtos de consumo

correntes (supermercados), além de fluxos menos

densos e pouco frequentes (busca de serviços

médico-hospitalares).

Assim, pode-se dizer, com cautela, que os fluxos

mais densos de consumidores são estabelecidos por

atores de cidades brasileiras de outras escalas

regional e extra-regional. Esta situação tem sido

observada nos primeiros trabalhos de campo,

momentos em que foi possível constatar através de

entrevistas e de observações das placas de veículos, a

presença de consumidores de diversas cidades da

escala nacional brasileira. A presença de

consumidores de municípios próximos é muito

frequente, como: Toledo, Marechal Cândido Rondon,

Cascavel, Terra Roxa, Campo Mourão, Umuarama,

Cianorte e de inúmeras cidades de Mato Grosso do

Sul. São também frequentes consumidores de cidades

que estão a cerca de 300 e 400 quilômetros dentre

elas, Londrina, Maringá, Arapongas, Apucarana,

Paranavaí. Pelas placas de veículos, pelas entrevistas

com consumidores e a coleta de dados em hotéis de

Guaíra, foi possível verificar também, com menor

frequência, a presença de consumidores de outras

regiões do país, como, região Sudeste, Centro-Oeste

e Nordeste, dessas regiões, destaca-se a presença de

consumidores de várias cidades de São Paulo, em

menor densidade de cidades do Rio de Janeiro, Minas

Gerais, Ceará, Espírito Santo. Isso evidencia a

capacidade de Salto Del Guairá de mobilizar fluxos

de compradores de diversas regiões do país, uma

mobilidade que extrapola a escala da zona fronteiriça.

Frente à centralidade comercial de Salto Del Guairá

o poder econômico-comercial daquela cidade se

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45

fortalece e adquire poder, assim, no segmento

fronteiriço brasileiro-paraguaio formado por Guaíra e

Salto Del Guairá se estabelecem poderes

antagônicos, de um lado o poder de proteção dos

territórios, de outro lado, o poder econômico-

comercial que estimula o consumo. Neste sentido

poderíamos pensar em uma multiterritorialidade, já

que o território adquire dois sentidos: o sentido

político, que tradicionalmente é atribuído aos

territórios; e o sentido econômico, já que ele se

estabelece a partir de uma área comercial voltada

para o consumo.

Enquanto no lado brasileiro a Receita Federal

tenta controlar a fuga de capitais, a entrada ilegal de

produtos e mercadorias oriundas do Paraguai, no lado

paraguaio não se observa o controle de entrada ou de

saída de brasileiros. Apesar de existir um posto de

fiscalização e um grande fluxo de veículos, o que se

percebe é uma atuação do poder econômico que

atende as pessoas que se dirigem a cidade de Salto de

Guairá, como obra de duplicação de estradas,

controle de estacionamento, e ao longo de anos a

produção do espaço de compras, com o aparecimento

de lojas e shoppings.

Neste sentido, é possível perceber, de acordo com

a ideia de Haesbaert (2004) um processo de

reterritorialização, o território que outrora era apenas

de interesse do Estado paraguaio passa a receber a

atenção da iniciativa privada que atua reconstruindo o

Espaço Geográfico local e dando um novo

significado para o território e instituindo

multiterritorialidades. Ainda de acordo com a ideia

de Haesbaert (2004), essas novas relações que se

estabelecem no Paraguai são exemplos do poder

como fruto de múltiplas fontes e também como algo

que não é exercido apenas pelo poder central do

Estado nacional, e sim como resultante de diversos

atores sociais, e das relações que articulam ou

estabelecem entre os diferentes poderes.

(RAFFESTIN, 1993).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho é fruto de uma reflexão inicial da

problemática da dissertação de mestrado, por essa

razão, as considerações são no sentido de apontar a

diversidade de perspectiva com que se pode analisar

a relação entre as cidades de Guaíra e Salto Del

Guairá. No entanto, apesar desta diversidade, as

relações de poder e a dinâmica que ocorre no

território são elementos fundamentais para que se

compreenda a articulação geográfica transfronteiriça.

AGRADECIMENTOS: Agradecemos a Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) pela bolsa de estudos de mestrado, tendo em

vista que o apoio financeiro é fundamental para o

desenvolvimento da pesquisa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria de

Programas Regionais. Programa de Desenvolvimento da

Faixa de Fronteira. Proposta de Reestruturação do

Programa de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira:

Bases de uma Política Integrada de Desenvolvimento Regional para a Faixa de Fronteira. Brasília: Ministério da

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AS RELAÇÕES NÃO CAPITALISTAS DE PRODUÇÃO E A SUJEIÇÃO DA RENDA DA

TERRA CAMPONESA NA PRODUÇÃO DE TABACO

Jennifer Paola Vicini

Acadêmica do Programa de pós-graduação em Geografia, nível mestrado da UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido

Rondon, [email protected] .br.

INTRODUÇÃO

O processo de reprodução das relações capitalistas

a partir da subordinação de relações não capitalistas

de produção que se estabelecem no campo, em

especial na produção de tabaco realizada pelo

campesinato, é o eixo central deste trabalho.

Todo este processo, de sujeição da renda terra

camponesa ao capital, a monopolização do território

camponês pelo capital, as relações não capitalistas de

produção, que na verdade para o capital, é relação

capitalista, pois permite que ele possa se reproduzir,

são contradições e fatos, presentes na produção de

tabaco.

Existe na relação entre camponês e capital uma

forte exploração e subordinação camponesa ao

sistema capitalista. E será debatido, como essa

subordinação está presente na produção de tabaco.

Sabendo-se que o capital só irá introduzir alguma

relação com qualquer indivíduo, se esta relação lhe

garantir um lucro certo, se pode afirmar que a partir

do momento em que empresas capitalistas, buscam a

propriedade camponesa para estabelecer uma relação

de produção, certamente o camponês será explorado

para o capital acumular. Isto se confere na produção

de fumo.

Na produção de fumo, ocorre isto, uma vez, que

empresas fumageiras vão até o camponês, para

buscar, iniciar uma relação de produção entre ambas

as partes. A família camponesa não produz fumo de

maneira independente, bem como, o camponês, não

produz o fumo e vende de forma autônoma. Isto

significa dizer, que aonde há produção de fumo, há o

capital inserido na propriedade camponesa.

A empresa fumageira é quem busca o camponês.

O maior interesse em iniciar a produção de tabaco,

parte da empresa capitalista, sendo que, o cerne desse

interesse, são as relações não capitalistas de produção

que a indústria fumageira encontra na propriedade

camponesa. O cultivo de fumo necessita pouca área

de terra para produzir, então a propriedade

camponesa é ideal para a indústria fumageira, bem

como, não necessita mecanização, a força de trabalho

familiar basta e está força de trabalho a empresa

fumageira encontra na família camponesa.

Dessa forma há a exploração, pelo setor industrial,

das relações não capitalistas típicas do campesinato,

acarretando na exploração dos últimos nesse

processo. No entanto esta exploração do campesinato

é diferente da exploração dos trabalhadores

assalariados, visto que o que se explora no cultivo do

fumo, não é à força de trabalho, embora seja

necessária, pois o camponês e sua família dedicam

meses de trabalho, mas o objetivo central, desta

relação é o fruto do trabalho familiar, a produção de

fumo, propriamente dita.

Neste sentido é importante compreender que na

produção de tabaco o capital monopoliza a produção

camponesa de forma que, os resultados do trabalho

da família camponesa são subordinados pela indústria

fumageira. O raciocínio de Martins (1986, p.174) é

pertinente nesta discussão, ao refletir que “o grande

capital se articula com a pequena produção familiar,

controlando a comercialização dos produtos

agrícolas”.

O entendimento de Martins é oportuno, e convém

de exemplo na discussão da produção de fumo, uma

vez que, a empresa fumageira se articula com a

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produção familiar, e subordina a produção do

camponês, ou seja, toma posse do fumo, como

também controla tudo o que gira em torno dessa

produção.

É importante enfatizar que a propriedade é do

camponês, que o mesmo possui autonomia,

entretanto, nesta relação não capitalista, que o capital

se apropriou na pequena propriedade, o camponês

tem seu trabalho sujeito e dominado pelo capital, e o

trabalho do camponês sujeito ao capital, é a renda da

terra1 camponesa sujeita ao capital, ou seja, a renda

da terra neste caso é o produto do camponês, o fumo

que se torna o lucro do capital.

A subordinação da renda da terra camponesa é o

resultado, desta relação de produção, bem como, pela

monopolização do território camponês pelo capital.

Isto porque, o capital cria condições a partir das

relações não capitalistas de produção, de subordinar

toda a produção camponesa. Ocorre esta sujeição da

renda da terra na produção de fumo, uma vez que,

uma única empresa fumageira monopoliza o produto

do camponês. Monopoliza estabelecendo preços,

realizando a circulação do produto. Os argumentos de

Martins, ajudam a compreender este processo, que

leva a subordinação camponesa pela renda da terra,

Na medida em que o produtor preserva a

propriedade da terra e nela trabalha sem o

recurso do trabalho assalariado, utilizando

unicamente o seu trabalho e o da sua família, ao mesmo tempo em que cresce a sua

dependência em relação ao capital, o que

temos não é a sujeição formal do trabalho ao

capital. O que essa relação nos indica é outra

coisa, bem distinta: Estamos diante da

1 A renda da terra é uma categoria especial na economia

política, porque ela é um lucro suplementar, permanente,

sendo, pois a renda da terra um lucro extraordinário

permanente, ela é, portanto produto do trabalho excedente,

ou seja, é fração da mais valia, e mais precisamente,

componente particular e específico da mais-valia.

(OLIVEIRA, 1984, p. 94).

sujeição da renda da terra ao capital.

(MARTINS, 1986, p.175).

Dessa forma a indústria fumageira, não se torna

dona da propriedade do camponês, ou seja, não

compra a terra, mas, cria todas as circunstâncias para

subordinar a produção do camponês, ou seja, para

sujeitar a renda da terra. Martins auxilia nesta

compreensão,

Onde o capital não pode tornar-se proprietário real da terra para extrair juntos o

lucro e a renda, ele se assegura o direito de

extrair a renda. Ele não opera no sentido de

separar o proprietário e o capitalista, mas no

sentido de juntá-los. Por isso, começa

estabelecendo a dependência do produtor

em relação ao crédito bancário. (MARTINS,

1986, p.176).

Martins, mostra no seu raciocínio, como o capital

quer ser juntar, com camponês, para assim o sujeitar,

já que, se não consegue comprar a terra, o capital se

apropria da renda da terra. Este raciocínio é

conveniente com o que ocorre na produção de tabaco,

uma vez que, para empresa fumageira é favorável,

criar uma relação de produção com o camponês, pois,

não precisa comprar a terra, é só sujeitar a renda da

terra camponesa. E consegue sujeitar toda a renda da

terra camponesa, porque torna o camponês seu

dependente, pois é quem compra o fumo, além dos

financiamentos que possui com a fumageira.

A indústria fumageira monopoliza toda a

produção de tabaco, explorando assim não o trabalho

do camponês, e sim o fumo, que o mesmo produz. O

dizer de Paulino (2006, p. 108) se torna cabível, para

entender isso,

[...] nas formas não tipicamente capitalistas,

especificamente na agricultura camponesa,

não é o trabalho, mas o produto que o contém, que irá compor a taxa de lucro dos

capitalistas, o que os camponeses vendem,

no capitalismo, é o produto no qual está

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contido o trabalho da família (PAULINO,

2006, p.18).

Neste sentido, a empresa fumageira se apropria da

renda da terra camponesa, esta renda é o fumo, o

produto, porém nele esta contido todo o trabalho da

família, mas como a relação é tipicamente não

capitalista, o camponês recebe apenas pelo seu

produto.

Assim é de suma importância compreender o

processo de produção de tabaco, para assim entender

as estratégias capitalistas em monopolizar o território

camponês e produzir capital através da sujeição da

renda da terra.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho tem como base as reflexões iniciais

no mestrado em Geografia, bem como, a pesquisa de

monografia em Geografia (Subordinação e

Resistência camponesa na produção de tabaco em

Porto Mendes, Marechal Cândido Rondon-PR), na

qual, buscou-se entender as contradições que

envolvem a produção de tabaco desenvolvida nas

propriedades camponesas, com enfoque no distrito de

Porto Mendes, município de Marechal Cândido

Rondon-PR.

Desse modo, expande-se a pesquisa no mestrado,

para compreender o processo de territorialização da

produção de fumo na messorregião Oeste do Paraná

considerando a relação dialética entre a sujeição da

renda da terra e as formas de resistência do

campesinato.

Dessa forma o objetivo principal é analisar

criticamente a inserção das empresas fumageiras na

propriedade camponesa, problematizando a

apropriação pelo capital da renda produzida pelos

camponeses. Isso deve ser analisado para se

compreender a subordinação da produção e,

consequentemente, da renda da terra que ocorre nesse

sistema de integração às empresas fumageiras. Sendo

que é necessário compreender o porquê dos

camponeses aceitarem, a partir de sua própria

iniciativa, se submeterem a produção de tabaco.

Assim, também é necessário analisar a produção de

tabaco enquanto resistência camponesa para

permanecer no campo.

Nesse Sentido, o método utilizado consiste

primeiramente, no levantamento dos referenciais

teóricos e leituras sobre a temática da pesquisa, sendo

que esta etapa será contínua, ou seja, sempre se estará

buscando referenciais teóricos de modo a dar

dinamicidade e flexibilidade a própria pesquisa.

É válido ressaltar que faz parte da metodologia da

pesquisa um levantamento de dados, o qual já foi

realizado, sobretudo, por meio da utilização de dados

do Instituto Paranaense de Desenvolvimento

Econômico e Social (IPARDES) para reconhecer de

forma quantitativa quais são os municípios que

produzem tabaco na messorregião Oeste do Paraná.

Desse modo foi realizado um recorte dentre os 50

municípios da região, elencando os maiores

produtores de tabaco como os primordiais na

realização da pesquisa e nos trabalhos de campo que

serão realizados, sendo estes alguns dos municípios

lindeiros ao lago de Itaipu: Itaipulândia, Marechal

Cândido Rondon, Mercedes, Missal, Santa Helena e

São Miguel do Iguaçu.

Nesse sentido, a pesquisa consiste nas reflexões

teóricas, bem como, articulada aos trabalhos de

campo, com as entrevistas que serão realizadas com

os camponeses produtores de fumo, sendo estas

etapas de suma importância para compreensão das

contradições implícitas a produção de tabaco.

RESULTADOS

Conforme pesquisa já realizada em torno da

discussão que se propõem neste presente trabalho e

as reflexões iniciais que estão sendo desenvolvidas

no mestrado de Geografia, os resultados obtidos com

as revisões bibliográficas relacionadas ao tema aqui

proposto, demonstram que ocorre de forma acentuada

a expansão do capitalismo para o campo, sobretudo,

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com a integração da indústria e agricultura que ocorre

de forma desigual e permeada por contradições,

sendo isso fato pertinente na produção de tabaco.

De todo modo, os resultados desta pesquisa estão

explícitos nas diferentes discussões deste presente

trabalho, de forma que demonstram as contradições

da produção de tabaco que sujeita a renda da terra do

camponês a partir de relações não capitalistas de

produção, ou seja, o capital inserido no campo, nas

propriedades camponesas não age de forma

tipicamente capitalista, pois se utiliza de elementos

dos camponeses para sua acumulação, sendo um

destes o próprio trabalho familiar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se assim que são várias as contradições

que giram em torno do capitalismo, primordialmente,

quando esse, se insere no campo e exclui o

camponês, ou então, o subordina para garantir sua

reprodução ampliada, sendo o último, fato que ocorre

na produção de fumo.

Percebe-se assim que o capital é contraditório e se

recria também com formas não capitalistas de

produção, ou seja, esta relação de expansão do capital

que ocorre na propriedade camponesa, não é uma

relação tipicamente capitalista, pois não é fundada

em trabalho assalariado e capital, ou seja, o

camponês não é assalariado e não depende dos meios

de produção que o capital possui. O camponês é dono

dos meios de produção. Portanto na propriedade

camponesa ocorre o processo contraditório do capital,

o capital se apropria de relações não capitalistas para

acumular. O capital, por meio dessa relação, se

reproduz através da subordinação do camponês

sujeitando a renda da terra.

Neste âmbito a produção de tabaco é uma cadeia

produtiva que mantém o camponês endividado e

subordinado a uma empresa fumageira. Desse modo,

é preciso reconhecer o tabaco como uma produção

que é voltada para o capital industrial e para a

acumulação do mesmo. Assim, o capital industrial

torna a propriedade camponesa uma unidade de

produção, que garante acúmulo de capital através da

extração da renda da terra camponesa.

A análise da subordinação da renda da terra

camponesa foi fundamental para a conclusão de que

há a territorialidade do capital industrial na

propriedade camponesa, o qual se reproduz através

de relações não capitalistas de produção,

desenvolvidas na propriedade camponesa, a exemplo,

o trabalho familiar.

E válido afirmar nesta finalização que a

subordinação à indústria fumageira é uma relação

dialética, pois possibilita a reprodução camponesa,

funcionando como uma estratégia de sobrevivência,

combinando esta, com outras estratégias que

garantem a autonomia e resistência ao campesinato.

AGRADECIMENTOS: Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) pela concessão de bolsa de estudos.

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE AS REDES DE INTERAÇÕES TRANSFRONTEIRIÇAS

ENTRE PATO BRAGADO (PR) E COLÔNIA MARANGATU (NUEVA ESPERANZA-

CANINDEYÚ- PY)

Aline Kammerl1; Maristela Ferrari

2;

1 Graduação em Geografia ,UNIOESTE /Campus Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2 Docente do PPGG - UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo trazer

algumas contribuições sobre redes de interações

transfronteiriças num segmento da zona de fronteira

brasileiro-paraguaia. Tais contribuições fazem parte

de trabalho mais amplo que é o Trabalho de

Conclusão de Curso (TCC) que ora estamos

desenvolvemos. O recorte espacial da pesquisa é a

cidade de Pato Bragado (Paraná-Brasil) limítrofe a

localidade de Puerto Marangatu também conhecida

como colônia Puerto Marangatu pertencente a Nueva

Esperanza – (Canindeyú-Paraguay) (Figura 1).

Figura 1. Localização da área estudada.

Fonte:https://www.google.com.br/maps/search/mapa+poli

tico+de+canindeyu. Acessado em 01 de agosto de 2017.

Organização e Arte: Kammer Aline

Embora se verifique que historicamente Pato

Bragado vem mantendo interações transfronteiriças

com o lado paraguaio, o recorte temporal da pesquisa

é a partir de 1982, quando ocorre a formação do Lago

da Itaipu o que vai criar maiores facilidades para a

passagem do território brasileiro ao paraguaio e vice-

versa. Desde a formação do Lago da Itaipu, essa zona

de fronteira tem apresentado significativas interações

transfronteiriças. A travessia do limite internacional

entre os dois territórios nacionais se faz por meio de

embarcações, tanto coletivas quanto individual

(pequenos botes ou barcos). Esse movimento diário

acaba tecendo diferentes redes de interações entre a

população brasileira e paraguaia. Portanto, neste

trabalho queremos responder a seguinte questão: Que

tipo de redes geográficas se estabeleceram e ainda

hoje se estabelecem entre Pato Bragado e Puerto

Marangatu?

A fim de responder a questão central deste

trabalho, cabe inicialmente abordar o conceito de

rede para explicar o porquê do uso desse conceito na

análise das interações transfronteiriças de um

segmento da zona de fronteira do Brasil com o

Paraguai. É importante esclarecer que, neste trabalho

o uso da categoria zona de fronteira, é entendido

segundo Ferrari (2015):

[...] a zona de fronteira pode ser entendida

como espaço que emerge da demarcação do

limite político territorial entre dois Estados Nacionais; ela se encontra na confluência entre

dois territórios fundados sobre duas culturas e

identidades nacionais construídas dentro da

oposição entre “nós e os outros”. Mas, longe

de ser apenas espaço político geográfico,

marcado pela diferença cultural, identidade

nacional e pertencimento territorial, a zona de

fronteira é também espaço social e cultural.

(FERRARI, 2015, p.2).

A partir da noção de zona de fronteira como

espaço de interações transfronteiriças sugerida por

Ferrari (2015) pode-se analisar a zona fronteiriça

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como espaço social aberto onde se estabelecem

relações reticulares, daí a importância do conceito de

rede, sobretudo da rede social como ferramenta

teórico-metodológica. Nessa perspectiva, Scherer-

Warren (2005) argumenta que, o uso teórico e

metodológico das redes sociais permite verificar

empiricamente “as diferentes formas ou intensidade

das relações sociais num determinado campo social

como: parentesco, amizade, vizinhança, religião, etc.

– (modelo metodológico operacional para as

pesquisas empíricas)” da população que habita as

duas margens do limite internacional (SCHERER-

WARREN, 2005, p. 30). Noção eminentemente

geográfica, Santos (1999, p 209) nos lembra que a

rede não é só técnica,

[...], a rede é também social e política, pelas

pessoas, mensagens, valores que a freqüentam. Sem isso, e a despeito da

materialidade com que se impõe aos nossos

sentidos, a rede é, na verdade, uma mera

abstração.

É neste sentido que analisaremos as redes de

interações geográficas transfronteiriças. Nessa

direção, Haesbaert (1998) contribui argumentando

que as interações transfronteiriças podem ser

analisadas sob a lógica reticular, como a redes de

trabalhadores, redes comerciais e financeiras, redes

culturais, redes político-eleitorais, redes ligadas a

busca de serviços de saúde e educação etc. Segundo

este autor, outra rede que pode se formar entre as

áreas fronteiriças é a “rede da migração, rede que

forma, por vezes, “regiões” brasileiras para o interior

dos países vizinhos”. (HAESBAERT, 1998. p.68).

Frente a tal pensamento consideramos importante

analisar a tipologia das redes de interações entre os

fronteiriços de Pato Bragado e Puerto Marangatu

objetivando posteriormente analisar que fatores são

responsáveis pelas articulações reticulares

transfronteiriças.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para esse trabalho o método de pesquisa adotado foi

o qualitativo por ser mais adequado ao nosso estudo e

os materiais mobilizados foram: referenciais teóricos

bibliográficos pertinentes ao tema das redes de

interações transfronteiriças e pesquisa de campo com

entrevistas, que foram gravadas e posteriormente

transcritas e analisadas.

RESULTADOS

Atualmente existem muitos estudos sobre

fronteira no Brasil, no entanto, verifica-se que em tais

estudos, tanto na escala regional quanto nacional, não

há nenhum estudo ou pesquisa tratando sobre as

redes de interações transfronteiriças entre Pato

Bragado (Paraná-Brasil) e Puerto Marangatu colônia

de Nueva Esperanza – (Canindeyu-Paraguai).

Pode-se dizer, segundo a pesquisa de campo, que

as redes de interações transfronteiriças nesta zona de

fronteira vêm desde o processo de colonização1 de

ambos os lados do limite internacional, notadamente

redes de trabalhadores e rede da migração, essa

última, notadamente por brasileiros em direção ao

lado paraguaio. Eram redes geográficas

transfronteiriças pouco densas e não apresentavam

fluxos contínuos.

No entanto, após a formação do Lago da Itaipu

(1982) as redes de interações transfronteiriças

começaram a se intensificar. Segundo a pesquisa de

campo, atualmente, temos a presença fortíssima de

pessoas que migram de Colônia Marangatu para o

lado brasileiro (Pato Bragado), migração fomentada,

sobretudo, pela busca de trabalho no lado brasileiro.

Neste sentido destacam-se as redes de trabalhadores.

A busca de trabalho no lado brasileiro é oriunda do

processo de mecanização das terras agrícolas no lado

paraguaio e crescimento dos grandes produtores

1 A colonização das terras pertencentes a Pato Bragado

data de 1946, quando ainda pertencia a Toledo, já as terras

pertencentes a Colônia Marangatu foram colonizadas em

1980, um processo tardio, influenciado pela barragem do

Itaipu.

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rurais em Marangatu que causam exclusão da terra e

o consequente desemprego no lado paraguaio. Por

outro lado, a busca por empregos no lado brasileiro

também está ligada aos direitos trabalhistas. Muitas

empresas de Pato Bragado garantem os direitos

básicos ao trabalhador, assinam a carteira, recolhem

as contribuições para a aposentadoria dos

trabalhadores o que torna um atrativo para esses

migrantes trabalhadores paraguaios.

Outra rede que se estabeleceu do lado paraguaio

para o lado brasileiro foi a rede pela busca de

serviços públicos gratuitos como educação e saúde.

Há fluxos sociais cotidianos de pessoas que atravessa

o limite em direção a Pato Bragado em busca de

saúde e educação. Essa rede se estabeleceu devido a

ausência de serviços públicos, gratuitos e de

qualidade no lado paraguaio. Em alguns aspectos

essa realidade tem aos poucos mudado, mas até

pouco tempo atrás, Marangatu não possuía escolas

com ensino médio (primeira turma em 2014), e os

estudantes paraguaios, para dar continuidade aos seus

estudos viam-se obrigados a atravessar o limite

internacional e buscar esse tipo de serviço público

nas escolas brasileiras de Pato Bragado. Muitos

estudantes paraguaios acabavam passando a semana

em casas de familiares ou amigos em Pato Bragado e

retornavam somente nos finais de semana para o lado

paraguaio.

Atualmente Marangatu já oferece ensino médio

aos alunos paraguaios, mas os fluxos de estudantes

paraguaios nas escolas de Pato Bragado ainda

continuam nos dias de hoje. Essa pratica, segundo a

pesquisa de campo, ainda acontece, pois alguns

estudantes optam por fazer uma educação continuada,

isto é, após o ensino médio ingressarem em curso

superior. As interações também ocorrem na área

saúde, e isso tem gerado constantes fluxos

transfronteiriços.

Na Colônia Marangatu não há atendimento de

saúde que supra a necessidade de seus moradores,

todos os entrevistados se referiram a um postinho de

saúde de baixa complexidade no lado paraguaio. Um

posto de saúde que faz apenas os primeiros-socorros.

Atendimento realizado por uma enfermeira, pois não

há médico. Já Pato Bragado conta com um posto de

saúde equipado, com médicos, ginecologista,

pediatra, psicólogo e também nutricionista, caso

precise de atendimento especializado como

ortopedista, cardiologista entre outros.

Em casos de alta e média complexidade os

médicos de Pato bragado encaminham o paciente

para hospitais e clínicas mais próximas nas cidades

vizinhas, como: Toledo e Cascavel. Os serviços

públicos e gratuitos de saúde, ausentes no lado

paraguaio e presentes no lado brasileiro, têm

promovido redes de interações transfronteiriças entre

os dois lados do limite internacional.

Além dessas redes acima destacadas, outras redes

de interações transfronteiriças foram constatadas,

como a rede de comércio que gera interações

cotidianas nessa zona de fronteira. Os pequenos

comércios, notadamente de gêneros alimentícios e

consumo correntes presentes na Colônia Marangatu

não atendem as todas as necessidades dos moradores

de lá. Segundo os entrevistados paraguaios, “lá tem

uma vendinha pequena de posse do balseiro, tem

itens básicos de comida a remédio”. Portanto, quando

se faz necessários produtos e gêneros alimentícios,

não encontrados em Marangatu, os moradores

atravessam o lago em busca do que precisam em Pato

Bragado. Dessa forma, os fixos em Pato Bragado,

como mercados e supermercados promovem fluxos

reticulares transfronteiriços e novas redes vão sendo

estabelecidas. Ao lado dessas redes outras redes são

organizadas como, por exemplo, as redes de

comércio de produtos ilegais, como entorpecentes,

cigarros e eletrônicos. As redes ilegais de comércio

se fortaleceram com o lago pela facilidade de acesso

a portos clandestinos e a pequena fiscalização do

Estado nacional brasileiro.

As redes de interações transfronteiriças, emergem

também em um caráter cultural. Por exemplo,

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algumas festas populares ou religiosas envolvem os

habitantes dos dois lados do limite internacional.

Nesse aspecto, a rádio brasileira, com alcance no lado

paraguaio, fomenta e divulga os eventos festivos num

ou noutro lado da fronteira e as populações interagem

participando dos eventos. Com essas redes culturais

estabelecem contatos cotidianos, gerando redes

socioculturais. Muitos contatos sociais acabam em

casamentos entre paraguaios e brasileiros de Pato

Bragado e de Marangatu. Assim, já se observa a

formação de famílias transfronteiriças, onde parte da

família é brasileira e outra parte é de brasiguaios e

que promovem diversas redes geográficas cotidianas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As considerações aqui apresentadas são no

sentido de apontar alguns resultados provisórios,

pois esse trabalho faz parte da pesquisa do

Trabalho de Conclusão do Curso de Geografia,

pesquisa que ainda está em andamento. Mas,

pode-se dizer que a maior parte dos moradores

de Colônia Marangatu é de brasileiros e filhos de

brasileiros (brasiguaios) e são esses sujeitos que

promovem e fomentam inúmeras redes de

interações transfronteiriças. Chegamos a mesma

conclusão de Machado 2005, quando afirma que

“à intensidade e à longevidade das migrações

[...] é um dos melhores indicadores da

intensidade da interação transfronteiriça no

espaço tempo”. Mas o principal fator do

estabelecimento de redes transfronteiriças entre

Pato Bragado e Puerto Marangatu tem sido as

dessimetrias entre os dois lados da fronteira,

notadamente no que toca aos serviços básicos

como saúde e educação. A desigualdade entra as

áreas estudadas é bastante significativa.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria de

Programas Regionais. Programa de Desenvolvimento da

Faixa de Fronteira: Proposta de Reestruturação do

Programa de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira:

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GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS, AGENTES E ESTRATÉGIAS: O CASO DE

UMUARAMA – PR

Angela Danielle Kuhn1; Fábio de Oliveira Neves

2

1Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon.

INTRODUÇÃO

O processo de urbanização no Brasil, a partir da

década de 1950, resultou tanto no aumento da

população urbana, quanto na difusão de um modo de

vida urbano e em mudanças nos padrões de consumo

(CORRÊA, 2006). Estes foram acompanhados e, de

certo modo, dirigidos por outro processo, o de

industrialização. Esses dois processos implicaram na

aceleração da extração de recursos naturais, no

estímulo ao consumo e, consequentemente, no

aumento no volume dos descartados.

Essa situação nos leva a questionar sobre a gestão

e a destinação final de todo material que uma vez

consumido não tarda a ser descartado. Gerir os

resíduos sólidos é um desafio lançado à sociedade e

ao poder público, uma vez que a produção de

resíduos é inevitável.

É necessário perceber os resíduos como um

fenômeno socioespacial, tendo em vista que o

homem cria e recria o espaço, o que produz/reproduz

a sociedade e altera a materialidade sobre a qual

ocorrem os processos socioespaciais, dinâmica na

qual há a geração de resíduos.

Os resíduos ao longo da história são vistos como

problema socioambiental de cunho negativo

(EIGENHEER, 2009). No entanto, chamamos

atenção para a análise dos resíduos não somente

como problema, mas enquanto solução, pois quando

reutilizados, contribuem com a redução da extração

de recursos naturais e na diminuição do montante de

resíduos dispostos sem tratamento (CALDERONI,

2003), o que, por consequência, evita a criação de

locais insalubres. Quanto à dimensão social,

promovem a integração do catador ao mercado de

trabalho (MEDEIROS, et al., 2007). Na dimensão

econômica, gera renda aos catadores e reduz os

gastos na produção de novas mercadorias

(CALDERONI, 2003).

A questão dos resíduos é ampla, envolve

problemas e significados diversos, pois se

trata não só de um objeto, mas de um

fenômeno, de algo de natureza controvertida

e variada. Utilidade ou inutilidade? Recurso

ou ameaça? [...] (NEVES, 2013, p.31).

Os benefícios proporcionados pelo

reaproveitamento de resíduos são de ordem

individual e coletiva, pressupondo que a preservação

de recursos naturais é um interesse comum da

sociedade dado a sua importância para a manutenção

da vida no planeta (CALDERONI, 2003).

Com a situação apresentada, destaca-se a gestão

integrada dos resíduos sólidos que é um meio pelo

qual se busca resolver problemas em diferentes

dimensões, como a ambiental, a econômica e a social.

Gerir os resíduos sólidos pressupõe o

desenvolvimento de etapas como: separação dos

resíduos entre recicláveis e orgânicos, coleta seletiva

e tratamento dos materiais coletados. Para a prática

das etapas mencionadas, faz-se necessária a

participação de agentes sociais, como: cidadãos,

administração pública, empresas e

cooperativas/associações de catadores.

A responsabilidade compartilhada, como princípio

de gestão dos resíduos sólidos no Brasil, requer a

colaboração dos diferentes agentes sociais, em ações

interligadas e interdependendes.

Para amparo e direcionamento da gestão dos

resíduos: etapas do processo, agentes envolvidos,

gestão compartilhada, destinação de resíduos

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recicláveis e disposição ambientalmente adequada de

resíduos orgânicos e rejeitos; há um rol de textos

normativos em âmbito federal, estadual e municipal,

os quais foram utilizados para análise nesta pesquisa.

Dentre eles destacamos: Constituição Federal –

CF- (1988); Política Nacional dos Resíduos Sólidos –

PNRS- (Lei federal 12.305/10); Política de Resíduos

Sólidos do Estado do Paraná (Lei estadual

12.493/99); Plano Diretor de Umuarama (Lei

Complementar municipal 124/04); Lei da Coleta de

Umuarama (Lei municipal 2.971/06); Plano

Integrado de Gerenciamento de Resíduos de

Construção Civil do Município de Umuarama (Lei

Complementar municipal 276/10); Programa Lixo

que Vale –PLV- (Lei municipal 3.736/11).

Com base no exposto, buscamos entender como se

caracteriza a gestão dos resíduos sólidos no

município de Umuarama-PR quanto ao aterro

sanitário, à cooperativa de catadores e ao Programa

Lixo que Vale (PLV).

Como objetivos específicos, buscamos

compreender a função da cooperativa de catadores na

gestão integrada dos resíduos sólidos municipais;

caracterizar o aterro sanitário enquanto destinação

final para resíduos sólidos não-recicláveis; levantar

os documentos legislativos disponíveis que remetem

à gestão dos resíduos sólidos e que servem de

parâmetro para a gestão municipal; e compreender o

funcionamento do Programa Lixo que Vale enquanto

estratégia para resolução de problemas locais.

É sabido que a disposição inadequada de resíduos

pode poluir ou contaminar recursos naturais. Desse

modo, o trabalho se justifica na importância em gerir

os resíduos sólidos em consonância com a legislação

disponível que direcione a práticas integradas na

busca pela preservação ambiental com observação a

aspectos sociais e econômicos.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia aplicada envolve o método quali-

quantitativo. As informações e dados obtidos se deram

por meio: do levantamento de referencial teórico,

(documentos acadêmicos, legislativos e midiáticos); da

consulta a banco de dados (IBGE, SEIRSU, SNIS1); da

realização de questionamentos e entrevistas

semiestruturadas a agentes institucionais envolvidos no

processo de gerenciamento de resíduos sólidos de

Umuarama – PR; e, por meio de atividade em campo,

observação das diferentes etapas da gestão dos resíduos

sólidos desse município.

RESULTADOS

A gestão dos resíduos sólidos em Umuarama-PR é

composta por etapas que dependem da participação

de diferentes agentes sociais. Para que os resíduos

sejam destinados e dispostos de forma

ambientalmente adequada é preciso que haja a coleta

seletiva de materiais recicláveis, para triagem e

comercialização, realizadas pela Cooperuma

(cooperativa de catadores); e aterro sanitário para o

tratamento de materiais orgânicos ou rejeitos.

A Cooperuma conta com a colaboração de 28

cooperados, aproximadamente. Possui galpão de

triagem coberto e fechado, o que proporciona

melhores condições de trabalho aos catadores, uma

vez que não ficam expostos ao frio e à chuva (vide

figura 1). De maneira geral, as atividades primárias

da cooperativa são de receber o material reciclável,

triar conforme composição, prensar e comercializar.

Diariamente, passam pela balança da entrada do

aterro sanitário e da Cooperuma, 80 toneladas de

resíduos, das quais 12 toneladas são provindas da

coleta seletiva e são encaminhadas à Cooperuma. No

entanto, em torno de 25% do material que chega à

cooperativa é rejeito, o qual é encaminhado ao aterro

sanitário. Assim, diariamente, são desviados do

aterro sanitário e proporcionada a reutilização de,

1 IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;

SEIRSU: Sistema Estadual de Informações Sobre

Resíduos Sólidos Urbanos; SNIS: Sistema Nacional de

Informações sobre saneamento.

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aproximadamente, nove toneladas de resíduos (ou

11,25% do montante que passa pela balança)2.

Figura1: Cooperados separando materiais na esteira de

triagem

Fonte: Angela Danielle Kuhn, 2016.

A Cooperuma comercializa seus materiais apenas

com aparistas, sendo quatro de Umuarama, um de

Cruzeiro do Oeste, um de Maringá e um de Campo

Mourão3. A renda obtida por meio da venda dos

materiais é utilizada para pagamento de despesas da

cooperativa e o restante é rateado entre os

cooperados. Com o rateio a renda mensal de cada

catador gira em torno de R$1.000,00 e R$1.100,00.

(ESTATUTO DA COOPERUMA, 2010).

O aterro sanitário do município de Umuarama-PR

está estruturado na mesma área de localização da

Cooperuma, o que facilita o encaminhamento ao

aterro sanitário de materiais que chegam à

cooperativa, mas que não são recicláveis.

O aterro sanitário de Umuarama-PR possui

licença de operação concedida pelo Instituto

Ambiental do Paraná (IAP), isso pressupõe

adequação aos parâmetros exigidos para o

funcionamento desse tipo de aterro. Em campo,

pudemos observar características importantes do

aterro, tais como: perímetro cercado; vigilante;

2 Informações adquiridas por meio de entrevista realizada

com Gestores Ambientais da Prefeitura de Umuarama no

dia 23 de setembro de 2016. 3 Informações adquiridas por meio de entrevista realizada

com Gestores Ambientais da Prefeitura de Umuarama no

dia 23 de setembro de 2016.

balança para pesagem dos materiais que chegam ao

aterro; área ampla com possiblidade de construção de

várias células; células impermeáveis, revestidas com

geomembrana e estruturadas com canalização de gás

(para queima na saída) e chorume (para escoamento

às lagoas de tratamento), (vide figura 2); aterramento

e compactação dos resíduos dispostos na célula.

Figura 2: Estrutura da célula no aterro sanitário em

Umuarama - PR

Fonte: Angela Danielle Kuhn, 2017.

No entanto, gerir os resíduos sólidos de forma

integrada exige mais que destinar e dispor os resíduos

de forma ambientalmente adequada, pois sugere a

contemplação de diferentes dimensões, como a

ambiental, a econômica e a social por meio uma

mesma ação ou programa. Nessa direção,

constatamos a estratégia criada pelo poder público, e

desenvolvida por agentes sociais envolvidos,

denominado Programa Lixo que Vale (PLV).

O Programa Lixo que Vale foi criado em 2010 em

resposta a problemas com poluição ambiental

constatados nos bairros Jabuticabeira e Sete

Alqueires do município de Umuarama-PR. Nascentes

do Rio Piava (rio que abastece a cidade) estão

localizadas na área de proteção ambiental (APA)

localizada junto a esses bairros e estavam sendo

ameaçadas pela disposição de resíduos proveniente

desses bairros4.

4 Informações adquiridas por meio de entrevista realizada

com Gestores Ambientais da Prefeitura de Umuarama no

dia 23 de setembro de 2016.

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O Programa Lixo que Vale motiva a participação

da comunidade envolvida através da moeda verde

que é uma moeda fictícia criada especificadamente

para atender ao PLV. Sua forma de utilização é a

seguinte: os cidadãos entregam os materiais

recicláveis à terceirizada contratada para a coleta

seletiva. No ato da entrega dos materiais recicláveis,

os coletores fazem a pesagem dos resíduos e,

conforme a composição, pagam ao cidadão,

fornecedor de recicláveis, em moeda verde. De posse

da moeda verde, é possível ir até a feira do PLV (que

é suprida com alimentos oriundos do banco de

alimentos, os quais são adquiridos dos pequenos

agricultores de Umuarama-PR) e trocar por

alimentos. Os alimentos adquiridos são de livre

escolha do cidadão participante do Programa Lixo

que Vale e têm preço variado como apresentado no

quadro a seguir:

Quadro 1: Valor dos alimentos da feira do PLV

Fonte: Umuarama, 2013.

Em vista a aceitação do PLV e participação pelo

público alvo, a administração pública decidiu ampliar

a aplicação do programa quanto à população

abrangida e dimensão contemplada. Assim, em 2013,

o Programa Lixo que Vale passa ser desenvolvido

também nos bairros Industrial, Alto da Glória, Serra

dos Dourados e Arco Iris, desta vez com enfoque

social, na tentativa de melhorar a qualidade na

alimentação de famílias carentes.

Há em torno de 500 pessoas cadastradas no PLV,

mas participam efetivamente da feira,

aproximadamente, 220 pessoas. Destaca-se que as

verbas utilizadas para a compra dos alimentos do

PLV são oriundas do Banco de Alimentos, esse que é

mantido por verba federal, através do Compra Direta.

Assim, os gastos da administração pública municipal

são com a contratação de terceirizada para a coleta

específica dos materiais recicláveis nos bairros

contemplados pelo PLV. O último contrato estava

fixado em R$15.000,00, por mês, para que a

Cooperuma fizesse a coleta seletiva. A condição

contratual para o pagamento era de que a cooperativa

coletasse, no mínimo, 20 toneladas de recicláveis por

mês.

Importa destacar que as várias ações que

abrangem a gestão dos resíduos sólidos em

Umuarama-PR são condizentes com a legislação

vigente sobre a temática. Dessa forma suas leis

municipais se apoiam e se afirmam nos textos

normativos de âmbito estadual e federal. Exemplos

perceptíveis em meio às observações em campo são:

a destinação a resíduos orgânicos e rejeitos ao aterro

sanitário; a parceria com a cooperativa de catadores;

a busca pela gestão integrada e responsabilidade

compartilhada.

No entanto, há problemas que se apresentam no

Programa Lixo que Vale: desde o ano de 2017 ele

está parado. Como mencionado, esse programa foi

criado em 2010 e tornado lei, na tentativa de manter a

sua continuidade ao longo dos anos. Entre 2010 e

2016, o PLV foi aplicado e, nesse intervalo, também

foi ampliado. Contudo, com a troca de gestão do ano

de 2016 para 2017 o programa foi parado e a

justificativa da administração pública é a falta de

verbas5.

A paralisação do PLV repercutiu em consequências,

tais como: desmotivação em separar os resíduos por

parte da população que antes era contemplada pelo

programa, o que reduziu de quatro a cinco toneladas

por semana o montante de materiais recicláveis

recebidos pela Cooperuma. Com essa redução, a

produção da cooperativa de materiais recicláveis caiu,

o que ocasionou a dispensa de quatro cooperados.

Além disso, as famílias que contavam com os

5 Informações adquiridas por meio de entrevista realizada

com Gestores Ambientais da Prefeitura de Umuarama no

dia 21 de junho de 2017.

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alimentos da feira do PLV (por seis anos) estão

desamparadas há quase um ano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Manter o andamento satisfatório da gestão integrada

pode apresentar obstáculos, entre eles de ordem

econômica ou de interesse da administração pública. O

município apoiou e possibilitou a existência da

cooperativa de catadores, com o objetivo da triagem de

materiais recicláveis presentes nos resíduos urbanos.

Também, garantiu disposição final ambientalmente

adequada para os resíduos não-recicláveis, de acordo

com os critérios do órgão regulador (o IAP), no aterro

sanitário municipal. Contudo, o programa inovador

criado como “solução integrada” para problemas

locais, o PLV, foi interrompido.

O Programa Lixo que Vale demostrou, durante a

sua vigência, resultados satisfatórios com relação à

preservação ambiental, geração de renda aos

cooperados e melhora na qualidade da alimentação de

famílias carentes.

No entanto, depois de seis anos de

desenvolvimento, o PLV teve suas atividades

paralisadas, o que notoriamente repercutiu em prejuízo

ambiental, econômico e social. Não há informações

quanto à situação atual da APA que estava sendo

protegida através do PLV. No entanto, reduziu-se o

montante de recicláveis coletados nos bairros que antes

eram contemplados pelo programa. Isso, por

consequência, diminuiu a renda obtida pela

cooperativa, o que ocasionou a dispensa de cooperados.

Dessa forma, o prejuízo ambiental condiz com a

redução de resíduos reinseridos na cadeia produtiva. O

prejuízo econômico e social está no desemprego de

cooperados que mantinham o sustento da família por

meio do seu trabalho na Cooperuma. O prejuízo social

também é presente entre as famílias carentes que

adquiriam seus alimentos na feira do PLV e que agora

estão a mercê do seu baixo poder aquisitivo.

Assim, nota-se a tentativa de gestão integrada dos

resíduos sólidos em Umuarama-PR, todavia percebe-se

a fragilidade do Programa Lixo que Vale tendo em

vista a sua dependência às ações dos diferentes agentes

sociais, com evidência a administração pública

municipal. Não basta ter a normativa se ela não é posta

em prática. Não basta ter a participação e apoio da

sociedade se o poder público não cumpre com o seu

papel em uma gestão de responsabilidades

compartilhadas.

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São Paulo: Humanistas Editora, 2003.

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MEDEIROS, Luiza, F. de R. et al. Profissão: catador de

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Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, v. 3, n.

2, p. 72-94, 2007.

NEVES, Fábio, O. Gestão Pública de Resíduos Sólidos Urbanos: problemática e práticas de gestão no oeste

paranaense. Curitiba, 2013. Tese (Doutorado),

Universidade Federal do Paraná.

UMUARAMA (Município). Projeto Lixo que Vale. 2013.

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LOTEAMENTO FECHADO – A ILUSÃO DA SEGURANÇA E A NEGAÇÃO DA CIDADE

Wlademir Carlos Quaglioto Geografia, UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon, [email protected]

INTRODUÇÃO

Neste artigo apresentamos uma reflexão sobre

uma nova maneira de ocupação do espaço urbano

através da implantação de loteamentos fechados. Este

artigo busca analisar e trazer para discussão tais tipos

de moradia de forma fechada entre muros dos mais

diversos tipos. Este trabalho tem como objetivo

analisar a grande expansão da implantação de

loteamentos fechados, principalmente na cidade de

Francisco Beltrão, de iniciativa privada. O trabalho

identifica também a tipologia, de acordo com as

classes sociais de quem tem como pagar para viver

entre muros. E, ainda, aprofundar os entendimentos

sobre os impactos sociais e territoriais mais

complexos, causados pela implantação de

loteamentos fechados em cidades pequenas.

OBJETIVO

O presente trabalho tem a finalidade de trazer para

discussão a formação de loteamentos fechados nos

municípios brasileiros, onde a urbanização demonstra

as suas várias formas de ocupar o espaço urbano e

uma delas é a formação de loteamentos fechados,

cercados por muros, cercas e obstáculos de toda

forma possível, fazendo com que o acesso a estes

locais fechados seja feito somente onde é autorizado

e por pessoas autorizadas.

JUSTIFICATIVA

Trazendo para discussão porque vemos que pelo

papel na dinâmica urbana que represente ainda é

muito pouco discutido, pela interferência na

urbanização faz com que certas áreas das cidades,

não seja, acessada por um determinado grupo de

pessoas ou classes sociais, excluindo pessoas da sua

redondeza ou excluindo pessoas pela nova forma de

ocupar este espaço urbano.

Neste trabalho apresentamos a forma de como

estes loteamentos são erguidos, a forma de se fechar

dentro de muros, a necessidade da segurança, a

exclusividade de uma área de lazer, de arruamento e

de bosques verdes, sentindo-se diferente de outras

classes sociais que devido a não possuírem estas

condições financeiras vivem em outras áreas da

cidade.

METODOLOGIA

O foco central é o de compreender a busca por

moradia na cidade de Francisco Beltrão, mediante a

construção em loteamento fechado, esta maneira de

se autosegregar no espaço urbano.

A pesquisa é a partir de referências bibliografias

que ajudem na compreensão do objeto de estudo.

Além do referencial bibliográfico que apoiam teórica

e metodologicamente esta pesquisa, foram realizados

trabalhos de campo “in loco” do objeto de estudo

para compreendermos as transformações destes

empreendimentos, ocorridas pela instalação de

loteamentos fechado entre muros.

O recorte espacial é o do Loteamento Portal do

Sol, primeiro loteamento com características de estar

fechado entre muros, cercas de todo tipo de

segurança privada.

Realizadas visitas in loco para se observar

qualidade das casas, relação entre vizinhos, ou seja, a

relação entre os moradores de dentro do loteamento

fechado com os moradores de dentro e destes com os

moradores de fora dos muros.

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RESULTADOS

A literatura apresenta como condomínios

fechados ou entre muros, os loteamentos e

desmembramentos do solo urbano, com fins de

construções habitacionais, os muros separam estes

loteamentos do restante da cidade.

Dentro dos muros a vida é vigiada de todas as

formas, por câmeras, por seguranças de todos os

tipos, apresenta um estilo de vida novo na ocupação

do espaço urbano das cidades brasileiras. Os

loteamentos fechados não são mais um fenômeno

isolado, mas uma nova versão de segregação ou auto-

segregação.

Caldeira (2000) denomina como “enclaves

fortificados”. Esses loteamentos fechados, segundo a

autora, modificam a forma como a população,

principalmente das classes média e alta consomem,

trabalha e gasta seu tempo de lazer, nestes espaços

fortificados. Eles também “estão mudando o

panorama da cidade, seu padrão de segregação

espacial e o caráter de espaço público e das

interações públicas entre as classes” (CALDEIRA,

2000, p. 258).

Segundo Moura (2004), esses guetos, ou enclaves

fortificados, seriam uma forma de apresentar uma

cidade fragmentada, na qual a livre circulação e o

acesso aos espaços públicos tornam-se mais difícil.

Estes espaços fechados, privados, e ainda

monitorados por diversos meios de segurança,

impedem o livre direito de circulação, fechando ruas

públicas, negando, assim, a convivência.

Esses loteamentos fechados através de muros,

segundo Caldeira (2000), o novo tipo de moradia

fortificada da elite, são lugares de difícil acesso a

população acessíveis apenas por automóvel. São

espaços privados do espaço urbano de uso coletivo,

prevalecendo o valor do privado e do restrito em

detrimento do que é público.

O principal marketing desses loteamentos

fechados, segundo Caldeira (2000), são os muros,

grades e espaços vazios que demarcam e isolam estes

do restante da cidade, com uma clara rejeição à vida

pública.

Segundo Silva (1995), regidos pela Lei 6766/79,

os loteamentos são fechados por ato do loteador ou

de uma associação de moradores, o que demonstra a

sua ilegalidade. Com efeito, os tais “loteamentos

fechados" juridicamente não existem; não há

legislação que os ampare, constituem uma distorção e

uma deformação de duas instituições jurídicas: do

aproveitamento condominial de espaço e do

loteamento ou do desmembramento.

Segundo Azevedo (1985), “Na verdade, o que

difere basicamente o loteamento comum do

„loteamento fechado‟, são na verdade a maneira de

instalação e a utilização dos espaços dos loteamentos,

o loteamento comum é formado com arruamento e

logradouros públicos acessíveis a toda a população,

já os loteamentos fechados possuem arruamento

privado e áreas verdes cercados por muros dos mais

diferentes tipos, que somente são acessíveis aos

moradores de dentro dos muros.

A busca por estes espaços fechados pela

população que tem como arcar com estes custos traz

ao debate algumas situações que as cidades ou o

Estado não dão conta de oferecer a população, como

a segurança pública. Segundo Caldeira (2000), “o

aumento da violência tem como contrapartida o

fracasso da justiça e da polícia em combater a

violência e a criação de formas inéditas de

discriminação social. [...] A maneira pela qual crime,

medo e desrespeito aos direitos dos cidadãos

associaram-se a transformações urbanas [...]

produzindo um novo padrão de segregação espacial

durante as duas últimas décadas”.

Está busca por segurança faz com que esta

população se desloque para áreas afastadas do centro

das cidades, buscando paz e tranquilidade se auto

segregando, não tendo vizinhança alguma por perto

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ou se tiver que fiquem fora do alcance dos moradores

que ficam dentro dos muros.

Estes loteamentos fechados tem a mesma

composição na questão do fechamento e na

delimitação de sua área, trazendo para delimitar sua

área utilizam cercas de muros geralmente enormes

fazendo com que a população que resida dentro dos

muros não veja o que acontece fora deles, e fazendo

com a população que se aproxime ou circule por esta

região não consiga ver o que tem dentro dos muros.

Segundo Bauman (2007, p.83), “[...] as muralhas das

cidades eram utilizadas para defenderem toda a

população da cidade”, hoje esta muralha, cercas,

muros ou qualquer outro nome dado aos obstáculos

utilizados são para separar a própria cidade, seus

próprios habitantes.

A figura (1) apresenta a delimitação do

loteamento fechado “Portal do Sol”, do no município

de Francisco Beltrão, apesar de ser um município

pequeno com cerca de 87 mil habitantes, já apresenta

esta nova forma de utilização do espaço urbano, onde

nota-se o distanciamento com a vizinhança

indesejada.

Foto (1)

Fonte: Google Earth, 2017. Elaborada para este estudo.

Segundo Ueda (2006, p. 236), “A proliferação de

tais empreendimentos não é privilégio das pessoas

que vivem nas grandes cidades. Tal modelo tem-se

apresentado em cidades de porte médio, chegando até

as cidades pequenas”. Ueda (2006, p. 240), aponta

ainda que: “[...] as novas cidades, novas

urbanizações, novas periferias contribuem ainda mais

com a dispersão espacial. Estamos assistindo a um

processo de “guetificação do espaço urbano”.

Segundo Spósito (2006, p. 166), “Os agentes da

produção territorial dos espaços urbanos

contemporâneos, ao implantarem os loteamentos

fechados, consideram a acessibilidade como a

condicionante fundamental para a definição de suas

escolhas locacionais”.

A foto (2), apresente o portão principal do

“loteamento Pôr do Sol”, típico da nova forma de se

exilar, se auto segregar, este loteamento no início da

sua formação, foram encontrados alguns problemas,

como: telefonia, não era possível utilizar telefone

celular dentro do loteamento devido a não possuir

sinal móvel, a única saída para os moradores foi a

instalação em cada residência de uma antena

amplificadora de sinal de telefonia móvel.

Foto (2)

Fonte: Autor, elaborada para este estudo.

Outro problema era com a água canalizada da

empresa que fornece água ao município, a falta de

pressão fazia com que a água não chegasse ao

loteamento, e com isso os moradores construíram um

poço artesiano, para poderem ter acesso a água

potável, este poço não possui hidrômetro, pois não se

preocupam com consumo de água, devido ao poço

artesiano estar em um grande reservatório de agua

potável.

O terceiro problema foi o fechamento de uma rua

pública, com loteamento fechou a única rua que dava

acesso ao loteamento que se transformou em rua

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principal para se ter acesso ao loteamento “Pôr do

Sol” foto (2), este problema gerou muitas

reclamações, pois esta rua era a única da região e foi

simplesmente construído o portão de acesso ao

loteamento fazendo com que as pessoas que se

deslocassem para aquela região da cidade tivessem

que procurar outro meio de acessá-la.

Como na maioria dos loteamentos fechados só há

um local de acesso para os moradores e para os

visitantes, o controle de quem entra e quem sai e

facilitado. Segundo Bauman (2007, p. 91), “[...] A

função latente das barreiras de fronteira,

aparentemente erguida contra “pessoas que estão

falsamente em busca de asilo” e migrantes

“meramente econômicos”, é fortalecer a existência

duvidosa, errática e imprevisível dos que estão

dentro”.

A foto (3) apresenta a forma de divisão de dentro

do loteamento, onde são usados muros somente na

delimitação dos lotes entre vizinhos, e de uma altura

que não atrapalhe a visão um do outro, fazendo com

que todos se sintam vigiados ou vigiando. A frente

das residências não pode haver nenhum tipo de

obstáculo.

Segundo Santos (2002), morar em um condomínio

fechado dá status, significa fazer parte do rol dos

privilegiados que podem morar isolados e protegidos,

convivendo com uma vizinhança homogênea,

desfrutando prazerosamente de equipamentos de

lazer e da comodidade de alguns serviços sustentados

pelo discurso contra a violência.

Roberts (2002) cita que “a questão do “status” se

manifesta no sentido de que, ao escolher uma

moradia que está entre muros, você está dizendo “eu

sou diferente". Na sociedade atual, as pessoas são

diferenciadas pela sua capacidade de consumo. E isso

existe até internamente nos condomínios”.

Caldeira (2000) acha que nos enclaves fortificados

o uso de materiais e as formas de construções

individuais favorecem ornamentos, irregularidades e

materiais ostentatórios que exibem a individualidade

e o de seus moradores.

Foto (3)

Fonte: Autor, elaborada para este estudo.

Os enclaves fortificados conferem status, Caldeira

(2000). A construção de símbolo de status é um

processo que elabora diferenças sociais e cria meios

para a afirmação de distância e desigualdades sociais,

para os moradores desses novos enclaves

habitacionais, qualidade de vida é entendida

principalmente pelas oportunidades que o novo

espaço propicia para a família, especialmente para as

crianças: brincar ao ar livre e sem a preocupação com

a rua e seus problemas.

A foto (4) possui duas imagens de como os

loteamentos fechados utilizam de barreiras de toda

ordem para se manterem distantes da população de

fora dos muros, na primeira imagem é utilizado um

muro para fechar uma rua pública a segunda

demonstra como os muros são erguidos e utilizam

concertinas para impedirem a entrada de pessoas

indesejadas.

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Foto (4)

Fonte: urbanidades.arq.br/2009/08/os-muros/.

Caldeira (2000) O “status” é um dos fatores que

atraem as classes altas aos condomínios fechados.

Caldeira (2000) comenta que a construção de

símbolos desse “status” é um processo que elabora

diferenças sociais e cria meios para a afirmação de

distância e desigualdade sociais.

Segundo Bauman (2007, p. 78), “Nossas cidades

se transformam rapidamente de abrigos contra o

perigo em principal fonte desse mesmo perigo”, a

problemática da segurança pública só tem aumentado

nos últimos anos, levando a população a buscar

meios que acha seguro para morar no processo de

ocupação do espaço urbano.

Nesta dinâmica de ocupação deste espaço e na

formação deste loteamento para as pessoas que ficam

dentro destes muros há a expectativa de se sentir

seguro, protegido, diferente, de não fazer parte da

cidade do medo, da insegurança, do caus. Segundo

Bauman (1925, p 82), “Como todos nós sabemos, a

cerca tem dois lados... Elas dividem em “dentro” e

“fora” um espaço que seria uniforme – mas o que

está “dentro” para as pessoas de um lado da cerca

está “fora” para as do outro lado”.

Contudo estar dentro ou fora não quer dizer que

está dentro de um lugar e fora de outro, por mais que

esta classe tente se distanciar da outra, mais acaba

por se distanciar da cidade real. Segundo Bauman

(2007), aquela que tentam se esconder que tentam se

separar se distanciar, a cidade cheia de problemas

essa é a cidade que se tem para viver.

Conforme aponta Bauman (2007, p.83) “[...] Os

novos produtos urbanísticos, anunciados com maior

orgulho e mais amplamente imitados, são os “espaços

interditados”, “destinados a interceptar, repelir ou

filtrar os usuários potenciais”.

Conforme aponta Caldeira (2000) denomina como

enclaves fortificados, dos quais fazem parte também

escolas, hospitais, centros de lazer, shopping centers,

parques temáticos, conjuntos de escritórios e igrejas.

Esses empreendimentos, segundo a mesma autora,

modificam a forma como as pessoas, principalmente

das classes média e alta, vivem, consomem,

trabalham e gastam seu tempo de lazer.

Além disso, eles também “estão mudando o

panorama da cidade, seu padrão de segregação

espacial e o caráter de espaço público e das

interações públicas entre as classes” (Caldeira, 2000,

p. 258). Segundo Villaça (2001, p. 349), “A ideologia

do espaço urbano atinge seu nível mais estúpido e

perigoso nos condomínios suburbanos de alta renda,

quando pretende opor à cidade da minoria burguesa a

outra cidade: a da maioria pobre”.

“Outra cidade” (Villaça, 2001), “violenta pobre,

atrasada e com a qual elas não têm que ver”. A

produção da cidade contemporânea a partir dos

loteamentos fechados configura-se na negação do

espaço público, no aniquilamento da rua, da praça, do

encontro, da convivência.

Para Moura (2004), esses novos guetos, ou

enclaves seriam a síntese de uma cidade fragmentada,

na qual a manutenção dos princípios básicos de livre

circulação e de abertura de espaços públicos torna-se

mais difícil. Tais espaços privatizados, fechados e

monitorados inibem o direito de passagem, antes

garantido por ruas abertas, anulando, desta forma, a

convivência democrática, segundo a mesma autora.

Segundo Caldeira (2000), o novo tipo de moradia

fortificada da elite, não são lugares para os quais as

pessoas caminhem ou pelos quais passem, são

distantes para serem aproximados apenas por

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automóvel. São espaços privados de uso coletivo,

com ênfase no valor do privado e do restrito em

detrimento do que são público e aberto na cidade.

Segundo Caldeira (2000), são os muros, grades e

espaços vazios que demarcam e isolam estes do

restante da cidade, com uma clara rejeição à vida

pública nesta. Eles se configuram como espaços

autônomos, independentes do entorno, podendo estar

situados em qualquer lugar. Caldeira (2000) faz uma

crítica aos condomínios fechados por estes criarem

espaços socialmente homogêneos:

(Moura, 2006). Ainda de acordo com a autora, a

violência não é a causa da existência dos

condomínios fechados, mas uma linguagem

simplificadora que localiza medos difusos.

(Caldeira, 1997 apud Moura, 2004). No outro

extremo desse quadro, têm-se espaços públicos

convertidos em áreas para o desenvolvimento de

alternativas ao desemprego, com o uso generalizado

ao comércio e serviço populares, informais,

associados ao uso do automóvel (lavadores,

cuidadores, vendedores, pedintes). Analisando esse

quadro Duhau (2001, apud Moura, 2004, p. 155)

conclui que enquanto as classes alta e média se

restringem ao uso de espaços privatizados,

deslocando-se entre eles através do carro, as classes

mais populares “colonizaram” os espaços públicos

por meio dessas práticas econômicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Estado tem o dever de colocar em prática a

legislação de regulação do espaço urbano, quando o

Estado se nega a regular o parcelamento do espaço

urbano ou se omite dá margem para que grupos se

organizem e regulem de forma que melhor lhes

convier.

Conforme apresenta o Estatuto da Cidade, a

propriedade deve cumprir a sua função social urbana,

entendendo-se essa função como o deslocamento, o

lazer, a moradia, o trabalho e a democratização do

espaço público para todos os seus moradores.

Essa nova maneira de ocupar o espaço urbano

através de loteamentos fechados, deixa claro que a

elite busca a fuga para as habitações muradas e pela

privatização do espaço público. Autorizada pelo

poder público que deixa de gerir estes espaços das

cidades, demonstra ser uma solução pouco

democrática, tornando assim um processo de

segregação ou auto segregação, antes de unir a

população das cidades acaba por separar ainda mais

esta mesma população, além de tirar do Estado o

dever de cumprir a legislação urbana.

Os loteamentos fechados se proliferam muito

rapidamente, principalmente, pelo fato dos recursos

serem investimentos da elite que busca ganho de

capital com estes investimentos. O que fica claro é

que esta nova forma de habitar o espaço urbano

interfere na maneira em que a população percebe a

cidade.

Esses loteamentos fechados passam a ter uma

importância muito grande um desejo da elite, de

quem pode pagar para morar nestas localizações

urbanas, mesmo chegando a se auto segregar, mas é o

desejo dessa elite que nega o restante da cidade.

Esses empreendimentos do tipo fechado entre

muros não provocam mais estranhamento entre a

população das cidades a forma de sua implantação ou

a forma que mudam a forma com que interferem na

paisagem urbana

Fica claro que o Estado tem um papel neste

mercado imobiliário na constituição do espaço

urbano para fins de moradia do tipo fechado entre

muros, com investimentos públicos com

infraestruturas e negligenciando com a legislação

urbana.

Considerando a atual situação da ocupação do

espaço urbano para fins de moradia, considerando

ainda a situação econômica do sistema capitalista, a

necessidade do auto isolamento e o individualismo,

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faz com que os loteamentos fechados entre muros,

traz para a população de dentro dos muros a falsa

impressão de uma segurança inexistente, de um lazer

artificial.

A população que não tem acesso a estes

loteamentos fechados não sente toda problemática

que este novo uso do especo urbano traz a toda

sociedade esta população somente admira e sonha em

um dia poder morar assim, entre muros, como um

desejo inacessível.

No loteamento fechado não se tem a noção de

vida real da cidade, os espaços seguros impedem

circulação de pessoas diferente dos loteamentos mais

simples onde a vida acontece de maneira mais

simples, onde vemos pessoas circulando e crianças

brincando a cidade real acontecendo.

A legislação já traz no seu esboço algumas leis

para garantir a função social da propriedade para que

a cidade seja tratada de forma completa, sem garantir

benefícios à elite deixando de lado às outras classes

sociais, esta legislação precisa ser aplicada na sua

totalidade fazendo com que sejam aplicadas

melhorias a cidade real para toda população e não

transformar certas áreas da cidade em uma cidade

imaginaria para a grande maioria da sua população.

REFERENCIAL BIBLIOGRAFICO

BAUMAN, Z. Tempos líquidos: Fora do alcance juntos,

Rio de Janeiro, Ed: Jorge Zahar, 2007.

CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Cidade de muros:

crimes, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo:

Edusp, 2000.

MOURA, Rosa. Políticas públicas urbanas: ausências e

impactos. In: MENDONÇA, Francisco. Impactos

socioambientais urbanos. Curitiba: Ed. UFPR, 2004.

MOURA, Cristina Patriota de. A fortificação preventiva e

a urbanidade como perigo. Série Antropologia, Brasília: UnB – Departamento de Antropologia, 2006.

VILLAÇA, F. O que todo cidadão precisa saber sobre

habitação. Ed: Global, SP, 1986.

______. Espaço intra-urbano no Brasil, Ed: Estúdio Nobel

FAPESP, SP, 2001.

SPOSITO, M. E. B. Cidades médias – produção do espaço

urbano e regional: Loteamentos fechados em cidades

médias paulistas – Brasil, Ed: Expressão popular, SP, 2006.

UEDA, V. Cidades médias – produção do espaço urbano

e regional: loteamentos e a produção do espaço urbano:

algumas reflexões para o debate, Ed: Expressão popular,

SP, 2006.

SITE: <urbanidades.arq.br/2009/08/os-muros/>. acessado

em: set. 2017.

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MIGRAÇÃO HAITIANA NO MUNÍCIPIO DE PALOTINA (PR) A PARTIR DA DÉCADA DE

2010

Ionara Ana Manfrin1

1 Mestranda em Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/ Marechal Cândido Rondon

INTRODUÇÃO

Atualmente entre os povos está se intensificando

as migrações internacionais. Os países recebedores

deste contingente populacional sofrem interferências

nos contextos político-econômico e sociocultural.

Para Becker (1997) desde as invasões dos povos

bárbaros asiáticos até os migrantes dos novos tempos,

grupos populacionais põem-se em movimento

lutando pela hegemonia de novos territórios, fugindo

de perseguições étnicas e repressões múltiplas,

vislumbram a possibilidade de terras e mercados de

trabalho promissores, ou simplesmente perambulam

em busca de tarefas que lhes assegurem a mera

subsistência.

Neste contexto de mobilidade humana e de

recepção de povos vindo do Haiti ao Brasil, traz o

presente trabalho uma investigação a migração

haitiana no munícipio de Palotina, Estado do Paraná,

debatendo a problemática no que se refere à migração

e suas respectivas. As diásporas1

haitianas, sua

formação, transformação cultural e os processos da

globalização que levam eles migrarem, merecem

estudos por razão dos constantes fluxos de

mobilidade desta população ao longo do tempo. Nos

alerta Hall (2003, p.43):

As identidades, concebidas como

estabelecidas e estáveis, estão naufragando

nos rochedos de uma diferenciação que

prolifera. Por todo o globo os processos das chamadas migrações livres ou forçadas estão

mudando de composição, diversificando as

culturas e pluralizando as identidades

culturais dos antigos Estado-nação

1 Dispersão de um povo em consequência de preconceito

ou perseguição política, religiosa ou étnica.

dominantes, das antigas potências imperiais

e, de fato, do próprio globo. Os fluxos não

regulados dos povos e culturas são tão

amplos e tão irrefreáveis quanto aos fluxos

patrocinados do capital e da tecnologia.

Temos a busca pelo capital neste mundo moderno

que condicionam as constantes em busca do trabalho.

Com o recente fluxo migratório ao Brasil o

governo criou a Lei de Migração nº 13.445/20172 aos

migrantes em geral e a mais específica ao haitiano a

Resolução Normativa nº 97/2012 onde estão

enquadrados no fator humanitário, sendo esse o

principal instrumento da política pública brasileira,

que lhes assegura residir legalmente e terem acesso

aos serviços públicos e ao mercado de

trabalho. Esclarecendo a situação do migrante por

George (1971, p.110),

de fato, uma parte dos emigrantes

temporários fixa-se no país de destino

quando existe a possibilidade jurídica de

assim proceder e também interesse

econômico.

OBJETIVOS

Discutir o processo de migração e a presença

haitiana no munícipio de Palotina, PR.

Avaliar a efetiva inserção da migração haitiana no

município de Palotina, PR;

Avaliar a relação entre a expectativa inicial e a

experiência atual no munícipio de Palotina, PR;

2 Esta Lei dispõe sobre os direitos e os deveres do

migrante e do visitante regulando sua entrada e estada no

país e estabelece princípios e diretrizes para as políticas

públicas, substituindo a Lei nº 6.815/1980.

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Avaliar as oportunidades de trabalho aos haitianos

no munícipio de Palotina, PR;

Caracterizar a atividade laboral dos haitianos no

município de Palotina, PR.

JUSTIFICATIVA

Na atualidade, as migrações internacionais

apresentam-se de modo ainda muito complexa e

diversificada. Onde crises migratórias influenciam

nossa sociedade. Visto a crescente migração haitiana

no Brasil, inclusive no munícipio de Palotina, Estado

do Paraná, o fato de ser estudado e analisado, requer

uma necessidade de entender essa inserção

populacional no município, causando preocupações,

como: onde moram, onde trabalham e como estão

sendo inseridos no município. Acredita-se que a

entrada de haitianos em Palotina seja a atração de

empregos que a agroindústria de aves, a empresa

C.Vale3

proporcione, e a construção civil, entre

outros serviços. Bauman (2017) já confirma que

grande parte no planeta (regiões mais desenvolvidas),

tanto migrantes econômicos quanto refugiados

buscam abrigo, os interesses empresariais desejam

com firmeza o (e dão boas-vindas ao) influxo de

mão-de-obra barata e de habilidades lucrativamente

promissoras. A atração para Palotina (região menos

desenvolvida) também acaba sendo os interesses

empresariais e a busca do migrante pelo trabalho.

Para Becker (1997, p.324),

O capital pode escolher a força de trabalho

onde melhor lhe convier e da forma que lhe

for ainda mais rentável, pois crescem de

3 A empresa C.Vale é uma cooperativa agroindustrial com

atuação no Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Mato

Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Paraguai. Possuindo

142 unidades de negócios, mais de 19.000 associados e

8.000 funcionários. Destaca-se na produção de soja, milho,

trigo, mandioca, leite, frango e suínos, e atua na prestação

de serviços, com mais de 260 profissionais que dão

assistência agronômica e veterinária aos associados.

forma assustadora os estoques de população

excedente.

Por mais que a emigração haitiana foi reforçada

pelo terremoto4

que abalou o país em 2010, o

haitiano emigrou em busca de uma vida melhor tendo

o trabalho como principal alicerce no país destino.

Entretanto, ao mesmo tempo que a força de

trabalho se estende sobre espaço, ela precisa se concentrar em pontos específicos, aqueles

que forem mais úteis à produção capitalista

(BECKER, 1997, p.335).

Palotina acaba sendo um ponto específico útil ao

capital e um espaço criador de trabalho ao migrante.

De certa forma, Haesbaert (2004) nos alerta que o

capitalismo é volátil, e tende a todo o momento a

destruir ou a confundir as nossas referências

territoriais comprovadas a nossa estreita liberdade.

Estamos destinados à “obrigação” constante do

movimento, da mobilidade ou mesmo da mudança.

Atualmente, nos deparamos com a situação de

movimento dentro do território, entre os territórios e

no mundo. A migração haitiana nos concede uma

reflexão de que estamos subordinados aos espaços

em que o trabalho nos proporcione uma vida melhor.

Para muitos migrantes ocorre um desprendimento

do território natal, sofrendo modificações em suas

relações sociais e de seu grupo, alterando a

organização da família e a divisão do trabalho

familiar. Segundo Sack (1986, p.78) afirma,

4 Terremoto de magnitude 7,0 na escala Richter atingiu o

país no dia 12 de janeiro de 2010, provocando uma série

de feridos, desabrigados e mortes. Outros dois ocorreram

logo em seguida, de magnitudes 5,9 e 5,5. Esse fato

promoveu grande destruição em Porto Príncipe, capital do

Haiti. Estima-se que metade das construções foram

destruídas, 250 mil pessoas ficaram feridas, 1 milhão de

habitantes desabrigados e, até o dia 26 de janeiro de 2010,

o número de mortos ultrapassava a 100 mil.

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a territorialidade é uma estratégia para se

estabelecer diferentes graus de acesso às

pessoas, coisas e relações.

Segundo Haesbaert (2010), quando as pessoas

utilizam a terra, como elas próprias se organizam no

espaço e como elas dão significado ao lugar, elas

constituem a territorialidade, pois além de incorporar

uma dimensão mais estritamente política, diz respeito

às relações econômicas e culturais. Cada pessoa ou

grupo acaba exercendo poder na sua área ocupada.

A identidade nacional segundo Hall (2005), ela

permanece forte, especialmente com respeito a coisas

como direitos legais e de cidadania, mas as

identidades locais, regionais e comunitárias têm se

tornado mais importante. As influências culturais que

formam a identidade nacional do indivíduo, o mesmo

passa a produzir uma fragmentação cultural e até

mesmo essa mistura de culturas de povos que

migram. Diante disso, percebemos a influência da

globalização criando novas identidades, afirmando a

não homogeneização cultural e sim uma

“pluralização” de culturas nacionais e de identidades

nacionais, devido a grande mobilidade humana em

busca de chances de sobrevivência maior em países

ditos melhores (HALL, 2005). Pois, segundo Hall

(2005), em consequência das migrações de diferentes

culturas advindas dos mais variados lugares do

mundo, tornou impossível manter as identidades

culturais intactas e o não enfraquecimento das

identidades nacionais.

Vivemos num momento que a modernidade

impulsiona a mobilidade populacional, o processo da

globalização faz deslocar-se as identidades nacionais.

O haitiano não vê o mundo como via antes, mudará

suas condições sociais, econômicas e culturais, onde

será capaz de transformar o lugar que está inserido. A

cultura haitiana e a palotinense sofrerão mudanças,

adaptações e construirá novo modo de vida no lugar.

Assim acontece uma mistura e uma soma de

apropriação de espaços. Essas pessoas estão

transformando suas vidas, apropriando-se do espaço,

com modos de vida diferentes, capazes de acrescentar

em suas culturas experiências que darão novos

sentidos as suas vidas. A identidade não é uma coisa

acabada, ela está em andamento (HALL, 2005). Toda

essa transformação cultural enriquece o lugar

destinado e o próprio migrante.

A importância de se ter esse entendimento do

drama vivido pelos migrantes haitianos em nosso

país é pretendido para sensibilizar os adultos e

crianças de todos os lugares, em especial, no

município de Palotina- PR. Como Bauman (2017, p.

24) nos convida a solidariedade, “a humanidade está

em crise, e não existe outra saída para ela senão a

solidariedade dos seres humanos”. Acreditamos no

diálogo com esses povos migrantes, então reforçados

no entendimento de Bauman (2017) o mesmo coloca,

a conversa como caminho supremo para um acordo e,

assim, para uma convivência pacífica, colaborativa e

solidária. Com conhecimento cria-se um movimento

em defesa da vida e da preservação da humanidade

do homem (IOKOI, 2000).

MEDODOLOGIAS E RESULTADOS

Este estudo terá como objetivo central descrever e

analisar a migração haitiana para Palotina- PR, sob o

ponto de vista da inserção social, econômica e

cultural, no munícipio. O estudo requer uma pesquisa

de fatos e acontecimentos. Por meio de entrevistas

estruturadas e semiestruturadas, coletará dados

suficientes para refletir sobre o impacto causado na

vida dessas pessoas, justificando e abordando muitas

questões relativas ao objeto de estudo. Visto que atrai

uma preocupação grande na comunidade palotinense,

dos mais diversos órgãos públicos e privados em

relação aos imigrantes haitianos.

Segundo Zeni (2014, p. 19),

[...] a carência de uma política pública para o

atendimento ao migrante internacional,

colocada à prova pela expectativa

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internacional de que o Brasil possa acolher

um número ainda maior de migrantes

internacionais torna-se um problema a ser

enfrentado pelos governos de todos os

níveis: união, estados e municípios e por

diferentes atores individuais e institucionais.

Percebe-se assim percebe uma dificuldade de

inserção dos imigrantes no munícipio, ora econômica

ora por falta de assistência social.

A vinda de haitianos para o Brasil tem sido

considerada a maior onda imigratória ao país em cem

anos, comparada historicamente aquela de italianos e

japoneses que aportaram no país no período imperial

e nos primeiros anos de República (FOLHA, 2012).

Então há uma necessidade de estudo, considerando

que este estudo abordará um levantamento de dados

qualitativo e quantitativo, onde buscaremos trazer

informações num contexto local, que suscitará numa

reflexão científica sobre o tema.

Para coletar os dados irão ser convidados para

participarem da entrevista aleatoriamente, por

acessibilidade. Os entrevistados autorizarão a

realização e gravação das entrevistas, mediante um

termo assinado de responsabilidade para tal pesquisa.

Após a coleta e transcrições os dados serão

analisados buscando deixar os sujeitos falarem sobre

o tema recorrente no campo empírico da entrevista.

Todos os temas abordados para o entrevistado gerará

novas reflexões e esclarecimentos às questões da

própria pesquisa.

Pretende-se entrevistar alguns migrantes haitianos

e alguns palotinenses que fazem parte de diversos

setores da sociedade civil e a empresa C.Vale. A

quantidade pretendida das entrevistas acontecerá no

decorrer do estudo. A pesquisa empírica demonstra

um aprendizado amplo dos fatos, uma vez que

aprendemos por meio das experiências vividas e

presenciadas por essas pessoas, assim poderemos

obter importantes informações para melhor

entendimento da situação que estão vivendo em

nosso país.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considera o objetivo do texto, que se pautou em

analisar a migração haitiana e sua territorialização em

Palotina- PR a partir da década de 2010 verificou-se

que o governo brasileiro demonstrou cooperação e

soberania a entrada desses imigrantes. Para revolver

esta difícil problemática dos imigrantes haitianos no

território brasileiro, esse acolhimento por parte do

governo através da Medida Provisória 97/2012, onde

amplia e estabelece o direito do imigrante haitiano de

entrar no Brasil, com visto humanitário. O

documento protege aos haitianos e regulamentam sua

permanência em território brasileiro em cinco anos.

O visto humanitário reconhece o imigrante haitiano,

como alguém que tenha fugido de situações difíceis

de sobrevivência, o terremoto ocorrido em janeiro de

2010, que destruiu o país, deixando-o numa

vulnerabilidade econômica, financeira, social e

política. Em decorrência do terremoto e muitas

instabilidades políticas ao longo da história no Haiti,

foram motivos para ser um país diásporo.

No tocante fluxo de imigrantes haitianos entrando

no Brasil, ocorre uma territorialização do espaço no

munícipio de Palotina- PR, influenciando o

desenvolvimento local com transformações sociais,

culturais e econômicas. Portanto, pode-se concluir

que esse povo vai se organizando no espaço e

construindo suas territorialidades. Nas relações

sociais cria-se uma problemática que vem atuando no

cenário palotinense.

Nesse estudo a descrição e análise da situação

haitiana no munícipio requer uma pesquisa para o

entendimento das condições socioeconômicas dessa

migração.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2017.

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O TURISMO NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DELTA DO PARNAÍBA – MA,

PI E CE – BRASIL

Rita de Cassia Pereira de Carvalho1; Mauro José Ferreira Cury

2; Milton Augusto Pasquotto

Mariani3

1Mestrado em Geografia, UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2UNIOESTE/Campus de Foz do Iguaçu; 3Universidade Federal do Mato Grosso do Sul/Campus de Campo Grande.

INTRODUÇÃO

A abordagem geográfica em áreas naturais

protegidas contribui para o entendimento das relações

numa perspectiva de desenvolvimento territorial.

Logo, esse trabalho tem como objetivo apresentar as

principais atividades turísticas que são praticadas na

Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do

Parnaíba, MA, PI e CE, uma Unidade de

Conservação (UC), que abrange no total de oito

municípios, sendo eles: Araioses e Tutoia, no estado

do Maranhão, Ilha Grande, Parnaíba, Luís Correia e

Cajueiro da Praia, no estado do Piauí, Barroquinha e

Chaval, no estado do Ceará, com área de 307.590,51

hectares e caracterizada pelo bioma marinho costeiro

(BRASIL, 1996).

De acordo com Sistema Nacional de Unidades de

Conservação da Natureza (SNUC), APA é uma área,

de modo geral extensa, com uma proporção de

ocupação humana, dotada de atributos abióticos,

bióticos, estéticos ou culturais, que são importantes

para a qualidade de vida e o bem-estar das

populações humanas. O seu objetivo é a proteção da

diversidade biológica, disciplinar o processo de

ocupação e proporcionar a sustentabilidade do uso

dos recursos naturais. É válido ressaltar que de modo

geral uma APA é constituída por terras públicas e

privadas (BRASIL, 2000).

A APA Delta do Parnaíba tem como objetivos a

proteção dos deltas que pertencem aos rios Parnaíba,

Timonha e Ubatuba, bem como a sua fauna, flora e

complexo dunar, proteção dos remanescentes de mata

aluvial e dos recursos hídricos, melhoria da qualidade

de vida das populações residentes, mediante

orientação e disciplina das atividades econômicas

locais, fomento ao turismo ecológico e a educação

ambiental, preservação das culturas e das tradições

locais (BRASIL, 1996).

Tendo em vista o potencial para o turismo desse

território, pois integra o projeto Rota das Emoções,

juntamente com os Parques Nacionais dos Lençóis

Maranhenses (MA) e Jericoacoara (CE).

Esse projeto é resultado da Política Nacional de

Turismo 2003-2007, através do Programa de

Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil, com

o objetivo de descentralizar e incrementar a oferta

turística brasileira.

Nesse interim, o turismo tem sido um importante

vetor de desenvolvimento na região. A Organização

Mundial de turismo (OMT) definiu turismo como as

atividades que são realizadas por pessoas durante as

viagens para os lugares diferente do habitual, por um

período inferior a um ano, com fins de lazer,

negócios, saúde, ou outras finalidades (OMT, 2001).

Enquanto atividade, o turismo tem um papel

fundamental na transformação de territórios e

mudanças nas territorialidades de um dado lugar em

que está inserido, mas como qualquer outra atividade,

necessita de planejamento e políticas públicas

inclusivas. E não somente que os empresários sejam

beneficiados. O turismo provoca mudanças no lugar

através da melhoria da infraestrutura tanto básica

quanto na turística. Além de incrementar outros

setores que se tornam possíveis atrativos agregados,

como a cultura e a gastronomia.

As perspectivas de desenvolvimento turístico na

APA Delta do Parnaíba se dão principalmente pelo

ecoturismo, que de acordo com o Ministério do

Turismo (MTUR) “é um segmento da atividade

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turística que utiliza, de forma sustentável, o

patrimônio natural e cultural, incentiva sua

conservação e busca a formação de uma consciência

ambientalista através da interpretação do ambiente,

promovendo o bem-estar das populações” (MTUR,

2009, p. 09).

Entretanto, é importante que se tenha a

articulação dos setores públicos, iniciativa privada e

da comunidade tradicional para o desenvolvimento

ordenado do ecoturismo, principalmente nessa UC

que tem como pré-requisito a conciliação do uso

público e privado das terras.

Nesse aporte, em consonância a um dos objetivos

de criação da APA Delta do Parnaíba, o ecoturismo

se insere como uma atividade realizada, nesse caso,

realizada em áreas naturais protegidas, com o

objetivo do uso sustentável dos recursos naturais e

ainda promover a valorização tanto ambiental quanto

cultural. Além de fomentar a interpretação ambiental

da biodiversidade e promover a educação ambiental.

A geografia se insere nesse tema a partir das

abordagens do território e de suas territorialidades.

Saquet afirma que o território “é o resultado e

condição da reprodução da relação social-natural. Há

no território, a multidimensionalidade do homem,

que é natureza e sociedade ao mesmo tempo”

(SAQUET, 2015, p. 173). Percebe-se que nessa

perspectiva o território é intrínseco as relações tanto

sociais, quanto naturais, tal como são apresentadas na

APA Delta do Parnaíba. As territorialidades, aqui,

são circunscritas como as relações em si, baseadas

em ações no território. É aquilo que o homem faz

para se manter naquele local, se sentir pertencido ao

território, ao ser inerente e multidimensional a vida

da sociedade (RAFFESTIN, 1993).

Ao se abordar o aspecto multidimensional, Saquet

(2015) explica que a territorialidade se refere ao

conjunto de coisas que vive no cotidiano, como as

relações de trabalho (formal e informal), com a

família, entre outras. Haesbaert (2007) diz que a

territorialidade incorpora mais do que a dimensão

política, incorpora as relações sociais, econômicas e

culturais, pois está relacionada ao modo que o

território é utilizado pelas pessoas, dando, assim,

significado ao lugar.

Logo, a territorialidade se define como um

fenômeno social, pois envolve os indivíduos que

fazem parte de um mesmo ou diferente grupo social

(SAQUET, 2009).

Portanto, as abordagens de território e das

territorialidades nele inseridas, fundamentam a

questão do turismo em áreas naturais protegidas, no

caso, na APA Delta do Parnaíba. Tendo em vista, que

nessa área vivem comunidades de pescadores

artesanais, catadores de marisco, caranguejo,

camarão, agricultores de subsistência, que não estão

inseridos na atividade turística, entretanto, não são

vistos de forma inclusiva no processo, apenas são

pessoas que tiveram suas atividades tradicionais

divididas com o turismo. Alguns desses moradores

têm vínculo informal com a atividade turística.

MATERIAIS E MÉTODOS

O embasamento metodológico para esse trabalho

consistiu em numa abordagem qualitativa, pois é

estabelecido um vinculo indissociável entre o sujeito

e a subjetividade do sujeito pesquisado. Para atingir o

objetivo proposto inicialmente, foi realizada uma

pesquisa exploratória para o levantamento do

material bibliográfico disponível sobre as discussões

de território, territorialidades e turismo abordadas.

Além de ser descritiva, pois busca tratar das

características e peculiaridades do turismo na APA

Delta do Parnaíba. Para o levantamento das

potencialidades turísticas foi realizado a observação

para a obtenção de dados de determinados aspectos

da realidade e conversas informais com os pescadores

e moradores locais. O período de coleta de

informações aconteceu entre dezembro de 2016 a

fevereiro de 2017 e são apresentados nos resultados.

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RESULTADOS

A APA Delta do Parnaíba apresenta potencial para a

prática do ecoturismo por ser uma área que agrupa a

“conservação do ambiente visitado, seja ele natural ou

cultural; a conscientização ambiental, tanto do turista

como da comunidade receptora; e o desenvolvimento

local e regional integrado” (KINKER, 2002, p. 19).

Dentre todos os atrativos naturais e culturais,

apresentamos os mais visitados na APA Delta do

Parnaíba:

a) Rota do Cavalo Marinho

É realizado pelos condutores de visitantes locais,

o passeio é feito em barcos movidos a remo por braço

do rio Camurupim, no trajeto é possível observar as

espécies de mangues, aves, moluscos e crustáceos,

seguindo até a ilha onde os cavalos marinhos são

encontrados. Os animais são retirados em um

recipiente próprio para observação e depois é

devolvido ao seu ambiente.

b) Cajueiro Rei

Em Cajueiro da Praia está localizado o maior

cajueiro do mundo, estima-se que ocupe uma área de

8.810 km² e com idade aproximada de 200 anos. É

possível realizar a visitação ao cajueiro acompanhado

de condutores de visitantes locais.

c) Projeto Peixe Boi Marinho

O município de Cajueiro da Praia é o berçário de

preservação do Peixe Boi Marinho, que é animal

ameaçado de extinção. Há um projeto em execução

para o monitoramento dos animais com base fixa nas

águas do rio Timonha. Na sede do Centro de

Mamíferos de Cajueiro da Praia há um museu para a

sensibilização ambiental dos visitantes. A observação

do Peixe Boi Marinho no seu habitat natural pode ser

realizada três vezes por semana, quando a equipe de

biólogos realiza o monitoramento da espécie na base

fixa.

d) Praia de Barra Grande

Está localizada no município de Cajueiro da Praia,

é uma das praias mais procuradas do litoral piauiense

por conta de sua tranquilidade. O local é propicio

para caminhadas e a pratica de esportes de aventura

como o Kite surf. A praia possui estrutura de meios

de hospedagem e equipamentos de alimentos e

bebidas (A&B).

e) Porto das Barcas

Localizado no centro histórico de Parnaíba, as

margens do rio Igaraçu, no seu apogeu foi um

importante entreposto comercial para o escoamento

da produção de charque e cera de carnaúba.

Atualmente o seu uso é para fins turísticos e com

alguns equipamentos de agenciamento e A&B.

f) Praia da Pedra do Sal

Única praia localizada no município de Parnaíba,

distante 12 km de Parnaíba. O lugar possui um farol

entre o conjunto de rochas que divide o mar agitado,

do lado leste, das águas mansas do lado oeste. Tem

esse nome devido a quantidade de sal que se forma

nas cavidades das rochas. Ao longo do percurso é

visível a quantidade de torres de energia eólica pela

paisagem. Da costa é possível ver o pôr do sol, que é

considerado um dos mais bonitos do Piauí.

g) Rendeiras do Morro da Mariana

Localizada no munícipio de Ilha Grande, a casa

das rendeiras é feita a produção da renda de bilro e é

repassada de geração para geração. É um produto de

fama nacional e internacional por conta de sua

qualidade e delicadeza.

h) Santuário de Nossa Senhora Mãe dos

Pobres

Está localizado no centro de Ilha Grande e possui

peças fabricadas com argila pelos artistas locais. A

ideia da construção é do padre italiano Pedro Quiritti,

que com o auxílio de outros sacerdotes trouxeram a

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imagem da Europa e fixaram no ponto mais alto do

Morro da Mariana em janeiro de 1989. No santuário

a visitação é gratuita, e conta com estrutura de um

mirante, onde é possível visualizar a cidade.

i) Ilha das Canárias

É a segunda maior ilha do Delta do Parnaíba,

pertence ao município de Araioses-MA. É situada

junto à barra das Canárias, limite dos estados do

Piauí e Maranhão. A ilha é povoada por pescadores

tradicionais e agricultores, possui estrutura de

pousadas e restaurantes e um pequeno local para

atracar as pequenas embarcações com os turistas.

j) Ilha dos Poldros

A Ilha dos Poldros é composta por vegetação

nativa, com dunas e cercadas pelas águas do encontro

do rio com o Oceano Atlântico, é propicia para a

pratica de esportes a vela por conta dos ventos

constantes, além de ser o ponto de parada para banho

das embarcações que fazem o passeio do Delta

Tradicional.

k) Ilha do Caju

A Ilha do Caju é uma ilha privativa, pertence à

família Clark, mas é possível realizar a visitação. O

passeio sai do Porto dos Tatus, passa pelo Igarapé do

Guirindó e Morro do Meio, chegando a Ilha do Caju

é possível observar a diversidade de ecossistemas,

com mangues, dunas, matas, campos alagados de

água salgada, durante a permanência na ilha pode-se

visualizar animais silvestres como, tatus, cotias, gato-

maracajás, tucanos, jacaré de papo-amarelo,

guaxinins, veados, raposas, pica-paus, macacos

guariba e prego, guarás, garças, entre outros. A Ilha

tem uma extensa plantação de cajueiros, que dão

nome ao lugar.

l) Delta tradicionalO passeio realizado em

embarcações com capacidade até 110 visitantes, com

duração média de seis horas. Durante o percurso é

possível observar a fauna e a flora da região, o

igarapé periquitos, rios e manguezais, encontro das

águas (rio Parnaíba com o Oceano Atlântico). São

realizadas duas paradas para banho na Ilha dos

Poldros e Morro Branco.

m) Revoada dos Guarás

O passeio sai do Porto dos Tatus em direção a Ilha

do Caju, no percurso é possível observar as Ilha do

Bananal, Guirindó, Manguinho, Engraça, Morro do

Meio e Ilha das Cobras. O Guará é uma ave típica do

Delta do Parnaíba com coloração avermelhada, essa

cor é explicada por sua alimentação ser à base de

caranguejos. O melhor período para esse passeio é de

julho a dezembro por ser sem chuvas na região.

n) Delta Safari

Esse passeio é realizado ao dia ou à noite em

lancha rápida com saída do Porto dos Tatus e

percorre o labirinto de ilhas do Delta até o Igarapé do

Guirindó, onde é possível visitar as pequenas

ramificações do igarapé e observar as espécies

animais como, o macaco guariba e prego, cobras,

morcegos, iguanas, jacarés do papo-amarelo, várias

espécies de pássaros e caranguejos.

o) Delta Feijão Bravo

O passeio tem saída do Porto dos Tatus passando

pelo Igarapé dos Periquitos, Baía das Canárias,

Igarapé dos Poldros e parada na Ilha dos Poldros para

banho, segue em direção a Ilha da Barreira e em

seguida a formação de dunas da Baía do Feijão

Bravo.

p) Balneário São Raimundo

O balneário é localizado na comunidade de Cana

Brava, município de Araioses, é considerado o

paraíso do rio Magu, pois tem águas cristalinas e frias

que o tornam um espaço de lazer com local reservado

para a pesca esportiva.

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q) Travessia Delta Tatus-Tutoia

Esse passeio é realizado com saída do Porto dos

Tatus com tour pelo rio Parnaíba e os seus igarapés,

durante o percurso são realizadas paradas para banho

e caminhadas no Morro do Meio, Baía do Caju e Ilha

Grande dos Paulinos para conhecer a cidade

fantasma, que é uma herança da existência de uma

salina em meados do século XX, se segue até Tutoia-

MA. O passeio também pode ser realizado no sentido

Tutoia-Tatus.

r) Passeio Ilhas do Delta – Tutoia

O ponto de saída é do caís do Porto de Tutoia em

direção a algumas ilhas do Delta do Parnaíba,

passando pela Ilha do Cajueiro, Melancieira, Pontal

da Melancieira e Ilha do Coroatá, nessa ilha é

realizado o almoço, descanso e trilhas ecológicas. O

passeio segue até a Ilha dos Guarás para observar a

revoada.

s) Pedra do Céu

É um atrativo que representa a luta pela

sobrevivência dos moradores de Chaval no período

de seca em 1954, nesse local foi construída por

Monsenhor José Carneiro, uma piscina entre os

monólitos para que a população pudesse sanar a sede.

t) Pedra da Carnaúba

Esse local é considerado o mais alto ponto de

Chaval, no seu topo há uma cratera com carnaúbas no

seu interior, no período chuvoso na região é formado

lagos propício para banho. Nesse atrativo é possível

praticar rapel, escalada e camping.

u) Pedra da Santa

É um dos atrativos de Chaval, é localizado

próximo ao Açude Cruzeiro e a Fazenda são Lino,

sendo difícil o acesso por conta da vegetação e a

rocha de característica íngreme.

v) Pedra do Letreiro

Está localizado no lado oposto da Pedra da Santa

em Chaval. É um atrativo rodeado de lendas por

conta de possuir algumas plantas em formas de letras

que nunca secam. Uma das lendas diz que no local da

rocha era um castelo com uma princesa, um bruxo

local apaixonado e não correspondido, ele

transformou o castelo em rocha e o encanto será

quebrado quando alguém conseguir decifrar os

escritos da rocha.

w) Porto do Mosquito

Localizado em Chaval, o Porto do Mosquito é um

dos pontos turísticos mais visitados. É um local

tranquilo para banho, entre as atividades que podem

ser realizadas podemos citar, caminhada, pescaria,

pratica de caiaque e vela. É uma região de mata

nativa e ainda pouco explorada pelo turismo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percebe-se que a APA Delta do Parnaíba tem

potencial para a prática do ecoturismo, entretanto deve

haver o planejamento da atividade, e também ser

considerado um estudo de capacidade de carga, ainda

inexistente, tendo em vista que se trata de um ambiente

de frágil biodiversidade.

As comunidades ainda não estão inseridas de forma

inclusiva tanto no planejamento quanto na atividade,

mas observa-se que há o Conselho Consultivo da APA

Delta do Parnaíba atuando de forma dinâmica na

tomada de decisões importantes, e nele estão

representantes tanto do poder público quanto das

comunidades que fazem parte desse território.

As potencialidades apresentadas confirmam a

atratividade para região. Os passeios são realizados por

agências localizadas nos municípios de Parnaíba, Ilha

Grande, Tutoia e Chaval. O turismo pode se tornar uma

atividade inclusiva e de fomento para o

desenvolvimento territorial, mas é importante que seja

considerado as comunidades tradicionais, não apenas

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como moradores, mas sua opiniões sejam incluídas na

tomada de decisão.

AGRADECIMENTOS: Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela

concessão da bolsa para a pesquisa de mestrado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Decreto de criação da APA Delta do Parnaíba, de

28 de agosto de 1996. Brasília, 1996.

BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição

Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de

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hibridismo cultural à essencialização das identidades). In.:

ARAÚJO, Frederico Guilherme; HAESBAERT, Rogério.

(Org.) Identidade e Territórios: questões e olhares

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SOBRE A JUVENTUDE CAMPONESA: DEBATES TEÓRICOS

Jéssica Aparecida de Ávila Follmann Mestranda do PPGG, UNIOESTE /Campus de Marechal Cândido Rondon/PR, E-mail: [email protected] ;

INTRODUÇÃO

O presente trabalho se refere às discussões

teóricas acerca da juventude camponesa no Brasil.

Debates estes, correlacionados com a pesquisa de

pós-graduação, nível mestrado, que está sendo

desenvolvida pela autora. A referida pesquisa tem

como objetivo principal debater, analisar e

compreender as diferentes possibilidades e

dificuldades encontradas para a reprodução da

juventude camponesa em áreas de luta pela reforma

agrária (assentamentos e acampamentos), nos

municípios de Laranjeiras do Sul e Rio Bonito do

Iguaçu/PR, ambos localizados na mesorregião

Centro-Sul paranaense.

As possibilidades e dificuldades encontradas para

a reprodução do campesinato, ou a permanência da

juventude camponesa no campo são inúmeras.

As dificuldades a que referiu-se acima podem

estar diretamente correlacionadas com o fato de que

campo brasileiro não foge à regra de uma sociedade

no moldes patriarcais (OLIVEIRA, RABELLO,

FELICIANO, 2014). E para além disso, uma falta de

políticas públicas voltadas para ao campo e para sua

juventude. Nisso, destaca-se a falta de acesso à terra

para a juventude camponesa e a inevitável

necessidade de migrar, o que possibilita, muitas

vezes, a permanência do jovem no ambiente

camponês.

Sendo assim, o presente trabalho visa dialogar

com os diferentes debates teóricos acerca da

juventude camponesa no país. Da mesma forma,

possui como objetivo dialogar com as realidades

apresentadas e, até mesmo, construídas pelos jovens

camponeses atualmente.

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa está sendo desenvolvida pela autora

atrelada ao Programa de Pós-Graduação em

Geografia, nível de Mestrado. Área de Concentração:

Espaço de Fronteira: Território e Ambiente, linha de

pesquisa: Dinâmica Territorial e Conflitos Sociais em

Espaço e Fronteira, pela Universidade Estadual do

Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus de Marechal

Cândido Rondon/PR.

A pesquisa divide-se basicamente em três fases de

desenvolvimento. Sendo elas: fase inicial, composta

pelo levantamento bibliográfico e construção do

projeto de pesquisa; fase intermediária, caracterizada

pela continuidade do levantamento bibliográfico,

construção da redação de dissertação e planejamento

e realização de levantamentos de campo e uma última

fase, composta pela qualificação e finalização da

dissertação. O presente trabalho está diretamente

correlacionado a segunda fase da pesquisa, a qual se

encontra em desenvolvimento.

Portanto, este trabalho será composto pelas

discussões teóricas interligadas com a pesquisa:

leituras de livros, dissertações, teses e artigos de

revistas que abordem a temática da pesquisa. E se

dividirá em três momentos. Num primeiro momento

do texto abordar-se-á as concepções entorno do

conceito de juventude, correlacionando com

juventude camponesa, sequencialmente, serão

discutidas as abordagens para com a permanência ou

saída do jovem1 do campo e seus desdobramentos,

finalizando serão levantados alguns questionamentos

sobre o futuro dos jovens camponeses.

1 A palavra “jovem” destacada pelo presenta trabalho

inclui todas as identidades de gênero.

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RESULTADOS

Abordar a temática sobre juventude exige, em

primeiro momento, a compreensão de que são

inúmeras as caracterizações para com esses sujeitos.

São considerados jovens, em várias pesquisas

sobre o tema, aqueles sujeitos que estariam dentro da

abrangência da faixa etária dos 15 aos 24 anos.

Órgãos internacionais como a Organização das

Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

(UNESCO), recomendam o reconhecimento como

jovem para os sujeitos que comporiam a faixa etária

supracitada (KUMMER; COLOGNESE, 2013).

Todavia, outros autores, destacam que a juventude

poderia ser analisada como uma fase de vida que se

estenderia dos 15 aos 29 anos, ou mesmo, que não

deveria ser compreendida através de idades pré-

determinadas, mas que estaria correlacionada com

questões puramente sociológicas, diferenciando-se de

indivíduo para indivíduo (KUMMER;

COLOGNESE, 2013).

Para além de um recorte etário, juventude é “além

de uma categoria que representa identidades sociais,

uma forma de classificação social [...] uma categoria

marcada por relações de hierarquia social”

(CASTRO, et. al. 2009, p. 44). Hierarquia esta,

presente em todos os recortes sobre juventude. Seja

essa juventude compreendida como urbana, rural,

periférica, camponesa, quilombola, entre outras.

As discussões sobre juventude abrangidas pelo

trabalho em questão, refletem-se principalmente pela

caracterização de juventude camponesa e suas

perspectivas futuras. Ressalta-se que a juventude

camponesa compreendida pelo trabalho está

diretamente correlacionada com a juventude presente

nos espaços de luta pela terra/reforma agrária,

acampamentos e assentamentos.

Os desafios encontrados no campo, para com a

juventude camponesa não são poucos. Ser jovem

nesse espaço corresponde, majoritariamente, em

exercer o papel de sucessor da família e futuro

camponês, ao passo que representa uma desconfiança

e incerteza por parte dos sujeitos com idades mais

avançadas.

O jovem carrega consigo a reponsabilidade “pela

continuação das lutas e permanência dos camponeses

nos territórios conquistados pelos trabalhadores, na

perspectiva de construção e consolidação do modo de

vida camponês” (OLIVEIRA; RABELLO;

FELICIANO, 2014, p. 136). Ao passo que, sofre com

o estigma de que ficar no campo é a última

alternativa para sua vida futura.

Nessa perspectiva, além de ser comumente

correlacionado ao futuro do campesinato, o jovem

responde também as incertezas e desconfianças para

consigo. Na realidade,

Pensar a inserção desse “jovem” no meio

rural hoje, implica enfrentar o esforço de

analisar as construções nativas da categoria e

suas disputas, e as próprias lógicas

hierárquicas reproduzidas nessas realidades,

onde o jovem ocupa um papel privilegiado

nos discursos, mas não nas práticas

(GUARANÁ, 2005/2006, p. 79).

Em outras palavras, o jovem é um sujeito

reconhecido, muitas vezes, apenas nos discursos da

sociedade em que estão inseridos. Essa contradição

reflete-se também nas escolhas realizadas pelos

jovens camponeses sobre seu futuro.

A dicotomia “ficar ou partir” redesenha-se a cada

momento de escolha apresentado aos jovens

camponeses. É necessária a compreensão, nesse

aspecto, de que ambas as escolhas, ficar ou partir do

campo, são apenas representações de escolhas

mutáveis e que podem não apresentar de forma

definitiva o desejo do jovem para seu futuro a longo

prazo.

A hierarquização social presente no campo e a

subalternidade a figura patriarcal ou matriarcal

sugere que não diferente da sociedade de maneira

geral, a família camponesa está submetida,

igualmente, a uma cultura patriarcal e, não obstante,

machista. Onde “centra no pai a função de mediatizar

todo o trabalho, outorgando a ele também o controle

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81

sobre todos os que com ele vive” (OLIVEIRA;

RABELLO; FELICIANO, 2014, p. 139).

O patriarcalismo, portanto, caracteriza-se, assim

como a falta de confiança para com esses jovens, como

algumas das dificuldades de permanência do jovem no

campo.

Para além disso, o acesso à terra continua limitado.

Tendo o jovem, dois caminhos: ou permanece na

propriedade da família ou busca nos Movimentos

Sociais a possibilidade de acesso e permanência na

terra.

Ficar na propriedade dos pais implica, não raro, na

submissão já mencionada anteriormente. Mesmo sendo

o sujeito jovem, responsável por grande maioria dos

afazeres cotidianos, esbara na autoridade paterna ou

materna de “donos” da terra. Há, não raramente, um

conflito de compreensão do campo, ou mesmo, do

significado da vida no campo e o trabalho deste entre

gerações, dificultando ainda mais a permanência do

jovem na propriedade dos pais (CASTRO, et. al. 2009).

Engajar-se nas fileiras dos movimentos sociais,

principalmente as do Movimento dos Trabalhadores

Rurais Sem Terra (MST), exige dos jovens a dedicação

e esperança na conquista e permanência na terra.

Conquista esta que geralmente é resultado de anos de

luta e resistência.

Contraditoriamente a essa realidade de luta e

resistência nos acampamentos, o distanciamento do

jovem das articulações políticas presentes nos

assentamentos. Há, aparentemente, um distanciamento

de realidades entre assentamentos e acampamentos

(CASTRO, et. al. 2009).

Entretanto, a permanência do jovem no campo não é

sintetizada apenas por essas possibilidades

supracitadas. Permanecer na propriedade dos pais ou

engajar-se nos movimentos sociais são apenas dois

caminhos disponíveis para a reprodução da juventude

camponesa.

O assalariamento temporário ou a estadia

temporária no espaço urbano também se caracterizam

como possibilidades para a reprodução dessa

juventude.

O assalariamento temporário possibilita,

frequentemente, a manutenção do jovem camponês no

campo. Proporcionando um ganho mensal que

porventura venha a ajudar a família como um todo e

evitando a migração “definitiva” do jovem para o meio

urbano.

A “migração temporária” para o meio urbano é

resultado, repetidamente, da falta de oportunidades

concretas de acesso à terra ou mesmo, da dificuldade

em se manter no campo e da busca de autonomia.

Todavia, comumente alguns jovens tendem a voltar

para o campo, mesmo após constituírem família. Não

raro, para a propriedade dos pais que já apresentam

idade avançada. Nesse “caminho inverso” propiciam a

junção de conhecimentos obtidos através da vivência

no meio urbano com o meio rural.

Os jovens camponeses, dessa forma, não possuem

apenas a saída do campo ou a permanência na

propriedade dos pais, como sucessor, como alternativas

para sua vida futura. Utilizam-se de outros meios,

muitas vezes contraditórios, mas que vão de encontro

com seus anseios e possibilitam novas oportunidades a

esses sujeitos.

Se esquece, como já mencionado neste trabalho, que

ficar ou partir do campo não são decisões imutáveis,

mais sim escolhas que podem ser alteradas ao passar do

tempo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O jovem camponês encontra em sua trajetória

inúmeros questionamentos e dificuldades, da mesma

forma que constrói, em alguns casos, suas

possibilidades de permanecer no meio rural.

O estigma de que suas alternativas são ficar ou

partir do campo deve ser repensado para um contexto

atual. Ficar no campo não representa a falta de

oportunidades tidas como melhores, mas sim uma

escolha feita pelo jovem, e que pode ser mudada. Da

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mesma maneira, partir para o meio urbano não é

sinônimo de eternidade.

Estar no campo ou fora dele são escolhas, ambas

realizadas pelos jovens, porém, é necessário

compreender que por trás desses caminhos há uma

conjuntura social, relacionada muitas vezes,

diretamente com a convivência familiar e comunitária.

Portanto, analisar a juventude camponesa,

atualmente, exige um olhar para as inúmeras relações

sociais presentes no espaço em que estes sujeitos estão

inseridos. E que suas escolhas são reflexo direto da

sociedade e de suas concepções.

AGRADECIMENTOS: Agradeço a Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) pela concessão de bolsa de estudo, nível

mestrado, o que possibilita o desenvolvimento da

pesquisa. Da mesma maneira, agradeço a meu

orientador, Prof. Dr. Djoni Roos, pela dedicação em prol de minha formação e pelos questionamentos

construtivos que me proporcionaram o

amadurecimento acadêmico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTRO, E. G. [et. al]. O Jovens estão indo embora?:

juventude rural e a construção de um ator político. Rio de

Janeiro: Mauad X; Seropédica, RJ: EDUR, 2009.

GUARANÁ, E. Os jovens estão indo embora: Juventude rural e reforma agrária. Revista Proposta, nº 107/108, p.

74-80, dez/mai. 2005/2006.

KUMMER, R.; COLOGNESE, S. A. Juventude rural no

Brasil: Entre ficar e partir. Revista Tempo da Ciência,

v.20, n. 39, p. 201-220, 2013.

OLIVEIRA, L. B.; RABELLO, D.; FELICIANO, C. A.

Permanecer ou sair do campo? Um dilema da juventude

camponesa. Revista Pegada, v. 15, n. 1, p. 136- 150, 2014.

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SURGIMENTO DE UM MOVIMENTO SOCIAL – ANÁLISE DAS ESCOLAS OCUPADAS EM

TOLEDO

Dhyonne Fernandes Pessoa 1Bolsista de Iniciação à Docência, acadêmico do curso de Licenciatura em Geografia, UNIOESTE/Campus de Marechal

Cândido Rondon, e-mail: [email protected].

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é analisar contextos

gerados a partir do movimento de ocupação dos

colégios da rede estadual de ensino no ano de 2016,

que podem ser analisados no contexto da geografia

humana, incluindo a noção do Espaço, Mobilização

social, Redes de Integração, dentre outros.

As noções do que a escola representa no dia a dia

dos jovens, e de como a mobilização trouxe a ideia de

coletividade aos estudantes das escolas públicas

podem ser utilizadas dentro do ensino tanto da

geografia como em outras áreas das ciências humanas

nos mais variados aspectos. Para análise, será

utilizado o movimento de ocupação em Toledo, com

enfoque no Colégio Estadual Luiz Augusto Morais

Rego, colégio central de grande influência no

município.

Figura 1. Movimento Estudantil do Colégio Estadual Luiz

Augusto Morais Rego.

Fonte: Movimento de Ocupação, Toledo, 2016

Os adolescentes passaram a entender a escola

como um ambiente de mudança social e de

transformação, se desprendendo da ideia de que são

apenas receptores de informação, e afirmando seu

papel enquanto parte da instituição, algo que não

faziam com muita frequência. Há nos planos de

trabalho docente o foco em conteúdos voltados ao

Enem e vestibular, e o desenvolvimento do

pensamento da geográfico como ciência de análise

acerca do ambiente em que ele está inserido acaba

ficando em segundo plano.

O movimento de Ocupação trouxe a oportunidade

dos adolescentes vivenciarem na prática o que

representa um movimento social, sendo este um dos

conteúdos estruturantes nas disciplinas de Geografia

e Sociologia no Ensino Médio, porém muitas vezes

pouco abordado ou mal compreendido.

A percepção das relações sociais e econômicas

que regem a sociedade em que estão inseridos trouxe

aos estudantes a compreensão de qual o seu papel no

meio de produção capitalista. As medidas do governo

federal visam, sobretudo, atender as necessidades dos

grandes empresários, que em geral financiam suas

campanhas. Yves Lacoste em sua obra “A Geografia

– Isso Serve, em Primeiro Lugar, Para Fazer a

Guerra”, menciona, enquanto questiona o papel da

geografia, que “O geógrafo deve lembrar

constantemente que a geografia é um saber

estratégico, e que um saber estratégico é perigoso.”

(2005, p. 172). Inserindo no contexto de que a análise

da situação social que desencadeia o movimento

estudantil tem por fim afrontar o sistema, e que a

análise social se inclui no contexto da geografia

humana, pode-se dizer que há a obtenção deste saber

estratégico, e que as consequências de tais atos serão

inevitavelmente percebidas. Mesmo não tendo a

compreensão de que se tal pensamento possa ser

analisado pelo olhar da geografia, os estudantes estão

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obtendo conhecimento acerca das relações de poder

que regem seu dia a dia. E essa compreensão não

agrada os governantes, fazendo assim tal saber

perigoso.

MATERIAIS E MÉTODOS

A Integração Escola/Universidade foi

fundamental para a construção do movimento.

Oficinas foram realizadas por Bolsistas do Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência

(Pibid) do curso de Filosofia da Universidade

Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste e

Matemática da Universidade Tecnológica Federal do

Paraná – UTFPR. Tais oficinas incluíam desde aulas

de reforço voltadas ao vestibular e ao Exame

Nacional do Ensino Médio até atividades recreativas

com intuito de trazer momentos de descontração em

meio a toda a tensão e estresse que passavam os

ocupantes.

Também foram realizados ciclos de debate na

Unioeste Campus Toledo, também ocupada, gerando

uma maior integração entre os ocupantes dos vários

colégios da cidade.

Esclarecendo o que eram a MP 746 e a PEC

241/55, foi realizada palestra com a Prof.ª Dr. Nelsi

Kistemacher Welter, do Colegiado do curso de

Filosofia da Unioeste.

Para Informar a comunidade acerca das atividades

realizadas eram realizados boletins diários publicados

nas redes sociais. A integração entre os colégios

também se dava por meio das redes, que as

utilizavam para comunicar falta ou sobra de

alimentos, que poiam ser compartilhados, informar

problemas ou para pedir auxílio quando necessário.

Figura 2. Pibidianos do curso de Filosofia da Unioeste

Campus Toledo levam oficinas recreativas a Colégio

Morais Rego

Fonte: Movimento de Ocupação, Toledo, 2016.

Com o auxílio da comunidade, os integrantes do

movimento compraram tintas, lixas, pinceis, dentre

outros materiais, com o objetivo de reformar os

portões do colégio. Atividades similares foram

realizadas em outras escolas ocupadas do município.

A organização sempre foi pauta fundamental,

tendo os ocupantes criado listas de tarefas, regras

para a convivência dentro do estabelecimento e

cronogramas de atividades. Eram organizadas

brigadas com objetivo de manter o colégio sempre

limpo e seguro. Os alunos em tais brigadas se

revezavam nas mais variadas tarefas, como por

exemplo limpeza, alimentação, segurança e

organização dos dormitórios.

O Conselho Tutelar realizava visitas frequentes,

onde fiscalizavam a situação para garantir que não

haviam irregularidades ou ameaças à integridade dos

menores ali presentes.

Foi organizada pelo Movimento Ocupa Paraná

uma assembleia, que contou com representantes de

colégios ocupados de todo o estado. Pelas redes

sociais e por meio da colaboração de professores,

pais e demais pessoas que se dispuseram a auxiliar,

foram arrecadados R$473,00, sendo assim possível

que um aluno pudesse representar o Colégio Morais

Rego no evento, onde foram tomadas importantes

deliberações que ditaram os rumos do movimento no

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85

estado. O que restou do dinheiro desta arrecadação

foi destinado à compra de alimentos.

A busca de apoio e visibilidade para o movimento

foi constante. Os ocupantes dirigiram-se aos órgãos

da administração pública municipal, conseguindo,

após a desocupação, contato com o então prefeito

Beto Lunitti (PMDB), onde se debateu como o

executivo municipal poderia realizar a ponte entre os

estudantes e as autoridades, além de uma fala na

Câmara Municipal, onde puderam expor suas pautas

de reivindicação aos representantes do poder

legislativo do município de Toledo, e buscando assim

visibilidade frente a administração nas escalas

estadual e federal.

Figura 3. Alunos dos colégios estaduais Luiz Augusto

Morais Rego e Senador Attílio Fontana fazem-se presentes

em sessão da Câmara Municipal de Toledo.

Fonte: Movimento de Ocupação, Toledo, 2016.

A desocupação se deu após vinte e três dias, com

a ameaça de retirada à força dos alunos do interior do

colégio por parte de pessoas desfavoráveis ao

movimento. Houve confusão e o Conselho Tutelar

Necessitou intervir chamando a Polícia Militar para

evitar que danos ocorressem aos adolescentes

presentes.

No dia seguinte ao acordo de desocupação

firmado com a direção, Associação de Pais Mestres e

Funcionários e demais membros da comunidade

escolar foram recebido por um promotor do

Ministério Público, com um Mandado de

Reintegração de posse em nome do Governo do

Estado do Paraná.

Figura 4.Ameaça marcou o último dia de ocupação no

Colégio Estadual Luiz Augusto Morais Rego

Fonte: Movimento de Ocupação, Toledo, 2016.

RESULTADOS

Dentre os conceitos que podem ser trabalhados

fazendo a análise de tal movimento, estão a formação

de um movimento social organizado por estudantes

cientes dos motivos que os levaram a se mobilizar, e

que pode ser comparado a movimentos de escala

muito maior, onde também houve a mobilização

popular organizada frente a imposições superiores

(como por exemplo a Comuna de Paris, que embora

com propósitos e forma de atuação totalmente

diferentes, mostraram uma organização vindo do

povo para o povo).

Há também a ideia de pertencimento ao espaço e

qual o papel que tal espaço exerce na vida daqueles

que o ocupam. Passando a viver dentro da escola, o

estudante passa a se sentir como sendo parte deste

ambiente de forma muito mais evidente.

O questionamento acerca das estruturas de poder

que regem toda a vida escolar, a noção de hierarquia

dentro do sistema, passando da escola para o Núcleo

Regional de Educação, à Secretaria Estadual de

Educação, ao Executivo Estadual, ao Ministério da

Educação, chegando até a presidência da República.

A importância da luta pela escola pública de

qualidade estudada em seu contexto histórico e

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social. A reflexão feita sobre os períodos da história

da educação brasileira e a importância das disciplinas

que poderiam ser retiradas da grade curricular ou

perder sua obrigatoriedade, sendo assim um grande

déficit para o pensamento crítico que deveria ser

desenvolvido com os estudantes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por todo o país, o movimento de ocupação foi de

fundamental importância para a afirmação da

identidade do estudante como parte da escola em que

está inserido. Trabalhar futuramente este movimento

social em sala de aula será de suma importância, pois

demonstra o poder que possui as classes mais baixas

frente aos detentores do poder à partir do momento

em que há a organização e busca de um objetivo em

comum.

É fundamental que se saiba a importância da

escola como ambiente de formação do cidadão.

Participar do movimento estudantil foi uma

experiência inigualável, e hoje na universidade poder

compartilhar tais experiências tendo o sentimento de

ter feito parte da mudança mostra como o

movimento, mesmo não conseguindo atingir todos os

seus objetivos, fez diferença e marcará a história da

educação pública no país.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LACOSTE, Yves. A Geografia – Isso serve, em primeiro

lugar, para fazer a guerra. 11ª ed. Campinas, SP: Papirus,

2005.

JORNAL DO OESTE. Estudantes buscam apoio da

população e autoridades. Disponível em:

<https://www.jornaldooeste.com.br/noticia/estudantes-

buscam-apoio-da-populacao-e-de-autoridades>. Acesso

em: 08/10/2017.

JORNAL DO OESTE. Alunos do Moraes Rego aceitam

desocupar escola na segunda-feira. Disponível em:

<https://www.jornaldooeste.com.br/noticia/alunos_do_mor

aes_rego_aceitam_desocupar_escola_na_segunda_feira>.

Acesso em: 08/10/2017.

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GEOGRAFIA FÍSICA

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RESUMO SIMPLES

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ESPACIALIZAÇÃO DOS CASOS DE DENGUE NO MUNICÍPIO DE MARECHAL CÂNDIDO

RONDON (PR) ENTRE 2015 E 2016

Ana Caroline Selzler

1;Karin Linete Hornes

2

1Acadêmica do Curso de Licenciatura em Geografia, UNIOESTE/ Campus Marechal Cândido Rondon. E-mail: [email protected];

2Profª Drª do Curso de Licenciatura em Geografia, UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon

O presente trabalho parte dos resultados parciais do projeto de pesquisa de Iniciação Científica voluntária

intitulado “Espacialização dos Casos de Dengue no município de Marechal Cândido Rondon (PR) entre

2015 e 2016”. A Dengue é uma doença infecciosa configurada atualmente como um grande problema de

saúde pública mundial, manifestando-se principalmente em países tropicais, como o Brasil, devido as

condições ambientais que estes apresentam, as quais facilitam o desenvolvimento e proliferação do

principal mosquito vetor da doença, o Aedes Aegipty. O grande número de casos da doença nos últimos

anos vem preocupando autoridades. O município de Marechal Cândido Rondon - PR sofreu, nos anos de

2015 e 2016 uma epidemia da doença, com 218 casos confirmados em 2015 e 120 casos confirmados em

2016. A pesquisa se justifica frente a necessidade de espacializar os casos de Dengue em Marechal

Cândido Rondon, utilizando-se de uma ferramenta eficaz como o Geoprocessamento, afim de constatar a

dinâmica espacial de distribuição da doença. Objetiva-se então, após a coleta de dados junto a Divisão de

Vigilância Epidemiológica do município, espacializá-los e mapeá-los mensalmente para analisar a

evolução da doença. Tal pesquisa, de análise espacial, norteia-se dentro da Geografia da Saúde, sendo de

cunho quantitativo e descritivo, utilizando-se do Geoprocessamento para a confecção de mapas que

permitirão compreender a dinâmica espacial da doença, possibilitando definir as localidades de maior

intensidade de transmissão e sua disseminação. Dessa forma, os resultados esperados desta pesquisa de

espacialização dos casos de Dengue no município de Marechal Cândido Rondon são a identificação das

áreas onde há maior número de casos da doença, percebendo sua evolução ao longo dos meses. O

trabalho também irá relacionar os dados com fatores ambientais como a pluviosidade e média de

temperatura mensal, para identificar os meses mais suscetíveis aos surtos, por exemplo, contribuindo com

a Prefeitura Municipal no combate ao mosquito através de uma otimização de ações, com estratégias

direcionadas para a minimização dos casos de dengue do município de Marechal Cândido Rondon.

Palavras-chave: dengue, geografia da saúde, geoprocessamento.

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ESTUDO DE CASO DE UM EVENTO DE TEMPESTADE SEVERA OCORRIDO EM NOVA

LARANJEIRAS (PR) EM 13/06/1997

Marcos Balicki1; Karin Linete Hornes

2

1Geografia Licenciatura, UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2Geografia Licenciatura, UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon

Eventos severos atingem a população paranaense constantemente, conhecer e entender a sua dinâmica

auxilia na definição de estratégias de organização e planejamento da população para tornar as cidades

mais resilientes e seguras. Existem vários eventos em tempestades severas que podem trazer grandes

destruições e estes possuem características diferenciadas de gênese morfológica e atuação. Na presente

pesquisa buscou-se informações a respeito de ocorrências e gênese atmosféricas que podem trazer tempo

severo, bem como o tipo de estragos que as mesmas proporcionam para poder compreender a destruição

ocorrida em Nova Laranjeira no dia 13 de junho de 1997. Segundo relatos, a cidade passou por um

aniquilamento de casas comerciais, prédios públicos e inúmeras residências, que deixaram várias pessoas

gravemente feridas e quatro vítimas fatais. Para compreender a ocorrência severa desta atividade foram

descritos os fenômenos de complexos convectivos de mesoescala, linhas de instabilidade, vendavais

(downbursts/swindshear), tornados, furacões, saraiva e os ciclones (tropicais e extratropicais) em

conjunto com a atução e o tipo de destruição que estes podem causar afim de identificar possíveis

assinaturas de deteminados fenômenos para comparar a ocorrência catastrófica. De posse destas

informaçõesbuscou-se por imagens Goese dados metereológicos que pudessem auxiliar na identificação

do fenômeno. A imagem permitiu descartar a possibilidade de influências de furacões e ciclones, mas não

permitiu definir o evento. Desse modo partiu-se para uma caracterização de campo afim de buscar mais

evidências para poder definir se a ocorrência foi um downbursts ou um tornado. Assim após a aplicação

de 31 questionários a algumas pessoas envolvidas naquele dia fatídico foi possível definir a atuação de

um Tornado. Dezenove entrevistados viram o tornado. Sua trajetória de destruição foi de 17 km

aproximadamentecom direção predominando de NW-SE. O evento não pôde ser considerado um

downburst porque a área atingida não tinha um formato radial, bem como os danos não ficaram uniformes

ou dispostos nas mesmas direções. Foi possível ter acesso a fotos com descrições e objetos fincados em

troncos, o que auxilia na confirmação de atividade tornádica. O Tornado ocorrido destruiu casas de

alvenaria, lançou veículos e animais e deixou muitos feridos, além de percorrer uma trilha definida. Pelos

danos causados a força destrutiva chegou à categoria EF3 definida por Ted Fujita. Apesar de o município

ter sofrido com um evento deste porte, os administradores da época e os posteriores assim como os

munícipes não souberam adotar medidas para deixar a cidade mais resiliente, como construir suas

residências mais seguras.

Palavras-chave: Tornado; Cúmulos-nimbus; Nova Laranjeiras.

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MORFOMETRIA DA BACIA DO RIO MATHIAS ALMADA EM FOZ DO IGUAÇU-PR E A

SUSCETIBILIDADE À ENCHENTES

Julio Cezar de Freitas

1; Danieli Cristina Cassuli

2; Vanda Moreira Martins

3

1Mestrando em Geografia, UNIOESTE/Marechal Candido Rondon, [email protected]; 2Mestre em Geografia, UNIOESTE/Marechal Candido Rondon;

3Professora Doutora do Curso de Geografia, UNIOESTE/Marechal Candido Rondon

Levantar as características morfométricas de uma bacia hidrográfica é indispensável para a realização de

estudos hidrológicos e/ou ambientais, pois, permite relacionar suas características físicas e naturais com

as ações antrópicas e seus impactos no ambiente. A bacia hidrográfica do rio Mathias Almada localiza-se

no município de Foz do Iguaçu e integra a Bacia do Paraná III na região Oeste do estado do Paraná.

Sucessivos eventos de enchentes são registrados para além das margens do curso principal do rio Mathias

Almada em seu trecho urbano. Levantar os atributos morfométricos da bacia hidrográfica do referido rio e

caracterizar a ocorrência de enchentes na área do perímetro urbano da cidade de Foz do Iguaçu foi o

objetivo principal do trabalho. Por meio da carta topográfica do município (escala 1:50.000), foram

calculados os parâmetros morfométricos referentes as características métricas (área, perímetro,

comprimento axial, comprimento do talvegue, soma total do comprimento e número de canais), de forma

(índice de compacidade e conformação, razão de elongação, índice de circularidade e ICO), padrão de

drenagem e hierarquia hidrográfica, densidade da drenagem, densidade de cursos d‟água e sinuosidade

dos canais, além de aspectos do relevo, como declividade e hipsometria. Foram utilizadas técnicas de

geoprocessamento aplicadas dentro do programa “QGIS” e equações propostas para os fatores

morfométricos os quais indicaram que a bacia tem baixa suscetibilidade natural à enchentes. Sua

ocorrência, causa e consequências decorrem do planejamento, uso e ocupação inadequados dos solos.

Palavras-chave: Bacia hidrográfica; Parâmetros morfométricos; Enchentes.

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CAUSAS E EFEITOS DOS PROCESSOS EROSIVOS LINEARES UMA PROPOSTA DE

REVISÃO DA LITERATURA

Gabriel de Almeida Flopas¹; José Edézio Cunha²

¹Geografia, UNIOESTE/campus Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2Colegiado de Geografia UNIOESTE/campus Marechal Cândido Rondon

O conhecimento do meio físico exige uma reflexão complexa de muitos conteúdos, sejam eles de ordem

natural, social e econômica. O solo é um dos nossos recursos mais importantes e consequentemente é um

dos mais utilizados, devido a necessidade constante de matéria prima e organização/reorganização dos

meios urbanos. Vale ressaltar que os estudos relativos à gênese e a evolução dos processos erosivos

lineares também podem ajudar na compreensão da estrutura e do funcionamento das paisagens,

particularmente porque auxiliam nas propostas que visam a melhor ocupação e manejos corretos dos

ambientes, numa perspectiva sistêmica. Esta discussão pode ser justificada porque a erosão dos solos tem

sido indicada como parte do processo de degradação ambiental. Cabe destacar que os processos erosivos

lineares têm sua gênese vinculada tanto aos processos naturais, que são constituintes da caracterização do

solo e a formação do relevo terrestre, como por práticas antrópicas, a utilização inapropriada do solo sem

o devido planejamento em meios agrícolas ou urbanos. Diante do exposto, esta pesquisa, em

desenvolvimento como projeto de Iniciação Científica, tem o objetivo de elaborar uma revisão da

literatura que evidencie teoricamente e metodologicamente as causas e os efeitos dos processos erosivos

lineares, a partir da seleção de livros, textos de revistas e de páginas da internet. Este estudo além do

objetivo de contribuir com a nossa formação acadêmica tem o intuito de trazer contribuições sobre esta

temática das causas e dos efeitos dos processos erosivos lineares, considerada importante para a

sociedade.

Palavras-chave: uso e ocupação; relação solo-relevo; degradação ambiental.

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ESTUDO MORFOPEDOLÓGICO DE UMA TOPOSSEQUÊNCIA DE SOLOS NO MUNICÍPIO

DE TERRA ROXA-PR: Estudo de caso na área de transição entre Basalto e o Arenito Caiuá

Luma Barbosa Mellão de Moura1; José Edezio da Cunha

2

1Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal C. Rondon, [email protected] 2Colegiado de Geografia UNIOESTE/campus Marechal Cândido Rondon

O conhecimento do meio físico, em especial a relação dos solos com as formas do relevo, tem sido

considerado imprescindível para os estudos que procuram entender a estrutura e o funcionamento das

paisagens, particularmente porque auxiliam nas propostas que visam a melhor ocupação e manejos

corretos dos ambientes, numa perspectiva sistêmica. Os estudos com a utilização da metodologia da

análise bidimensional da cobertura pedológica têm demonstrado boa aplicabilidade porque permitem

entender a distribuição espacial dos solos ao longo das vertentes auxiliando, por exemplo, na

compreensão da gênese e evolução de processos erosivos, sejam eles de origem natural ou antrópica. É

com o intuito de corroborar com esta temática teórica e metodológica que este estudo de caso, será

realizado em uma vertente característica do município de Terra Roxa, região Oeste do Estado do Paraná,

na área de transição entre o Basalto e o Arenito Caiuá. Para o desenvolvimento deste trabalho aplicou-se

os seguintes procedimentos metodológicos: escolha e definição da vertente característica, em termos

morfopedológicos, a partir da análise de documentos cartográficos já existentes; reconhecimento da área

por meio de trabalhos de campo; levantamento topográfico da vertente com o uso de clinômetro, metro e

trena para obtenção da sua forma e extensão; levantamento pedológico preliminar com o uso do trado tipo

holandês, para obtenção da distribuição espacial dos solos existentes na vertente. Através dos

levantamentos topográfico e pedológico verificou-se que a vertente possui uma forma convexo-côncava,

apresentando sistema pedológico constituído por Latossolos Vermelhos no segmento de topo, Nitossolos

Vermelhos da média-alta a média-baixa vertente e Gleissolos na baixa vertente/sopé. O que se pôde

perceber é que, embora não existam processos erosivos instalados, é necessário continuar cuidando da

área, especificamente, a partir da média vertente, particularmente no que diz respeito a presença do gado,

pois a declividade mais acentuada do segmento de baixa vertente, atrelada a presença do Gleissolo, pode

desencadear a instalação e evolução de processos erosivos, tanto de ordem linear como de movimentos de

massa dos solos.

Palavras-chave: uso e manejo, características morfológicas, erosão.

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94

ESTUDO EM UMA TOPOSSEQUÊNCIA DE SOLOS NO MUNICÍPIO DE TERRA ROXA-PR:

ESTUDO DE CASO NA ÁREA DE PREDOMÍNIO DO ARENITO CAIUÁ

Jhonatan Vicentini

1; Rafael Martins Sanches

2; José Edezio da Cunha

2

1Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon

O conhecimento do meio físico, em especial o da relação dos solos com as formas do relevo, tem sido

considerado imprescindível para os estudos que procuram entender a estrutura e o funcionamento das

paisagens, particularmente porque auxiliam nas propostas que visam a ocupação e manejos corretos dos

ambientes, numa perspectiva sistêmica. O presente estudo foi desenvolvido a partir do projeto de

Iniciação Científica, correspondente ao período de 08/2016 a 07/2017, vinculado ao curso de Geografia,

Campus de Marechal Cândido Rondon, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Foi aplicada a

metodologia da análise bidimensional da cobertura pedológica em uma vertente característica, em termos

morfopedológicos, para se obter o reconhecimento e distribuição espacial dos solos ao longo da vertente,

bem como a compreensão da gênese e evolução dos processos erosivos, sejam eles de origem natural ou

antrópica. Com os dados do reconhecimento pedológico, obtidos em campo, foram identificados três

classes de solos, conforme forma e declividade da vertente, nos três segmentos topográficos: no primeiro,

do topo até a média-vertente, são constituídos pelo Latossolo Vermelho; no segundo, da média-vertente

até a baixa-vertente, ocorre o Argissolo Vermelho, e, por fim, a partir da ruptura de declive, no sopé,

ocorre o Argissolo Vermelho Amarelo, considerado o de maior suscetibilidade à instalação e evolução de

processos erosivos, laminares e lineares.

Palavras-chave: Processos erosivos; topossequência; vertente.

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95

ESTUDO MORFOPEDOLÓGICO EM UMA TOPOSSEQUÊNCIA DE SOLOS NA VERTENTE

STEIN, ENTRE RIOS DO OESTE–PR

Andressa Schauren Krewer

1; José Edézio da Cunha

2 Rafael Sanches Martins

3

1Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon;

3Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon

O conhecimento do meio físico, em especial, o da relação entre os solos e sua distribuição ao longo das

vertentes é considerado imprescindível para os estudos que procuram entender a estrutura e o

funcionamento das paisagens, em particular porque auxiliam nas propostas que visam a melhor ocupação

e manejo correto do ambiente, sempre a partir de uma visão integrada, por meio da perspectiva sistêmica.

Estudos utilizando a metodologia da análise bidimensional da cobertura pedológica tem demonstrado boa

aplicabilidade pois permitem entender a distribuição espacial dos solos ao longo das vertentes auxiliando,

por exemplo, na compreensão da gênese e evolução dos processos erosivos. Com o intuito de fortalecer

essa temática teórica e metodológica, este estudo de caso, em desenvolvimento como Trabalho de

Conclusão do Curso de Geografia, em uma vertente característica em termos morfopedológicos, no

município de Entre Rios do Oeste, região Oeste do Estado do Paraná, tem o objetivo de compreender

tanto a distribuição espacial dos solos como as suas relações com as formas da vertente, já que, essas

informações, quando trabalhadas conjuntamente, podem contribuir na avaliação das causas e dos efeitos

dos processos erosivos, sejam eles naturais ou provocados pelas ações de uso e manejo dos solos.

Palavras-chave: cobertura pedológica, processos erosivos, uso e manejo do solo.

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ESTUDO MORFOPEDOLÓGICO EM UMA TOPOSSEQUÊNCIA NA ESQUINA MEMÓRIA –

TOLEDO –PR

Anderson Habeck

1; Edson Luiz Zanchetti da Luz

1; Patrícia Antônio de Oliveira

2, Geovane Ricardo

Calixto3, Ericson H. Hayakawa

4, Marcia R Calegari

4

1Licentiatura em Geografia, UNIOESTE/MCR, [email protected] ; 2Mestranda em Geografia, UNIOESTE/MCR;

3Bolsista Técnico Fundação Araucária/SETI-PR/SENAR-PR, UNIOESTE/MCR;

4Colegiado de Geografia, UNIOESTE/MCR

Na região Oeste do Paraná ocorrem os solos formados a partir das rochas eruptivas (basalto) do Grupo

Serra Geral. Estes solos são diferenciados quanto a sua fertilidade natural e aptidão agrícola. Mesmo

localizando-se em paisagens de relevo suavemente ondulada, favoráveis a pedogênese progressiva, esses

solos apresentam problemas devido ao manejo intensivo e inadequado durante o seu cultivo. O Programa

da Rede Paranaense de Apoio à Agropesquisa e Formação Aplicada, desenvolvido no Paraná, visa obter

soluções e proposições que minimizem os processos erosivos, favorecendo a estabilidade do ambiente

edáfico conciliada com o aumento da produção agrícola. Ações desse programa vêm sendo desenvolvidas

no Oeste do Paraná, em uma área piloto, localizada no município de Toledo, nossa área de estudo, por

meio de uma parceria entre UNIOESTE, Fundação Araucária/SETI-PR/SENAR-PR e ITAIPU. O

presente trabalho, parte do projeto “Espacialização dos atributos dos solos em escala de detalhe:

subsídios para o manejo e conservação dos solos”, inserido na Rede supracitada, visa realizar o

levantamento detalhado dos solos e das áreas de maior suscetibilidade erosiva e produção de sedimentos

em uma vertente (bacia de primeira ordem), na comunidade Esquina Memória, Toledo – Pr. Os resultados

desse projeto poderão gerar maiores informações sobre a distribuição, caracterização e

conservação/degradação dos solos na paisagem; desenvolver técnicas e ferramentas que permitam

descrever e entender os processos pedogenéticos e erosivos e assim, promover um diálogo mais direto

entre pesquisadores, agricultores e a sociedade. Os resultados preliminares indicam uma boa correlação

entre os tipos de solo e sua posição na vertente estudada, que possui 923 m de extensão, forma convexa-

retilínea-convexa e desnível topográfico de 93 m. No fundo de vale predominam os solos menos

desenvolvidos pedogenéticamente, (Cambissolo Háplico - CX), e mais rasos (Neossolos Regolíticos-RR);

na baixa vertente ocorrem solos mais desenvolvidos, os Nitossolo Vermelho férrico - NVf. Os Latossolo

Vermelho férrico - LVf predominam nos setores retilíneos (média vertente) e convexo, de topo. Tal

sequência lateral, de montante para jusante, é recorrente na região, variando em função da forma e

extensão das vertentes. Observou-se que o horizonte A (Ap e AB) apresenta uma forte compactação até

40 cm de profundidade, gerando uma camada de impedimento à infiltração da água e ao desenvolvimento

das raízes que se concentram nos primeiros três centímetros do solo. No terço inferior da vertente, setor

de maior declividade, são comuns sulcos indicando a concentração de fluxos superficiais, gerando

sedimento que são depositados no fundo de vale.

Palavras-chave: Manejo, Conservação do solo, representação bidimensional; cobertura pedológica.

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GÊNESE DOS LATOSSOLOS NO PLANALTO DE FOZ DO IGUAÇU, PARANÁ – BRASIL

Bruno Aparecido da Silva1; Márcia Regina Calegari

2

1Bolsista Capes/Fundação Araucária; Doutorando do PPGG - UNIOESTE/Francisco Beltrão; E-mail:

[email protected]; 2Profa. Dra. do PPGG - UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon-PR

Muitos Latossolos de paisagens tropicais e subtropicais são considerados poligenéticos. Muitos autores

atribuem a poligênia à atuação cíclica de processos denudacionais e pedogeoquímicos sobre a superfície

rochosa e o manto de intemperismo durante a evolução das paisagens, principalmente no Quaternário,

assim, muitos dos materiais genéticos dos Latossolos podem ser de origem alóctone. Estudos

pedogeomorfológicos no Oeste do Paraná têm demonstrado isso, tanto a partir da constatação in loco de

processos coluvionares em perfis de Nitossolos, nos segmentos intermediários da vertente, quanto pelas

diferenças das superfícies geomorfológicas regionais (dissecação, morfologia, formas residuais e

espessura dos mantos de intemperismo). Essas constatações direcionaram esta pesquisa à seguinte

questão: seriam os materiais parentais dos Latossolos no Planalto de Foz do Iguaçu de origem alóctone?

Diante disso, parte-se da hipótese de que no Planalto de Foz do Iguaçu os Latossolos evoluíram a partir da

atuação dos processos pedogenéticos sobre material alóctone, o qual teria sido erodido e transportado do

compartimento geomorfológico de São Francisco, onde os Latossolos seriam autóctones. Dito isso, o

objetivo desta pesquisa de doutorado, ainda em fase inicial, é investigar a gênese dos materiais de origem

dos Latossolos no Planalto de Foz do Iguaçu e São Francisco. Para alcançar tal objetivo será realizado

levantamento bibliográfico, elaboração de mapas (hidrografia, geologia, solo e relevo), trabalhos de

campo para descrição macromorfológica e coleta de amostras de solos, bem como análise da paisagem.

As amostras de solo serão submetidas a análises físico-químicas de rotina, ataque sulfúrico, fluorescência

e difração de Raio-X e micromorfologia. As técnicas empregadas permitirão verificar o grau de evolução

da cobertura pedológica e dos materiais de origem dessas coberturas, a partir das suas constituições

mineralógicas. Além disso, serão compreendidos os processos deposicionais atuais e pretéritos, as

transformações pós-deposicionais e as propriedades dos materiais que originaram os Latossolos. Sendo

assim, esta pesquisa adquire papel fundamental na região Oeste do Paraná ao sistematizar

pedoindicadores para determinar a autocnia e/ou alóctonia dos Latossolos, subsidiando futuros estudos

sobre a evolução da paisagem regional.

Palavras-chave: Solo-relevo; solos-alóctones; mineralogia.

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ÍNDICE TOPOGRÁFICO DE UMIDADE COMO INDICATIVO DE ÁREAS HIDROMÓRFICAS

NO TRECHO SUPERIOR DO CÓRREGO QUATRO PONTES, PR

Bruno Aparecido da Silva

1 Vanda Moreira Martins

2 Ericson Hideki Haiakawa

2

1Bolsista Capes/Fundação Araucária; Doutorando do PPGG – Mestrado/Doutorado, UNIOESTE/Francisco Beltrão; E-mail: [email protected];

2Prof. Dr do PPGG - UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon-PR

O Índice Topográfico de Umidade (ITU) é um importante indicador da distribuição dos solos na

paisagem. Valores elevados de ITU estão associados aos setores da paisagem com saturação hídrica

(fundos de vale, setores abaciados, planícies, entre outros), podendo indicar condições de hidromorfismo

no solo. Na literatura, valores de ITU > 10 (número adimensional), comumente são associados às áreas

com saturação hídrica, sendo, portanto, o ITU um indicador capaz de separar unidades de mapeamento de

solos e, também, identificar áreas restritas à urbanização e manejo com maquinários pesados. Assim,

considerando a necessidade de obtenção de informações detalhadas da distribuição dos solos (escala

1:50.000), este estudo utiliza o ITU para identificar setores da paisagem com saturação hídrica, no trecho

superior da bacia do córrego Quatro Pontes, localizada na região Oeste do Estado do Paraná. A obtenção

do ITU foi a partir da manipulação dos dados de SRTM (Shutlle Radar Topography Mission), 30 metros

de resolução, no Sistema de Informação Geográfica (SIG) Saga 2.2.6. Os valores de ITU foram

discretizados, no SIG Qgis 2.18, em 3 classes: ITU I – 5,44 a 6,53; ITU II – 6.53 a 12,0; ITU III – 12,0 a

16,3. Os resultados obtidos indicam que, dos 34,4 km2 da bacia, 92,1% da área estudada predominam as

condições de drenagem livre na paisagem (classes de ITU I e II), condizentes aos solos excessivamente

drenados a bem drenados. Entretanto, 7,8% da área estão associadas à classe ITU III, representando

setores da paisagem com estagnação hídrica no perfil de solo (setores hidromórficos), onde possivelmente

a ocorrência é de Gleissolos. O ITU mostrou-se um atributo do terreno importante na identificação de

solos bem drenados e saturados existentes na paisagem. Estas informações são satisfatórias para predizer

que, possivelmente, está ocorrendo processos pedogenéticos de gleização nos locais saturados, contudo, é

importante que a interpretação seja apoiada de análise in loco, para a devida validação dos setores

identificados como hidromórficos.

Palavras-chave: Gleissolos; atributos do terreno; SRTM.

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ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS PROCESSOS EROSIVOS NA ÁREA RURAL DE FRANCISCO

ALVES - PARANÁ

Érica Renata Teixeira Cripa

1; José Edézio da Cunha

2

1Curso de Geografia, UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon. E-mail: [email protected]

2 Colegiado de Geografia, UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon

As ações humanas interferem diretamente no meio ambiente, modificando paisagens naturais em

construções de prédios e estradas, devastando terras para cultivos agrícolas tanto para a sua subsistência

quanto para o comércio. Com o intuito de compreender as relações do uso da terra e a instalação e

evolução de processos erosivos na área rural de Francisco Alves o objetivo, deste estudo de caso, é

compreender até que ponto o uso o solo influenciou na formação e na evolução dos processos erosivos na

área rural da cidade de Francisco Alves, já que, naturalmente os solos são de origem arenosa (arenito

Caiuá), frágeis à erosão. Justifica-se a escolha deste tema para se compreender as causas dos processos

erosivos hídricos, uma vez que se observa o aumento dos plantios de soja e de milho na região, e entender

a importância da cobertura vegetal e os procedimentos de proteção que podem evitar ou até mesmo

controlar a origem e evolução dos processos erosivos. Os procedimentos metodológicos utilizados para

alcance dos objetivos, deste estudo de caso, em desenvolvimento com Trabalho de Conclusão de Curso

(TCC), foram técnicas de gabinete e de campo que proporcionaram constatar que a área objeto de estudo

está com o processo erosivo aparentemente controlado devido as ações de contenção dos processos

erosivos, realizados pelo proprietário. Por meio deste estudo, até o presente momento, foi possível

identificar e localizar os processos erosivos, resultantes da água da chuva, bem como identificar algumas

das suas causas e dos efeitos em termos ambientais.

Palavras-chave: uso e manejo; solos arenosos; erosão hídrica.

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RELAÇÃO SOLO-RELEVO: SUBSIDIOS PARA MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO

(ESQUINA MEMÓRIA – TOLEDO –PR)

Edson Luiz Zanchetti da Luz

1; Anderson Habeck

1, Patricia Antonio de Oliveira

2, Geovane Ricardo

Calixto3, Ericson H. Hayakawa

4, Marcia R Calegari

4

1Licentiatura em Geografia, UNIOESTE/MCR, [email protected] ; 2Mestranda em Geografia, UNIOESTE/MCR;

3Bolsista Técnico Fundação Araucária/SETI-PR/SENAR-PR, UNIOESTE/MCR; 4Colegiado de Geografia, UNIOESTE/MCR.

O oeste do Paraná representa uma das áreas de agronegócio mais expressiva do país. Em geral suas terras

apresentam alta aptidão agrícola e declividades suaves, porém ainda assim, tem apresentado significativa

fragilidade ambiental diante dos processos de compactação e de perda de solos por erosão hídrica.

Compreender os mecanismos de geração e transferência de água, solo e nutrientes, é a questão central que

deve nortear os estudos que visam minimizar os impactos causados pela compactação e erosão hídrica

acelerada, tal como o proposto pelo Programa da rede paranaense de apoio a agropesquisa e formação

aplicada que vem sendo desenvolvido no Oeste do Paraná, em parceria entre UNIOESTE, Fundação

Araucária/SETI-PR/SENAR-PR e ITAIPU. Entretanto, para alcançar tal objetivo é necessário conhecer

dos solos na paisagem e o seu grau de degradação, identificar e compreender a dinâmica dos processos

hídricos envolvidos na erosão; desenvolver técnicas e ferramentas que permitam descrever e entender os

processos e assim, permitir que haja uma conexão mais direta e fácil entre os pesquisadores, agricultores

e sociedade. O presente trabalho, parte do projeto “espacialização dos atributos dos solos em escala de

detalhe: subsídios para o manejo e conservação dos solos”, visa realizar o levantamento detalhado da

cobertura pedológica e identificar as áreas de maior suscetibilidade erosiva produção de sedimentos em

uma vertente em uma bacia de primeira ordem, localizada comunidade Esquina Memória, Toledo – Pr. A

vertente estudada possui forma convexa, 565 metros de extensão e 44 metros de desnível topográfico.

Esta vertente divide-se em três segmentos: fundo de vale onde predominam solos rasos (Cambissolos e

Neossolo Regolilitco) e afloramento de rocha alterada; média vertente (subdividida em média-baixa,

média e média-alta) apresenta solos mais desenvolvidos e profundos (Nitossolo Vermelho férrico); e no

topo predominam solos mais profundos e pedogenéticamente desenvolvidos (Latossolo Vermelho

férrico). Destaca-se nesta vertente a forte compactação nos primeiros 40 centímetros do solo na

topossequência, dificultando a infiltração da agua e o desenvolvimento das raízes, favorecendo o

desenvolvimento de processos erosivos lineares (sulcos e pequenas ravinas) conforme observado em

todos os segmentos da vertente. Até o momento os resultados permitem identificar os segmentos de

média e baixa vertente como os mais críticos em relação a suscetibilidade a erosão nesta vertente. Estes

segmentos carecem de maior atenção e práticas adequadas de manejo e conservação do solo e agua,

visando minimizar a produção de sedimentos que podem atingir o curso d‟agua do fundo de vale, e

mitigar os prejuízos.

Palavras-chave: topossequência; representação bidimensional; cobertura pedológica.

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RESUMO EXPANDIDO

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A TOPOGRAFIA E OS SOLOS DA ILHA DO PAPAGAIO-GUAÍRA/PR

Soraya Brehm1; Vanda Martins Moreira

2; Bruno Aparecido da Silva; Rafael Martins Sanches.

1Geografia, Universidade do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2Universidade do

Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon

INTRODUÇÃO

Os rios são capazes de transportar, erodir e

depositar sedimentos tornando-se, assim,

importantes agentes transformadores da

paisagem (RICCOMIN et al., 2001). Ao associar

a dinâmica dos rios e o uso e ocupação dos solos

na região, caracterizados pela agricultura,

turismo, habitação, etc na bacia do rio Paraná,

observa-se, ao longo do canal, a formação de

ilhas e barras de canal. Essas formações são

desencadeadas, a partir da deposição dos

sedimentos oriundos dos processos de erosão,

transporte e deposição que ocorrem nos setores à

montante das áreas drenadas pela bacia

hidrográfica do rio Paraná.

Conforme Santos et al., (1992), as ilhas

fluviais, são feições encontradas acima do nível

de margens plenas, que ficam submersas em

períodos de grandes cheias e, além disso,

possuem a presença de vegetação arbustiva.

Assim, entende-se que nesses locais o acúmulo

de materiais, submetidos aos processos

pedogenéticos, desencadeia a formação de

diferentes tipos de solos.

As pesquisas pedológicas, com ênfase no

reconhecimento, levantamento, classificação e

mapeamento dos solos, contribuem com

importantes informações a respeito de sua

organização e distribuição espacial, bem como

com sua dinâmica evolutiva e a relação com os

outros elementos formadores da paisagem, como

o material de origem, o relevo, o clima, os

organismos e o tempo. Além disso, o

mapeamento é considerado uma importante base

cartográfica na prevenção dos riscos de uso e

ocupação do solo de áreas destinadas à

preservação (EMBRAPA, 1995), auxiliando no

planejamento e gestão territorial. Por isso o

trabalho de reconhecimento dos solos da ilha

fluvial, conhecida localmente como Ilha do

Papagaio, norteou os resultados discutidos neste

trabalho. O levantamento da topografia e a

identificação das principais classes de solos que

caracterizam os ambientes envolvem um

conjunto de procedimentos, de campo e

laboratório, indispensáveis nesse tipo de

pesquisa (EMBRAPA, 1995, 2011, 2013;

MARQUES et al., 2000; SANTOS et al. 2015).

MATERIAIS E MÉTODOS

A Ilha do Papagaio, selecionada para a

investigação, está localizada no canal esquerdo

do rio Paraná (24º04‟07”S – 54º12‟48”W), à

jusante da Ilha Grande (Apêndice 1), nas

proximidades da cidade de Guairá-PR. Possui

cerca de 900m de comprimento por 240m de

largura e está ocupada por vegetação arbórea e

arbustiva.

Os materiais utilizados no reconhecimento

dos solos em campo foram: manuais de

levantamento de solos, de descrição e coleta de

amostras no campo, de classificação de solos

(EMBRAPA, 1995; SANTOS et al., 2015;

EMBRAPA, 2013); carta de cores de solos:

Munsell Soil Collor Charts; trado holandês para

a abertura de fustes (sondagens) e coleta de

amostras de solo; GPS para localização dos

pontos de coletas; clinômetro, régua e trena para

o levantamento do perfil topográfico; materiais

de expediente para a coleta das amostras de

solos; veículo e barco para transporte e

deslocamento.

Os procedimentos metodológicos das

principais etapas em campo e laboratório foram:

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103

a) levantamento topográfico e reconhecimento

dos solos (EMBRAPA, 1995) por meio de

sondagens e abertura de trincheiras para

exposição dos perfis de solos; b) descrição,

identificação e classificação dos solos em

campo; c) coleta de amostras (SANTOS et al.,

2015; EMBRAPA, 2013).

As etapas de campo foram realizadas no

período de 27/04/17 à 30/06/17 e contou com a)

o levantamento topográfico ao longo da ilha; b)

realização das sondagens e abertura de

trincheiras para descrição dos perfis e coleta de

amostras de solos. Nesta etapa foram coletadas

98 amostras e destas, 33 foram selecionadas para

análises físico-químicas laboratoriais; c) a

obtenção dos dados das análises físico-químicas

(granulometria, pH, saturação por bases, matéria

orgânica etc - EMBRAPA, 2011) auxiliaram na

identificação e classificação dos solos

(EMBRAPA, 2013). Esta etapa foi realizada no

laboratório de química ambiental do

CCA/UNIOESTE-MCR; d) sistematização,

análise e interpretação dos dados e informações

coletados e produzidos com apoio das

Geotecnologias: técnicas de sensoriamento

remoto (fotoidentificação), geoprocessamento e

Sistema de Informação Geográfica – SIG

(aplicativos do ARCGIS 10.1), sobretudo para o

mapeamento dos solos na ilha.

A descrição morfológica e as análises físico-

químicas dos horizontes de solos permitiram

classificá-los até o quarto nível categórico,

conforme sistema Brasileiro de Classificação de

Solos (EMBRAPA, 2013).

RESULTADOS

Levantamento topográfico da Ilha do

Papagaio

O levantamento topográfico ao longo da ilha

do Papagaio foi realizado no sentido SE-NW

(Apêndice 2) auxiliando no reconhecimento da

morfologia do terreno, dos diferentes ambientes

de formação dos solos e da vegetação. Sua

construção auxiliou na identificação prévia dos

locais para realização das sondagens e a abertura

de trincheiras e descrição morfológica dos

horizontes de solos e coleta das amostras para

análises físico-químicas. De montante para a

jusante, o perfil topográfico se estende por 900

m. Destes, 250 m estavam submersos no período

do levantamento dos dados topográficos em

campo e ocupados por vegetação arbustiva

hidrófila densa. No perfil, este setor submerso

está representado entre as distâncias de 550 e

805m, com lâmina de água de até 1,3m de

profundidade. O setor de 0-550m é o mais

elevado, com ligeiras variações altimétricas

(200-203m aproximadamente) e ocupado por

vegetação arbórea com espécies de grande porte,

nativas e exóticas. Algumas espécies arbóreas

apresentam diâmetro a altura do peito (DAP) de

mais de 2m de diâmetro.

Distribuição dos solos na Ilha Fluvial

As sondagens ao longo do perfil topográfico

permitiram reconhecer a distribuição espacial

dos solos e posicionar a abertura de trincheiras

para identificação da organização vertical dos

horizontes dos solos. Foram abertas 3 trincheiras

e a descrição dos perfis de solos permitiram

identificar os horizontes e as classes de solos

(Figuras 1, 2 e 3). Duas principais Ordens de

Solos foram identificadas: CAMBISSOLO

FLÚVICO e NEOSSOLO FLÚVICO. Os

CAMBISSOLOS FLÚVICOS ocorrem nos

setores mais elevados e mais bem drenados da

ilha. A posição topográfica desses solos ao longo

da ilha indica seu grau de desenvolvimento e

evolução. Nos diques marginais e no setor mais

elevado e antigo da ilha (P3), os solos

apresentam horizonte Bi (B incipiente), que

caracteriza os Cambissolos. O ambiente de

formação, a natureza e composição do material

de origem (depósitos aluviais) lhes confere o

caráter Flúvico, permitindo classificá-los como

CAMBISSOLOS FLÚVICOS. A vegetação

arbórea e de grande porte (caules grossos, >15m

de altura) aparecem associadas aos setores

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104

melhor drenados em que domina essa classe de

solo na ilha. Os NEOSSOLOS FLÚVICOS

ocorrem nos setores mais jovens da ilha

(deposição mais recente) e com boas condições

de drenagem nos primeiros 50 cm da superfície

do solo. Ambas as Ordens de solos apresentam

caráter gleissólico no quarto nível categórico do

Sistema Brasileiro de classificação de solos-

SiBCS, pois possuem horizonte sob condições de

hidromorfia dentro de 150cm de profundidade,

não atendendo aos critérios para a classe dos

GLEISSOLOS (EMBRAPA, 2013). Os

GLEISSOLOS estão associados aos ambientes

mal drenados da ilha. A ocorrência dessa classe

de solo na ilha está associada às áreas mal

drenadas, que incluem as bordas rebaixadas da

ilha e as depressões alagadas (Apêndice 2).

Figura 1 - Fotografia do Perfil 1

NEOSSOLO FLÚVICO

Figura 2 - Fotografia do Perfil 2

CAMBISSOLO FLÚVICO

Figura 3 – Fotografia do Perfil 3

CAMBISSOLO FLÚVICO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados e observações em campo, bem

como as análises físico-químicas permitiram

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105

predizer que a distribuição espacial dos solos na

Ilha do Papagaio é formada por sistemas de solos

dominados por Neossolos Flúvicos, Cambissolos

Flúvicos e também Gleissolos Háplicos. A

morfologia do terreno corrobora a variação

espacial e vertical dos solos, refletindo os

diferentes estágios de evolução pedológica e

vegetacional na ilha. A interação dos Gleissolos

Háplicos com a vegetação hidrófita dos

compartimentos deprimidos na ilha está bem

marcadapela fisionomia da vegetação. Da mesma

forma, nos setores mais elevados e bem drenados

os Neossolos e os Cambissolos Flúvicos estão

associados à vegetação de maior porte.

AGRADECIMENTOS: Agradeço à Fundação

Araucária pela bolsa de Iniciação Científica e ao

Programa de Pós-Graduação em

Geografia/Unioeste/M.C. Rondon pelo auxílio

financeiro e parceria nos trabalhos em campo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos.

Procedimentos Normativos de Levantamentos

Pedológicos. Rio de Janeiro, 1995.

EMBRAPA. Manual de Métodos de análises de solos. Rio

de Janeiro: EMBRAPA Solos, 2011, 230p.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa

Agropecuária. Centro Nacional de Pesquisa de Solos.

Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 3ed., Ver. Ampl. Brasília, DF: Embrapa, 2013, 353p.

MARQUES, A.J.; SANTIL, F.L. de; CUNHA, J. E. da. O

uso do clinômetro no levantamento topográfico. Estudo de

caso: levantamento pedológico. Boletim de Geografia 18:

135-141, 2000.

RICOMINI, C.; GIANNINI, P. C. F.; MANCINI, F. Rios

e processos aluviais. In: TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C.

M de; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLI, F. (Orgs.) Decifrando

a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2001, p. 191-214.

SANTOS, M. L. dos; FERNANDEZ, O. V. Q.;

STEVAUX, J. C. Aspectos morfogenéticos das barras de

canal do rio Paraná, trecho de Porto Rico, PR. Boletim

de Geografia – UEM, ano 10, número 01, ano 1992.

SANTOS, R. D. dos; SANTOS, H. G. dos; KER, J.C.;

ANJOS, L. H. C. dos; SHIMIZU, S. H. Manual de

descrição e coleta de solo no campo. 7ed. Ver. Ampl. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo,

2015. 101p.

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106

Apêndice 1 - Localização da Ilha do Papagaio ao sul da Ilha Grande, Guaíra-Paraná

.

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107

Apêndice 2 - Topopedossequência da Ilha do Papagaio.

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108

ANÁLISE DA VAZÃO DE DUAS ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS NA SUB-REGIÃO SUL DA

BACIA AMAZÔNICA BRASILEIRA

Luiz Paulo da Silva1; Leila Limberger

2

1Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal C. Rondon, [email protected];

Docente, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal C. Rondon, [email protected]

INTRODUÇÃO

Não é de hoje que a Amazônia desperta

interesse dos países mais desenvolvidos devido

ao seu potencial energético, extensão de terras

atrativas para atividades agrícola (monocultura)

e pecuária, recursos naturais como a madeira,

frutas, biodiversidade (fauna e flora), pesquisas

medicinais e os recursos minerais que estão no

subsolo (MELLO, 2006). Muitas questões

geopolíticas aparecem ao debater a colonização

da Amazônia legal Brasileira e suas contradições

sobre as políticas públicas territoriais.

Segundo Mello-Théry (2011) a ocupação

e uso da terra nessa região, envolve interesses do

aparelho estatal e privado, que

consequentemente, geram conflitos recorrentes

em torno de uma soberania político-econômica.

O esforço que existe por parte de setores do

poder público e privado para que haja desacertos

e conflitos entre os grileiros e posteriormente

empresas e latifundiários está contribuindo para

o desmatamento e destruição da Amazônia.

Neste sentido, o presente trabalho tenta

explicar como o desmatamento, que é uma

realidade devido a exploração de seus recursos

naturais de forma inadequada e falta de

legislação ambiental decorrente de más gestões

públicas ao longo das décadas, afeta, além dos

aspectos sociais, políticos e econômicos, também

os ambientais, através da possível alteração na

vazão de rios da porção sul da bacia amazônica,

parte mais desmatada. Será abordada a

variabilidade climática da sub-região Sul da

bacia hidrográfica Amazônica, definida por

Limberger (2015), em uma escala temporal

interanual e espacial regional.

Análises exploratórias das relações espaciais

do desflorestamento na Amazônia legal serão

comparados com imagens de satélite para

identificar a ação do desmatamento nas possíveis

mudanças dos índices hidrometeorológicos.

Serão avaliados dados fluviométricos de

estações espacialmente próximas em uma série

temporal de aproximadamente 30 anos ou mais,

para que se possa levantar a hipótese que o

desmatamento está alterando o comportamento

de vazão e chuva na porção sul da bacia

Amazônia, por meio da formação de áreas de

baixa pressão devido ao aumento de temperatura

local em decorrência do desmatamento. A

floresta tem o papel fundamental de regulador

climático em escala global, e assim levantar-se a

hipótese de que a floresta amazônica é um

importante regulador dos balanços de energia e

hídrico, consequentemente a floresta pode

exercer influência sobre a circulação atmosférica

e a precipitação regional.

Isso pode consequentemente influenciar que

em curtos períodos de tempo possa ter havido

mudanças no comportamento de dados de chuva

e vazão em relação a outras estações em áreas

próximas que ainda não tinham sido desmatadas,

assim explicando como alterações na superfície

de determinada região podem modificar o clima

em escala local e até regional.

A OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA

BRASILEIRA NO SÉCULO XX Apesar de existir discursos diferentes em

momentos diversos da política Nacional, o intuito,

parcialmente, do governo central sempre foi de

integração do território, mas com esse discurso muito

Page 111: X EXPEDIÇÃO GEOGRÁFICA E II SEMANA INTEGRADA DA … · ensino fundamental e médio na rede escolar da região. ... elementos que compõem os processos naturais e sociais de nosso

109

da Amazônia legal Brasileira foi devastada, desde a

década de 1970. Isso, porém, sempre causou e causa

tensões políticas e sociais entre o que é

desenvolvimento e conservação ambiental,

principalmente na área da Amazônia Legal Brasileira,

onde o impasse entre preservação e ocupação do

território é mais forte. Desde a reforma agrária (que

nunca existiu realmente) até o incentivo fiscal

oferecido pelo estado a grandes corporações que

exploram a Amazônia e seus recursos sem nenhum

tipo de preocupação com o equilíbrio ambiental.

Existe uma grande lacuna entre o discurso e a

realidade prática na forma como está sendo e foram

partilhadas as riquezas da Amazônia, os debates e os

conflitos com toda comunidade indígena, o que deixa

a Amazônia em uma situação paradoxal em meio as

políticas públicas, diferenciando os grupos que as

compõem em diferentes regiões da Amazônia.

Devido à extensão territorial da Floresta

Amazônica, observa se uma variedade nos fatores

bióticos e abióticos nas diversas regiões da América

Sul Setentrional, o que exigiria do governo leis e

procedimentos específicos para cada uma das áreas.

Cáuper (2006, apud PAVÃO et al., 2015) descreve as

similaridades e dissimilaridades em todos os aspectos

da Amazônia Continental, dividindo a Amazônia em

Boliviana, Peruana, Equatoriana, Colombiana,

Venezuelana, Guiana e Brasileira.

A Amazônia brasileira foi oficializada pelo

governo federal em 1953, compreendendo os estados

do Pará, do Amazonas, os Territórios Federais do

Acre, Amapá, Guaporé e Rio Branco, parte do

território do Estado do Mato Grosso (norte do

paralelo 16º, de latitude Sul), do Estado de Goiás

(norte do paralelo 13º, de latitude Sul, atualmente

Estado do Tocantins) e do Maranhão - oeste do

meridiano de 44º (CÁUPER, 2006, apud PAVÃO et

al., 2015).

Em 1966 a Amazônia Brasileira passou a

ser denominada Amazônia Legal, abrangendo os

atuais estados do Pará, Amazonas, Acre, Amapá,

Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Tocantins e a

maior parte do Maranhão (Figura 1).

MATERIAIS E MÉTODOS

Para este trabalho foram coletados dados

Fluviométricos mensais para o período de 1968 a

2015 para duas estações meteorológicas através

da Agência Nacional das Águas (ANA) no site

www.ana.gov.br/hidroweb. Cada estação

Fluviométrica tem um período de funcionamento

diferente, sendo a estação Cruzeiro do Sul no

estado do Acre-(AC) no período de 1967 a 2016,

a estação Fazenda Paranacre-AC no período de

1996 a 2015.

A estação de Cruzeiro do Sul (AC), na bacia

do rio Solimões, encontra-se próxima da área

urbana da cidade, porém a área ao entorno não

está intensamente desmatada, como pode-se

verificar na Figura 2.

Figura 2 - Localização do posto Cruzeiro do Sul-AC

Page 112: X EXPEDIÇÃO GEOGRÁFICA E II SEMANA INTEGRADA DA … · ensino fundamental e médio na rede escolar da região. ... elementos que compõem os processos naturais e sociais de nosso

110

Da mesma forma, a estação de Fazenda

Paranacre, também no Acre, encontra-se

próximo da área urbana (Figura 3).

Figura 3 – Localização do posto Fazenda Paranacre – AC

Ambas estações foram escolhidas por serem

do mesmo estado e por terem um tempo de

coleta de dados distintos: uma mais antiga,

Cruzeiro do Sul, a partir de 1968 e outra mais

recente, Fazenda Paranacre, a partir do ano 1996,

essa escolha pelo motivo que nos últimos 20

anos vem se intensificando gradativamente o

desmatamento na região Amazônia.

RESULTADOS

A figura 4 apresenta a série temporal de

vazão (m3/s) para a estação de Cruzeiro do Sul

para o período de 01/08/1967 a 30/04/2016.

Identifica-se a variabilidade temporal e também

uma reta de tendência negativa, porém, sem ser

estatisticamente significativa (r2=0,00000079).

Figura 4- Série temporal de Cruzeiro do Sul, de 01/08/1967 a

01/04/2016.

A figura 5 mostra que, para a estação de

Fazenda Paranacre, há também um tendência

negativa porém não significativa (r2=0,00045).

Figura 5 – Série temporal de Paranacre, de 01/06/1996 a 01/05/2016.

Além da tendência, é importante verificar a

variabilidade temporal, tendo, por exemplo, o

mês de junho de 2010, o maior valor mensal

registrado pela estação de Fazenda Paranacre

(Figura 5).

Ressalta-se também que há diferença

entre a variabilidade temporal entre as duas

estações (Figuras 4 e 5), o que pode ser

identificado como variabilidade espacial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa foram identificados

aspectos da variabilidade climática, espacial e

temporal, dos dados mensais da vazão para a

sub-região sul da Amazônia Legal Brasileira no

período de 1968 a 2015.

A partir dos dados das estações podemos

verificar que existe uma tendência linear negativa

de vazão, porém não significativa estatisticamente,

na região de estudo.

Possivelmente, com o aprofundamento das

pesquisas a partir deste trabalho, poderemos

verificar alterações no clima local devido ao

desmatamento que vem alterando o fluxo normal

de chuvas e consequentemente a vazão dos rios em

toda região sul da bacia Amazônica, ocasionando

problemas graves não apenas na Amazônia mas

sim em outras regiões do País.

y = 0,0046x + 936,32

R² = 8E-07

0500

1000150020002500300035004000

01/0

8/1

967

01/0

1/1

970

01/0

6/1

972

01/1

1/1

974

01/0

4/1

977

01/0

9/1

979

01/0

2/1

982

01/0

7/1

984

01/1

2/1

986

01/0

7/1

989

01/1

2/1

991

01/0

5/1

994

01/1

0/1

996

01/0

5/1

999

01/1

0/2

001

01/0

3/2

004

01/0

8/2

006

01/0

1/2

009

01/0

8/2

011

01/0

1/2

014

m3

/s

y = -0,013x + 43,889

R² = 0,0004

0

50

100

150

200

250

300

01/0

7/1

996

01/0

8/1

997

01/0

8/1

998

01/0

9/1

999

01/0

9/2

000

01/0

9/2

001

01/0

9/2

002

01/0

9/2

003

01/0

9/2

004

01/0

9/2

005

01/0

9/2

006

01/0

9/2

007

01/0

9/2

008

01/1

2/2

009

01/1

2/2

010

01/1

1/2

011

01/1

1/2

012

01/1

1/2

013

01/1

1/2

014

01/1

1/2

015

m3

/s

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111

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LIMBERGER, L. Variabilidade da vazão de regiões

homogêneas da bacia hidrográfica amazônica brasileira:

teleconexões com a temperatura da superfície do mar

(TSM) de 1976 – 2010. Tese (Doutorado). FFLCH/USP,

2015.

MELLO, N.A. Políticas territoriais na Amazônia. São

Paulo: Annablume, 2006.

MELLO-THÉRY, N.A. Território e gestão ambiental na

Amazônia: terras públicas e dilemas do estado. São Paulo:

Annablume, 2011.

PAVÃO, V.M. et al. Aplicação do sensoriamento remoto

na determinação de temperatura da superfície em diferentes tipos de cobertura no município de Humaitá –

AM. Anais do XVII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento

Remoto. João Pessoa: SBSR, 2015.

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112

AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO

PEROBA NO PERÍODO DE 2005 À 2017

Daiane Garcia de Souza1. Vanda Moreira Martins

2

1Acâdemica do curso de Geografia – UNIOESTE/campus Marechal Cândido Rondon. E-mail: [email protected]; 2Professora do Curso de Geografia da UNIOESTE-MCR.

INTRODUÇÃO

O solo, a água, a vegetação, o relevo e a fauna

formam unidades ambientais e coexistem em

permanente interação, respondendo às interferências

naturais, como o intemperismo e a modelagem da

paisagem, e àquelas de natureza antrópica, como o

uso e ocupação dos solos, afetando o sistema em seus

aspectos socioeconômicos (Lepsch, 2002).

A gestão dos recursos hídricos e do uso do solo no

Brasil, por exemplo, se fundamenta no recorte

territorial das bacias hidrográficas, ganhando força no

início da década de 1990 (Souza, 1996). Daí a

importância de se conhecer, divulgar e aplicar a

legislação ambiental no que diz respeito às regras de

uso do solo, das áreas de APP e à preservação dos

recursos hídricos, a partir das unidades de paisagem

representadas pelas bacias hidrográficas (Pissarra,

2003).

A atividade agrícola é a base econômica do

município de Marechal Cândido Rondon e o uso

adequado dos solos constitui um pré-requisito

essencial para garantir a sustentabilidade dos

sistemas agroindustriais e, também, urbanos. A bacia

hidrográfica do Córrego Peroba é a menos urbanizada

do município, entretanto observa-se que a tendência

de expansão urbana está direcionando-se para ela. No

entanto, apesar da existência das leis ambientais, a

utilização adequada dos recursos naturais, em

especial aqueles relacionados ao uso do solo, tem

preocupado alguns segmentos da sociedade. O mau

uso do solo restringe ou elimina as áreas de APPs,

alterando as condições físicas químicas dos recursos

hídricos na bacia hidrográfica, além de desencadear

outros impactos como a poluição e o assoreamento

dos canais fluviais, bem como a diminuição do

volume de água (Silva, 1995).

O município de Marechal Cândido Rondon está

localizado na região Oeste do estado Paraná, no

Terceiro Planalto Paranaense, entre os paralelos de

24° 26‟ e 24° 46‟ S e 53° 57‟ e 54° 22‟ W e possui,

aproximadamente, 51.795 habitantes (IBGE, 2017).

As APPs são áreas cobertas ou não por vegetação

nativa. As funções das Áreas de Preservação

Permanente são: a estabilidade geológica, a

biodiversidade, a beleza da paisagem, conter a erosão

do solo, diminuir os riscos de enchentes e

deslizamentos de terra e rocha nas encostas, facilitar

o desenvolvimento da fauna e flora e, especialmente,

assegurar e preservar o bem-estar das populações

humanas. As áreas de APP (faixas marginais) são

áreas que devem ser mantidas em zonas rurais ou

urbanas, em qualquer curso de água natural perene e

intermitente, excluindo os efêmeros, desde a borda da

calha do leito regular (Brasil, 2012).

E importante destacar que para O Novo Código

Florestal - Lei 12.651 de 25/05/2012, as APPs

consolidadas são as atividades agrossilvopastoris de

ecoturismo e turismo rural que já existiam em APPs

até 22 de julho de 2008. Estas poderão continuar e

serão consideradas desde que não estejam em áreas

de risco e sejam observados os critérios técnicos de

conservação do solo e da água estabelecidos no

Programa de Regularização Ambiental (PRA). O

órgão ambiental poderá comprovar a situação de área

consolidada por meio de fotos de satélites referentes

ao período anterior a 22 de julho de 2008. A distância

que tem que ser mantida nas bordas da calha do leito

para as áreas de APPs Consolidadas são diferentes

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113

das APPs. Conforme o Novo Código Florestal, a

distância a ser preservada, vai depender dos módulos

fiscais e de largura do rio (Brasil, 2012). O módulo

fiscal varia de acordo com o município. No

município de Marechal Cândido Rondon, um (01)

módulo fiscal corresponde a 18 hectares (ha). Então,

o propósito deste trabalho foi analisar a evolução

temporo-espacial das áreas de APPs (2005 - 2017) e

verificar se as dimensões (m²) das áreas de APP na

bacia hidrográfica estudada estão de acordo com o

Código Florestal Brasileiro.

MATERIAIS E MÉTODOS

O critério de escolha do recorte espacial da

área de estudo (Bacia Hidrográfica do Córrego

Peroba) foi embasado no fato da bacia localizar-

se no perímetro periurbano da cidade de

Marechal Cândido Rondon e por apresentar

características de uso e ocupação dos solos que

contemplam o objeto de investigação. A bacia

está ocupada, predominantemente, por culturas

temporárias (soja/milho) e, secundariamente por

setores urbanizados em torno da sede municipal.

Conforme o Plano Diretor do Município, trata-se

de uma área promissora para a expansão urbana,

sobretudo no setor de montante da bacia, já

ocupado por loteamentos.

Quanto aos procedimentos metodológicos

utilizados no desenvolvimento da pesquisa,

podemos descriminar as seguintes etapas:

A primeira etapa consistiu em levantamentos

bibliográficos, a partir da seleção de livros,

artigos e dissertações que abordavam temas

relacionados ao Código Florestal Brasileiro dos

anos de 1934, 1965 e 2012 e a regulamentação

das APPs. Leituras dirigidas para o uso do solo

urbano e rural e a bacia hidrográfica como

unidade de estudo. Na etapa seguinte foi

realizado o levantamento dos documentos e

materiais cartográficos necessários: mapa das

propriedades rurais da bacia do córrego Peroba,

em arquivos do (Autocad), fornecidos pela

Prefeitura de Marechal Cândido Rondon; seleção

e captação das imagens de satélite disponível nos

sítios eletrônicos gratuitos (Google Earth 2005,

2011, 2013 e 2017) em anos anteriores e

posteriores às alterações do Novo Código

Florestal Brasileiro/2012. Os mapas temáticos de

declividade, curvatura das vertentes, de solos,

uso e ocupação da bacia do Córrego Peroba

encontram-se em Fruet (2016). Na sequência foi

realizada a obtenção da dimensão/delimitação

das áreas das propriedades (ha) e a demarcação

dos polígonos de cada uma delas. A demarcação

dos polígonos foi elaborada a partir do

cruzamento/sobreposição/interpolação das

imagens de satélite (Google Earth 2005-2017) e

do mapa das propriedades rurais em arquivos do

AutoCAD. Os dados e informações foram

exportados para o banco de dados do software

ArcGis 9.3, onde foi possível fazer o

geoprocessamento dos dados. Essa etapa foi

fundamental para verificar a adequação das

propriedades em relação a regulamentação das

áreas de APPs (2005-2017), conforme o Código

Florestal 2012.

A partir dos mapas e imagens obtidas, da

análise dos dados e informações neles contidos,

foi possível: mensurar a área total de cada

propriedade rural; mensurar as dimensões das

APPs em cada propriedade e se as APPs

apresentam sinais de degradação ou recuperação.

A análise e a interpretação dos dados obtidos

necessitaram de aferição, em campo, dos

elementos observados, identificados e analisados

(regulação das propriedades, uso e ocupação do

solo, largura dos canais de drenagem, dimensões

das APPs, incluindo as Áreas de Reserva Legal

etc). Na interpretação e análise do uso do solo foi

dada ênfase para os setores ocupados pelas

APPs.

RESULTADOS

Com a chegada da Lei N° 12.651, de 25 de

maio, 2012, chamado de Novo Código Florestal

Brasileiro (CFB), pode se dizer que o Brasil teve

um retrocesso legislativo diante do meio

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114

ambiente, ignorando a opinião pública e

manifestações das principais instituições

científicas do país. A Lei 12.651/12 acarreta

vários riscos aos processos ecológicos essenciais,

à conservação dos biomas, ao equilíbrio

ecossistêmico e à segurança da população.

Um dos retrocessos legislativos no Novo

Código Florestal foi o fim da obrigação de se

recuperar áreas desmatadas ilegalmente até 22 de

julho de 2008. Portanto, o proprietário rural que

havia desmatado até esta data, por lei, não

precisa mais recuperar as APPs com a largura

que a lei anterior exigia (Tabela 1), mas sim, se

adequar à nova lei (Novo Código Florestal

Brasileiro de 2012), menos rigorosa quanto a

dimensão da largura das APPs (Tabela 2).

Com uma área total de 5,7 Km², a bacia do

Córrego Peroba localiza-se (Figura 1) no setor

oeste do perímetro urbano da cidade de Marechal

Cândido Rondon. É caracterizada por uma

topografia considerada plana (0-12% de

declividade), apresentando leves ondulações. Os

solos da bacia são bem desenvolvidos,

profundos, muito argilosos representados pelos

Latossolos e Nitossolos 72% do uso do solo

sejam de cultura temporária como o milho e a

soja. A topografia plana da área da bacia e os

solos bem desenvolvidos estão integrados à base

para a economia da região, em torno da

agricultura mecanizada.

Tabela 1- Dimensão da Área de Preservação

Permanente nas faixas marginais dos cursos de água

natural perene e intermitente, conforme CFB de 2012.

Largura do Rio Largura da APP em cada

margem do rio

Menos de 10 m 30 m

De 10 a 50 50 m

De 50 a 200 m 100 m

De 200 a 600 m 200 m

Mais de 600 m 500 m

Fonte: BRASIL, 2012.

Tabela 2 - Largura da APP consolidada em cada uma

das faixas marginais ao longo do curso de d‟água conforme o CFB de 2012.

Tamanho da

propriedade em

número de módulos

fiscais

APP de rios

menos de

10m

APP de rios de

mais de 10m

0 a 1 5m 5m

1 a 2 8m 8m

2 a 4 15m 15m

4 a 10 módulos 20m De 30m a 100 m

Acima de 10

módulos

Mínimo de 30 e o máximo de

100 m

Fonte: BRASIL, 2012

Figura 5 - Localização da área de estudo.

A partir do mapa das propriedades, foi

possível constatar que a Bacia do Córrego

Peroba (Figura 2- em anexo) possui 23 pequenas

propriedades rurais, sendo que quatro (04) não

fazem limite com o córrego, duas (02) localizam-

se ao redor das nascentes e 17 propriedades

fazem limite com o córrego. A maioria das

propriedades está entre um (01) e (02) módulos

fiscais.

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115

Uma análise mais detalhada das dimensões

das APPs (> e < largura) em relação ao canal

Fluvial (Tabela 3) permitiu observar que nas

propriedades rurais, as larguras das APPs podem

variar em alguns pontos ao longo da margem do

rio. Algumas propriedades não possuem APPs

com larguras lineares (ou seja, com larguras

diferentes) ao longo da margem do rio.

Entretanto, quando possuem largura mínima de 8

metros, a propriedade está de acordo com o novo

CFB/2012. Isto porque ela se encaixa na área

consolidada de APP, atendendo as novas regras

do CFB. Isto não quer dizer que ela atendia ao

CFB anterior. Por outro lado, a propriedade que

tiver com a distância menor inferior a 8 metros

continuará não se enquadrando nas exigências da

nova Legislação (CFB/2012).

Tabela 3- Distância das APPs ao longo do Córrego

Peroba no ano de 2017.

Propriedades Maior distância

(m)

Menor distância

(m)

279 50,00 23,00

280 69,50 8,20

281 76,20 10, 03

282 50,80 19,60

283 168,00 5,40

285 63,00 10,50

286 31,60 7,30

287 105,40 7,40

288 92,30 4,60

289 99,00 51,10

290 81,30 9,20

291 63,70 11,30

292 84,20 16,70

293 11,00 __

270 70,50 __

271 59,80 21,20

272 80,10 26,50

273 134,90 88,30

274 54,20 6,37

275 34,20 6,00

276 72,50 5,38

277 122,50 __

278 66,10 3,30

De modo geral, a análise da situação das

APPs na bacia, entre os anos de 2005 e 2017,

permitiu registrar que houve recuperação da

vegetação. Nesse período, houve um crescimento

de mais de 100.000 m² nas APPs, apesar das

exigências do CFB/2012 terem se tornado mais

permissivas em relação aos critérios e às

dimensões das APPs (Tabela 4; Figuras 3, 4, 5, 6

– em anexo). Conforme o Código Florestal

Brasileiro/2012, as APPs que já existiam antes

de 2008, não podem ser suprimidas, mesmo que

suas larguras ultrapassem os limites impostos

pela nova lei. Estas devem ser mantidas, estando

sob controle, por meio de imagens de satélite.

Esse critério do novo CFB pode ter contribuído

para a diminuição da degradação das APPS,

estimulando a recuperação e manutenção.

Entretanto não penalizou os proprietários de

terras que não cumpriam a lei antes de 2008, ou

seja, que não mantinham as APPs com as

dimensões exigidas pelo antigo CFB.

Tabela 4 - Evolução das APPs no Córrego Peroba

Anos Área total da APP em metros

2005 643.748,65

2011 712.443,73

2013 775.296,36

2017 748.284,63

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116

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o Novo Código Florestal

(2012), grande parte das propriedades da bacia

do córrego Peroba contemplam as faixas de

APPs exigidas ao longo do rio em relação ao

módulo fiscal correspondente (entre 1 e 2

módulos fiscais). Verificou-se que 53% delas

têm suas APPs de acordo com a nova legislação

que exige, no mínimo, 8 metros de largura.

Apesar do retrocesso legislativo em relação

ao critério utilizado (tamanho da propriedade)

para o estabelecimento das dimensões das áreas

de APPs ao longo dos cursos d‟água, na bacia do

córrego Peroba, houve um aumento de cerca de

100.000m2 das APPs. No entanto, a distribuição

irregular (não linear) das dimensões das APPs

não tem eficácia sobre a prevenção dos impactos

ambientais decorrentes do uso e manejo dos

solos na bacia, como a perda de solo por erosão

hídrica, por exemplo.

É importante ressaltar, também, que em torno

de 55,6% das propriedades não apresentam área

Reserva Legal, apesar de que, até 2008, as

mesmas deveriam ter 20% de sua área com

reserva legal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Código Florestal Brasileiro. Presidência da

República, casa civil, subchefia para assuntos jurídicos.

Brasília, 25 de maio de 2012; 191° da Independência e

124° da República.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E

ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Demográfico 2017.

Disponível em:http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 24 de

Outubro de 2017.

LEPSCH, I. F. Formação e conservação dos solos. São

Paulo: Oficina de textos, 2002.

MARECHAL CÂNDIDO RONDON. Plano diretor

Disponível em< http://www.mcr.pr.gov.br>. Acesso em

Junho de 2015.

PISSARRA, T.C.T.; POLITANO, W.A. Bacia

Hidrográfica no Contexto do Uso do Solo com floresta.

Jaboticabal: Ed. FUNESP, 2003.

SILVA, A.M. Princípios básicos de hidrologia. Depto. de

Engenharia. UFLA. Lavras- Minas Gerais, 1995.

SOUZA, Enio Resende de; FERNANDES, Maurício

Roberto. Sub-bacias hidrográficas unidades básicas para

o planejamento e gestão sustentáveis das atividades

rurais. Belo Horizonte, 1996. EMATER-MG.

Page 119: X EXPEDIÇÃO GEOGRÁFICA E II SEMANA INTEGRADA DA … · ensino fundamental e médio na rede escolar da região. ... elementos que compõem os processos naturais e sociais de nosso

117

Figura 2 – Dimensão das APPs ao longo do Córrego Peroba no ano de 2017.

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118

Figura 3 - Área de Preservação Permanente na

bacia do córrego Peroba no ano de 2005

Figura 4 - Área de Preservação Permanente na

bacia do córrego Peroba no ano de 2011

Figura 5 - Área de Preservação Permanente na

bacia do córrego Peroba no ano de 2013

Figura 6 - Área de Preservação Permanente na

bacia do córrego Peroba no ano de 2017

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119

CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS VERDES NO PERÍMETRO URBANO DE MARECHAL

CÂNDIDO RONDON-PR

Gabriela De Bona Wild1; Karin Linete Hornes

2

1 Mestranda em Geografia, UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon-PR; [email protected]. 2Professora Adjunta, UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon-PR

INTRODUÇÃO

A questão ambiental adquire importância para

o estudo do planejamento urbano porque

atualmente a maior parte da população brasileira

vive em centros urbanos. Segundo dados do

Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2014,

do total da população brasileira,

aproximadamente 85,43% eram habitantes de

áreas urbanas. À medida que as cidades

continuam a crescer, a valorização dos espaços

verdes é vital, mas também é um desafio,

particularmente para as nações em

desenvolvimento, onde há pressão para ocupação

do espaço e utilização dos recursos naturais.

O estilo de vida cada vez mais citadino

representa um desafio para o sistema urbano e

exige inovações de gestão. Espaços verdes em

áreas urbanas não deveriam ser vistos como

meras determinações legislativas. Muito além

destas exigências, estas áreas se planejadas

adequadamente, possibilitam a minimização de

riscos e o melhoramento da resiliência humana.

Sua importância destaca-se tanto para a

paisagem quanto para a população, identificando

seus aspectos sociais, culturais e históricos.

As atividades podem proporcionar um

beneficiamento à saúde física e psicológica e,

quando bem exploradas e distribuídas, podem

servir de áreas educativas e culturais que elevam

o patrimônio local e proporcionam um acesso

equitativo social. A partir disto, parte-se da

premissa que a análise das áreas verdes é de

fundamental importância para o planejamento

urbano ambiental condizente com a realidade e a

necessidade da população.

MATERIAIS E MÉTODOS

Com a motivação de averiguar como o

município está administrando a inserção destas

áreas verdes, é que o trabalho foi proposto. O

objetivo foi caracterizar as Áreas Verdes do

Perímetro Urbano do município de Marechal

Cândido Rondon com relação aos índices de

Áreas Verdes. Para atingir este objetivo foi

necessário localizar, quantificar e qualificar estes

locais, bem como verificar o tipo de uso que se

realiza para que, posteriormente, possam ser

realizadas propostas de utilização e benfeitorias

para o melhoramento da qualidade

socioambiental destas.

Este trabalho justifica-se no sentido de que

estas proposituras primarão por um novo olhar

para as áreas verdes. Não as colocando como

uma obrigatoriedade legal, mas como um

patrimônio que deve ser conhecido, conservado

hoje e para as futuras gerações. A biodiversidade

local e as áreas verdes devem ser encaradas não

como um corpo estranho dentro da cidade, mas

como corpo integrante e participador da estrutura

e dinâmica urbana.

Torna-se oportuno a realização da pesquisa no

município de Marechal Cândido Rondon, porque

seu Plano Diretor, elaborado em 2008, está no

prazo de revisão e é de suma importância

diagnosticar as áreas verdes para que a

população e os organizadores munícipes tomem

conhecimento desta situação e reflitam sobre

estratégias que auxiliem e proporcionem

melhorias ao espaço urbano.

Assim, pensando a respeito das modificações

dos usos do solo e da paisagem decorrentes da

expansão urbana tem-se a necessidade de

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120

explorar as áreas verdes e valorizar as cabeceiras

de nascentes existentes as quais são de grande

relevância, já que algumas delas são utilizadas

para a própria obtenção de água potável local e

para que se tenham alguns cuidados mínimos de

forma que este bem perdure.

Para que fosse possível chegar aos resultados,

primeiramente realizou-se uma reflexão teórica

das questões referente ao espaço urbano, áreas

verdes e a legislação urbanística ambiental.

Posteriormente, apresentou-se a caracterização

do município, das áreas de proteção ambiental e

das áreas verdes urbanas, para por fim, calcular o

índice de áreas verdes urbana atual.

A primeira etapa baseou-se na descrição de

Côrrea (2003), que auxiliou na compreensão da

dinâmica da organização espacial, bem como dos

agentes sociais que produzem o espaço urbano.

Logo após deu-se início a descrição das áreas

verdes, as quais foram definidas a partir dos

conceitos elaborados por Cavalheiro et al.

(1999).

A segunda etapa iniciou-se com a localização

do município, características socioeconômicas,

ordenamento territorial urbano de Marechal

Cândido Rondon, caracterização das áreas verdes

urbana e cálculo do Índice de Áreas Verdes.

Para Mendonça (2002) a história da sociedade

humana está diretamente relacionada com a

questão ambiental, portanto tem se utilizado a

terminologia socioambiental. O termo sócio está

atrelado ao termo ambiental, pois não tem como

falar de meio ambiente sem enfatizar o

envolvimento da sociedade enquanto sujeito e

parte fundamental dos processos relativos à

problemática ambiental contemporânea.

O espaço geográfico se constitui na medida

em que o homem transforma a natureza da

cidade e produz algo através do desenvolvimento

do seu trabalho. Em cada etapa do processo

histórico percebe-se que as formas,

características e distintas funções que as cidades

assumem adquirem um dinamismo com o passar

do tempo, ou seja, a cidade tem uma história

(CARLOS, 1994, p. 57).

Côrrea (2003) descreve que o espaço urbano é

organizado de modo fragmentado e articulado,

suas partes, além de manterem relações espaciais

com as demais, se manifestam através dos fluxos

de veículos, de pessoas, de informações, de

mercadorias e de ideologias. O interior do espaço

urbano se dá através do conjunto de diferentes

usos justapostos entre si, que definem atividades

em áreas comerciais, industriais, lazer, serviços,

gestão e de reserva para futura expansão.

Para Lombardo (1985), é no espaço urbano

que os problemas ambientais atingem maior

amplitude. Isto ocorre devido à alta concentração

de poluentes do ar e da água e da degradação do

solo e subsolo por conta do uso intensivo das

atividades. A complexidade dos problemas em

áreas urbanizadas e a interferência do homem ao

meio natural fazem com que a natureza reaja e

cause desastres que podem gerar elevados custos

sociais e que interferem na qualidade de vida dos

habitantes.

Na opinião de Loboda e de Angelis (2005), as

áreas verdes públicas são elementos

imprescindíveis para o bem-estar da população,

pois influenciam diretamente na saúde física e

mental, uma vez que entre tantos benefícios,

essas áreas absorvem ruídos, atenuam o calor,

amenizam a opressão em relação às edificações,

filtram as partículas sólidas no ar.

Lee (2015) ressalta que o contato com as

áreas verdes pode proporcionar benefícios

individuais, a partir de espaços para atividade

física, descanso e relaxamento. Do mesmo

modo, os benefícios também atingem o coletivo,

o contato social, reduz o isolamento e leva a uma

maior resiliência e bem-estar pessoal. Para que

esse acesso seja possível é preciso que se tenha o

sentimento de coesão comunitário, de forma que

o aspecto sociocultural não seja um empecilho

para se usar as áreas verdes.

Para distinguir espaço livre de áreas verdes e

cobertura vegetal, Cavalheiro et al. (1999) usam

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121

a seguinte estratégia: espaço livre de construção

é o espaço urbano ao ar livre destinados para as

atividades relacionadas como caminhadas,

descanso, passeios, esportes, recreação,

entretenimento. Os locais de passeio a pé devem

ser separados dos meios motorizados, oferecendo

segurança e comodidade. Podem ser privados,

coletivos ou públicos e tem como principais

funções: estética, lazer e ecológico-ambiental.

As áreas verdes são classificadas como um

tipo especial de espaços livres e o elemento

fundamental é a vegetação. Além dos objetivos

citados de estética, lazer e ecológico-ambiental, a

vegetação e o solo permeável (sem laje) devem

ocupar 70% da área e proporcionar recreação

para a população. Canteiros, rotatórias e

arborização são considerados verdes de

acompanhamento viário e estão classificados na

categoria de espaços construídos ou de

integração urbana (CAVALHEIRO et al., 1999).

Os índices auxiliam no que se refere a

implantação de áreas verdes no espaço urbano,

mas a comparação entre esses valores só é

possível quando se aplica métodos e técnicas

semelhantes. A quantificação deve estar atrelada

a um estudo de distribuição espacial destas áreas,

que servirão de parâmetro para avaliação das

condições ambientais e a disponibilidade de uso

pela população (BUCHERI FILHO e NUCCI,

2006, p. 50).

Cavalheiro e Del Picchia (1992) ressaltam

que os índices não são receitas a serem seguidas,

mas servem como apoio científico para o

planejamento. Depois de realizarem muitos

estudos, não obtiveram confirmação em relação

ao índice de 12m²/hab. que, no Brasil, é

difundido como ideal proposto pela ONU ou a

OMS. A Sociedade Brasileira de Arborização

Urbana (SBAU) propôs, como índice mínimo

para as áreas verdes públicas destinadas a

recreação, o valor de 15m²/hab.

RESULTADOS

O município de Marechal Cândido Rondon

(Figura 01) pertence a Mesorregião Oeste

Paranaense e Microrregião de Toledo.

Localizado entre as coordenadas 24º33'22''S

latitude, 54º03'24''W longitude e 410 metros de

altitude (IBGE, 2017).

Distante 584,52 km da capital paranaense,

Marechal Cândido Rondon apresenta uma área

territorial de 748,28km², dividido em sete

distritos, sede urbana e área rural. A população

conforme o Censo 2010, é de 46.819 habitantes.

Desses 83,61% residem na área urbana e 16,39%

na área rural. A atividade econômica que

predomina é a agricultura e pecuária, seguida do

comércio e das indústrias de transformação

(IPARDES, 2017).

Figura 01: Localização do Município de Marechal

Cândido Rondon

Fonte: Wild (2016)

Para a caracterização das áreas verdes,

utilizaram-se aquelas áreas que são definidas,

por lei, como praças, parques e áreas de proteção

ambiental. Utilizou-se a base cartográfica

fornecida pela prefeitura municipal para medição

e cálculo da área permeável. Em campo

verificou-se que as mesmas atendem as funções

estética, ecológica e lazer e oferecem atividades

à população. Com essas informações tornou-se

possível identificar quais áreas estão aptas para

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122

serem consideradas áreas verdes e incluídas no

cálculo de Índice de Áreas Verdes. A figura 02

mostra a localização dessas áreas no perímetro

urbano da cidade.

Figura 02: Localização das áreas verdes urbana e áreas

de proteção na cidade de Marechal Cândido Rondon

Org. Wild (2017)

As Áreas de Proteção Ambiental apresentadas

pelo Plano Diretor Municipal estão relacionadas

com a rede de drenagem contida no perímetro

urbano, que é formada por cinco microbacias

hidrográficas, denominadas de acordo com o

principal curso d´água, são elas: Área de

Proteção Ambiental do Córrego Bonito (APA

01), Área de Proteção Ambiental do Córrego

Guará (APA 02), Área de Proteção Ambiental da

Sanga Matilde Cuê (APA 03), Área de Proteção

Ambiental da Sanga Borboleta (APA 04) e Área

de Proteção Ambiental da Sanga Guavirá (APA

05).

Para essa pesquisa serão consideradas as

praças instituídas por lei. São elas: Praça Dealmo

Selmiro Poersch, Praça 31 de outubro, Praça

Willy Barth, Praça Farroupilha e Parque

Ecológico Rodolfo Rieger.

Para calcular o Índice de Áreas Verdes (IAV)

existente no perímetro urbano da cidade de

Marechal Cândido Rondon, foi considerado o

somatório das áreas totais em metros quadrados

das áreas verdes, divididas pelo número de

habitantes da área urbana, de acordo com último

Censo de 2010. Foi considerado, de acordo com

a Sociedade Brasileira de Arborização Urbana

(SBAU), o índice mínimo para as áreas verdes

públicas destinadas a recreação, o valor de

15m²/habitante.

A primeira situação considerou as áreas

verdes urbana que atenderam totalmente os

conceitos apresentados, ou seja, as praças e

parques conforme o quadro 01:

Local Área (m²)

Praça Dealmo S.

Poersch 8.872

Praça Willy Barth 30.816

Praça 31 de outubro 8.829

Praça Farroupilha 2.551

Parque Ecológico Rodolfo Rieger

116.297

TOTAL 167.365

Quadro 01: Área (m²) das praças e parque.

Fonte: Prefeitura do Município de Marechal

Cândido Rondon. Org.: Wild (2017)

IAV=área total de áreas verdes na zona urbana (m )

habitantes da área urbana (hab.)

IAV=167.365 (m )

39.147

IAV= 4,27m²/hab.

A partir deste cálculo, parte-se da premissa

que o Município apresenta um baixo Índice de

Áreas Verdes na área urbana do distrito sede.

Porém, de acordo com o zoneamento proposto, a

cidade conta cinco áreas delimitadas como Zonas

de Proteção Ambiental que apresentam potencial

para serem incluídas neste cálculo. Atualmente

apenas parte de uma dessas áreas, APP 03,

apesenta uso de lazer. O segundo cálculo parte

do pressuposto que todas as áreas de proteção

ambiental atenderiam os conceitos propostos

para áreas verdes, conforme quadro 02:

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123

Local Área (m²)

Bonito 182.765,11

Guará 132.220,36

Matilde Cuê 171.980*

Borboleta 319.123,49

Guavirá 367.649,21

TOTAL 1.173.737,89

*foi descontada a área já utilizada para o Parque

Ecológico

Quadro 02: Área (m²) das áreas de proteção ambiental.

Fonte: Prefeitura do Município de Marechal

Cândido Rondon. Org.: Wild (2017).

IAV=1.173.737,89 (m )

39.147 (hab.)

IAV= 29,98m²/hab.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os órgãos gestores da cidade de Marechal

Cândido Rondon mostraram uma preocupação

com as áreas verdes no início da sua colonização

na década de 60. A relação praça, igreja, escola,

tornou-se uma característica no seu traçado

inicial e as áreas verdes eram extensões das

atividades realizadas nessas instituições. A partir

da década de 70 e com o aumento da população,

os novos loteamentos não acompanharam o

desenho urbano e a quantidade de áreas verdes,

ainda que exigidas por lei, não foram executadas.

A partir dos conceitos elencados de área

verde, as praças e o parque existente cumprem as

funções exigidas, ainda que necessitem de

melhorias. Mas pelo Índice de Área Verde da

área urbana, percebe-se que está muito aquém do

proposto nessa pesquisa. Porém, o município

dispõe de amplas áreas de proteção ambiental,

além dos espaços livres previstos em lei, as quais

poderão ser adequadas como áreas verdes e

cumprirem as funções estética, ecológica e de

lazer.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUCCHERI FILHO, A. T.; NUCCI, J. C. Espaços livres,

áreas verdes e cobertura vegetal no bairro Alto da XV,

Curitiba-PR. Revista do Departamento de Geografia

(USP), São Paulo, v. 18, p. 48-59, 2006.

CARLOS, A. F. A. A cidade. 2 ed. São Paulo: Contexto,

1994.

CAVALHEIRO, F. et al. Proposição de terminologia para

o verde urbano. Boletim informativo da SBAU, Rio de

Janeiro/RJ,v. 7, n. 3, p. 7, 1999.

CAVALHEIRO, F.; DEL PICCHIA, P. C. D. Áreas

verdes: conceitos, objetivos e diretrizes para o

planejamento. Anais do 1º Congresso Brasileiro Sobre

Arborização Urbana e 4° Encontro Nacional Sobre

Arborização Urbana, Vitória/ES, v. 4, p. 29-38, 1992.

CORRÊA, R. L. O espaço urbano. 4 ed. São Paulo:

Editora Ática, 2003.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

Cidades do Paraná: Marechal Cândido Rondon. 2017. Disponível em:

<https://cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/pr/marechal-

candido-rondon/panorama>. Acesso em: Junho de 2017.

IPARDES. Instituto Paranaense de Desenvolvimento

Econômico e Social. Caderno Estatístico: município de

Marechal Cândido Rondon, 2017. Disponível em: <

http://www.ipardes.gov.br/cadernos/MontaCadPdf1.php?

Municipio=85960&btOk=ok>. Acesso em: Junho de 2017.

LEE A.C; JORDAN HC; HORSLEY J. Value of urban green spaces in promoting healthy living and wellbeing:

prospects for planning.

LOBODA, C. R.; ANGELIS, B. L. D. Áreas Públicas

Urbanas: conceito, uso e funções. Ambiência.

Guarapuava, PR, v.1 n.1, p. 125-139, 2005.

LOMBARDO, M. A. Ilha de calor nas metrópoles: o

exemplo de São Paulo. São Paulo: Editora Hucitec, 1985.

MENDONÇA, F.; KOZEL, S. Elementos de epistemologia

da geografia contemporânea. In. MENDONÇA, F. Geografia Socioambiental. Curitiba/PR: UFPR, p. 121-

144, 2002.

Page 126: X EXPEDIÇÃO GEOGRÁFICA E II SEMANA INTEGRADA DA … · ensino fundamental e médio na rede escolar da região. ... elementos que compõem os processos naturais e sociais de nosso

124

COLEÇÃO DE REFERENCIA DE FITÓLITOS DA FLORESTA ESTACIONAL

SEMIDECIDUAL NA ESTAÇÃO ECOLÓGICA CAETETUS - SP

Erica de Souza1; Marcia Regina Calegari

2; Luciane Marcolin

3; Rodrigo S. Macedo

4; Pablo Vidal-

Torrado5.

1Mestranda em Geografia, UNIOESTE/Marechal Candido Rondon, [email protected]; 2Professora Colegiado de Geografia, UNIOESTE/Marechal Candido Rondon;

3Doutoranda em Geografia- UFPR; 4Dr. Ciências - Solos e Nutrição Plantas;

5Prof. Depto de Ciência do Solos - ESALQ/USP

INTRODUÇÃO

Fitólitos, termo que deriva do grego

“phyto=planta” e “lithos=pedra”; significa

“pedra produzida por plantas”. São

biomineralizações formadas a partir da

deposição da sílica amorfa hidratada não

cristalina dentro e entre as células de diferentes

tecidos vegetais, ao longo do ciclo vegetativo de

muitas espécies de plantas (ROVNER, 1971;

PIPERNO, 2006).

Estudos de fitólitos, sobretudo em relação à

produção e morfometria dessas

biomineralizações, têm contribuído na

compreensão da vegetação e de climas pretéritos,

principalmente sobre a trajetória histórica desses

elementos naturais ao longo do Período

Quaternário. A análise fitolítica constitui ainda

uma ferramenta útil à botânica, etnobotânica,

pedologia e arqueologia (PIPERNO, 2006).

A durabilidade e a pouca disperção dos

fitólitos no ambiente os torna importantes e

eficientes registros do clima e da vegetação

pretéritos (MADELLA et al., 2007). Desta

forma, o fitólito, juntamente com outros proxies

biológicos (por exemplo os isótopos, pólen e

etc), possibilitam reconstituir possíveis trocas

vegetacionais e inferir sobre as mudanças ou

oscilações climáticas ao longo do Quaternário,

bem como sobre a formação da atual estrutura e

funcionamento de alguns ecossistemas.

O emprego do fitólito na reconstrução dos

paleoambientes se mostra mais eficaz devido as

suas vantagens em relação a outros proxies, tais

como: (i) boa preservação em solo e sedimentos,

em diferentes condições edáficas; (ii) capacidade

de distinção de ambiente e tipo de vegetação

onde os solos/sedimentos se formaram; (iii)

complementação e por vezes, substituição ao

emprego da análise polínica para a reconstrução

da estrutura da vegetação, porque são facilmente

preservados, não sofrem tantos danos mecânicos

e não requerem condições específicas de

preservação nos diferentes tipos de sedimentos e

solos (minerais e hidromórficos), (iv)

possibilitam a diferenciação entre gramíneas de

padrão fotossintético C3 e C4, complementando a

interpretação dos valores isotópicos obtidos da

matéria orgânica do solo e da análise polínica

(quando realizada) (CALEGARI, 2013).

Todas essas informações são importantes,

uma vez que podem ser utilizadas pelos gestores,

sobretudo de áreas de proteção como as estações

ecológicas –(ESEC), em suas atividades de

gerenciamento, manejo e conservação dos nossos

biomas. Por isso a presente proposta de pesquisa

de mestrado é parte de um projeto maior1 que

tem como objetivo principal elaborar coleções de

referências de fitólitos das principais

fitofisionomias do Brasil para subsidiar os

estudos paleoecológico e de reconstituição

ambiental (clima e vegetação), baseados nos

fitólitos.

1 “Identification and discrimination of forest/savannah

ecosystems of Brazil on the basis of phytolith assemblages and indexes to understand past vegetation and soil genesis” (CAPES- PVE A115/2013)

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125

Para este trabalho foi selecionada a área da

Estação Ecológica Caetetus – ESEC Caetetus. A

ESEC possui 2.178,84 há e preserva uma das

maiores áreas contínuas representativas da

Floresta Estacional Semidecidual que revestia o

Planalto Ocidental Paulista, restrita hoje a menos

de 6% da cobertura original. A inexistência de

florestas naturais significativas, em um raio de

aproximadamente 200 km, faz desta Estação a

base para o conhecimento da estrutura e

funcionamento do ecossistema regional original

(TABANEZ et al., 2005)

Atualmente, não existem registros da

produção fitolítica da FES. Desta forma é de

suma importância que seja elaborada a coleção

de referência da plantas modernas

representativas dessa fitofisionomia e que a

assinatura fitolítica preservada no solos seja

registrada antes que muitas espécies

desapareçam.

Assim, o presente estudo objetivo elaborar

uma coleção de referência das principais

espécies representativas da Floresta Estacional

Semidecidual (FES). Os objetivos específicos

são: (i) extrair, quantificar e classificar os

fitólitos produzidos pelas plantas e o conjunto

preservado no solo, que são representativos da

Floresta Estacional Semidecidual preservada na

ESEC Caetetus e; (ii) determinar a assinatura

fitolítica da vegetação atual.

Com isso espera-se identificar as espécies

produtoras e quais os principais morfotipos por

elas produzidas e assim minimizar os efeitos da

redundância (quando várias espécies produzem o

mesmo morfotipo) e da multiplicidade (quando

uma mesma planta produz vários morfotipos)

(Rovner, 1971).

Diante disso, apresenta-se a seguir os

resultados preliminares sobre a da coleção de

referência que vem sendo elaborada.

MATERIAL E MÉTODO

Localização da área

De acordo com os dados apresentados no

plano de manejo da ESEC (TABANEZ, et al.,

2005) a estação abrange uma área 2.178,84 ha e

preserva uma das maiores áreas contínuas

representativas da Floresta Estacional

Semidecidual que revestia o Planalto Ocidental

Paulista, restrita hoje a menos de 6% da

cobertura original. A área da ESEC abrange

parte dos municípios de Gália e Alvinlândia

(FIGURA 1), geograficamente situada entre

22º20‟ e 22º30‟ de Lat. S e 49º40‟ e 49º45‟ de

Long. W Gr,(TABANEZ et al., 2005).

Figura 6: Localização da ESEC Caetetus, Gálai (SP).

Inserida na província geomorfológica Planalto

Ocidental, zona do Planalto de Marília. A

geologia da região onde está inserida a ESEC

composta predominantemente por arenitos das

Formações Marília e Adamantina do Grupo

Bauru (Almeida et al., 1981), depositadas no

Período Cretáceo. Secundariamente, são

encontrados Sedimentos Continentais

Indiferenciados e Sedimentos Aluvionares

(TABANEZ et al., 2005).

O relevo suave ondulado da região é formado

por colina, morrotes e planaltos interiores que

refletem o forte controle estrutural das camadas

subhorizontais da Bacia do Paraná, com leve

caimento para oeste, formando uma extensa

Page 128: X EXPEDIÇÃO GEOGRÁFICA E II SEMANA INTEGRADA DA … · ensino fundamental e médio na rede escolar da região. ... elementos que compõem os processos naturais e sociais de nosso

126

plataforma estrutural extremamente suavizada

(Ponçano et al., 1981; TABANEZ eta l., 2005).

Correlacionadas a este relevo são encontradas,

dentro da área da ESEC, de acordo como mapa

de solos disponível em TABANEZ et al. (2005)

Latossolo Vermelho Amarelo argissólico,

Argissolo Vermelho-Amarelo, Neossolo

Regolítico, Neossolos Litólitcos. O clima,

segundo a classificação de Köppen, é do tipo

Cwa, mesotérmico de inverno seco com

temperaturas inferiores a 18°C no inverno e

superiores a 22°C no verão. No mês mais seco o

total da precipitação não passa de 30 mm,

atingindo a precipitação anual de 1.100 a 1.700

mm (TABANEZ et al., 2005).

Coleta de plantas e solos

O trabalho de campo na ESEC Caetetus

ocorreu entre os dias 9 e 14 de novembro de

2015. A coleta foi realizada ao longo de uma

transecção de cerca 500 metros, conforme

metodologia delineada no projeto maior, do qual

esta proposta faz parte. A cada 100 metros foram

coletadas amostras das camadas mais

superficiais do solo (0-5 cm e 5-10 cm) e da

serapilheira para caracterização da assembleia

fitolítica representativa da Floresta Estacional

Semidecidual - FES (Bioma Mata Atlântica)

(Figura 2).

Figura 7: Esquema de amostragem de plantas e solos

na área de estudo.

Foram coletadas 70 espécies representativas

dos diferentes estratos da floresta foram

coletadas dentro de um raio de 50 m ao redor de

cada um dos cinco pontos ao longo da transecção

de 500 metros. As espécies amostradas são as

mais representativas em termos de ocorrência no

local e da fitofisionomia da FES e sua

identificação e coleta foram orientadas pelo

botânico Gabriel D. Colleta.

Na coleta das amostras de solos para as

análises de rotina e da composição isotópica e

para datação, foi aberta uma trincheira de 2

metros de profundidade na parte central do

transecto de 500m, situado na parte mais elevada

da ESEC. Foram coletas amostras por horizonte

de solo, sistematicamente a cada 10 cm (da base

para o topo da trincheira) para análise fitolítica e

isotópica. Para datação foram coletadas amostras

na base, no meio e no topo da trincheira (dados

não apresentados neste trabalho).

Extração, identificação e contagem de fitólitos

A extração de fitólitos preservados no solo foi

realizada no Laboratório de Mineralogia do Solo

na Escola Superior de Agricultura Luiz de

Queiroz – ESALQ/USP, em Piracicaba (SP),

seguindo o protocolo descrito em Calegari et al.,

(2013b) com método 2.

Para a extração de fitólitos das plantas atuais

da FES, foram usados aqueles adaptados dos

procedimentos preconizados por Campos e

Labouriau (1969) e por Piperno (2006)

conhecido como dry ashing, e empregados como

técnica do laboratório da UNIOESTE –

Marechal Cândido Rondon.

O método consiste na lavagem do material e

secagem em estufa por 24 horas para obtenção

da massa seca inicial, seguida por uma

calcinação em mufla por 6 horas (600°C). Em

seguida um ataque ácido com HCl (5%) para

eliminação dos carbonatos e nova calcinação a

600°C por 4 horas. No final é realizada uma

pesagem para obtenção da fração insolúvel ao

ácido (FAI), que contém os fitólitos.

A assembleia obtida em cada espécie foi

observada em microscópio petrográfico com

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127

aumento de 63X, fotografados e medidos. Foram

contados 300 morfotipos identificáveis com

tamanho maior que 5μm.

Os morfotipos foram descritos, medidos,

fotografados e nomeados conforme International

Code for Phytolith Nomenclature – ICPN 1.0

(MADELLA et al., 2005). A produção fitolítica

de espécies ainda será avaliada em termos de

abundância e diversidade de morfotipos.

RESULTADOS

Para esse trabalho foram selecionadas 23

espécies de plantas pertencentes a FES,

agrupadas a 15 famílias de espécies de hábito

arbóreo e uma espécie de gramínea da família

Poaceae (Tabela 1).

De acordo com os resultados a produção de

fitólitos neste conjunto de espécies é variada,

sendo 52,2% classificadas como excelentes

produtoras (produção abundante), 39,1 não

produziram fitólitos, embora tenham produzido

AIF (fração insolúvel ao ácido) e 4,3% (uma

amostra) apresentou produção moderada,

classificada como boa (Tabela1).

A produção de AIF, fração insolúvel ao ácido,

variou em 0,02% (Astronium graveolens –

Anacardiaceae) e 7,81% (Pharus- Poaceae).

Entretanto, assim como observado em outras

coleções realizadas pelo grupo a correlação entre

a quantidade de AIF recuperada e a produção de

fitólitos não apresenta correlação significativa. A

análise de correlação de Pearson aplicada indica

uma correlação positiva baixa de 0,49. Indicando

que nem todo material silicificado pelas plantas

são depositados dentro e entre as células, e não

formam corpúsculos com forma e tamanho

(>5µm) que possam ser reconhecidos e

considerados fitólitos com significado

taxonômico e/ou ambiental (Epstein, 2001).

A baixa correlação entre massa seca inicial e

a quantidade de AIF é observada na Figura 3, no

gráfico de correlação.

Essa baixa correlação é reflexo da diferença

morfofisiológica das plantas intra e entre

famílias. Por exemplo, na família Euphorbiacea,

com três espécies, observou-se variação entre as

porcentagens de AIF após o processo de

extração, porém todas apresentam produção

abundantes.

Figura 8: Gráfico de dispersão entre os valores de massa seca inicial e AIF.

Na literatura essa família tem sido

classificada como uma boa produtora de fitólitos

(Piperno, 2006). Entre as famílias a variação

observada foi maior, sendo a família Poaceae,

que apresenta elevado teor de AIF e produção

abundante, resultado que vem ao encontro da

literatura corrente e dos trabalhos já realizados

pelo grupo, que corroboram a família Poacae

com uma excelente produtora de morfotipos

diagnóstico, com significado taxonômico, que

permite a identificação em nível de subfamília,

além de permitir a separação em termos de ciclo

fotossintético (C3 ou C4) (Twiss. 1992). As

famílias Sapindaceae, Fabaceae, Phyllantaceae,

Meliaceae, Rutaceae, Myrtaceae, Bignoniaceae e

Rubiaceae produziram AIF, porém, não

produziram fitólitos com tamanho >5µm

(Epstein, 200), forma identificável e com

significado taxonômico. Entre as famílias de não

monocotiledôneas, com hábito arbóreo, a maior

produtora de fitólitos observada neste conjunto

de dados foi Proteaceae.

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128

Tabela 1: Tabela das famílias e espécies coletadas e analisadas com as informações de peso inicial (em gramas) da

amostra seca, a produção de cinza (em %) e a produção conforme observação nos 20 campos em 3 linhas da

lâmina.

Família Gênero Espécie

Massa Seca

Inicial

(gramas)

AIF

(%)* Produção de fitólitos**

Anacardiaceae Astronium graveolens 3,1572 0,02 Abundante

Annonaceae Duguetia lanceolata 4,4792 3,63 Abundante

Apocynaceae Aspidosperma polyneuron 3,5948 0,13 Abundante

Bignoniaceae Zeyheria turberculosa 2,2921 0,3 Não Produtora

Boraginaceae Cordia ecalyculata 1,879 0,87 Abundante

Euphorbiaceae Croton floribundus 5,2397 1,81 Abundante

Euphorbiaceae Actinostemon concipsionis 1,4706 2,11 Abundante

Euphorbiaceae Aparisthmium cordatum 2,3186 1,73 Abundante

Euphorbiaceae Maprounea guianensis 2,286 0,34 Abundante

Fabaceae Ormosia arborea 4,3261 0,21 Não Produtora

Fabaceae Copaifera langsdorfii 4,2745 0,11 Não Produtora

Fabaceae Hymenaea courbaril 4,3467 0,09 Não Produtora

Lauraceae Ocotea sp.

3,384 0,29 Abundante

Meliaceae Cedrela fissilis 2,3191 0,17 Não Produtora

Myrtaceae Myrciaria floribunda 4,1918 0,22 Não Produtora

Phyllantaceae Savia dictyocarpa 2,3518 0,22 Não Produtora

Poaceae Pharus

1,4299 7,81 Abundante

Proteaceae Roupala montana 5,4682 0,77 Abundante

Rubiaceae Amaioua intermedia 2,6362 0,06 Não Produtora

Rutaceae Esenbeckia grandiflora 2,6336 3,54 Abundante

Rutaceae Esenbeckia leiocarpa 3,282 0,04 Não Produtora

Sapindaceae Cupania tenuivalvis 3,4242 0,73 Não Produtora

Siparunaceae Siparuna guianensis 3,3897 0,29 Boa

*AIF- Fração insolúvel ao ácido em porcentagem da massa seca.

**Rara: menos que 10 fitólitos; Pouca: de 11 a 100 fitólitos; Boa: 101 a 300 fitólitos; Abundante:

acima de 301 fitólitos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados aqui apresentados são

preliminares e indicam que espécies estudadas

apresentam produção variada intra e entre

família, corroborando estudos já realizados pelo

grupo.

A produção de fitólitos observada apresenta

variação de morfotipos (dados não apresentados)

que destacam a importância da coleção de

referências, pois permite conhecer a produção

fitolítica das espécies representativas da FES, e

assim minimizar a redundância entre as planas

intra e entre famílias.

Os fitólitos apesar de contados, ainda não

foram identificados, fotografados e nomeados

conforme o ICPN 1.0. Porém, nesta primeira

análise foi possível de se estabelecer relação

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129

entre o peso inicial da amostra e o que foi

produzido de cinza após procedimento de

extração. Além disso, a contagem da lâmina em

3 linhas com 20 campos cada permite conhecer a

produção de silicificação das espécies para

posterior identificação dos morfotipos com

significado taxonômico para se conhecer a

assembleia fitolítica da fitofisionomia.

Os resultados preliminares sobre as

morfologias indicam variada produção de

fitólitos em Eudicotiledoneae, porém nenhuma

das espécies estudadas até o momento produziu

algum morfotipo novo com valor taxonômico.

AGRADECIMENTOS: Agradecimento a

CAPES pelo auxílio financeiro (CAPES-PVE

A115/2013), aos diretores da ESEC Caetetus

pelo suporte e apoio aos trabalhos de campo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIGARELLA, J.J. BECKER, R. D. SANTOS, G. F. dos.

Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais.

2 ed. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2007. Vol. 1.

CALEGARI, M. et al. Opal phytolith extraction in oxisols.

Quaternary International , v. 287, p. 56-62, 2013

CALEGARI, M. R. et al.. Potential of soil phytoliths,

organic matter and carbon isotopes for small-scale

differentiation of tropical rainforest vegetation: A pilot study from the campos nativos of the Atlantic Forest in

Espírito Santo State (Brazil). QUATERNARY

INTERNATIONAL, 2016.

CALEGARI, M. R. et al. Phytolith signature on the

Araucarias Plateau - Vegetation change evidence in Late

Quaternary (South Brasil). QUATERNARY

INTERNATIONAL, v. 434, p. 117-128, 2017.

CARNELLI, A. 2002. Long term dynamics of the

vegetation at the subalpine-alpine ecocline during the

Holocene: comparative study in the Aletsch region, Val

d‟Arpette, and Furka Pass (Valai, Switzerland). Terre &

Environment, Suisse, v.40, 349p.

CECCHET, F. A. Análise de fitólitos aplicada a

reconstrução paleoambiental (vegetação e clima) na

superfície incompletamente aplainada VI -Campo Êre

(SC) no Pleistoceno Tardio. (2015). Disponível em:

<http://tede.unioeste.br/tede/tde_arquivos/10/TDE-2015-

11-18T160049Z 1586/Publico/Fernanda_Aparecida_Cecc

het.pdf>. Acesso em: 20 Out. 2016.

EPSTEIN, E. 2001. Silicon in plants: Facts vs. Concepts.

P.1 e 2, 2001.

MADELLA, M.; ZURRO, D. Plants, People and Places-

recent studies in phytoliths analysis. Oxbow Books, p.184a

191, 2005.

PIPERNO D. R. 1991. The Status of Phytolith Analysis in

the American Tropics. Journ. World Prehist., 5(2):155-

191.

______, D. R. Phytoliths: A Comprehensive Guide for

Archaeologists and Paleoecologists. Lanham MD, Alta

Mira Press 2006.

ROVNER. IRWIN. 1971. Potential of opal phylOliths for

use in paleoecological reconstruction. Quat. Res. 1:343-

359.

TABANEZ, M. F. et al. Plano de Manejo da Estação

Ecológica dos Caetetus. São Paulo, n. 29, p. 1-104, fev.

2005.

TWISS, P.C. (1992). Predicted world distribution of C3

and C4 grass phytoliths. In: Rapp, G.R., Mulholland, S.C. (Eds.), Phytoliths systematics: emerging issues. Advance

Archaeological Museum Science, vol. 1. Plenum Press,

New York, pp. 113–128.

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130

EVENTOS ENOS CANÔNICO E MODOKI

Valdeir Welter1; Leila Limberger

2;

1PPGG – UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2CCHEL – UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon;

INTRODUÇÃO

A busca pelo entendimento da interação entre

os vários fenômenos que compõem a atmosfera e

sua ação no espaço geográfico tem se

configurado como uma das principais linhas de

investigação da atualidade nas ciências da

natureza, principalmente devido à discussão

acerca das mudanças climáticas globais.

A dinâmica climática que mais afeta as

atividades socioeconômicas associa-se a eventos

extremos, que geram um descompasso no padrão

natural causam prejuízos e exigem readaptações

das sociedades. Tais eventos climáticos são

estudados pela perspectiva da variabilidade

climática, que procura identificar os eventos que

ocorrem distantes dos chamados “padrões

médios”.

Percebe-se o papel fundamental da dinâmica

climática, pois eventos relacionados a anomalias

que surgem no sistema oceano/atmosfera

acarretam em fenômenos como o El Niño, tão

impactante à sociedade.

As condições que indicam a presença desse

fenômeno, chamado também de ENOS (El Niño/

Oscilação Sul), quando em sua forma

convencional (ou Canônico, ou de Leste), são o

enfraquecimento (intensificação) dos ventos

alísios e o aumento (diminuição) da Temperatura

da Superfície do Mar (TSM) no Oceano Pacífico

Equatorial Leste, acarretando na diminuição

(aumento) das águas mais frias que afloram

próximo à costa oeste da América do Sul (Figura

1), caracterizando um evento El Niño (La Niña)

(OLIVEIRA, 2001).

Figura 1 – El Niño Canônico (WENG et al, 2007).

Porém, além da existência de ENOS

convencional, onde o máximo de anomalia de

TSM ocorre na região do Pacífico Leste

Equatorial (PBMC, 2012), há a presença de uma

outra estrutura espacial, intitulada ENOS

Modoki (ASHOK et al., 2007) ou Central

(McPHADEN, ZEBIAK e GLANTZ, 2006),

onde o máximo das anomalias de TSM ocorre no

Pacífico Central (Figura 2), normalmente

ladeada por anomalias contrárias.

Figura 2 – El Niño Modoki (WENG et al, 2007).

O objetivo deste trabalho é identificar os

eventos ENOS Canônico e Modoki que

C

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131

ocorreram no período compreendido pelos anos

1980 a 2016. Posteriormente, pretende-se

compreender, em pesquisa já em curso, como

cada um dos tipos de ENOS afeta a precipitação

no Sudeste da América do Sul.

O período entre 1980 e 2016 vem sendo

relacionado com um aumento da incidência de

eventos de ENOS Modoki (ASHOK et al., 2007,

2009, WENG et al., 2007, WANG et al., 2017).

MATERIAIS E MÉTODOS

A associação entre os eventos ENOS se

encaminhou pela identificação dos anos de

ocorrência dos mesmos por meio do Índice Niño

Oceânico (INO, ou ONI, na sigla em inglês).

O índice INO foi obtido por meio da página

do NOAA na internet

(http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis

_monitoring/ensostuff/ensoyears.shtml), que

define os eventos de aquecimento e resfriamento

baseados no limiar de +/- 0,5ºC. Este índice é

composto pela média de três meses consecutivos

dos dados de anomalia de TSM do Extended

Reconstructed Sea Surface Temperature –

version 3 (ERSST.v3) na região do ENOS 3.4

(5ºN-5ºS, 120ºW-170ºW), identificados na

Figura 3.

Figura 3 – Índice Niño Oceânico (INO) para o período

de estudo (Adaptado de CPC/NOAA, 2017).

Normalmente, os eventos ENOS são

classificados de acordo com sua intensidade,

onde a variação do INO é levada em

consideração, como mostra a Tabela 1. Esse foi o

parâmetro utilizado para a escolha dos anos a

serem contemplados no estudo de caso, somente

eventos com intensidade moderada, forte ou

muito forte, em detrimento dos considerados

fracos.

Tabela 1 - Critérios para classificar a intensidade dos

fenômenos El Niño e La Niña (GGWS, 2016).

Evento Valor do INO Intensidade

El Niño

0,5 a 0,9

1,0 a 1,4

1,5 a 1,9

≥ 2,0

Fraca

Moderada

Forte

Muito forte

La Niña

-0,5 a -0,9

-1,0 a -1,4

-1,5 a -1,9

≤ -2,0

Fraca

Moderada

Forte

Muito forte

Dezembro, janeiro e fevereiro (DJF), período

típico onde eventos ENOS alcançam sua

amplitude máxima (LEE e McPHADEN, 2010),

vem sendo considerada a fase madura dos

extremos do ENOS. São aqui considerados os

trimestres dos anos/eventos selecionados (Tabela

2) onde o INO alcançou seu valor máximo.

Tabela 2 – ENOS separados por categorias

(organizador: os autores).

ENOS Moderado Forte Muito forte

El Niño

(EN)

1986-1987

2002-2003

2009-2010

1987-

1988

1991-

1992

1982-1983

1997-1998

2015-2016

La Niña

(LN)

1984-1985

1998-1999

2007-2008

2010-2011

1988-

1989

1999-

2000

-

Após a identificação de quais eventos ENOS

ocorreram no período, de acordo com o índice

INO, as anomalias de TSM foram plotadas por

meio da ferramenta “Plotting & Analysis” do site

ESRL/NOAA. Em seguida, eram comparadas

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132

com o que relatava a literatura sobre os padrões

de eventos ENOS Modoki e Canônico.

RESULTADOS

A interpolação dos dados de reanálise permite

destacar ENOS marcantes que ocorreram

recentemente, tanto das variantes Canônica

quanto Modoki.

A Tabela 3 apresenta os anos já classificados

para o período DJF, sendo que dezembro

representa o ano que aparece na tabela, assim

soma-se um ano para os meses de janeiro e

fevereiro do ano seguinte.

Tabela 3 – ENOS separados por categorias

(organizador: os autores).

ENOS Anos

El Niño Canônico

(ENC) 1982, 1986, 1997, 2006, 2015.

El Niño Modoki

(ENM)

1990, 1991, 1994, 2002, 2004,

2009.

La Niña Canônica

(LNC) 1984, 1996, 1998, 1999, 2005.

La Niña Modoki (LNM)

1988, 1998, 1999, 2000, 2007, 2008, 2010, 2011.

A análise permite identificar que no período

de 36 anos de estudo, o número de eventos

Canônicos e Modoki é semelhante, com

predominância da fase de aquecimento, a qual

aparece mais frequentemente na última década.

As Figuras 4, 5, 6 e 7 apresentam, a título de

exemplo, as anomalias de TSM dos eventos

relacionados acima, sendo, respectivamente ENC

de 1997/1998, ENM de 1991/1992, LNC de

1999/2000 e LNM de 1988/1989. Na Figura 4

identifica-se um padrão anômalo de aquecimento

que se origina na costa oeste da América do Sul

e se estende para oeste no Pacífico (OLIVEIRA,

2001; AMBRIZZI, 2003; TEDESCHI, 2008).

Figura 4 – Padrão de anomalia de TSM para DJF de

1997-1998; ocorrência de ENC (organizador: os

autores).

A Figura 5 apresenta o padrão de ENM,

quando as anomalias de TSM positivas se

encontram no centro do Pacífico. Essa área de

anomalia positiva é ladeada por anomalias

negativas, uma na costa da América do Sul e

outra na região das Filipinas.

Figura 5 – Padrão de anomalia de TSM para DJF de

1991-1992; ocorrência de ENM (organizador: os

autores).

A Figura 6 apresenta o padrão de anomalia de

TSM para o episódio de 1999/2000, LNC. Neste

evento, uma anomalia negativa de TSM se

instala no Pacífico Equatorial Leste, a partir da

costa do Peru.

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Figura 6 – Padrão de anomalia de TSM para DJF de

1999-2000; ocorrência de LNC (organizador: os

autores).

Já na Figura 7, exemplo de evento de LNM, o

resfriamento das águas do Pacífico Equatorial

não é tão intenso e ocorre no centro do oceano

(KAO e YU, 2009), sendo este um padrão já

verificado (KAYANO et al., 2016).

Figura 7 – Padrão de anomalia de TSM para DJF de

1988-1989; ocorrência de LNM (organizador: os

autores).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A metodologia utilizada para identificação

dos eventos ENOS Modoki e Canônico mostrou-

se satisfatória. Foram identificados 5 eventos de

EN Canônico, 6 EN Modoki, 5 LN Canônicas e

8 LN Modoki.

A representação das anomalias de TSM para

cada um dos diferentes eventos demonstrou que

há também um padrão diferenciado de TSM para

cada evento, o que acarreta diferentes efeitos na

circulação atmosférica, considerando o

acoplamento oceano-atmosfera.

A próxima fase da presente pesquisa será

estudar como cada um desses diferentes padrões

de anomalias de TSM afeta a atmosfera e, por

sua vez, a precipitação do Sudeste da América

do Sul.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMBRIZZI, T. El Niño Oscilação Sul e Teleconexões

atmosféricas no hemisfério austral. São Paulo: USP/IAG,

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135

PEDOTOPOSSEQUÊNCIA ORIUNDA DO ARENITO DA FORMAÇÃO CAIUÁ: ESTUDO DE

CASO NO MUNICÍPIO DE TERRA ROXA-PR

Rafael Martins Sanches1; José Edézio da Cunha

2; Vanda Moreira Martins

2;

Marcelo Batista1; Vanderlei Leopold Magalhães

3

1Mestrando em Geografia, UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon , E-mail: [email protected];

2Docente, UNIOESTE/MCR;

3Docente, UTFPR/Campus de Medianeira

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem o intuito de contribuir com

as pesquisas do Grupo Multidisciplinar de

Estudos Ambientais (GEA), relativos à área da

Bacia Hidrográfica do Paraná 3 (BP3). Trata-se

de um estudo que parte da relação solo-relevo

como subsídio para uma análise integrada da

paisagem.

Estudos dessa natureza tiveram início com o

trabalho de Bade (2014), quando da

compartimentação, caracterização e classificação

de cinco unidades geoecológicas na BP3, a

saber: unidade de Foz do Iguaçu (ao sul), de São

Francisco, de Cascavel, de Marechal Cândido

Rondon e de Guaíra (ao norte). Para o autor, a

unidade de Guaíra é singular, quando comparada

com as demais unidades da BP3. Essa

particularidade se dá em razão de ser um setor

que apresenta uma transição entre duas

litologias, as rochas ígneas do Grupo São Bento,

Formação Serra Geral e, as rochas sedimentares

do Grupo Bauru, Formação Caiuá. Associado às

diferenças litológicas, essa unidade apresenta

modelado aplainado, com baixas cotas

altimétricas e relevo plano a suavemente

ondulado. Tais características conferem a essa

unidade uma diversidade de processos

geomorfogenéticos que levam a diferenciação

quanto as formas de vertente e dos sistemas

pedológicos associados (BADE, 2014; BUENO,

2015; SANCHES et al. 2017b).

A partir da classificação de Bade (2014),

desenvolveu-se na unidade Guaíra o estudo de

Bueno (2015), por meio da metodologia proposta

por Ross (1994), que consiste na utilização do

conceito de Unidades Ecodinâmicas de

Instabilidade Potencial e de Instabilidade

Emergente. Para a autora, os solos dessa unidade

de paisagem apresentam diversidade morfológica

como reflexo das formas de vertentes associadas

às litologias encontradas.

Para autores como Mendonça (2001),

Nóbrega e Cunha (2001) e Guerra e Marçal

(2006), os estudos com base na análise integrada

da paisagem, contribuem para avançar no

entendimento da organização, dinâmica e

evolução dos solos. Nesse sentido, pesquisas

voltadas para a compreensão da relação solo-

relevo são essenciais na Pedologia e na ciência

geográfica, pois fornecem subsídios para estudos

de sistemas pedológicos, compreendendo o solo

no tempo e no espaço.

Na área de estudo, os solos oriundos das

rochas e materiais retrabalhados da Formação

Caiuá, por exemplo, apresentam textura média a

arenosa, de baixa a média permeabilidade, baixa

fertilidade natural e com limitação da

mecanização em pontos específicos da

topografia (EMBRAPA, 2006). Quando

associados ao uso e manejo inadequados, podem

apresentar adensamento, perdas, transformações

etc., tornando-os altamente susceptíveis à

instalação de processos erosivos (SANCHES et

al., 2017b).

A necessidade de estudos pedológicos

detalhados nas áreas degradadas e vulneráveis

aos processos erosivos, conduziu o objetivo

central desse trabalho. O principal objetivo foi

identificar e entender a distribuição e a

organização dos solos ao longo da vertente,

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136

correlacionando os atributos morfotopográficos e

morfopedológicos dessa pedotopossequência,

bem como aos processos de instalação e

evolução de erosões hídricas.

MATERIAIS E MÉTODOS

As etapas de campo se concentraram em uma

propriedade rural, no limite da área periurbana

da cidade de Terra Roxa, mesorregião Oeste do

estado do Paraná (IBGE, 2016) -(Figura 1).

Figura 1. Localização da pedotopossequência de solos.

Fonte: SANCHES et al., 2017a.

A metodologia norteadora desse trabalho foi a

Análise Bidimensional da Cobertura Pedológica

(ABCP), que integra o conjunto de

procedimentos da Análise Estrutural da

Cobertura Pedológica (AECP) proposta por

Boulet et al. (1982a) e difundida por Ruellan

(1988) e Ruellan e Dosso (1993). Por meio da

ABCP foi possível identificar e representar a

distribuição vertical e lateral do sistema

pedológico na vertente, bem como conceber sua

dinâmica, transformações e relação de evolução

em consonância com a topografia e o modelado

da unidade de paisagem analisada. Somando-se a

essa metodologia, foram adotadas técnicas

auxiliares de levantamento, descrição e

classificação de solos, além de análises físico-

químicas, as quais que permitiram caracterizara

cobertura pedológica em detalhe. Essas técnicas

estão descritas em Marques et al. (2000),

Embrapa (2011 e 2013) e Santos et al. (2015).

As etapas da ABCP podem ser assim

resumidas:

Escolha de uma vertente característica da

paisagem em termos morfopedológicos, a partir

do reconhecimento da área em campo e de

documentos cartográficos, imagens de satélite

etc;

Levantamento topográfico da vertente por meio

do uso de instrumentos como o metro, a trena,

clinômetro e a bússola, com a finalidade de obter

dados sobre a forma, o comprimento e a

topografia;

Reconhecimento pedológico com utilização de

trado holandês, pedocomparador e Carta de

Cores de Munsell. Nesta etapa foram realizados

procedimentos como a determinação da cor, da

textura e da consistência molhada dos solos, com

a finalidade de identificar suas respectivas

transições morfológicas verticais e laterais;

Abertura de trincheiras pedológicas para a

exposição dos perfis de solos, descrição

macromorfológica dos horizontes e a coleta de

amostras deformadas e indeformadas;

Análises laboratoriais das amostras de solo

coletadas, com a finalidade de obter dados

analíticos para a caracterização física e química

dos solos e interpretações de suas interações com

a erosão hídrica.

RESULTADOS

O segmento da vertente estudada possui uma

extensão de 735 metros e desnível de

aproximadamente 42 m e, está representada por

uma pedotopossequência de forma convexo-

retilínea-côncava e, convergente. De montante

para jusante, a pedotopossequência apresenta um

sistema pedológico constituído por Latossolo

Vermelho (LV) e Argissolos Vermelho (PV) e

Vermelho-Amarelo (PVA), cujas transições mantém

estreita relação com sua forma e cumprimento em

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137

três setores, a partir do topo. Os dados da composição

granulométrica podem ser consultados na Tabela 1. Segmento de Alta Vertente: representando o

setor de topo, possui declividade fraca (até 3%), com

forma levemente convexa, estendendo-se por 200

metros à jusante, entre os pontos de sondagem S1 e

S2. Nesse segmento predomina LV com caráter

argissólico, com horizonte Bw iniciando a

aproximadamente 60 cm de profundidade. Seu

registro no perfil, torna-se cada vez mais profundo à

medida que se avança para jusante. A sequência

vertical da cobertura pedológica, está representada

pelos horizontes Ap, AB, Bw1, Bw2 e

Bw3,identificados no perfil I (P1);

Segmento de Média Vertente: está

compreendido entre os pontos de sondagem S2 e S5,

perfazendo 400 m de extensão, com forma retilíneo-

convexa e declividade fraca (3-8%).No perfil de solo

descrito acima da ruptura de declive (P2), o perfil

apresenta sequência vertical Ap, AB, Bt1, Bt2 e Bw.

O segmento de média-vertentemarca a transição

lateral do LV para PV. O incremento vertical e

lateral da fração argila nos horizontes é a alteração

mais marcante nos perfis de solo. O horizonte Bt

avança à montante sobre o Bw;

Segmento de Baixa Vertente: entre os pontos S5

e S8, com 135 metros de extensão, a forma

ligeiramente convexa da ruptura de declive é

acompanhada do PVAcom sequência verticaldos

horizontesAp, E1, E2, E3, Btg e Bt. Neste segmento

o horizonte Bt apresenta expressão pedogenética

marcada por sua maior espessura e incremento de

argila com gradiente textural (Tabelas 1).Nesse setor,

a declividade da vertente (6-20%) e a textura arenosa

dos horizontes superficiais, favorecem a instalação de

sulcos e ravinas, e sua evolução é acelerada em

decorrência do uso e manejo inadequados

O setor de fundo de vale ocorre a partir da S8 até

o talvegue do canal fluvial, numa extensão de 90 m.

É um setor em que as alterações antrópicas na

morfologia da vertente se revelam por meiodos

desníveis e degraus de abatimento. Da S8 para

jusante, as medidas de proteção (isolamento por cerca

para recomposição vegetal) inibem a evolução da

erosão hídrica.Por essa razão, os Gleissolos dominam

o ambiente.

Essa morfologia da vertente e processos a ela

associados vão ao encontro dos estudos realizados na

região Noroeste do estado por Cunha (1996; 2002),

Nakashima (1999), Calegari (2000) e Martins (2000).

Por se tratar de uma vertente predominantemente

convexo-convergente, com segmento côncavo na sua

base, a circulação hídrica lateral torna-se pronunciada

em subsuperfície. A presença do horizonte Bt

potencializa a circulação hídrica lateral

subsuperficial. Bade (2014), Barreiros (2013),

Bueno (2015) e Rocha (2016) também destacam

que vertentes com essa morfologia tendem a

apresentar sistemas pedológicos compostos por

Latossolos no topo, Argissolos na média-vertente

e solos hidromórficos nos sopés e fundos de

vale.

Esse padrão de distribuição espacial dos solos

foi verificado na pedotopossequência estudada,

em que aumento da declividade, em direção à

jusante, acelera o fluxo hídrico em superfície e

subsuperfície. O aparecimento do horizonte Bt,

embutido em forma de uma cunha alongada no

horizonte Bw, é evidenciado pelo incremento de

argila em subsuperfície (Tabela 1) e lixiviação

dos materiais finos dos volumes sobrejacentes.

Ainda, de acordo com os dados de granulometria

(Tabela 1), os solos apresentam textura média (até

35% de argila). Já no segmento inferior, os

horizontes superficiais possuem textura arenosa

(areia franca/franco arenosa), evidenciando a perda

de materiais finos (argila) e acumulação relativa das

frações mais grossas (areia). Por se tratar de uma

vertente de formato convexo-convergente, há

favorecimento da formação de uma sequência

vertical de horizontes E-Btg no perfil III (P3).

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Tabela 1. Análises de granulometria dos três perfis

de solos identificados na pedotopossequência

HORIZONTES SILTE ARGILA AREIA

%

Perfil I – Latossolo Vermelho

Ap 0 – 10 cm 6,15 8,01 79,22

AB 10 – 30 cm 6,70 19,63 65,11

Bw1 30 – 60 cm 4,37 27,78 64,37

Bw2 60 – 100 cm 2,70 27,98 65,47

Bw3 100+ 2.52 27,38 61,32

Perfil II – Argissolo Vermelho

Ap 0 – 10 cm 8,82 5,01 77,51

AB 10 – 30 cm 5,00 12,13 77,40

Bt1 30 – 80 cm 4,67 24,08 62,68

Bt2 80 – 110 cm 9,70 27,89 56,34

Bw 110+ 2,70 27,41 61,60

Perfil III – Argissolo Vermelho-Amarelo

Ap 0 – 15 cm 5,15 7,00 84,12

E1 15 – 40 cm 3,95 6,50 85,42

E2 40 – 90 cm 4,00 9,30 81,76

E3 90 – 110 cm 3,30 6,20 88,87

Btg 110 – 145 cm 3,00 40,00 53,00

Bt 145 + 3,22 34,78 54,02

Neste setor (P3), da superfície até 110cm de

profundidade, a estrutura é maciça, com grãos simples,

marcada por bandas onduladas planoparalelas de

textura mais fina e croma mais alto que a matriz do

solo. Conforme demonstrado por Castro (1989) e

Zaparoli (2009), essas feições pedológicas constituem

evidências de que, no passado, o horizonte Bt se

encontrava em uma posição mais elevada no perfil. A

partir dos 145cm surge o horizonte Bt, de cor

vermelho-amarelo e textura média/argilosa. A

sequência de horizontes no P3 e sua morfologia explica

a presença do lençol suspenso no topo do Btg. O

gradiente textural entre os horizontes favorece a

circulação lateral da água, acelerando a perda dos finos

(argila e silte) e favorecendo a instalação de erosões

lineares. O contrário ocorre nos segmentos de topo e

média vertente, em que os solos apresentam morfologia

mais homogênea, com diferenciações verticais e

laterais menos pronunciadas. Essa característica não

impede a formação da erosão linear, normalmente

associada ao manejo inadequado dos solos, mas é um

fator limitante em sua ocorrência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O entendimento da dinâmica da paisagem a

partir da relação solo-relevo permite compreender

como os solos estão distribuídos na paisagem e

como estes se comportam face a ocorrência de

processos erosivos. Auxilia, ainda, no

planejamento do uso da terra, no entendimento dos

processos socioambientais e é caminho para se

propor saídas de conservação dos solos a fim de

conservar este recurso natural e garantir a

produção agrícola que manterá a continuidade da

espécie humana.

Os solos arenosos provenientes dos arenitos da

Formação Caiuá requerem atenção quanto ao uso e

manejo. Os atributos morfológicos identificados no

segmento inferior da vertente, por exemplo, conferem

aos solos, alta susceptibilidade à erosão hídrica e, por

isso, o emprego de técnicas adequadas de uso e manejo

pode amenizar o atual quadro de perdas de solos pela

erosão. A redução no distanciamento entre curvas de

nível/terraços, por exemplo, tem sido sugerida como

solução para o problema, mas sua eficácia precisa ser

comprovada.

Dentre os problemas ambientais que mais

afligem os ambientes de zona tropical e

subtropical, as erosões aceleradas dos solos

devem ser consideradas como um destaque e

motivo de preocupação, pois além de promover

danos de ordem ambiental, causa, ainda,

prejuízos de ordem socioeconômica, tanto no

local, como fora do local de sua ocorrência. No

local, causam danos ligados à perda de material,

redução do potencial produtivo e, em alguns

casos, inutilização da área. Em outros locais,

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139

causa prejuízos de produção, menor oferta de

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hídricos.

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141

POTENCIALIDADE PARA A CRIAÇÃO DE RPPN EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON,

PARANÁ

Luciane Mosconi, 1; Vanda Moreira Martins

2; Alcides Ricieri Rinaldi

3

1Mestranda do PPGG UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon-PR, [email protected]; 2Professora Drª Adjunta do colegiado de Geografia e do PPGG UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon-PR;

3Professor do Colégio Alfa/Cristo Rei;

INTRODUÇÃO

O território do município de Marechal

Cândido Rondon está inserido na área do bioma

Mata Atlântica, um dos hotspots para a

conservação da biodiversidade (MYERS et al.,

2000), domínio ecossistêmico da Floresta

Estacional Semidecidual e área da ecorregião das

Florestas do Alto Rio Paraná, também conhecido

por Mata Atlântica Subtropical (MAACK,

2002). Os remanescentes naturais desta região

são de elevada importância para a conservação

da natureza, já que destes restam apenas 3% das

áreas naturais (DI BITETTI et al., 2003).

A rica biodiversidade da Mata Atlântica, a

presença de solos férteis, as condições propícias

de relevo e as condições climáticas fizeram com

que a vegetação da região Oeste do Paraná fosse

profundamente alterada, levando a uma drástica

redução de áreas naturais de floresta, iniciada na

década de 50 (LOPES, 2004; SWAIN, 1988).

No município de Marechal Cândido Rondon,

ainda existem alguns remanescentes da Mata

Atlântica Subtropical, mas nenhuma Unidade de

Conservação (IAP, 2017; DIAS, 2010). Isso vai

na contramão das metas internacionais de Aichi

(2011-2020), assinadas pelo Brasil, que

determinam que as nações conservem ao menos

17% dos ecossistemas terrestres em forma de

Unidades de Conservação (CONABIO, 2013).

Esse tipo de ação garante a manutenção dos

serviços ecossistêmicos gratuitos, como a

polinização, a regulação e manutenção do ciclo

da água, o controle da erosão do solo, a

manutenção de rios e nascentes, o

armazenamento e reciclagem de nutrientes e o

controle natural de pragas (TORNQUIST e

BAYER, 2009), essenciais para as atividades

humanas, como a agropecuária. Por essa razão,

territórios como o de Marechal Cândido Rondon

deveriam possuir UCs (como Reservas

Particulares do Patrimônio Natural – RPPN) e,

por isso, o estabelecimento das mesmas deveria

ser um dos objetivos da administração pública,

devido à sua importância para a garantia da

qualidade de vida humana.

O Estado do Paraná foi pioneiro no Brasil em

recompensar financeiramente a iniciativa de

conservar os recursos naturais em RPPNs,

estabelecendo o retorno de parte do ICMS

estadual (ICMS Ecológico) para as

administrações municipais. Esse recurso é

destinado para que se possa manter e proteger

essas Unidades de Conservação (ROSSI et al.,

2011; MONTE e SILVA, 2009).

Considerando que: a) o município de

Marechal Cândido Rondon possui remanescentes

de florestas em seu território; b) as áreas naturais

são de grande importância socioambiental; c) há

viabilização de recurso para a manutenção dessas

Unidades de Conservação; constata-se que a

busca por áreas para o estabelecimento de UC é

uma estratégia de grande importância e, por isso,

o objetivo deste trabalho.

Dessa maneira, este estudo avaliou áreas

potenciais para a criação de RPPNs (Reserva

Particular de Patrimônio Natural) na bacia

hidrográfica do Rio São Francisco Verdadeiro,

município de Marechal Cândido Rondon-PR.

Para isso, utilizou-se da aplicação de

questionários e do mapeamento das propriedades

e de seus remanescentes florestais.

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142

A partir dos dados das áreas das propriedades

e das florestas, dimensionou-se a proporção dos

remanescentes florestais em cada uma delas. Foi

estimado, também, o valor de ICMS Ecológico

que o município poderá receber se estabelecer

UC nos remanescentes florestais mapeados.

MATERIAIS E MÉTODOS

Com uma simples análise de imagens do

Google Earth, é possível perceber que o distrito

de São Roque é a região com mais

remanescentes florestais no município de

Marechal Cândido Rondon. Esses remanescentes

servem de habitat para exemplares da fauna e da

flora que são ameaçados de extinção, uma vez

que seus habitats são muito reduzidos.

Nesse setor do município, foi delimitada a

área de estudo (bacia do rio São Francisco

Verdadeiro) com base na hipsometria. Foram

verificados os interflúvios e a direção do

escoamento pluviométrico para o rio São

Francisco Verdadeiro (Figura 1). Para avaliar a

altimetria da região, utilizaram-se as imagens

Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) 1

arc-segundo com resolução de 30 metros, de 23

de setembro de 2014. As imagens foram

baixadas do U.S. Geological Surve.

Figura 1- Delimitação hipsométrica da área de estudo na

bacia hidrográfica do rio São Francisco Verdadeiro no

município de Marechal Cândido Rondon, Paraná.

Com a borda da área de estudo delimitada, o

arquivo foi exportado em formato Keyhole

Markup Language (kml) e visualizado no Google

Earth. Isso possibilitou a localização das

edificações existentes no interior da área de

estudo. Essas edificações foram elencadas como

possíveis moradias onde seriam aplicados os

questionários e encontrados seus proprietários.

Inicialmente estimou-se um total de 88

propriedades a serem visitadas.

De posse das localizações das sedes das

propriedades, foi elaborado o questionário a ser

aplicado junto aos moradores/proprietários. As

questões foram estruturadas para permitir a

coleta das seguintes informações: a)

identificação e formação do proprietário; b)

estrutura produtiva das propriedades rurais; c)

conhecimento legal do proprietário; d) interesse

pela estruturação de uma Reserva Particular do

Patrimônio Natural nas propriedades.

Iniciaram-se, então, as incursões em campo

na busca pelos proprietários dos imóveis rurais

para a aplicação dos questionários e a

identificação das propriedades. As atividades de

campo foram realizadas entre os meses de junho

de 2016 e agosto de 2017.

Para aperfeiçoar o trabalho de aplicação do

questionário, as observações e o levantamento

dos demais dados, realizou-se uma setorização

da área da bacia hidrográfica do rio São

Francisco Verdadeiro, acompanhando as

divisões distritais e locais do distrito de São

Roque:

Linha Campos Sales;

Linha Eldorado;

Linha Hermann;

Linha Cinco Cantos;

Linha Cascata;

Arredores da Vila.

Seguindo esses critérios de localização, as

sedes das propriedades, previamente

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143

identificadas, foram visitadas e, quando

encontrado o proprietário, realizada a aplicação

do questionário e feito o esboço prévio do

mapeamento da propriedade e das áreas de

remanescente florestal. Para isso, foram

utilizadas imagens do satélite RapidEye que

recobriam o polígono de limite da área de estudo

previamente delimitado. As imagens

correspondentes foram obtidas por meio do

GeoCatálogo, do Ministério do Meio Ambiente

(MMA, 2017). Utilizando-se da composição

colorida das imagens (R3B2G1) e com o auxílio

do programa Q-Gis, foram demarcados os

limites das propriedades e das áreas verdes

nativas. Todos os layers produzidos tiveram suas

projeções padronizadas no datum SIRGAS 2000.

Os layers produzidos foram, então,

importados para o programa ArcGis 10.4 para

eliminar as sobreposições entre as topologias.

Estas foram validadas, tendo os erros indicados e

corrigidos para possíveis sobreposições e

duplicação de vetores.

Com os dados corrigidos, calculou-se a área

de cada propriedade, a área dos remanescentes

florestais de cada propriedade e a porcentagem

de cobertura. O objetivo de delimitar as áreas de

floresta foi indicar as áreas que podem se tornar

uma RPPN. É importante ressaltar que não foram

realizadas distinções entre categorias de

remanescentes florestais, como Reserva Legal

(RL) e Área de Proteção Permanente (APP), já

que estas podem ser inseridas em categorias de

maior critério de conservação, como as RPPN

(conforme artigo 44 da Lei 12651 de 2012 e

Decreto 5746/2006). As áreas de silvicultura ou

fruticultura foram desconsideradas das áreas de

floresta.

De posse dos layers das áreas florestais

corrigidos, o valor da área florestal foi calculado

na função Calculate Geometry, considerando a

unidade métrica de hectare (10.000m2). A partir

dos dados das áreas das propriedades e das

florestas, foram calculadas as porcentagens de

remanescentes florestais existentes em cada

propriedade.

Na região Oeste do estado do Paraná,

incluindo Marechal Cândido Rondon, o módulo

fiscal é de 18 hectares (MOREIRA, 2016). Com

base nessa unidade de medida variável, a lei

federal 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, define

as propriedades rurais como: minifúndio (< 1

módulo fiscal); pequena (entre 1 a 4 módulos

fiscais); média (entre 4 e 15 módulos fiscais) e

grande propriedade rural (acima de 15 módulos

fiscais). Dessa maneira, foi possível estabelecer

qual o número de propriedades rurais da área de

estudo se enquadra em cada uma das quatro

classes definidas pela legislação atual.

Essa classificação foi realizada, pois, de

acordo com o Novo Código Florestal de 2012, as

propriedades com até quatro módulos fiscais não

são obrigadas a constituir RL. Por outro lado, a

Lei da Mata Atlântica, número 11.428/2006,

proíbe a retirada de floresta neste bioma. Esses

fatos causam certo desconforto em muitos

proprietários rurais, que veem os remanescentes

florestais como obstáculo para a produtividade e

como causa da perda de lucratividade, pois

pagam o ITR sobre a área ocupada pela mata.

Para estimar o valor de ICMS Ecológico que

estes remanescentes arrecadariam, foram obtidos

dados de Mezzomo et al. (2013) para as RPPN

Coamo II e Santa Maria I (Luziana, Paraná)

(Tabela 1). Essa estimativa foi obtida da seguinte

forma: o valor total (anual) de ICMS Ecológico

arrecadado pelo município (R$ 25.439,61) foi

dividido pela área protegida pelas duas RPPNs

(244,22 hectares), ou seja, seguiu-se a seguinte

fórmula:

Assim é obtido o valor médio de ICMS por

hectare de RPPN conservado no município. O

mesmo foi feito com os dados disponibilizados

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por Carminatti (2011), para os municípios de

Ramilândia, Campo Bonito e Nova Aurora.

A partir dos valores de ICMS arrecadado por

hectare/ano conservados em RPPN, em cada

município, foi elaborada uma média de ICMS

Ecológico arrecadado por hectare de RPPN,

conforme equação abaixo:

Esse valor permitiu calcular, por estimativa, a

arrecadação que o município de Marechal

Cândido Rondon pode receber com a criação de

RPPNs na área de estudo.

Os dados obtidos dos referidos autores foram

calculados pelo IAP, que utiliza a lei

complementar do Paraná 59/1991 e o decreto

2791/1996 como referência. Os critérios técnicos

de alocação de recursos de ICMS Ecológico para

UC, como as RPPNs, respeitam o Coeficiente de

conservação básico, a área de conservação do

município em relação à sua área total, o fator de

conservação variável em função da sua categoria

de manejo, o coeficiente de conservação de

biodiversidade por interface, a qualidade da UC

e o número de UC e de municípios em todo o

estado do Paraná, conforme modelo descrito por

IAP (2017):

Onde:

i: variável de 1 até o total de nº de Municípios

beneficiados;

j: variável de 1 ao n.º total de unidades de conservação, a

partir de suas interfaces, devidamente registradas no

Cadastro.

CCBij: Coeficiente de Conservação da Biodiversidade

básico;

AUC: Área de Unidade de Conservação;

AM: Área do Município;

FC: Fator de Conservação (baseado na categoria de UC).

É importante ressaltar que, para obter o valor

oficial de ICMS ecológico para a área de estudo,

é indispensável a análise técnica do Instituto

Ambiental do Paraná IAP. Por outro lado,

observando os dados de ICMS Ecológico pagos

para algumas RPPNs no Oeste e Centro Oeste

paranaense, é possível realizar uma estimativa de

valor médio por hectare de RPPN criada no

estado do Paraná.

Tabela 1 - Descrição dos dados obtidos em Carminatti

(2011) e Mezzomo et al. (2013) para a estimativa de ICMS

Ecológico referente a um hectare de RPPN no oeste e centro

oeste do Estado do Paraná.

Município Período Área

RPPN

(ha)

Valor médio

Ano/

arrecadado

Valor

ha/Ano

Campo

Bonito

1998 e/ou a

2012

1044 R$ 259.660,18 R$ 248,00

Luziana 2008 e 2010 244.22 R$ 25.439,61 R$ 104.16

Nova Aurora 2008 e 2010 138.29 R$ 25.370,68 R$ 183,45

Ramilândia 2008 e 2010 704,64 R$ 240.189,37 R$ 304.86

Valor médio de ICMS Ecológico por hectare de RPPN R$ 210,11/ha

RESULTADOS

Diferente do número esperado de

propriedades (88 previamente identificadas),

foram mapeadas um total de 124 propriedades

rurais na bacia do rio São Francisco Verdadeiro,

no município de Marechal Cândido Rondon,

Paraná.

Desse total, 112 propriedades (90%) tiveram

seus proprietários conhecidos (identificados por

nome) e em 88 (70%) delas, os proprietários

foram entrevistados. Os proprietários que não

foram entrevistados não residem ou não se

encontravam nas propriedades durante as

incursões em campo. As propriedades rurais

existentes, no setor analisado da bacia

hidrográfica do rio São Francisco Verdadeiro,

apresentaram tamanhos que variaram entre 2.42

hectares e 755.04 hectares.

A área total de remanescentes florestais na

bacia do rio São Francisco Verdadeiro é de,

aproximadamente, 1.592 ha (Figura 2). Desse

total, 1.585 ha (99%) são considerados como

áreas potenciais para a criação de RPPN no

município. Cabe ressaltar que a maior área

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florestal, que poderia ser transformada em

RPPN, possui aproximadamente 211 ha e está

localizada em uma propriedade rural, cuja área

total é de aproximadamente 367 ha.

Figura 2 - Remanescentes de Floresta Estacional Semidecidual existentes na bacia do São Francisco Verdadeiro, município de Marechal Cândido Rondon-Paraná.

Considerando a área total de remanescentes

florestais (1.592 ha) e o valor médio estimado de

ICMS Ecológico (R$ 210,11), por hectare, que é

retornado ao município pelo governo estadual

para a manutenção das UC, o município de

Marechal Cândido Rondon poderia receber cerca

de R$ 335.476,2 anualmente, valor estimado

apenas com base nos remanescentes da referida

área de estudo.

Quanto ao número de propriedades Quanto ao

número de propriedades analisadas, salienta-se

que a área de estudo é composta,

predominantemente, por minifúndios (58

propriedades/47%); pequenas propriedades

rurais (52 propriedades/42%) e 14 propriedades

(11%) de médio porte.

Quanto às áreas das propriedades, os

minifúndios cobrem 11% da área total de estudo.

Já as pequenas propriedades rurais correspondem

a 33%, enquanto as propriedades de médio porte

totalizam 56% da área de estudo (Tabela 2).

Tabela 2 - Estrutura Fundiária das propriedades rurais da

Bacia Hidrográfica do São Francisco Verdadeiro no

Município de Marechal Cândido Rondon-PR.

Categoria Da

Propriedade

Rural

Quantidade

De

Propriedades

Porcentagem

Das

Propriedades

Porcentagem

Da Área

Ocupada

Minifúndio 58 47% 11%

Pequenas propriedades

52 42% 33%

Médio Porte 14 11% 56%

Grande Porte - 0% 0%

Total 124 100% 100%

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados e resultados obtidos permitiram

constatar que existe interesse e pré-disposição

dos proprietários rurais quanto à criação de

RPPNs. A maior porcentagem das propriedades

rurais da bacia hidrográfica do rio São Francisco

Verdadeiro, nos limites do município de

Marechal Cândido Rondon, enquadra-se nas

categorias de minifúndio e pequenas

propriedades. O mapeamento realizado registrou

a existência de remanescentes florestais

propícios para a criação de UC na região,

corroborando a possível criação de UCs, na

categoria de RPPN, dentro dos limites do

município de Marechal Cândido Rondon-PR.

Se todas as áreas de remanescentes da área de

estudo fossem transformadas em RPPNs, estima-

se que o município de Marechal Cândido

Rondon-PR poderia receber, anualmente, um

valor superior a R$300.000,00. O que pode ser

considerado significativo para a melhoria de

infraestrutura destas áreas. Isso indica que é

necessário esclarecer e incentivar a

transformação das referidas áreas em UC nas

áreas agropecuárias da região, o que pode

garantir a melhoria da qualidade de vida dos

próprios produtores e a manutenção da

biodiversidade local.

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146

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147

SUCESSÃO ECOLÓGICA DO ARQUIPÉLAGO DO ALTO RIO PARANA

Elcisley David Almeida Rodrigues1; Karin Linete Hornes

2;

1Mestrando do PPGG - UNIOESTE/Campus Mal Cândido Rondon, [email protected]; 2Docente do Curso de Pós-Graduação e Graduação em Geografia - UNIOESTE/Campus de Mal. Cândido Rondon.

INTRODUÇÃO

Os estudos da ecologia em ilhas foram objetos

de diversos naturalistas dos séculos XIII e XIX.

Entre os trabalhos clássicos podemos citar

Wallace e Darwin, que em meados de 1860,

idealizaram a teoria da evolução gradual das

espécies em condições insulares e MacArthur e

Wilson em 1960, que produziram a Teoria da

Biogeografia de Ilhas. É denominado de ilhas as

geoformações que se distinguem por estarem

cercadas de águas por todos os seus lados.

Geralmente as mesmas são ambientes em que a

comunidade ecossistêmica presente se diferencia

da comunidade terrestre. Pois os indivíduos

desses locais costumam desenvolver

peculiaridades próprias ocupando cada qual seu

lugar na economia trófica natural de uma ilha

(PAPAVERO e SANTOS, 2014). O povoamento

de uma ilha só ocorre devido ação da água

(hidrocórica), ação do vento (Anemocória) ou

por animais (Zoocória).

Neste sentido o presente trabalho apresenta

como objetivo principal a averiguação do estágio

sucessional do Arquipélago no Alto Rio Paraná/

situado no município de Porto Rico/PR. Para

alcançar tal propósito será realizada a medição

da circunferência a altura do peito (CAP) das

árvores com fuste que depois será convertida

para o Diâmetro a altura do peito (DAP) E, na

metodologia de alocação dos parcelares fixos

(FURLAN, 2009), com esforço amostral de

10.000 m² (1 ha). Os 10.000 m² (1 ha) foram

subdivididos em corredores retangulares

compostos em sua unidade por Parcelas

Quadráticas. Neste trabalho foi descrito somente

a primeira campanha, do qual, foram elaborados

um total de 2.800 m².

A importância deste trabalho se deve a

necessidade de estudos que contemplem a

dinâmica sucessional em ilhas fluviais, afim de

que possa entender o papel da vegetação na

gênese dessas geoformações. E avaliar o estágio

sucessional. Este processo parte do princípio que

a particularização da fitogeografia e da sucessão

pode auxiliar no entendimento da evolução da

vegetação em áreas isoladas por algum obstáculo

geográfico como rios ou montanhas.

Em conformidade com este trabalho há uma

série de outros sendo executados no mesmo

local, por pesquisadores do Núcleo de Pesquisas

em Limnologia Ictiologia e Aquicultura

(NUPÉLIA). Entre esses deverão ser levantados

a cobertura pedológica e geológica do local, um

conhecimento dos tipos de sementes enterradas

com o intuito de conhecer a cobertura vegetal

pretérita. Além, de uma investigação da

composição florística do local.

MATERIAIS E MÉTODOS

As Ilhas, alvo do presente trabalho, situam-se

na região Noroeste do município de Querência

do Norte, em área do canal do Rio Paraná, em

região de Área de Proteção Ambiental das Ilhas e

Várzeas do Rio Paraná. Este município localiza-

se na Mesorregião Noroeste do Paraná em área

do Terceiro Planalto Paranaense. O Rio Paraná

nasce da confluência do Rio Grande e Parnaíba.

E, esses dois rios nascem em Minas Gerais e

atravessam os estados de Goiás, São Paulo e

Mato Grosso do Sul. E consequentemente

cruzam Domínios Morfoclimáticos distintos

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148

como o Domínio de Mares de Morros (Tropical

Atlântico) e o Cerrado1 (AB´SÁBER,2003).

A cobertura vegetal existente nas ilhas é

representada por duas unidades descritas por

Roderjan et al., (2002) como a Floresta

Estacional Semidecidual Aluvial e a mata

complexa associada, denominada de Fluvio-

lacustre. A floresta do tipo Estacional

Semidecidual Aluvial corresponde às formações

distribuídas ao longo dos cursos hídricos

formando vales sujeitos a inundações periódicas

em áreas de Gleissolos (solos hidromórficos)

com altitude entre 0 a 100 metros. Trata- se de

uma formação com um desenvolvimento menor

que a Sub-montana em densidade. Vale

mencionar que a Aluvial está presente nas

planícies e em terraços das calhas dos rios

(IBGE, 2012).

Já as Formações Pioneiras com influência

Fluvio-Lacustre correspondem as espécies sobre

as áreas de várzeas sobre os Gleissolos e

Organossolos (RODERJAN, 1994). Do ponto de

vista geológico encontra-se dentro do

embasamento da Formação Caiuá. A pedologia é

representada por Neossolo flúvico, Argissolo e

Latossolo (ITCG, 2008).

Conforme delimitação da MINEROPAR

(2006), a área de estudo geomorfologicamente

situa-se na Folha de Umuarama (Folha SF. 22-Y-

C), na chamada Subunidade denominada

Planície Fluvial, com atributos de sedimentos

inconsolidados do Período Quaternário. Das

características hídricas é importante destacar que

a formação de inúmeras ilhas neste trecho relega

o local a um padrão denominado de

Anastomosado de Múltiplos Canais (LELI,

2015).

Para a confecção desta pesquisa foram

necessários os seguintes materiais

fundamentados em Furlan (2009); Moro e

1 Do Cerrado pode ser subdividido fitofisionomicamente

em Cerrado strictu sensu, Campo Sujo, Campo Limpo,

Cerradão e Cerrado Rupestre.

Martins (2011): Um aparelho Navegação por

Satélite (Garmin 60 Cx) com o intuito de

registrar as coordenadas geográficas de cada

parcela. Além de, Bússola para apontar o rumo

na construção dos corredores, estacas, martelo e

fita zebrada para a implantação dos parcelares,

fita métrica e cano fixo para medir

respectivamente o CAP e altura dos indivíduos.

E, por fim, plaquetas de garrafas pet, prancheta e

caderneta de campo.

Para alcançar os objetivos propostos o

presente trabalho adota a resolução do

CONAMA (1994) para a definição dos estágios

sucessionais. Esta resolução menciona como

parâmetros de análises das fases citadas o DAP2,

Altura e Área Basal. Em gabinete os dados

deverão ser tabulados em aplicativo office (word

e excell).

Para a coleta de dados esta pesquisa utilizará

a técnica de Parcelamentos Fixos implantados

em concordância com os setores de evolução das

ilhas, partindo das áreas mais jovens até as mais

antigas. O esforço amostral embasado em Furlan

(2009) será de 10.000 m². Conforme essa autora,

diversos estudos sugerem que este valor seria

suficiente para amostrar uma diversidade

florestal (FURLAN, 2009).

Com a fundamentação de Moro e Martins

(2011) cada parcelar precisa ser delimitado com

estacas de madeiras, cercadas com fita zebrada.

O processo descrito acima denominado de

estaqueamento do terreno justifica-se com o

intuito de uma estética agradável, contribuindo

em deixar linhas retas e permitir ao pesquisador

a localização dos parcelamentos em matas

densas. E com a fita zebrada contribuirá, além da

fácil visualização, o estabelecimento de limites

nítidos entre os parcelares.

2 O DAP pode ser transformado do CAP (valor obtido pela

aferição direta na árvore) a partir da fórmula: C=

Circunfêrencia, = Valor constante de 3,14 e D= Diâmetro

a Altura do Peito (MORO e MARTINS, 2011).

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Para a coleta de dados (CAP), a pesquisa se

fundamenta em Moro e Martins (2011) e

segundo este autor, o valor obtido em campo

através da fita métrica é a Circunferência à

Altura do Peito com critério de inclusão de ≥15.

Ribeiro (2011) afirma que o maior objetivo da

análise do CAP é que este desempenha um papel

fundamental para o conhecimento da

composição florística e sua situação atual e

futura. E, para a aferição da Altura o

equipamento a ser utilizado é um cano graduado

e uma trena a laser (Trena a Laser Super Tech SP

40XT de 40m). Para a contagem de Lianas é

erguido a metodologia de Durigan et al., (2000)

e Rezende et al., (2007) onde será considerado o

número de caules por parcelamentos.

As placas conforme a metodologia deverá ser

alocada em ordem numéricas sendo zeradas de

corredor a corredor e fixadas nas árvores com

pregos. Estas placas produzidas de material pet,

foram marcadas com pincel vermelho com as

seguintes informações: ordem de árvore medida,

sua circunferência e altura. Este processo é

importante pois contribuirá para não haver uma

perda ou recontagem de indivíduos.

Com respeito a contagem no meio florestal de

espécies com troncos múltiplos, deverá ser

adotado a seguinte forma de aferição. Nos

indivíduos que no nível de solo, dois eixos

apareçam ligados, tendo uma base comum são

contabilizados como um único indivíduo. No

entanto, quando cada eixo emergir

separadamente no nível do solo, são

considerados como indivíduos distintos, portanto

medidos separadamente (MORO e

MARTINS,2011).

Ao término deste procedimento os dados de

Diâmetro, Altura e Área Basal serão tabulados e

classificados nas classes conforme a resolução

base do CONAMA (1994) onde o predomínio de

indivíduos em uma determinada classe indicará

pertencer a esse estágio distinguido entre Inicial

(5-15) intermediário (10-35) e avançado (20-50)

Com tais metodologias deverão proporcionar

que se atinja no final o resultado esperado que é

o levantamento do estágio sucessional do

arquipélago no Alto Rio Paraná e o levantamento

da cobertura vegetal

RESULTADOS

O presente trabalho ainda em andamento já é

detentor de alguns resultados e análises. No

momento já foram instalados 2.800 m² de

parcelares fixos (Figura 01) e que permitiram

verificar diferenças que refletem sobremaneira

os setores geomorfológicos de constituição das

ilhas.

Deste modo, os resultados mostram a

existência de três padrões importantes dentro dos

2.800 m² (Figura 02). O primeiro padrão

comporta os parcelares que saem do degrau de

entrada da ilha em direção ao baixio (P01 a P06)

e têm como características progressivo aumento

nos valores de Circunferência à Altura do Peito

(CAP) e uma diminuição dos indivíduos

coletados. E com média de CAP´s, com

valoração alta (em média de 43 cm) quando

comparadas com o padrão 02, que será descrito a

seguir. Além de um aumento considerável nas

formas de vida do tipo Lianas (Cipós).

Figura 01: Distribuição dos parcelares dentro das ilhas

O Segundo padrão (Figura 02) comporta os

parcelares situados do baixio até a entrada da

planície (P07 a P26) e como atributo marcante é

a presença de padrões irregulares de distribuição

P01

P28 P07

Parcelamento

Distribuição do Corredor

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150

média do CAP. A quantidade de indivíduos

aumenta (P08-P11), com quedas acentuadas, 18

indivíduos no P11 para 01 na P18. Este fato é

explicado pela alta quantidade de Lianas a partir

da P11 até o P19, que age bloqueando os raios

solares e não permitindo a formação de uma

vegetação densa.

Neste padrão ainda, outro atributo a ser

mencionado é a quantidade de árvores de grande

valor de circunferência com árvores com até 196

cm de CAP (P11). Com relação a comunidade de

Lianas, do mesmo modo que o primeiro padrão,

exibe um aumento progressivo em direção a

planície da ilha. E, diferente do primeiro padrão

aqui estão situados do filo das Pteridófitas, a

Samambaia (P20).

E por fim, o terceiro padrão representa a

área de planície da ilha (P27 e P28) onde

apresentam como características áreas com

baixos valores médios de CAP e de indivíduos

coletados. Há uma diversidade de indivíduos que

para se adaptar as constantes inundações no local

desenvolveram Raízes Escoras ou Adventícias

em áreas instáveis (SOUZA, FLORES e

LORENZI, 2013).

Figura 02: Gráfico com média dos CAPs / número de

indivíduos

A pesquisa ainda verificou com relação

aos Estágios sucessionais que há uma variação

entre fases iniciais e intermediarias. Deste modo

têm se a seguinte distribuição (Tabela 01):

Portanto, conclui-se que nesta ilha os

parcelares alocados permitiram concluir que há

um predomínio da fase inicial da sucessão e este

estágio tem como característica uma fisionomia

herbácea/arbustiva, variando de aberto a

fechado. As espécies lenhosas entre 01 a 10,

podendo chegar até 10 m de altura. E a

distribuição diamétrica variando de 5 a 15 cm

(CONAMA, 1994).

Tabela 01-Resultado dos estágios sucessionais

Corredor

Parcela

Fase Corredor

Parcela

Fase Estágio

Sucessional

01/01 Inicial 01/02 Intermediário

01/03 Intermediári

o 01/04 Inicial

01/05 Inicial 01/06 Inicial

01/07 Inicial 01/08 Inicial

01/09 Inicial 01/10 Intermediário

01/11 Intermediário 01/12 Inicial

01/13 Inicial 01/14 Inicial

01/15 Intermediário 01/16 Inicial

01/17 Inicial 01/18 Inicial

01/19 Inicial 01/20 Inicial

01/21 Inicial 01/22 Intermediário

01/23 Inicial 01/24 Inicial

01/25 Inicial 01/26 Inicial

01/27 Inicial

Do mesmo modo, em locais esparsos

dentro da ilha, foi averiguado as parcelas com

características de fases intermediárias, como a

P02, P03, P10 e 11, 15 e a P22. A fisionomia da

fase Intermediária é arbustiva e/ou arbórea,

formando de 1 a 2 estratos. Com relação as

espécies variam entre 10 a 30 espécies, altura

entre 10 a 18 m. A distribuição diamétrica varia

entre 10 a 35 cm.

As próximas fases são direcionadas a

busca pelo fechamento da metragem proposta

pela metodologia (10.000 m², sendo que faltam

7.800 m²) e a aplicação da contagem e o

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151

levantamento da comunidade vegetal inserida

nos corredores e parcelares. E, finalizado esta

etapa, poderá ser comparado os dados de uma

ilha com as demais, com a finalidade de que ao

final possa se ter um conhecimento da

composição atual e conseguir estimar o futuro

desta comunidade vegetal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados indicam que a vegetação evolui

em consonância com a geomorfologia das Ilhas e

em proximidade com os cursos do rio e do

baixios. E possivelmente áreas em que são

formações são mais novas, consequentemente,

apresentam CAPs de valor médio inferior que

aqueles situados em locais de formação antiga.

E, do mesmo modo, os valores próximos ao

baixios, tendem ao declinamento.

Portanto, os caracteres abióticos condicionam

a evolução da vegetação, embora, uma mudança

nas condições atmosféricas, por exemplo, que

condiciona um período de intensa precipitação

pode fazer com que a comunidade enfraqueça e

busque se adaptar.

AGRADECIMENTOS: Agradeço a todos que

colaboraram para o desenvolvimento da referida

campanha, entre eles, Professor Ericsson e

Stevaux, Professora Isabel e minha Orientadora

Karin, Adhemar e Altair Benerti além do Núcleo

de Pesquisas em Limnologia Ictiologia e

Aquicultura (NUPÉLIA), que disponibilizou as

instalações que serviram como base durante esta

campanha.

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153

VARIABILIDADE PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE CAMPO MOURÃO

Jeremias Alecio Leperes de Marins1; Leila Limberger

2

1Mestrando em Geografia, UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon, [email protected];

2 Docente do PPGG - UNIOESTE/MCR.

INTRODUÇÃO

A relação de nossa existência com o clima está

atrelada a curtos períodos, também denominada de

tempo atmosférico, conceituado como as condições

atmosféricas médias em um determinado momento e

lugar. A variação da média climatológica recebe o

nome de variabilidade climática, segundo Angelocci

e Sentelhas (2007). Um dos elementos climáticos de

maior influência para a sociedade é a precipitação

pluviométrica, principalmente na região Tropical.

Para essa comunicação analisamos a série

temporal pluviométrica do período de 1986 a 2016 do

município de Campo Mourão. Este se situa na

Mesorregião Centro Ocidental Paranaense (Figura 1),

ocupando uma área de 757,875 km², e faz limite com

os municípios de Peabiru, Araruna, Farol, Mambore,

Luiziana, Barbosa Ferraz e Corumbataí do Sul.

Figura 1 – Mapa de localização de Campo Mourão

O município está localizado em uma área de

transição climática, situado a aproximadamente 60

km ao Sul do trópico de Capricórnio. Pode ser

caracterizada como uma região climática Subtropical

úmida, com os principais tipos de clima: Cfb, Cfa e,

com menor proporção, o tipo Cwa a sudeste e

noroeste (ITCG, 2008) (Figura 2).

Figura 2- Mapa do clima de Campo Mourão de acordo

com a classificação de climática de Köppen, com base no

mapa climático do Paraná (ITCG, 2008).

De acordo com os dados elaborados pelo INMET

em uma série temporal entre 1960 a 1990, a normal

climatológica de Campo Mourão era: temperatura

mínima 15ºC, temperatura máxima 27ºC e o total

pluviométrico anual de 1650 mm.

De acordo com Borsato (2013) os processos

dinâmicos da atmosfera ocorrem por meio de massas

de ar e na região onde o município está inserido

existe a influência de quatro tipos de massa de ar.

Duas são formadas por sistemas de baixa pressão

sendo a massa Tropical continental e a massa

Equatorial continental; suas características são

temperaturas altas e fortes convecções que resultam

em chuva. Já, as massas: Polar atlântica e Tropical

atlântica, são originadas de sistemas anticiclonais,

sendo que entre elas a de maior atuação é Polar

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154

Atlântica; ambas atuam mais frequentemente no

inverno.

Além dos aspectos médios, o município registra

variabilidade climática a partir da atuação de

fenômenos como o El Niño, que influencia o regime

pluviométrico, sendo que durante a sua fase positiva

é evidente o aumento de precipitação pluviométrica

(MARINS; MASSOQUIM, 2017), podendo ser um

agravante ou atenuante para as práticas agrícolas

(MASSOQUIM; AZEVEDO, 2010).

MATERIAIS E MÉTODOS

Para este trabalho foram coletados dados

pluviométricos mensais para o período de 1986 a

2016. Os dados foram coletados de três estações

meteorológicas, sendo uma do Instituto Nacional de

Meteorologia (INMET), e duas do Instituto das

Águas do Paraná (ÁGUAS PARANÁ) – Rio da

Vargem e Campo Mourão. Os dados foram tratados

para serem apresentados e, a partir deles, se

identificar a variabilidade climática. Foram aplicadas

as seguintes técnicas estatísticas: soma, média

aritmética, moda, correlação linear simples, cálculo

de porcentagem.

Também foi elaborado um mapa de isoietas, por

meio do software Qgis, a partir dos dados

pluviométricos do município e dos municípios

limítrofes, (que possuíam estação pluviométrica) -

Peabiru, Araruna, Farol, Mambore, Luiziana, e

Barbosa Ferraz, (estações do Instituto das Águas do

Paraná e Agência Nacional das Águas).

RESULTADOS

Após analisar os dados das três estações,

identificou-se que em todas o mês mais chuvoso é

janeiro, com médias entre 212 e 227,7 mm de chuva

(Quadro 1), sendo que isso representa 12% a 13% do

total pluviométrico anual. Já o mês mais seco é o de

agosto, com médias para o período entre 74,3 a 86,2

mm (Quadro 1).

ESTAÇÃO METEOROLÓGICA

INMET

ÁGUAS PARANÁ

RIO DA

VARGEM

CAMPO

MOURÃO

JAN

PRECIPITAÇÃO

MÉDIA 224,6 227,7 212

% DO TOTAL

ANUAL 13,1 12,2 12,6

AGO

PRECIPITAÇÃO

MÉDIA 75,4 86,2 74,3

% DO TOTAL

ANUAL 4,4 4,6 4,4

Quadro 1 – Dados comparativos entre o mês mais chuvoso e o mais seco.

Como pode ser observado pelo Gráfico 1, o

município possui uma variabilidade de precipitação

durante o ano, com inverno mais seco que o verão,

intercalado com períodos de transição que registram

também valores mais altos que os meses adjacentes,

como maio e outubro.

Gráfico 1 – Média mensal das três estações

Por meio da média móvel de três meses, pode-se

verificar que o trimestre mais chuvoso é dezembro,

janeiro e fevereiro, e o mais seco é junho, julho e

agosto para as três estações meteorológicas

analisadas (Gráfico 2).

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155

Gráfico 2 – Média móvel (três meses), precipitação

pluviométrica.

Em relação à variabilidade interanual (total

anual), podemos perceber, observando o gráfico 3,

que os anos mais chuvosos são 1990, 1998, 2013 e

2015; nesses anos o acumulado foi superior a 2000

mm de chuva. Já os anos de menor acumulado foram:

1988, 1999, 2007 e 2012; esses anos tiveram

acumulados abaixo de 1500 mm. Em 1988 choveu

aproximadamente 1200 mm, sendo este o ano mais

seco desta série histórica.

Gráfico 3 – Precipitação pluviométrica total anual.

Por meio da Figura 3 é possível verificar que a

porção norte do município de Campo Mourão

registrou, durante o período de análise, os menores

totais anuais de precipitação, com a menor isoieta

representando o valor de 1680 mm. Por outro lado, a

porção sul apresenta os maiores valores de total de

precipitação, sendo a maior isoieta 1880 mm.

Figura 3 – Mapa pluviométrico do Município de Campo

Mourão, média entre os anos de 1986 a 2016.

Ao analisar a média do total anual de precipitação

para o período de 1986 a 2016 do município de

Campo Mourão verifica-se que há uma variação de

quase 200 mm de chuva de norte a sul.

Um elemento da paisagem que se assemelha com

essa espacialização e poderia explicar tal aspecto da

variabilidade é o relevo, sendo que, de acordo com

Colavite (2009), a parte sul é mais elevada em

relação que ao norte do município. Porém, não existe

pesquisa que tenha estudado efetivamente a relação

entre chuva e relevo na área de estudos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa foram identificados aspectos da

variabilidade espacial e temporal dos dados mensais

de chuva do município de Campo Mourão para o

período de 1986 a 2016.

Com este trabalho podemos verificar que o mês

mais chuvoso para o município de Campo Mourão é

janeiro e o mais seco agosto. Podemos verificar

através da média móvel que o trimestre mais chuvoso

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é dezembro, janeiro e fevereiro e o trimestre mais

seco junho, julho e agosto. Verificou-se que o ano de

1988 foi o ano mais seco da série histórica analisada

e 2015, o mais chuvoso.

A partir do mapa de pluviometria e dos dados das

estações podemos verificar que existe uma

variabilidade espacial pluviométrica no município,

sendo que o sul do município é mais chuvoso que ao

norte, tendo alguma semelhança entre a

espacialização hipsométrica do relevo.

Dois aspectos carecem de investigação mais

aprofundada, sendo: a) a associação da variabilidade

temporal dos dados de chuva com fenômenos de

escala global como o El Niño/Oscilação Sul, por

exemplo; b) identificar a importância do relevo na

variabilidade espacial do dado de chuva no

município.

AGRADECIMENTOS: A Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

(CAPES) pelo apoio a este trabalho, com a concessão

de bolsa que tem auxiliado na realização de nossas

pesquisas.

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