X EXPEDIÇÃO GEOGRÁFICA E II SEMANA INTEGRADA DA … · ensino fundamental e médio na rede...
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X EXPEDIÇÃO GEOGRÁFICA E II SEMANA INTEGRADA DA
GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
20 ANOS DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO EM GEOGRAFIA
ANAIS
Marechal Cândido Rondon Universidade Estadual do Oeste do Paraná
2017
JEREMIAS ALECIO LEPERS DE MARINS
MARCIA REGINA CALEGARI
Organizadores
X EXPEDIÇÃO GEOGRÁFICA E II SEMANA INTEGRADA DA
GRADUAÇÃO E PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
ANAIS
1ª. Edição
Marechal Cândido Rondon
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
2017
FICHA CATALOGRÁFICA
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) (Biblioteca da UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon –PR., Brasil)
Expedição Geográfica (10.: 2017: Marechal Cândido Rondon) E96 Anais [da] X Expedição Geográfica e II Semana Integrada de Graduação e Pós-Graduação em Geografia de
Marechal Cândido Rondon [online] / organização de Jeremias Alécio Leperes de Marins e Marcia Regina Calegari. – Marechal Cândido Rondon: Unioeste - Campus de Marechal Cândido Rondon, 2017.
156 p.
ISBN 978-85-68205-26-6 1. Geografia política. 2. Meio ambiente. I. Marins, Jeremias Alécio Leperes de, org. II. Calegari,
Marcia Regina, org. III. Título. CDD – 22.ed. 910
320.12 304.2
CIP-NBR 12899
Ficha catalográfica elaborada por Marcia Elisa Sbaraini-Leitzke CRB-9ª/539
REALIZAÇÃO
Apoio
APRESENTAÇÃO
A discussão sobre a criação do curso de Licenciatura Plena em Geografia da Unioeste – Campus
Marechal Cândido Rondon surgiu a partir da observada carência de professores de geografia para atuar no
ensino fundamental e médio na rede escolar da região. Assim, em 1997 o curso foi implantado visando a
formação de profissionais que, além de conhecer os conceitos geográficos, sejam capazes de articular os
elementos que compõem os processos naturais e sociais de nosso planeta, bem como que sejam capazes
de desenvolver metodologias de ensino por meio de atividades de pesquisa e aplicá-las em sala de aula.
Desde o início deste curso, momentos de reflexão e divulgação da ciência geográfica foram
entendidos como essenciais para a melhor capacitação dos nossos futuros professores de geografia.
Nasceu assim a nossa semana acadêmica, denominada “Expedição Geográfica”. A primeira exp(edição)
foi em 1999 e desde então, se mantém a periodicidade desse evento de carácter bianual, reunindo pessoas
que possuem algum vínculo (motivado pela pesquisa, extensão ou ensino) com a ciência geográfica e
permite a reflexão qualificada e a apresentação de propostas que influenciam na revisão e condução do
próprio perfil do curso.
Com a aprovação do Mestrado em Geografia no Campus de Marechal Cândido Rondon, em 2011,
a organização da semana acadêmica passou a ser uma atividade integrada entre graduação e pós-
graduação em Geografia. A partir de 2015 nosso evento passou a ser denominado Expedição Geográfica
/ Semana Integrada de Graduação e Pós-Graduação em Geografia.
Neste ano de 2017, a realização da X Expedição Geográfica / II Semana Integrada da
Graduação e Pós-Graduação em Geografia teve como tema norteador “20 anos de ensino, pesquisa e
extensão em Geografia”, em comemoração aos 20 anos de criação do nosso curso de Licenciatura em
Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus de Marechal Cândido
Rondon,
Durante o evento se buscou revisitar os 20 anos de ensino, pesquisa e extensão realizados pelo
curso e possibilitou destacar a quantidade e, sobretudo, a qualidade das atividades e dos profissionais
formados ao longo dessas duas décadas. A presença e o relato dos nossos egressos convidados
demonstraram a importância social desse curso no contexto regional, uma vez que muitos atuam na rede
pública estadual e municipal na região oeste. Isso demonstra que a carência que motivou a criação do
curso, tem sido suprida.
As palestras e mesas redondas foram momentos impares para ampliação das discussões sobre o
ensino em geografia e a formação docente. Foram destacados os desafios a serem enfrentados durante a
docência, bem como a necessidade e as limitações do processo de inclusão nas escolas e a relação com os
conteúdos de geografia nas escolas.
Assim, neste documento apresentamos os resumos (simples e expandidos), que foram apesentados
em forma de painel e exposição oral, respectivamente, durante o evento. No total foram apresentados 44
trabalhos, sendo sete trabalhos do eixo Geografia e Ensino, 14 de Geografia Humana e 23 de Geografia
Física. O conteúdo e a correção gramatical dos resumos aqui publicados são de inteira responsabilidade
de seus respectivos autores e não expressa necessariamente as opiniões dos editores.
Editores
Jeremias Alécio Leperes de Marins
(Mestrando Programa de Pós Graduação em
Geografia- UNIOESTE – MCR)
Marcia Regina Calegari
Profa. Colegiado de Geografia (Graduação e
Pós-Graduação) – UNIOESTE-MCR.
PROGRAMAÇÃO DAS ATIVIDADES
06 a 10 de novembro de 2017 SEGUNDA
06/11/2017
TERÇA
07/11/2017
QUARTA
08/11/2017
QUINTA
09/11/2017
SEXTA
10/11/2017
MA
NH
Ã
8h
00 –
12h
00
Sem
Atividades
Programadas
Sem
Atividades
Programadas
EXCURSÃO
TÉCNICA
(6h00 – 18h00)
Análise de Perfis de
Solo em Ambientes Fluviais na Ilha do
Papagaio/
Guaíra-PR
Saída: 6h00 –
UNIOESTE/MCR
(Em frente ao
Campus)
Sem
Atividades
Programadas
Sem
Atividades
Programadas
TA
RD
E
14h
00 –
18h
00
Sem
Atividades
Programadas
Sem
Atividades
Programadas
MINICURSOS
1- Ferramentas
interativas do IBGE:
pesquisa e
organização de dados
estatísticos para
ensino de Geografia
(Bloco I – Piso 4 –
Sala X
Laboratório de Informática/
Administração)
2- Geografia
Literária do Cordel
(Bloco III – Piso 4 –
Sala 17)
MINICURSOS
3- Currículo Lattes:
busca, cadastramento
e atualização na
Plataforma da CNPq
(Bloco I – Piso 4 –
Sala X
Laboratório de
Informática/ Administração)
4- Cartografia Tátil e
Ensino de Geografia
(Bloco III – Piso 4 –
Sala 17)
NO
ITE
19h
00
– 2
2h
00
CERIMÔNIA DE
ABERTURA
(19h30 – 20h00)
Apresentação Cultural – Grupo de
Danças de Mal. C.
Rondon
CONFERÊNCIA DE
ABERTURA
“Formação de
Docentes e os
Desafios da
Profissão na Conjuntura Atual”
Profa. Dra. Najla
Mehanna Mormul
UNIOESTE-FB
(Bloco II – Piso 1
Tribunal do Júri)
COFFEE-BREAK
MESA-REDONDA
(20h00 – 22h00)
“Experiências e
Cotidiano dos
Egressos do Curso de
Geografia da
UNIOESTE-MCR”
Mediador: Prof. Dr. José Edézio
da Cunha
(Bloco II – Piso 1
Tribunal do Júri)
APRESENTAÇÃO
DE TRABALHOS
(19h30 – 22h30)
(Bloco III – Piso 4 Salas 17 a 20)
APRESENTAÇÃO
DE TRABALHOS
(19h30 – 22h30)
(Bloco III – Piso 4 Salas 17 a 20)
CONFERÊNCIA DE
ENCERRAMENTO
(20h00 – 22h00)
“Projetos de
Geografia na
Formação de
Professores:
Cartografia,
Trabalhos de Campo
e Inclusão”
Profa. Dra. Carla
Cristina Reinaldo
Gimenes de Sena
UNESP-Ourinhos
(Bloco II – Piso 1
Tribunal do Júri)
MINICURSOS
Minicurso 1: Currículo Lattes: busca, cadastramento e atualização na Plataforma do CNPq
Responsável: Profa. Ms. Ariadne Farias
Carga Horária: 04 horas
Ementa: A finalidade, os recursos e as possibilidades da Plataforma Lattes – CNPq, bem como a
importância da inserção, atualização e divulgação das informações e produções científicas feitas pelos
profissionais da educação, pesquisadores, e/ou futuros profissionais e pesquisadores, através do Currículo
Lattes.
Minicurso 2: Ferramentas interativas do IBGE: pesquisa e organização de dados estatísticos para o
ensino de Geografia Responsáveis: Mestrandos Ana Paula Azevedo da Rocha e Jeremias Alécio Leperes de Marins
Carga Horária: 04 horas
Ementa: Estudo de alguns elementos do histórico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística). Exposição das diferentes formas de divulgação de dados e das diferentes pesquisas que a
instituição realiza. Compreensão sobre o que é o Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA.
Entendimento sobre a forma de utilização das principais ferramentas do sistema SIDRA.
Minicurso 3: Geografia Literária do Cordel - 2ª Edição Responsáveis: Profa. Denise Scolari Vieira e Acadêmica Vanessa Carla do Amaral
Carga Horária: 04 horas
Ementa: Do que lembram os sujeitos sociais? Como lembram? O que permanece? O que é esquecido?
A partir dessas indagações, pretende-se abordar, no âmbito dos estudos literários e geográficos, as
diversas dimensões atribuídas aos lugares de vida, pois, observa-se, que memória e representações estão
associadas para expressar relações de pertencimento e de poder.
O minicurso, de caráter introdutório, vai mobilizar o estudo de categorias tais como, lírica, cultura
popular, memória e representações sociais, a fim de contribuir com alguns procedimentos
metodológicos, que sejam pertinentes ao estudo da diversidade cultural.
Minicurso 4: Cartografia Tátil e Ensino de Geografia Responsáveis: Profa. Dra. Carla Cristina Reinaldo Gimenes de Sena
Carga Horária: 04 horas
Ementa: A discussão da inclusão na educação básica permeia todas as disciplinas e a Geografia tem na
cartografia tátil uma aliada importante nessa discussão. Os princípios da cartografia tátil reforçam o
potencial dos mapas no ensino de Geografia.
Visita técnica: Solos em Ambientes Fluviais de Guaíra/PR
Responsáveis: Profa. Dra. Vanda Moreira Martins, Doutorando Bruno Aparecido da Silva e Mestrando
Rafael Martins Sanches
Carga Horária: 10 horas
Ementa: Observação, descrição, identificação e classificação de perfis de solos em ambiente fluvial do
rio Paraná – Ilha do Papagaio/Guaíra-PR
COMISSÕES
Comissão Coordenadora
Docentes José Edézio da Cunha (Coordenação Geral)
Karin Linete Hornes
Ericson Hideki Hayakawa
Discentes
Luiz Paulo da Silva (Presidente Centro Acadêmico de Geografia)
Rafael Martins Sanches
Vanderson Rafael Muller Dapper
Comissão Organizadora
Anderson Alves Baltazar
Carla Michelon Ribeiro
Jennifer Paola Vicini
Jeremias Alécio Leperes de Marins
Jéssica Aparecida de Avila Follmann
Luiz Paulo da Silva
Rafael Martins Sanches
Vanderson Rafael Muller Dapper
Comissão Científica
José Edézio da Cunha
Jeremias Alécio Leperes de Marins
Rafael Martins Sanches
Vanderson Rafael Muller Dapper
Comissão de Avaliação
Alcimar Paulo Freisleben
Ariadne Silvia de Farias
Carla Cristina R. Gimenes de Sena
Djoni Roos
Edson dos Santos Dias
Ericson Hideki Hayakawa
Fabio de Oliveira Neves
Isabel Terezinha Leli
José Edézio da Cunha
Karin Linete Hornes
Leila Limberger
Lia Dorotéa Pfluck
Marcia Regina Calegari
Maristela Ferrari
Marli Terezinha Szumilo Schlosser
Oscar Vicente Quinonez Fernandez
Tarcísio Vanderlinde
Terezinha Correa Lindino
Vanda Moreira Martins
Comissão Infraestrutura e Logística
Ana Caroline Selzler
Caroline Ester Moellmann
Gabriel de Almeida Flopas
Kely Cristina Zimpel
Nayra Caroline Steffen
SUMÁRIO
GEOGRAFIA E ENSINO .................................................................................................................... 11
RESUMO SIMPLES ............................................................................................................................ 12 PINTURA EM AZULEJO: RECURSO DIDÁTICO NO ESTUDO DA PAISAGEM ......................... 13
AS AÇÕES PEDAGÓGICAS DO PIBID GEOGRAFIA NO COLÉGIO ESTADUAL ANTÔNIO
MAXIMILIANO CERETTA .............................................................................................................. 14
O CYBERBULLYING E O PAPEL DA ESCOLA FRENTE A ESTE NOVO FENÔMENO SOCIAL
........................................................................................................................................................... 15
OS BASTIDORES LÚDICOS DO PIBID GEOGRAFIA: TEORIA E PRÁTICA NA FORMAÇÃO
DOCENTE – UNIOESTE/MCR ......................................................................................................... 16
TEORIA/PRÁTICA: ATIVIDADES DIFERENCIADAS REALIZADAS NO COLÉGIO MONTEIRO
LOBATO ............................................................................................................................................ 17
RESUMO EXPANDIDO ...................................................................................................................... 18 A GEOGRAFIA ESCOLAR E O ESPAÇO VIVIDO DOS ESTUDANTES: NARRATIVAS DOS
PROFESSORES DE GEOGRAFIA DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON/PR.............................. 19
ENSINO DE CARTOGRAFIA NO PROJETO RONDON COM PROFESSORES DA REDE
PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE IBARETAMA- CEARÁ .................................................................. 24
GEOGRAFIA HUMANA .................................................................................................................... 28
RESUMO SIMPLES ............................................................................................................................ 29 JUGLARES DEL SILENCIO, DE CECILIA GLANZMANN: ........................................................... 30
UM OÁSIS NA PATAGÔNIA CHUBUTENSE ................................................................................. 30
O USO DE PLATAFORMAS DIGITAIS COMO FERRAMENTA AUXILIAR NO PROCESSO DE
DIFUSÃO ESPACIAL DO ENCONTRO PARA A CONSCIÊNCIA CRISTÃ EM CAMPINA
GRANDE – PB ................................................................................................................................... 31
RELAÇÕES DE PODER NOS ESPAÇOS URBANOS ...................................................................... 32
RESUMO EXPANDIDO ...................................................................................................................... 33 A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON: A TERRA
SUBORDINADA À ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA ...................................................................... 34
APLICAÇAO DOS ROYALTIES DA USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU BINACIONAL COMO
RECURSO DE DESENVOLVIMENTO NA FRONTEIRA BRASIL E PARAGUAI ......................... 39
APONTAMENTOS INICIAIS SOBRE INTERAÇÕES ECONÔMICO-COMERCIAIS E DE
CONSUMO NUM SEGMENTO DA ZONA DE FRONTEIRA BRASIL/PARAGUAI: GUAÍRA (PR)
E SALTO DEL GUAIRÁ (CANINDEYÚ) ............................................................................................. 43
AS RELAÇÕES NÃO CAPITALISTAS DE PRODUÇÃO E A SUJEIÇÃO DA RENDA DA TERRA
CAMPONESA NA PRODUÇÃO DE TABACO ................................................................................ 47
CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE AS REDES DE INTERAÇÕES TRANSFRONTEIRIÇAS
ENTRE PATO BRAGADO (PR) E COLÔNIA MARANGATU (NUEVA ESPERANZA-
CANINDEYÚ- PY) ............................................................................................................................ 51
GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS, AGENTES E ESTRATÉGIAS: O CASO DE
UMUARAMA – PR............................................................................................................................ 56
LOTEAMENTO FECHADO – A ILUSÃO DA SEGURANÇA E A NEGAÇÃO DA CIDADE......... 61
MIGRAÇÃO HAITIANA NO MUNÍCIPIO DE PALOTINA (PR) A PARTIR DA DÉCADA DE 2010
........................................................................................................................................................... 68
O TURISMO NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DELTA DO PARNAÍBA – MA, PI
E CE – BRASIL .................................................................................................................................. 73
SURGIMENTO DE UM MOVIMENTO SOCIAL – ANÁLISE DAS ESCOLAS OCUPADAS EM
TOLEDO ............................................................................................................................................ 83
GEOGRAFIA FÍSICA ......................................................................................................................... 87
RESUMO SIMPLES ............................................................................................................................ 88
ESPACIALIZAÇÃO DOS CASOS DE DENGUE NO MUNICÍPIO DE MARECHAL CÂNDIDO
RONDON (PR) ENTRE 2015 E 2016 ................................................................................................. 89
ESTUDO DE CASO DE UM EVENTO DE TEMPESTADE SEVERA OCORRIDO EM NOVA
LARANJEIRAS (PR) EM 13/06/1997 ................................................................................................ 90
MORFOMETRIA DA BACIA DO RIO MATHIAS ALMADA EM FOZ DO IGUAÇU-PR E A
SUSCETIBILIDADE À ENCHENTES .............................................................................................. 91
CAUSAS E EFEITOS DOS PROCESSOS EROSIVOS LINEARES UMA PROPOSTA DE REVISÃO
DA LITERATURA ............................................................................................................................. 92
ESTUDO MORFOPEDOLÓGICO DE UMA TOPOSSEQUÊNCIA DE SOLOS NO MUNICÍPIO DE
TERRA ROXA-PR: Estudo de caso na área de transição entre Basalto e o Arenito Caiuá ................... 93
ESTUDO EM UMA TOPOSSEQUÊNCIA DE SOLOS NO MUNICÍPIO DE TERRA ROXA-PR:
ESTUDO DE CASO NA ÁREA DE PREDOMÍNIO DO ARENITO CAIUÁ .................................... 94
ESTUDO MORFOPEDOLÓGICO EM UMA TOPOSSEQUÊNCIA DE SOLOS NA VERTENTE
STEIN, ENTRE RIOS DO OESTE–PR ............................................................................................... 95
ESTUDO MORFOPEDOLÓGICO EM UMA TOPOSSEQUÊNCIA NA ESQUINA MEMÓRIA –
TOLEDO –PR .................................................................................................................................... 96
GÊNESE DOS LATOSSOLOS NO PLANALTO DE FOZ DO IGUAÇU, PARANÁ – BRASIL ....... 97
ÍNDICE TOPOGRÁFICO DE UMIDADE COMO INDICATIVO DE ÁREAS HIDROMÓRFICAS
NO TRECHO SUPERIOR DO CÓRREGO QUATRO PONTES, PR ................................................. 98
ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS PROCESSOS EROSIVOS NA ÁREA RURAL DE FRANCISCO
ALVES - PARANÁ ............................................................................................................................ 99
RELAÇÃO SOLO-RELEVO: SUBSIDIOS PARA MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO
(ESQUINA MEMÓRIA – TOLEDO –PR) ........................................................................................ 100
RESUMO EXPANDIDO .................................................................................................................... 101 A TOPOGRAFIA E OS SOLOS DA ILHA DO PAPAGAIO-GUAÍRA/PR ..................................... 102
ANÁLISE DA VAZÃO DE DUAS ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS NA SUB-REGIÃO SUL DA
BACIA AMAZÔNICA BRASILEIRA ............................................................................................. 108
AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO
PEROBA NO PERÍODO DE 2005 À 2017 ....................................................................................... 112
CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS VERDES NO PERÍMETRO URBANO DE MARECHAL
CÂNDIDO RONDON-PR ................................................................................................................ 119
COLEÇÃO DE REFERENCIA DE FITÓLITOS DA FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL
NA ESTAÇÃO ECOLÓGICA CAETETUS - SP .............................................................................. 124
EVENTOS ENOS CANÔNICO E MODOKI.................................................................................... 130
PEDOTOPOSSEQUÊNCIA ORIUNDA DO ARENITO DA FORMAÇÃO CAIUÁ: ESTUDO DE
CASO NO MUNICÍPIO DE TERRA ROXA-PR .............................................................................. 135
POTENCIALIDADE PARA A CRIAÇÃO DE RPPN EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON,
PARANÁ.......................................................................................................................................... 141
SUCESSÃO ECOLÓGICA DO ARQUIPÉLAGO DO ALTO RIO PARANA .................................. 147
VARIABILIDADE PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE CAMPO MOURÃO ........................ 153
11
GEOGRAFIA E ENSINO
12
RESUMO SIMPLES
13
PINTURA EM AZULEJO: RECURSO DIDÁTICO NO ESTUDO DA PAISAGEM
Eliane Liecheski Artigas1; Eliete Woitowicz
1;
Marilene Francieli Wilhelm1; Marli Terezinha Szumilo Schlosser
2
1 UNIOESTE/Francisco Beltrão. E-mail: [email protected];
2UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon e Francisco Beltrão. E-mail: [email protected].
A Geografia é uma ciência que estuda a superfície terrestre e a distribuição espacial de fenômenos, assim
como, a relação entre o homem e o meio ambiente. Uma das formas de entender as relações sociais e
naturais de um determinado espaço pode ser através do estudo da paisagem. Porém na sala de aula,
trabalhar com conceitos geográficos nem sempre é atrativo ao aluno. Nesse sentido, nas turmas dos
primeiros anos do Ensino Médio do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, procurou-se
trabalhar o conceito de paisagem de maneira diferente, por meio da valorização do aprendizado durante
os vários anos de formação e pela vivência do aluno através de duas propostas de estudo: no primeiro
momento a conceituação de paisagem, mediante aulas expositivas e o uso de slides. No segundo momento
buscou-se construir o conhecimento de forma lúdica. Para tanto, realizou-se uma breve explicação com
vídeos tutoriais que ensinavam algumas técnicas de pintura em azulejo. Logo após, cada aluno recebeu
um azulejo, onde deveriam representar o conceito de paisagem. Observou-se perante a realização das
atividades o comprometimento dos alunos e a aprendizagem do conteúdo anteriormente estudado. Sem
dúvidas, a participação e a utilização dos recursos didáticos lúdicos são essenciais para atrair a atenção do
aluno e facilitar o processo de ensino e aprendizagem na sala de aula, sendo o educador responsável por
conduzir este aprendizado, sujeito entendido como mediador na construção do conhecimento. O uso de
imagens no âmbito do ensino geográfico é fundamental, principalmente quando este é construído pelo
próprio aluno, considerando seus valores, crenças e conhecimentos, facilita-se a compreensão, o que torna
o ensino da Geografia significativo e diferenciado. Sabe-se que os desafios encontrados em sala de aula
para a promoção do conhecimento são variados, porém, trabalhar com práticas diferentes no ensino de
Geografia pode levar o aluno a ver o mundo circundante com “outros olhos”, se percebendo como agente
transformador e ativo no espaço geográfico em que vive. Portanto, considera-se este recurso didático
supracitado como uma maneira possível e diferenciada de fazer Geografia nas salas de aula.
Palavras-chave: conceito de paisagem; processo de ensino e aprendizagem; pintura em azulejo.
14
AS AÇÕES PEDAGÓGICAS DO PIBID GEOGRAFIA NO COLÉGIO ESTADUAL ANTÔNIO
MAXIMILIANO CERETTA
Vanderson Rafael Muller Dapper1; Marco Antonio Sauer Schmidt
1; Nilsa Josiane Steinheuzer
1;
Vanessa Vieira de Oliveira1; Eliane Artigas Liecheski
2, Marli Terezinha Szumilo Schlosser
3
1Bolsistas de Iniciação à Docência, acadêmicos do curso de Licenciatura em Geografia, UNIOESTE/Campus de Marechal
Cândido Rondon, E-mail: [email protected] 2Professora supervisora do PIBID Geografia no Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, mestranda em Geografia
PPGG/UNIOESTE, Campus de Francisco Beltrão 3Professora do curso de Graduação e Pós-Graduação em Geografia e Coordenadora do subprojeto do PIBID
Geografia/UNIOESTE, Campus de Marechal Cândido Rondon e Francisco Beltrão.
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), por meio do subprojeto do PIBID
Geografia de Marechal Cândido Rondon realiza no Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta –
Ensino Fundamental, Médio e Profissional, ações pedagógicas nos sextos e sétimos anos do Ensino
Fundamental. O projeto possui o intuito de oportunizar a vivência teórica e prática no âmbito escolar e
desenvolver atividades lúdicas diferenciadas, que facilitem o processo de ensino-aprendizagem dos
estudantes. No desenvolvimento das atividades realizam-se observações semanais nas turmas de atuação
da professora supervisora Eliane Artigas Liecheski, com a finalidade de aproximar os acadêmicos da sua
futura profissão. As ações pedagógicas são elaboradas e debatidas em conjunto com os integrantes do
PIBID, visam aprimorar o desempenho das atividades e aprendizagem dos discentes. No decorrer dos
anos de 2014 - 2017 realizaram-se diversas atividades que promoveram o interesse e participação dos
alunos aproximando teoria e prática. Foram desenvolvidas atividades como: caça ao tesouro de
localização, sobre conceitos cartográficos e coordenadas geográficas; bingo como revisão de conteúdos;
monitoramento do tempo; aulas de campo de clima urbano e agricultura orgânica; confecção de
planetário; elaboração de mapas e maquetes; conhecimento da cultura indígena; aulas práticas de
laboratório sobre ciclo das rochas; geomorfologia em bolachas e massinha de modelar; estrutura interna
da Terra com isopor, entre outras. O PIBID possui o diferencial de integrar a universidade com as escolas
públicas e contribuí tanto para a formação de professores quanto ao aprendizado dos estudantes dos
estabelecimentos envolvidos.
Palavras-chave: PIBID; Ensino de Geografia; Ações pedagógicas.
15
O CYBERBULLYING E O PAPEL DA ESCOLA FRENTE A ESTE NOVO FENÔMENO
SOCIAL
Alcimar Paulo Freisleben1; Gilson Basso
2
1Doutorando em Geografia no POSGEA/UFRGS. E-mail: [email protected] 2Aluno do Curso de Geografia, UNIOESTE/Campus de Francisco Beltrão/PR.
Neste artigo buscamos conhecer melhor o fenômeno bullying, bem como as características do agente
agressor e das vítimas. Analisaremos também as motivações e a capacidade de danos dos diversos tipos
de ataques, bem como os objetivos do bullying/cyberbullying entre jovens estudantes. A pesquisa se deu
no ano de 2015, em fontes bibliográficas e referências na web relacionadas ao assunto, incluindo casos de
incidentes ocorridos no mundo todo, por meio da Internet, principalmente em sites de relacionamentos.
Através da análise propomos ações adequadas de segurança e medidas que podem ser tomadas pelos
profissionais da escola e usuários internautas, sob as leis vigentes no Brasil, bem como a promoção da
utilização responsável, ética e segura das tecnologias de informação, tanto no ambiente escolar como fora
dele, pois com a explosão da internet e das novas tecnologias de comunicação e informação, surgiram
novas formas de estudo, de relacionamento, de negócios, de diversão e também de agressão. Esta nova
forma de violência digital chamada cyberbullying cresce enormemente no mundo todo, muitas vezes sem
que a sociedade se dê conta de sua gravidade. Segundo a organização Opinion Research Corporation; nos
Estados Unidos, cerca de 31% dos estudantes entre doze e catorze anos, já foi vítima de cyberbullying.
Outro estudo realizado pela Universidade de Calgary no Canadá em escolas de primeiro grau aponta que
54% dos estudantes pesquisados já foram vítimas de bullying, e mais de 25% destes já sofreram
cyberbullying. Aqui, Brasília foi apontada pelo IBGE (2011), como a campeã de bullying, onde 35,6%
dos estudantes disseram ter sido vítimas da agressão, em segundo lugar Belo Horizonte (35,3%) e em
terceiro Curitiba (35,2%). A pesquisa envolveu estudantes do 9º ano do ensino fundamental de 6.780
Escolas públicas ou privadas nas 27 capitais. Diante destes dados alarmantes o que nós professores
podemos fazer? É possível tomarmos algumas medidas para coibir o cyberbullying? Algumas
contribuições podem vir da Geografia, já que esta ciência estuda o espaço geográfico e seus fenômenos.
Com a leitura de mundo que a Geografia fornece aos cidadãos, podemos formar indivíduos críticos, que
sabem se posicionar na sociedade, argumentando, dialogando e debatendo sobre fatos ocorridos no
mundo ou no cotidiano da escola. Para desenvolver esse posicionamento crítico, deve-se estimular no
espaço escolar, a discussão sobre temas que afetam este ambiente. O bullying, muitas vezes tratado com
superficialidade, deve ser trabalhado com cautela para que haja o aproveitamento correto do debate.
Através da exposição errônea do assunto, pode-se ao invés de coibir a prática, estimulá-la. Devemos
mostrar aos alunos ideias e conceitos referentes ao tema (através da criação de textos, vídeos, teatro e de
debates mediados) destacando a ética, a cidadania e as relações de amizade no ambiente escolar. Para
concluirmos, acreditamos que a atitude de prevenção é a melhor forma de combater essa agressão, mesmo
sabendo que eliminar este tipo de ação é algo difícil, mas algumas medidas gerais podem ser adotadas
para minimizá-la, é sobre estas medidas preventivas (principalmente no ambiente escolar) que este artigo
procura tratar.
16
OS BASTIDORES LÚDICOS DO PIBID GEOGRAFIA: TEORIA E PRÁTICA NA FORMAÇÃO
DOCENTE – UNIOESTE/MCR
Caroline Ester Moellmann1; Dhyonne Fernandes Pessoa
1; Larissa da Cruz Casemiro da Silva
1;
Luiz Paulo da Silva1; Lia Dorotea Pfluck
2; Marli Terezinha Szumilo Schlosser
2
1Bolsistas de Iniciação à Docência, acadêmicos do curso de Licenciatura em Geografia, UNIOESTE/Campus de Marechal
Cândido Rondon, [email protected];
3Professoras colegiado do curso de geografia/UNIOESTE Campus Marechal Cândido Rondon.
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) através do subprojeto de Geografia
da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Campus de Marechal Cândido Rondon é
composto por doze bolsistas acadêmicos, dois professores supervisores e uma professora coordenadora do
subprojeto. Os pibidianos são divididos em dois grupos que desenvolvem suas atividades no Colégio
Estadual Monteiro Lobato e Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta. A equipe reúne-se
semanalmente para realizar reuniões nas quais ocorrem diversos debates e atividades que contribuem para
o contato inicial dos acadêmicos com as práticas em sala de aula. Além dos objetivos formais do PIBID,
busca-se novas formas de desenvolver atividades lúdicas e diversificadas nas escolas, de acordo com os
conteúdos que estão sendo trabalhados pelo professor (a) supervisor. Nesse sentido, nas reuniões onde a
equipe se reúne, são discutidas estratégias didático pedagógicas diferenciadas de se trabalhar os
conteúdos em sala de aula. Uma das atividades recorrentes realizadas pelos integrantes do PIBID envolve
as apresentações de seminários sobre conceitos geográficos, recursos e linguagens, ou assuntos que são
importantes para pensar a Geografia. Após a apresentação do seminário os pibidianos organizam uma
atividade prática sobre o tema, que poderá ser utilizada pelos demais colegas pibidianos ou do curso de
Geografia, quando forem aplicar esse conteúdo no Estágio Supervisando ou nas atuações práticas da
equipe do PIBID. Cabe trazer como exemplo a atividade concretizada que envolveu a confecção de um
quebra-cabeça gigante do Brasil, foram recortados os estados separadamente. Esse mapa foi utilizado em
uma festa Julina do grupo, cada pibidiano ficou responsável por trazer um prato típico da festividade de
dois estados. Dessa forma, foram trabalhadas as diferentes culturas existentes no país. Após essa
atividade, o mapa ficou disponível no Laboratório de Ensino de Geografia (LEG), para que possa ser
utilizado em outras finalidades. Outra atividade diferenciada envolveu a utilização de produtos
alimentícios (bolo, canela, gelatina), para demostrar aos pibidianos que o professor pode dispor de
recursos alternativos para ensinar os diversos conteúdos da Geografia escolar. Os acadêmicos/pibidianos
foram desafiados a pensar possibilidades e situações concretas na utilização do recurso em sala de aula.
Portanto, ressalta-se a importância dos debates nas reuniões e a construção de recursos/linguagens que
contribuem na formação docente, incluindo o diálogo e a troca de experiências.
Palavras-chave: Formação docente, práticas, lúdico, PIBID.
17
TEORIA/PRÁTICA: ATIVIDADES DIFERENCIADAS REALIZADAS NO COLÉGIO
MONTEIRO LOBATO
Kely Cristina Zimpel
1; Mateus Von Muhlen
1; Ana Paula Kammer
1; Luis Henrique dos Santos
1;
Marli Terezinha Szumilo Schlosser2; Guilherme Felipe Kotz
3
1Bolsistas de Iniciação à Docência, acadêmicos do curso de Licenciatura em Geografia, UNIOESTE/Campus de Marechal
Cândido Rondon; 2Professoras colegiado do curso de geografia, UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon;
3Professor supervisor do PIBID, UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon.
O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), do curso de licenciatura em
Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) campus de Marechal Cândido
Rondon conta com doze bolsistas, dois professores supervisores e uma professora orientadora e atua em
dois colégios estaduais, sendo eles o Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta e o Colégio Estadual
Monteiro Lobato. O presente trabalho refere-se as atividades que foram desenvolvidas pelo PIBID no
colégio Monteiro Lobato no decorrer do ano de 2017. As atividades são selecionadas e elaboradas pelos
pibidianos junto com o professor supervisor Guilherme Kotz, com base nos conteúdos que os estudantes
possuem dificuldade, o lúdico e a prática entram em cena e envolvem os assuntos trabalhados em sala de
aula conforme cita Andrade (1998) os conteúdos necessitam de uma complementação tanto de material
escolar, quanto de métodos não escolares. A primeira atividade desenvolvida abrangeu cinco conceitos
geográficos: território, região, redes, paisagem e lugar. Para a realização da mesma, foram utilizadas
atividades práticas, como brincadeiras e jogos sobre cada conceito supracitado. “O conteúdo da geografia
escolar, atualmente, tem sido o de descrever alguns lugares e alguns problemas, sem conseguir dar conta
de pensar o espaço.” (CALLAI, 1999, p. 75), pensando nisso a atividade teve como objetivo fazer com
que os alunos compreendessem a organização do espaço geográfico e sua construção, a partir dos
conceitos mencionados. A segunda atividade desenvolvida foi sobre coordenadas geográficas, os
pibidianos montaram no pátio da escola com fitas os meridianos e paralelos, então com o auxílio de um
Mapa Mundi davam se as coordenadas e os alunos as procuravam no chão e logo em seguida no mapa as
coordenadas de diferentes pontos do mundo, percebeu-se com esta atividade que os alunos tiveram muitas
dúvidas na compreensão das coordenadas e dos pontos cardeais. No entanto, com a ajuda dos pibidianos e
dos materiais propostos foram sanadas. A terceira atividade realizada foi sobre as regiões brasileiras,
realizada em duas etapas, primeiramente os alunos foram divididos em cinco grupos, cada grupo foi
acompanhado por um pibidiano, que em duas aulas trabalharam a parte teórica sobre determinada região,
com auxílio de slides e explicações, para que na semana seguinte os estudantes colocassem em prática a
produção de um mapa pictórico a partir das explanações, com imagens que poderiam ser desenhadas ou
recortadas de revistas. Os alunos demostraram simpatia pela atividade e a partir dos mapas
confeccionados pode-se perceber que os mesmos entenderam o conteúdo. A última atividade realizada foi
à confecção de mapas altimétricos, onde os alunos elaboraram uma maquete tridimensional em EVA,
tematizaram diferentes lugares, assim ampliaram a noção de relevo e forma a partir da altimetria vista.
18
RESUMO EXPANDIDO
19
A GEOGRAFIA ESCOLAR E O ESPAÇO VIVIDO DOS ESTUDANTES: NARRATIVAS DOS
PROFESSORES DE GEOGRAFIA DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON/PR
Vanderson Rafael Muller Dapper1; Marli Terezinha Szumilo Schlosser
2
1Acadêmico do curso de Geografia, UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2 Professora da UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon e Francisco Beltrão
INTRODUÇÃO A Geografia presente na grade curricular do
Ensino Fundamental e Médio é a disciplina
responsável por desvendar as relações existentes entre sociedade e natureza no espaço geográfico.
Conforme Castrogiovanni (2014), para atingir esse
objetivo, a Geografia deve lidar com as
representações de vida dos estudantes, atrelando o conhecimento do cotidiano aos conteúdos escolares,
porém, sem distanciar-se do formalismo teórico da
ciência. O trabalho parte dos resultados parciais do projeto
de Iniciação Científica Voluntária intitulado: “A
percepção de fronteira dos discentes e docentes de Geografia em colégios públicos de Marechal Cândido
Rondon/PR (2016/2017)”. A pesquisa foi realizada
com os professores de Geografia e estudantes do 9º
ano do Ensino Fundamental de três estabelecimentos de ensino públicos: Escola Estadual do Campo Porto
Mendes, Colégio Estadual do Campo Professor Nilso
Franceski e Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta.
Durante a investigação, percebeu-se que 46% dos
estudantes da amostragem desconheciam que suas práticas cotidianas ocorriam num espaço de fronteira
(DAPPER, 2017). Esse fato evidencia um
distanciamento entre os conteúdos escolares e o
espaço vivido dos discentes. Para superar essa condição, faz-se necessário valorizar as experiências
vividas pelos educandos, para que eles percebam a
importância da ciência geográfica em seu cotidiano e consigam analisar de forma crítica as relações entre
sociedade e natureza existentes nos espaços onde
estão inseridos.
Portanto, objetiva-se discutir neste trabalho a importância de realizar aproximações e
textualizações dos conteúdos escolares com a
realidade vivida pelos alunos. Para isso, será
analisado a partir das narrativas as experiências de cinco professores de Geografia de Marechal Cândido
Rondon/PR vinculados à Secretaria de Estado da
Educação do Paraná (SEED) sobre suas práticas docente em sala de aula.
MATERIAIS E MÉTODOS
No trabalho o debate focará na importância de aproximar o conhecimento geográfico e o espaço de
vivência dos alunos. Para tanto, o caminho da analise
efetivará por meio das narrativas de cinco professores de Geografia entrevistados no desenvolvimento da
pesquisa citada, com os embasamentos teóricos de
Callai (2014), Castrogiovanni (2014), Kaercher (2014), Kozel; Filizola (1996) e Santos (1996) sobre
o conceito de lugar em sala de aula. As entrevistas
foram realizadas no ano de 2017, compostas por
questões abertas semiestruturadas.
RESULTADOS
A partir dos resultados do projeto de Iniciação Científica Voluntária, observou-se que os estudantes
possuíam dificuldades para perceber que os
conteúdos escolares da disciplina de Geografia fazem parte de suas práticas cotidianas. Isso acontece
segundo Castrogiovanni (2014, p. 12), porque a
Geografia escolar ainda revelar-se desinteressante,
existem poucas aproximações dos conteúdos escolares com a vida dos alunos:
A escola não se manifesta atraente frente ao
mundo contemporâneo, pois não dá conta de
explicar e textualizar as novas leituras de
vida. A vida fora da escola é cheia de
mistérios, emoções, desejos e fantasias,
como tendem a ser as ciências. A escola
parece ser homogênea, transparente e sem
brilho no que se refere a tais características.
É urgente teorizar a vida, para que os alunos
20
possam compreendê-la e representa-la
melhor e, portanto, viver em busca de seus
interesses.
A Geografia está presente na vida dos estudantes e
existem várias práticas pedagógicas que podem
tornar a disciplina mais interessante em sala de aula.
Castrogiovanni (2014) aponta as aproximações e
textualizações com o espaço vivido para mediar essa situação e instigar os alunos a aprender. Nas visões
de Callai (2014, p. 72) estudar e compreender o
lugar, palco das práticas cotidianas, significa:
[...] entender o que acontece no espaço onde
se vive para além das suas condições
naturais ou humanas. Muitas vezes, as
explicações podem estar fora, sendo
necessário buscar motivos tanto internos
quanto externos para se compreender o que
acontece em cada lugar.
A partir do lugar pode-se fazer correlações com
outros acontecimentos do restante do mundo. Não existe no planeta um espaço que é neutro ou isolado
dos demais. Para Santos (1996, p. 273), existe uma
relação intrínseca entre o lugar e o mundo “[...] cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global
e de uma razão local, convivendo dialeticamente.”
Na pesquisa, as narrativas dos professores de
Geografia foram estimuladas, orientadas e analisadas com intuito de verificar a importância que eles
agregam às aproximações entre os conteúdos
escolares e o espaço vivido dos estudantes. Para Pinheiro (2010), a experiência de vida dos
professores no decorrer de suas carreiras inclui uma
selação de sucessos, pessoas e situações as quais eles estiveram vinculados. Suas narrativas são mediadas
pelas experiências vividas, crenças, valores e atitudes
que adquiriram ao longo dos anos.
O professor I, é lotado na Escola Estadual do Campo Porto Mendes (que recebe muitos estudantes
oriundos do Paraguai) e complementa seu padrão
com algumas aulas no Colégio Estadual Eron Domingues (centro de Marechal Cândido Rondon),
os estabelecimentos possuem características e
públicos dististos. Para ele, a Geografia é o cotidiano
das pessoas, ela está presente em todos os lugares, faz parte das nossas vidas. Afirma que a Geografia é
como um câncer na sociedade, as pessoas quando
aprendem não conseguem se libertar, onde for ela
estará. Ao trazer a discussão para o ensino e ser
questionado sobre as relações entre Geografia e o espaço vivido, o professor expõe em sua narrativa a
importância onde:
[...] você parte de lá, do espaço que ele está
vivendo para poder entender. Não adianta eu
falar lá de Rondonia - imaginem agora
alunos - se você trazer do espaço onde ele
está fica muito mais fácil. Aqui [Porto
Mendes] dá para trabalhar isso porque são
crianças um pouquinho mais educadas que
na cidade. Porque eles levantam a mão, eles
pedem, ai você dá oportunidade para falar e
a sala toda fica em silêncio. Ai você
consegue trabalhar e ele vai entendendo o espaço dele e o espaço do outro que mora na
vila, do outro que mora no interior, de
espaços diferentes. O outro vai falar – ai eu
moro no Paraguai – mas é um espaço
também (informação verbal).
O professor afirma que deve-se valorizar as
territorialidades conhecidas pelos alunos, revela ser
fundamental construir o conhecimento geográfico a
partir das realidades vivenciadas por eles. Conforme Callai (2014, p. 112):
[...] aprendendo a pensar o espaço, a partir
do lugar, poderemos descobrir o mundo,
tendo a possibilidade de construir com os
alunos um método de análise espacial que
favoreça a construção da cidadania.
Na narrativa do professor isso fica evidente, além
de expor que é mais fácil que o aluno compreenda os
conteúdos relacionados com seu espaço vivido,
afirma que a partir dessas relações os discentes são capazes de contruir a cidadania entendendo não
apenas o seu lugar, mas também o espaço do outro e
suas interrelações. Segundo Kozel e Filizola (1996), é a partir da soma dessas experiências individuais dos
diferentes alunos que o professor deve construir suas
aulas.
Para a professora II, a Geografia é uma disciplina escolar que estuda o espaço geográfico, analisa o ser
humano e como ele transforma esse espaço. Ela
21
também trabalha em dois colégios com realidades
distintas: o Colégio Estadual do Campo Professor
Nilso Franceski (localizado no distrito de Iguiporã) e
o Colégio Estadual Eron Domingues (localizado no centro de Marechal Cândido Rondon), quando
questionada sobre o espaço vivido afirma que as
vivências cotidianas influênciam na aprendizagem dos alunos:
[...] Quando você vai trabalhar qualquer conceito, seja de lugar, seja de meio
ambiente, a resposta deles, dependendo do
seu local de vivência vai ser totalmente
diferente das respostas dos outros. Como eu
trabalho aqui [Iguiporã] e trabalho na
realidade lá no centro que é no Eron
Domingues, eu sinto isso bastante. Que o
local de vivências deles ajuda a eles
montarem um conceito de espaço, de lugar
ou até de relação com esse espaço
(informação verbal).
As vivencias dos estudantes auxiliam em sua
alfabetização geográfica. Kozel e Filizola (1996, p.
37) alertam que não pode-se esquecer que antes da
escolarização as crianças possuem a capacidade de observação. Essas experiêcias dos alunos constituem
de um rico acervo vivido, que deve ser explorado em
sala de aula, para que os discentes agreguem significados aos conteúdos e compreendam que a
Geografia faz parte de suas vidas.
A professora nos afirma isso ao dizer que o lugar (e consequentemente as experiências de vida dos
alunos) influenciam na construção do conhecimento
geográfico em sala de aula. O papel do professor de
Geografia é justamente mediar essa relação entre os saberes dos alunos e o conhecimento científico.
Afinal,
[...] os alunos têm as suas próprias
concepções a respeito de muitas coisas.
Porém, o trabalho de superação do senso
comum como verdade e a busca das
explicações que permitem entender os
fenômenos como verdades universais
exigem que se façam reflexões sobre o lugar
como espaço de vivência, analisando a
configuração histórica desses lugares para
além das aparências. (CALLAI, 2014, p.
89).
A professora III, é formada em História com
habilitação em Geografia e trabalha no Colégio Estadual Antônio Maximiliano Cerreta. Para ela, a
Geografia é muito mais que uma disciplina, afirma
que é o nosso cotidiano. Quando questionada sobre a forma que considera o espaço vivido dos alunos,
responde:
Principalmente na questão de contextualizar, por exemplo, estou agora trabalhando a
questão da demografia na Europa,
invevitavelmente vai cair o envelecimento
da população, entra a questão da
previdencia, e ai? Não tem como não puxar
para o espaço vivido, até para eles
entenderem melhor essa situação o
comparativo com o nosso país. Eu poderia
comparar com outros países do mundo, mas
eu prefiro sempre puxar para o nosso país.
Mesmo sendo Estados Unidos, Europa, Ásia
ou Japão... Tudo você consegue contextualizar pra cá. E como é aqui?
Vamos pensar no Brasil, é igualzinho? É
sempre, acho que é praticamente toda aula.
Vai trabalhar vegetação, você fala sobre a
vegetação lá do Norte do Canadá, dá para
comparar com Brasil? Sim, é igual,
diferente... é inevitável. Já está embutido, é
automático, já faz parte da Geografia
(informação verbal).
Para a professora, o espaço vivido e a Geografia
são indissociáveis, afirma que não tem como não
correlacionar com a realidade dos estudantes. Mesmo ao trabalhar aspectos de outros continentes, é
possível relacionar com o espaço cotidiano dos
discentes. Conforme Castrogiovanni (2014, p. 69):
No ensino da Geografia, o local e o global
formam uma totalidade. A partir das
representações dos lugares, o aluno forma o
ideário que envolve a totalidade
indissociável do espaço geográfico.
Essa totalidade auxilia na compreensão do espaço
geográfico, desde aspectos relacionados ao
cotidiano, até acontecimentos e fenômenos do outro lado do planeta. Os lugares cotidianos na concepção
de Callai (2014) funcionam como um laboratório
22
para interpretar o mundo e compreender a
diversidade humana.
Para a professora IV, a Geografia é uma disciplina
escolar importante, além de possibilitar o conhecimento sobre outros lugares, ensina os alunos
a se localizarem e reconhecerem seu lugar de
pertencimento. Afirma que busca envolver com espaço vivido em suas práticas:
[...] na medida do possível procuramos trazer à discussão os espaços vividos pelos
alunos, propiciando momentos em que os
alunos exponham suas percepções sobre seu
cotidiano. A tentativa é, que quando estamos
falando sobre o conteúdo o aluno consiga
trazer aquele assunto para a sua realidade e
dessa forma, esse conteúdo terá significado
para os mesmos (informação verbal).
A professora procura despertar a noção que a
Geografia está relacionada com a vida dos
estudantes. Sua narrativa entra em contato com Kaercher (2014), ao reforçar a necessidade de ouvir
os alunos para despertar a curiosidade pela ciência
geográfica. Portanto, deve-se provocar os estudantes
a pensarem o espaço de vivência e problematizarem com os conteúdos geográficos estudados. Segundo
Kaercher (2014, p. 118):
Parece claro que, quanto mais ouvimos os
alunos, ou melhor, os provocarmos a falar,
mais material temos para prepararmos
nossas aulas e melhor entenderemos seus
interesses e sua lógica. Muitas vezes,
tomamos, precipitadamente, como “errados”
certos dizeres ou pensamentos de alunos sem
nos darmos conta de que seu raciocínio
encontra-se em nível distinto do nosso e, o
que para nós é um “erro”, para eles pode ser um caminho, um ponto de partida para o
entendimento.
Conforme a professora V, a Geografia é uma
ciência fundamental na construção da cidadania e
contribui para conhecer o espaço geográfico. A
disciplina dá suporte aos estudantes conhecerem o
espaço onde vivem e o relacionar com outros espaços que não estão tão próximos. Afirma que em sua
prática docente está:
[...] sempre procurando fazer uma análise
das escalas, saindo muitas vezes do espaço
vivido, espaço municipal, estadual, nacional
e até a Terra como um todo e vice-versa.
Dependendo do assunto e da realidade a
gente vai buscando inserir o aluno dentro do
contexto que a gente esta estudando,
buscando claro compreender o espaço vivido
(informação verbal).
A professora utiliza de diferentes escalas para
provocar seus alunos a compreenderem o espaço
geográfico, do local ao global, afinal:
A construção dos conceitos ocorre pela
prática diária, pela observação, pelas
experiências, pelo fazer. Eles vão sendo
ampliados, passando a graus de
generalização e abstração cada vez maiores.
(CALLAI, 2014, p. 88).
A professora V, afirma que a partir das diferentes
escalas, entre local e global, possibilita ao educando se localizar e compreender a dinâmica do espaço
geográfico. Para Callai (2014), ao aprender a pensar
de forma global, o estudante compreende a
organização do mundo e direciona suas práticas para pensar e agir localmente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Através das narrativas dos cinco professores
entrevistados, pode-se perceber em seus discursos a
inexistência da dicotomia entre teoria e prática. Tanto os teóricos, como os docentes, demonstraram a
importância do debate sobre o espaço vivido em sala
de aula para ensinar e aprender Geografia. Para diminuir o distanciamento existente entre os
conhecimentos escolares e o espaço de vivência dos
estudantes, é preciso buscar uma educação
geográfica, que extrapole as páginas dos livros didáticos e aproxime os estudantes do espaço
geográfico. Para isso, os professores precisam
continuar contextualizando a vida e os lugares dos
alunos, dando sentido e significado para os saberes geográficos adquiridos ao longo de suas histórias.
23
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CALLAI, H. C. Estudar o lugar para compreender o
mundo. CASTROGIOVANNI, A. C.; CALLAI, H. C.;
KAERCHER, N. A. (Orgs.). Ensino de Geografia: práticas
e textualizações no cotidiano. 11. ed. Porto Alegre: Editora
Mediação, 2014. p. 71-114.
CASTROGIOVANNI, A. C. Apreensão e compreensão do
espaço geográfico. In: CASTROGIOVANNI, A. C.;
CALLAI, H. C.; KAERCHER, N. A. (Orgs.). Ensino de
Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. 11. ed.
Porto Alegre: Editora Mediação, 2014. p. 11-70.
DAPPER, V. R. M. A percepção de fronteira dos discentes
e docentes em colégios públicos de Marechal Cândido
Rondon-PR (2016/2017). Relatório Final de Iniciação
Científica voluntária. Marechal Cândido Rondon:
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 2017.
KAERCHER, N. A. Geografizando o jornal e outros
cotidianos: práticas em Geografia para além do livro
didático. In: CASTROGIOVANNI, A. C.; CALLAI, H.
C.; KAERCHER, N. A. (Orgs.). Ensino de Geografia:
práticas e textualizações no cotidiano. 11. ed. Porto
Alegre: Editora Mediação, 2014. p. 115-143.
KOZEL, S.; FILIZOLA, R. Didática de Geografia -
memória da Terra: O espaço vivido. São Paulo: FDT,
1996.
PINHEIRO, A. C. O ensino de Geografia na formação de
professores das séries iniciais do Ensino Fundamental e na Educação Infantil. In: XV Encontro Nacional de Didática e
Prática de Ensino, 2010, Belo Horizonte. Convergências e
tensões no campo da formação e do trabalho docente:
políticas e práticas educacionais. Belo Horizonte: UFMG,
2010.
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo,
razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
24
ENSINO DE CARTOGRAFIA NO PROJETO RONDON COM PROFESSORES DA REDE
PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE IBARETAMA- CEARÁ
Rafael Krupiniski
Mestrado em Geografia, UNIOESTE/MCR, e-mail: [email protected]
INTRODUÇÃO
O presente trabalho objetiva relatar as
experiências, vivências e a oficina de cartografia
escolar ministrada pelo autor no Projeto Rondon,
enquanto acadêmico do curso de Geografia da
Unioeste/MCR.
O Projeto Rondon é uma ação voluntária (projeto
de extensão) coordenada pelo Ministério da Defesa
em parceria com as Universidades brasileiras
(públicas e privadas) e as prefeituras locais. Ele busca
contribuir com o desenvolvimento local sustentável,
fortalecimento da cidadania e bem estar da população
em municípios com baixo Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH), e também, na
formação profissional e pessoal do universitário,
oferecendo oportunidades de crescimento pessoal e
incremento da consciência cidadã (PROJETO
RONDON, 2017).
O nome “Projeto Rondon” homenageia Cândido
Mariano da Silva Rondon, mais conhecido como
Marechal Rondon. Bacharel em Ciências Físicas e
Naturais, militar e sertanista brasileiro, que passou
grande parte da sua vida dedicado a integrar o
Centro-Oeste e o Norte do Brasil. Entre suas
principais façanhas está a construção de linhas
telegráficas e a liderança de um grupo de
profissionais que buscaram estudar a geografia,
geologia, topografia, vegetação e outros elementos da
temida região amazônica (PEREIRA, 2009).
A atividade ocorreu entre no período de 15 a 31
de janeiro de 2015 no município de Ibaretama, no
estado do Ceará, através da Operação Mandacaru.
Outras duas operações ocorreram próximo a esse
período: a Operação Jenipapo no estado do Maranhão
e a Operação Portal no estado da Paraíba. As três
operações foram realizadas por estudantes e
professores de 90 universidades em 45 município de
baixo IDH, sendo 30 universidades e 15 municípios
para cada operação.
Cada universidade tem a possiblidade de formar
uma equipe com 10 membros, sendo oito graduandos
e dois professores. Os graduandos da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) desta
operação foram dos cursos de Ciências Biológicas,
Farmácia, Medicina, Odontologia do campus
Cascavel; Enfermagem e Pedagogia do campus de
Foz do Iguaçu; Serviço Social do campus de Toledo;
e Geografia do campus de Marechal Cândido
Rondon; e os professores foram do curso de Farmácia
do campus Cascavel, e Engenharia Química do
campus de Toledo.
Além disso, cada universidade atua juntamente
com outra universidade no mesmo município. Elas
são representados pelo Conjunto A, que desenvolve
ações na área de educação, saúde, cultura, direito e
justiça, e pelo conjunto B, que atua na área de
comunicação, tecnologia e produção, meio ambiente
e trabalho. Nesta operação a Unioeste foi
representada pelo conjunto A, enquanto a
Universidade Federal de Lavras (Ufla) foi
representada pelo conjunto B no município de
Ibaretama-CE.
Este município localiza-se no interior do estado
do Ceará, no bioma da caatinga e possui 822,3 km²
de extensão, e 12.728 habitantes, sendo 8.538 da
zona rural e 4.190 da área urbana (BRASIL, 2010).
Dispõe de 24 escolas de ensino fundamental I e II,
com 162 professores e uma escola estadual, com 32
professores. Os discentes do município apresentavam
dificuldades principalmente em português e
25
matemática, pois a média do município no Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) do ano
de 2011 foi abaixo da média (IDEB, 2013). Possui
um hospital público de pequeno porte, que realiza
apenas procedimentos simples, contendo poucos
profissionais e apresentando uma higienização ruim.
Ao total a equipe da Unioeste realizou 48 oficinas,
palestras e demais atividades para a comunidade. Na
área da educação foram realizadas atividades que
tinham como objetivo principal, levar conhecimentos
sobre temas transversais, para contribuir na formação
dos docentes do município. De forma geral, as
atividades buscaram aliar a teoria com a prática.
Como o Projeto Rondon é desenvolvido no
período de férias escolares, as palestras, oficinas e
minicursos foram desenvolvidas durante o “I
Encontro Pedagógico 2015: ampliando a ação
pedagógica na escola”, onde objetivou renovar e
ampliar as ações Pedagógicas nas escolas,
priorizando a qualidade de ensino. Foram os
graduandos da área da Educação da Unioeste que
comandaram o evento ofertando palestras e
minicursos sobre os seguintes temas: evasão escolar,
relação professor-aluno, organização do trabalho na
escola, motivação na aprendizagem, distúrbios da
aprendizagem (relacionada com a área da saúde),
violência e drogas na escola, a língua portuguesa e a
produção textual, as quatro operações matemáticas e
o Mínimo Múltiplo Comum (MMC) e o Máximo
Divisor Comum (MDC), os por quês da matemática,
o ensino da geografia e a cartografia escolar e
construção de maquetes.
Cabe ressaltar que todas as atividades foram
planejadas especificamente para a região de atuação,
considerando o diagnóstico realizado na viagem
precursora por um dos professores da Unioeste, que
apontou as dificuldades e demandas do município.
Foi durante esta viagem que a equipe da Secretaria de
Educação do município pediu para que fosse ofertada
uma oficina sobre Cartografia escolar, como enfoque
em construção de mapas, cálculo de escala, latitude e
longitude.
A necessidade surgiu devido a inexistência de
professores formados em Geografia que atuavam
nesta disciplina nas escolas do município. De acordo
com a equipe da Secretaria de Educação, os docentes
possuem muita dificuldade em lecionar sobre
Cartografia, em especial sobre o cálculo de escalas.
Nesse sentido, foi desenvolvido um minicurso
intitulado “O Ensino de Geografia e Cartografia
Escolar”, com a finalidade de ensinar e tirar dúvidas
sobre os pontos mais pertinentes da presente área do
conhecimento da Geografia.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A atividade contou com a presença de
aproximadamente 80 docentes do Ensino Municipal
(1ª à 9ª séries) e Estadual (Ensino Médio) de
Ibaretama e municípios vizinhos. Ela foi
desenvolvida nas dependências da Escola Municipal
Everaldo Silveira, localizada na área urbana do
município.
Para facilitar a realização do minicurso, foi
desenvolvido pelos graduandos um Caderno
Pedagógico, intitulado “Caderno Pedagógico para
capacitação de docentes do município de Ibaretama
(CE): Ensino, Geografia, Língua Portuguesa e
Matemática”, que objetivou apresentar teorias e
conceitos sobre os conteúdos ofertados nas oficinas,
minicursos e palestras, além e um rol de atividades
que possam ser desenvolvidas e aplicados aos
estudantes.
Para realização do minicurso utilizou-se da
apresentação expositiva e dialogada, com o intuito de
promover a exposição de conteúdos pelo graduando
em Geografia, com a participação ativa dos docentes,
para que os mesmos questionem e interpretem o
conteúdo voltado ao seu conhecimento até então
adquirido. Utilizou-se o quadro branco, caneta para
quadro branco, data show, apresentação em power
point-ppt (slides), o Caderno Pedagógico ao qual foi
desenvolvido uma lista de exercícios entre outros
materiais.
RESULTADOS
O minicurso foi dividido em duas etapas com
duração de 3 horas cada, totalizando 6 horas. A
primeira etapa ocorreu no período matutino (Figura
1) teve um caráter teórico (em forma de minicurso),
ao qual foi apresentado sobre a divisão da Cartografia
(Geral e Temática), as diferenças entre escala
cartográfica e geográfica, a relação entre a área
apresentada e o número de detalhes com escalas
pequenas e grandes, a fórmula para o cálculo de
escalas, os principais símbolos cartográficos para
representações em mapas, os tipos de escala
(numérica e gráfica), conversão de medidas do
sistema métrico e decimal. Após a discriminação das
principais conceitos, foi entregue uma lista de 7
exercícios impressos, extraídos do Caderno
Pedagógico, para a resolução de exercícios sobre
escalas, latitude e longitude.
26
Figura 1- Apresentação sobre os principais temas e
conceitos sobre Cartografia Escolar.
A segunda etapa ocorreu no período vespertino e
teve por objetivo desenvolver atividades didáticas
com a finalidade de auxiliar, facilitar e melhorar o
ensino da Cartografia nas escolas (em forma de
oficina). As atividades desenvolvidas foram
adquiridas no Caderno pedagógico “O Ensino de
Geografia: da teoria à prática” desenvolvido pelos
pibidianos do curso de Geografia da Unioeste, do
campus de Marechal Cândido Rondon.
A primeira atividade desenvolvida foi “Escala do
corpo humano”, a qual teve por objetivo calcular a
escala do próprio corpo em diversos tamanhos. Para
sua realização foi necessário os seguintes materiais:
barbante, papel sulfite, lápis, fita durex, canetas
coloridas, lápis de cor ou giz de cera. A mesma foi
desenvolvida e duplo ou grupo. Cada docente
recebeu um pedaço de barbante. Em duplas fizeram
as medidas, ou seja, segurando um dos lados do
barbante sobre a cabeça, e o outro na ponta do pé (na
horizontal), eliminando a sobra (Figura 2).
Figura 2- Docentes medindo o tamanho do corpo com o
auxílio de barbante.
Após, o barbante foi dobrado ao meio inúmeras
vezes, sendo que o número de vezes que foi dobrado
representa a escala reduzida. Posteriormente, foi
colado o barbante numa folha sulfite e realizado dois
traços retos entre um canto ao outro da folha: uma
acima da linha e outro abaixo (Figura 3). E, por fim,
cada docente realizou o desenho do seu próprio corpo
a partir do tamanho real, atribuindo legenda, título e
fonte à representação.
Figura 3- Docentes realizando a representação do corpo
humano.
A segunda atividade desenvolvida foi “Rosa dos
Ventos com palitos de picolé”. Para sua realização foi
necessário palitos de picolés de diversas cores e
alfinetes. Foi distribuído para cada docente 4 palitos e
um alfinete. A sua construção ocorre a partir da
sobreposição dos palitos e um furo em seu eixo
central, onde é posto o alfinete que após de se fixar, é
possível mover os palitos formando uma rosa dos
ventos com pontos cardeais (norte, sul, leste e oeste)
e colaterais (nordeste, noroeste, sudeste e sudoeste)
(Figura 4).
Figura 4- Docente construindo sua rosa dos ventos.
A última atividade desenvolvida foi a “Construção
de Maquete de Relevo com E.V.A”, a qual teve por
objetivo representar uma área geográfica em três
27
dimensões. Para sua realização foi necessário os
seguintes materiais: cartolina; E.V.A de diversas
cores (azul, verde, vermelho, salmão, rosa e
amarelo); cola; tesoura; alfinetes; caneta; e uma base
cartográfica – um mapa. A mesma foi realizada
individualmente.
O desenvolvimento ocorreu a partir do recorte da
representação juntamente com o E.V.A, seguindo a
sequência topográfica do relevo, partindo das áreas
mais baixas para as áreas mais altas (Figura 5). Cada
curva (altitude) foi representada por 10 metros e uma
cor (Quadro 1). A finalização da atividade ocorreu
com a construção da escala, título e legenda da
maquete (Figura 6).
Altitude Cor
0 metros Azul
10 metros Salmão
20 metros Amarelo
30 metros Branco
40 metros Vermelho
50 metros Preto
Quadro 1- Relação entre a altitude e a cor do E.V.A.
Figura 5- Docentes realizando o recorte e colagem do
E.V.A para construção da maquete.
Figura 6- Docentes finalizando a construção da maquete
com a inserção da escala, legenda e título.
CONCLUSÃO
As atividades desenvolvidas na oficina
proporcionaram aos docentes a possibilidade de
ampliar seus horizontes sobre o Ensino da
Cartografia, assim como aprender a „calcular escalas‟
de mapas, uma vez que muitos possuem dificuldades
com esse conteúdo. Os mesmos se mostraram
interessados com o minicurso e a oficina, dedicando-
se arduamente para a realização das atividades
propostas.
AGRADECIMENTOS: Ao Projeto Rondon, pela
oportunidade de poder realizar a presente experiência
no interior da região Nordeste do Brasil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Defesa. Projeto Rondon inicia
atividades em 2015 com “Operação Mandacaru”.
Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/defesa-
eseguranca/2015/01/projeto-rondon-inicia-atividades-em-
2015-com-operacao-mandacaru>. Acesso: set. 2017.
Brasil. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Plano
Territorial de Desenvolvimento Rural Sustentável:
Território Cidadania do Sertão Central –
MDA/SDT/UNITACE. Fortaleza: Instituto Agropólos do Ceará, 2010. Disponível em: <http://sit.mda.gov.br/
download/ptdrs/ptdrs_qua_territorio080.pdf>. Acesso em:
set. 2017.
IDEB. Índice de Desenvolvimento da Educação Básica.
Ibaretama: IDEB. Disponível em: <http://www.qedu.org.
br/cidade/4898-ibaretama/ideb?source=PortalIdeb>.
Acesso em: set. 2017.
PEREIRA, D. V. Um Olhar Sobre o Projeto Rondon e a
Dimensão Ambiental. 2009, 90p. Dissertação (Mestrado
em Desenvolvimento Sustentável) – Universidade de
Brasília, 2009. Disponível em: <http://repositorio.unb.br/
bitstream/10482/4194/1/2009_DalineVinhalPereira.pdf>.
Acesso em: set. 2017.
PROJETO RONDON. O que é o Projeto Rondon?.
Disponível em: <http://www.projetorondon.defesa.gov.br/ portal/>. Acesso em: set. 2015.
28
GEOGRAFIA HUMANA
29
RESUMO SIMPLES
30
JUGLARES DEL SILENCIO, DE CECILIA GLANZMANN:
UM OÁSIS NA PATAGÔNIA CHUBUTENSE
Denise Scolari Vieira
UNIOESTE-Letras
Há algo misterioso e atrativo, que gira ao redor dos versos de Juglares del Silencio (2007), da escritora
argentina Cecilia Glanzmann. Seu projeto estético celebra, no “sul-sul da América”, a vida sublime e
mágica advinda da Patagônia Chubutense. De algum modo, apreende-se a luta pela vida, vinculada ao seu
começo, circunstância que se conecta ao eu primordial ligado ao lugar onde viu a luz. No texto, são
deixadas abertas e disponíveis, nutrientes e generosas como “oásis em meio de tanto espaço ilimitado”, as
trilhas impregnadas da vida em si, ao mesmo tempo, individual e coletiva. Por isso, esse estudo vai
considerar, a partir da perspectiva teórica de Gaston Bachelard, quais são as imagens simbólicas
recorrentes na obra, capazes de aludir a uma topofilia, mediante um olhar sensível, cuja força é
salvaguarda, pois está potencializada, no solo fecundo da diversa “coreografia viva da Patagônia”.
Também serão observadas as Estruturas Antropológicas do Imaginário, presentes nos poemas, segundo as
categorias de análise do antropólogo Gilbert Durand, a fim de formular uma leitura possível, por meio da
palavra poética, concernente à humana condição, bem como, sobre a instância extremamente vital, que a
experiência artística pode suscitar.
Palavras-chave: Cecilia Glanzmann; Imaginário; Literatura Argentina; Sensibilidades; Teoria da
Imaginação da Matéria.
31
O USO DE PLATAFORMAS DIGITAIS COMO FERRAMENTA AUXILIAR NO PROCESSO
DE DIFUSÃO ESPACIAL DO ENCONTRO PARA A CONSCIÊNCIA CRISTÃ EM CAMPINA
GRANDE – PB
Débora Vanessa Régis Ferreira1; Tarcísio Vanderlinde
2
1 Mestranda PPGG, UNIOESTE /Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2 Docente do PPGG, UNIOESTE/ Marechal Cândido Rondon,
O estudo tem o objetivo de identificar a associação das plataformas digitais como meio auxiliar ao
processo de difusão espacial cristã protestante referente ao 19 Encontro Religioso Para a Consciência
Cristã em Campina Grande – PB no ano de 2017. Sobre o entendimento acerca da difusão espacial,
concorda-se com Rosendahl (2012) quando define essa como um reflexo da experiência de fé no espaço e
no tempo, pelo processo de apropriação do espacial o qual desencadeia a formação de territórios onde a
territorialidade religiosa assume o controle de práticas com o intuito de se perpetuar, se reproduzir e se
fortalecer. Esses fatos tendem a reafirma o intrínseco elo de ligação entre religião e ciência geográfica. O
desenhar da realidade proposta se forma a partir do encontro religioso sediado no período do carnaval
pela instituição paraeclesiástica: Visão Nacional Para a Consciência Cristã (VINACC). Um dos seus
principais objetivos é expandir-se e avançar, alcançando o maior número de pessoas e igrejas que se
disponibilizem em defender a fé protestante tradicional e ortodoxa, seguindo também com o princípio de
disseminação da mensagem do Cristo “Ide por todo mundo, e pregai o evangelho a toda criatura”. Essa
perspectiva desde sempre é vinculada ao projeto evangelizador e missionário de conquistar territórios e os
consolidando por meio da fé. No contexto contemporâneo é possível incluir ao processo, as plataformas
digitais as quais são projetadas como meios estratégicos, impulsionando a fé e auxiliando na difusão
espacial a partir da publicidade pontuada particularmente no canal do YouTube - Vinacc Consciência
Cristã, no streaming Bless, nas redes sociais: Facebook, Instagram e Twitter além do aplicativo para
smartphone consciência cristã e site. Essas fontes representam uma preparação pré-evento, mantendo o
público aquecido de informações e conteúdos durante todo intervalo de tempo até o acontecimento anual
do evento. Para o ano de 2017 mais de 100 mil pessoas participaram ocupando praça, teatro, centro
cultural e tantos outros espaços com intuito de demarcá-los como centros de reflexão e espiritualidade
baseado na fé cristã. Além de estar atenta ao uso das plataformas digitais foram ainda adotadas na
pesquisa as metodologias de revisão bibliográfica, observação não participativa no 19 Encontro Para a
Consciência Cristã e entrevista semiestruturada com o Fundador, diretor executivo da VINACC. Entende-
se que no conjunto a proposta possibilita uma compreensão da religião e suas interfaces para com os
espaços bem como o domínio territorial alimentado em parte pelo planejamento organizacional das
plataformas digitais o qual subsidia o contexto da difusão espacial.
Palavras-chave: Difusão espacial; Encontro Para a Consciência Cristã; Plataformas Digitais.
32
RELAÇÕES DE PODER NOS ESPAÇOS URBANOS
Selma Martins Duarte
1
1História, Unioeste/Campus de Marechal Cândido Rondon, [email protected]
A proposta desta comunicação é apresentar a pesquisa realizada para a construção de um texto para o
projeto de extensão Observatório do Mundo Contemporâneo (OMC). As reflexões construídas pela
equipe do projeto são apresentadas em escolas de Marechal Cândido Rondon e região e tem por objetivo
fomentar discussões relacionadas a temas da atualidade. Nos meses de agosto e setembro de 2017
realizamos análise sobre as ações públicas voltadas aos moradores de ruas, bem como aos usuários de
drogas, sobretudo na cidade de São Paulo. Buscamos compreender os interesses que permeiam atos, como
os de João Doria, atual prefeito de São Paulo. Para o desenvolvimento desta análise nos utilizamos de
bibliografia específica tratando tanto das políticas voltadas para a organização das cidades, quanto de
historiografia com análise sobre o tratamento do poder público voltado as distintas classes sociais que
ocupam os espaços urbanos. As fontes analisadas foram matérias produzidas pela mídia, vídeos e
documentários. Concluímos que no Brasil governantes, historicamente tem se utilizado de discursos
apropriados de técnicos sanitaristas para colocarem em prática medidas que promovam um deslocamento
das populações pobres, também compreendidas pelas elites como “classes perigosas”, dos centros das
cidades para as periferias. Esses deslocamentos são travestidos de medidas técnicas sanitárias, que
aparentemente servem para o bem-estar da população. Porém, reside aí relações de poder em que grupos
hegemônicos se apropriam do centro da cidade, pois desejam lucrar com a especulação imobiliária.
Porém os governantes buscam ocultar o sentido classista dessa ação política. Para isso promovem a
associação de doenças às camadas pobres da população, dessa forma, essa parcela da população passa a
ser frequentemente vigiada, e compelida a mudar seus hábitos, mesmo que não tenham recursos para
fazê-lo. São obrigados a dispersar dos locais em que residiam, deixando o espaço para as obras públicas
de alargamento de avenidas, construção de túneis e construção de lojas pomposas. Obrigados a deslocar
para a periferia resistem. A resistência é fruto da falta de recursos para pagar transporte da periferia para o
centro, local onde frequentemente trabalham, além de significar a luta pela manutenção dos espaços que
habitam e das relações sociais constituídas nestes espaços.
Palavras-chave: cidades; conflitos sociais; gentrificação.
33
RESUMO EXPANDIDO
34
A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON: A TERRA
SUBORDINADA À ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA
Matieli Cardoso Alves Acadêmica do curso de licenciatura em Geografia- UNIOESTE/campus Marechal Cândido
INTRODUÇÃO
No processo de produção e expansão territorial
urbana, é central a compreensão da apropriação
privada da terra e sua consequente transformação em
mercadoria, bem como, da renda que esta gera. Estes
elementos condicionam diferentes paisagens urbanas
existentes e evidencia a divisão das classes sociais no
urbano.
De modo geral, isto pode ser visualizado através
dos bairros de alto padrão equipados com um
conjunto de infraestruturas necessárias e por isso,
“valorizados”, que se contrapõem a bairros distantes
com pouca infraestrutura e “desvalorizados”, ou
ainda, com um conjunto de lotes vazios,
especialmente nas áreas centrais. Entretanto, em
ambas as situações a terra é mercadoria.
A apropriação privada da terra a torna uma
mercadoria no mercado imobiliário com um
determinado preço. Este fator caracteriza a terra
como manipulável ao capital, impossibilitando o
espaço urbano de cumprir sua função social
estabelecida pelo Estatuto da Cidade, pois, a terra
torna-se pertencente a quem tem capacidade de
adquirir esse bem natural.
Isso nos faz compreender que nas cidades,
determinados pontos são menos “valorizados” em
relação a outros. Por um lado, é possível inferir que
tal situação deriva do processo de especulação
imobiliária existente nas cidades.
Por outro, leva a questionamentos do por que a
terra urbana se atribui certa “valorização” sendo que
a mesma é um bem natural? Porque quando
localizada no espaço urbano e apropriada
privadamente à terra se empregam altos preços?
Quem regula ou o que regula os preços das terras
urbanas? Porque na terra, em especial a urbana, não
se aplicam os determinantes da função social? Qual a
razão da ocorrência de concentrações fundiárias no
espaço urbano?
Partindo-se destas interrogações, este presente
trabalho tem como objetivo debater e analisar a
produção do espaço urbano do município de
Marechal Cândido Rondon-PR, visando compreender
os elementos que regem a dinâmica do processo de
urbanização. Assim, na busca pela compreensão dos
fatores que contribuem para a expansão territorial da
cidade, busca-se aqui compreender a análise da
especulação imobiliária e apropriação da renda da
terra urbana no município de Marechal Cândido
Rondon-PR.
Dentro dessa perspectiva se analisará o “valor”
que o homem atribui a terra e a transforma em
mercadoria subordinada aos comandos de uma elite
capitalista que se constitui em minoria, tornando a
mesma como um bem de difícil acesso para grande
maioria da população.
Desse modo, a pesquisa analisa o processo de
especulação imobiliária criada com a expansão do
espaço urbano, sobretudo, busca compreender os
motivos que proporcionam a valorização de
determinadas áreas urbanas e desvalorizam as
demais, no entanto, a localização e a infraestrutura
serão pontos centrais para determinar a valorização e
consequentemente adiciona preço a terra urbana.
MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho tem como base as reflexões da
pesquisa de monografia em Geografia (Renda da
35
terra e produção do espaço urbano de Marechal
Cândido Rondon-PR) na qual se buscou compreender
os elementos que regem a dinâmica do processo de
urbanização. Assim, na busca pela compreensão dos
fatores que contribuem para a expansão territorial da
cidade, trazendo como foco central a análise da
especulação imobiliária e apropriação da renda da
terra urbana.
Desse modo, analisar o processo de especulação
imobiliária criada com a expansão do espaço urbano,
sobretudo, busca-se compreender os motivos que
proporcionam a valorização de determinadas áreas
urbanas e desvalorizam as demais.
Nesse sentido, é de suma importância o estudo do
espaço urbano no âmbito da ciência geográfica, uma
vez que, morar é necessário para sobrevivência
humana, mais devido a problemas econômicos e
políticos presentes em nossa sociedade atual, surgem
questões como as desigualdades sociais que dificulta
a condição de moradia se tornando difícil e escassa a
população urbana, devido a fatores como a
especulação imobiliária que ocorre com a expansão
urbana, tornando-se prejudicial a grande parte da
população trabalhadora em aspectos como moradia
em áreas clandestinas, falta de saneamento básico e
longas distâncias percorridas diariamente por essa
população até chegarem a lugares como área central
da cidade e ao próprio trabalho. Segundo Rodrigues.
Novamente se coloca a questão: os moradores que menos podem pagar vão
comprar lotes mais distantes, em lugares que
não atendem ás exigências de lei, vão ter que
percorre longas distâncias, gastar mais em
transporte-tempo e dinheiro; vão ter que
organizar-se, lutar pelo reconhecimento de
sua propriedade e com seu trabalho
conquistar um direito de morar pelo menos
mais dignamente. (RODRIGUES, 1991, P.
27).
É valido ressaltar que a metodologia utilizada
constituí-o com a analise do plano diretor de
Marechal Cândido Rondon\PR, para compreender e
conhecer a dinâmica da área urbana, tendo como
prioridade pesquisar os fatores que são responsáveis
pela expansão urbana que automaticamente gera a
especulação imobiliária na cidade.
Dessa forma, buscou-se ter conhecimento de
documentos na prefeitura do município, no qual
foram desenvolvidos questionários na prefeitura
municipal nos setores da secretária da Fazenda,
secretária de planejamento urbano e também nas
imobiliárias da cidade.
No decorrer da pesquisa foram levantadas
diferentes referências teóricos e leituras sobre a
respectiva temática, sendo os principais os livros com
os seguintes autores: Ariovaldo Umbelino de
Oliveira, Arlete Moysés Rodrigues, Lucio Kowarick
e Maria Encarnação Beltrão Sposito entre outros.
Sendo assim, a partir destes métodos pelo qual se
desenvolveu a referida pesquisa é possível inferir que
o espaço urbano de Marechal Candido Rondon
encontra-se integrado a dinâmica da expansão do
capitalismo, no qual a terra urbana está subordinada a
especulação imobiliária com o ideário social de
investimento seguro e rentável. Nesse sentido a
especulação imobiliária sobre a terra urbana,
funciona de forma a valorizar proprietários de terra,
ou seja, uma classe dominante no qual ser
proprietário de terra urbana significa poder
econômico e especulativo que tem ditado às regras da
expansão urbana.
RESULTADOS
A especulação imobiliária tem subordinado a terra
para a produção de renda, sobretudo, a atuação do
mercado imobiliário tem determinado o preço da
terra, bem como, o uso do solo urbano, moradia e
principalmente, tem proporcionado a acumulação de
riquezas por meio da valorização constante da terra
urbana.
Primeiramente, para compreender o processo de
produção do espaço urbano de Marechal Cândido
Rondon – PR é preciso entender a dinâmica da
36
especulação imobiliária, subordinando a terra para
produção de renda. Segundo Rodrigues, “Embora não
seja específico da terra, está tem sido, historicamente,
um dos repositórios mais comuns e importantes da
acumulação de riquezas”. (RODRIGUES, 2014, p.
16).
De acordo com a citação compreende-se que o
mercado imobiliário apresenta uma perspectiva
idealizadora sobre a terra no qual a mesma atua como
geradora de riquezas por meio de juros e lucros.
Dessa forma, propagandas veiculadas pelo mercado
imobiliário conceituam a ideia de que quem investe
em terra nunca erra.
Por meio de propagandas o mercado imobiliário
de Marechal Cândido Rondon\PR tem idealizado a
terra como o melhor negócio para investir. Desse
modo, a terra urbana passa a compor-se como uma
mercadoria, pois, é vendida a um valor alicerçado no
sistema capitalista de produção, uma vez que, através
da valorização da terra almejam atingir juros, lucros e
renda sobre a mesma.
A imagem a seguir ilustra uma propaganda
idealizando o investimento na propriedade da terra e
imóveis como investimento (Fotografia 1).
Fotografia 1: Propaganda de imobiliária considerando
a comercialização da terra e imóveis como investimento
Fonte: Trabalho de campo. Autor: ALVES, M, C. 2016.
De acordo com o painel publicitário, situado as
margens da rodovia BR-163, no trecho que liga o
município de Marechal Cândido Rondon ao de
Quatro Pontes-PR, torna-se visível a atuação do
mercado imobiliário na divulgação da terra e imóveis
como mercadorias, pois, contextualizam estes como o
melhor investimento. O pensamento imobiliário de
investimento em terra está fundamentado no modo de
produção capitalista que agrega preço a terra, no qual
a terra passa a produzir um excedente do valor
investido no momento da compra, proporcionando
um lucro excedente sobre a mesma, a este fator
denomina-se Mais Valia.
A certeza de investimento seguro e a constante
valorização da terra urbana têm elevado a procura por
aquisição de imóveis na cidade, favorecendo assim as
empresas imobiliárias e proprietários de terra. O
corretor de imóveis da imobiliária Edemar imóveis
narrou que,
Existe uma grande procura por imóveis na
cidade de Marechal Cândido Rondon, por
isso, vale a pena investir no ramo imobiliário
com certeza de venda, pois, existe uma
clientela diversificada, onde o mercado imobiliário estabelece preços de imóveis
variados, com valores que variam de R$
100.000, 00 a 1000.000,00 de reais.
(WOLLSTEIM, E. imobiliária Edemar
imóveis, 2016).
A diferença nos valores atribuídos a terra
urbana em Marechal Cândido Rondon -PR,
sobretudo, nos lotes vazios, remete a um
comparativo de valores em diferentes áreas da
cidade como: centro, bairros valorizados e
bairros periféricos.
A diferença nos valores ocorre em função da
atuação da especulação imobiliária, pois, o
especulador de terras apropria-se de alguns
“privilégios”, como por exemplo, a existência de
infraestrutura urbana (rede de esgoto, ruas asfaltadas,
escolas, creches, bancos e supermercados.) para
aplicar preços elevados e desiguais nas propriedades
37
em diferentes pontos da cidade de Marechal Cândido
Rondon - PR.
Tabela 1 – Preço de lotes vazios em diferentes regiões
do espaço urbano
Área central R$ 450.000.00 á
1.000.000.00
Bairros Valorizados R$ 150.000.00 á
300.000.00
Bairros Periféricos R$ 70.000.00 á
120.000.00 Fonte: Imobiliária Edemar Imóveis; Imobiliária Certo
Imóveis , 2017.
Portanto, a terra comporta-se como um
equivalente manipulado pelo capital, pois, esse bem
natural, inserido no mercado imobiliário passa a
compor-se como uma mercadoria tendo seu preço
constantemente elevado pelo processo de
especulação imobiliária. Segundo Rodrigues, “A terra
é um equipamento do capital, porque se “valoriza”
sem trabalho, sem uso”. (RODRIGUES, 2014, p. 17).
Embora, a terra se estabeleça no modo de
produção capitalista a mesma constitui-se como um
falso capital e uma falsa mercadoria, pois não tem
sua origem alicerçada na força produtiva, ou seja, a terra é um bem natural não se constituí pela força de
trabalho.
O preço atribuído a terra dentro do mercado imobiliário independe de sua força produtiva, está
fundamentado no estatuto jurídico da propriedade da
terra, outrora, é determinado pela capacidade de investimento de seus possíveis compradores.
Conforme descrito pela Arquiteta da secretaria de
planejamento urbano de Marechal Cândido
Rondon\PR á determinação do valor de um imóvel na área urbana antes da comercialização do mesmo é
constituído por critérios estabelecidos pelas empresas
imobiliárias e proprietários de terras, em conjunto com vereadores do município por meio de reuniões
de planejamento urbano realizadas na prefeitura do
município, por meio de questionários foram apontados os seguintes critérios,
A localização da terra urbana encontra-se
como um dos principais fatores que
determinam o valor, assim, imóveis no
perímetro urbano com as mesmas
características de infraestrutura e tamanho,
porém, com localizações diferentes
ocasionam preços bastante desiguais.
(BORZATTO. C, secretaria de planejamento urbano, 2016).
Fatores como o preço atribuído a terra e a
capacidade de aquisição do comprador torna a mesma
um bem de difícil acesso para a grande parcela da
população urbana. Desse modo, por exemplo, uma
área comercial dentro do perímetro urbano, pode
alcançar um preço elevado devido a localização e a
infraestrutura oferecida no local, estas características
tornam á terra inacessível às classes de baixa renda,
ou seja, o solo urbano é caracterizado pelos diferentes
usos e acessos.
O espaço urbano de Marechal Cândido Rondon
demostra esse fator por meio da distinta paisagem em
níveis de moradia, localização e infraestrutura
apresentada pelos diferentes bairros da cidade. Os
bairros distantes, menos acessíveis e com menor
infraestrutura abriga a população de baixa renda por
possuírem valores acessíveis. Segundo um
funcionário da secretaria da Fazenda do município,
A atuação do mercado imobiliário tem sido
tão evidente em Marechal Cândido Rondon,
principalmente na questão da grande
quantidade de casas geminadas, pois, o construtor adquire um terreno e constrói três
casas no mesmo, analisando que essas casas
de pequena infraestrutura possui pouco
custo, ao vender cada casa por
aproximadamente R$ 145.000.00 quanto o
construtor terá faturado? (VACARI, K.
secretaria da fazenda, 2016).
O homem para sobreviver necessita ocupar um
determinado local, para que possa desenvolver as
necessidades físicas e econômicas, porém, as relações
capitalistas inseridas no espaço urbano determinam e
regem o modo de ocupar este espaço, ou seja, o
sistema capitalista parte como modelador da estrutura
urbana. Sendo assim, diante da articulação do capital
38
fica expresso na paisagem urbana a heterogeneidade
e desigualdade das classes sociais que se insere na
cidade. Segundo Carlos: “O primeiro aspecto que
chama atenção quando se observa a paisagem urbana
é o choque dos contrastes, das diferenças. Contrastes
de tipo e diversidade de utilização da cidade: usos do
solo”. (CARLOS, 1994, p. 40).
Em contrapartida é contraditório no espaço urbano
de Marechal Cândido Rondon a concentração de lotes
vazios evidenciando a acumulação rentista sobre a
terra, sendo que do outro lado existe uma parcela da
população que continua sem moradia ou sendo
destinada a locais precários e distantes.
Está características nos leva a pensar, o porquê
não ocupar essas áreas vazias no espaço urbano, uma
vez que, para o poder público seria mais viável, pois,
diminuiria os custos com infraestrutura, como:
escolas, creches, iluminação pública, pavimentação,
postos de saúde, entre outros.
Porém, observa-se que o espaço urbano privilegia
a atuação de interesses particulares, como por
exemplo, proprietários de terras, poder públicos e
corretores de imóveis. Em contrapartida a população
de baixa renda continua sem moradia ou sendo
destinada a locais precários e distantes.
A especulação imobiliária e interesses particulares
de proprietários de terras têm ditado as regras no
espaço urbano e isso tem impossibilitado o
cumprimento da função social da cidade instituídas
pelo Estatuto da Cidade que visa o bem estar da
população urbana, que consiste em garantir moradia
digna a todos habitantes da cidade, no entanto, isso
se torna impossível diante da especulação que torna
determinados espaços urbanos com elevados preços,
restando a população de baixa renda locais
inapropriados para a moradia.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo deste trabalho foi realizar um estudo
que abrangesse a atuação do mercado imobiliário
com estratégias capitalistas que determinam por meio
da especulação imobiliária e do caráter rentista o
processo de expansão urbana de Marechal Cândido
Rondon-PR. De modo, que a expansão urbana ao
longo dos anos sempre ocorreu próxima a áreas com
tendência de valorização, dessa forma, a expansão
urbana é determinada a partir da especulação
imobiliária que se constitui como sujeito na
incorporação de novas áreas ao perímetro urbano.
A especulação imobiliária vem crescendo por
meio da atuação de empresas imobiliárias e interesses
de investidores de terra, determinando assim a
expansão territorial da cidade, o valor da terra urbana
de modo que segrega a população urbana em termos
de poder aquisitivo. Assim o espaço urbano de
Marechal Cândido Rondon tem se expandido através
da acumulação capitalista assentada na extração da
renda da terra urbana. Desse modo, a especulação
com a terra urbana tem evidenciado o caráter rentista
da expansão territorial da cidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS RODRIGUES, Arlete Moyses. Moradia nas Cidades
Brasileiras. 10. ed. 1ª reimpressão, São Paulo: Contexto
2015. (Repensando a Geografia).
CARLOS, Ana Fani Alessandri. A Cidade. São Paulo:
Contexto, 1994. (Coleção Repensando a Geografia).
Rodrigues, Arlete Moysés, Moradia nas cidades
brasileiras\ Arlete Moysés Rodrigues; revisão Rosa M. C.
Cardoso e Candida M. V. Pereira. 4ª Ed. São Paulo:
Contexto, 1991. (Coleção Repensando a Geografia).
39
APLICAÇAO DOS ROYALTIES DA USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU BINACIONAL
COMO RECURSO DE DESENVOLVIMENTO NA FRONTEIRA BRASIL E PARAGUAI
Nilse Lúcia Girotto
Mestranda PPGG-UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon – e-mail: [email protected].
INTRODUÇÃO
O Brasil possui sua matriz energética
fundamentada nos recursos hídricos, destacando-se o
Rio Paraná, com seu grande potencial de produção de
energia e a proximidade dos centros de consumo.
Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL 2013), as usinas hidrelétricas constituem a
principal fonte de energia elétrica no país, com o
fornecimento de 63,9% da potência instalada - já as
usinas termelétricas respondem por 28,7%; as
pequenas centrais hidrelétricas 3,7%, as usinas
termonucleares 1,6%; as centrais geradoras
eolielétricas (1,9%) e as centrais geradoras
hidrelétricas 0,2%.
Desde o início do planejamento do projeto de
instalação de uma usina hidroelétrica, representantes
do Estado e de empresas responsáveis pela sua
construção, destacam os seus benefícios de ordem
econômica, como a importância da produção
energética para a continuidade do desenvolvimento
do país, principalmente para o setor industrial, mas
também para o cotidiano da população. Desta forma,
geralmente os impactos sociais e ambientais
negativos da implantação de usinas hidrelétricas são
relevados a segundo plano, não raro restritos aos
sujeitos diretamente afetados pela instalação da usina.
No contexto do debate referente à necessidade de
garantir o ressarcimento dos impactos causados pela
implantação de uma usina hidrelétrica, em especial
por conta da formação do reservatório, foi
promulgada a Lei nº 7.990, de 1989, que trata dessa
questão, entre outras1. Essa lei, em seu Art. 1º,
1 Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Institui, para os
Estados, Distrito Federal e Municípios, compensação financeira pelo resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica, de
regulamenta a compensação financeira aos Estados,
Distrito Federal e Municípios, a ser calculada,
distribuída e aplicada na forma estabelecida.
(BRASIL 1989)
A compensação financeira é uma forma de tentar
amenizar e ressarcir os danos causados à população e
ao território afetado pela edificação, e deve
contemplar os custos ambientais, econômicos e
sociais, proporcionando o bem-estar social e o
desenvolvimento regional, na tentativa de compensar
os prejuízos causados. Entende-se como dano, a
desapropriação de terras, vilas, cemitérios, templos
religiosos, diminuição da arrecadação de tributos com
a submersão de terras produtivas, destruição de
estradas, alteração da dinâmica econômica do
município, bem como a historicidade do local e o
sentimento de pertencimento, de identidade do seu
povo.
As perdas geradas pela construção de uma
hidrelétrica devem ser compensadas aos atingidos
através de ressarcimento, buscando compensar por
meio de repasses financeiros. No caso específico da
Usina Hidrelétrica de Itaipu, essa compensação
ocorre através do pagamento de Royalties. Nesse
caso, trata-se da única usina hidrelétrica brasileira
a pagar esse ressarcimento financeiro através de
Royalties, pois constitui-se uma empresa Binacional
criada a partir da assinatura de acordo entre o Brasil e
o Paraguai, logo, é considerada uma empresa
juridicamente internacional, com jurisprudência
própria.
recursos minerais em seus respectivos territórios, plataformas continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, e dá outras providências.
40
A Itaipu apresenta um caráter singular de
arrecadação e distribuição dos recursos recolhidos,
com repasses financeiros superiores a média paga
(quando comparado com outras usinas pelo país) em
forma de compensação financeira por produção de
energia. Nesse sentido, o objetivo deste estudo é
analisar a aplicação destes Royalties que, no discurso
político e jurídico, pretendem promover o
desenvolvimento social, econômico e ambiental dos
municípios lindeiros ao Lago de Itaipu.
Como desdobramento do objetivo indicado acima,
essa pesquisa aborda, também possíveis problemas
que os municípios lindeiros enfrentarão com a
renegociação do ANEXO C ao TRATADO DE
ITAIPU, previsto para 20232
, o qual regula o
pagamento dos royalties. Pretende-se analisar o
planejamento estabelecido pelos municípios lindeiros
para, fomentar investimentos produtivos que
proporcionem à manutenção do desenvolvimento
posterior a revisão do valor de repasse dos Royalties.
Por se tratar de uma empresa Binacional com
investimento de recursos brasileiros e paraguaios e
pagamento de compensação a ambos os países,
objetiva-se analisar como ocorre o pagamento desse
recurso também no lado paraguaio, sua destinação e
aplicação.
OBJETIVO
Analisar os resultados da aplicação dos
Royalties pagos pela Usina Hidrelétrica de Itaipu
Binacional para promover o desenvolvimento social,
econômico e ambiental da região de fronteira entre o
Brasil e o Paraguai.
Verificar possíveis impactos que os municípios
brasileiros que atualmente recebem os Royalties,
2 ANEXO C - (Brasília, 26.04.1973), Bases Financeiras e de Prestação dos Serviços de Eletricidade da ITAIPU. Para os efeitos do presente Anexo entender-se-á por: I.1 – Entidades: a ELETROBRÁS, a ANDE ou as empresas ou entidades brasileiras ou paraguaias por elas indicadas, conforme o Artigo XIV do
Tratado assinado pelo Brasil e Paraguai em 26 de abril de 1973.
poderão sofrer em decorrência da revisão do Anexo
C do Tratado de Itaipu.
Compreender as particularidades e diferenças no
processo de normatização da distribuição dos
Royalties entre o Brasil e o Paraguai.
JUSTIFICATIVA
A pesquisa agrega como propósito a discussão da
aplicação dos recursos, analisando se os mesmo
resultaram em benefícios permanentes para o bem
estar social da população afetada, promovendo o
desenvolvimento econômico, social e ambiental dos
municípios atingidos pela formação do reservatório
da Usina, nos territórios brasileiro e paraguaio.
Em decorrência do grande valor recebido e do
grau de dependência dos municípios (no caso
brasileiro) frente a esse recurso, o presente estudo
tem como propósito discutir os possíveis impactos
que os municípios poderão sofrer com a revisão do
Anexo C do Tratado de Itaipu assinado em 1973.
O valor de repasse mensal varia conforme a
geração de energia, a cotação da moeda-dólar e a área
submersa de cada município. Esses recursos podem
ser usados para construção de infra-estrutura nos
municípios, sendo vetada sua utilização para o
pagamento de folha de pessoal e de dívidas, ficando a
aplicação dos Royalties a critério de cada município,
o qual planejará a destinação conforme seus
interesses e necessidades locais.
A esse respeito
a premissa básica para essa compensação é que
uma vez que o capital natural foi utilizado para
promover uma atividade econômica e essa atividade resultou em externalidades negativas,
tem-se uma redução do bem estar da sociedade
(SILVA, 2007, p. 34)
Os recursos pagos na forma de Royalties diferem
da compensação financeira instituída pela
Constituição Federal de 1988, por apresentarem
valores de indenização superior ao estabelecido pela
Constituição devido ao cálculo diferenciado e a não
41
recolha de 0,75% referente a cobrança da água
destinada ao Ministério de Meio Ambiente (SILVA,
2007).
O valor superior pago pela Hidrelétrica de Itaipu
através dos royalties decorre devido “a taxa de
câmbio que incide no valor mensal do repasse feito
por Itaipu aos municípios, já que o preço da energia
produzida pela usina é dolarizado”. (ROCHA, 2012,
p. 08).
O cálculo do repasse foi estabelecido com base na
área submersa, a cotação do dólar e o percentual de
energia produzida. Mensalmente os municípios
lindeiros ao Lago de Itaipu (no caso do Brasil)
recebem os Royalties. Segundo Oliveira (2008), a
realidade financeira dos municípios lindeiros é bem
diferente dos demais municípios do Paraná,
principalmente pelo repasse dos Royalties, recurso
que modifica a estrutura orçamentária dos
municípios, alterando o resultado econômico e o
desenvolvimento regional.
METODOLOGIA
Com o propósito de atingir os objetivos previstos,
a pesquisa é amparada por uma abordagem
bibliográfica, documental e de campo. Está em curso
o levantamento de um conjunto de indicadores
sociais e econômicos, a partir do IBGE e IPARDES,
dos municípios brasileiros para avaliar a situação
anterior ao início do recebimento dos Royalties e nos
anos subseqüente a esses repasses.
O levantamento tem por objetivo analisar se os
recursos recebidos promoveram o desenvolvimento
social e econômico nos municípios que recebem os
Royalties, bem como na região abrangente, busca-se
avaliar a evolução dos indicadores e os benefícios
resultantes para a população.
A fase de pesquisa documental ocorre nas
prefeituras dos municípios e no escritório do
Conselho de Desenvolvimento dos Municípios
Lindeiros ao Lago de Itaipu, com sede em Santa
Helena, com o objetivo de analisar estudos e
levantamentos desses órgãos quanto aos impactos
que poderão ocorrer com a revisão do Anexo C do
Tratado de Itaipu, o qual ocorrerá no ano de 2023,
com possível redução significativamente do valor de
repasse dos Royalties.
No estudo também estão previstas entrevistas
para, abordar a revisão do Anexo C do Tratado de
Itaipu perante aos gestores públicos municipais e as
lideranças dos Lindeiros, com o objetivo de perceber
a mobilização dessas autoridades diante da alteração
e a percepção dos mesmos para a possível mudança,
enaltecendo quais medidas estão planejadas para
minimizar possíveis impactos.
Para compreender a dinâmica social, econômica,
ambiental e política que envolve a construção de uma
Usina Hidrelétrica, desde o planejamento até sua
construção final, será de grande relevância a consulta
às dissertações e teses sobre o assunto, e ao acervo
documental digital on-line do “Centro da Memória da
Eletricidade no Brasil”, localizado na cidade do Rio
de Janeiro, o qual abriga a principal biblioteca sobre
o setor elétrico do País.
Para viabilizar o estudo em uma perspectiva mais
ampla, para além do território brasileiro, foi
estabelecido contato com autoridades do lado
paraguaio com o objetivo de estudar a sistemática
adotada pelo país vizinho para a divisão, distribuição
e aplicação dos Royalties, buscando compreender a
dinâmica de aplicação desses recursos na fronteira
Brasil e Paraguai.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para Santos (2004), o território em um primeiro
momento é fruto das feições naturais e das
construções e adaptações do homem através das
técnicas. Porém a estrutura material e o dinheiro vão
impondo novas circunstâncias de vida a toda a
sociedade. Desta forma, podemos analisar que as
alterações estruturais e financeiras, que os municípios
lindeiros e sua população obtiveram no decorrer dos
últimos anos com o repasse dos Royalties, criaram
42
uma mentalidade de que estes recursos não seriam
findáveis, fazendo uso momentâneo do dinheiro sem
criar mecanismos de desenvolvimento posterior.
Caso ocorra a diminuição do repasse desses
valores, os municípios terão de reorganizar sua
economia, a gestão pública dos recursos, iniciar corte
de gastos públicos, repensar prioridades e,
principalmente resolver a insatisfação da população
perante a falta de receitas e o problema da
manutenção da estrutura criada durante o período do
recebimento dos Royalties.
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as seis Notas trocadas entre os Ministros das Relações
Exteriores dos dois países. Publicado no “Diário Oficial”
de 30.8.1973, págs. 8.642-45.
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Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional e
Agronegócio) – Toledo, Universidade Estadual do Oeste
do Paraná. Disponível em:
http://tede.unioeste.br/tede/tde_arquivos/2/TDE-2008-07-
17T132449Z-253/Publico/Leoveraldo%20C
%20de%20Oliveira.pdf. Acesso em: 17 de março de 2017.
43
APONTAMENTOS INICIAIS SOBRE INTERAÇÕES ECONÔMICO-COMERCIAIS E DE
CONSUMO NUM SEGMENTO DA ZONA DE FRONTEIRA BRASIL/PARAGUAI: GUAÍRA
(PR) E SALTO DEL GUAIRÁ (CANINDEYÚ)
Ana Paula Azevedo da Rocha1; Maristela Ferrari
2
1Mestranda do Programa de Pós-graduação em Geografia (Bolsista Capes), Unioeste/Marechal Cândido Rondon,
2Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia /Marechal Cândido Rondon.
INTRODUÇÃO
Refletir sobre interações econômcio-comerciais e
de consumo em zonas de fronteira implica em pensar
imediatamente no poder político dos territórios e em
conflitos entre a escala local (população) e a escala
nacional (governo). O limite fronteiriço é ao mesmo
tempo elemento de fechamento dos territórios e de
atuação de distintos poderes dos Estados nacionais,
(RAFFESTIN, 1993). Mas, pode-se pensar que, em
zonas de fronteira, o Estado nacional não é a única
fonte de poder, o poder também está em diferentes
atores econômicos e sociais. Assim, em espaços
fronteiriços, pode se estabelecer poderes antagônicos:
de um lado o poder de proteção aos territórios, de
outro lado, o poder econômico-comercial que
estimula o consumo.
Guaíra e Salto Del Guairá (que podem ser
observadas na Figura 1 - mapa de localização dos
municípios estudados), constituem bom exemplo de
análise graças à recente exploração das disparidades
fronteiriças, sobretudo no campo econômico-
comercial e monetário. Uma observação empírica
destas cidades indica que passaram recentemente por
significativas transformações. Até o começo de 1980
as duas cidades mantinham fracas redes de interações
transfronteiriças entre si. Entretanto, a partir das
décadas de 1980 e 1990, sucessivas mudanças
econômicas e sociais foram responsáveis por
alterações nestas interações, notadamente das
interações econômico-comerciais e de consumo.
Figura 1: Mapa de localização da área de estudo.
Um dos fatores de tais mudanças foi a construção
da Ponte nacional Ayrton Sena (1994-1997), ligando
o Paraná ao Mato Grosso do Sul, o que favoreceu a
circulação e permitiu que as duas cidades passassem
a explorar as descontinuidades territoriais
estabelecendo inúmeras redes de interações
transfronteiriça até então quase inexistentes. Frente a
tais mudanças, Salto Del Guaíra, passou a receber
grandes investimentos no setor econômico-comercial
com a construção de inúmeros shoppings e lojas
tornando-se rapidamente polo comercial a exemplo
de outras cidades fronteiriças do Paraguai: como,
Pedro Juan Caballero e Cuidad Del Este.
Atualmente Salto Del Guairá mobiliza intensos
fluxos de consumidores brasileiros, fluxos que
parecem extrapolar a escala local da zona fronteiriça.
Quais são as escalas dos consumidores brasileiros?
Essa é a questão central do presente trabalho. O
44
mesmo faz parte de trabalho mais amplo que é a
pesquisa de mestrado que estamos desenvolvendo
junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia
da UNIOESTE – Campus Marechal Cândido
Rondon.
MATERIAIS E MÉTODOS
Os principais procedimentos operacionais deste
trabalho consistiram em revisão teórico-bibliográfica
sobre território, fronteira, limite, rede e escala
geográfica, categorias que servem de base para que se
possa analisar nossa problemática; e pesquisa de campo
nas cidades de Guaíra e Salto Del Guairá. A pesquisa
de campo baseou-se na pesquisa qualitativa, tendo em
vista que essa modalidade de pesquisa poderia
responder de maneira mais eficiente à indagação que
este trabalho estabelece. Ainda neste sentido é válido
considerar a fala de Raffestin (1993), com relação a
estudos qualitativos e quantitativos sobre território:
[...] É ilusão pensar que a passagem do
qualitativo ao quantitativo leva a fazer um salto
positivo na direção da clareza, uma vez que a
problemática permanece idêntica. O único
ganho possível é na coerência. Não é de se
desprezar, muito pelo contrário, mas é
insuficiente. (RAFFESTIN, 1993, p. 24).
A compreensão do processo de funcionamento e da
motivação das ações observadas foram norteadores da
pesquisa, e por conta disto a opção pela metodologia
qualitativa. Para a elaboração dos mapas de localização
foram utilizados dois softwares: QGIS, no qual as
bases cartográficas foram manipuladas. Posteriormente
fizemos uso do CorelDRAW, para organizar o mapa, a
fim de que ele tivesse a configuração atual.
RESULTADOS
As recentes mudanças ocorridas na zona
fronteiriça de Guaíra e Salto Del Guairá, têm
propiciado inúmeras interações transfronteiriças,
tanto legais quanto ilegais. Na escala local, as
primeiras pesquisas de campo apontam que de Guaíra
para Salto Del Guairá, além dos fluxos de
consumidores, outros fluxos se estabelecem
cotidianamente, dentre eles, os fluxos de brasileiros
que trabalham no lado paraguaio. Já de Salto Del
Guairá para Guaíra os fluxos mais frequentes são
aqueles de consumidores de produtos de consumo
correntes (supermercados), além de fluxos menos
densos e pouco frequentes (busca de serviços
médico-hospitalares).
Assim, pode-se dizer, com cautela, que os fluxos
mais densos de consumidores são estabelecidos por
atores de cidades brasileiras de outras escalas
regional e extra-regional. Esta situação tem sido
observada nos primeiros trabalhos de campo,
momentos em que foi possível constatar através de
entrevistas e de observações das placas de veículos, a
presença de consumidores de diversas cidades da
escala nacional brasileira. A presença de
consumidores de municípios próximos é muito
frequente, como: Toledo, Marechal Cândido Rondon,
Cascavel, Terra Roxa, Campo Mourão, Umuarama,
Cianorte e de inúmeras cidades de Mato Grosso do
Sul. São também frequentes consumidores de cidades
que estão a cerca de 300 e 400 quilômetros dentre
elas, Londrina, Maringá, Arapongas, Apucarana,
Paranavaí. Pelas placas de veículos, pelas entrevistas
com consumidores e a coleta de dados em hotéis de
Guaíra, foi possível verificar também, com menor
frequência, a presença de consumidores de outras
regiões do país, como, região Sudeste, Centro-Oeste
e Nordeste, dessas regiões, destaca-se a presença de
consumidores de várias cidades de São Paulo, em
menor densidade de cidades do Rio de Janeiro, Minas
Gerais, Ceará, Espírito Santo. Isso evidencia a
capacidade de Salto Del Guairá de mobilizar fluxos
de compradores de diversas regiões do país, uma
mobilidade que extrapola a escala da zona fronteiriça.
Frente à centralidade comercial de Salto Del Guairá
o poder econômico-comercial daquela cidade se
45
fortalece e adquire poder, assim, no segmento
fronteiriço brasileiro-paraguaio formado por Guaíra e
Salto Del Guairá se estabelecem poderes
antagônicos, de um lado o poder de proteção dos
territórios, de outro lado, o poder econômico-
comercial que estimula o consumo. Neste sentido
poderíamos pensar em uma multiterritorialidade, já
que o território adquire dois sentidos: o sentido
político, que tradicionalmente é atribuído aos
territórios; e o sentido econômico, já que ele se
estabelece a partir de uma área comercial voltada
para o consumo.
Enquanto no lado brasileiro a Receita Federal
tenta controlar a fuga de capitais, a entrada ilegal de
produtos e mercadorias oriundas do Paraguai, no lado
paraguaio não se observa o controle de entrada ou de
saída de brasileiros. Apesar de existir um posto de
fiscalização e um grande fluxo de veículos, o que se
percebe é uma atuação do poder econômico que
atende as pessoas que se dirigem a cidade de Salto de
Guairá, como obra de duplicação de estradas,
controle de estacionamento, e ao longo de anos a
produção do espaço de compras, com o aparecimento
de lojas e shoppings.
Neste sentido, é possível perceber, de acordo com
a ideia de Haesbaert (2004) um processo de
reterritorialização, o território que outrora era apenas
de interesse do Estado paraguaio passa a receber a
atenção da iniciativa privada que atua reconstruindo o
Espaço Geográfico local e dando um novo
significado para o território e instituindo
multiterritorialidades. Ainda de acordo com a ideia
de Haesbaert (2004), essas novas relações que se
estabelecem no Paraguai são exemplos do poder
como fruto de múltiplas fontes e também como algo
que não é exercido apenas pelo poder central do
Estado nacional, e sim como resultante de diversos
atores sociais, e das relações que articulam ou
estabelecem entre os diferentes poderes.
(RAFFESTIN, 1993).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho é fruto de uma reflexão inicial da
problemática da dissertação de mestrado, por essa
razão, as considerações são no sentido de apontar a
diversidade de perspectiva com que se pode analisar
a relação entre as cidades de Guaíra e Salto Del
Guairá. No entanto, apesar desta diversidade, as
relações de poder e a dinâmica que ocorre no
território são elementos fundamentais para que se
compreenda a articulação geográfica transfronteiriça.
AGRADECIMENTOS: Agradecemos a Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) pela bolsa de estudos de mestrado, tendo em
vista que o apoio financeiro é fundamental para o
desenvolvimento da pesquisa.
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47
AS RELAÇÕES NÃO CAPITALISTAS DE PRODUÇÃO E A SUJEIÇÃO DA RENDA DA
TERRA CAMPONESA NA PRODUÇÃO DE TABACO
Jennifer Paola Vicini
Acadêmica do Programa de pós-graduação em Geografia, nível mestrado da UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido
Rondon, [email protected] .br.
INTRODUÇÃO
O processo de reprodução das relações capitalistas
a partir da subordinação de relações não capitalistas
de produção que se estabelecem no campo, em
especial na produção de tabaco realizada pelo
campesinato, é o eixo central deste trabalho.
Todo este processo, de sujeição da renda terra
camponesa ao capital, a monopolização do território
camponês pelo capital, as relações não capitalistas de
produção, que na verdade para o capital, é relação
capitalista, pois permite que ele possa se reproduzir,
são contradições e fatos, presentes na produção de
tabaco.
Existe na relação entre camponês e capital uma
forte exploração e subordinação camponesa ao
sistema capitalista. E será debatido, como essa
subordinação está presente na produção de tabaco.
Sabendo-se que o capital só irá introduzir alguma
relação com qualquer indivíduo, se esta relação lhe
garantir um lucro certo, se pode afirmar que a partir
do momento em que empresas capitalistas, buscam a
propriedade camponesa para estabelecer uma relação
de produção, certamente o camponês será explorado
para o capital acumular. Isto se confere na produção
de fumo.
Na produção de fumo, ocorre isto, uma vez, que
empresas fumageiras vão até o camponês, para
buscar, iniciar uma relação de produção entre ambas
as partes. A família camponesa não produz fumo de
maneira independente, bem como, o camponês, não
produz o fumo e vende de forma autônoma. Isto
significa dizer, que aonde há produção de fumo, há o
capital inserido na propriedade camponesa.
A empresa fumageira é quem busca o camponês.
O maior interesse em iniciar a produção de tabaco,
parte da empresa capitalista, sendo que, o cerne desse
interesse, são as relações não capitalistas de produção
que a indústria fumageira encontra na propriedade
camponesa. O cultivo de fumo necessita pouca área
de terra para produzir, então a propriedade
camponesa é ideal para a indústria fumageira, bem
como, não necessita mecanização, a força de trabalho
familiar basta e está força de trabalho a empresa
fumageira encontra na família camponesa.
Dessa forma há a exploração, pelo setor industrial,
das relações não capitalistas típicas do campesinato,
acarretando na exploração dos últimos nesse
processo. No entanto esta exploração do campesinato
é diferente da exploração dos trabalhadores
assalariados, visto que o que se explora no cultivo do
fumo, não é à força de trabalho, embora seja
necessária, pois o camponês e sua família dedicam
meses de trabalho, mas o objetivo central, desta
relação é o fruto do trabalho familiar, a produção de
fumo, propriamente dita.
Neste sentido é importante compreender que na
produção de tabaco o capital monopoliza a produção
camponesa de forma que, os resultados do trabalho
da família camponesa são subordinados pela indústria
fumageira. O raciocínio de Martins (1986, p.174) é
pertinente nesta discussão, ao refletir que “o grande
capital se articula com a pequena produção familiar,
controlando a comercialização dos produtos
agrícolas”.
O entendimento de Martins é oportuno, e convém
de exemplo na discussão da produção de fumo, uma
vez que, a empresa fumageira se articula com a
48
produção familiar, e subordina a produção do
camponês, ou seja, toma posse do fumo, como
também controla tudo o que gira em torno dessa
produção.
É importante enfatizar que a propriedade é do
camponês, que o mesmo possui autonomia,
entretanto, nesta relação não capitalista, que o capital
se apropriou na pequena propriedade, o camponês
tem seu trabalho sujeito e dominado pelo capital, e o
trabalho do camponês sujeito ao capital, é a renda da
terra1 camponesa sujeita ao capital, ou seja, a renda
da terra neste caso é o produto do camponês, o fumo
que se torna o lucro do capital.
A subordinação da renda da terra camponesa é o
resultado, desta relação de produção, bem como, pela
monopolização do território camponês pelo capital.
Isto porque, o capital cria condições a partir das
relações não capitalistas de produção, de subordinar
toda a produção camponesa. Ocorre esta sujeição da
renda da terra na produção de fumo, uma vez que,
uma única empresa fumageira monopoliza o produto
do camponês. Monopoliza estabelecendo preços,
realizando a circulação do produto. Os argumentos de
Martins, ajudam a compreender este processo, que
leva a subordinação camponesa pela renda da terra,
Na medida em que o produtor preserva a
propriedade da terra e nela trabalha sem o
recurso do trabalho assalariado, utilizando
unicamente o seu trabalho e o da sua família, ao mesmo tempo em que cresce a sua
dependência em relação ao capital, o que
temos não é a sujeição formal do trabalho ao
capital. O que essa relação nos indica é outra
coisa, bem distinta: Estamos diante da
1 A renda da terra é uma categoria especial na economia
política, porque ela é um lucro suplementar, permanente,
sendo, pois a renda da terra um lucro extraordinário
permanente, ela é, portanto produto do trabalho excedente,
ou seja, é fração da mais valia, e mais precisamente,
componente particular e específico da mais-valia.
(OLIVEIRA, 1984, p. 94).
sujeição da renda da terra ao capital.
(MARTINS, 1986, p.175).
Dessa forma a indústria fumageira, não se torna
dona da propriedade do camponês, ou seja, não
compra a terra, mas, cria todas as circunstâncias para
subordinar a produção do camponês, ou seja, para
sujeitar a renda da terra. Martins auxilia nesta
compreensão,
Onde o capital não pode tornar-se proprietário real da terra para extrair juntos o
lucro e a renda, ele se assegura o direito de
extrair a renda. Ele não opera no sentido de
separar o proprietário e o capitalista, mas no
sentido de juntá-los. Por isso, começa
estabelecendo a dependência do produtor
em relação ao crédito bancário. (MARTINS,
1986, p.176).
Martins, mostra no seu raciocínio, como o capital
quer ser juntar, com camponês, para assim o sujeitar,
já que, se não consegue comprar a terra, o capital se
apropria da renda da terra. Este raciocínio é
conveniente com o que ocorre na produção de tabaco,
uma vez que, para empresa fumageira é favorável,
criar uma relação de produção com o camponês, pois,
não precisa comprar a terra, é só sujeitar a renda da
terra camponesa. E consegue sujeitar toda a renda da
terra camponesa, porque torna o camponês seu
dependente, pois é quem compra o fumo, além dos
financiamentos que possui com a fumageira.
A indústria fumageira monopoliza toda a
produção de tabaco, explorando assim não o trabalho
do camponês, e sim o fumo, que o mesmo produz. O
dizer de Paulino (2006, p. 108) se torna cabível, para
entender isso,
[...] nas formas não tipicamente capitalistas,
especificamente na agricultura camponesa,
não é o trabalho, mas o produto que o contém, que irá compor a taxa de lucro dos
capitalistas, o que os camponeses vendem,
no capitalismo, é o produto no qual está
49
contido o trabalho da família (PAULINO,
2006, p.18).
Neste sentido, a empresa fumageira se apropria da
renda da terra camponesa, esta renda é o fumo, o
produto, porém nele esta contido todo o trabalho da
família, mas como a relação é tipicamente não
capitalista, o camponês recebe apenas pelo seu
produto.
Assim é de suma importância compreender o
processo de produção de tabaco, para assim entender
as estratégias capitalistas em monopolizar o território
camponês e produzir capital através da sujeição da
renda da terra.
MATERIAIS E MÉTODOS
Este trabalho tem como base as reflexões iniciais
no mestrado em Geografia, bem como, a pesquisa de
monografia em Geografia (Subordinação e
Resistência camponesa na produção de tabaco em
Porto Mendes, Marechal Cândido Rondon-PR), na
qual, buscou-se entender as contradições que
envolvem a produção de tabaco desenvolvida nas
propriedades camponesas, com enfoque no distrito de
Porto Mendes, município de Marechal Cândido
Rondon-PR.
Desse modo, expande-se a pesquisa no mestrado,
para compreender o processo de territorialização da
produção de fumo na messorregião Oeste do Paraná
considerando a relação dialética entre a sujeição da
renda da terra e as formas de resistência do
campesinato.
Dessa forma o objetivo principal é analisar
criticamente a inserção das empresas fumageiras na
propriedade camponesa, problematizando a
apropriação pelo capital da renda produzida pelos
camponeses. Isso deve ser analisado para se
compreender a subordinação da produção e,
consequentemente, da renda da terra que ocorre nesse
sistema de integração às empresas fumageiras. Sendo
que é necessário compreender o porquê dos
camponeses aceitarem, a partir de sua própria
iniciativa, se submeterem a produção de tabaco.
Assim, também é necessário analisar a produção de
tabaco enquanto resistência camponesa para
permanecer no campo.
Nesse Sentido, o método utilizado consiste
primeiramente, no levantamento dos referenciais
teóricos e leituras sobre a temática da pesquisa, sendo
que esta etapa será contínua, ou seja, sempre se estará
buscando referenciais teóricos de modo a dar
dinamicidade e flexibilidade a própria pesquisa.
É válido ressaltar que faz parte da metodologia da
pesquisa um levantamento de dados, o qual já foi
realizado, sobretudo, por meio da utilização de dados
do Instituto Paranaense de Desenvolvimento
Econômico e Social (IPARDES) para reconhecer de
forma quantitativa quais são os municípios que
produzem tabaco na messorregião Oeste do Paraná.
Desse modo foi realizado um recorte dentre os 50
municípios da região, elencando os maiores
produtores de tabaco como os primordiais na
realização da pesquisa e nos trabalhos de campo que
serão realizados, sendo estes alguns dos municípios
lindeiros ao lago de Itaipu: Itaipulândia, Marechal
Cândido Rondon, Mercedes, Missal, Santa Helena e
São Miguel do Iguaçu.
Nesse sentido, a pesquisa consiste nas reflexões
teóricas, bem como, articulada aos trabalhos de
campo, com as entrevistas que serão realizadas com
os camponeses produtores de fumo, sendo estas
etapas de suma importância para compreensão das
contradições implícitas a produção de tabaco.
RESULTADOS
Conforme pesquisa já realizada em torno da
discussão que se propõem neste presente trabalho e
as reflexões iniciais que estão sendo desenvolvidas
no mestrado de Geografia, os resultados obtidos com
as revisões bibliográficas relacionadas ao tema aqui
proposto, demonstram que ocorre de forma acentuada
a expansão do capitalismo para o campo, sobretudo,
50
com a integração da indústria e agricultura que ocorre
de forma desigual e permeada por contradições,
sendo isso fato pertinente na produção de tabaco.
De todo modo, os resultados desta pesquisa estão
explícitos nas diferentes discussões deste presente
trabalho, de forma que demonstram as contradições
da produção de tabaco que sujeita a renda da terra do
camponês a partir de relações não capitalistas de
produção, ou seja, o capital inserido no campo, nas
propriedades camponesas não age de forma
tipicamente capitalista, pois se utiliza de elementos
dos camponeses para sua acumulação, sendo um
destes o próprio trabalho familiar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conclui-se assim que são várias as contradições
que giram em torno do capitalismo, primordialmente,
quando esse, se insere no campo e exclui o
camponês, ou então, o subordina para garantir sua
reprodução ampliada, sendo o último, fato que ocorre
na produção de fumo.
Percebe-se assim que o capital é contraditório e se
recria também com formas não capitalistas de
produção, ou seja, esta relação de expansão do capital
que ocorre na propriedade camponesa, não é uma
relação tipicamente capitalista, pois não é fundada
em trabalho assalariado e capital, ou seja, o
camponês não é assalariado e não depende dos meios
de produção que o capital possui. O camponês é dono
dos meios de produção. Portanto na propriedade
camponesa ocorre o processo contraditório do capital,
o capital se apropria de relações não capitalistas para
acumular. O capital, por meio dessa relação, se
reproduz através da subordinação do camponês
sujeitando a renda da terra.
Neste âmbito a produção de tabaco é uma cadeia
produtiva que mantém o camponês endividado e
subordinado a uma empresa fumageira. Desse modo,
é preciso reconhecer o tabaco como uma produção
que é voltada para o capital industrial e para a
acumulação do mesmo. Assim, o capital industrial
torna a propriedade camponesa uma unidade de
produção, que garante acúmulo de capital através da
extração da renda da terra camponesa.
A análise da subordinação da renda da terra
camponesa foi fundamental para a conclusão de que
há a territorialidade do capital industrial na
propriedade camponesa, o qual se reproduz através
de relações não capitalistas de produção,
desenvolvidas na propriedade camponesa, a exemplo,
o trabalho familiar.
E válido afirmar nesta finalização que a
subordinação à indústria fumageira é uma relação
dialética, pois possibilita a reprodução camponesa,
funcionando como uma estratégia de sobrevivência,
combinando esta, com outras estratégias que
garantem a autonomia e resistência ao campesinato.
AGRADECIMENTOS: Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) pela concessão de bolsa de estudos.
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PAULINO, Eliane, Tomiasi. Por uma geografia dos
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51
CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE AS REDES DE INTERAÇÕES TRANSFRONTEIRIÇAS
ENTRE PATO BRAGADO (PR) E COLÔNIA MARANGATU (NUEVA ESPERANZA-
CANINDEYÚ- PY)
Aline Kammerl1; Maristela Ferrari
2;
1 Graduação em Geografia ,UNIOESTE /Campus Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2 Docente do PPGG - UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon.
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo trazer
algumas contribuições sobre redes de interações
transfronteiriças num segmento da zona de fronteira
brasileiro-paraguaia. Tais contribuições fazem parte
de trabalho mais amplo que é o Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC) que ora estamos
desenvolvemos. O recorte espacial da pesquisa é a
cidade de Pato Bragado (Paraná-Brasil) limítrofe a
localidade de Puerto Marangatu também conhecida
como colônia Puerto Marangatu pertencente a Nueva
Esperanza – (Canindeyú-Paraguay) (Figura 1).
Figura 1. Localização da área estudada.
Fonte:https://www.google.com.br/maps/search/mapa+poli
tico+de+canindeyu. Acessado em 01 de agosto de 2017.
Organização e Arte: Kammer Aline
Embora se verifique que historicamente Pato
Bragado vem mantendo interações transfronteiriças
com o lado paraguaio, o recorte temporal da pesquisa
é a partir de 1982, quando ocorre a formação do Lago
da Itaipu o que vai criar maiores facilidades para a
passagem do território brasileiro ao paraguaio e vice-
versa. Desde a formação do Lago da Itaipu, essa zona
de fronteira tem apresentado significativas interações
transfronteiriças. A travessia do limite internacional
entre os dois territórios nacionais se faz por meio de
embarcações, tanto coletivas quanto individual
(pequenos botes ou barcos). Esse movimento diário
acaba tecendo diferentes redes de interações entre a
população brasileira e paraguaia. Portanto, neste
trabalho queremos responder a seguinte questão: Que
tipo de redes geográficas se estabeleceram e ainda
hoje se estabelecem entre Pato Bragado e Puerto
Marangatu?
A fim de responder a questão central deste
trabalho, cabe inicialmente abordar o conceito de
rede para explicar o porquê do uso desse conceito na
análise das interações transfronteiriças de um
segmento da zona de fronteira do Brasil com o
Paraguai. É importante esclarecer que, neste trabalho
o uso da categoria zona de fronteira, é entendido
segundo Ferrari (2015):
[...] a zona de fronteira pode ser entendida
como espaço que emerge da demarcação do
limite político territorial entre dois Estados Nacionais; ela se encontra na confluência entre
dois territórios fundados sobre duas culturas e
identidades nacionais construídas dentro da
oposição entre “nós e os outros”. Mas, longe
de ser apenas espaço político geográfico,
marcado pela diferença cultural, identidade
nacional e pertencimento territorial, a zona de
fronteira é também espaço social e cultural.
(FERRARI, 2015, p.2).
A partir da noção de zona de fronteira como
espaço de interações transfronteiriças sugerida por
Ferrari (2015) pode-se analisar a zona fronteiriça
52
como espaço social aberto onde se estabelecem
relações reticulares, daí a importância do conceito de
rede, sobretudo da rede social como ferramenta
teórico-metodológica. Nessa perspectiva, Scherer-
Warren (2005) argumenta que, o uso teórico e
metodológico das redes sociais permite verificar
empiricamente “as diferentes formas ou intensidade
das relações sociais num determinado campo social
como: parentesco, amizade, vizinhança, religião, etc.
– (modelo metodológico operacional para as
pesquisas empíricas)” da população que habita as
duas margens do limite internacional (SCHERER-
WARREN, 2005, p. 30). Noção eminentemente
geográfica, Santos (1999, p 209) nos lembra que a
rede não é só técnica,
[...], a rede é também social e política, pelas
pessoas, mensagens, valores que a freqüentam. Sem isso, e a despeito da
materialidade com que se impõe aos nossos
sentidos, a rede é, na verdade, uma mera
abstração.
É neste sentido que analisaremos as redes de
interações geográficas transfronteiriças. Nessa
direção, Haesbaert (1998) contribui argumentando
que as interações transfronteiriças podem ser
analisadas sob a lógica reticular, como a redes de
trabalhadores, redes comerciais e financeiras, redes
culturais, redes político-eleitorais, redes ligadas a
busca de serviços de saúde e educação etc. Segundo
este autor, outra rede que pode se formar entre as
áreas fronteiriças é a “rede da migração, rede que
forma, por vezes, “regiões” brasileiras para o interior
dos países vizinhos”. (HAESBAERT, 1998. p.68).
Frente a tal pensamento consideramos importante
analisar a tipologia das redes de interações entre os
fronteiriços de Pato Bragado e Puerto Marangatu
objetivando posteriormente analisar que fatores são
responsáveis pelas articulações reticulares
transfronteiriças.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para esse trabalho o método de pesquisa adotado foi
o qualitativo por ser mais adequado ao nosso estudo e
os materiais mobilizados foram: referenciais teóricos
bibliográficos pertinentes ao tema das redes de
interações transfronteiriças e pesquisa de campo com
entrevistas, que foram gravadas e posteriormente
transcritas e analisadas.
RESULTADOS
Atualmente existem muitos estudos sobre
fronteira no Brasil, no entanto, verifica-se que em tais
estudos, tanto na escala regional quanto nacional, não
há nenhum estudo ou pesquisa tratando sobre as
redes de interações transfronteiriças entre Pato
Bragado (Paraná-Brasil) e Puerto Marangatu colônia
de Nueva Esperanza – (Canindeyu-Paraguai).
Pode-se dizer, segundo a pesquisa de campo, que
as redes de interações transfronteiriças nesta zona de
fronteira vêm desde o processo de colonização1 de
ambos os lados do limite internacional, notadamente
redes de trabalhadores e rede da migração, essa
última, notadamente por brasileiros em direção ao
lado paraguaio. Eram redes geográficas
transfronteiriças pouco densas e não apresentavam
fluxos contínuos.
No entanto, após a formação do Lago da Itaipu
(1982) as redes de interações transfronteiriças
começaram a se intensificar. Segundo a pesquisa de
campo, atualmente, temos a presença fortíssima de
pessoas que migram de Colônia Marangatu para o
lado brasileiro (Pato Bragado), migração fomentada,
sobretudo, pela busca de trabalho no lado brasileiro.
Neste sentido destacam-se as redes de trabalhadores.
A busca de trabalho no lado brasileiro é oriunda do
processo de mecanização das terras agrícolas no lado
paraguaio e crescimento dos grandes produtores
1 A colonização das terras pertencentes a Pato Bragado
data de 1946, quando ainda pertencia a Toledo, já as terras
pertencentes a Colônia Marangatu foram colonizadas em
1980, um processo tardio, influenciado pela barragem do
Itaipu.
53
rurais em Marangatu que causam exclusão da terra e
o consequente desemprego no lado paraguaio. Por
outro lado, a busca por empregos no lado brasileiro
também está ligada aos direitos trabalhistas. Muitas
empresas de Pato Bragado garantem os direitos
básicos ao trabalhador, assinam a carteira, recolhem
as contribuições para a aposentadoria dos
trabalhadores o que torna um atrativo para esses
migrantes trabalhadores paraguaios.
Outra rede que se estabeleceu do lado paraguaio
para o lado brasileiro foi a rede pela busca de
serviços públicos gratuitos como educação e saúde.
Há fluxos sociais cotidianos de pessoas que atravessa
o limite em direção a Pato Bragado em busca de
saúde e educação. Essa rede se estabeleceu devido a
ausência de serviços públicos, gratuitos e de
qualidade no lado paraguaio. Em alguns aspectos
essa realidade tem aos poucos mudado, mas até
pouco tempo atrás, Marangatu não possuía escolas
com ensino médio (primeira turma em 2014), e os
estudantes paraguaios, para dar continuidade aos seus
estudos viam-se obrigados a atravessar o limite
internacional e buscar esse tipo de serviço público
nas escolas brasileiras de Pato Bragado. Muitos
estudantes paraguaios acabavam passando a semana
em casas de familiares ou amigos em Pato Bragado e
retornavam somente nos finais de semana para o lado
paraguaio.
Atualmente Marangatu já oferece ensino médio
aos alunos paraguaios, mas os fluxos de estudantes
paraguaios nas escolas de Pato Bragado ainda
continuam nos dias de hoje. Essa pratica, segundo a
pesquisa de campo, ainda acontece, pois alguns
estudantes optam por fazer uma educação continuada,
isto é, após o ensino médio ingressarem em curso
superior. As interações também ocorrem na área
saúde, e isso tem gerado constantes fluxos
transfronteiriços.
Na Colônia Marangatu não há atendimento de
saúde que supra a necessidade de seus moradores,
todos os entrevistados se referiram a um postinho de
saúde de baixa complexidade no lado paraguaio. Um
posto de saúde que faz apenas os primeiros-socorros.
Atendimento realizado por uma enfermeira, pois não
há médico. Já Pato Bragado conta com um posto de
saúde equipado, com médicos, ginecologista,
pediatra, psicólogo e também nutricionista, caso
precise de atendimento especializado como
ortopedista, cardiologista entre outros.
Em casos de alta e média complexidade os
médicos de Pato bragado encaminham o paciente
para hospitais e clínicas mais próximas nas cidades
vizinhas, como: Toledo e Cascavel. Os serviços
públicos e gratuitos de saúde, ausentes no lado
paraguaio e presentes no lado brasileiro, têm
promovido redes de interações transfronteiriças entre
os dois lados do limite internacional.
Além dessas redes acima destacadas, outras redes
de interações transfronteiriças foram constatadas,
como a rede de comércio que gera interações
cotidianas nessa zona de fronteira. Os pequenos
comércios, notadamente de gêneros alimentícios e
consumo correntes presentes na Colônia Marangatu
não atendem as todas as necessidades dos moradores
de lá. Segundo os entrevistados paraguaios, “lá tem
uma vendinha pequena de posse do balseiro, tem
itens básicos de comida a remédio”. Portanto, quando
se faz necessários produtos e gêneros alimentícios,
não encontrados em Marangatu, os moradores
atravessam o lago em busca do que precisam em Pato
Bragado. Dessa forma, os fixos em Pato Bragado,
como mercados e supermercados promovem fluxos
reticulares transfronteiriços e novas redes vão sendo
estabelecidas. Ao lado dessas redes outras redes são
organizadas como, por exemplo, as redes de
comércio de produtos ilegais, como entorpecentes,
cigarros e eletrônicos. As redes ilegais de comércio
se fortaleceram com o lago pela facilidade de acesso
a portos clandestinos e a pequena fiscalização do
Estado nacional brasileiro.
As redes de interações transfronteiriças, emergem
também em um caráter cultural. Por exemplo,
54
algumas festas populares ou religiosas envolvem os
habitantes dos dois lados do limite internacional.
Nesse aspecto, a rádio brasileira, com alcance no lado
paraguaio, fomenta e divulga os eventos festivos num
ou noutro lado da fronteira e as populações interagem
participando dos eventos. Com essas redes culturais
estabelecem contatos cotidianos, gerando redes
socioculturais. Muitos contatos sociais acabam em
casamentos entre paraguaios e brasileiros de Pato
Bragado e de Marangatu. Assim, já se observa a
formação de famílias transfronteiriças, onde parte da
família é brasileira e outra parte é de brasiguaios e
que promovem diversas redes geográficas cotidianas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As considerações aqui apresentadas são no
sentido de apontar alguns resultados provisórios,
pois esse trabalho faz parte da pesquisa do
Trabalho de Conclusão do Curso de Geografia,
pesquisa que ainda está em andamento. Mas,
pode-se dizer que a maior parte dos moradores
de Colônia Marangatu é de brasileiros e filhos de
brasileiros (brasiguaios) e são esses sujeitos que
promovem e fomentam inúmeras redes de
interações transfronteiriças. Chegamos a mesma
conclusão de Machado 2005, quando afirma que
“à intensidade e à longevidade das migrações
[...] é um dos melhores indicadores da
intensidade da interação transfronteiriça no
espaço tempo”. Mas o principal fator do
estabelecimento de redes transfronteiriças entre
Pato Bragado e Puerto Marangatu tem sido as
dessimetrias entre os dois lados da fronteira,
notadamente no que toca aos serviços básicos
como saúde e educação. A desigualdade entra as
áreas estudadas é bastante significativa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria de
Programas Regionais. Programa de Desenvolvimento da
Faixa de Fronteira: Proposta de Reestruturação do
Programa de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira:
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Regional para a Faixa de Fronteira. Brasília: Ministério da
Integração Nacional, 2005.
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discussão. In: DIAS, Leila Christina e SILVEIRA, Rogério
L. Lima da. Redes, sociedades e territórios. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2005.
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In: CASTRO, I.; GOMES, P. C. da C. e CORREA R. L.
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SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: técnica e tempo,
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56
GESTÃO INTEGRADA DE RESÍDUOS SÓLIDOS, AGENTES E ESTRATÉGIAS: O CASO DE
UMUARAMA – PR
Angela Danielle Kuhn1; Fábio de Oliveira Neves
2
1Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon.
INTRODUÇÃO
O processo de urbanização no Brasil, a partir da
década de 1950, resultou tanto no aumento da
população urbana, quanto na difusão de um modo de
vida urbano e em mudanças nos padrões de consumo
(CORRÊA, 2006). Estes foram acompanhados e, de
certo modo, dirigidos por outro processo, o de
industrialização. Esses dois processos implicaram na
aceleração da extração de recursos naturais, no
estímulo ao consumo e, consequentemente, no
aumento no volume dos descartados.
Essa situação nos leva a questionar sobre a gestão
e a destinação final de todo material que uma vez
consumido não tarda a ser descartado. Gerir os
resíduos sólidos é um desafio lançado à sociedade e
ao poder público, uma vez que a produção de
resíduos é inevitável.
É necessário perceber os resíduos como um
fenômeno socioespacial, tendo em vista que o
homem cria e recria o espaço, o que produz/reproduz
a sociedade e altera a materialidade sobre a qual
ocorrem os processos socioespaciais, dinâmica na
qual há a geração de resíduos.
Os resíduos ao longo da história são vistos como
problema socioambiental de cunho negativo
(EIGENHEER, 2009). No entanto, chamamos
atenção para a análise dos resíduos não somente
como problema, mas enquanto solução, pois quando
reutilizados, contribuem com a redução da extração
de recursos naturais e na diminuição do montante de
resíduos dispostos sem tratamento (CALDERONI,
2003), o que, por consequência, evita a criação de
locais insalubres. Quanto à dimensão social,
promovem a integração do catador ao mercado de
trabalho (MEDEIROS, et al., 2007). Na dimensão
econômica, gera renda aos catadores e reduz os
gastos na produção de novas mercadorias
(CALDERONI, 2003).
A questão dos resíduos é ampla, envolve
problemas e significados diversos, pois se
trata não só de um objeto, mas de um
fenômeno, de algo de natureza controvertida
e variada. Utilidade ou inutilidade? Recurso
ou ameaça? [...] (NEVES, 2013, p.31).
Os benefícios proporcionados pelo
reaproveitamento de resíduos são de ordem
individual e coletiva, pressupondo que a preservação
de recursos naturais é um interesse comum da
sociedade dado a sua importância para a manutenção
da vida no planeta (CALDERONI, 2003).
Com a situação apresentada, destaca-se a gestão
integrada dos resíduos sólidos que é um meio pelo
qual se busca resolver problemas em diferentes
dimensões, como a ambiental, a econômica e a social.
Gerir os resíduos sólidos pressupõe o
desenvolvimento de etapas como: separação dos
resíduos entre recicláveis e orgânicos, coleta seletiva
e tratamento dos materiais coletados. Para a prática
das etapas mencionadas, faz-se necessária a
participação de agentes sociais, como: cidadãos,
administração pública, empresas e
cooperativas/associações de catadores.
A responsabilidade compartilhada, como princípio
de gestão dos resíduos sólidos no Brasil, requer a
colaboração dos diferentes agentes sociais, em ações
interligadas e interdependendes.
Para amparo e direcionamento da gestão dos
resíduos: etapas do processo, agentes envolvidos,
gestão compartilhada, destinação de resíduos
57
recicláveis e disposição ambientalmente adequada de
resíduos orgânicos e rejeitos; há um rol de textos
normativos em âmbito federal, estadual e municipal,
os quais foram utilizados para análise nesta pesquisa.
Dentre eles destacamos: Constituição Federal –
CF- (1988); Política Nacional dos Resíduos Sólidos –
PNRS- (Lei federal 12.305/10); Política de Resíduos
Sólidos do Estado do Paraná (Lei estadual
12.493/99); Plano Diretor de Umuarama (Lei
Complementar municipal 124/04); Lei da Coleta de
Umuarama (Lei municipal 2.971/06); Plano
Integrado de Gerenciamento de Resíduos de
Construção Civil do Município de Umuarama (Lei
Complementar municipal 276/10); Programa Lixo
que Vale –PLV- (Lei municipal 3.736/11).
Com base no exposto, buscamos entender como se
caracteriza a gestão dos resíduos sólidos no
município de Umuarama-PR quanto ao aterro
sanitário, à cooperativa de catadores e ao Programa
Lixo que Vale (PLV).
Como objetivos específicos, buscamos
compreender a função da cooperativa de catadores na
gestão integrada dos resíduos sólidos municipais;
caracterizar o aterro sanitário enquanto destinação
final para resíduos sólidos não-recicláveis; levantar
os documentos legislativos disponíveis que remetem
à gestão dos resíduos sólidos e que servem de
parâmetro para a gestão municipal; e compreender o
funcionamento do Programa Lixo que Vale enquanto
estratégia para resolução de problemas locais.
É sabido que a disposição inadequada de resíduos
pode poluir ou contaminar recursos naturais. Desse
modo, o trabalho se justifica na importância em gerir
os resíduos sólidos em consonância com a legislação
disponível que direcione a práticas integradas na
busca pela preservação ambiental com observação a
aspectos sociais e econômicos.
MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia aplicada envolve o método quali-
quantitativo. As informações e dados obtidos se deram
por meio: do levantamento de referencial teórico,
(documentos acadêmicos, legislativos e midiáticos); da
consulta a banco de dados (IBGE, SEIRSU, SNIS1); da
realização de questionamentos e entrevistas
semiestruturadas a agentes institucionais envolvidos no
processo de gerenciamento de resíduos sólidos de
Umuarama – PR; e, por meio de atividade em campo,
observação das diferentes etapas da gestão dos resíduos
sólidos desse município.
RESULTADOS
A gestão dos resíduos sólidos em Umuarama-PR é
composta por etapas que dependem da participação
de diferentes agentes sociais. Para que os resíduos
sejam destinados e dispostos de forma
ambientalmente adequada é preciso que haja a coleta
seletiva de materiais recicláveis, para triagem e
comercialização, realizadas pela Cooperuma
(cooperativa de catadores); e aterro sanitário para o
tratamento de materiais orgânicos ou rejeitos.
A Cooperuma conta com a colaboração de 28
cooperados, aproximadamente. Possui galpão de
triagem coberto e fechado, o que proporciona
melhores condições de trabalho aos catadores, uma
vez que não ficam expostos ao frio e à chuva (vide
figura 1). De maneira geral, as atividades primárias
da cooperativa são de receber o material reciclável,
triar conforme composição, prensar e comercializar.
Diariamente, passam pela balança da entrada do
aterro sanitário e da Cooperuma, 80 toneladas de
resíduos, das quais 12 toneladas são provindas da
coleta seletiva e são encaminhadas à Cooperuma. No
entanto, em torno de 25% do material que chega à
cooperativa é rejeito, o qual é encaminhado ao aterro
sanitário. Assim, diariamente, são desviados do
aterro sanitário e proporcionada a reutilização de,
1 IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;
SEIRSU: Sistema Estadual de Informações Sobre
Resíduos Sólidos Urbanos; SNIS: Sistema Nacional de
Informações sobre saneamento.
58
aproximadamente, nove toneladas de resíduos (ou
11,25% do montante que passa pela balança)2.
Figura1: Cooperados separando materiais na esteira de
triagem
Fonte: Angela Danielle Kuhn, 2016.
A Cooperuma comercializa seus materiais apenas
com aparistas, sendo quatro de Umuarama, um de
Cruzeiro do Oeste, um de Maringá e um de Campo
Mourão3. A renda obtida por meio da venda dos
materiais é utilizada para pagamento de despesas da
cooperativa e o restante é rateado entre os
cooperados. Com o rateio a renda mensal de cada
catador gira em torno de R$1.000,00 e R$1.100,00.
(ESTATUTO DA COOPERUMA, 2010).
O aterro sanitário do município de Umuarama-PR
está estruturado na mesma área de localização da
Cooperuma, o que facilita o encaminhamento ao
aterro sanitário de materiais que chegam à
cooperativa, mas que não são recicláveis.
O aterro sanitário de Umuarama-PR possui
licença de operação concedida pelo Instituto
Ambiental do Paraná (IAP), isso pressupõe
adequação aos parâmetros exigidos para o
funcionamento desse tipo de aterro. Em campo,
pudemos observar características importantes do
aterro, tais como: perímetro cercado; vigilante;
2 Informações adquiridas por meio de entrevista realizada
com Gestores Ambientais da Prefeitura de Umuarama no
dia 23 de setembro de 2016. 3 Informações adquiridas por meio de entrevista realizada
com Gestores Ambientais da Prefeitura de Umuarama no
dia 23 de setembro de 2016.
balança para pesagem dos materiais que chegam ao
aterro; área ampla com possiblidade de construção de
várias células; células impermeáveis, revestidas com
geomembrana e estruturadas com canalização de gás
(para queima na saída) e chorume (para escoamento
às lagoas de tratamento), (vide figura 2); aterramento
e compactação dos resíduos dispostos na célula.
Figura 2: Estrutura da célula no aterro sanitário em
Umuarama - PR
Fonte: Angela Danielle Kuhn, 2017.
No entanto, gerir os resíduos sólidos de forma
integrada exige mais que destinar e dispor os resíduos
de forma ambientalmente adequada, pois sugere a
contemplação de diferentes dimensões, como a
ambiental, a econômica e a social por meio uma
mesma ação ou programa. Nessa direção,
constatamos a estratégia criada pelo poder público, e
desenvolvida por agentes sociais envolvidos,
denominado Programa Lixo que Vale (PLV).
O Programa Lixo que Vale foi criado em 2010 em
resposta a problemas com poluição ambiental
constatados nos bairros Jabuticabeira e Sete
Alqueires do município de Umuarama-PR. Nascentes
do Rio Piava (rio que abastece a cidade) estão
localizadas na área de proteção ambiental (APA)
localizada junto a esses bairros e estavam sendo
ameaçadas pela disposição de resíduos proveniente
desses bairros4.
4 Informações adquiridas por meio de entrevista realizada
com Gestores Ambientais da Prefeitura de Umuarama no
dia 23 de setembro de 2016.
59
O Programa Lixo que Vale motiva a participação
da comunidade envolvida através da moeda verde
que é uma moeda fictícia criada especificadamente
para atender ao PLV. Sua forma de utilização é a
seguinte: os cidadãos entregam os materiais
recicláveis à terceirizada contratada para a coleta
seletiva. No ato da entrega dos materiais recicláveis,
os coletores fazem a pesagem dos resíduos e,
conforme a composição, pagam ao cidadão,
fornecedor de recicláveis, em moeda verde. De posse
da moeda verde, é possível ir até a feira do PLV (que
é suprida com alimentos oriundos do banco de
alimentos, os quais são adquiridos dos pequenos
agricultores de Umuarama-PR) e trocar por
alimentos. Os alimentos adquiridos são de livre
escolha do cidadão participante do Programa Lixo
que Vale e têm preço variado como apresentado no
quadro a seguir:
Quadro 1: Valor dos alimentos da feira do PLV
Fonte: Umuarama, 2013.
Em vista a aceitação do PLV e participação pelo
público alvo, a administração pública decidiu ampliar
a aplicação do programa quanto à população
abrangida e dimensão contemplada. Assim, em 2013,
o Programa Lixo que Vale passa ser desenvolvido
também nos bairros Industrial, Alto da Glória, Serra
dos Dourados e Arco Iris, desta vez com enfoque
social, na tentativa de melhorar a qualidade na
alimentação de famílias carentes.
Há em torno de 500 pessoas cadastradas no PLV,
mas participam efetivamente da feira,
aproximadamente, 220 pessoas. Destaca-se que as
verbas utilizadas para a compra dos alimentos do
PLV são oriundas do Banco de Alimentos, esse que é
mantido por verba federal, através do Compra Direta.
Assim, os gastos da administração pública municipal
são com a contratação de terceirizada para a coleta
específica dos materiais recicláveis nos bairros
contemplados pelo PLV. O último contrato estava
fixado em R$15.000,00, por mês, para que a
Cooperuma fizesse a coleta seletiva. A condição
contratual para o pagamento era de que a cooperativa
coletasse, no mínimo, 20 toneladas de recicláveis por
mês.
Importa destacar que as várias ações que
abrangem a gestão dos resíduos sólidos em
Umuarama-PR são condizentes com a legislação
vigente sobre a temática. Dessa forma suas leis
municipais se apoiam e se afirmam nos textos
normativos de âmbito estadual e federal. Exemplos
perceptíveis em meio às observações em campo são:
a destinação a resíduos orgânicos e rejeitos ao aterro
sanitário; a parceria com a cooperativa de catadores;
a busca pela gestão integrada e responsabilidade
compartilhada.
No entanto, há problemas que se apresentam no
Programa Lixo que Vale: desde o ano de 2017 ele
está parado. Como mencionado, esse programa foi
criado em 2010 e tornado lei, na tentativa de manter a
sua continuidade ao longo dos anos. Entre 2010 e
2016, o PLV foi aplicado e, nesse intervalo, também
foi ampliado. Contudo, com a troca de gestão do ano
de 2016 para 2017 o programa foi parado e a
justificativa da administração pública é a falta de
verbas5.
A paralisação do PLV repercutiu em consequências,
tais como: desmotivação em separar os resíduos por
parte da população que antes era contemplada pelo
programa, o que reduziu de quatro a cinco toneladas
por semana o montante de materiais recicláveis
recebidos pela Cooperuma. Com essa redução, a
produção da cooperativa de materiais recicláveis caiu,
o que ocasionou a dispensa de quatro cooperados.
Além disso, as famílias que contavam com os
5 Informações adquiridas por meio de entrevista realizada
com Gestores Ambientais da Prefeitura de Umuarama no
dia 21 de junho de 2017.
60
alimentos da feira do PLV (por seis anos) estão
desamparadas há quase um ano.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Manter o andamento satisfatório da gestão integrada
pode apresentar obstáculos, entre eles de ordem
econômica ou de interesse da administração pública. O
município apoiou e possibilitou a existência da
cooperativa de catadores, com o objetivo da triagem de
materiais recicláveis presentes nos resíduos urbanos.
Também, garantiu disposição final ambientalmente
adequada para os resíduos não-recicláveis, de acordo
com os critérios do órgão regulador (o IAP), no aterro
sanitário municipal. Contudo, o programa inovador
criado como “solução integrada” para problemas
locais, o PLV, foi interrompido.
O Programa Lixo que Vale demostrou, durante a
sua vigência, resultados satisfatórios com relação à
preservação ambiental, geração de renda aos
cooperados e melhora na qualidade da alimentação de
famílias carentes.
No entanto, depois de seis anos de
desenvolvimento, o PLV teve suas atividades
paralisadas, o que notoriamente repercutiu em prejuízo
ambiental, econômico e social. Não há informações
quanto à situação atual da APA que estava sendo
protegida através do PLV. No entanto, reduziu-se o
montante de recicláveis coletados nos bairros que antes
eram contemplados pelo programa. Isso, por
consequência, diminuiu a renda obtida pela
cooperativa, o que ocasionou a dispensa de cooperados.
Dessa forma, o prejuízo ambiental condiz com a
redução de resíduos reinseridos na cadeia produtiva. O
prejuízo econômico e social está no desemprego de
cooperados que mantinham o sustento da família por
meio do seu trabalho na Cooperuma. O prejuízo social
também é presente entre as famílias carentes que
adquiriam seus alimentos na feira do PLV e que agora
estão a mercê do seu baixo poder aquisitivo.
Assim, nota-se a tentativa de gestão integrada dos
resíduos sólidos em Umuarama-PR, todavia percebe-se
a fragilidade do Programa Lixo que Vale tendo em
vista a sua dependência às ações dos diferentes agentes
sociais, com evidência a administração pública
municipal. Não basta ter a normativa se ela não é posta
em prática. Não basta ter a participação e apoio da
sociedade se o poder público não cumpre com o seu
papel em uma gestão de responsabilidades
compartilhadas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CALDERONI, Sabetai. Os Bilhões Perdidos no Lixo. 4.ed.
São Paulo: Humanistas Editora, 2003.
CORRÊA, Roberto Lobato. Estudos sobre a rede urbana.
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
EIGENHEER, Emílio, M. Lixo: a limpeza urbana através
dos tempos. Porto Alegre: Gráfica Pallotti, 2009.
Disponível em:
<http://www.lixoeeducacao.uerj.br/imagens/pdf/ahistoriad
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COOPERATIVA DOS TRABALHADORES E
PRESTADORES DE SERVIÇOS NA RECICLÁGEM DE
RESÍDUOS SÓLIDOS DE UMUARAMA. Primeira
Alteração do Estatuto Social, Umuarama, 2010.
MEDEIROS, Luiza, F. de R. et al. Profissão: catador de
material reciclável, entre o viver e o sobreviver. Revista
Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, v. 3, n.
2, p. 72-94, 2007.
NEVES, Fábio, O. Gestão Pública de Resíduos Sólidos Urbanos: problemática e práticas de gestão no oeste
paranaense. Curitiba, 2013. Tese (Doutorado),
Universidade Federal do Paraná.
UMUARAMA (Município). Projeto Lixo que Vale. 2013.
61
LOTEAMENTO FECHADO – A ILUSÃO DA SEGURANÇA E A NEGAÇÃO DA CIDADE
Wlademir Carlos Quaglioto Geografia, UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon, [email protected]
INTRODUÇÃO
Neste artigo apresentamos uma reflexão sobre
uma nova maneira de ocupação do espaço urbano
através da implantação de loteamentos fechados. Este
artigo busca analisar e trazer para discussão tais tipos
de moradia de forma fechada entre muros dos mais
diversos tipos. Este trabalho tem como objetivo
analisar a grande expansão da implantação de
loteamentos fechados, principalmente na cidade de
Francisco Beltrão, de iniciativa privada. O trabalho
identifica também a tipologia, de acordo com as
classes sociais de quem tem como pagar para viver
entre muros. E, ainda, aprofundar os entendimentos
sobre os impactos sociais e territoriais mais
complexos, causados pela implantação de
loteamentos fechados em cidades pequenas.
OBJETIVO
O presente trabalho tem a finalidade de trazer para
discussão a formação de loteamentos fechados nos
municípios brasileiros, onde a urbanização demonstra
as suas várias formas de ocupar o espaço urbano e
uma delas é a formação de loteamentos fechados,
cercados por muros, cercas e obstáculos de toda
forma possível, fazendo com que o acesso a estes
locais fechados seja feito somente onde é autorizado
e por pessoas autorizadas.
JUSTIFICATIVA
Trazendo para discussão porque vemos que pelo
papel na dinâmica urbana que represente ainda é
muito pouco discutido, pela interferência na
urbanização faz com que certas áreas das cidades,
não seja, acessada por um determinado grupo de
pessoas ou classes sociais, excluindo pessoas da sua
redondeza ou excluindo pessoas pela nova forma de
ocupar este espaço urbano.
Neste trabalho apresentamos a forma de como
estes loteamentos são erguidos, a forma de se fechar
dentro de muros, a necessidade da segurança, a
exclusividade de uma área de lazer, de arruamento e
de bosques verdes, sentindo-se diferente de outras
classes sociais que devido a não possuírem estas
condições financeiras vivem em outras áreas da
cidade.
METODOLOGIA
O foco central é o de compreender a busca por
moradia na cidade de Francisco Beltrão, mediante a
construção em loteamento fechado, esta maneira de
se autosegregar no espaço urbano.
A pesquisa é a partir de referências bibliografias
que ajudem na compreensão do objeto de estudo.
Além do referencial bibliográfico que apoiam teórica
e metodologicamente esta pesquisa, foram realizados
trabalhos de campo “in loco” do objeto de estudo
para compreendermos as transformações destes
empreendimentos, ocorridas pela instalação de
loteamentos fechado entre muros.
O recorte espacial é o do Loteamento Portal do
Sol, primeiro loteamento com características de estar
fechado entre muros, cercas de todo tipo de
segurança privada.
Realizadas visitas in loco para se observar
qualidade das casas, relação entre vizinhos, ou seja, a
relação entre os moradores de dentro do loteamento
fechado com os moradores de dentro e destes com os
moradores de fora dos muros.
62
RESULTADOS
A literatura apresenta como condomínios
fechados ou entre muros, os loteamentos e
desmembramentos do solo urbano, com fins de
construções habitacionais, os muros separam estes
loteamentos do restante da cidade.
Dentro dos muros a vida é vigiada de todas as
formas, por câmeras, por seguranças de todos os
tipos, apresenta um estilo de vida novo na ocupação
do espaço urbano das cidades brasileiras. Os
loteamentos fechados não são mais um fenômeno
isolado, mas uma nova versão de segregação ou auto-
segregação.
Caldeira (2000) denomina como “enclaves
fortificados”. Esses loteamentos fechados, segundo a
autora, modificam a forma como a população,
principalmente das classes média e alta consomem,
trabalha e gasta seu tempo de lazer, nestes espaços
fortificados. Eles também “estão mudando o
panorama da cidade, seu padrão de segregação
espacial e o caráter de espaço público e das
interações públicas entre as classes” (CALDEIRA,
2000, p. 258).
Segundo Moura (2004), esses guetos, ou enclaves
fortificados, seriam uma forma de apresentar uma
cidade fragmentada, na qual a livre circulação e o
acesso aos espaços públicos tornam-se mais difícil.
Estes espaços fechados, privados, e ainda
monitorados por diversos meios de segurança,
impedem o livre direito de circulação, fechando ruas
públicas, negando, assim, a convivência.
Esses loteamentos fechados através de muros,
segundo Caldeira (2000), o novo tipo de moradia
fortificada da elite, são lugares de difícil acesso a
população acessíveis apenas por automóvel. São
espaços privados do espaço urbano de uso coletivo,
prevalecendo o valor do privado e do restrito em
detrimento do que é público.
O principal marketing desses loteamentos
fechados, segundo Caldeira (2000), são os muros,
grades e espaços vazios que demarcam e isolam estes
do restante da cidade, com uma clara rejeição à vida
pública.
Segundo Silva (1995), regidos pela Lei 6766/79,
os loteamentos são fechados por ato do loteador ou
de uma associação de moradores, o que demonstra a
sua ilegalidade. Com efeito, os tais “loteamentos
fechados" juridicamente não existem; não há
legislação que os ampare, constituem uma distorção e
uma deformação de duas instituições jurídicas: do
aproveitamento condominial de espaço e do
loteamento ou do desmembramento.
Segundo Azevedo (1985), “Na verdade, o que
difere basicamente o loteamento comum do
„loteamento fechado‟, são na verdade a maneira de
instalação e a utilização dos espaços dos loteamentos,
o loteamento comum é formado com arruamento e
logradouros públicos acessíveis a toda a população,
já os loteamentos fechados possuem arruamento
privado e áreas verdes cercados por muros dos mais
diferentes tipos, que somente são acessíveis aos
moradores de dentro dos muros.
A busca por estes espaços fechados pela
população que tem como arcar com estes custos traz
ao debate algumas situações que as cidades ou o
Estado não dão conta de oferecer a população, como
a segurança pública. Segundo Caldeira (2000), “o
aumento da violência tem como contrapartida o
fracasso da justiça e da polícia em combater a
violência e a criação de formas inéditas de
discriminação social. [...] A maneira pela qual crime,
medo e desrespeito aos direitos dos cidadãos
associaram-se a transformações urbanas [...]
produzindo um novo padrão de segregação espacial
durante as duas últimas décadas”.
Está busca por segurança faz com que esta
população se desloque para áreas afastadas do centro
das cidades, buscando paz e tranquilidade se auto
segregando, não tendo vizinhança alguma por perto
63
ou se tiver que fiquem fora do alcance dos moradores
que ficam dentro dos muros.
Estes loteamentos fechados tem a mesma
composição na questão do fechamento e na
delimitação de sua área, trazendo para delimitar sua
área utilizam cercas de muros geralmente enormes
fazendo com que a população que resida dentro dos
muros não veja o que acontece fora deles, e fazendo
com a população que se aproxime ou circule por esta
região não consiga ver o que tem dentro dos muros.
Segundo Bauman (2007, p.83), “[...] as muralhas das
cidades eram utilizadas para defenderem toda a
população da cidade”, hoje esta muralha, cercas,
muros ou qualquer outro nome dado aos obstáculos
utilizados são para separar a própria cidade, seus
próprios habitantes.
A figura (1) apresenta a delimitação do
loteamento fechado “Portal do Sol”, do no município
de Francisco Beltrão, apesar de ser um município
pequeno com cerca de 87 mil habitantes, já apresenta
esta nova forma de utilização do espaço urbano, onde
nota-se o distanciamento com a vizinhança
indesejada.
Foto (1)
Fonte: Google Earth, 2017. Elaborada para este estudo.
Segundo Ueda (2006, p. 236), “A proliferação de
tais empreendimentos não é privilégio das pessoas
que vivem nas grandes cidades. Tal modelo tem-se
apresentado em cidades de porte médio, chegando até
as cidades pequenas”. Ueda (2006, p. 240), aponta
ainda que: “[...] as novas cidades, novas
urbanizações, novas periferias contribuem ainda mais
com a dispersão espacial. Estamos assistindo a um
processo de “guetificação do espaço urbano”.
Segundo Spósito (2006, p. 166), “Os agentes da
produção territorial dos espaços urbanos
contemporâneos, ao implantarem os loteamentos
fechados, consideram a acessibilidade como a
condicionante fundamental para a definição de suas
escolhas locacionais”.
A foto (2), apresente o portão principal do
“loteamento Pôr do Sol”, típico da nova forma de se
exilar, se auto segregar, este loteamento no início da
sua formação, foram encontrados alguns problemas,
como: telefonia, não era possível utilizar telefone
celular dentro do loteamento devido a não possuir
sinal móvel, a única saída para os moradores foi a
instalação em cada residência de uma antena
amplificadora de sinal de telefonia móvel.
Foto (2)
Fonte: Autor, elaborada para este estudo.
Outro problema era com a água canalizada da
empresa que fornece água ao município, a falta de
pressão fazia com que a água não chegasse ao
loteamento, e com isso os moradores construíram um
poço artesiano, para poderem ter acesso a água
potável, este poço não possui hidrômetro, pois não se
preocupam com consumo de água, devido ao poço
artesiano estar em um grande reservatório de agua
potável.
O terceiro problema foi o fechamento de uma rua
pública, com loteamento fechou a única rua que dava
acesso ao loteamento que se transformou em rua
64
principal para se ter acesso ao loteamento “Pôr do
Sol” foto (2), este problema gerou muitas
reclamações, pois esta rua era a única da região e foi
simplesmente construído o portão de acesso ao
loteamento fazendo com que as pessoas que se
deslocassem para aquela região da cidade tivessem
que procurar outro meio de acessá-la.
Como na maioria dos loteamentos fechados só há
um local de acesso para os moradores e para os
visitantes, o controle de quem entra e quem sai e
facilitado. Segundo Bauman (2007, p. 91), “[...] A
função latente das barreiras de fronteira,
aparentemente erguida contra “pessoas que estão
falsamente em busca de asilo” e migrantes
“meramente econômicos”, é fortalecer a existência
duvidosa, errática e imprevisível dos que estão
dentro”.
A foto (3) apresenta a forma de divisão de dentro
do loteamento, onde são usados muros somente na
delimitação dos lotes entre vizinhos, e de uma altura
que não atrapalhe a visão um do outro, fazendo com
que todos se sintam vigiados ou vigiando. A frente
das residências não pode haver nenhum tipo de
obstáculo.
Segundo Santos (2002), morar em um condomínio
fechado dá status, significa fazer parte do rol dos
privilegiados que podem morar isolados e protegidos,
convivendo com uma vizinhança homogênea,
desfrutando prazerosamente de equipamentos de
lazer e da comodidade de alguns serviços sustentados
pelo discurso contra a violência.
Roberts (2002) cita que “a questão do “status” se
manifesta no sentido de que, ao escolher uma
moradia que está entre muros, você está dizendo “eu
sou diferente". Na sociedade atual, as pessoas são
diferenciadas pela sua capacidade de consumo. E isso
existe até internamente nos condomínios”.
Caldeira (2000) acha que nos enclaves fortificados
o uso de materiais e as formas de construções
individuais favorecem ornamentos, irregularidades e
materiais ostentatórios que exibem a individualidade
e o de seus moradores.
Foto (3)
Fonte: Autor, elaborada para este estudo.
Os enclaves fortificados conferem status, Caldeira
(2000). A construção de símbolo de status é um
processo que elabora diferenças sociais e cria meios
para a afirmação de distância e desigualdades sociais,
para os moradores desses novos enclaves
habitacionais, qualidade de vida é entendida
principalmente pelas oportunidades que o novo
espaço propicia para a família, especialmente para as
crianças: brincar ao ar livre e sem a preocupação com
a rua e seus problemas.
A foto (4) possui duas imagens de como os
loteamentos fechados utilizam de barreiras de toda
ordem para se manterem distantes da população de
fora dos muros, na primeira imagem é utilizado um
muro para fechar uma rua pública a segunda
demonstra como os muros são erguidos e utilizam
concertinas para impedirem a entrada de pessoas
indesejadas.
65
Foto (4)
Fonte: urbanidades.arq.br/2009/08/os-muros/.
Caldeira (2000) O “status” é um dos fatores que
atraem as classes altas aos condomínios fechados.
Caldeira (2000) comenta que a construção de
símbolos desse “status” é um processo que elabora
diferenças sociais e cria meios para a afirmação de
distância e desigualdade sociais.
Segundo Bauman (2007, p. 78), “Nossas cidades
se transformam rapidamente de abrigos contra o
perigo em principal fonte desse mesmo perigo”, a
problemática da segurança pública só tem aumentado
nos últimos anos, levando a população a buscar
meios que acha seguro para morar no processo de
ocupação do espaço urbano.
Nesta dinâmica de ocupação deste espaço e na
formação deste loteamento para as pessoas que ficam
dentro destes muros há a expectativa de se sentir
seguro, protegido, diferente, de não fazer parte da
cidade do medo, da insegurança, do caus. Segundo
Bauman (1925, p 82), “Como todos nós sabemos, a
cerca tem dois lados... Elas dividem em “dentro” e
“fora” um espaço que seria uniforme – mas o que
está “dentro” para as pessoas de um lado da cerca
está “fora” para as do outro lado”.
Contudo estar dentro ou fora não quer dizer que
está dentro de um lugar e fora de outro, por mais que
esta classe tente se distanciar da outra, mais acaba
por se distanciar da cidade real. Segundo Bauman
(2007), aquela que tentam se esconder que tentam se
separar se distanciar, a cidade cheia de problemas
essa é a cidade que se tem para viver.
Conforme aponta Bauman (2007, p.83) “[...] Os
novos produtos urbanísticos, anunciados com maior
orgulho e mais amplamente imitados, são os “espaços
interditados”, “destinados a interceptar, repelir ou
filtrar os usuários potenciais”.
Conforme aponta Caldeira (2000) denomina como
enclaves fortificados, dos quais fazem parte também
escolas, hospitais, centros de lazer, shopping centers,
parques temáticos, conjuntos de escritórios e igrejas.
Esses empreendimentos, segundo a mesma autora,
modificam a forma como as pessoas, principalmente
das classes média e alta, vivem, consomem,
trabalham e gastam seu tempo de lazer.
Além disso, eles também “estão mudando o
panorama da cidade, seu padrão de segregação
espacial e o caráter de espaço público e das
interações públicas entre as classes” (Caldeira, 2000,
p. 258). Segundo Villaça (2001, p. 349), “A ideologia
do espaço urbano atinge seu nível mais estúpido e
perigoso nos condomínios suburbanos de alta renda,
quando pretende opor à cidade da minoria burguesa a
outra cidade: a da maioria pobre”.
“Outra cidade” (Villaça, 2001), “violenta pobre,
atrasada e com a qual elas não têm que ver”. A
produção da cidade contemporânea a partir dos
loteamentos fechados configura-se na negação do
espaço público, no aniquilamento da rua, da praça, do
encontro, da convivência.
Para Moura (2004), esses novos guetos, ou
enclaves seriam a síntese de uma cidade fragmentada,
na qual a manutenção dos princípios básicos de livre
circulação e de abertura de espaços públicos torna-se
mais difícil. Tais espaços privatizados, fechados e
monitorados inibem o direito de passagem, antes
garantido por ruas abertas, anulando, desta forma, a
convivência democrática, segundo a mesma autora.
Segundo Caldeira (2000), o novo tipo de moradia
fortificada da elite, não são lugares para os quais as
pessoas caminhem ou pelos quais passem, são
distantes para serem aproximados apenas por
66
automóvel. São espaços privados de uso coletivo,
com ênfase no valor do privado e do restrito em
detrimento do que são público e aberto na cidade.
Segundo Caldeira (2000), são os muros, grades e
espaços vazios que demarcam e isolam estes do
restante da cidade, com uma clara rejeição à vida
pública nesta. Eles se configuram como espaços
autônomos, independentes do entorno, podendo estar
situados em qualquer lugar. Caldeira (2000) faz uma
crítica aos condomínios fechados por estes criarem
espaços socialmente homogêneos:
(Moura, 2006). Ainda de acordo com a autora, a
violência não é a causa da existência dos
condomínios fechados, mas uma linguagem
simplificadora que localiza medos difusos.
(Caldeira, 1997 apud Moura, 2004). No outro
extremo desse quadro, têm-se espaços públicos
convertidos em áreas para o desenvolvimento de
alternativas ao desemprego, com o uso generalizado
ao comércio e serviço populares, informais,
associados ao uso do automóvel (lavadores,
cuidadores, vendedores, pedintes). Analisando esse
quadro Duhau (2001, apud Moura, 2004, p. 155)
conclui que enquanto as classes alta e média se
restringem ao uso de espaços privatizados,
deslocando-se entre eles através do carro, as classes
mais populares “colonizaram” os espaços públicos
por meio dessas práticas econômicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Estado tem o dever de colocar em prática a
legislação de regulação do espaço urbano, quando o
Estado se nega a regular o parcelamento do espaço
urbano ou se omite dá margem para que grupos se
organizem e regulem de forma que melhor lhes
convier.
Conforme apresenta o Estatuto da Cidade, a
propriedade deve cumprir a sua função social urbana,
entendendo-se essa função como o deslocamento, o
lazer, a moradia, o trabalho e a democratização do
espaço público para todos os seus moradores.
Essa nova maneira de ocupar o espaço urbano
através de loteamentos fechados, deixa claro que a
elite busca a fuga para as habitações muradas e pela
privatização do espaço público. Autorizada pelo
poder público que deixa de gerir estes espaços das
cidades, demonstra ser uma solução pouco
democrática, tornando assim um processo de
segregação ou auto segregação, antes de unir a
população das cidades acaba por separar ainda mais
esta mesma população, além de tirar do Estado o
dever de cumprir a legislação urbana.
Os loteamentos fechados se proliferam muito
rapidamente, principalmente, pelo fato dos recursos
serem investimentos da elite que busca ganho de
capital com estes investimentos. O que fica claro é
que esta nova forma de habitar o espaço urbano
interfere na maneira em que a população percebe a
cidade.
Esses loteamentos fechados passam a ter uma
importância muito grande um desejo da elite, de
quem pode pagar para morar nestas localizações
urbanas, mesmo chegando a se auto segregar, mas é o
desejo dessa elite que nega o restante da cidade.
Esses empreendimentos do tipo fechado entre
muros não provocam mais estranhamento entre a
população das cidades a forma de sua implantação ou
a forma que mudam a forma com que interferem na
paisagem urbana
Fica claro que o Estado tem um papel neste
mercado imobiliário na constituição do espaço
urbano para fins de moradia do tipo fechado entre
muros, com investimentos públicos com
infraestruturas e negligenciando com a legislação
urbana.
Considerando a atual situação da ocupação do
espaço urbano para fins de moradia, considerando
ainda a situação econômica do sistema capitalista, a
necessidade do auto isolamento e o individualismo,
67
faz com que os loteamentos fechados entre muros,
traz para a população de dentro dos muros a falsa
impressão de uma segurança inexistente, de um lazer
artificial.
A população que não tem acesso a estes
loteamentos fechados não sente toda problemática
que este novo uso do especo urbano traz a toda
sociedade esta população somente admira e sonha em
um dia poder morar assim, entre muros, como um
desejo inacessível.
No loteamento fechado não se tem a noção de
vida real da cidade, os espaços seguros impedem
circulação de pessoas diferente dos loteamentos mais
simples onde a vida acontece de maneira mais
simples, onde vemos pessoas circulando e crianças
brincando a cidade real acontecendo.
A legislação já traz no seu esboço algumas leis
para garantir a função social da propriedade para que
a cidade seja tratada de forma completa, sem garantir
benefícios à elite deixando de lado às outras classes
sociais, esta legislação precisa ser aplicada na sua
totalidade fazendo com que sejam aplicadas
melhorias a cidade real para toda população e não
transformar certas áreas da cidade em uma cidade
imaginaria para a grande maioria da sua população.
REFERENCIAL BIBLIOGRAFICO
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Rio de Janeiro, Ed: Jorge Zahar, 2007.
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algumas reflexões para o debate, Ed: Expressão popular,
SP, 2006.
SITE: <urbanidades.arq.br/2009/08/os-muros/>. acessado
em: set. 2017.
68
MIGRAÇÃO HAITIANA NO MUNÍCIPIO DE PALOTINA (PR) A PARTIR DA DÉCADA DE
2010
Ionara Ana Manfrin1
1 Mestranda em Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/ Marechal Cândido Rondon
INTRODUÇÃO
Atualmente entre os povos está se intensificando
as migrações internacionais. Os países recebedores
deste contingente populacional sofrem interferências
nos contextos político-econômico e sociocultural.
Para Becker (1997) desde as invasões dos povos
bárbaros asiáticos até os migrantes dos novos tempos,
grupos populacionais põem-se em movimento
lutando pela hegemonia de novos territórios, fugindo
de perseguições étnicas e repressões múltiplas,
vislumbram a possibilidade de terras e mercados de
trabalho promissores, ou simplesmente perambulam
em busca de tarefas que lhes assegurem a mera
subsistência.
Neste contexto de mobilidade humana e de
recepção de povos vindo do Haiti ao Brasil, traz o
presente trabalho uma investigação a migração
haitiana no munícipio de Palotina, Estado do Paraná,
debatendo a problemática no que se refere à migração
e suas respectivas. As diásporas1
haitianas, sua
formação, transformação cultural e os processos da
globalização que levam eles migrarem, merecem
estudos por razão dos constantes fluxos de
mobilidade desta população ao longo do tempo. Nos
alerta Hall (2003, p.43):
As identidades, concebidas como
estabelecidas e estáveis, estão naufragando
nos rochedos de uma diferenciação que
prolifera. Por todo o globo os processos das chamadas migrações livres ou forçadas estão
mudando de composição, diversificando as
culturas e pluralizando as identidades
culturais dos antigos Estado-nação
1 Dispersão de um povo em consequência de preconceito
ou perseguição política, religiosa ou étnica.
dominantes, das antigas potências imperiais
e, de fato, do próprio globo. Os fluxos não
regulados dos povos e culturas são tão
amplos e tão irrefreáveis quanto aos fluxos
patrocinados do capital e da tecnologia.
Temos a busca pelo capital neste mundo moderno
que condicionam as constantes em busca do trabalho.
Com o recente fluxo migratório ao Brasil o
governo criou a Lei de Migração nº 13.445/20172 aos
migrantes em geral e a mais específica ao haitiano a
Resolução Normativa nº 97/2012 onde estão
enquadrados no fator humanitário, sendo esse o
principal instrumento da política pública brasileira,
que lhes assegura residir legalmente e terem acesso
aos serviços públicos e ao mercado de
trabalho. Esclarecendo a situação do migrante por
George (1971, p.110),
de fato, uma parte dos emigrantes
temporários fixa-se no país de destino
quando existe a possibilidade jurídica de
assim proceder e também interesse
econômico.
OBJETIVOS
Discutir o processo de migração e a presença
haitiana no munícipio de Palotina, PR.
Avaliar a efetiva inserção da migração haitiana no
município de Palotina, PR;
Avaliar a relação entre a expectativa inicial e a
experiência atual no munícipio de Palotina, PR;
2 Esta Lei dispõe sobre os direitos e os deveres do
migrante e do visitante regulando sua entrada e estada no
país e estabelece princípios e diretrizes para as políticas
públicas, substituindo a Lei nº 6.815/1980.
69
Avaliar as oportunidades de trabalho aos haitianos
no munícipio de Palotina, PR;
Caracterizar a atividade laboral dos haitianos no
município de Palotina, PR.
JUSTIFICATIVA
Na atualidade, as migrações internacionais
apresentam-se de modo ainda muito complexa e
diversificada. Onde crises migratórias influenciam
nossa sociedade. Visto a crescente migração haitiana
no Brasil, inclusive no munícipio de Palotina, Estado
do Paraná, o fato de ser estudado e analisado, requer
uma necessidade de entender essa inserção
populacional no município, causando preocupações,
como: onde moram, onde trabalham e como estão
sendo inseridos no município. Acredita-se que a
entrada de haitianos em Palotina seja a atração de
empregos que a agroindústria de aves, a empresa
C.Vale3
proporcione, e a construção civil, entre
outros serviços. Bauman (2017) já confirma que
grande parte no planeta (regiões mais desenvolvidas),
tanto migrantes econômicos quanto refugiados
buscam abrigo, os interesses empresariais desejam
com firmeza o (e dão boas-vindas ao) influxo de
mão-de-obra barata e de habilidades lucrativamente
promissoras. A atração para Palotina (região menos
desenvolvida) também acaba sendo os interesses
empresariais e a busca do migrante pelo trabalho.
Para Becker (1997, p.324),
O capital pode escolher a força de trabalho
onde melhor lhe convier e da forma que lhe
for ainda mais rentável, pois crescem de
3 A empresa C.Vale é uma cooperativa agroindustrial com
atuação no Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e Paraguai. Possuindo
142 unidades de negócios, mais de 19.000 associados e
8.000 funcionários. Destaca-se na produção de soja, milho,
trigo, mandioca, leite, frango e suínos, e atua na prestação
de serviços, com mais de 260 profissionais que dão
assistência agronômica e veterinária aos associados.
forma assustadora os estoques de população
excedente.
Por mais que a emigração haitiana foi reforçada
pelo terremoto4
que abalou o país em 2010, o
haitiano emigrou em busca de uma vida melhor tendo
o trabalho como principal alicerce no país destino.
Entretanto, ao mesmo tempo que a força de
trabalho se estende sobre espaço, ela precisa se concentrar em pontos específicos, aqueles
que forem mais úteis à produção capitalista
(BECKER, 1997, p.335).
Palotina acaba sendo um ponto específico útil ao
capital e um espaço criador de trabalho ao migrante.
De certa forma, Haesbaert (2004) nos alerta que o
capitalismo é volátil, e tende a todo o momento a
destruir ou a confundir as nossas referências
territoriais comprovadas a nossa estreita liberdade.
Estamos destinados à “obrigação” constante do
movimento, da mobilidade ou mesmo da mudança.
Atualmente, nos deparamos com a situação de
movimento dentro do território, entre os territórios e
no mundo. A migração haitiana nos concede uma
reflexão de que estamos subordinados aos espaços
em que o trabalho nos proporcione uma vida melhor.
Para muitos migrantes ocorre um desprendimento
do território natal, sofrendo modificações em suas
relações sociais e de seu grupo, alterando a
organização da família e a divisão do trabalho
familiar. Segundo Sack (1986, p.78) afirma,
4 Terremoto de magnitude 7,0 na escala Richter atingiu o
país no dia 12 de janeiro de 2010, provocando uma série
de feridos, desabrigados e mortes. Outros dois ocorreram
logo em seguida, de magnitudes 5,9 e 5,5. Esse fato
promoveu grande destruição em Porto Príncipe, capital do
Haiti. Estima-se que metade das construções foram
destruídas, 250 mil pessoas ficaram feridas, 1 milhão de
habitantes desabrigados e, até o dia 26 de janeiro de 2010,
o número de mortos ultrapassava a 100 mil.
70
a territorialidade é uma estratégia para se
estabelecer diferentes graus de acesso às
pessoas, coisas e relações.
Segundo Haesbaert (2010), quando as pessoas
utilizam a terra, como elas próprias se organizam no
espaço e como elas dão significado ao lugar, elas
constituem a territorialidade, pois além de incorporar
uma dimensão mais estritamente política, diz respeito
às relações econômicas e culturais. Cada pessoa ou
grupo acaba exercendo poder na sua área ocupada.
A identidade nacional segundo Hall (2005), ela
permanece forte, especialmente com respeito a coisas
como direitos legais e de cidadania, mas as
identidades locais, regionais e comunitárias têm se
tornado mais importante. As influências culturais que
formam a identidade nacional do indivíduo, o mesmo
passa a produzir uma fragmentação cultural e até
mesmo essa mistura de culturas de povos que
migram. Diante disso, percebemos a influência da
globalização criando novas identidades, afirmando a
não homogeneização cultural e sim uma
“pluralização” de culturas nacionais e de identidades
nacionais, devido a grande mobilidade humana em
busca de chances de sobrevivência maior em países
ditos melhores (HALL, 2005). Pois, segundo Hall
(2005), em consequência das migrações de diferentes
culturas advindas dos mais variados lugares do
mundo, tornou impossível manter as identidades
culturais intactas e o não enfraquecimento das
identidades nacionais.
Vivemos num momento que a modernidade
impulsiona a mobilidade populacional, o processo da
globalização faz deslocar-se as identidades nacionais.
O haitiano não vê o mundo como via antes, mudará
suas condições sociais, econômicas e culturais, onde
será capaz de transformar o lugar que está inserido. A
cultura haitiana e a palotinense sofrerão mudanças,
adaptações e construirá novo modo de vida no lugar.
Assim acontece uma mistura e uma soma de
apropriação de espaços. Essas pessoas estão
transformando suas vidas, apropriando-se do espaço,
com modos de vida diferentes, capazes de acrescentar
em suas culturas experiências que darão novos
sentidos as suas vidas. A identidade não é uma coisa
acabada, ela está em andamento (HALL, 2005). Toda
essa transformação cultural enriquece o lugar
destinado e o próprio migrante.
A importância de se ter esse entendimento do
drama vivido pelos migrantes haitianos em nosso
país é pretendido para sensibilizar os adultos e
crianças de todos os lugares, em especial, no
município de Palotina- PR. Como Bauman (2017, p.
24) nos convida a solidariedade, “a humanidade está
em crise, e não existe outra saída para ela senão a
solidariedade dos seres humanos”. Acreditamos no
diálogo com esses povos migrantes, então reforçados
no entendimento de Bauman (2017) o mesmo coloca,
a conversa como caminho supremo para um acordo e,
assim, para uma convivência pacífica, colaborativa e
solidária. Com conhecimento cria-se um movimento
em defesa da vida e da preservação da humanidade
do homem (IOKOI, 2000).
MEDODOLOGIAS E RESULTADOS
Este estudo terá como objetivo central descrever e
analisar a migração haitiana para Palotina- PR, sob o
ponto de vista da inserção social, econômica e
cultural, no munícipio. O estudo requer uma pesquisa
de fatos e acontecimentos. Por meio de entrevistas
estruturadas e semiestruturadas, coletará dados
suficientes para refletir sobre o impacto causado na
vida dessas pessoas, justificando e abordando muitas
questões relativas ao objeto de estudo. Visto que atrai
uma preocupação grande na comunidade palotinense,
dos mais diversos órgãos públicos e privados em
relação aos imigrantes haitianos.
Segundo Zeni (2014, p. 19),
[...] a carência de uma política pública para o
atendimento ao migrante internacional,
colocada à prova pela expectativa
71
internacional de que o Brasil possa acolher
um número ainda maior de migrantes
internacionais torna-se um problema a ser
enfrentado pelos governos de todos os
níveis: união, estados e municípios e por
diferentes atores individuais e institucionais.
Percebe-se assim percebe uma dificuldade de
inserção dos imigrantes no munícipio, ora econômica
ora por falta de assistência social.
A vinda de haitianos para o Brasil tem sido
considerada a maior onda imigratória ao país em cem
anos, comparada historicamente aquela de italianos e
japoneses que aportaram no país no período imperial
e nos primeiros anos de República (FOLHA, 2012).
Então há uma necessidade de estudo, considerando
que este estudo abordará um levantamento de dados
qualitativo e quantitativo, onde buscaremos trazer
informações num contexto local, que suscitará numa
reflexão científica sobre o tema.
Para coletar os dados irão ser convidados para
participarem da entrevista aleatoriamente, por
acessibilidade. Os entrevistados autorizarão a
realização e gravação das entrevistas, mediante um
termo assinado de responsabilidade para tal pesquisa.
Após a coleta e transcrições os dados serão
analisados buscando deixar os sujeitos falarem sobre
o tema recorrente no campo empírico da entrevista.
Todos os temas abordados para o entrevistado gerará
novas reflexões e esclarecimentos às questões da
própria pesquisa.
Pretende-se entrevistar alguns migrantes haitianos
e alguns palotinenses que fazem parte de diversos
setores da sociedade civil e a empresa C.Vale. A
quantidade pretendida das entrevistas acontecerá no
decorrer do estudo. A pesquisa empírica demonstra
um aprendizado amplo dos fatos, uma vez que
aprendemos por meio das experiências vividas e
presenciadas por essas pessoas, assim poderemos
obter importantes informações para melhor
entendimento da situação que estão vivendo em
nosso país.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considera o objetivo do texto, que se pautou em
analisar a migração haitiana e sua territorialização em
Palotina- PR a partir da década de 2010 verificou-se
que o governo brasileiro demonstrou cooperação e
soberania a entrada desses imigrantes. Para revolver
esta difícil problemática dos imigrantes haitianos no
território brasileiro, esse acolhimento por parte do
governo através da Medida Provisória 97/2012, onde
amplia e estabelece o direito do imigrante haitiano de
entrar no Brasil, com visto humanitário. O
documento protege aos haitianos e regulamentam sua
permanência em território brasileiro em cinco anos.
O visto humanitário reconhece o imigrante haitiano,
como alguém que tenha fugido de situações difíceis
de sobrevivência, o terremoto ocorrido em janeiro de
2010, que destruiu o país, deixando-o numa
vulnerabilidade econômica, financeira, social e
política. Em decorrência do terremoto e muitas
instabilidades políticas ao longo da história no Haiti,
foram motivos para ser um país diásporo.
No tocante fluxo de imigrantes haitianos entrando
no Brasil, ocorre uma territorialização do espaço no
munícipio de Palotina- PR, influenciando o
desenvolvimento local com transformações sociais,
culturais e econômicas. Portanto, pode-se concluir
que esse povo vai se organizando no espaço e
construindo suas territorialidades. Nas relações
sociais cria-se uma problemática que vem atuando no
cenário palotinense.
Nesse estudo a descrição e análise da situação
haitiana no munícipio requer uma pesquisa para o
entendimento das condições socioeconômicas dessa
migração.
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2, 2014. p. 11-27.
73
O TURISMO NA ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA) DELTA DO PARNAÍBA – MA,
PI E CE – BRASIL
Rita de Cassia Pereira de Carvalho1; Mauro José Ferreira Cury
2; Milton Augusto Pasquotto
Mariani3
1Mestrado em Geografia, UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2UNIOESTE/Campus de Foz do Iguaçu; 3Universidade Federal do Mato Grosso do Sul/Campus de Campo Grande.
INTRODUÇÃO
A abordagem geográfica em áreas naturais
protegidas contribui para o entendimento das relações
numa perspectiva de desenvolvimento territorial.
Logo, esse trabalho tem como objetivo apresentar as
principais atividades turísticas que são praticadas na
Área de Proteção Ambiental (APA) Delta do
Parnaíba, MA, PI e CE, uma Unidade de
Conservação (UC), que abrange no total de oito
municípios, sendo eles: Araioses e Tutoia, no estado
do Maranhão, Ilha Grande, Parnaíba, Luís Correia e
Cajueiro da Praia, no estado do Piauí, Barroquinha e
Chaval, no estado do Ceará, com área de 307.590,51
hectares e caracterizada pelo bioma marinho costeiro
(BRASIL, 1996).
De acordo com Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza (SNUC), APA é uma área,
de modo geral extensa, com uma proporção de
ocupação humana, dotada de atributos abióticos,
bióticos, estéticos ou culturais, que são importantes
para a qualidade de vida e o bem-estar das
populações humanas. O seu objetivo é a proteção da
diversidade biológica, disciplinar o processo de
ocupação e proporcionar a sustentabilidade do uso
dos recursos naturais. É válido ressaltar que de modo
geral uma APA é constituída por terras públicas e
privadas (BRASIL, 2000).
A APA Delta do Parnaíba tem como objetivos a
proteção dos deltas que pertencem aos rios Parnaíba,
Timonha e Ubatuba, bem como a sua fauna, flora e
complexo dunar, proteção dos remanescentes de mata
aluvial e dos recursos hídricos, melhoria da qualidade
de vida das populações residentes, mediante
orientação e disciplina das atividades econômicas
locais, fomento ao turismo ecológico e a educação
ambiental, preservação das culturas e das tradições
locais (BRASIL, 1996).
Tendo em vista o potencial para o turismo desse
território, pois integra o projeto Rota das Emoções,
juntamente com os Parques Nacionais dos Lençóis
Maranhenses (MA) e Jericoacoara (CE).
Esse projeto é resultado da Política Nacional de
Turismo 2003-2007, através do Programa de
Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil, com
o objetivo de descentralizar e incrementar a oferta
turística brasileira.
Nesse interim, o turismo tem sido um importante
vetor de desenvolvimento na região. A Organização
Mundial de turismo (OMT) definiu turismo como as
atividades que são realizadas por pessoas durante as
viagens para os lugares diferente do habitual, por um
período inferior a um ano, com fins de lazer,
negócios, saúde, ou outras finalidades (OMT, 2001).
Enquanto atividade, o turismo tem um papel
fundamental na transformação de territórios e
mudanças nas territorialidades de um dado lugar em
que está inserido, mas como qualquer outra atividade,
necessita de planejamento e políticas públicas
inclusivas. E não somente que os empresários sejam
beneficiados. O turismo provoca mudanças no lugar
através da melhoria da infraestrutura tanto básica
quanto na turística. Além de incrementar outros
setores que se tornam possíveis atrativos agregados,
como a cultura e a gastronomia.
As perspectivas de desenvolvimento turístico na
APA Delta do Parnaíba se dão principalmente pelo
ecoturismo, que de acordo com o Ministério do
Turismo (MTUR) “é um segmento da atividade
74
turística que utiliza, de forma sustentável, o
patrimônio natural e cultural, incentiva sua
conservação e busca a formação de uma consciência
ambientalista através da interpretação do ambiente,
promovendo o bem-estar das populações” (MTUR,
2009, p. 09).
Entretanto, é importante que se tenha a
articulação dos setores públicos, iniciativa privada e
da comunidade tradicional para o desenvolvimento
ordenado do ecoturismo, principalmente nessa UC
que tem como pré-requisito a conciliação do uso
público e privado das terras.
Nesse aporte, em consonância a um dos objetivos
de criação da APA Delta do Parnaíba, o ecoturismo
se insere como uma atividade realizada, nesse caso,
realizada em áreas naturais protegidas, com o
objetivo do uso sustentável dos recursos naturais e
ainda promover a valorização tanto ambiental quanto
cultural. Além de fomentar a interpretação ambiental
da biodiversidade e promover a educação ambiental.
A geografia se insere nesse tema a partir das
abordagens do território e de suas territorialidades.
Saquet afirma que o território “é o resultado e
condição da reprodução da relação social-natural. Há
no território, a multidimensionalidade do homem,
que é natureza e sociedade ao mesmo tempo”
(SAQUET, 2015, p. 173). Percebe-se que nessa
perspectiva o território é intrínseco as relações tanto
sociais, quanto naturais, tal como são apresentadas na
APA Delta do Parnaíba. As territorialidades, aqui,
são circunscritas como as relações em si, baseadas
em ações no território. É aquilo que o homem faz
para se manter naquele local, se sentir pertencido ao
território, ao ser inerente e multidimensional a vida
da sociedade (RAFFESTIN, 1993).
Ao se abordar o aspecto multidimensional, Saquet
(2015) explica que a territorialidade se refere ao
conjunto de coisas que vive no cotidiano, como as
relações de trabalho (formal e informal), com a
família, entre outras. Haesbaert (2007) diz que a
territorialidade incorpora mais do que a dimensão
política, incorpora as relações sociais, econômicas e
culturais, pois está relacionada ao modo que o
território é utilizado pelas pessoas, dando, assim,
significado ao lugar.
Logo, a territorialidade se define como um
fenômeno social, pois envolve os indivíduos que
fazem parte de um mesmo ou diferente grupo social
(SAQUET, 2009).
Portanto, as abordagens de território e das
territorialidades nele inseridas, fundamentam a
questão do turismo em áreas naturais protegidas, no
caso, na APA Delta do Parnaíba. Tendo em vista, que
nessa área vivem comunidades de pescadores
artesanais, catadores de marisco, caranguejo,
camarão, agricultores de subsistência, que não estão
inseridos na atividade turística, entretanto, não são
vistos de forma inclusiva no processo, apenas são
pessoas que tiveram suas atividades tradicionais
divididas com o turismo. Alguns desses moradores
têm vínculo informal com a atividade turística.
MATERIAIS E MÉTODOS
O embasamento metodológico para esse trabalho
consistiu em numa abordagem qualitativa, pois é
estabelecido um vinculo indissociável entre o sujeito
e a subjetividade do sujeito pesquisado. Para atingir o
objetivo proposto inicialmente, foi realizada uma
pesquisa exploratória para o levantamento do
material bibliográfico disponível sobre as discussões
de território, territorialidades e turismo abordadas.
Além de ser descritiva, pois busca tratar das
características e peculiaridades do turismo na APA
Delta do Parnaíba. Para o levantamento das
potencialidades turísticas foi realizado a observação
para a obtenção de dados de determinados aspectos
da realidade e conversas informais com os pescadores
e moradores locais. O período de coleta de
informações aconteceu entre dezembro de 2016 a
fevereiro de 2017 e são apresentados nos resultados.
75
RESULTADOS
A APA Delta do Parnaíba apresenta potencial para a
prática do ecoturismo por ser uma área que agrupa a
“conservação do ambiente visitado, seja ele natural ou
cultural; a conscientização ambiental, tanto do turista
como da comunidade receptora; e o desenvolvimento
local e regional integrado” (KINKER, 2002, p. 19).
Dentre todos os atrativos naturais e culturais,
apresentamos os mais visitados na APA Delta do
Parnaíba:
a) Rota do Cavalo Marinho
É realizado pelos condutores de visitantes locais,
o passeio é feito em barcos movidos a remo por braço
do rio Camurupim, no trajeto é possível observar as
espécies de mangues, aves, moluscos e crustáceos,
seguindo até a ilha onde os cavalos marinhos são
encontrados. Os animais são retirados em um
recipiente próprio para observação e depois é
devolvido ao seu ambiente.
b) Cajueiro Rei
Em Cajueiro da Praia está localizado o maior
cajueiro do mundo, estima-se que ocupe uma área de
8.810 km² e com idade aproximada de 200 anos. É
possível realizar a visitação ao cajueiro acompanhado
de condutores de visitantes locais.
c) Projeto Peixe Boi Marinho
O município de Cajueiro da Praia é o berçário de
preservação do Peixe Boi Marinho, que é animal
ameaçado de extinção. Há um projeto em execução
para o monitoramento dos animais com base fixa nas
águas do rio Timonha. Na sede do Centro de
Mamíferos de Cajueiro da Praia há um museu para a
sensibilização ambiental dos visitantes. A observação
do Peixe Boi Marinho no seu habitat natural pode ser
realizada três vezes por semana, quando a equipe de
biólogos realiza o monitoramento da espécie na base
fixa.
d) Praia de Barra Grande
Está localizada no município de Cajueiro da Praia,
é uma das praias mais procuradas do litoral piauiense
por conta de sua tranquilidade. O local é propicio
para caminhadas e a pratica de esportes de aventura
como o Kite surf. A praia possui estrutura de meios
de hospedagem e equipamentos de alimentos e
bebidas (A&B).
e) Porto das Barcas
Localizado no centro histórico de Parnaíba, as
margens do rio Igaraçu, no seu apogeu foi um
importante entreposto comercial para o escoamento
da produção de charque e cera de carnaúba.
Atualmente o seu uso é para fins turísticos e com
alguns equipamentos de agenciamento e A&B.
f) Praia da Pedra do Sal
Única praia localizada no município de Parnaíba,
distante 12 km de Parnaíba. O lugar possui um farol
entre o conjunto de rochas que divide o mar agitado,
do lado leste, das águas mansas do lado oeste. Tem
esse nome devido a quantidade de sal que se forma
nas cavidades das rochas. Ao longo do percurso é
visível a quantidade de torres de energia eólica pela
paisagem. Da costa é possível ver o pôr do sol, que é
considerado um dos mais bonitos do Piauí.
g) Rendeiras do Morro da Mariana
Localizada no munícipio de Ilha Grande, a casa
das rendeiras é feita a produção da renda de bilro e é
repassada de geração para geração. É um produto de
fama nacional e internacional por conta de sua
qualidade e delicadeza.
h) Santuário de Nossa Senhora Mãe dos
Pobres
Está localizado no centro de Ilha Grande e possui
peças fabricadas com argila pelos artistas locais. A
ideia da construção é do padre italiano Pedro Quiritti,
que com o auxílio de outros sacerdotes trouxeram a
76
imagem da Europa e fixaram no ponto mais alto do
Morro da Mariana em janeiro de 1989. No santuário
a visitação é gratuita, e conta com estrutura de um
mirante, onde é possível visualizar a cidade.
i) Ilha das Canárias
É a segunda maior ilha do Delta do Parnaíba,
pertence ao município de Araioses-MA. É situada
junto à barra das Canárias, limite dos estados do
Piauí e Maranhão. A ilha é povoada por pescadores
tradicionais e agricultores, possui estrutura de
pousadas e restaurantes e um pequeno local para
atracar as pequenas embarcações com os turistas.
j) Ilha dos Poldros
A Ilha dos Poldros é composta por vegetação
nativa, com dunas e cercadas pelas águas do encontro
do rio com o Oceano Atlântico, é propicia para a
pratica de esportes a vela por conta dos ventos
constantes, além de ser o ponto de parada para banho
das embarcações que fazem o passeio do Delta
Tradicional.
k) Ilha do Caju
A Ilha do Caju é uma ilha privativa, pertence à
família Clark, mas é possível realizar a visitação. O
passeio sai do Porto dos Tatus, passa pelo Igarapé do
Guirindó e Morro do Meio, chegando a Ilha do Caju
é possível observar a diversidade de ecossistemas,
com mangues, dunas, matas, campos alagados de
água salgada, durante a permanência na ilha pode-se
visualizar animais silvestres como, tatus, cotias, gato-
maracajás, tucanos, jacaré de papo-amarelo,
guaxinins, veados, raposas, pica-paus, macacos
guariba e prego, guarás, garças, entre outros. A Ilha
tem uma extensa plantação de cajueiros, que dão
nome ao lugar.
l) Delta tradicionalO passeio realizado em
embarcações com capacidade até 110 visitantes, com
duração média de seis horas. Durante o percurso é
possível observar a fauna e a flora da região, o
igarapé periquitos, rios e manguezais, encontro das
águas (rio Parnaíba com o Oceano Atlântico). São
realizadas duas paradas para banho na Ilha dos
Poldros e Morro Branco.
m) Revoada dos Guarás
O passeio sai do Porto dos Tatus em direção a Ilha
do Caju, no percurso é possível observar as Ilha do
Bananal, Guirindó, Manguinho, Engraça, Morro do
Meio e Ilha das Cobras. O Guará é uma ave típica do
Delta do Parnaíba com coloração avermelhada, essa
cor é explicada por sua alimentação ser à base de
caranguejos. O melhor período para esse passeio é de
julho a dezembro por ser sem chuvas na região.
n) Delta Safari
Esse passeio é realizado ao dia ou à noite em
lancha rápida com saída do Porto dos Tatus e
percorre o labirinto de ilhas do Delta até o Igarapé do
Guirindó, onde é possível visitar as pequenas
ramificações do igarapé e observar as espécies
animais como, o macaco guariba e prego, cobras,
morcegos, iguanas, jacarés do papo-amarelo, várias
espécies de pássaros e caranguejos.
o) Delta Feijão Bravo
O passeio tem saída do Porto dos Tatus passando
pelo Igarapé dos Periquitos, Baía das Canárias,
Igarapé dos Poldros e parada na Ilha dos Poldros para
banho, segue em direção a Ilha da Barreira e em
seguida a formação de dunas da Baía do Feijão
Bravo.
p) Balneário São Raimundo
O balneário é localizado na comunidade de Cana
Brava, município de Araioses, é considerado o
paraíso do rio Magu, pois tem águas cristalinas e frias
que o tornam um espaço de lazer com local reservado
para a pesca esportiva.
77
q) Travessia Delta Tatus-Tutoia
Esse passeio é realizado com saída do Porto dos
Tatus com tour pelo rio Parnaíba e os seus igarapés,
durante o percurso são realizadas paradas para banho
e caminhadas no Morro do Meio, Baía do Caju e Ilha
Grande dos Paulinos para conhecer a cidade
fantasma, que é uma herança da existência de uma
salina em meados do século XX, se segue até Tutoia-
MA. O passeio também pode ser realizado no sentido
Tutoia-Tatus.
r) Passeio Ilhas do Delta – Tutoia
O ponto de saída é do caís do Porto de Tutoia em
direção a algumas ilhas do Delta do Parnaíba,
passando pela Ilha do Cajueiro, Melancieira, Pontal
da Melancieira e Ilha do Coroatá, nessa ilha é
realizado o almoço, descanso e trilhas ecológicas. O
passeio segue até a Ilha dos Guarás para observar a
revoada.
s) Pedra do Céu
É um atrativo que representa a luta pela
sobrevivência dos moradores de Chaval no período
de seca em 1954, nesse local foi construída por
Monsenhor José Carneiro, uma piscina entre os
monólitos para que a população pudesse sanar a sede.
t) Pedra da Carnaúba
Esse local é considerado o mais alto ponto de
Chaval, no seu topo há uma cratera com carnaúbas no
seu interior, no período chuvoso na região é formado
lagos propício para banho. Nesse atrativo é possível
praticar rapel, escalada e camping.
u) Pedra da Santa
É um dos atrativos de Chaval, é localizado
próximo ao Açude Cruzeiro e a Fazenda são Lino,
sendo difícil o acesso por conta da vegetação e a
rocha de característica íngreme.
v) Pedra do Letreiro
Está localizado no lado oposto da Pedra da Santa
em Chaval. É um atrativo rodeado de lendas por
conta de possuir algumas plantas em formas de letras
que nunca secam. Uma das lendas diz que no local da
rocha era um castelo com uma princesa, um bruxo
local apaixonado e não correspondido, ele
transformou o castelo em rocha e o encanto será
quebrado quando alguém conseguir decifrar os
escritos da rocha.
w) Porto do Mosquito
Localizado em Chaval, o Porto do Mosquito é um
dos pontos turísticos mais visitados. É um local
tranquilo para banho, entre as atividades que podem
ser realizadas podemos citar, caminhada, pescaria,
pratica de caiaque e vela. É uma região de mata
nativa e ainda pouco explorada pelo turismo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebe-se que a APA Delta do Parnaíba tem
potencial para a prática do ecoturismo, entretanto deve
haver o planejamento da atividade, e também ser
considerado um estudo de capacidade de carga, ainda
inexistente, tendo em vista que se trata de um ambiente
de frágil biodiversidade.
As comunidades ainda não estão inseridas de forma
inclusiva tanto no planejamento quanto na atividade,
mas observa-se que há o Conselho Consultivo da APA
Delta do Parnaíba atuando de forma dinâmica na
tomada de decisões importantes, e nele estão
representantes tanto do poder público quanto das
comunidades que fazem parte desse território.
As potencialidades apresentadas confirmam a
atratividade para região. Os passeios são realizados por
agências localizadas nos municípios de Parnaíba, Ilha
Grande, Tutoia e Chaval. O turismo pode se tornar uma
atividade inclusiva e de fomento para o
desenvolvimento territorial, mas é importante que seja
considerado as comunidades tradicionais, não apenas
78
como moradores, mas sua opiniões sejam incluídas na
tomada de decisão.
AGRADECIMENTOS: Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela
concessão da bolsa para a pesquisa de mestrado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Decreto de criação da APA Delta do Parnaíba, de
28 de agosto de 1996. Brasília, 1996.
BRASIL. Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição
Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza e dá outras providências. Brasília,
2000. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9985.htm>.
Acesso em: 22 out. 2016.
HAESBAERT, Rogério. Identidade territoriais: entre a
multiterritorialidade e a reclusão territorial (ou: do
hibridismo cultural à essencialização das identidades). In.:
ARAÚJO, Frederico Guilherme; HAESBAERT, Rogério.
(Org.) Identidade e Territórios: questões e olhares
contemporâneos. Rios de Janeiro: Accss, 2007.
KINKER, Sônia. Ecoturismo e conservação da natureza em
parques nacionais. Campinas: Papirus, 2002.
MTUR, Ministério do Turismo. Marcos Conceituais.
Brasília: MTUR, 2009.
OMT. Organização Mundial de Turismo. Introdução ao
Turismo. Madrid, 2001.
RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São
Paulo: Ática, 1993.
SAQUET, Marcos Aurélio. Por uma abordagem territorial. In.: SAQUET, Marcos Aurélio; SPOSITO, Eliseu Savério.
(Orgs.). Território e Territorialidades: teoria, processos e
conflitos. São Paulo: Expressão Popular, 2009.
______. Abordagens e concepções sobre o território. São
Paulo: Outras Expressões, 2015.
79
SOBRE A JUVENTUDE CAMPONESA: DEBATES TEÓRICOS
Jéssica Aparecida de Ávila Follmann Mestranda do PPGG, UNIOESTE /Campus de Marechal Cândido Rondon/PR, E-mail: [email protected] ;
INTRODUÇÃO
O presente trabalho se refere às discussões
teóricas acerca da juventude camponesa no Brasil.
Debates estes, correlacionados com a pesquisa de
pós-graduação, nível mestrado, que está sendo
desenvolvida pela autora. A referida pesquisa tem
como objetivo principal debater, analisar e
compreender as diferentes possibilidades e
dificuldades encontradas para a reprodução da
juventude camponesa em áreas de luta pela reforma
agrária (assentamentos e acampamentos), nos
municípios de Laranjeiras do Sul e Rio Bonito do
Iguaçu/PR, ambos localizados na mesorregião
Centro-Sul paranaense.
As possibilidades e dificuldades encontradas para
a reprodução do campesinato, ou a permanência da
juventude camponesa no campo são inúmeras.
As dificuldades a que referiu-se acima podem
estar diretamente correlacionadas com o fato de que
campo brasileiro não foge à regra de uma sociedade
no moldes patriarcais (OLIVEIRA, RABELLO,
FELICIANO, 2014). E para além disso, uma falta de
políticas públicas voltadas para ao campo e para sua
juventude. Nisso, destaca-se a falta de acesso à terra
para a juventude camponesa e a inevitável
necessidade de migrar, o que possibilita, muitas
vezes, a permanência do jovem no ambiente
camponês.
Sendo assim, o presente trabalho visa dialogar
com os diferentes debates teóricos acerca da
juventude camponesa no país. Da mesma forma,
possui como objetivo dialogar com as realidades
apresentadas e, até mesmo, construídas pelos jovens
camponeses atualmente.
MATERIAIS E MÉTODOS
A pesquisa está sendo desenvolvida pela autora
atrelada ao Programa de Pós-Graduação em
Geografia, nível de Mestrado. Área de Concentração:
Espaço de Fronteira: Território e Ambiente, linha de
pesquisa: Dinâmica Territorial e Conflitos Sociais em
Espaço e Fronteira, pela Universidade Estadual do
Oeste do Paraná – UNIOESTE, campus de Marechal
Cândido Rondon/PR.
A pesquisa divide-se basicamente em três fases de
desenvolvimento. Sendo elas: fase inicial, composta
pelo levantamento bibliográfico e construção do
projeto de pesquisa; fase intermediária, caracterizada
pela continuidade do levantamento bibliográfico,
construção da redação de dissertação e planejamento
e realização de levantamentos de campo e uma última
fase, composta pela qualificação e finalização da
dissertação. O presente trabalho está diretamente
correlacionado a segunda fase da pesquisa, a qual se
encontra em desenvolvimento.
Portanto, este trabalho será composto pelas
discussões teóricas interligadas com a pesquisa:
leituras de livros, dissertações, teses e artigos de
revistas que abordem a temática da pesquisa. E se
dividirá em três momentos. Num primeiro momento
do texto abordar-se-á as concepções entorno do
conceito de juventude, correlacionando com
juventude camponesa, sequencialmente, serão
discutidas as abordagens para com a permanência ou
saída do jovem1 do campo e seus desdobramentos,
finalizando serão levantados alguns questionamentos
sobre o futuro dos jovens camponeses.
1 A palavra “jovem” destacada pelo presenta trabalho
inclui todas as identidades de gênero.
80
RESULTADOS
Abordar a temática sobre juventude exige, em
primeiro momento, a compreensão de que são
inúmeras as caracterizações para com esses sujeitos.
São considerados jovens, em várias pesquisas
sobre o tema, aqueles sujeitos que estariam dentro da
abrangência da faixa etária dos 15 aos 24 anos.
Órgãos internacionais como a Organização das
Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
(UNESCO), recomendam o reconhecimento como
jovem para os sujeitos que comporiam a faixa etária
supracitada (KUMMER; COLOGNESE, 2013).
Todavia, outros autores, destacam que a juventude
poderia ser analisada como uma fase de vida que se
estenderia dos 15 aos 29 anos, ou mesmo, que não
deveria ser compreendida através de idades pré-
determinadas, mas que estaria correlacionada com
questões puramente sociológicas, diferenciando-se de
indivíduo para indivíduo (KUMMER;
COLOGNESE, 2013).
Para além de um recorte etário, juventude é “além
de uma categoria que representa identidades sociais,
uma forma de classificação social [...] uma categoria
marcada por relações de hierarquia social”
(CASTRO, et. al. 2009, p. 44). Hierarquia esta,
presente em todos os recortes sobre juventude. Seja
essa juventude compreendida como urbana, rural,
periférica, camponesa, quilombola, entre outras.
As discussões sobre juventude abrangidas pelo
trabalho em questão, refletem-se principalmente pela
caracterização de juventude camponesa e suas
perspectivas futuras. Ressalta-se que a juventude
camponesa compreendida pelo trabalho está
diretamente correlacionada com a juventude presente
nos espaços de luta pela terra/reforma agrária,
acampamentos e assentamentos.
Os desafios encontrados no campo, para com a
juventude camponesa não são poucos. Ser jovem
nesse espaço corresponde, majoritariamente, em
exercer o papel de sucessor da família e futuro
camponês, ao passo que representa uma desconfiança
e incerteza por parte dos sujeitos com idades mais
avançadas.
O jovem carrega consigo a reponsabilidade “pela
continuação das lutas e permanência dos camponeses
nos territórios conquistados pelos trabalhadores, na
perspectiva de construção e consolidação do modo de
vida camponês” (OLIVEIRA; RABELLO;
FELICIANO, 2014, p. 136). Ao passo que, sofre com
o estigma de que ficar no campo é a última
alternativa para sua vida futura.
Nessa perspectiva, além de ser comumente
correlacionado ao futuro do campesinato, o jovem
responde também as incertezas e desconfianças para
consigo. Na realidade,
Pensar a inserção desse “jovem” no meio
rural hoje, implica enfrentar o esforço de
analisar as construções nativas da categoria e
suas disputas, e as próprias lógicas
hierárquicas reproduzidas nessas realidades,
onde o jovem ocupa um papel privilegiado
nos discursos, mas não nas práticas
(GUARANÁ, 2005/2006, p. 79).
Em outras palavras, o jovem é um sujeito
reconhecido, muitas vezes, apenas nos discursos da
sociedade em que estão inseridos. Essa contradição
reflete-se também nas escolhas realizadas pelos
jovens camponeses sobre seu futuro.
A dicotomia “ficar ou partir” redesenha-se a cada
momento de escolha apresentado aos jovens
camponeses. É necessária a compreensão, nesse
aspecto, de que ambas as escolhas, ficar ou partir do
campo, são apenas representações de escolhas
mutáveis e que podem não apresentar de forma
definitiva o desejo do jovem para seu futuro a longo
prazo.
A hierarquização social presente no campo e a
subalternidade a figura patriarcal ou matriarcal
sugere que não diferente da sociedade de maneira
geral, a família camponesa está submetida,
igualmente, a uma cultura patriarcal e, não obstante,
machista. Onde “centra no pai a função de mediatizar
todo o trabalho, outorgando a ele também o controle
81
sobre todos os que com ele vive” (OLIVEIRA;
RABELLO; FELICIANO, 2014, p. 139).
O patriarcalismo, portanto, caracteriza-se, assim
como a falta de confiança para com esses jovens, como
algumas das dificuldades de permanência do jovem no
campo.
Para além disso, o acesso à terra continua limitado.
Tendo o jovem, dois caminhos: ou permanece na
propriedade da família ou busca nos Movimentos
Sociais a possibilidade de acesso e permanência na
terra.
Ficar na propriedade dos pais implica, não raro, na
submissão já mencionada anteriormente. Mesmo sendo
o sujeito jovem, responsável por grande maioria dos
afazeres cotidianos, esbara na autoridade paterna ou
materna de “donos” da terra. Há, não raramente, um
conflito de compreensão do campo, ou mesmo, do
significado da vida no campo e o trabalho deste entre
gerações, dificultando ainda mais a permanência do
jovem na propriedade dos pais (CASTRO, et. al. 2009).
Engajar-se nas fileiras dos movimentos sociais,
principalmente as do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST), exige dos jovens a dedicação
e esperança na conquista e permanência na terra.
Conquista esta que geralmente é resultado de anos de
luta e resistência.
Contraditoriamente a essa realidade de luta e
resistência nos acampamentos, o distanciamento do
jovem das articulações políticas presentes nos
assentamentos. Há, aparentemente, um distanciamento
de realidades entre assentamentos e acampamentos
(CASTRO, et. al. 2009).
Entretanto, a permanência do jovem no campo não é
sintetizada apenas por essas possibilidades
supracitadas. Permanecer na propriedade dos pais ou
engajar-se nos movimentos sociais são apenas dois
caminhos disponíveis para a reprodução da juventude
camponesa.
O assalariamento temporário ou a estadia
temporária no espaço urbano também se caracterizam
como possibilidades para a reprodução dessa
juventude.
O assalariamento temporário possibilita,
frequentemente, a manutenção do jovem camponês no
campo. Proporcionando um ganho mensal que
porventura venha a ajudar a família como um todo e
evitando a migração “definitiva” do jovem para o meio
urbano.
A “migração temporária” para o meio urbano é
resultado, repetidamente, da falta de oportunidades
concretas de acesso à terra ou mesmo, da dificuldade
em se manter no campo e da busca de autonomia.
Todavia, comumente alguns jovens tendem a voltar
para o campo, mesmo após constituírem família. Não
raro, para a propriedade dos pais que já apresentam
idade avançada. Nesse “caminho inverso” propiciam a
junção de conhecimentos obtidos através da vivência
no meio urbano com o meio rural.
Os jovens camponeses, dessa forma, não possuem
apenas a saída do campo ou a permanência na
propriedade dos pais, como sucessor, como alternativas
para sua vida futura. Utilizam-se de outros meios,
muitas vezes contraditórios, mas que vão de encontro
com seus anseios e possibilitam novas oportunidades a
esses sujeitos.
Se esquece, como já mencionado neste trabalho, que
ficar ou partir do campo não são decisões imutáveis,
mais sim escolhas que podem ser alteradas ao passar do
tempo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O jovem camponês encontra em sua trajetória
inúmeros questionamentos e dificuldades, da mesma
forma que constrói, em alguns casos, suas
possibilidades de permanecer no meio rural.
O estigma de que suas alternativas são ficar ou
partir do campo deve ser repensado para um contexto
atual. Ficar no campo não representa a falta de
oportunidades tidas como melhores, mas sim uma
escolha feita pelo jovem, e que pode ser mudada. Da
82
mesma maneira, partir para o meio urbano não é
sinônimo de eternidade.
Estar no campo ou fora dele são escolhas, ambas
realizadas pelos jovens, porém, é necessário
compreender que por trás desses caminhos há uma
conjuntura social, relacionada muitas vezes,
diretamente com a convivência familiar e comunitária.
Portanto, analisar a juventude camponesa,
atualmente, exige um olhar para as inúmeras relações
sociais presentes no espaço em que estes sujeitos estão
inseridos. E que suas escolhas são reflexo direto da
sociedade e de suas concepções.
AGRADECIMENTOS: Agradeço a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) pela concessão de bolsa de estudo, nível
mestrado, o que possibilita o desenvolvimento da
pesquisa. Da mesma maneira, agradeço a meu
orientador, Prof. Dr. Djoni Roos, pela dedicação em prol de minha formação e pelos questionamentos
construtivos que me proporcionaram o
amadurecimento acadêmico.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CASTRO, E. G. [et. al]. O Jovens estão indo embora?:
juventude rural e a construção de um ator político. Rio de
Janeiro: Mauad X; Seropédica, RJ: EDUR, 2009.
GUARANÁ, E. Os jovens estão indo embora: Juventude rural e reforma agrária. Revista Proposta, nº 107/108, p.
74-80, dez/mai. 2005/2006.
KUMMER, R.; COLOGNESE, S. A. Juventude rural no
Brasil: Entre ficar e partir. Revista Tempo da Ciência,
v.20, n. 39, p. 201-220, 2013.
OLIVEIRA, L. B.; RABELLO, D.; FELICIANO, C. A.
Permanecer ou sair do campo? Um dilema da juventude
camponesa. Revista Pegada, v. 15, n. 1, p. 136- 150, 2014.
83
SURGIMENTO DE UM MOVIMENTO SOCIAL – ANÁLISE DAS ESCOLAS OCUPADAS EM
TOLEDO
Dhyonne Fernandes Pessoa 1Bolsista de Iniciação à Docência, acadêmico do curso de Licenciatura em Geografia, UNIOESTE/Campus de Marechal
Cândido Rondon, e-mail: [email protected].
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é analisar contextos
gerados a partir do movimento de ocupação dos
colégios da rede estadual de ensino no ano de 2016,
que podem ser analisados no contexto da geografia
humana, incluindo a noção do Espaço, Mobilização
social, Redes de Integração, dentre outros.
As noções do que a escola representa no dia a dia
dos jovens, e de como a mobilização trouxe a ideia de
coletividade aos estudantes das escolas públicas
podem ser utilizadas dentro do ensino tanto da
geografia como em outras áreas das ciências humanas
nos mais variados aspectos. Para análise, será
utilizado o movimento de ocupação em Toledo, com
enfoque no Colégio Estadual Luiz Augusto Morais
Rego, colégio central de grande influência no
município.
Figura 1. Movimento Estudantil do Colégio Estadual Luiz
Augusto Morais Rego.
Fonte: Movimento de Ocupação, Toledo, 2016
Os adolescentes passaram a entender a escola
como um ambiente de mudança social e de
transformação, se desprendendo da ideia de que são
apenas receptores de informação, e afirmando seu
papel enquanto parte da instituição, algo que não
faziam com muita frequência. Há nos planos de
trabalho docente o foco em conteúdos voltados ao
Enem e vestibular, e o desenvolvimento do
pensamento da geográfico como ciência de análise
acerca do ambiente em que ele está inserido acaba
ficando em segundo plano.
O movimento de Ocupação trouxe a oportunidade
dos adolescentes vivenciarem na prática o que
representa um movimento social, sendo este um dos
conteúdos estruturantes nas disciplinas de Geografia
e Sociologia no Ensino Médio, porém muitas vezes
pouco abordado ou mal compreendido.
A percepção das relações sociais e econômicas
que regem a sociedade em que estão inseridos trouxe
aos estudantes a compreensão de qual o seu papel no
meio de produção capitalista. As medidas do governo
federal visam, sobretudo, atender as necessidades dos
grandes empresários, que em geral financiam suas
campanhas. Yves Lacoste em sua obra “A Geografia
– Isso Serve, em Primeiro Lugar, Para Fazer a
Guerra”, menciona, enquanto questiona o papel da
geografia, que “O geógrafo deve lembrar
constantemente que a geografia é um saber
estratégico, e que um saber estratégico é perigoso.”
(2005, p. 172). Inserindo no contexto de que a análise
da situação social que desencadeia o movimento
estudantil tem por fim afrontar o sistema, e que a
análise social se inclui no contexto da geografia
humana, pode-se dizer que há a obtenção deste saber
estratégico, e que as consequências de tais atos serão
inevitavelmente percebidas. Mesmo não tendo a
compreensão de que se tal pensamento possa ser
analisado pelo olhar da geografia, os estudantes estão
84
obtendo conhecimento acerca das relações de poder
que regem seu dia a dia. E essa compreensão não
agrada os governantes, fazendo assim tal saber
perigoso.
MATERIAIS E MÉTODOS
A Integração Escola/Universidade foi
fundamental para a construção do movimento.
Oficinas foram realizadas por Bolsistas do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência
(Pibid) do curso de Filosofia da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste e
Matemática da Universidade Tecnológica Federal do
Paraná – UTFPR. Tais oficinas incluíam desde aulas
de reforço voltadas ao vestibular e ao Exame
Nacional do Ensino Médio até atividades recreativas
com intuito de trazer momentos de descontração em
meio a toda a tensão e estresse que passavam os
ocupantes.
Também foram realizados ciclos de debate na
Unioeste Campus Toledo, também ocupada, gerando
uma maior integração entre os ocupantes dos vários
colégios da cidade.
Esclarecendo o que eram a MP 746 e a PEC
241/55, foi realizada palestra com a Prof.ª Dr. Nelsi
Kistemacher Welter, do Colegiado do curso de
Filosofia da Unioeste.
Para Informar a comunidade acerca das atividades
realizadas eram realizados boletins diários publicados
nas redes sociais. A integração entre os colégios
também se dava por meio das redes, que as
utilizavam para comunicar falta ou sobra de
alimentos, que poiam ser compartilhados, informar
problemas ou para pedir auxílio quando necessário.
Figura 2. Pibidianos do curso de Filosofia da Unioeste
Campus Toledo levam oficinas recreativas a Colégio
Morais Rego
Fonte: Movimento de Ocupação, Toledo, 2016.
Com o auxílio da comunidade, os integrantes do
movimento compraram tintas, lixas, pinceis, dentre
outros materiais, com o objetivo de reformar os
portões do colégio. Atividades similares foram
realizadas em outras escolas ocupadas do município.
A organização sempre foi pauta fundamental,
tendo os ocupantes criado listas de tarefas, regras
para a convivência dentro do estabelecimento e
cronogramas de atividades. Eram organizadas
brigadas com objetivo de manter o colégio sempre
limpo e seguro. Os alunos em tais brigadas se
revezavam nas mais variadas tarefas, como por
exemplo limpeza, alimentação, segurança e
organização dos dormitórios.
O Conselho Tutelar realizava visitas frequentes,
onde fiscalizavam a situação para garantir que não
haviam irregularidades ou ameaças à integridade dos
menores ali presentes.
Foi organizada pelo Movimento Ocupa Paraná
uma assembleia, que contou com representantes de
colégios ocupados de todo o estado. Pelas redes
sociais e por meio da colaboração de professores,
pais e demais pessoas que se dispuseram a auxiliar,
foram arrecadados R$473,00, sendo assim possível
que um aluno pudesse representar o Colégio Morais
Rego no evento, onde foram tomadas importantes
deliberações que ditaram os rumos do movimento no
85
estado. O que restou do dinheiro desta arrecadação
foi destinado à compra de alimentos.
A busca de apoio e visibilidade para o movimento
foi constante. Os ocupantes dirigiram-se aos órgãos
da administração pública municipal, conseguindo,
após a desocupação, contato com o então prefeito
Beto Lunitti (PMDB), onde se debateu como o
executivo municipal poderia realizar a ponte entre os
estudantes e as autoridades, além de uma fala na
Câmara Municipal, onde puderam expor suas pautas
de reivindicação aos representantes do poder
legislativo do município de Toledo, e buscando assim
visibilidade frente a administração nas escalas
estadual e federal.
Figura 3. Alunos dos colégios estaduais Luiz Augusto
Morais Rego e Senador Attílio Fontana fazem-se presentes
em sessão da Câmara Municipal de Toledo.
Fonte: Movimento de Ocupação, Toledo, 2016.
A desocupação se deu após vinte e três dias, com
a ameaça de retirada à força dos alunos do interior do
colégio por parte de pessoas desfavoráveis ao
movimento. Houve confusão e o Conselho Tutelar
Necessitou intervir chamando a Polícia Militar para
evitar que danos ocorressem aos adolescentes
presentes.
No dia seguinte ao acordo de desocupação
firmado com a direção, Associação de Pais Mestres e
Funcionários e demais membros da comunidade
escolar foram recebido por um promotor do
Ministério Público, com um Mandado de
Reintegração de posse em nome do Governo do
Estado do Paraná.
Figura 4.Ameaça marcou o último dia de ocupação no
Colégio Estadual Luiz Augusto Morais Rego
Fonte: Movimento de Ocupação, Toledo, 2016.
RESULTADOS
Dentre os conceitos que podem ser trabalhados
fazendo a análise de tal movimento, estão a formação
de um movimento social organizado por estudantes
cientes dos motivos que os levaram a se mobilizar, e
que pode ser comparado a movimentos de escala
muito maior, onde também houve a mobilização
popular organizada frente a imposições superiores
(como por exemplo a Comuna de Paris, que embora
com propósitos e forma de atuação totalmente
diferentes, mostraram uma organização vindo do
povo para o povo).
Há também a ideia de pertencimento ao espaço e
qual o papel que tal espaço exerce na vida daqueles
que o ocupam. Passando a viver dentro da escola, o
estudante passa a se sentir como sendo parte deste
ambiente de forma muito mais evidente.
O questionamento acerca das estruturas de poder
que regem toda a vida escolar, a noção de hierarquia
dentro do sistema, passando da escola para o Núcleo
Regional de Educação, à Secretaria Estadual de
Educação, ao Executivo Estadual, ao Ministério da
Educação, chegando até a presidência da República.
A importância da luta pela escola pública de
qualidade estudada em seu contexto histórico e
86
social. A reflexão feita sobre os períodos da história
da educação brasileira e a importância das disciplinas
que poderiam ser retiradas da grade curricular ou
perder sua obrigatoriedade, sendo assim um grande
déficit para o pensamento crítico que deveria ser
desenvolvido com os estudantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por todo o país, o movimento de ocupação foi de
fundamental importância para a afirmação da
identidade do estudante como parte da escola em que
está inserido. Trabalhar futuramente este movimento
social em sala de aula será de suma importância, pois
demonstra o poder que possui as classes mais baixas
frente aos detentores do poder à partir do momento
em que há a organização e busca de um objetivo em
comum.
É fundamental que se saiba a importância da
escola como ambiente de formação do cidadão.
Participar do movimento estudantil foi uma
experiência inigualável, e hoje na universidade poder
compartilhar tais experiências tendo o sentimento de
ter feito parte da mudança mostra como o
movimento, mesmo não conseguindo atingir todos os
seus objetivos, fez diferença e marcará a história da
educação pública no país.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LACOSTE, Yves. A Geografia – Isso serve, em primeiro
lugar, para fazer a guerra. 11ª ed. Campinas, SP: Papirus,
2005.
JORNAL DO OESTE. Estudantes buscam apoio da
população e autoridades. Disponível em:
<https://www.jornaldooeste.com.br/noticia/estudantes-
buscam-apoio-da-populacao-e-de-autoridades>. Acesso
em: 08/10/2017.
JORNAL DO OESTE. Alunos do Moraes Rego aceitam
desocupar escola na segunda-feira. Disponível em:
<https://www.jornaldooeste.com.br/noticia/alunos_do_mor
aes_rego_aceitam_desocupar_escola_na_segunda_feira>.
Acesso em: 08/10/2017.
87
GEOGRAFIA FÍSICA
88
RESUMO SIMPLES
89
ESPACIALIZAÇÃO DOS CASOS DE DENGUE NO MUNICÍPIO DE MARECHAL CÂNDIDO
RONDON (PR) ENTRE 2015 E 2016
Ana Caroline Selzler
1;Karin Linete Hornes
2
1Acadêmica do Curso de Licenciatura em Geografia, UNIOESTE/ Campus Marechal Cândido Rondon. E-mail: [email protected];
2Profª Drª do Curso de Licenciatura em Geografia, UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon
O presente trabalho parte dos resultados parciais do projeto de pesquisa de Iniciação Científica voluntária
intitulado “Espacialização dos Casos de Dengue no município de Marechal Cândido Rondon (PR) entre
2015 e 2016”. A Dengue é uma doença infecciosa configurada atualmente como um grande problema de
saúde pública mundial, manifestando-se principalmente em países tropicais, como o Brasil, devido as
condições ambientais que estes apresentam, as quais facilitam o desenvolvimento e proliferação do
principal mosquito vetor da doença, o Aedes Aegipty. O grande número de casos da doença nos últimos
anos vem preocupando autoridades. O município de Marechal Cândido Rondon - PR sofreu, nos anos de
2015 e 2016 uma epidemia da doença, com 218 casos confirmados em 2015 e 120 casos confirmados em
2016. A pesquisa se justifica frente a necessidade de espacializar os casos de Dengue em Marechal
Cândido Rondon, utilizando-se de uma ferramenta eficaz como o Geoprocessamento, afim de constatar a
dinâmica espacial de distribuição da doença. Objetiva-se então, após a coleta de dados junto a Divisão de
Vigilância Epidemiológica do município, espacializá-los e mapeá-los mensalmente para analisar a
evolução da doença. Tal pesquisa, de análise espacial, norteia-se dentro da Geografia da Saúde, sendo de
cunho quantitativo e descritivo, utilizando-se do Geoprocessamento para a confecção de mapas que
permitirão compreender a dinâmica espacial da doença, possibilitando definir as localidades de maior
intensidade de transmissão e sua disseminação. Dessa forma, os resultados esperados desta pesquisa de
espacialização dos casos de Dengue no município de Marechal Cândido Rondon são a identificação das
áreas onde há maior número de casos da doença, percebendo sua evolução ao longo dos meses. O
trabalho também irá relacionar os dados com fatores ambientais como a pluviosidade e média de
temperatura mensal, para identificar os meses mais suscetíveis aos surtos, por exemplo, contribuindo com
a Prefeitura Municipal no combate ao mosquito através de uma otimização de ações, com estratégias
direcionadas para a minimização dos casos de dengue do município de Marechal Cândido Rondon.
Palavras-chave: dengue, geografia da saúde, geoprocessamento.
90
ESTUDO DE CASO DE UM EVENTO DE TEMPESTADE SEVERA OCORRIDO EM NOVA
LARANJEIRAS (PR) EM 13/06/1997
Marcos Balicki1; Karin Linete Hornes
2
1Geografia Licenciatura, UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2Geografia Licenciatura, UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon
Eventos severos atingem a população paranaense constantemente, conhecer e entender a sua dinâmica
auxilia na definição de estratégias de organização e planejamento da população para tornar as cidades
mais resilientes e seguras. Existem vários eventos em tempestades severas que podem trazer grandes
destruições e estes possuem características diferenciadas de gênese morfológica e atuação. Na presente
pesquisa buscou-se informações a respeito de ocorrências e gênese atmosféricas que podem trazer tempo
severo, bem como o tipo de estragos que as mesmas proporcionam para poder compreender a destruição
ocorrida em Nova Laranjeira no dia 13 de junho de 1997. Segundo relatos, a cidade passou por um
aniquilamento de casas comerciais, prédios públicos e inúmeras residências, que deixaram várias pessoas
gravemente feridas e quatro vítimas fatais. Para compreender a ocorrência severa desta atividade foram
descritos os fenômenos de complexos convectivos de mesoescala, linhas de instabilidade, vendavais
(downbursts/swindshear), tornados, furacões, saraiva e os ciclones (tropicais e extratropicais) em
conjunto com a atução e o tipo de destruição que estes podem causar afim de identificar possíveis
assinaturas de deteminados fenômenos para comparar a ocorrência catastrófica. De posse destas
informaçõesbuscou-se por imagens Goese dados metereológicos que pudessem auxiliar na identificação
do fenômeno. A imagem permitiu descartar a possibilidade de influências de furacões e ciclones, mas não
permitiu definir o evento. Desse modo partiu-se para uma caracterização de campo afim de buscar mais
evidências para poder definir se a ocorrência foi um downbursts ou um tornado. Assim após a aplicação
de 31 questionários a algumas pessoas envolvidas naquele dia fatídico foi possível definir a atuação de
um Tornado. Dezenove entrevistados viram o tornado. Sua trajetória de destruição foi de 17 km
aproximadamentecom direção predominando de NW-SE. O evento não pôde ser considerado um
downburst porque a área atingida não tinha um formato radial, bem como os danos não ficaram uniformes
ou dispostos nas mesmas direções. Foi possível ter acesso a fotos com descrições e objetos fincados em
troncos, o que auxilia na confirmação de atividade tornádica. O Tornado ocorrido destruiu casas de
alvenaria, lançou veículos e animais e deixou muitos feridos, além de percorrer uma trilha definida. Pelos
danos causados a força destrutiva chegou à categoria EF3 definida por Ted Fujita. Apesar de o município
ter sofrido com um evento deste porte, os administradores da época e os posteriores assim como os
munícipes não souberam adotar medidas para deixar a cidade mais resiliente, como construir suas
residências mais seguras.
Palavras-chave: Tornado; Cúmulos-nimbus; Nova Laranjeiras.
91
MORFOMETRIA DA BACIA DO RIO MATHIAS ALMADA EM FOZ DO IGUAÇU-PR E A
SUSCETIBILIDADE À ENCHENTES
Julio Cezar de Freitas
1; Danieli Cristina Cassuli
2; Vanda Moreira Martins
3
1Mestrando em Geografia, UNIOESTE/Marechal Candido Rondon, [email protected]; 2Mestre em Geografia, UNIOESTE/Marechal Candido Rondon;
3Professora Doutora do Curso de Geografia, UNIOESTE/Marechal Candido Rondon
Levantar as características morfométricas de uma bacia hidrográfica é indispensável para a realização de
estudos hidrológicos e/ou ambientais, pois, permite relacionar suas características físicas e naturais com
as ações antrópicas e seus impactos no ambiente. A bacia hidrográfica do rio Mathias Almada localiza-se
no município de Foz do Iguaçu e integra a Bacia do Paraná III na região Oeste do estado do Paraná.
Sucessivos eventos de enchentes são registrados para além das margens do curso principal do rio Mathias
Almada em seu trecho urbano. Levantar os atributos morfométricos da bacia hidrográfica do referido rio e
caracterizar a ocorrência de enchentes na área do perímetro urbano da cidade de Foz do Iguaçu foi o
objetivo principal do trabalho. Por meio da carta topográfica do município (escala 1:50.000), foram
calculados os parâmetros morfométricos referentes as características métricas (área, perímetro,
comprimento axial, comprimento do talvegue, soma total do comprimento e número de canais), de forma
(índice de compacidade e conformação, razão de elongação, índice de circularidade e ICO), padrão de
drenagem e hierarquia hidrográfica, densidade da drenagem, densidade de cursos d‟água e sinuosidade
dos canais, além de aspectos do relevo, como declividade e hipsometria. Foram utilizadas técnicas de
geoprocessamento aplicadas dentro do programa “QGIS” e equações propostas para os fatores
morfométricos os quais indicaram que a bacia tem baixa suscetibilidade natural à enchentes. Sua
ocorrência, causa e consequências decorrem do planejamento, uso e ocupação inadequados dos solos.
Palavras-chave: Bacia hidrográfica; Parâmetros morfométricos; Enchentes.
92
CAUSAS E EFEITOS DOS PROCESSOS EROSIVOS LINEARES UMA PROPOSTA DE
REVISÃO DA LITERATURA
Gabriel de Almeida Flopas¹; José Edézio Cunha²
¹Geografia, UNIOESTE/campus Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2Colegiado de Geografia UNIOESTE/campus Marechal Cândido Rondon
O conhecimento do meio físico exige uma reflexão complexa de muitos conteúdos, sejam eles de ordem
natural, social e econômica. O solo é um dos nossos recursos mais importantes e consequentemente é um
dos mais utilizados, devido a necessidade constante de matéria prima e organização/reorganização dos
meios urbanos. Vale ressaltar que os estudos relativos à gênese e a evolução dos processos erosivos
lineares também podem ajudar na compreensão da estrutura e do funcionamento das paisagens,
particularmente porque auxiliam nas propostas que visam a melhor ocupação e manejos corretos dos
ambientes, numa perspectiva sistêmica. Esta discussão pode ser justificada porque a erosão dos solos tem
sido indicada como parte do processo de degradação ambiental. Cabe destacar que os processos erosivos
lineares têm sua gênese vinculada tanto aos processos naturais, que são constituintes da caracterização do
solo e a formação do relevo terrestre, como por práticas antrópicas, a utilização inapropriada do solo sem
o devido planejamento em meios agrícolas ou urbanos. Diante do exposto, esta pesquisa, em
desenvolvimento como projeto de Iniciação Científica, tem o objetivo de elaborar uma revisão da
literatura que evidencie teoricamente e metodologicamente as causas e os efeitos dos processos erosivos
lineares, a partir da seleção de livros, textos de revistas e de páginas da internet. Este estudo além do
objetivo de contribuir com a nossa formação acadêmica tem o intuito de trazer contribuições sobre esta
temática das causas e dos efeitos dos processos erosivos lineares, considerada importante para a
sociedade.
Palavras-chave: uso e ocupação; relação solo-relevo; degradação ambiental.
93
ESTUDO MORFOPEDOLÓGICO DE UMA TOPOSSEQUÊNCIA DE SOLOS NO MUNICÍPIO
DE TERRA ROXA-PR: Estudo de caso na área de transição entre Basalto e o Arenito Caiuá
Luma Barbosa Mellão de Moura1; José Edezio da Cunha
2
1Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal C. Rondon, [email protected] 2Colegiado de Geografia UNIOESTE/campus Marechal Cândido Rondon
O conhecimento do meio físico, em especial a relação dos solos com as formas do relevo, tem sido
considerado imprescindível para os estudos que procuram entender a estrutura e o funcionamento das
paisagens, particularmente porque auxiliam nas propostas que visam a melhor ocupação e manejos
corretos dos ambientes, numa perspectiva sistêmica. Os estudos com a utilização da metodologia da
análise bidimensional da cobertura pedológica têm demonstrado boa aplicabilidade porque permitem
entender a distribuição espacial dos solos ao longo das vertentes auxiliando, por exemplo, na
compreensão da gênese e evolução de processos erosivos, sejam eles de origem natural ou antrópica. É
com o intuito de corroborar com esta temática teórica e metodológica que este estudo de caso, será
realizado em uma vertente característica do município de Terra Roxa, região Oeste do Estado do Paraná,
na área de transição entre o Basalto e o Arenito Caiuá. Para o desenvolvimento deste trabalho aplicou-se
os seguintes procedimentos metodológicos: escolha e definição da vertente característica, em termos
morfopedológicos, a partir da análise de documentos cartográficos já existentes; reconhecimento da área
por meio de trabalhos de campo; levantamento topográfico da vertente com o uso de clinômetro, metro e
trena para obtenção da sua forma e extensão; levantamento pedológico preliminar com o uso do trado tipo
holandês, para obtenção da distribuição espacial dos solos existentes na vertente. Através dos
levantamentos topográfico e pedológico verificou-se que a vertente possui uma forma convexo-côncava,
apresentando sistema pedológico constituído por Latossolos Vermelhos no segmento de topo, Nitossolos
Vermelhos da média-alta a média-baixa vertente e Gleissolos na baixa vertente/sopé. O que se pôde
perceber é que, embora não existam processos erosivos instalados, é necessário continuar cuidando da
área, especificamente, a partir da média vertente, particularmente no que diz respeito a presença do gado,
pois a declividade mais acentuada do segmento de baixa vertente, atrelada a presença do Gleissolo, pode
desencadear a instalação e evolução de processos erosivos, tanto de ordem linear como de movimentos de
massa dos solos.
Palavras-chave: uso e manejo, características morfológicas, erosão.
94
ESTUDO EM UMA TOPOSSEQUÊNCIA DE SOLOS NO MUNICÍPIO DE TERRA ROXA-PR:
ESTUDO DE CASO NA ÁREA DE PREDOMÍNIO DO ARENITO CAIUÁ
Jhonatan Vicentini
1; Rafael Martins Sanches
2; José Edezio da Cunha
2
1Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon
O conhecimento do meio físico, em especial o da relação dos solos com as formas do relevo, tem sido
considerado imprescindível para os estudos que procuram entender a estrutura e o funcionamento das
paisagens, particularmente porque auxiliam nas propostas que visam a ocupação e manejos corretos dos
ambientes, numa perspectiva sistêmica. O presente estudo foi desenvolvido a partir do projeto de
Iniciação Científica, correspondente ao período de 08/2016 a 07/2017, vinculado ao curso de Geografia,
Campus de Marechal Cândido Rondon, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Foi aplicada a
metodologia da análise bidimensional da cobertura pedológica em uma vertente característica, em termos
morfopedológicos, para se obter o reconhecimento e distribuição espacial dos solos ao longo da vertente,
bem como a compreensão da gênese e evolução dos processos erosivos, sejam eles de origem natural ou
antrópica. Com os dados do reconhecimento pedológico, obtidos em campo, foram identificados três
classes de solos, conforme forma e declividade da vertente, nos três segmentos topográficos: no primeiro,
do topo até a média-vertente, são constituídos pelo Latossolo Vermelho; no segundo, da média-vertente
até a baixa-vertente, ocorre o Argissolo Vermelho, e, por fim, a partir da ruptura de declive, no sopé,
ocorre o Argissolo Vermelho Amarelo, considerado o de maior suscetibilidade à instalação e evolução de
processos erosivos, laminares e lineares.
Palavras-chave: Processos erosivos; topossequência; vertente.
95
ESTUDO MORFOPEDOLÓGICO EM UMA TOPOSSEQUÊNCIA DE SOLOS NA VERTENTE
STEIN, ENTRE RIOS DO OESTE–PR
Andressa Schauren Krewer
1; José Edézio da Cunha
2 Rafael Sanches Martins
3
1Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon;
3Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon
O conhecimento do meio físico, em especial, o da relação entre os solos e sua distribuição ao longo das
vertentes é considerado imprescindível para os estudos que procuram entender a estrutura e o
funcionamento das paisagens, em particular porque auxiliam nas propostas que visam a melhor ocupação
e manejo correto do ambiente, sempre a partir de uma visão integrada, por meio da perspectiva sistêmica.
Estudos utilizando a metodologia da análise bidimensional da cobertura pedológica tem demonstrado boa
aplicabilidade pois permitem entender a distribuição espacial dos solos ao longo das vertentes auxiliando,
por exemplo, na compreensão da gênese e evolução dos processos erosivos. Com o intuito de fortalecer
essa temática teórica e metodológica, este estudo de caso, em desenvolvimento como Trabalho de
Conclusão do Curso de Geografia, em uma vertente característica em termos morfopedológicos, no
município de Entre Rios do Oeste, região Oeste do Estado do Paraná, tem o objetivo de compreender
tanto a distribuição espacial dos solos como as suas relações com as formas da vertente, já que, essas
informações, quando trabalhadas conjuntamente, podem contribuir na avaliação das causas e dos efeitos
dos processos erosivos, sejam eles naturais ou provocados pelas ações de uso e manejo dos solos.
Palavras-chave: cobertura pedológica, processos erosivos, uso e manejo do solo.
96
ESTUDO MORFOPEDOLÓGICO EM UMA TOPOSSEQUÊNCIA NA ESQUINA MEMÓRIA –
TOLEDO –PR
Anderson Habeck
1; Edson Luiz Zanchetti da Luz
1; Patrícia Antônio de Oliveira
2, Geovane Ricardo
Calixto3, Ericson H. Hayakawa
4, Marcia R Calegari
4
1Licentiatura em Geografia, UNIOESTE/MCR, [email protected] ; 2Mestranda em Geografia, UNIOESTE/MCR;
3Bolsista Técnico Fundação Araucária/SETI-PR/SENAR-PR, UNIOESTE/MCR;
4Colegiado de Geografia, UNIOESTE/MCR
Na região Oeste do Paraná ocorrem os solos formados a partir das rochas eruptivas (basalto) do Grupo
Serra Geral. Estes solos são diferenciados quanto a sua fertilidade natural e aptidão agrícola. Mesmo
localizando-se em paisagens de relevo suavemente ondulada, favoráveis a pedogênese progressiva, esses
solos apresentam problemas devido ao manejo intensivo e inadequado durante o seu cultivo. O Programa
da Rede Paranaense de Apoio à Agropesquisa e Formação Aplicada, desenvolvido no Paraná, visa obter
soluções e proposições que minimizem os processos erosivos, favorecendo a estabilidade do ambiente
edáfico conciliada com o aumento da produção agrícola. Ações desse programa vêm sendo desenvolvidas
no Oeste do Paraná, em uma área piloto, localizada no município de Toledo, nossa área de estudo, por
meio de uma parceria entre UNIOESTE, Fundação Araucária/SETI-PR/SENAR-PR e ITAIPU. O
presente trabalho, parte do projeto “Espacialização dos atributos dos solos em escala de detalhe:
subsídios para o manejo e conservação dos solos”, inserido na Rede supracitada, visa realizar o
levantamento detalhado dos solos e das áreas de maior suscetibilidade erosiva e produção de sedimentos
em uma vertente (bacia de primeira ordem), na comunidade Esquina Memória, Toledo – Pr. Os resultados
desse projeto poderão gerar maiores informações sobre a distribuição, caracterização e
conservação/degradação dos solos na paisagem; desenvolver técnicas e ferramentas que permitam
descrever e entender os processos pedogenéticos e erosivos e assim, promover um diálogo mais direto
entre pesquisadores, agricultores e a sociedade. Os resultados preliminares indicam uma boa correlação
entre os tipos de solo e sua posição na vertente estudada, que possui 923 m de extensão, forma convexa-
retilínea-convexa e desnível topográfico de 93 m. No fundo de vale predominam os solos menos
desenvolvidos pedogenéticamente, (Cambissolo Háplico - CX), e mais rasos (Neossolos Regolíticos-RR);
na baixa vertente ocorrem solos mais desenvolvidos, os Nitossolo Vermelho férrico - NVf. Os Latossolo
Vermelho férrico - LVf predominam nos setores retilíneos (média vertente) e convexo, de topo. Tal
sequência lateral, de montante para jusante, é recorrente na região, variando em função da forma e
extensão das vertentes. Observou-se que o horizonte A (Ap e AB) apresenta uma forte compactação até
40 cm de profundidade, gerando uma camada de impedimento à infiltração da água e ao desenvolvimento
das raízes que se concentram nos primeiros três centímetros do solo. No terço inferior da vertente, setor
de maior declividade, são comuns sulcos indicando a concentração de fluxos superficiais, gerando
sedimento que são depositados no fundo de vale.
Palavras-chave: Manejo, Conservação do solo, representação bidimensional; cobertura pedológica.
97
GÊNESE DOS LATOSSOLOS NO PLANALTO DE FOZ DO IGUAÇU, PARANÁ – BRASIL
Bruno Aparecido da Silva1; Márcia Regina Calegari
2
1Bolsista Capes/Fundação Araucária; Doutorando do PPGG - UNIOESTE/Francisco Beltrão; E-mail:
[email protected]; 2Profa. Dra. do PPGG - UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon-PR
Muitos Latossolos de paisagens tropicais e subtropicais são considerados poligenéticos. Muitos autores
atribuem a poligênia à atuação cíclica de processos denudacionais e pedogeoquímicos sobre a superfície
rochosa e o manto de intemperismo durante a evolução das paisagens, principalmente no Quaternário,
assim, muitos dos materiais genéticos dos Latossolos podem ser de origem alóctone. Estudos
pedogeomorfológicos no Oeste do Paraná têm demonstrado isso, tanto a partir da constatação in loco de
processos coluvionares em perfis de Nitossolos, nos segmentos intermediários da vertente, quanto pelas
diferenças das superfícies geomorfológicas regionais (dissecação, morfologia, formas residuais e
espessura dos mantos de intemperismo). Essas constatações direcionaram esta pesquisa à seguinte
questão: seriam os materiais parentais dos Latossolos no Planalto de Foz do Iguaçu de origem alóctone?
Diante disso, parte-se da hipótese de que no Planalto de Foz do Iguaçu os Latossolos evoluíram a partir da
atuação dos processos pedogenéticos sobre material alóctone, o qual teria sido erodido e transportado do
compartimento geomorfológico de São Francisco, onde os Latossolos seriam autóctones. Dito isso, o
objetivo desta pesquisa de doutorado, ainda em fase inicial, é investigar a gênese dos materiais de origem
dos Latossolos no Planalto de Foz do Iguaçu e São Francisco. Para alcançar tal objetivo será realizado
levantamento bibliográfico, elaboração de mapas (hidrografia, geologia, solo e relevo), trabalhos de
campo para descrição macromorfológica e coleta de amostras de solos, bem como análise da paisagem.
As amostras de solo serão submetidas a análises físico-químicas de rotina, ataque sulfúrico, fluorescência
e difração de Raio-X e micromorfologia. As técnicas empregadas permitirão verificar o grau de evolução
da cobertura pedológica e dos materiais de origem dessas coberturas, a partir das suas constituições
mineralógicas. Além disso, serão compreendidos os processos deposicionais atuais e pretéritos, as
transformações pós-deposicionais e as propriedades dos materiais que originaram os Latossolos. Sendo
assim, esta pesquisa adquire papel fundamental na região Oeste do Paraná ao sistematizar
pedoindicadores para determinar a autocnia e/ou alóctonia dos Latossolos, subsidiando futuros estudos
sobre a evolução da paisagem regional.
Palavras-chave: Solo-relevo; solos-alóctones; mineralogia.
98
ÍNDICE TOPOGRÁFICO DE UMIDADE COMO INDICATIVO DE ÁREAS HIDROMÓRFICAS
NO TRECHO SUPERIOR DO CÓRREGO QUATRO PONTES, PR
Bruno Aparecido da Silva
1 Vanda Moreira Martins
2 Ericson Hideki Haiakawa
2
1Bolsista Capes/Fundação Araucária; Doutorando do PPGG – Mestrado/Doutorado, UNIOESTE/Francisco Beltrão; E-mail: [email protected];
2Prof. Dr do PPGG - UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon-PR
O Índice Topográfico de Umidade (ITU) é um importante indicador da distribuição dos solos na
paisagem. Valores elevados de ITU estão associados aos setores da paisagem com saturação hídrica
(fundos de vale, setores abaciados, planícies, entre outros), podendo indicar condições de hidromorfismo
no solo. Na literatura, valores de ITU > 10 (número adimensional), comumente são associados às áreas
com saturação hídrica, sendo, portanto, o ITU um indicador capaz de separar unidades de mapeamento de
solos e, também, identificar áreas restritas à urbanização e manejo com maquinários pesados. Assim,
considerando a necessidade de obtenção de informações detalhadas da distribuição dos solos (escala
1:50.000), este estudo utiliza o ITU para identificar setores da paisagem com saturação hídrica, no trecho
superior da bacia do córrego Quatro Pontes, localizada na região Oeste do Estado do Paraná. A obtenção
do ITU foi a partir da manipulação dos dados de SRTM (Shutlle Radar Topography Mission), 30 metros
de resolução, no Sistema de Informação Geográfica (SIG) Saga 2.2.6. Os valores de ITU foram
discretizados, no SIG Qgis 2.18, em 3 classes: ITU I – 5,44 a 6,53; ITU II – 6.53 a 12,0; ITU III – 12,0 a
16,3. Os resultados obtidos indicam que, dos 34,4 km2 da bacia, 92,1% da área estudada predominam as
condições de drenagem livre na paisagem (classes de ITU I e II), condizentes aos solos excessivamente
drenados a bem drenados. Entretanto, 7,8% da área estão associadas à classe ITU III, representando
setores da paisagem com estagnação hídrica no perfil de solo (setores hidromórficos), onde possivelmente
a ocorrência é de Gleissolos. O ITU mostrou-se um atributo do terreno importante na identificação de
solos bem drenados e saturados existentes na paisagem. Estas informações são satisfatórias para predizer
que, possivelmente, está ocorrendo processos pedogenéticos de gleização nos locais saturados, contudo, é
importante que a interpretação seja apoiada de análise in loco, para a devida validação dos setores
identificados como hidromórficos.
Palavras-chave: Gleissolos; atributos do terreno; SRTM.
99
ORIGEM E EVOLUÇÃO DOS PROCESSOS EROSIVOS NA ÁREA RURAL DE FRANCISCO
ALVES - PARANÁ
Érica Renata Teixeira Cripa
1; José Edézio da Cunha
2
1Curso de Geografia, UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon. E-mail: [email protected]
2 Colegiado de Geografia, UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon
As ações humanas interferem diretamente no meio ambiente, modificando paisagens naturais em
construções de prédios e estradas, devastando terras para cultivos agrícolas tanto para a sua subsistência
quanto para o comércio. Com o intuito de compreender as relações do uso da terra e a instalação e
evolução de processos erosivos na área rural de Francisco Alves o objetivo, deste estudo de caso, é
compreender até que ponto o uso o solo influenciou na formação e na evolução dos processos erosivos na
área rural da cidade de Francisco Alves, já que, naturalmente os solos são de origem arenosa (arenito
Caiuá), frágeis à erosão. Justifica-se a escolha deste tema para se compreender as causas dos processos
erosivos hídricos, uma vez que se observa o aumento dos plantios de soja e de milho na região, e entender
a importância da cobertura vegetal e os procedimentos de proteção que podem evitar ou até mesmo
controlar a origem e evolução dos processos erosivos. Os procedimentos metodológicos utilizados para
alcance dos objetivos, deste estudo de caso, em desenvolvimento com Trabalho de Conclusão de Curso
(TCC), foram técnicas de gabinete e de campo que proporcionaram constatar que a área objeto de estudo
está com o processo erosivo aparentemente controlado devido as ações de contenção dos processos
erosivos, realizados pelo proprietário. Por meio deste estudo, até o presente momento, foi possível
identificar e localizar os processos erosivos, resultantes da água da chuva, bem como identificar algumas
das suas causas e dos efeitos em termos ambientais.
Palavras-chave: uso e manejo; solos arenosos; erosão hídrica.
100
RELAÇÃO SOLO-RELEVO: SUBSIDIOS PARA MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO
(ESQUINA MEMÓRIA – TOLEDO –PR)
Edson Luiz Zanchetti da Luz
1; Anderson Habeck
1, Patricia Antonio de Oliveira
2, Geovane Ricardo
Calixto3, Ericson H. Hayakawa
4, Marcia R Calegari
4
1Licentiatura em Geografia, UNIOESTE/MCR, [email protected] ; 2Mestranda em Geografia, UNIOESTE/MCR;
3Bolsista Técnico Fundação Araucária/SETI-PR/SENAR-PR, UNIOESTE/MCR; 4Colegiado de Geografia, UNIOESTE/MCR.
O oeste do Paraná representa uma das áreas de agronegócio mais expressiva do país. Em geral suas terras
apresentam alta aptidão agrícola e declividades suaves, porém ainda assim, tem apresentado significativa
fragilidade ambiental diante dos processos de compactação e de perda de solos por erosão hídrica.
Compreender os mecanismos de geração e transferência de água, solo e nutrientes, é a questão central que
deve nortear os estudos que visam minimizar os impactos causados pela compactação e erosão hídrica
acelerada, tal como o proposto pelo Programa da rede paranaense de apoio a agropesquisa e formação
aplicada que vem sendo desenvolvido no Oeste do Paraná, em parceria entre UNIOESTE, Fundação
Araucária/SETI-PR/SENAR-PR e ITAIPU. Entretanto, para alcançar tal objetivo é necessário conhecer
dos solos na paisagem e o seu grau de degradação, identificar e compreender a dinâmica dos processos
hídricos envolvidos na erosão; desenvolver técnicas e ferramentas que permitam descrever e entender os
processos e assim, permitir que haja uma conexão mais direta e fácil entre os pesquisadores, agricultores
e sociedade. O presente trabalho, parte do projeto “espacialização dos atributos dos solos em escala de
detalhe: subsídios para o manejo e conservação dos solos”, visa realizar o levantamento detalhado da
cobertura pedológica e identificar as áreas de maior suscetibilidade erosiva produção de sedimentos em
uma vertente em uma bacia de primeira ordem, localizada comunidade Esquina Memória, Toledo – Pr. A
vertente estudada possui forma convexa, 565 metros de extensão e 44 metros de desnível topográfico.
Esta vertente divide-se em três segmentos: fundo de vale onde predominam solos rasos (Cambissolos e
Neossolo Regolilitco) e afloramento de rocha alterada; média vertente (subdividida em média-baixa,
média e média-alta) apresenta solos mais desenvolvidos e profundos (Nitossolo Vermelho férrico); e no
topo predominam solos mais profundos e pedogenéticamente desenvolvidos (Latossolo Vermelho
férrico). Destaca-se nesta vertente a forte compactação nos primeiros 40 centímetros do solo na
topossequência, dificultando a infiltração da agua e o desenvolvimento das raízes, favorecendo o
desenvolvimento de processos erosivos lineares (sulcos e pequenas ravinas) conforme observado em
todos os segmentos da vertente. Até o momento os resultados permitem identificar os segmentos de
média e baixa vertente como os mais críticos em relação a suscetibilidade a erosão nesta vertente. Estes
segmentos carecem de maior atenção e práticas adequadas de manejo e conservação do solo e agua,
visando minimizar a produção de sedimentos que podem atingir o curso d‟agua do fundo de vale, e
mitigar os prejuízos.
Palavras-chave: topossequência; representação bidimensional; cobertura pedológica.
101
RESUMO EXPANDIDO
102
A TOPOGRAFIA E OS SOLOS DA ILHA DO PAPAGAIO-GUAÍRA/PR
Soraya Brehm1; Vanda Martins Moreira
2; Bruno Aparecido da Silva; Rafael Martins Sanches.
1Geografia, Universidade do Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2Universidade do
Oeste do Paraná/Marechal Cândido Rondon
INTRODUÇÃO
Os rios são capazes de transportar, erodir e
depositar sedimentos tornando-se, assim,
importantes agentes transformadores da
paisagem (RICCOMIN et al., 2001). Ao associar
a dinâmica dos rios e o uso e ocupação dos solos
na região, caracterizados pela agricultura,
turismo, habitação, etc na bacia do rio Paraná,
observa-se, ao longo do canal, a formação de
ilhas e barras de canal. Essas formações são
desencadeadas, a partir da deposição dos
sedimentos oriundos dos processos de erosão,
transporte e deposição que ocorrem nos setores à
montante das áreas drenadas pela bacia
hidrográfica do rio Paraná.
Conforme Santos et al., (1992), as ilhas
fluviais, são feições encontradas acima do nível
de margens plenas, que ficam submersas em
períodos de grandes cheias e, além disso,
possuem a presença de vegetação arbustiva.
Assim, entende-se que nesses locais o acúmulo
de materiais, submetidos aos processos
pedogenéticos, desencadeia a formação de
diferentes tipos de solos.
As pesquisas pedológicas, com ênfase no
reconhecimento, levantamento, classificação e
mapeamento dos solos, contribuem com
importantes informações a respeito de sua
organização e distribuição espacial, bem como
com sua dinâmica evolutiva e a relação com os
outros elementos formadores da paisagem, como
o material de origem, o relevo, o clima, os
organismos e o tempo. Além disso, o
mapeamento é considerado uma importante base
cartográfica na prevenção dos riscos de uso e
ocupação do solo de áreas destinadas à
preservação (EMBRAPA, 1995), auxiliando no
planejamento e gestão territorial. Por isso o
trabalho de reconhecimento dos solos da ilha
fluvial, conhecida localmente como Ilha do
Papagaio, norteou os resultados discutidos neste
trabalho. O levantamento da topografia e a
identificação das principais classes de solos que
caracterizam os ambientes envolvem um
conjunto de procedimentos, de campo e
laboratório, indispensáveis nesse tipo de
pesquisa (EMBRAPA, 1995, 2011, 2013;
MARQUES et al., 2000; SANTOS et al. 2015).
MATERIAIS E MÉTODOS
A Ilha do Papagaio, selecionada para a
investigação, está localizada no canal esquerdo
do rio Paraná (24º04‟07”S – 54º12‟48”W), à
jusante da Ilha Grande (Apêndice 1), nas
proximidades da cidade de Guairá-PR. Possui
cerca de 900m de comprimento por 240m de
largura e está ocupada por vegetação arbórea e
arbustiva.
Os materiais utilizados no reconhecimento
dos solos em campo foram: manuais de
levantamento de solos, de descrição e coleta de
amostras no campo, de classificação de solos
(EMBRAPA, 1995; SANTOS et al., 2015;
EMBRAPA, 2013); carta de cores de solos:
Munsell Soil Collor Charts; trado holandês para
a abertura de fustes (sondagens) e coleta de
amostras de solo; GPS para localização dos
pontos de coletas; clinômetro, régua e trena para
o levantamento do perfil topográfico; materiais
de expediente para a coleta das amostras de
solos; veículo e barco para transporte e
deslocamento.
Os procedimentos metodológicos das
principais etapas em campo e laboratório foram:
103
a) levantamento topográfico e reconhecimento
dos solos (EMBRAPA, 1995) por meio de
sondagens e abertura de trincheiras para
exposição dos perfis de solos; b) descrição,
identificação e classificação dos solos em
campo; c) coleta de amostras (SANTOS et al.,
2015; EMBRAPA, 2013).
As etapas de campo foram realizadas no
período de 27/04/17 à 30/06/17 e contou com a)
o levantamento topográfico ao longo da ilha; b)
realização das sondagens e abertura de
trincheiras para descrição dos perfis e coleta de
amostras de solos. Nesta etapa foram coletadas
98 amostras e destas, 33 foram selecionadas para
análises físico-químicas laboratoriais; c) a
obtenção dos dados das análises físico-químicas
(granulometria, pH, saturação por bases, matéria
orgânica etc - EMBRAPA, 2011) auxiliaram na
identificação e classificação dos solos
(EMBRAPA, 2013). Esta etapa foi realizada no
laboratório de química ambiental do
CCA/UNIOESTE-MCR; d) sistematização,
análise e interpretação dos dados e informações
coletados e produzidos com apoio das
Geotecnologias: técnicas de sensoriamento
remoto (fotoidentificação), geoprocessamento e
Sistema de Informação Geográfica – SIG
(aplicativos do ARCGIS 10.1), sobretudo para o
mapeamento dos solos na ilha.
A descrição morfológica e as análises físico-
químicas dos horizontes de solos permitiram
classificá-los até o quarto nível categórico,
conforme sistema Brasileiro de Classificação de
Solos (EMBRAPA, 2013).
RESULTADOS
Levantamento topográfico da Ilha do
Papagaio
O levantamento topográfico ao longo da ilha
do Papagaio foi realizado no sentido SE-NW
(Apêndice 2) auxiliando no reconhecimento da
morfologia do terreno, dos diferentes ambientes
de formação dos solos e da vegetação. Sua
construção auxiliou na identificação prévia dos
locais para realização das sondagens e a abertura
de trincheiras e descrição morfológica dos
horizontes de solos e coleta das amostras para
análises físico-químicas. De montante para a
jusante, o perfil topográfico se estende por 900
m. Destes, 250 m estavam submersos no período
do levantamento dos dados topográficos em
campo e ocupados por vegetação arbustiva
hidrófila densa. No perfil, este setor submerso
está representado entre as distâncias de 550 e
805m, com lâmina de água de até 1,3m de
profundidade. O setor de 0-550m é o mais
elevado, com ligeiras variações altimétricas
(200-203m aproximadamente) e ocupado por
vegetação arbórea com espécies de grande porte,
nativas e exóticas. Algumas espécies arbóreas
apresentam diâmetro a altura do peito (DAP) de
mais de 2m de diâmetro.
Distribuição dos solos na Ilha Fluvial
As sondagens ao longo do perfil topográfico
permitiram reconhecer a distribuição espacial
dos solos e posicionar a abertura de trincheiras
para identificação da organização vertical dos
horizontes dos solos. Foram abertas 3 trincheiras
e a descrição dos perfis de solos permitiram
identificar os horizontes e as classes de solos
(Figuras 1, 2 e 3). Duas principais Ordens de
Solos foram identificadas: CAMBISSOLO
FLÚVICO e NEOSSOLO FLÚVICO. Os
CAMBISSOLOS FLÚVICOS ocorrem nos
setores mais elevados e mais bem drenados da
ilha. A posição topográfica desses solos ao longo
da ilha indica seu grau de desenvolvimento e
evolução. Nos diques marginais e no setor mais
elevado e antigo da ilha (P3), os solos
apresentam horizonte Bi (B incipiente), que
caracteriza os Cambissolos. O ambiente de
formação, a natureza e composição do material
de origem (depósitos aluviais) lhes confere o
caráter Flúvico, permitindo classificá-los como
CAMBISSOLOS FLÚVICOS. A vegetação
arbórea e de grande porte (caules grossos, >15m
de altura) aparecem associadas aos setores
104
melhor drenados em que domina essa classe de
solo na ilha. Os NEOSSOLOS FLÚVICOS
ocorrem nos setores mais jovens da ilha
(deposição mais recente) e com boas condições
de drenagem nos primeiros 50 cm da superfície
do solo. Ambas as Ordens de solos apresentam
caráter gleissólico no quarto nível categórico do
Sistema Brasileiro de classificação de solos-
SiBCS, pois possuem horizonte sob condições de
hidromorfia dentro de 150cm de profundidade,
não atendendo aos critérios para a classe dos
GLEISSOLOS (EMBRAPA, 2013). Os
GLEISSOLOS estão associados aos ambientes
mal drenados da ilha. A ocorrência dessa classe
de solo na ilha está associada às áreas mal
drenadas, que incluem as bordas rebaixadas da
ilha e as depressões alagadas (Apêndice 2).
Figura 1 - Fotografia do Perfil 1
NEOSSOLO FLÚVICO
Figura 2 - Fotografia do Perfil 2
CAMBISSOLO FLÚVICO
Figura 3 – Fotografia do Perfil 3
CAMBISSOLO FLÚVICO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados e observações em campo, bem
como as análises físico-químicas permitiram
105
predizer que a distribuição espacial dos solos na
Ilha do Papagaio é formada por sistemas de solos
dominados por Neossolos Flúvicos, Cambissolos
Flúvicos e também Gleissolos Háplicos. A
morfologia do terreno corrobora a variação
espacial e vertical dos solos, refletindo os
diferentes estágios de evolução pedológica e
vegetacional na ilha. A interação dos Gleissolos
Háplicos com a vegetação hidrófita dos
compartimentos deprimidos na ilha está bem
marcadapela fisionomia da vegetação. Da mesma
forma, nos setores mais elevados e bem drenados
os Neossolos e os Cambissolos Flúvicos estão
associados à vegetação de maior porte.
AGRADECIMENTOS: Agradeço à Fundação
Araucária pela bolsa de Iniciação Científica e ao
Programa de Pós-Graduação em
Geografia/Unioeste/M.C. Rondon pelo auxílio
financeiro e parceria nos trabalhos em campo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos.
Procedimentos Normativos de Levantamentos
Pedológicos. Rio de Janeiro, 1995.
EMBRAPA. Manual de Métodos de análises de solos. Rio
de Janeiro: EMBRAPA Solos, 2011, 230p.
EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária. Centro Nacional de Pesquisa de Solos.
Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 3ed., Ver. Ampl. Brasília, DF: Embrapa, 2013, 353p.
MARQUES, A.J.; SANTIL, F.L. de; CUNHA, J. E. da. O
uso do clinômetro no levantamento topográfico. Estudo de
caso: levantamento pedológico. Boletim de Geografia 18:
135-141, 2000.
RICOMINI, C.; GIANNINI, P. C. F.; MANCINI, F. Rios
e processos aluviais. In: TEIXEIRA, W.; TOLEDO, M. C.
M de; FAIRCHILD, T. R.; TAIOLI, F. (Orgs.) Decifrando
a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2001, p. 191-214.
SANTOS, M. L. dos; FERNANDEZ, O. V. Q.;
STEVAUX, J. C. Aspectos morfogenéticos das barras de
canal do rio Paraná, trecho de Porto Rico, PR. Boletim
de Geografia – UEM, ano 10, número 01, ano 1992.
SANTOS, R. D. dos; SANTOS, H. G. dos; KER, J.C.;
ANJOS, L. H. C. dos; SHIMIZU, S. H. Manual de
descrição e coleta de solo no campo. 7ed. Ver. Ampl. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo,
2015. 101p.
106
Apêndice 1 - Localização da Ilha do Papagaio ao sul da Ilha Grande, Guaíra-Paraná
.
107
Apêndice 2 - Topopedossequência da Ilha do Papagaio.
108
ANÁLISE DA VAZÃO DE DUAS ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS NA SUB-REGIÃO SUL DA
BACIA AMAZÔNICA BRASILEIRA
Luiz Paulo da Silva1; Leila Limberger
2
1Geografia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal C. Rondon, [email protected];
Docente, Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Marechal C. Rondon, [email protected]
INTRODUÇÃO
Não é de hoje que a Amazônia desperta
interesse dos países mais desenvolvidos devido
ao seu potencial energético, extensão de terras
atrativas para atividades agrícola (monocultura)
e pecuária, recursos naturais como a madeira,
frutas, biodiversidade (fauna e flora), pesquisas
medicinais e os recursos minerais que estão no
subsolo (MELLO, 2006). Muitas questões
geopolíticas aparecem ao debater a colonização
da Amazônia legal Brasileira e suas contradições
sobre as políticas públicas territoriais.
Segundo Mello-Théry (2011) a ocupação
e uso da terra nessa região, envolve interesses do
aparelho estatal e privado, que
consequentemente, geram conflitos recorrentes
em torno de uma soberania político-econômica.
O esforço que existe por parte de setores do
poder público e privado para que haja desacertos
e conflitos entre os grileiros e posteriormente
empresas e latifundiários está contribuindo para
o desmatamento e destruição da Amazônia.
Neste sentido, o presente trabalho tenta
explicar como o desmatamento, que é uma
realidade devido a exploração de seus recursos
naturais de forma inadequada e falta de
legislação ambiental decorrente de más gestões
públicas ao longo das décadas, afeta, além dos
aspectos sociais, políticos e econômicos, também
os ambientais, através da possível alteração na
vazão de rios da porção sul da bacia amazônica,
parte mais desmatada. Será abordada a
variabilidade climática da sub-região Sul da
bacia hidrográfica Amazônica, definida por
Limberger (2015), em uma escala temporal
interanual e espacial regional.
Análises exploratórias das relações espaciais
do desflorestamento na Amazônia legal serão
comparados com imagens de satélite para
identificar a ação do desmatamento nas possíveis
mudanças dos índices hidrometeorológicos.
Serão avaliados dados fluviométricos de
estações espacialmente próximas em uma série
temporal de aproximadamente 30 anos ou mais,
para que se possa levantar a hipótese que o
desmatamento está alterando o comportamento
de vazão e chuva na porção sul da bacia
Amazônia, por meio da formação de áreas de
baixa pressão devido ao aumento de temperatura
local em decorrência do desmatamento. A
floresta tem o papel fundamental de regulador
climático em escala global, e assim levantar-se a
hipótese de que a floresta amazônica é um
importante regulador dos balanços de energia e
hídrico, consequentemente a floresta pode
exercer influência sobre a circulação atmosférica
e a precipitação regional.
Isso pode consequentemente influenciar que
em curtos períodos de tempo possa ter havido
mudanças no comportamento de dados de chuva
e vazão em relação a outras estações em áreas
próximas que ainda não tinham sido desmatadas,
assim explicando como alterações na superfície
de determinada região podem modificar o clima
em escala local e até regional.
A OCUPAÇÃO DA AMAZÔNIA
BRASILEIRA NO SÉCULO XX Apesar de existir discursos diferentes em
momentos diversos da política Nacional, o intuito,
parcialmente, do governo central sempre foi de
integração do território, mas com esse discurso muito
109
da Amazônia legal Brasileira foi devastada, desde a
década de 1970. Isso, porém, sempre causou e causa
tensões políticas e sociais entre o que é
desenvolvimento e conservação ambiental,
principalmente na área da Amazônia Legal Brasileira,
onde o impasse entre preservação e ocupação do
território é mais forte. Desde a reforma agrária (que
nunca existiu realmente) até o incentivo fiscal
oferecido pelo estado a grandes corporações que
exploram a Amazônia e seus recursos sem nenhum
tipo de preocupação com o equilíbrio ambiental.
Existe uma grande lacuna entre o discurso e a
realidade prática na forma como está sendo e foram
partilhadas as riquezas da Amazônia, os debates e os
conflitos com toda comunidade indígena, o que deixa
a Amazônia em uma situação paradoxal em meio as
políticas públicas, diferenciando os grupos que as
compõem em diferentes regiões da Amazônia.
Devido à extensão territorial da Floresta
Amazônica, observa se uma variedade nos fatores
bióticos e abióticos nas diversas regiões da América
Sul Setentrional, o que exigiria do governo leis e
procedimentos específicos para cada uma das áreas.
Cáuper (2006, apud PAVÃO et al., 2015) descreve as
similaridades e dissimilaridades em todos os aspectos
da Amazônia Continental, dividindo a Amazônia em
Boliviana, Peruana, Equatoriana, Colombiana,
Venezuelana, Guiana e Brasileira.
A Amazônia brasileira foi oficializada pelo
governo federal em 1953, compreendendo os estados
do Pará, do Amazonas, os Territórios Federais do
Acre, Amapá, Guaporé e Rio Branco, parte do
território do Estado do Mato Grosso (norte do
paralelo 16º, de latitude Sul), do Estado de Goiás
(norte do paralelo 13º, de latitude Sul, atualmente
Estado do Tocantins) e do Maranhão - oeste do
meridiano de 44º (CÁUPER, 2006, apud PAVÃO et
al., 2015).
Em 1966 a Amazônia Brasileira passou a
ser denominada Amazônia Legal, abrangendo os
atuais estados do Pará, Amazonas, Acre, Amapá,
Rondônia, Roraima, Mato Grosso, Tocantins e a
maior parte do Maranhão (Figura 1).
MATERIAIS E MÉTODOS
Para este trabalho foram coletados dados
Fluviométricos mensais para o período de 1968 a
2015 para duas estações meteorológicas através
da Agência Nacional das Águas (ANA) no site
www.ana.gov.br/hidroweb. Cada estação
Fluviométrica tem um período de funcionamento
diferente, sendo a estação Cruzeiro do Sul no
estado do Acre-(AC) no período de 1967 a 2016,
a estação Fazenda Paranacre-AC no período de
1996 a 2015.
A estação de Cruzeiro do Sul (AC), na bacia
do rio Solimões, encontra-se próxima da área
urbana da cidade, porém a área ao entorno não
está intensamente desmatada, como pode-se
verificar na Figura 2.
Figura 2 - Localização do posto Cruzeiro do Sul-AC
110
Da mesma forma, a estação de Fazenda
Paranacre, também no Acre, encontra-se
próximo da área urbana (Figura 3).
Figura 3 – Localização do posto Fazenda Paranacre – AC
Ambas estações foram escolhidas por serem
do mesmo estado e por terem um tempo de
coleta de dados distintos: uma mais antiga,
Cruzeiro do Sul, a partir de 1968 e outra mais
recente, Fazenda Paranacre, a partir do ano 1996,
essa escolha pelo motivo que nos últimos 20
anos vem se intensificando gradativamente o
desmatamento na região Amazônia.
RESULTADOS
A figura 4 apresenta a série temporal de
vazão (m3/s) para a estação de Cruzeiro do Sul
para o período de 01/08/1967 a 30/04/2016.
Identifica-se a variabilidade temporal e também
uma reta de tendência negativa, porém, sem ser
estatisticamente significativa (r2=0,00000079).
Figura 4- Série temporal de Cruzeiro do Sul, de 01/08/1967 a
01/04/2016.
A figura 5 mostra que, para a estação de
Fazenda Paranacre, há também um tendência
negativa porém não significativa (r2=0,00045).
Figura 5 – Série temporal de Paranacre, de 01/06/1996 a 01/05/2016.
Além da tendência, é importante verificar a
variabilidade temporal, tendo, por exemplo, o
mês de junho de 2010, o maior valor mensal
registrado pela estação de Fazenda Paranacre
(Figura 5).
Ressalta-se também que há diferença
entre a variabilidade temporal entre as duas
estações (Figuras 4 e 5), o que pode ser
identificado como variabilidade espacial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa foram identificados
aspectos da variabilidade climática, espacial e
temporal, dos dados mensais da vazão para a
sub-região sul da Amazônia Legal Brasileira no
período de 1968 a 2015.
A partir dos dados das estações podemos
verificar que existe uma tendência linear negativa
de vazão, porém não significativa estatisticamente,
na região de estudo.
Possivelmente, com o aprofundamento das
pesquisas a partir deste trabalho, poderemos
verificar alterações no clima local devido ao
desmatamento que vem alterando o fluxo normal
de chuvas e consequentemente a vazão dos rios em
toda região sul da bacia Amazônica, ocasionando
problemas graves não apenas na Amazônia mas
sim em outras regiões do País.
y = 0,0046x + 936,32
R² = 8E-07
0500
1000150020002500300035004000
01/0
8/1
967
01/0
1/1
970
01/0
6/1
972
01/1
1/1
974
01/0
4/1
977
01/0
9/1
979
01/0
2/1
982
01/0
7/1
984
01/1
2/1
986
01/0
7/1
989
01/1
2/1
991
01/0
5/1
994
01/1
0/1
996
01/0
5/1
999
01/1
0/2
001
01/0
3/2
004
01/0
8/2
006
01/0
1/2
009
01/0
8/2
011
01/0
1/2
014
m3
/s
y = -0,013x + 43,889
R² = 0,0004
0
50
100
150
200
250
300
01/0
7/1
996
01/0
8/1
997
01/0
8/1
998
01/0
9/1
999
01/0
9/2
000
01/0
9/2
001
01/0
9/2
002
01/0
9/2
003
01/0
9/2
004
01/0
9/2
005
01/0
9/2
006
01/0
9/2
007
01/0
9/2
008
01/1
2/2
009
01/1
2/2
010
01/1
1/2
011
01/1
1/2
012
01/1
1/2
013
01/1
1/2
014
01/1
1/2
015
m3
/s
111
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LIMBERGER, L. Variabilidade da vazão de regiões
homogêneas da bacia hidrográfica amazônica brasileira:
teleconexões com a temperatura da superfície do mar
(TSM) de 1976 – 2010. Tese (Doutorado). FFLCH/USP,
2015.
MELLO, N.A. Políticas territoriais na Amazônia. São
Paulo: Annablume, 2006.
MELLO-THÉRY, N.A. Território e gestão ambiental na
Amazônia: terras públicas e dilemas do estado. São Paulo:
Annablume, 2011.
PAVÃO, V.M. et al. Aplicação do sensoriamento remoto
na determinação de temperatura da superfície em diferentes tipos de cobertura no município de Humaitá –
AM. Anais do XVII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento
Remoto. João Pessoa: SBSR, 2015.
112
AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE DA BACIA HIDROGRÁFICA DO CÓRREGO
PEROBA NO PERÍODO DE 2005 À 2017
Daiane Garcia de Souza1. Vanda Moreira Martins
2
1Acâdemica do curso de Geografia – UNIOESTE/campus Marechal Cândido Rondon. E-mail: [email protected]; 2Professora do Curso de Geografia da UNIOESTE-MCR.
INTRODUÇÃO
O solo, a água, a vegetação, o relevo e a fauna
formam unidades ambientais e coexistem em
permanente interação, respondendo às interferências
naturais, como o intemperismo e a modelagem da
paisagem, e àquelas de natureza antrópica, como o
uso e ocupação dos solos, afetando o sistema em seus
aspectos socioeconômicos (Lepsch, 2002).
A gestão dos recursos hídricos e do uso do solo no
Brasil, por exemplo, se fundamenta no recorte
territorial das bacias hidrográficas, ganhando força no
início da década de 1990 (Souza, 1996). Daí a
importância de se conhecer, divulgar e aplicar a
legislação ambiental no que diz respeito às regras de
uso do solo, das áreas de APP e à preservação dos
recursos hídricos, a partir das unidades de paisagem
representadas pelas bacias hidrográficas (Pissarra,
2003).
A atividade agrícola é a base econômica do
município de Marechal Cândido Rondon e o uso
adequado dos solos constitui um pré-requisito
essencial para garantir a sustentabilidade dos
sistemas agroindustriais e, também, urbanos. A bacia
hidrográfica do Córrego Peroba é a menos urbanizada
do município, entretanto observa-se que a tendência
de expansão urbana está direcionando-se para ela. No
entanto, apesar da existência das leis ambientais, a
utilização adequada dos recursos naturais, em
especial aqueles relacionados ao uso do solo, tem
preocupado alguns segmentos da sociedade. O mau
uso do solo restringe ou elimina as áreas de APPs,
alterando as condições físicas químicas dos recursos
hídricos na bacia hidrográfica, além de desencadear
outros impactos como a poluição e o assoreamento
dos canais fluviais, bem como a diminuição do
volume de água (Silva, 1995).
O município de Marechal Cândido Rondon está
localizado na região Oeste do estado Paraná, no
Terceiro Planalto Paranaense, entre os paralelos de
24° 26‟ e 24° 46‟ S e 53° 57‟ e 54° 22‟ W e possui,
aproximadamente, 51.795 habitantes (IBGE, 2017).
As APPs são áreas cobertas ou não por vegetação
nativa. As funções das Áreas de Preservação
Permanente são: a estabilidade geológica, a
biodiversidade, a beleza da paisagem, conter a erosão
do solo, diminuir os riscos de enchentes e
deslizamentos de terra e rocha nas encostas, facilitar
o desenvolvimento da fauna e flora e, especialmente,
assegurar e preservar o bem-estar das populações
humanas. As áreas de APP (faixas marginais) são
áreas que devem ser mantidas em zonas rurais ou
urbanas, em qualquer curso de água natural perene e
intermitente, excluindo os efêmeros, desde a borda da
calha do leito regular (Brasil, 2012).
E importante destacar que para O Novo Código
Florestal - Lei 12.651 de 25/05/2012, as APPs
consolidadas são as atividades agrossilvopastoris de
ecoturismo e turismo rural que já existiam em APPs
até 22 de julho de 2008. Estas poderão continuar e
serão consideradas desde que não estejam em áreas
de risco e sejam observados os critérios técnicos de
conservação do solo e da água estabelecidos no
Programa de Regularização Ambiental (PRA). O
órgão ambiental poderá comprovar a situação de área
consolidada por meio de fotos de satélites referentes
ao período anterior a 22 de julho de 2008. A distância
que tem que ser mantida nas bordas da calha do leito
para as áreas de APPs Consolidadas são diferentes
113
das APPs. Conforme o Novo Código Florestal, a
distância a ser preservada, vai depender dos módulos
fiscais e de largura do rio (Brasil, 2012). O módulo
fiscal varia de acordo com o município. No
município de Marechal Cândido Rondon, um (01)
módulo fiscal corresponde a 18 hectares (ha). Então,
o propósito deste trabalho foi analisar a evolução
temporo-espacial das áreas de APPs (2005 - 2017) e
verificar se as dimensões (m²) das áreas de APP na
bacia hidrográfica estudada estão de acordo com o
Código Florestal Brasileiro.
MATERIAIS E MÉTODOS
O critério de escolha do recorte espacial da
área de estudo (Bacia Hidrográfica do Córrego
Peroba) foi embasado no fato da bacia localizar-
se no perímetro periurbano da cidade de
Marechal Cândido Rondon e por apresentar
características de uso e ocupação dos solos que
contemplam o objeto de investigação. A bacia
está ocupada, predominantemente, por culturas
temporárias (soja/milho) e, secundariamente por
setores urbanizados em torno da sede municipal.
Conforme o Plano Diretor do Município, trata-se
de uma área promissora para a expansão urbana,
sobretudo no setor de montante da bacia, já
ocupado por loteamentos.
Quanto aos procedimentos metodológicos
utilizados no desenvolvimento da pesquisa,
podemos descriminar as seguintes etapas:
A primeira etapa consistiu em levantamentos
bibliográficos, a partir da seleção de livros,
artigos e dissertações que abordavam temas
relacionados ao Código Florestal Brasileiro dos
anos de 1934, 1965 e 2012 e a regulamentação
das APPs. Leituras dirigidas para o uso do solo
urbano e rural e a bacia hidrográfica como
unidade de estudo. Na etapa seguinte foi
realizado o levantamento dos documentos e
materiais cartográficos necessários: mapa das
propriedades rurais da bacia do córrego Peroba,
em arquivos do (Autocad), fornecidos pela
Prefeitura de Marechal Cândido Rondon; seleção
e captação das imagens de satélite disponível nos
sítios eletrônicos gratuitos (Google Earth 2005,
2011, 2013 e 2017) em anos anteriores e
posteriores às alterações do Novo Código
Florestal Brasileiro/2012. Os mapas temáticos de
declividade, curvatura das vertentes, de solos,
uso e ocupação da bacia do Córrego Peroba
encontram-se em Fruet (2016). Na sequência foi
realizada a obtenção da dimensão/delimitação
das áreas das propriedades (ha) e a demarcação
dos polígonos de cada uma delas. A demarcação
dos polígonos foi elaborada a partir do
cruzamento/sobreposição/interpolação das
imagens de satélite (Google Earth 2005-2017) e
do mapa das propriedades rurais em arquivos do
AutoCAD. Os dados e informações foram
exportados para o banco de dados do software
ArcGis 9.3, onde foi possível fazer o
geoprocessamento dos dados. Essa etapa foi
fundamental para verificar a adequação das
propriedades em relação a regulamentação das
áreas de APPs (2005-2017), conforme o Código
Florestal 2012.
A partir dos mapas e imagens obtidas, da
análise dos dados e informações neles contidos,
foi possível: mensurar a área total de cada
propriedade rural; mensurar as dimensões das
APPs em cada propriedade e se as APPs
apresentam sinais de degradação ou recuperação.
A análise e a interpretação dos dados obtidos
necessitaram de aferição, em campo, dos
elementos observados, identificados e analisados
(regulação das propriedades, uso e ocupação do
solo, largura dos canais de drenagem, dimensões
das APPs, incluindo as Áreas de Reserva Legal
etc). Na interpretação e análise do uso do solo foi
dada ênfase para os setores ocupados pelas
APPs.
RESULTADOS
Com a chegada da Lei N° 12.651, de 25 de
maio, 2012, chamado de Novo Código Florestal
Brasileiro (CFB), pode se dizer que o Brasil teve
um retrocesso legislativo diante do meio
114
ambiente, ignorando a opinião pública e
manifestações das principais instituições
científicas do país. A Lei 12.651/12 acarreta
vários riscos aos processos ecológicos essenciais,
à conservação dos biomas, ao equilíbrio
ecossistêmico e à segurança da população.
Um dos retrocessos legislativos no Novo
Código Florestal foi o fim da obrigação de se
recuperar áreas desmatadas ilegalmente até 22 de
julho de 2008. Portanto, o proprietário rural que
havia desmatado até esta data, por lei, não
precisa mais recuperar as APPs com a largura
que a lei anterior exigia (Tabela 1), mas sim, se
adequar à nova lei (Novo Código Florestal
Brasileiro de 2012), menos rigorosa quanto a
dimensão da largura das APPs (Tabela 2).
Com uma área total de 5,7 Km², a bacia do
Córrego Peroba localiza-se (Figura 1) no setor
oeste do perímetro urbano da cidade de Marechal
Cândido Rondon. É caracterizada por uma
topografia considerada plana (0-12% de
declividade), apresentando leves ondulações. Os
solos da bacia são bem desenvolvidos,
profundos, muito argilosos representados pelos
Latossolos e Nitossolos 72% do uso do solo
sejam de cultura temporária como o milho e a
soja. A topografia plana da área da bacia e os
solos bem desenvolvidos estão integrados à base
para a economia da região, em torno da
agricultura mecanizada.
Tabela 1- Dimensão da Área de Preservação
Permanente nas faixas marginais dos cursos de água
natural perene e intermitente, conforme CFB de 2012.
Largura do Rio Largura da APP em cada
margem do rio
Menos de 10 m 30 m
De 10 a 50 50 m
De 50 a 200 m 100 m
De 200 a 600 m 200 m
Mais de 600 m 500 m
Fonte: BRASIL, 2012.
Tabela 2 - Largura da APP consolidada em cada uma
das faixas marginais ao longo do curso de d‟água conforme o CFB de 2012.
Tamanho da
propriedade em
número de módulos
fiscais
APP de rios
menos de
10m
APP de rios de
mais de 10m
0 a 1 5m 5m
1 a 2 8m 8m
2 a 4 15m 15m
4 a 10 módulos 20m De 30m a 100 m
Acima de 10
módulos
Mínimo de 30 e o máximo de
100 m
Fonte: BRASIL, 2012
Figura 5 - Localização da área de estudo.
A partir do mapa das propriedades, foi
possível constatar que a Bacia do Córrego
Peroba (Figura 2- em anexo) possui 23 pequenas
propriedades rurais, sendo que quatro (04) não
fazem limite com o córrego, duas (02) localizam-
se ao redor das nascentes e 17 propriedades
fazem limite com o córrego. A maioria das
propriedades está entre um (01) e (02) módulos
fiscais.
115
Uma análise mais detalhada das dimensões
das APPs (> e < largura) em relação ao canal
Fluvial (Tabela 3) permitiu observar que nas
propriedades rurais, as larguras das APPs podem
variar em alguns pontos ao longo da margem do
rio. Algumas propriedades não possuem APPs
com larguras lineares (ou seja, com larguras
diferentes) ao longo da margem do rio.
Entretanto, quando possuem largura mínima de 8
metros, a propriedade está de acordo com o novo
CFB/2012. Isto porque ela se encaixa na área
consolidada de APP, atendendo as novas regras
do CFB. Isto não quer dizer que ela atendia ao
CFB anterior. Por outro lado, a propriedade que
tiver com a distância menor inferior a 8 metros
continuará não se enquadrando nas exigências da
nova Legislação (CFB/2012).
Tabela 3- Distância das APPs ao longo do Córrego
Peroba no ano de 2017.
Propriedades Maior distância
(m)
Menor distância
(m)
279 50,00 23,00
280 69,50 8,20
281 76,20 10, 03
282 50,80 19,60
283 168,00 5,40
285 63,00 10,50
286 31,60 7,30
287 105,40 7,40
288 92,30 4,60
289 99,00 51,10
290 81,30 9,20
291 63,70 11,30
292 84,20 16,70
293 11,00 __
270 70,50 __
271 59,80 21,20
272 80,10 26,50
273 134,90 88,30
274 54,20 6,37
275 34,20 6,00
276 72,50 5,38
277 122,50 __
278 66,10 3,30
De modo geral, a análise da situação das
APPs na bacia, entre os anos de 2005 e 2017,
permitiu registrar que houve recuperação da
vegetação. Nesse período, houve um crescimento
de mais de 100.000 m² nas APPs, apesar das
exigências do CFB/2012 terem se tornado mais
permissivas em relação aos critérios e às
dimensões das APPs (Tabela 4; Figuras 3, 4, 5, 6
– em anexo). Conforme o Código Florestal
Brasileiro/2012, as APPs que já existiam antes
de 2008, não podem ser suprimidas, mesmo que
suas larguras ultrapassem os limites impostos
pela nova lei. Estas devem ser mantidas, estando
sob controle, por meio de imagens de satélite.
Esse critério do novo CFB pode ter contribuído
para a diminuição da degradação das APPS,
estimulando a recuperação e manutenção.
Entretanto não penalizou os proprietários de
terras que não cumpriam a lei antes de 2008, ou
seja, que não mantinham as APPs com as
dimensões exigidas pelo antigo CFB.
Tabela 4 - Evolução das APPs no Córrego Peroba
Anos Área total da APP em metros
2005 643.748,65
2011 712.443,73
2013 775.296,36
2017 748.284,63
116
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com o Novo Código Florestal
(2012), grande parte das propriedades da bacia
do córrego Peroba contemplam as faixas de
APPs exigidas ao longo do rio em relação ao
módulo fiscal correspondente (entre 1 e 2
módulos fiscais). Verificou-se que 53% delas
têm suas APPs de acordo com a nova legislação
que exige, no mínimo, 8 metros de largura.
Apesar do retrocesso legislativo em relação
ao critério utilizado (tamanho da propriedade)
para o estabelecimento das dimensões das áreas
de APPs ao longo dos cursos d‟água, na bacia do
córrego Peroba, houve um aumento de cerca de
100.000m2 das APPs. No entanto, a distribuição
irregular (não linear) das dimensões das APPs
não tem eficácia sobre a prevenção dos impactos
ambientais decorrentes do uso e manejo dos
solos na bacia, como a perda de solo por erosão
hídrica, por exemplo.
É importante ressaltar, também, que em torno
de 55,6% das propriedades não apresentam área
Reserva Legal, apesar de que, até 2008, as
mesmas deveriam ter 20% de sua área com
reserva legal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Código Florestal Brasileiro. Presidência da
República, casa civil, subchefia para assuntos jurídicos.
Brasília, 25 de maio de 2012; 191° da Independência e
124° da República.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E
ESTATÍSTICA (IBGE). Censo Demográfico 2017.
Disponível em:http://www.ibge.gov.br>. Acesso em: 24 de
Outubro de 2017.
LEPSCH, I. F. Formação e conservação dos solos. São
Paulo: Oficina de textos, 2002.
MARECHAL CÂNDIDO RONDON. Plano diretor
Disponível em< http://www.mcr.pr.gov.br>. Acesso em
Junho de 2015.
PISSARRA, T.C.T.; POLITANO, W.A. Bacia
Hidrográfica no Contexto do Uso do Solo com floresta.
Jaboticabal: Ed. FUNESP, 2003.
SILVA, A.M. Princípios básicos de hidrologia. Depto. de
Engenharia. UFLA. Lavras- Minas Gerais, 1995.
SOUZA, Enio Resende de; FERNANDES, Maurício
Roberto. Sub-bacias hidrográficas unidades básicas para
o planejamento e gestão sustentáveis das atividades
rurais. Belo Horizonte, 1996. EMATER-MG.
117
Figura 2 – Dimensão das APPs ao longo do Córrego Peroba no ano de 2017.
118
Figura 3 - Área de Preservação Permanente na
bacia do córrego Peroba no ano de 2005
Figura 4 - Área de Preservação Permanente na
bacia do córrego Peroba no ano de 2011
Figura 5 - Área de Preservação Permanente na
bacia do córrego Peroba no ano de 2013
Figura 6 - Área de Preservação Permanente na
bacia do córrego Peroba no ano de 2017
119
CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS VERDES NO PERÍMETRO URBANO DE MARECHAL
CÂNDIDO RONDON-PR
Gabriela De Bona Wild1; Karin Linete Hornes
2
1 Mestranda em Geografia, UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon-PR; [email protected]. 2Professora Adjunta, UNIOESTE/Marechal Cândido Rondon-PR
INTRODUÇÃO
A questão ambiental adquire importância para
o estudo do planejamento urbano porque
atualmente a maior parte da população brasileira
vive em centros urbanos. Segundo dados do
Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), no ano de 2014,
do total da população brasileira,
aproximadamente 85,43% eram habitantes de
áreas urbanas. À medida que as cidades
continuam a crescer, a valorização dos espaços
verdes é vital, mas também é um desafio,
particularmente para as nações em
desenvolvimento, onde há pressão para ocupação
do espaço e utilização dos recursos naturais.
O estilo de vida cada vez mais citadino
representa um desafio para o sistema urbano e
exige inovações de gestão. Espaços verdes em
áreas urbanas não deveriam ser vistos como
meras determinações legislativas. Muito além
destas exigências, estas áreas se planejadas
adequadamente, possibilitam a minimização de
riscos e o melhoramento da resiliência humana.
Sua importância destaca-se tanto para a
paisagem quanto para a população, identificando
seus aspectos sociais, culturais e históricos.
As atividades podem proporcionar um
beneficiamento à saúde física e psicológica e,
quando bem exploradas e distribuídas, podem
servir de áreas educativas e culturais que elevam
o patrimônio local e proporcionam um acesso
equitativo social. A partir disto, parte-se da
premissa que a análise das áreas verdes é de
fundamental importância para o planejamento
urbano ambiental condizente com a realidade e a
necessidade da população.
MATERIAIS E MÉTODOS
Com a motivação de averiguar como o
município está administrando a inserção destas
áreas verdes, é que o trabalho foi proposto. O
objetivo foi caracterizar as Áreas Verdes do
Perímetro Urbano do município de Marechal
Cândido Rondon com relação aos índices de
Áreas Verdes. Para atingir este objetivo foi
necessário localizar, quantificar e qualificar estes
locais, bem como verificar o tipo de uso que se
realiza para que, posteriormente, possam ser
realizadas propostas de utilização e benfeitorias
para o melhoramento da qualidade
socioambiental destas.
Este trabalho justifica-se no sentido de que
estas proposituras primarão por um novo olhar
para as áreas verdes. Não as colocando como
uma obrigatoriedade legal, mas como um
patrimônio que deve ser conhecido, conservado
hoje e para as futuras gerações. A biodiversidade
local e as áreas verdes devem ser encaradas não
como um corpo estranho dentro da cidade, mas
como corpo integrante e participador da estrutura
e dinâmica urbana.
Torna-se oportuno a realização da pesquisa no
município de Marechal Cândido Rondon, porque
seu Plano Diretor, elaborado em 2008, está no
prazo de revisão e é de suma importância
diagnosticar as áreas verdes para que a
população e os organizadores munícipes tomem
conhecimento desta situação e reflitam sobre
estratégias que auxiliem e proporcionem
melhorias ao espaço urbano.
Assim, pensando a respeito das modificações
dos usos do solo e da paisagem decorrentes da
expansão urbana tem-se a necessidade de
120
explorar as áreas verdes e valorizar as cabeceiras
de nascentes existentes as quais são de grande
relevância, já que algumas delas são utilizadas
para a própria obtenção de água potável local e
para que se tenham alguns cuidados mínimos de
forma que este bem perdure.
Para que fosse possível chegar aos resultados,
primeiramente realizou-se uma reflexão teórica
das questões referente ao espaço urbano, áreas
verdes e a legislação urbanística ambiental.
Posteriormente, apresentou-se a caracterização
do município, das áreas de proteção ambiental e
das áreas verdes urbanas, para por fim, calcular o
índice de áreas verdes urbana atual.
A primeira etapa baseou-se na descrição de
Côrrea (2003), que auxiliou na compreensão da
dinâmica da organização espacial, bem como dos
agentes sociais que produzem o espaço urbano.
Logo após deu-se início a descrição das áreas
verdes, as quais foram definidas a partir dos
conceitos elaborados por Cavalheiro et al.
(1999).
A segunda etapa iniciou-se com a localização
do município, características socioeconômicas,
ordenamento territorial urbano de Marechal
Cândido Rondon, caracterização das áreas verdes
urbana e cálculo do Índice de Áreas Verdes.
Para Mendonça (2002) a história da sociedade
humana está diretamente relacionada com a
questão ambiental, portanto tem se utilizado a
terminologia socioambiental. O termo sócio está
atrelado ao termo ambiental, pois não tem como
falar de meio ambiente sem enfatizar o
envolvimento da sociedade enquanto sujeito e
parte fundamental dos processos relativos à
problemática ambiental contemporânea.
O espaço geográfico se constitui na medida
em que o homem transforma a natureza da
cidade e produz algo através do desenvolvimento
do seu trabalho. Em cada etapa do processo
histórico percebe-se que as formas,
características e distintas funções que as cidades
assumem adquirem um dinamismo com o passar
do tempo, ou seja, a cidade tem uma história
(CARLOS, 1994, p. 57).
Côrrea (2003) descreve que o espaço urbano é
organizado de modo fragmentado e articulado,
suas partes, além de manterem relações espaciais
com as demais, se manifestam através dos fluxos
de veículos, de pessoas, de informações, de
mercadorias e de ideologias. O interior do espaço
urbano se dá através do conjunto de diferentes
usos justapostos entre si, que definem atividades
em áreas comerciais, industriais, lazer, serviços,
gestão e de reserva para futura expansão.
Para Lombardo (1985), é no espaço urbano
que os problemas ambientais atingem maior
amplitude. Isto ocorre devido à alta concentração
de poluentes do ar e da água e da degradação do
solo e subsolo por conta do uso intensivo das
atividades. A complexidade dos problemas em
áreas urbanizadas e a interferência do homem ao
meio natural fazem com que a natureza reaja e
cause desastres que podem gerar elevados custos
sociais e que interferem na qualidade de vida dos
habitantes.
Na opinião de Loboda e de Angelis (2005), as
áreas verdes públicas são elementos
imprescindíveis para o bem-estar da população,
pois influenciam diretamente na saúde física e
mental, uma vez que entre tantos benefícios,
essas áreas absorvem ruídos, atenuam o calor,
amenizam a opressão em relação às edificações,
filtram as partículas sólidas no ar.
Lee (2015) ressalta que o contato com as
áreas verdes pode proporcionar benefícios
individuais, a partir de espaços para atividade
física, descanso e relaxamento. Do mesmo
modo, os benefícios também atingem o coletivo,
o contato social, reduz o isolamento e leva a uma
maior resiliência e bem-estar pessoal. Para que
esse acesso seja possível é preciso que se tenha o
sentimento de coesão comunitário, de forma que
o aspecto sociocultural não seja um empecilho
para se usar as áreas verdes.
Para distinguir espaço livre de áreas verdes e
cobertura vegetal, Cavalheiro et al. (1999) usam
121
a seguinte estratégia: espaço livre de construção
é o espaço urbano ao ar livre destinados para as
atividades relacionadas como caminhadas,
descanso, passeios, esportes, recreação,
entretenimento. Os locais de passeio a pé devem
ser separados dos meios motorizados, oferecendo
segurança e comodidade. Podem ser privados,
coletivos ou públicos e tem como principais
funções: estética, lazer e ecológico-ambiental.
As áreas verdes são classificadas como um
tipo especial de espaços livres e o elemento
fundamental é a vegetação. Além dos objetivos
citados de estética, lazer e ecológico-ambiental, a
vegetação e o solo permeável (sem laje) devem
ocupar 70% da área e proporcionar recreação
para a população. Canteiros, rotatórias e
arborização são considerados verdes de
acompanhamento viário e estão classificados na
categoria de espaços construídos ou de
integração urbana (CAVALHEIRO et al., 1999).
Os índices auxiliam no que se refere a
implantação de áreas verdes no espaço urbano,
mas a comparação entre esses valores só é
possível quando se aplica métodos e técnicas
semelhantes. A quantificação deve estar atrelada
a um estudo de distribuição espacial destas áreas,
que servirão de parâmetro para avaliação das
condições ambientais e a disponibilidade de uso
pela população (BUCHERI FILHO e NUCCI,
2006, p. 50).
Cavalheiro e Del Picchia (1992) ressaltam
que os índices não são receitas a serem seguidas,
mas servem como apoio científico para o
planejamento. Depois de realizarem muitos
estudos, não obtiveram confirmação em relação
ao índice de 12m²/hab. que, no Brasil, é
difundido como ideal proposto pela ONU ou a
OMS. A Sociedade Brasileira de Arborização
Urbana (SBAU) propôs, como índice mínimo
para as áreas verdes públicas destinadas a
recreação, o valor de 15m²/hab.
RESULTADOS
O município de Marechal Cândido Rondon
(Figura 01) pertence a Mesorregião Oeste
Paranaense e Microrregião de Toledo.
Localizado entre as coordenadas 24º33'22''S
latitude, 54º03'24''W longitude e 410 metros de
altitude (IBGE, 2017).
Distante 584,52 km da capital paranaense,
Marechal Cândido Rondon apresenta uma área
territorial de 748,28km², dividido em sete
distritos, sede urbana e área rural. A população
conforme o Censo 2010, é de 46.819 habitantes.
Desses 83,61% residem na área urbana e 16,39%
na área rural. A atividade econômica que
predomina é a agricultura e pecuária, seguida do
comércio e das indústrias de transformação
(IPARDES, 2017).
Figura 01: Localização do Município de Marechal
Cândido Rondon
Fonte: Wild (2016)
Para a caracterização das áreas verdes,
utilizaram-se aquelas áreas que são definidas,
por lei, como praças, parques e áreas de proteção
ambiental. Utilizou-se a base cartográfica
fornecida pela prefeitura municipal para medição
e cálculo da área permeável. Em campo
verificou-se que as mesmas atendem as funções
estética, ecológica e lazer e oferecem atividades
à população. Com essas informações tornou-se
possível identificar quais áreas estão aptas para
122
serem consideradas áreas verdes e incluídas no
cálculo de Índice de Áreas Verdes. A figura 02
mostra a localização dessas áreas no perímetro
urbano da cidade.
Figura 02: Localização das áreas verdes urbana e áreas
de proteção na cidade de Marechal Cândido Rondon
Org. Wild (2017)
As Áreas de Proteção Ambiental apresentadas
pelo Plano Diretor Municipal estão relacionadas
com a rede de drenagem contida no perímetro
urbano, que é formada por cinco microbacias
hidrográficas, denominadas de acordo com o
principal curso d´água, são elas: Área de
Proteção Ambiental do Córrego Bonito (APA
01), Área de Proteção Ambiental do Córrego
Guará (APA 02), Área de Proteção Ambiental da
Sanga Matilde Cuê (APA 03), Área de Proteção
Ambiental da Sanga Borboleta (APA 04) e Área
de Proteção Ambiental da Sanga Guavirá (APA
05).
Para essa pesquisa serão consideradas as
praças instituídas por lei. São elas: Praça Dealmo
Selmiro Poersch, Praça 31 de outubro, Praça
Willy Barth, Praça Farroupilha e Parque
Ecológico Rodolfo Rieger.
Para calcular o Índice de Áreas Verdes (IAV)
existente no perímetro urbano da cidade de
Marechal Cândido Rondon, foi considerado o
somatório das áreas totais em metros quadrados
das áreas verdes, divididas pelo número de
habitantes da área urbana, de acordo com último
Censo de 2010. Foi considerado, de acordo com
a Sociedade Brasileira de Arborização Urbana
(SBAU), o índice mínimo para as áreas verdes
públicas destinadas a recreação, o valor de
15m²/habitante.
A primeira situação considerou as áreas
verdes urbana que atenderam totalmente os
conceitos apresentados, ou seja, as praças e
parques conforme o quadro 01:
Local Área (m²)
Praça Dealmo S.
Poersch 8.872
Praça Willy Barth 30.816
Praça 31 de outubro 8.829
Praça Farroupilha 2.551
Parque Ecológico Rodolfo Rieger
116.297
TOTAL 167.365
Quadro 01: Área (m²) das praças e parque.
Fonte: Prefeitura do Município de Marechal
Cândido Rondon. Org.: Wild (2017)
IAV=área total de áreas verdes na zona urbana (m )
habitantes da área urbana (hab.)
IAV=167.365 (m )
39.147
IAV= 4,27m²/hab.
A partir deste cálculo, parte-se da premissa
que o Município apresenta um baixo Índice de
Áreas Verdes na área urbana do distrito sede.
Porém, de acordo com o zoneamento proposto, a
cidade conta cinco áreas delimitadas como Zonas
de Proteção Ambiental que apresentam potencial
para serem incluídas neste cálculo. Atualmente
apenas parte de uma dessas áreas, APP 03,
apesenta uso de lazer. O segundo cálculo parte
do pressuposto que todas as áreas de proteção
ambiental atenderiam os conceitos propostos
para áreas verdes, conforme quadro 02:
123
Local Área (m²)
Bonito 182.765,11
Guará 132.220,36
Matilde Cuê 171.980*
Borboleta 319.123,49
Guavirá 367.649,21
TOTAL 1.173.737,89
*foi descontada a área já utilizada para o Parque
Ecológico
Quadro 02: Área (m²) das áreas de proteção ambiental.
Fonte: Prefeitura do Município de Marechal
Cândido Rondon. Org.: Wild (2017).
IAV=1.173.737,89 (m )
39.147 (hab.)
IAV= 29,98m²/hab.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os órgãos gestores da cidade de Marechal
Cândido Rondon mostraram uma preocupação
com as áreas verdes no início da sua colonização
na década de 60. A relação praça, igreja, escola,
tornou-se uma característica no seu traçado
inicial e as áreas verdes eram extensões das
atividades realizadas nessas instituições. A partir
da década de 70 e com o aumento da população,
os novos loteamentos não acompanharam o
desenho urbano e a quantidade de áreas verdes,
ainda que exigidas por lei, não foram executadas.
A partir dos conceitos elencados de área
verde, as praças e o parque existente cumprem as
funções exigidas, ainda que necessitem de
melhorias. Mas pelo Índice de Área Verde da
área urbana, percebe-se que está muito aquém do
proposto nessa pesquisa. Porém, o município
dispõe de amplas áreas de proteção ambiental,
além dos espaços livres previstos em lei, as quais
poderão ser adequadas como áreas verdes e
cumprirem as funções estética, ecológica e de
lazer.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BUCCHERI FILHO, A. T.; NUCCI, J. C. Espaços livres,
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124
COLEÇÃO DE REFERENCIA DE FITÓLITOS DA FLORESTA ESTACIONAL
SEMIDECIDUAL NA ESTAÇÃO ECOLÓGICA CAETETUS - SP
Erica de Souza1; Marcia Regina Calegari
2; Luciane Marcolin
3; Rodrigo S. Macedo
4; Pablo Vidal-
Torrado5.
1Mestranda em Geografia, UNIOESTE/Marechal Candido Rondon, [email protected]; 2Professora Colegiado de Geografia, UNIOESTE/Marechal Candido Rondon;
3Doutoranda em Geografia- UFPR; 4Dr. Ciências - Solos e Nutrição Plantas;
5Prof. Depto de Ciência do Solos - ESALQ/USP
INTRODUÇÃO
Fitólitos, termo que deriva do grego
“phyto=planta” e “lithos=pedra”; significa
“pedra produzida por plantas”. São
biomineralizações formadas a partir da
deposição da sílica amorfa hidratada não
cristalina dentro e entre as células de diferentes
tecidos vegetais, ao longo do ciclo vegetativo de
muitas espécies de plantas (ROVNER, 1971;
PIPERNO, 2006).
Estudos de fitólitos, sobretudo em relação à
produção e morfometria dessas
biomineralizações, têm contribuído na
compreensão da vegetação e de climas pretéritos,
principalmente sobre a trajetória histórica desses
elementos naturais ao longo do Período
Quaternário. A análise fitolítica constitui ainda
uma ferramenta útil à botânica, etnobotânica,
pedologia e arqueologia (PIPERNO, 2006).
A durabilidade e a pouca disperção dos
fitólitos no ambiente os torna importantes e
eficientes registros do clima e da vegetação
pretéritos (MADELLA et al., 2007). Desta
forma, o fitólito, juntamente com outros proxies
biológicos (por exemplo os isótopos, pólen e
etc), possibilitam reconstituir possíveis trocas
vegetacionais e inferir sobre as mudanças ou
oscilações climáticas ao longo do Quaternário,
bem como sobre a formação da atual estrutura e
funcionamento de alguns ecossistemas.
O emprego do fitólito na reconstrução dos
paleoambientes se mostra mais eficaz devido as
suas vantagens em relação a outros proxies, tais
como: (i) boa preservação em solo e sedimentos,
em diferentes condições edáficas; (ii) capacidade
de distinção de ambiente e tipo de vegetação
onde os solos/sedimentos se formaram; (iii)
complementação e por vezes, substituição ao
emprego da análise polínica para a reconstrução
da estrutura da vegetação, porque são facilmente
preservados, não sofrem tantos danos mecânicos
e não requerem condições específicas de
preservação nos diferentes tipos de sedimentos e
solos (minerais e hidromórficos), (iv)
possibilitam a diferenciação entre gramíneas de
padrão fotossintético C3 e C4, complementando a
interpretação dos valores isotópicos obtidos da
matéria orgânica do solo e da análise polínica
(quando realizada) (CALEGARI, 2013).
Todas essas informações são importantes,
uma vez que podem ser utilizadas pelos gestores,
sobretudo de áreas de proteção como as estações
ecológicas –(ESEC), em suas atividades de
gerenciamento, manejo e conservação dos nossos
biomas. Por isso a presente proposta de pesquisa
de mestrado é parte de um projeto maior1 que
tem como objetivo principal elaborar coleções de
referências de fitólitos das principais
fitofisionomias do Brasil para subsidiar os
estudos paleoecológico e de reconstituição
ambiental (clima e vegetação), baseados nos
fitólitos.
1 “Identification and discrimination of forest/savannah
ecosystems of Brazil on the basis of phytolith assemblages and indexes to understand past vegetation and soil genesis” (CAPES- PVE A115/2013)
125
Para este trabalho foi selecionada a área da
Estação Ecológica Caetetus – ESEC Caetetus. A
ESEC possui 2.178,84 há e preserva uma das
maiores áreas contínuas representativas da
Floresta Estacional Semidecidual que revestia o
Planalto Ocidental Paulista, restrita hoje a menos
de 6% da cobertura original. A inexistência de
florestas naturais significativas, em um raio de
aproximadamente 200 km, faz desta Estação a
base para o conhecimento da estrutura e
funcionamento do ecossistema regional original
(TABANEZ et al., 2005)
Atualmente, não existem registros da
produção fitolítica da FES. Desta forma é de
suma importância que seja elaborada a coleção
de referência da plantas modernas
representativas dessa fitofisionomia e que a
assinatura fitolítica preservada no solos seja
registrada antes que muitas espécies
desapareçam.
Assim, o presente estudo objetivo elaborar
uma coleção de referência das principais
espécies representativas da Floresta Estacional
Semidecidual (FES). Os objetivos específicos
são: (i) extrair, quantificar e classificar os
fitólitos produzidos pelas plantas e o conjunto
preservado no solo, que são representativos da
Floresta Estacional Semidecidual preservada na
ESEC Caetetus e; (ii) determinar a assinatura
fitolítica da vegetação atual.
Com isso espera-se identificar as espécies
produtoras e quais os principais morfotipos por
elas produzidas e assim minimizar os efeitos da
redundância (quando várias espécies produzem o
mesmo morfotipo) e da multiplicidade (quando
uma mesma planta produz vários morfotipos)
(Rovner, 1971).
Diante disso, apresenta-se a seguir os
resultados preliminares sobre a da coleção de
referência que vem sendo elaborada.
MATERIAL E MÉTODO
Localização da área
De acordo com os dados apresentados no
plano de manejo da ESEC (TABANEZ, et al.,
2005) a estação abrange uma área 2.178,84 ha e
preserva uma das maiores áreas contínuas
representativas da Floresta Estacional
Semidecidual que revestia o Planalto Ocidental
Paulista, restrita hoje a menos de 6% da
cobertura original. A área da ESEC abrange
parte dos municípios de Gália e Alvinlândia
(FIGURA 1), geograficamente situada entre
22º20‟ e 22º30‟ de Lat. S e 49º40‟ e 49º45‟ de
Long. W Gr,(TABANEZ et al., 2005).
Figura 6: Localização da ESEC Caetetus, Gálai (SP).
Inserida na província geomorfológica Planalto
Ocidental, zona do Planalto de Marília. A
geologia da região onde está inserida a ESEC
composta predominantemente por arenitos das
Formações Marília e Adamantina do Grupo
Bauru (Almeida et al., 1981), depositadas no
Período Cretáceo. Secundariamente, são
encontrados Sedimentos Continentais
Indiferenciados e Sedimentos Aluvionares
(TABANEZ et al., 2005).
O relevo suave ondulado da região é formado
por colina, morrotes e planaltos interiores que
refletem o forte controle estrutural das camadas
subhorizontais da Bacia do Paraná, com leve
caimento para oeste, formando uma extensa
126
plataforma estrutural extremamente suavizada
(Ponçano et al., 1981; TABANEZ eta l., 2005).
Correlacionadas a este relevo são encontradas,
dentro da área da ESEC, de acordo como mapa
de solos disponível em TABANEZ et al. (2005)
Latossolo Vermelho Amarelo argissólico,
Argissolo Vermelho-Amarelo, Neossolo
Regolítico, Neossolos Litólitcos. O clima,
segundo a classificação de Köppen, é do tipo
Cwa, mesotérmico de inverno seco com
temperaturas inferiores a 18°C no inverno e
superiores a 22°C no verão. No mês mais seco o
total da precipitação não passa de 30 mm,
atingindo a precipitação anual de 1.100 a 1.700
mm (TABANEZ et al., 2005).
Coleta de plantas e solos
O trabalho de campo na ESEC Caetetus
ocorreu entre os dias 9 e 14 de novembro de
2015. A coleta foi realizada ao longo de uma
transecção de cerca 500 metros, conforme
metodologia delineada no projeto maior, do qual
esta proposta faz parte. A cada 100 metros foram
coletadas amostras das camadas mais
superficiais do solo (0-5 cm e 5-10 cm) e da
serapilheira para caracterização da assembleia
fitolítica representativa da Floresta Estacional
Semidecidual - FES (Bioma Mata Atlântica)
(Figura 2).
Figura 7: Esquema de amostragem de plantas e solos
na área de estudo.
Foram coletadas 70 espécies representativas
dos diferentes estratos da floresta foram
coletadas dentro de um raio de 50 m ao redor de
cada um dos cinco pontos ao longo da transecção
de 500 metros. As espécies amostradas são as
mais representativas em termos de ocorrência no
local e da fitofisionomia da FES e sua
identificação e coleta foram orientadas pelo
botânico Gabriel D. Colleta.
Na coleta das amostras de solos para as
análises de rotina e da composição isotópica e
para datação, foi aberta uma trincheira de 2
metros de profundidade na parte central do
transecto de 500m, situado na parte mais elevada
da ESEC. Foram coletas amostras por horizonte
de solo, sistematicamente a cada 10 cm (da base
para o topo da trincheira) para análise fitolítica e
isotópica. Para datação foram coletadas amostras
na base, no meio e no topo da trincheira (dados
não apresentados neste trabalho).
Extração, identificação e contagem de fitólitos
A extração de fitólitos preservados no solo foi
realizada no Laboratório de Mineralogia do Solo
na Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz – ESALQ/USP, em Piracicaba (SP),
seguindo o protocolo descrito em Calegari et al.,
(2013b) com método 2.
Para a extração de fitólitos das plantas atuais
da FES, foram usados aqueles adaptados dos
procedimentos preconizados por Campos e
Labouriau (1969) e por Piperno (2006)
conhecido como dry ashing, e empregados como
técnica do laboratório da UNIOESTE –
Marechal Cândido Rondon.
O método consiste na lavagem do material e
secagem em estufa por 24 horas para obtenção
da massa seca inicial, seguida por uma
calcinação em mufla por 6 horas (600°C). Em
seguida um ataque ácido com HCl (5%) para
eliminação dos carbonatos e nova calcinação a
600°C por 4 horas. No final é realizada uma
pesagem para obtenção da fração insolúvel ao
ácido (FAI), que contém os fitólitos.
A assembleia obtida em cada espécie foi
observada em microscópio petrográfico com
127
aumento de 63X, fotografados e medidos. Foram
contados 300 morfotipos identificáveis com
tamanho maior que 5μm.
Os morfotipos foram descritos, medidos,
fotografados e nomeados conforme International
Code for Phytolith Nomenclature – ICPN 1.0
(MADELLA et al., 2005). A produção fitolítica
de espécies ainda será avaliada em termos de
abundância e diversidade de morfotipos.
RESULTADOS
Para esse trabalho foram selecionadas 23
espécies de plantas pertencentes a FES,
agrupadas a 15 famílias de espécies de hábito
arbóreo e uma espécie de gramínea da família
Poaceae (Tabela 1).
De acordo com os resultados a produção de
fitólitos neste conjunto de espécies é variada,
sendo 52,2% classificadas como excelentes
produtoras (produção abundante), 39,1 não
produziram fitólitos, embora tenham produzido
AIF (fração insolúvel ao ácido) e 4,3% (uma
amostra) apresentou produção moderada,
classificada como boa (Tabela1).
A produção de AIF, fração insolúvel ao ácido,
variou em 0,02% (Astronium graveolens –
Anacardiaceae) e 7,81% (Pharus- Poaceae).
Entretanto, assim como observado em outras
coleções realizadas pelo grupo a correlação entre
a quantidade de AIF recuperada e a produção de
fitólitos não apresenta correlação significativa. A
análise de correlação de Pearson aplicada indica
uma correlação positiva baixa de 0,49. Indicando
que nem todo material silicificado pelas plantas
são depositados dentro e entre as células, e não
formam corpúsculos com forma e tamanho
(>5µm) que possam ser reconhecidos e
considerados fitólitos com significado
taxonômico e/ou ambiental (Epstein, 2001).
A baixa correlação entre massa seca inicial e
a quantidade de AIF é observada na Figura 3, no
gráfico de correlação.
Essa baixa correlação é reflexo da diferença
morfofisiológica das plantas intra e entre
famílias. Por exemplo, na família Euphorbiacea,
com três espécies, observou-se variação entre as
porcentagens de AIF após o processo de
extração, porém todas apresentam produção
abundantes.
Figura 8: Gráfico de dispersão entre os valores de massa seca inicial e AIF.
Na literatura essa família tem sido
classificada como uma boa produtora de fitólitos
(Piperno, 2006). Entre as famílias a variação
observada foi maior, sendo a família Poaceae,
que apresenta elevado teor de AIF e produção
abundante, resultado que vem ao encontro da
literatura corrente e dos trabalhos já realizados
pelo grupo, que corroboram a família Poacae
com uma excelente produtora de morfotipos
diagnóstico, com significado taxonômico, que
permite a identificação em nível de subfamília,
além de permitir a separação em termos de ciclo
fotossintético (C3 ou C4) (Twiss. 1992). As
famílias Sapindaceae, Fabaceae, Phyllantaceae,
Meliaceae, Rutaceae, Myrtaceae, Bignoniaceae e
Rubiaceae produziram AIF, porém, não
produziram fitólitos com tamanho >5µm
(Epstein, 200), forma identificável e com
significado taxonômico. Entre as famílias de não
monocotiledôneas, com hábito arbóreo, a maior
produtora de fitólitos observada neste conjunto
de dados foi Proteaceae.
128
Tabela 1: Tabela das famílias e espécies coletadas e analisadas com as informações de peso inicial (em gramas) da
amostra seca, a produção de cinza (em %) e a produção conforme observação nos 20 campos em 3 linhas da
lâmina.
Família Gênero Espécie
Massa Seca
Inicial
(gramas)
AIF
(%)* Produção de fitólitos**
Anacardiaceae Astronium graveolens 3,1572 0,02 Abundante
Annonaceae Duguetia lanceolata 4,4792 3,63 Abundante
Apocynaceae Aspidosperma polyneuron 3,5948 0,13 Abundante
Bignoniaceae Zeyheria turberculosa 2,2921 0,3 Não Produtora
Boraginaceae Cordia ecalyculata 1,879 0,87 Abundante
Euphorbiaceae Croton floribundus 5,2397 1,81 Abundante
Euphorbiaceae Actinostemon concipsionis 1,4706 2,11 Abundante
Euphorbiaceae Aparisthmium cordatum 2,3186 1,73 Abundante
Euphorbiaceae Maprounea guianensis 2,286 0,34 Abundante
Fabaceae Ormosia arborea 4,3261 0,21 Não Produtora
Fabaceae Copaifera langsdorfii 4,2745 0,11 Não Produtora
Fabaceae Hymenaea courbaril 4,3467 0,09 Não Produtora
Lauraceae Ocotea sp.
3,384 0,29 Abundante
Meliaceae Cedrela fissilis 2,3191 0,17 Não Produtora
Myrtaceae Myrciaria floribunda 4,1918 0,22 Não Produtora
Phyllantaceae Savia dictyocarpa 2,3518 0,22 Não Produtora
Poaceae Pharus
1,4299 7,81 Abundante
Proteaceae Roupala montana 5,4682 0,77 Abundante
Rubiaceae Amaioua intermedia 2,6362 0,06 Não Produtora
Rutaceae Esenbeckia grandiflora 2,6336 3,54 Abundante
Rutaceae Esenbeckia leiocarpa 3,282 0,04 Não Produtora
Sapindaceae Cupania tenuivalvis 3,4242 0,73 Não Produtora
Siparunaceae Siparuna guianensis 3,3897 0,29 Boa
*AIF- Fração insolúvel ao ácido em porcentagem da massa seca.
**Rara: menos que 10 fitólitos; Pouca: de 11 a 100 fitólitos; Boa: 101 a 300 fitólitos; Abundante:
acima de 301 fitólitos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados aqui apresentados são
preliminares e indicam que espécies estudadas
apresentam produção variada intra e entre
família, corroborando estudos já realizados pelo
grupo.
A produção de fitólitos observada apresenta
variação de morfotipos (dados não apresentados)
que destacam a importância da coleção de
referências, pois permite conhecer a produção
fitolítica das espécies representativas da FES, e
assim minimizar a redundância entre as planas
intra e entre famílias.
Os fitólitos apesar de contados, ainda não
foram identificados, fotografados e nomeados
conforme o ICPN 1.0. Porém, nesta primeira
análise foi possível de se estabelecer relação
129
entre o peso inicial da amostra e o que foi
produzido de cinza após procedimento de
extração. Além disso, a contagem da lâmina em
3 linhas com 20 campos cada permite conhecer a
produção de silicificação das espécies para
posterior identificação dos morfotipos com
significado taxonômico para se conhecer a
assembleia fitolítica da fitofisionomia.
Os resultados preliminares sobre as
morfologias indicam variada produção de
fitólitos em Eudicotiledoneae, porém nenhuma
das espécies estudadas até o momento produziu
algum morfotipo novo com valor taxonômico.
AGRADECIMENTOS: Agradecimento a
CAPES pelo auxílio financeiro (CAPES-PVE
A115/2013), aos diretores da ESEC Caetetus
pelo suporte e apoio aos trabalhos de campo.
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130
EVENTOS ENOS CANÔNICO E MODOKI
Valdeir Welter1; Leila Limberger
2;
1PPGG – UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon, [email protected]; 2CCHEL – UNIOESTE/Campus Marechal Cândido Rondon;
INTRODUÇÃO
A busca pelo entendimento da interação entre
os vários fenômenos que compõem a atmosfera e
sua ação no espaço geográfico tem se
configurado como uma das principais linhas de
investigação da atualidade nas ciências da
natureza, principalmente devido à discussão
acerca das mudanças climáticas globais.
A dinâmica climática que mais afeta as
atividades socioeconômicas associa-se a eventos
extremos, que geram um descompasso no padrão
natural causam prejuízos e exigem readaptações
das sociedades. Tais eventos climáticos são
estudados pela perspectiva da variabilidade
climática, que procura identificar os eventos que
ocorrem distantes dos chamados “padrões
médios”.
Percebe-se o papel fundamental da dinâmica
climática, pois eventos relacionados a anomalias
que surgem no sistema oceano/atmosfera
acarretam em fenômenos como o El Niño, tão
impactante à sociedade.
As condições que indicam a presença desse
fenômeno, chamado também de ENOS (El Niño/
Oscilação Sul), quando em sua forma
convencional (ou Canônico, ou de Leste), são o
enfraquecimento (intensificação) dos ventos
alísios e o aumento (diminuição) da Temperatura
da Superfície do Mar (TSM) no Oceano Pacífico
Equatorial Leste, acarretando na diminuição
(aumento) das águas mais frias que afloram
próximo à costa oeste da América do Sul (Figura
1), caracterizando um evento El Niño (La Niña)
(OLIVEIRA, 2001).
Figura 1 – El Niño Canônico (WENG et al, 2007).
Porém, além da existência de ENOS
convencional, onde o máximo de anomalia de
TSM ocorre na região do Pacífico Leste
Equatorial (PBMC, 2012), há a presença de uma
outra estrutura espacial, intitulada ENOS
Modoki (ASHOK et al., 2007) ou Central
(McPHADEN, ZEBIAK e GLANTZ, 2006),
onde o máximo das anomalias de TSM ocorre no
Pacífico Central (Figura 2), normalmente
ladeada por anomalias contrárias.
Figura 2 – El Niño Modoki (WENG et al, 2007).
O objetivo deste trabalho é identificar os
eventos ENOS Canônico e Modoki que
C
131
ocorreram no período compreendido pelos anos
1980 a 2016. Posteriormente, pretende-se
compreender, em pesquisa já em curso, como
cada um dos tipos de ENOS afeta a precipitação
no Sudeste da América do Sul.
O período entre 1980 e 2016 vem sendo
relacionado com um aumento da incidência de
eventos de ENOS Modoki (ASHOK et al., 2007,
2009, WENG et al., 2007, WANG et al., 2017).
MATERIAIS E MÉTODOS
A associação entre os eventos ENOS se
encaminhou pela identificação dos anos de
ocorrência dos mesmos por meio do Índice Niño
Oceânico (INO, ou ONI, na sigla em inglês).
O índice INO foi obtido por meio da página
do NOAA na internet
(http://www.cpc.ncep.noaa.gov/products/analysis
_monitoring/ensostuff/ensoyears.shtml), que
define os eventos de aquecimento e resfriamento
baseados no limiar de +/- 0,5ºC. Este índice é
composto pela média de três meses consecutivos
dos dados de anomalia de TSM do Extended
Reconstructed Sea Surface Temperature –
version 3 (ERSST.v3) na região do ENOS 3.4
(5ºN-5ºS, 120ºW-170ºW), identificados na
Figura 3.
Figura 3 – Índice Niño Oceânico (INO) para o período
de estudo (Adaptado de CPC/NOAA, 2017).
Normalmente, os eventos ENOS são
classificados de acordo com sua intensidade,
onde a variação do INO é levada em
consideração, como mostra a Tabela 1. Esse foi o
parâmetro utilizado para a escolha dos anos a
serem contemplados no estudo de caso, somente
eventos com intensidade moderada, forte ou
muito forte, em detrimento dos considerados
fracos.
Tabela 1 - Critérios para classificar a intensidade dos
fenômenos El Niño e La Niña (GGWS, 2016).
Evento Valor do INO Intensidade
El Niño
0,5 a 0,9
1,0 a 1,4
1,5 a 1,9
≥ 2,0
Fraca
Moderada
Forte
Muito forte
La Niña
-0,5 a -0,9
-1,0 a -1,4
-1,5 a -1,9
≤ -2,0
Fraca
Moderada
Forte
Muito forte
Dezembro, janeiro e fevereiro (DJF), período
típico onde eventos ENOS alcançam sua
amplitude máxima (LEE e McPHADEN, 2010),
vem sendo considerada a fase madura dos
extremos do ENOS. São aqui considerados os
trimestres dos anos/eventos selecionados (Tabela
2) onde o INO alcançou seu valor máximo.
Tabela 2 – ENOS separados por categorias
(organizador: os autores).
ENOS Moderado Forte Muito forte
El Niño
(EN)
1986-1987
2002-2003
2009-2010
1987-
1988
1991-
1992
1982-1983
1997-1998
2015-2016
La Niña
(LN)
1984-1985
1998-1999
2007-2008
2010-2011
1988-
1989
1999-
2000
-
Após a identificação de quais eventos ENOS
ocorreram no período, de acordo com o índice
INO, as anomalias de TSM foram plotadas por
meio da ferramenta “Plotting & Analysis” do site
ESRL/NOAA. Em seguida, eram comparadas
132
com o que relatava a literatura sobre os padrões
de eventos ENOS Modoki e Canônico.
RESULTADOS
A interpolação dos dados de reanálise permite
destacar ENOS marcantes que ocorreram
recentemente, tanto das variantes Canônica
quanto Modoki.
A Tabela 3 apresenta os anos já classificados
para o período DJF, sendo que dezembro
representa o ano que aparece na tabela, assim
soma-se um ano para os meses de janeiro e
fevereiro do ano seguinte.
Tabela 3 – ENOS separados por categorias
(organizador: os autores).
ENOS Anos
El Niño Canônico
(ENC) 1982, 1986, 1997, 2006, 2015.
El Niño Modoki
(ENM)
1990, 1991, 1994, 2002, 2004,
2009.
La Niña Canônica
(LNC) 1984, 1996, 1998, 1999, 2005.
La Niña Modoki (LNM)
1988, 1998, 1999, 2000, 2007, 2008, 2010, 2011.
A análise permite identificar que no período
de 36 anos de estudo, o número de eventos
Canônicos e Modoki é semelhante, com
predominância da fase de aquecimento, a qual
aparece mais frequentemente na última década.
As Figuras 4, 5, 6 e 7 apresentam, a título de
exemplo, as anomalias de TSM dos eventos
relacionados acima, sendo, respectivamente ENC
de 1997/1998, ENM de 1991/1992, LNC de
1999/2000 e LNM de 1988/1989. Na Figura 4
identifica-se um padrão anômalo de aquecimento
que se origina na costa oeste da América do Sul
e se estende para oeste no Pacífico (OLIVEIRA,
2001; AMBRIZZI, 2003; TEDESCHI, 2008).
Figura 4 – Padrão de anomalia de TSM para DJF de
1997-1998; ocorrência de ENC (organizador: os
autores).
A Figura 5 apresenta o padrão de ENM,
quando as anomalias de TSM positivas se
encontram no centro do Pacífico. Essa área de
anomalia positiva é ladeada por anomalias
negativas, uma na costa da América do Sul e
outra na região das Filipinas.
Figura 5 – Padrão de anomalia de TSM para DJF de
1991-1992; ocorrência de ENM (organizador: os
autores).
A Figura 6 apresenta o padrão de anomalia de
TSM para o episódio de 1999/2000, LNC. Neste
evento, uma anomalia negativa de TSM se
instala no Pacífico Equatorial Leste, a partir da
costa do Peru.
133
Figura 6 – Padrão de anomalia de TSM para DJF de
1999-2000; ocorrência de LNC (organizador: os
autores).
Já na Figura 7, exemplo de evento de LNM, o
resfriamento das águas do Pacífico Equatorial
não é tão intenso e ocorre no centro do oceano
(KAO e YU, 2009), sendo este um padrão já
verificado (KAYANO et al., 2016).
Figura 7 – Padrão de anomalia de TSM para DJF de
1988-1989; ocorrência de LNM (organizador: os
autores).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A metodologia utilizada para identificação
dos eventos ENOS Modoki e Canônico mostrou-
se satisfatória. Foram identificados 5 eventos de
EN Canônico, 6 EN Modoki, 5 LN Canônicas e
8 LN Modoki.
A representação das anomalias de TSM para
cada um dos diferentes eventos demonstrou que
há também um padrão diferenciado de TSM para
cada evento, o que acarreta diferentes efeitos na
circulação atmosférica, considerando o
acoplamento oceano-atmosfera.
A próxima fase da presente pesquisa será
estudar como cada um desses diferentes padrões
de anomalias de TSM afeta a atmosfera e, por
sua vez, a precipitação do Sudeste da América
do Sul.
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135
PEDOTOPOSSEQUÊNCIA ORIUNDA DO ARENITO DA FORMAÇÃO CAIUÁ: ESTUDO DE
CASO NO MUNICÍPIO DE TERRA ROXA-PR
Rafael Martins Sanches1; José Edézio da Cunha
2; Vanda Moreira Martins
2;
Marcelo Batista1; Vanderlei Leopold Magalhães
3
1Mestrando em Geografia, UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon , E-mail: [email protected];
2Docente, UNIOESTE/MCR;
3Docente, UTFPR/Campus de Medianeira
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem o intuito de contribuir com
as pesquisas do Grupo Multidisciplinar de
Estudos Ambientais (GEA), relativos à área da
Bacia Hidrográfica do Paraná 3 (BP3). Trata-se
de um estudo que parte da relação solo-relevo
como subsídio para uma análise integrada da
paisagem.
Estudos dessa natureza tiveram início com o
trabalho de Bade (2014), quando da
compartimentação, caracterização e classificação
de cinco unidades geoecológicas na BP3, a
saber: unidade de Foz do Iguaçu (ao sul), de São
Francisco, de Cascavel, de Marechal Cândido
Rondon e de Guaíra (ao norte). Para o autor, a
unidade de Guaíra é singular, quando comparada
com as demais unidades da BP3. Essa
particularidade se dá em razão de ser um setor
que apresenta uma transição entre duas
litologias, as rochas ígneas do Grupo São Bento,
Formação Serra Geral e, as rochas sedimentares
do Grupo Bauru, Formação Caiuá. Associado às
diferenças litológicas, essa unidade apresenta
modelado aplainado, com baixas cotas
altimétricas e relevo plano a suavemente
ondulado. Tais características conferem a essa
unidade uma diversidade de processos
geomorfogenéticos que levam a diferenciação
quanto as formas de vertente e dos sistemas
pedológicos associados (BADE, 2014; BUENO,
2015; SANCHES et al. 2017b).
A partir da classificação de Bade (2014),
desenvolveu-se na unidade Guaíra o estudo de
Bueno (2015), por meio da metodologia proposta
por Ross (1994), que consiste na utilização do
conceito de Unidades Ecodinâmicas de
Instabilidade Potencial e de Instabilidade
Emergente. Para a autora, os solos dessa unidade
de paisagem apresentam diversidade morfológica
como reflexo das formas de vertentes associadas
às litologias encontradas.
Para autores como Mendonça (2001),
Nóbrega e Cunha (2001) e Guerra e Marçal
(2006), os estudos com base na análise integrada
da paisagem, contribuem para avançar no
entendimento da organização, dinâmica e
evolução dos solos. Nesse sentido, pesquisas
voltadas para a compreensão da relação solo-
relevo são essenciais na Pedologia e na ciência
geográfica, pois fornecem subsídios para estudos
de sistemas pedológicos, compreendendo o solo
no tempo e no espaço.
Na área de estudo, os solos oriundos das
rochas e materiais retrabalhados da Formação
Caiuá, por exemplo, apresentam textura média a
arenosa, de baixa a média permeabilidade, baixa
fertilidade natural e com limitação da
mecanização em pontos específicos da
topografia (EMBRAPA, 2006). Quando
associados ao uso e manejo inadequados, podem
apresentar adensamento, perdas, transformações
etc., tornando-os altamente susceptíveis à
instalação de processos erosivos (SANCHES et
al., 2017b).
A necessidade de estudos pedológicos
detalhados nas áreas degradadas e vulneráveis
aos processos erosivos, conduziu o objetivo
central desse trabalho. O principal objetivo foi
identificar e entender a distribuição e a
organização dos solos ao longo da vertente,
136
correlacionando os atributos morfotopográficos e
morfopedológicos dessa pedotopossequência,
bem como aos processos de instalação e
evolução de erosões hídricas.
MATERIAIS E MÉTODOS
As etapas de campo se concentraram em uma
propriedade rural, no limite da área periurbana
da cidade de Terra Roxa, mesorregião Oeste do
estado do Paraná (IBGE, 2016) -(Figura 1).
Figura 1. Localização da pedotopossequência de solos.
Fonte: SANCHES et al., 2017a.
A metodologia norteadora desse trabalho foi a
Análise Bidimensional da Cobertura Pedológica
(ABCP), que integra o conjunto de
procedimentos da Análise Estrutural da
Cobertura Pedológica (AECP) proposta por
Boulet et al. (1982a) e difundida por Ruellan
(1988) e Ruellan e Dosso (1993). Por meio da
ABCP foi possível identificar e representar a
distribuição vertical e lateral do sistema
pedológico na vertente, bem como conceber sua
dinâmica, transformações e relação de evolução
em consonância com a topografia e o modelado
da unidade de paisagem analisada. Somando-se a
essa metodologia, foram adotadas técnicas
auxiliares de levantamento, descrição e
classificação de solos, além de análises físico-
químicas, as quais que permitiram caracterizara
cobertura pedológica em detalhe. Essas técnicas
estão descritas em Marques et al. (2000),
Embrapa (2011 e 2013) e Santos et al. (2015).
As etapas da ABCP podem ser assim
resumidas:
Escolha de uma vertente característica da
paisagem em termos morfopedológicos, a partir
do reconhecimento da área em campo e de
documentos cartográficos, imagens de satélite
etc;
Levantamento topográfico da vertente por meio
do uso de instrumentos como o metro, a trena,
clinômetro e a bússola, com a finalidade de obter
dados sobre a forma, o comprimento e a
topografia;
Reconhecimento pedológico com utilização de
trado holandês, pedocomparador e Carta de
Cores de Munsell. Nesta etapa foram realizados
procedimentos como a determinação da cor, da
textura e da consistência molhada dos solos, com
a finalidade de identificar suas respectivas
transições morfológicas verticais e laterais;
Abertura de trincheiras pedológicas para a
exposição dos perfis de solos, descrição
macromorfológica dos horizontes e a coleta de
amostras deformadas e indeformadas;
Análises laboratoriais das amostras de solo
coletadas, com a finalidade de obter dados
analíticos para a caracterização física e química
dos solos e interpretações de suas interações com
a erosão hídrica.
RESULTADOS
O segmento da vertente estudada possui uma
extensão de 735 metros e desnível de
aproximadamente 42 m e, está representada por
uma pedotopossequência de forma convexo-
retilínea-côncava e, convergente. De montante
para jusante, a pedotopossequência apresenta um
sistema pedológico constituído por Latossolo
Vermelho (LV) e Argissolos Vermelho (PV) e
Vermelho-Amarelo (PVA), cujas transições mantém
estreita relação com sua forma e cumprimento em
137
três setores, a partir do topo. Os dados da composição
granulométrica podem ser consultados na Tabela 1. Segmento de Alta Vertente: representando o
setor de topo, possui declividade fraca (até 3%), com
forma levemente convexa, estendendo-se por 200
metros à jusante, entre os pontos de sondagem S1 e
S2. Nesse segmento predomina LV com caráter
argissólico, com horizonte Bw iniciando a
aproximadamente 60 cm de profundidade. Seu
registro no perfil, torna-se cada vez mais profundo à
medida que se avança para jusante. A sequência
vertical da cobertura pedológica, está representada
pelos horizontes Ap, AB, Bw1, Bw2 e
Bw3,identificados no perfil I (P1);
Segmento de Média Vertente: está
compreendido entre os pontos de sondagem S2 e S5,
perfazendo 400 m de extensão, com forma retilíneo-
convexa e declividade fraca (3-8%).No perfil de solo
descrito acima da ruptura de declive (P2), o perfil
apresenta sequência vertical Ap, AB, Bt1, Bt2 e Bw.
O segmento de média-vertentemarca a transição
lateral do LV para PV. O incremento vertical e
lateral da fração argila nos horizontes é a alteração
mais marcante nos perfis de solo. O horizonte Bt
avança à montante sobre o Bw;
Segmento de Baixa Vertente: entre os pontos S5
e S8, com 135 metros de extensão, a forma
ligeiramente convexa da ruptura de declive é
acompanhada do PVAcom sequência verticaldos
horizontesAp, E1, E2, E3, Btg e Bt. Neste segmento
o horizonte Bt apresenta expressão pedogenética
marcada por sua maior espessura e incremento de
argila com gradiente textural (Tabelas 1).Nesse setor,
a declividade da vertente (6-20%) e a textura arenosa
dos horizontes superficiais, favorecem a instalação de
sulcos e ravinas, e sua evolução é acelerada em
decorrência do uso e manejo inadequados
O setor de fundo de vale ocorre a partir da S8 até
o talvegue do canal fluvial, numa extensão de 90 m.
É um setor em que as alterações antrópicas na
morfologia da vertente se revelam por meiodos
desníveis e degraus de abatimento. Da S8 para
jusante, as medidas de proteção (isolamento por cerca
para recomposição vegetal) inibem a evolução da
erosão hídrica.Por essa razão, os Gleissolos dominam
o ambiente.
Essa morfologia da vertente e processos a ela
associados vão ao encontro dos estudos realizados na
região Noroeste do estado por Cunha (1996; 2002),
Nakashima (1999), Calegari (2000) e Martins (2000).
Por se tratar de uma vertente predominantemente
convexo-convergente, com segmento côncavo na sua
base, a circulação hídrica lateral torna-se pronunciada
em subsuperfície. A presença do horizonte Bt
potencializa a circulação hídrica lateral
subsuperficial. Bade (2014), Barreiros (2013),
Bueno (2015) e Rocha (2016) também destacam
que vertentes com essa morfologia tendem a
apresentar sistemas pedológicos compostos por
Latossolos no topo, Argissolos na média-vertente
e solos hidromórficos nos sopés e fundos de
vale.
Esse padrão de distribuição espacial dos solos
foi verificado na pedotopossequência estudada,
em que aumento da declividade, em direção à
jusante, acelera o fluxo hídrico em superfície e
subsuperfície. O aparecimento do horizonte Bt,
embutido em forma de uma cunha alongada no
horizonte Bw, é evidenciado pelo incremento de
argila em subsuperfície (Tabela 1) e lixiviação
dos materiais finos dos volumes sobrejacentes.
Ainda, de acordo com os dados de granulometria
(Tabela 1), os solos apresentam textura média (até
35% de argila). Já no segmento inferior, os
horizontes superficiais possuem textura arenosa
(areia franca/franco arenosa), evidenciando a perda
de materiais finos (argila) e acumulação relativa das
frações mais grossas (areia). Por se tratar de uma
vertente de formato convexo-convergente, há
favorecimento da formação de uma sequência
vertical de horizontes E-Btg no perfil III (P3).
138
Tabela 1. Análises de granulometria dos três perfis
de solos identificados na pedotopossequência
HORIZONTES SILTE ARGILA AREIA
%
Perfil I – Latossolo Vermelho
Ap 0 – 10 cm 6,15 8,01 79,22
AB 10 – 30 cm 6,70 19,63 65,11
Bw1 30 – 60 cm 4,37 27,78 64,37
Bw2 60 – 100 cm 2,70 27,98 65,47
Bw3 100+ 2.52 27,38 61,32
Perfil II – Argissolo Vermelho
Ap 0 – 10 cm 8,82 5,01 77,51
AB 10 – 30 cm 5,00 12,13 77,40
Bt1 30 – 80 cm 4,67 24,08 62,68
Bt2 80 – 110 cm 9,70 27,89 56,34
Bw 110+ 2,70 27,41 61,60
Perfil III – Argissolo Vermelho-Amarelo
Ap 0 – 15 cm 5,15 7,00 84,12
E1 15 – 40 cm 3,95 6,50 85,42
E2 40 – 90 cm 4,00 9,30 81,76
E3 90 – 110 cm 3,30 6,20 88,87
Btg 110 – 145 cm 3,00 40,00 53,00
Bt 145 + 3,22 34,78 54,02
Neste setor (P3), da superfície até 110cm de
profundidade, a estrutura é maciça, com grãos simples,
marcada por bandas onduladas planoparalelas de
textura mais fina e croma mais alto que a matriz do
solo. Conforme demonstrado por Castro (1989) e
Zaparoli (2009), essas feições pedológicas constituem
evidências de que, no passado, o horizonte Bt se
encontrava em uma posição mais elevada no perfil. A
partir dos 145cm surge o horizonte Bt, de cor
vermelho-amarelo e textura média/argilosa. A
sequência de horizontes no P3 e sua morfologia explica
a presença do lençol suspenso no topo do Btg. O
gradiente textural entre os horizontes favorece a
circulação lateral da água, acelerando a perda dos finos
(argila e silte) e favorecendo a instalação de erosões
lineares. O contrário ocorre nos segmentos de topo e
média vertente, em que os solos apresentam morfologia
mais homogênea, com diferenciações verticais e
laterais menos pronunciadas. Essa característica não
impede a formação da erosão linear, normalmente
associada ao manejo inadequado dos solos, mas é um
fator limitante em sua ocorrência.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O entendimento da dinâmica da paisagem a
partir da relação solo-relevo permite compreender
como os solos estão distribuídos na paisagem e
como estes se comportam face a ocorrência de
processos erosivos. Auxilia, ainda, no
planejamento do uso da terra, no entendimento dos
processos socioambientais e é caminho para se
propor saídas de conservação dos solos a fim de
conservar este recurso natural e garantir a
produção agrícola que manterá a continuidade da
espécie humana.
Os solos arenosos provenientes dos arenitos da
Formação Caiuá requerem atenção quanto ao uso e
manejo. Os atributos morfológicos identificados no
segmento inferior da vertente, por exemplo, conferem
aos solos, alta susceptibilidade à erosão hídrica e, por
isso, o emprego de técnicas adequadas de uso e manejo
pode amenizar o atual quadro de perdas de solos pela
erosão. A redução no distanciamento entre curvas de
nível/terraços, por exemplo, tem sido sugerida como
solução para o problema, mas sua eficácia precisa ser
comprovada.
Dentre os problemas ambientais que mais
afligem os ambientes de zona tropical e
subtropical, as erosões aceleradas dos solos
devem ser consideradas como um destaque e
motivo de preocupação, pois além de promover
danos de ordem ambiental, causa, ainda,
prejuízos de ordem socioeconômica, tanto no
local, como fora do local de sua ocorrência. No
local, causam danos ligados à perda de material,
redução do potencial produtivo e, em alguns
casos, inutilização da área. Em outros locais,
139
causa prejuízos de produção, menor oferta de
produtos alimentícios e, assoreamento de cursos
hídricos.
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141
POTENCIALIDADE PARA A CRIAÇÃO DE RPPN EM MARECHAL CÂNDIDO RONDON,
PARANÁ
Luciane Mosconi, 1; Vanda Moreira Martins
2; Alcides Ricieri Rinaldi
3
1Mestranda do PPGG UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon-PR, [email protected]; 2Professora Drª Adjunta do colegiado de Geografia e do PPGG UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon-PR;
3Professor do Colégio Alfa/Cristo Rei;
INTRODUÇÃO
O território do município de Marechal
Cândido Rondon está inserido na área do bioma
Mata Atlântica, um dos hotspots para a
conservação da biodiversidade (MYERS et al.,
2000), domínio ecossistêmico da Floresta
Estacional Semidecidual e área da ecorregião das
Florestas do Alto Rio Paraná, também conhecido
por Mata Atlântica Subtropical (MAACK,
2002). Os remanescentes naturais desta região
são de elevada importância para a conservação
da natureza, já que destes restam apenas 3% das
áreas naturais (DI BITETTI et al., 2003).
A rica biodiversidade da Mata Atlântica, a
presença de solos férteis, as condições propícias
de relevo e as condições climáticas fizeram com
que a vegetação da região Oeste do Paraná fosse
profundamente alterada, levando a uma drástica
redução de áreas naturais de floresta, iniciada na
década de 50 (LOPES, 2004; SWAIN, 1988).
No município de Marechal Cândido Rondon,
ainda existem alguns remanescentes da Mata
Atlântica Subtropical, mas nenhuma Unidade de
Conservação (IAP, 2017; DIAS, 2010). Isso vai
na contramão das metas internacionais de Aichi
(2011-2020), assinadas pelo Brasil, que
determinam que as nações conservem ao menos
17% dos ecossistemas terrestres em forma de
Unidades de Conservação (CONABIO, 2013).
Esse tipo de ação garante a manutenção dos
serviços ecossistêmicos gratuitos, como a
polinização, a regulação e manutenção do ciclo
da água, o controle da erosão do solo, a
manutenção de rios e nascentes, o
armazenamento e reciclagem de nutrientes e o
controle natural de pragas (TORNQUIST e
BAYER, 2009), essenciais para as atividades
humanas, como a agropecuária. Por essa razão,
territórios como o de Marechal Cândido Rondon
deveriam possuir UCs (como Reservas
Particulares do Patrimônio Natural – RPPN) e,
por isso, o estabelecimento das mesmas deveria
ser um dos objetivos da administração pública,
devido à sua importância para a garantia da
qualidade de vida humana.
O Estado do Paraná foi pioneiro no Brasil em
recompensar financeiramente a iniciativa de
conservar os recursos naturais em RPPNs,
estabelecendo o retorno de parte do ICMS
estadual (ICMS Ecológico) para as
administrações municipais. Esse recurso é
destinado para que se possa manter e proteger
essas Unidades de Conservação (ROSSI et al.,
2011; MONTE e SILVA, 2009).
Considerando que: a) o município de
Marechal Cândido Rondon possui remanescentes
de florestas em seu território; b) as áreas naturais
são de grande importância socioambiental; c) há
viabilização de recurso para a manutenção dessas
Unidades de Conservação; constata-se que a
busca por áreas para o estabelecimento de UC é
uma estratégia de grande importância e, por isso,
o objetivo deste trabalho.
Dessa maneira, este estudo avaliou áreas
potenciais para a criação de RPPNs (Reserva
Particular de Patrimônio Natural) na bacia
hidrográfica do Rio São Francisco Verdadeiro,
município de Marechal Cândido Rondon-PR.
Para isso, utilizou-se da aplicação de
questionários e do mapeamento das propriedades
e de seus remanescentes florestais.
142
A partir dos dados das áreas das propriedades
e das florestas, dimensionou-se a proporção dos
remanescentes florestais em cada uma delas. Foi
estimado, também, o valor de ICMS Ecológico
que o município poderá receber se estabelecer
UC nos remanescentes florestais mapeados.
MATERIAIS E MÉTODOS
Com uma simples análise de imagens do
Google Earth, é possível perceber que o distrito
de São Roque é a região com mais
remanescentes florestais no município de
Marechal Cândido Rondon. Esses remanescentes
servem de habitat para exemplares da fauna e da
flora que são ameaçados de extinção, uma vez
que seus habitats são muito reduzidos.
Nesse setor do município, foi delimitada a
área de estudo (bacia do rio São Francisco
Verdadeiro) com base na hipsometria. Foram
verificados os interflúvios e a direção do
escoamento pluviométrico para o rio São
Francisco Verdadeiro (Figura 1). Para avaliar a
altimetria da região, utilizaram-se as imagens
Shuttle Radar Topography Mission (SRTM) 1
arc-segundo com resolução de 30 metros, de 23
de setembro de 2014. As imagens foram
baixadas do U.S. Geological Surve.
Figura 1- Delimitação hipsométrica da área de estudo na
bacia hidrográfica do rio São Francisco Verdadeiro no
município de Marechal Cândido Rondon, Paraná.
Com a borda da área de estudo delimitada, o
arquivo foi exportado em formato Keyhole
Markup Language (kml) e visualizado no Google
Earth. Isso possibilitou a localização das
edificações existentes no interior da área de
estudo. Essas edificações foram elencadas como
possíveis moradias onde seriam aplicados os
questionários e encontrados seus proprietários.
Inicialmente estimou-se um total de 88
propriedades a serem visitadas.
De posse das localizações das sedes das
propriedades, foi elaborado o questionário a ser
aplicado junto aos moradores/proprietários. As
questões foram estruturadas para permitir a
coleta das seguintes informações: a)
identificação e formação do proprietário; b)
estrutura produtiva das propriedades rurais; c)
conhecimento legal do proprietário; d) interesse
pela estruturação de uma Reserva Particular do
Patrimônio Natural nas propriedades.
Iniciaram-se, então, as incursões em campo
na busca pelos proprietários dos imóveis rurais
para a aplicação dos questionários e a
identificação das propriedades. As atividades de
campo foram realizadas entre os meses de junho
de 2016 e agosto de 2017.
Para aperfeiçoar o trabalho de aplicação do
questionário, as observações e o levantamento
dos demais dados, realizou-se uma setorização
da área da bacia hidrográfica do rio São
Francisco Verdadeiro, acompanhando as
divisões distritais e locais do distrito de São
Roque:
Linha Campos Sales;
Linha Eldorado;
Linha Hermann;
Linha Cinco Cantos;
Linha Cascata;
Arredores da Vila.
Seguindo esses critérios de localização, as
sedes das propriedades, previamente
143
identificadas, foram visitadas e, quando
encontrado o proprietário, realizada a aplicação
do questionário e feito o esboço prévio do
mapeamento da propriedade e das áreas de
remanescente florestal. Para isso, foram
utilizadas imagens do satélite RapidEye que
recobriam o polígono de limite da área de estudo
previamente delimitado. As imagens
correspondentes foram obtidas por meio do
GeoCatálogo, do Ministério do Meio Ambiente
(MMA, 2017). Utilizando-se da composição
colorida das imagens (R3B2G1) e com o auxílio
do programa Q-Gis, foram demarcados os
limites das propriedades e das áreas verdes
nativas. Todos os layers produzidos tiveram suas
projeções padronizadas no datum SIRGAS 2000.
Os layers produzidos foram, então,
importados para o programa ArcGis 10.4 para
eliminar as sobreposições entre as topologias.
Estas foram validadas, tendo os erros indicados e
corrigidos para possíveis sobreposições e
duplicação de vetores.
Com os dados corrigidos, calculou-se a área
de cada propriedade, a área dos remanescentes
florestais de cada propriedade e a porcentagem
de cobertura. O objetivo de delimitar as áreas de
floresta foi indicar as áreas que podem se tornar
uma RPPN. É importante ressaltar que não foram
realizadas distinções entre categorias de
remanescentes florestais, como Reserva Legal
(RL) e Área de Proteção Permanente (APP), já
que estas podem ser inseridas em categorias de
maior critério de conservação, como as RPPN
(conforme artigo 44 da Lei 12651 de 2012 e
Decreto 5746/2006). As áreas de silvicultura ou
fruticultura foram desconsideradas das áreas de
floresta.
De posse dos layers das áreas florestais
corrigidos, o valor da área florestal foi calculado
na função Calculate Geometry, considerando a
unidade métrica de hectare (10.000m2). A partir
dos dados das áreas das propriedades e das
florestas, foram calculadas as porcentagens de
remanescentes florestais existentes em cada
propriedade.
Na região Oeste do estado do Paraná,
incluindo Marechal Cândido Rondon, o módulo
fiscal é de 18 hectares (MOREIRA, 2016). Com
base nessa unidade de medida variável, a lei
federal 8.629, de 25 de fevereiro de 1993, define
as propriedades rurais como: minifúndio (< 1
módulo fiscal); pequena (entre 1 a 4 módulos
fiscais); média (entre 4 e 15 módulos fiscais) e
grande propriedade rural (acima de 15 módulos
fiscais). Dessa maneira, foi possível estabelecer
qual o número de propriedades rurais da área de
estudo se enquadra em cada uma das quatro
classes definidas pela legislação atual.
Essa classificação foi realizada, pois, de
acordo com o Novo Código Florestal de 2012, as
propriedades com até quatro módulos fiscais não
são obrigadas a constituir RL. Por outro lado, a
Lei da Mata Atlântica, número 11.428/2006,
proíbe a retirada de floresta neste bioma. Esses
fatos causam certo desconforto em muitos
proprietários rurais, que veem os remanescentes
florestais como obstáculo para a produtividade e
como causa da perda de lucratividade, pois
pagam o ITR sobre a área ocupada pela mata.
Para estimar o valor de ICMS Ecológico que
estes remanescentes arrecadariam, foram obtidos
dados de Mezzomo et al. (2013) para as RPPN
Coamo II e Santa Maria I (Luziana, Paraná)
(Tabela 1). Essa estimativa foi obtida da seguinte
forma: o valor total (anual) de ICMS Ecológico
arrecadado pelo município (R$ 25.439,61) foi
dividido pela área protegida pelas duas RPPNs
(244,22 hectares), ou seja, seguiu-se a seguinte
fórmula:
Assim é obtido o valor médio de ICMS por
hectare de RPPN conservado no município. O
mesmo foi feito com os dados disponibilizados
144
por Carminatti (2011), para os municípios de
Ramilândia, Campo Bonito e Nova Aurora.
A partir dos valores de ICMS arrecadado por
hectare/ano conservados em RPPN, em cada
município, foi elaborada uma média de ICMS
Ecológico arrecadado por hectare de RPPN,
conforme equação abaixo:
Esse valor permitiu calcular, por estimativa, a
arrecadação que o município de Marechal
Cândido Rondon pode receber com a criação de
RPPNs na área de estudo.
Os dados obtidos dos referidos autores foram
calculados pelo IAP, que utiliza a lei
complementar do Paraná 59/1991 e o decreto
2791/1996 como referência. Os critérios técnicos
de alocação de recursos de ICMS Ecológico para
UC, como as RPPNs, respeitam o Coeficiente de
conservação básico, a área de conservação do
município em relação à sua área total, o fator de
conservação variável em função da sua categoria
de manejo, o coeficiente de conservação de
biodiversidade por interface, a qualidade da UC
e o número de UC e de municípios em todo o
estado do Paraná, conforme modelo descrito por
IAP (2017):
Onde:
i: variável de 1 até o total de nº de Municípios
beneficiados;
j: variável de 1 ao n.º total de unidades de conservação, a
partir de suas interfaces, devidamente registradas no
Cadastro.
CCBij: Coeficiente de Conservação da Biodiversidade
básico;
AUC: Área de Unidade de Conservação;
AM: Área do Município;
FC: Fator de Conservação (baseado na categoria de UC).
É importante ressaltar que, para obter o valor
oficial de ICMS ecológico para a área de estudo,
é indispensável a análise técnica do Instituto
Ambiental do Paraná IAP. Por outro lado,
observando os dados de ICMS Ecológico pagos
para algumas RPPNs no Oeste e Centro Oeste
paranaense, é possível realizar uma estimativa de
valor médio por hectare de RPPN criada no
estado do Paraná.
Tabela 1 - Descrição dos dados obtidos em Carminatti
(2011) e Mezzomo et al. (2013) para a estimativa de ICMS
Ecológico referente a um hectare de RPPN no oeste e centro
oeste do Estado do Paraná.
Município Período Área
RPPN
(ha)
Valor médio
Ano/
arrecadado
Valor
ha/Ano
Campo
Bonito
1998 e/ou a
2012
1044 R$ 259.660,18 R$ 248,00
Luziana 2008 e 2010 244.22 R$ 25.439,61 R$ 104.16
Nova Aurora 2008 e 2010 138.29 R$ 25.370,68 R$ 183,45
Ramilândia 2008 e 2010 704,64 R$ 240.189,37 R$ 304.86
Valor médio de ICMS Ecológico por hectare de RPPN R$ 210,11/ha
RESULTADOS
Diferente do número esperado de
propriedades (88 previamente identificadas),
foram mapeadas um total de 124 propriedades
rurais na bacia do rio São Francisco Verdadeiro,
no município de Marechal Cândido Rondon,
Paraná.
Desse total, 112 propriedades (90%) tiveram
seus proprietários conhecidos (identificados por
nome) e em 88 (70%) delas, os proprietários
foram entrevistados. Os proprietários que não
foram entrevistados não residem ou não se
encontravam nas propriedades durante as
incursões em campo. As propriedades rurais
existentes, no setor analisado da bacia
hidrográfica do rio São Francisco Verdadeiro,
apresentaram tamanhos que variaram entre 2.42
hectares e 755.04 hectares.
A área total de remanescentes florestais na
bacia do rio São Francisco Verdadeiro é de,
aproximadamente, 1.592 ha (Figura 2). Desse
total, 1.585 ha (99%) são considerados como
áreas potenciais para a criação de RPPN no
município. Cabe ressaltar que a maior área
145
florestal, que poderia ser transformada em
RPPN, possui aproximadamente 211 ha e está
localizada em uma propriedade rural, cuja área
total é de aproximadamente 367 ha.
Figura 2 - Remanescentes de Floresta Estacional Semidecidual existentes na bacia do São Francisco Verdadeiro, município de Marechal Cândido Rondon-Paraná.
Considerando a área total de remanescentes
florestais (1.592 ha) e o valor médio estimado de
ICMS Ecológico (R$ 210,11), por hectare, que é
retornado ao município pelo governo estadual
para a manutenção das UC, o município de
Marechal Cândido Rondon poderia receber cerca
de R$ 335.476,2 anualmente, valor estimado
apenas com base nos remanescentes da referida
área de estudo.
Quanto ao número de propriedades Quanto ao
número de propriedades analisadas, salienta-se
que a área de estudo é composta,
predominantemente, por minifúndios (58
propriedades/47%); pequenas propriedades
rurais (52 propriedades/42%) e 14 propriedades
(11%) de médio porte.
Quanto às áreas das propriedades, os
minifúndios cobrem 11% da área total de estudo.
Já as pequenas propriedades rurais correspondem
a 33%, enquanto as propriedades de médio porte
totalizam 56% da área de estudo (Tabela 2).
Tabela 2 - Estrutura Fundiária das propriedades rurais da
Bacia Hidrográfica do São Francisco Verdadeiro no
Município de Marechal Cândido Rondon-PR.
Categoria Da
Propriedade
Rural
Quantidade
De
Propriedades
Porcentagem
Das
Propriedades
Porcentagem
Da Área
Ocupada
Minifúndio 58 47% 11%
Pequenas propriedades
52 42% 33%
Médio Porte 14 11% 56%
Grande Porte - 0% 0%
Total 124 100% 100%
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados e resultados obtidos permitiram
constatar que existe interesse e pré-disposição
dos proprietários rurais quanto à criação de
RPPNs. A maior porcentagem das propriedades
rurais da bacia hidrográfica do rio São Francisco
Verdadeiro, nos limites do município de
Marechal Cândido Rondon, enquadra-se nas
categorias de minifúndio e pequenas
propriedades. O mapeamento realizado registrou
a existência de remanescentes florestais
propícios para a criação de UC na região,
corroborando a possível criação de UCs, na
categoria de RPPN, dentro dos limites do
município de Marechal Cândido Rondon-PR.
Se todas as áreas de remanescentes da área de
estudo fossem transformadas em RPPNs, estima-
se que o município de Marechal Cândido
Rondon-PR poderia receber, anualmente, um
valor superior a R$300.000,00. O que pode ser
considerado significativo para a melhoria de
infraestrutura destas áreas. Isso indica que é
necessário esclarecer e incentivar a
transformação das referidas áreas em UC nas
áreas agropecuárias da região, o que pode
garantir a melhoria da qualidade de vida dos
próprios produtores e a manutenção da
biodiversidade local.
146
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147
SUCESSÃO ECOLÓGICA DO ARQUIPÉLAGO DO ALTO RIO PARANA
Elcisley David Almeida Rodrigues1; Karin Linete Hornes
2;
1Mestrando do PPGG - UNIOESTE/Campus Mal Cândido Rondon, [email protected]; 2Docente do Curso de Pós-Graduação e Graduação em Geografia - UNIOESTE/Campus de Mal. Cândido Rondon.
INTRODUÇÃO
Os estudos da ecologia em ilhas foram objetos
de diversos naturalistas dos séculos XIII e XIX.
Entre os trabalhos clássicos podemos citar
Wallace e Darwin, que em meados de 1860,
idealizaram a teoria da evolução gradual das
espécies em condições insulares e MacArthur e
Wilson em 1960, que produziram a Teoria da
Biogeografia de Ilhas. É denominado de ilhas as
geoformações que se distinguem por estarem
cercadas de águas por todos os seus lados.
Geralmente as mesmas são ambientes em que a
comunidade ecossistêmica presente se diferencia
da comunidade terrestre. Pois os indivíduos
desses locais costumam desenvolver
peculiaridades próprias ocupando cada qual seu
lugar na economia trófica natural de uma ilha
(PAPAVERO e SANTOS, 2014). O povoamento
de uma ilha só ocorre devido ação da água
(hidrocórica), ação do vento (Anemocória) ou
por animais (Zoocória).
Neste sentido o presente trabalho apresenta
como objetivo principal a averiguação do estágio
sucessional do Arquipélago no Alto Rio Paraná/
situado no município de Porto Rico/PR. Para
alcançar tal propósito será realizada a medição
da circunferência a altura do peito (CAP) das
árvores com fuste que depois será convertida
para o Diâmetro a altura do peito (DAP) E, na
metodologia de alocação dos parcelares fixos
(FURLAN, 2009), com esforço amostral de
10.000 m² (1 ha). Os 10.000 m² (1 ha) foram
subdivididos em corredores retangulares
compostos em sua unidade por Parcelas
Quadráticas. Neste trabalho foi descrito somente
a primeira campanha, do qual, foram elaborados
um total de 2.800 m².
A importância deste trabalho se deve a
necessidade de estudos que contemplem a
dinâmica sucessional em ilhas fluviais, afim de
que possa entender o papel da vegetação na
gênese dessas geoformações. E avaliar o estágio
sucessional. Este processo parte do princípio que
a particularização da fitogeografia e da sucessão
pode auxiliar no entendimento da evolução da
vegetação em áreas isoladas por algum obstáculo
geográfico como rios ou montanhas.
Em conformidade com este trabalho há uma
série de outros sendo executados no mesmo
local, por pesquisadores do Núcleo de Pesquisas
em Limnologia Ictiologia e Aquicultura
(NUPÉLIA). Entre esses deverão ser levantados
a cobertura pedológica e geológica do local, um
conhecimento dos tipos de sementes enterradas
com o intuito de conhecer a cobertura vegetal
pretérita. Além, de uma investigação da
composição florística do local.
MATERIAIS E MÉTODOS
As Ilhas, alvo do presente trabalho, situam-se
na região Noroeste do município de Querência
do Norte, em área do canal do Rio Paraná, em
região de Área de Proteção Ambiental das Ilhas e
Várzeas do Rio Paraná. Este município localiza-
se na Mesorregião Noroeste do Paraná em área
do Terceiro Planalto Paranaense. O Rio Paraná
nasce da confluência do Rio Grande e Parnaíba.
E, esses dois rios nascem em Minas Gerais e
atravessam os estados de Goiás, São Paulo e
Mato Grosso do Sul. E consequentemente
cruzam Domínios Morfoclimáticos distintos
148
como o Domínio de Mares de Morros (Tropical
Atlântico) e o Cerrado1 (AB´SÁBER,2003).
A cobertura vegetal existente nas ilhas é
representada por duas unidades descritas por
Roderjan et al., (2002) como a Floresta
Estacional Semidecidual Aluvial e a mata
complexa associada, denominada de Fluvio-
lacustre. A floresta do tipo Estacional
Semidecidual Aluvial corresponde às formações
distribuídas ao longo dos cursos hídricos
formando vales sujeitos a inundações periódicas
em áreas de Gleissolos (solos hidromórficos)
com altitude entre 0 a 100 metros. Trata- se de
uma formação com um desenvolvimento menor
que a Sub-montana em densidade. Vale
mencionar que a Aluvial está presente nas
planícies e em terraços das calhas dos rios
(IBGE, 2012).
Já as Formações Pioneiras com influência
Fluvio-Lacustre correspondem as espécies sobre
as áreas de várzeas sobre os Gleissolos e
Organossolos (RODERJAN, 1994). Do ponto de
vista geológico encontra-se dentro do
embasamento da Formação Caiuá. A pedologia é
representada por Neossolo flúvico, Argissolo e
Latossolo (ITCG, 2008).
Conforme delimitação da MINEROPAR
(2006), a área de estudo geomorfologicamente
situa-se na Folha de Umuarama (Folha SF. 22-Y-
C), na chamada Subunidade denominada
Planície Fluvial, com atributos de sedimentos
inconsolidados do Período Quaternário. Das
características hídricas é importante destacar que
a formação de inúmeras ilhas neste trecho relega
o local a um padrão denominado de
Anastomosado de Múltiplos Canais (LELI,
2015).
Para a confecção desta pesquisa foram
necessários os seguintes materiais
fundamentados em Furlan (2009); Moro e
1 Do Cerrado pode ser subdividido fitofisionomicamente
em Cerrado strictu sensu, Campo Sujo, Campo Limpo,
Cerradão e Cerrado Rupestre.
Martins (2011): Um aparelho Navegação por
Satélite (Garmin 60 Cx) com o intuito de
registrar as coordenadas geográficas de cada
parcela. Além de, Bússola para apontar o rumo
na construção dos corredores, estacas, martelo e
fita zebrada para a implantação dos parcelares,
fita métrica e cano fixo para medir
respectivamente o CAP e altura dos indivíduos.
E, por fim, plaquetas de garrafas pet, prancheta e
caderneta de campo.
Para alcançar os objetivos propostos o
presente trabalho adota a resolução do
CONAMA (1994) para a definição dos estágios
sucessionais. Esta resolução menciona como
parâmetros de análises das fases citadas o DAP2,
Altura e Área Basal. Em gabinete os dados
deverão ser tabulados em aplicativo office (word
e excell).
Para a coleta de dados esta pesquisa utilizará
a técnica de Parcelamentos Fixos implantados
em concordância com os setores de evolução das
ilhas, partindo das áreas mais jovens até as mais
antigas. O esforço amostral embasado em Furlan
(2009) será de 10.000 m². Conforme essa autora,
diversos estudos sugerem que este valor seria
suficiente para amostrar uma diversidade
florestal (FURLAN, 2009).
Com a fundamentação de Moro e Martins
(2011) cada parcelar precisa ser delimitado com
estacas de madeiras, cercadas com fita zebrada.
O processo descrito acima denominado de
estaqueamento do terreno justifica-se com o
intuito de uma estética agradável, contribuindo
em deixar linhas retas e permitir ao pesquisador
a localização dos parcelamentos em matas
densas. E com a fita zebrada contribuirá, além da
fácil visualização, o estabelecimento de limites
nítidos entre os parcelares.
2 O DAP pode ser transformado do CAP (valor obtido pela
aferição direta na árvore) a partir da fórmula: C=
Circunfêrencia, = Valor constante de 3,14 e D= Diâmetro
a Altura do Peito (MORO e MARTINS, 2011).
149
Para a coleta de dados (CAP), a pesquisa se
fundamenta em Moro e Martins (2011) e
segundo este autor, o valor obtido em campo
através da fita métrica é a Circunferência à
Altura do Peito com critério de inclusão de ≥15.
Ribeiro (2011) afirma que o maior objetivo da
análise do CAP é que este desempenha um papel
fundamental para o conhecimento da
composição florística e sua situação atual e
futura. E, para a aferição da Altura o
equipamento a ser utilizado é um cano graduado
e uma trena a laser (Trena a Laser Super Tech SP
40XT de 40m). Para a contagem de Lianas é
erguido a metodologia de Durigan et al., (2000)
e Rezende et al., (2007) onde será considerado o
número de caules por parcelamentos.
As placas conforme a metodologia deverá ser
alocada em ordem numéricas sendo zeradas de
corredor a corredor e fixadas nas árvores com
pregos. Estas placas produzidas de material pet,
foram marcadas com pincel vermelho com as
seguintes informações: ordem de árvore medida,
sua circunferência e altura. Este processo é
importante pois contribuirá para não haver uma
perda ou recontagem de indivíduos.
Com respeito a contagem no meio florestal de
espécies com troncos múltiplos, deverá ser
adotado a seguinte forma de aferição. Nos
indivíduos que no nível de solo, dois eixos
apareçam ligados, tendo uma base comum são
contabilizados como um único indivíduo. No
entanto, quando cada eixo emergir
separadamente no nível do solo, são
considerados como indivíduos distintos, portanto
medidos separadamente (MORO e
MARTINS,2011).
Ao término deste procedimento os dados de
Diâmetro, Altura e Área Basal serão tabulados e
classificados nas classes conforme a resolução
base do CONAMA (1994) onde o predomínio de
indivíduos em uma determinada classe indicará
pertencer a esse estágio distinguido entre Inicial
(5-15) intermediário (10-35) e avançado (20-50)
Com tais metodologias deverão proporcionar
que se atinja no final o resultado esperado que é
o levantamento do estágio sucessional do
arquipélago no Alto Rio Paraná e o levantamento
da cobertura vegetal
RESULTADOS
O presente trabalho ainda em andamento já é
detentor de alguns resultados e análises. No
momento já foram instalados 2.800 m² de
parcelares fixos (Figura 01) e que permitiram
verificar diferenças que refletem sobremaneira
os setores geomorfológicos de constituição das
ilhas.
Deste modo, os resultados mostram a
existência de três padrões importantes dentro dos
2.800 m² (Figura 02). O primeiro padrão
comporta os parcelares que saem do degrau de
entrada da ilha em direção ao baixio (P01 a P06)
e têm como características progressivo aumento
nos valores de Circunferência à Altura do Peito
(CAP) e uma diminuição dos indivíduos
coletados. E com média de CAP´s, com
valoração alta (em média de 43 cm) quando
comparadas com o padrão 02, que será descrito a
seguir. Além de um aumento considerável nas
formas de vida do tipo Lianas (Cipós).
Figura 01: Distribuição dos parcelares dentro das ilhas
O Segundo padrão (Figura 02) comporta os
parcelares situados do baixio até a entrada da
planície (P07 a P26) e como atributo marcante é
a presença de padrões irregulares de distribuição
P01
P28 P07
Parcelamento
Distribuição do Corredor
150
média do CAP. A quantidade de indivíduos
aumenta (P08-P11), com quedas acentuadas, 18
indivíduos no P11 para 01 na P18. Este fato é
explicado pela alta quantidade de Lianas a partir
da P11 até o P19, que age bloqueando os raios
solares e não permitindo a formação de uma
vegetação densa.
Neste padrão ainda, outro atributo a ser
mencionado é a quantidade de árvores de grande
valor de circunferência com árvores com até 196
cm de CAP (P11). Com relação a comunidade de
Lianas, do mesmo modo que o primeiro padrão,
exibe um aumento progressivo em direção a
planície da ilha. E, diferente do primeiro padrão
aqui estão situados do filo das Pteridófitas, a
Samambaia (P20).
E por fim, o terceiro padrão representa a
área de planície da ilha (P27 e P28) onde
apresentam como características áreas com
baixos valores médios de CAP e de indivíduos
coletados. Há uma diversidade de indivíduos que
para se adaptar as constantes inundações no local
desenvolveram Raízes Escoras ou Adventícias
em áreas instáveis (SOUZA, FLORES e
LORENZI, 2013).
Figura 02: Gráfico com média dos CAPs / número de
indivíduos
A pesquisa ainda verificou com relação
aos Estágios sucessionais que há uma variação
entre fases iniciais e intermediarias. Deste modo
têm se a seguinte distribuição (Tabela 01):
Portanto, conclui-se que nesta ilha os
parcelares alocados permitiram concluir que há
um predomínio da fase inicial da sucessão e este
estágio tem como característica uma fisionomia
herbácea/arbustiva, variando de aberto a
fechado. As espécies lenhosas entre 01 a 10,
podendo chegar até 10 m de altura. E a
distribuição diamétrica variando de 5 a 15 cm
(CONAMA, 1994).
Tabela 01-Resultado dos estágios sucessionais
Corredor
Parcela
Fase Corredor
Parcela
Fase Estágio
Sucessional
01/01 Inicial 01/02 Intermediário
01/03 Intermediári
o 01/04 Inicial
01/05 Inicial 01/06 Inicial
01/07 Inicial 01/08 Inicial
01/09 Inicial 01/10 Intermediário
01/11 Intermediário 01/12 Inicial
01/13 Inicial 01/14 Inicial
01/15 Intermediário 01/16 Inicial
01/17 Inicial 01/18 Inicial
01/19 Inicial 01/20 Inicial
01/21 Inicial 01/22 Intermediário
01/23 Inicial 01/24 Inicial
01/25 Inicial 01/26 Inicial
01/27 Inicial
Do mesmo modo, em locais esparsos
dentro da ilha, foi averiguado as parcelas com
características de fases intermediárias, como a
P02, P03, P10 e 11, 15 e a P22. A fisionomia da
fase Intermediária é arbustiva e/ou arbórea,
formando de 1 a 2 estratos. Com relação as
espécies variam entre 10 a 30 espécies, altura
entre 10 a 18 m. A distribuição diamétrica varia
entre 10 a 35 cm.
As próximas fases são direcionadas a
busca pelo fechamento da metragem proposta
pela metodologia (10.000 m², sendo que faltam
7.800 m²) e a aplicação da contagem e o
151
levantamento da comunidade vegetal inserida
nos corredores e parcelares. E, finalizado esta
etapa, poderá ser comparado os dados de uma
ilha com as demais, com a finalidade de que ao
final possa se ter um conhecimento da
composição atual e conseguir estimar o futuro
desta comunidade vegetal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados indicam que a vegetação evolui
em consonância com a geomorfologia das Ilhas e
em proximidade com os cursos do rio e do
baixios. E possivelmente áreas em que são
formações são mais novas, consequentemente,
apresentam CAPs de valor médio inferior que
aqueles situados em locais de formação antiga.
E, do mesmo modo, os valores próximos ao
baixios, tendem ao declinamento.
Portanto, os caracteres abióticos condicionam
a evolução da vegetação, embora, uma mudança
nas condições atmosféricas, por exemplo, que
condiciona um período de intensa precipitação
pode fazer com que a comunidade enfraqueça e
busque se adaptar.
AGRADECIMENTOS: Agradeço a todos que
colaboraram para o desenvolvimento da referida
campanha, entre eles, Professor Ericsson e
Stevaux, Professora Isabel e minha Orientadora
Karin, Adhemar e Altair Benerti além do Núcleo
de Pesquisas em Limnologia Ictiologia e
Aquicultura (NUPÉLIA), que disponibilizou as
instalações que serviram como base durante esta
campanha.
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153
VARIABILIDADE PLUVIOMÉTRICA NO MUNICÍPIO DE CAMPO MOURÃO
Jeremias Alecio Leperes de Marins1; Leila Limberger
2
1Mestrando em Geografia, UNIOESTE/Campus de Marechal Cândido Rondon, [email protected];
2 Docente do PPGG - UNIOESTE/MCR.
INTRODUÇÃO
A relação de nossa existência com o clima está
atrelada a curtos períodos, também denominada de
tempo atmosférico, conceituado como as condições
atmosféricas médias em um determinado momento e
lugar. A variação da média climatológica recebe o
nome de variabilidade climática, segundo Angelocci
e Sentelhas (2007). Um dos elementos climáticos de
maior influência para a sociedade é a precipitação
pluviométrica, principalmente na região Tropical.
Para essa comunicação analisamos a série
temporal pluviométrica do período de 1986 a 2016 do
município de Campo Mourão. Este se situa na
Mesorregião Centro Ocidental Paranaense (Figura 1),
ocupando uma área de 757,875 km², e faz limite com
os municípios de Peabiru, Araruna, Farol, Mambore,
Luiziana, Barbosa Ferraz e Corumbataí do Sul.
Figura 1 – Mapa de localização de Campo Mourão
O município está localizado em uma área de
transição climática, situado a aproximadamente 60
km ao Sul do trópico de Capricórnio. Pode ser
caracterizada como uma região climática Subtropical
úmida, com os principais tipos de clima: Cfb, Cfa e,
com menor proporção, o tipo Cwa a sudeste e
noroeste (ITCG, 2008) (Figura 2).
Figura 2- Mapa do clima de Campo Mourão de acordo
com a classificação de climática de Köppen, com base no
mapa climático do Paraná (ITCG, 2008).
De acordo com os dados elaborados pelo INMET
em uma série temporal entre 1960 a 1990, a normal
climatológica de Campo Mourão era: temperatura
mínima 15ºC, temperatura máxima 27ºC e o total
pluviométrico anual de 1650 mm.
De acordo com Borsato (2013) os processos
dinâmicos da atmosfera ocorrem por meio de massas
de ar e na região onde o município está inserido
existe a influência de quatro tipos de massa de ar.
Duas são formadas por sistemas de baixa pressão
sendo a massa Tropical continental e a massa
Equatorial continental; suas características são
temperaturas altas e fortes convecções que resultam
em chuva. Já, as massas: Polar atlântica e Tropical
atlântica, são originadas de sistemas anticiclonais,
sendo que entre elas a de maior atuação é Polar
154
Atlântica; ambas atuam mais frequentemente no
inverno.
Além dos aspectos médios, o município registra
variabilidade climática a partir da atuação de
fenômenos como o El Niño, que influencia o regime
pluviométrico, sendo que durante a sua fase positiva
é evidente o aumento de precipitação pluviométrica
(MARINS; MASSOQUIM, 2017), podendo ser um
agravante ou atenuante para as práticas agrícolas
(MASSOQUIM; AZEVEDO, 2010).
MATERIAIS E MÉTODOS
Para este trabalho foram coletados dados
pluviométricos mensais para o período de 1986 a
2016. Os dados foram coletados de três estações
meteorológicas, sendo uma do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET), e duas do Instituto das
Águas do Paraná (ÁGUAS PARANÁ) – Rio da
Vargem e Campo Mourão. Os dados foram tratados
para serem apresentados e, a partir deles, se
identificar a variabilidade climática. Foram aplicadas
as seguintes técnicas estatísticas: soma, média
aritmética, moda, correlação linear simples, cálculo
de porcentagem.
Também foi elaborado um mapa de isoietas, por
meio do software Qgis, a partir dos dados
pluviométricos do município e dos municípios
limítrofes, (que possuíam estação pluviométrica) -
Peabiru, Araruna, Farol, Mambore, Luiziana, e
Barbosa Ferraz, (estações do Instituto das Águas do
Paraná e Agência Nacional das Águas).
RESULTADOS
Após analisar os dados das três estações,
identificou-se que em todas o mês mais chuvoso é
janeiro, com médias entre 212 e 227,7 mm de chuva
(Quadro 1), sendo que isso representa 12% a 13% do
total pluviométrico anual. Já o mês mais seco é o de
agosto, com médias para o período entre 74,3 a 86,2
mm (Quadro 1).
ESTAÇÃO METEOROLÓGICA
INMET
ÁGUAS PARANÁ
RIO DA
VARGEM
CAMPO
MOURÃO
JAN
PRECIPITAÇÃO
MÉDIA 224,6 227,7 212
% DO TOTAL
ANUAL 13,1 12,2 12,6
AGO
PRECIPITAÇÃO
MÉDIA 75,4 86,2 74,3
% DO TOTAL
ANUAL 4,4 4,6 4,4
Quadro 1 – Dados comparativos entre o mês mais chuvoso e o mais seco.
Como pode ser observado pelo Gráfico 1, o
município possui uma variabilidade de precipitação
durante o ano, com inverno mais seco que o verão,
intercalado com períodos de transição que registram
também valores mais altos que os meses adjacentes,
como maio e outubro.
Gráfico 1 – Média mensal das três estações
Por meio da média móvel de três meses, pode-se
verificar que o trimestre mais chuvoso é dezembro,
janeiro e fevereiro, e o mais seco é junho, julho e
agosto para as três estações meteorológicas
analisadas (Gráfico 2).
155
Gráfico 2 – Média móvel (três meses), precipitação
pluviométrica.
Em relação à variabilidade interanual (total
anual), podemos perceber, observando o gráfico 3,
que os anos mais chuvosos são 1990, 1998, 2013 e
2015; nesses anos o acumulado foi superior a 2000
mm de chuva. Já os anos de menor acumulado foram:
1988, 1999, 2007 e 2012; esses anos tiveram
acumulados abaixo de 1500 mm. Em 1988 choveu
aproximadamente 1200 mm, sendo este o ano mais
seco desta série histórica.
Gráfico 3 – Precipitação pluviométrica total anual.
Por meio da Figura 3 é possível verificar que a
porção norte do município de Campo Mourão
registrou, durante o período de análise, os menores
totais anuais de precipitação, com a menor isoieta
representando o valor de 1680 mm. Por outro lado, a
porção sul apresenta os maiores valores de total de
precipitação, sendo a maior isoieta 1880 mm.
Figura 3 – Mapa pluviométrico do Município de Campo
Mourão, média entre os anos de 1986 a 2016.
Ao analisar a média do total anual de precipitação
para o período de 1986 a 2016 do município de
Campo Mourão verifica-se que há uma variação de
quase 200 mm de chuva de norte a sul.
Um elemento da paisagem que se assemelha com
essa espacialização e poderia explicar tal aspecto da
variabilidade é o relevo, sendo que, de acordo com
Colavite (2009), a parte sul é mais elevada em
relação que ao norte do município. Porém, não existe
pesquisa que tenha estudado efetivamente a relação
entre chuva e relevo na área de estudos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa foram identificados aspectos da
variabilidade espacial e temporal dos dados mensais
de chuva do município de Campo Mourão para o
período de 1986 a 2016.
Com este trabalho podemos verificar que o mês
mais chuvoso para o município de Campo Mourão é
janeiro e o mais seco agosto. Podemos verificar
através da média móvel que o trimestre mais chuvoso
156
é dezembro, janeiro e fevereiro e o trimestre mais
seco junho, julho e agosto. Verificou-se que o ano de
1988 foi o ano mais seco da série histórica analisada
e 2015, o mais chuvoso.
A partir do mapa de pluviometria e dos dados das
estações podemos verificar que existe uma
variabilidade espacial pluviométrica no município,
sendo que o sul do município é mais chuvoso que ao
norte, tendo alguma semelhança entre a
espacialização hipsométrica do relevo.
Dois aspectos carecem de investigação mais
aprofundada, sendo: a) a associação da variabilidade
temporal dos dados de chuva com fenômenos de
escala global como o El Niño/Oscilação Sul, por
exemplo; b) identificar a importância do relevo na
variabilidade espacial do dado de chuva no
município.
AGRADECIMENTOS: A Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) pelo apoio a este trabalho, com a concessão
de bolsa que tem auxiliado na realização de nossas
pesquisas.
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