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Clique aqui para imprimir este documento Manual Merck para a família - http://www.manualmerck.net/ Versão para impressora Doença vascular cerebral e perturbações afins A interrupção do afluxo de sangue ao cérebro pode ocasionar a morte das células cerebrais ou lesioná-las devido à falta de oxigénio. As células cerebrais também podem ser afectadas por uma hemorragia no cérebro ou à volta do mesmo. As alterações neurológicas resultantes denominam-se acidentes vasculares cerebrais porque afectam os vasos sanguíneos (vascular) e o encéfalo (cérebro). A chegada insuficiente de sangue a determinadas partes do cérebro durante um período breve de tempo produz os acidentes isquémicos transitórios. Dado que se verifica um restabelecimento rápido do fluxo sanguíneo, o tecido cerebral não morre, como acontece no icto. O acidente isquémico transitório é, frequentemente, um aviso precoce de um icto. A doença vascular cerebral é a causa mais frequente de incapacidade neurológica nos países ocidentais. Os factores que representam maior risco nas lesões vasculares do cérebro são a hipertensão e a aterosclerose (endurecimento das artérias por depósito de gordura nas suas paredes). A incidência da doença vascular cerebral diminuiu durante as últimas décadas graças à tomada de consciência das pessoas sobre a importância de controlar a tensão arterial alta e os valores elevados de colesterol. O modo como os ictos ou os acidentes isquémicos transitórios afectam o organismo depende precisamente da área onde se interrompeu a circulação cerebral ou se produziu a hemorragia. Cada área do cérebro é irrigada por vasos sanguíneos específicos. Por exemplo, a obstrução de um vaso na área que controla os movimentos musculares da perna esquerda produz debilidade ou paralisia nessa perna. Se for afectada a área encarregada do tacto no braço direito, este perderá a sensação do tacto (sensibilidade táctil). A perda de funções é máxima imediatamente após um icto. No entanto, habitualmente recupera-se parte da função e, enquanto algumas células cerebrais morrem, outras estão somente lesionadas e podem ser recuperadas. Há casos em que pode produzir-se um icto ou um acidente isquémico transitório apesar de uma circulação cerebral normal se o conteúdo de oxigénio no sangue for insuficiente. Isto pode acontecer quando uma pessoa é afectada por uma anemia grave, uma intoxicação por monóxido de carbono ou então sofre de uma perturbação que produz células sanguíneas anómalas ou uma coagulação anormal, como a leucemia ou a policitemia. Acidente isquémico transitório Um acidente isquémico transitório (AIT) é uma perturbação no funcionamento do cérebro causada por uma deficiência temporária de fornecimento de sangue ao mesmo. Causas Os fragmentos de matéria gorda e de cálcio que se formam na parede arterial (denominadas placas de ateroma) (Ver imagem da secção 3, capítulo 26) podem desprender-se e introduzir-se num pequeno vaso sanguíneo do cérebro, o que pode produzir uma obstrução temporária da circulação e, em consequência, um AIT. A acumulação de plaquetas ou de coágulos pode também obstruir um vaso sanguíneo e produzir um AIT. O risco de um AIT é aumentado se a pessoa sofrer de hipotensão, de aterosclerose, de uma doença do coração (especialmente nos casos de anomalias nas válvulas ou na condução cardíaca), de diabetes ou de um excesso de glóbulos vermelhos (policitemia). Os AIT são mais frequentes na meia-idade e a sua probabilidade aumenta à medida que se envelhece. Às vezes, os AIT manifestam-se em adultos jovens ou em crianças que sofrem de uma doença do coração ou de uma perturbação sanguínea. Doença vascular cerebral e perturbações afins Acidente isquémico transitório - Icto - Hemorragia intracaniana - Hemorragia intracerebral - Hemorragia subaracnóidea 1 de 10 Página Manual Merck para a famíliae 18-05-2011 http://www.manualmerck.net/imprime.asp?id=100&cn=913

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Doença vascular cerebral e perturbações afins

A interrupção do afluxo de sangue ao cérebro pode ocasionar a morte das células cerebrais ou lesioná-las devido à falta de oxigénio. As células cerebrais também podem ser afectadas por uma hemorragia no cérebro ou à volta do mesmo. As alterações neurológicas resultantes denominam-se acidentes vasculares cerebrais porque afectam os vasos sanguíneos (vascular) e o encéfalo (cérebro).

A chegada insuficiente de sangue a determinadas partes do cérebro durante um período breve de tempo produz os acidentes isquémicos transitórios. Dado que se verifica um restabelecimento rápido do fluxo sanguíneo, o tecido cerebral não morre, como acontece no icto. O acidente isquémico transitório é, frequentemente, um aviso precoce de um icto.

A doença vascular cerebral é a causa mais frequente de incapacidade neurológica nos países ocidentais. Os factores que representam maior risco nas lesões vasculares do cérebro são a hipertensão e a aterosclerose (endurecimento das artérias por depósito de gordura nas suas paredes). A incidência da doença vascular cerebral diminuiu durante as últimas décadas graças à tomada de consciência das pessoas sobre a importância de controlar a tensão arterial alta e os valores elevados de colesterol. O modo como os ictos ou os acidentes isquémicos transitórios afectam o organismo depende precisamente da área onde se interrompeu a circulação cerebral ou se produziu a hemorragia. Cada área do cérebro é irrigada por vasos sanguíneos específicos. Por exemplo, a obstrução de um vaso na área que controla os movimentos musculares da perna esquerda produz debilidade ou paralisia nessa perna. Se for afectada a área encarregada do tacto no braço direito, este perderá a sensação do tacto (sensibilidade táctil). A perda de funções é máxima imediatamente após um icto. No entanto, habitualmente recupera-se parte da função e, enquanto algumas células cerebrais morrem, outras estão somente lesionadas e podem ser recuperadas.

Há casos em que pode produzir-se um icto ou um acidente isquémico transitório apesar de uma circulação cerebral normal se o conteúdo de oxigénio no sangue for insuficiente. Isto pode acontecer quando uma pessoa é afectada por uma anemia grave, uma intoxicação por monóxido de carbono ou então sofre de uma perturbação que produz células sanguíneas anómalas ou uma coagulação anormal, como a leucemia ou a policitemia.

Acidente isquémico transitório

Um acidente isquémico transitório (AIT) é uma perturbação no funcionamento do cérebro causada por uma deficiência temporária de fornecimento de sangue ao mesmo.

Causas

Os fragmentos de matéria gorda e de cálcio que se formam na parede arterial (denominadas placas de ateroma) (Ver imagem da secção 3, capítulo 26) podem desprender-se e introduzir-se num pequeno vaso sanguíneo do cérebro, o que pode produzir uma obstrução temporária da circulação e, em consequência, um AIT. A acumulação de plaquetas ou de coágulos pode também obstruir um vaso sanguíneo e produzir um AIT. O risco de um AIT é aumentado se a pessoa sofrer de hipotensão, de aterosclerose, de uma doença do coração (especialmente nos casos de anomalias nas válvulas ou na condução cardíaca), de diabetes ou de um excesso de glóbulos vermelhos (policitemia). Os AIT são mais frequentes na meia-idade e a sua probabilidade aumenta à medida que se envelhece. Às vezes, os AIT manifestam-se em adultos jovens ou em crianças que sofrem de uma doença do coração ou de uma perturbação sanguínea.

Doença vascular cerebral e perturbações afins Acidente isquémico transitório - Icto - Hemorragia intracaniana - Hemorragia

intracerebral - Hemorragia subaracnóidea

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Sintomas

Um AIT é de início súbito e geralmente dura entre 2 e 30 minutos; raramente se prolonga para além de 1 ou 2 horas. Os sintomas são variáveis em função da parte do cérebro que tenha ficado desprovida de sangue e de oxigénio. Quando são afectadas as artérias que são ramos da artéria carótida, os sintomas mais frequentes são a cegueira de um olho ou uma perturbação da sensibilidade juntamente com a debilidade. Quando são afectadas as artérias que são ramos das artérias vertebrais (localizadas na parte posterior da cabeça), são frequentes o enjoo, a visão dupla e a debilidade generalizada. No entanto, podem manifestar-se muitos sintomas diferentes, tais como:

� Perda de sensibilidade ou perturbações da mesma num braço ou numa perna ou num lado do corpo. � Debilidade ou paralisia num braço ou numa perna ou em todo um lado do corpo. � Perda parcial da visão ou da audição. � Visão dupla. � Enjoo. � Linguagem ininteligível. � Dificuldade em pensar na palavra adequada ou para a exprimir. � Incapacidade em reconhecer partes do corpo. � Movimentos inabituais. � Incontinência urinária. � Desequilíbrio e queda. � Desmaio.

Embora os sintomas sejam semelhantes aos de um icto, são transitórios e reversíveis. No entanto, os episódios de AIT são, frequentemente, recidivantes. A pessoa pode sofrer várias crises diárias ou só dois ou três episódios ao longo de vários anos. Em 35 % dos casos um AIT é seguido de um icto. Cerca de metade destes ictos ocorrem durante o ano posterior ao AIT.

Diagnóstico

As primeiras chaves do diagnóstico para o médico são os sintomas neurológicos súbitos e transitórios que sugerem uma disfunção de uma área específica do cérebro. Às vezes é necessário efectuar provas complementares para diferenciar os AIT de outras perturbações com sintomas semelhantes, como os ataques epilépticos, os tumores, a enxaqueca ou os valores anormais de açúcar no sangue. Dado que não se verifica uma lesão cerebral, o médico não pode basear o diagnóstico nos exames que habitualmente identificam um icto, como uma tomografia axial computadorizada (TAC) ou uma ressonância magnética (RM).

Os médicos utilizam várias técnicas para avaliar a possível obstrução de uma artéria carótida ou de ambas. O fluxo irregular de sangue cria ruídos, conhecidos como sopros, que podem ouvir-se através do fonendoscópio. No entanto, pode existir sopro na ausência de uma obstrução significativa. O passo seguinte costuma ser uma ecografia e um estudo Doppler do fluxo sanguíneo, dois exames que se efectuam simultaneamente para medir o grau da obstrução e a quantidade de sangue que pode passar através da mesma. No caso de um estreitamento grave das artérias carótidas, o médico pode solicitar uma RM das artérias ou efectuar uma angiografia cerebral para determinar o grau e a localização da obstrução. No caso da angiografia injecta-se um contraste radioopaco (que se observa nas radiografias) numa artéria e ao mesmo tempo fazem-se as radiografias da cabeça e do pescoço. (Ver secção 6, capítulo 60)

Ao contrário do que acontece com as artérias carótidas, a ecografia e os estudos Doppler são menos eficazes para avaliar as artérias vertebrais. A única forma de efectuar uma comprovação segura do compromisso de uma artéria vertebral é através da RM ou da angiografia. No entanto, se se encontrar uma obstrução, pode não ser possível eliminá-la porque a cirurgia é mais difícil nas artérias vertebrais do que nas carótidas.

Irrigação do cérebro

O sangue é transportado para o cérebro por dois pares de grandes artérias: as artérias carótidas e as artérias vertebrais. Ambas levam o sangue do coração; as artérias carótidas circulam ao longo da parte anterior do pescoço e as artérias vertebrais pela parte

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Tratamento

O tratamento dos AIT é dirigido à prevenção dos ictos. Os principais factores de risco de um icto são a pressão arterial alta, os valores elevados de colesterol, o tabagismo e a diabetes, pelo que, sempre que seja possível, o primeiro passo para o prevenir é abordar ou corrigir os factores de risco. Podem administrar-se medicamentos para reduzir a tendência das plaquetas a formar coágulos, uma das principais causas do icto. Um dos fármacos preferidos pela sua eficácia é a aspirina, que costuma prescrever-se em doses de um comprimido para crianças uma vez ao dia. Às vezes receita-se o dipiridamol, mas na maioria das pessoas não é tão eficaz. As pessoas que não toleram a aspirina podem tomar ticlopidina. Quando se necessita de medicamentos mais fortes, o médico pode prescrever anticoagulantes como a heparina ou a varfarina.

O grau de obstrução nas artérias carótidas ajuda o médico a estabelecer o tratamento. Se um vaso sanguíneo estiver obstruído em mais de 70 % e se a pessoa tiver sintomas que sugiram um acidente vascular cerebral nos últimos 6 meses, então a cirurgia pode ser necessária para eliminar a obstrução e prevenir um possível icto. Habitualmente as obstruções menores só se eliminam se tiverem causado um AIT ou um icto. Durante a intervenção que é costume efectuar-se nestes casos (endarterectomia), o médico elimina os depósitos de gordura (ateromas) da artéria carótida. No entanto, esta intervenção tem um risco de 1 % a 2 % de causar um icto. Por outro lado, nas obstruções menores que não provocaram sintomas, o risco cirúrgico parece ser maior do que aquele que se correria sem intervir.

Icto

Um icto (também denominado acidente vascular cerebral) caracteriza-se pela morte de tecido do cérebro (enfarte cerebral) como consequência de uma insuficiência circulatória e do consecutivo défice de oxigénio no cérebro.

Um icto pode ser isquémico ou hemorrágico. Num icto isquémico, a circulação de uma parte do cérebro interrompe-se devido à obstrução de um vaso sanguíneo, causado por aterosclerose ou por um coágulo. Num icto hemorrágico, produz-se uma ruptura de um vaso sanguíneo, o que impede a circulação normal e permite que saia sangue e este inunde uma área do cérebro e o destrua. (Ver secção 6, capítulo 74) 

Causas

Num icto isquémico a obstrução pode verificar-se em qualquer parte de algumas artérias que vão para o cérebro. Por exemplo, na artéria carótida pode desenvolver-se uma acumulação importante de gordura (ateroma) (Ver imagem da secção 3, capítulo 26) e esta reduzir a circulação ao mínimo, da mesma forma que a água passa por uma tubagem meio obstruída. Esta situação é grave porque, normalmente, cada artéria carótida fornece uma percentagem elevada do sangue de que o cérebro necessita. A referida matéria gorda pode também desprender-se da parede da artéria carótida, passar para o sangue e ficar presa numa artéria mais pequena, obstruindo-a por

posterior do pescoço, por dentro da coluna vertebral. Estas grandes artérias desembocam num círculo formado por outras artérias, do qual saem artérias mais pequenas, assim como ocorre com as estradas que saem de uma rotunda de tráfego. Estes ramos levam sangue a todas as partes do cérebro.

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completo.

As artérias carótidas e vertebrais também podem ficar obstruídas por outros motivos. Por exemplo, um coágulo que se tenha formado no coração ou numa das suas válvulas pode desprender-se (transformando-se num êmbolo), subir pelas artérias em direcção ao cérebro e alojar-se neste. O resultado é um icto devido a um êmbolo (embolia cerebral). Estes ictos são mais frequentes nas pessoas submetidas a cirurgia do coração ou naquelas com válvulas cardíacas defeituosas ou com uma arritmia cardíaca (especialmente a fibrilhação auricular). Uma embolia gorda é uma causa pouco frequente de icto; se a gordura da medula de um osso fracturado passar para a circulação, podem produzir-se muitas embolias ao mesmo tempo se o sangue se tornar mais compacto e obstruir as artérias.

Se uma inflamação ou uma infecção causarem o estreitamento (estenose) de um vaso sanguíneo, pode ocorrer um icto. As substâncias tóxicas como a cocaína e as anfetaminas podem também estreitar os vasos sanguíneos do cérebro e produzir um icto.

Uma queda súbita da pressão arterial pode reduzir a circulação cerebral de forma grave, o que habitualmente faz com que a pessoa simplesmente desmaie. No entanto, se a diminuição da pressão arterial é grave e prolongada, pode ocorrer um icto. Esta situação pode ocorrer quando uma pessoa perde muito sangue por causa de uma ferida ou durante uma intervenção cirúrgica, ou então devido a uma frequência cardíaca anormal ou a uma arritmia.

Sintomas e evolução

De modo geral, os ictos são de início súbito e de desenvolvimento rápido e causam uma lesão cerebral em minutos (icto estabelecido). Com menos frequência, um icto pode ir-se agravando ao longo de horas, inclusive durante um ou dois dias, à medida que se vai necrosando uma área cada vez maior de tecido cerebral (icto em

evolução). Geralmente, esta progressão costuma interromper-se, embora nem sempre, dando lugar a períodos de estabilidade em que a área de tecido necrosado deixa de crescer de forma transitória ou nos quais se observa certa melhoria.

Em função da área do cérebro afectada podem manifestar-se muitos sintomas diferentes. Os sintomas possíveis são os mesmos que se manifestam nos acidentes isquémicos transitórios. No entanto, a disfunção nervosa costuma ser grave, extensa, acompanhar-se de coma ou de estupor e costuma ser permanente. Além disso, um icto pode causar depressões ou incapacidade para controlar as emoções.

Um icto pode produzir um edema ou um inchaço do cérebro. Isso é particularmente perigoso devido ao facto de o crânio deixar pouco espaço para que o cérebro possa expandir-se. Por isso, a pressão resultante pode ocasionar ainda mais lesões no tecido cerebral e piorar os problemas neurológicos, embora o icto em si não tenha aumentado de tamanho.

Diagnóstico

Habitualmente, o médico pode diagnosticar um icto através da história dos factos e do exame físico.

Este último contribui para que o médico possa determinar onde se localiza a lesão cerebral. Também é costume efectuar estudos imagiológicos, como uma tomografia axial computadorizada (TAC) ou uma ressonância magnética (RM), para confirmar o diagnóstico, embora esses exames só detectem o icto quando já decorreram alguns dias. Uma TAC ou uma RM são também eficazes para determinar se um icto foi causado por uma hemorragia ou por um tumor cerebral. O médico pode efectuar uma angiografia no caso pouco provável de se colocar a possibilidade de uma intervenção cirúrgica.

O médico procura estabelecer a causa exacta do icto, uma vez que é especialmente importante determinar se este foi produzido por um coágulo (embolia) que se alojou no cérebro ou pela obstrução de um vaso sanguíneo devido a uma aterosclerose (aterotrombose).

Com efeito, se a causa é um coágulo ou uma embolia, é muito provável que ocorra outro icto, a menos que se corrija o problema subjacente. Por exemplo, se se estiverem a formar coágulos no coração devido a uma frequência cardíaca irregular, esta deve ser tratada a fim de prevenir a formação de novos coágulos que possam

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causar outro icto. Nesta situação, o médico costuma efectuar um electrocardiograma (para detectar uma arritmia) e também pode recomendar outras provas de estudo do coração. Estas podem ser: uma monitorização Holter, que consiste na realização de um electrocardiograma contínuo durante 24 horas e um ecocardiograma, que avalia as cavidades e as válvulas do coração. (Ver secção 3, capítulo 15)

Embora as restantes provas laboratoriais sejam de pouca utilidade, fazem-se também para confirmar que o icto não foi causado por uma carência de glóbulos vermelhos (anemia), por um excesso de glóbulos vermelhos (policitemia), por um cancro dos glóbulos brancos (leucemia) ou por uma infecção. Há casos em que é necessária uma punção lombar depois de um icto. De facto, este exame só se efectua se o médico tiver a certeza de que o cérebro não está sujeito a demasiada pressão e isso requer, geralmente, uma TAC ou uma RM. A punção lombar é necessária para verificar se existe uma infecção cerebral, para medir a pressão do líquido cefalorraquidiano ou para determinar se a causa do icto foi uma hemorragia.

Prognóstico

Muitas das pessoas afectadas por um icto recuperam a maior parte das funções normais, ou quase todas elas, e podem levar a uma vida normal. Noutras produz-se uma profunda deterioração física e mental, que as incapacita para se moverem, falar ou alimentar-se de modo normal. Geralmente, durante os primeiros dias os médicos não podem estabelecer um prognóstico acerca da recuperação ou do agravamento da situação do doente. Cerca de 50 % das pessoas com uma paralisia de um lado do corpo e a maioria das que têm sintomas menos graves conseguem uma recuperação parcial no momento de terem alta do hospital e acabam por ser capazes de dar resposta às suas necessidades básicas. Podem pensar com lucidez e caminhar adequadamente, embora possa haver uma limitação no uso de um membro afectado. A limitação do uso de um braço é mais frequente do que a de uma perna.

Cerca de 20 % das pessoas que tiveram um icto morrem no hospital; a proporção é maior entre as pessoas de idade avançada. Certas características de um icto sugerem a probabilidade de um desenlace de mau prognóstico.

Revestem-se de especial gravidade os ictos que produzem uma perda de consciência e os que deterioram a função respiratória ou cardíaca. Qualquer perda neurológica que persista há 6 meses é provável que seja permanente, embora algumas pessoas continuem a apresentar uma melhoria lenta. O prognóstico entre as pessoas de idade avançada é pior do que entre as mais jovens.

A recuperação é mais difícil entre as pessoas afectadas por outras perturbações médicas graves.

Tratamento

Os sintomas que sugerem a possibilidade de um icto constituem uma urgência médica e a actuação rápida por parte dos médicos pode, às vezes, limitar a lesão ou prevenir danos adicionais. Muitos dos efeitos produzidos por um icto requerem assistência médica, especialmente durante as primeiras horas. Em primeiro lugar, os médicos administram, habitualmente, oxigénio e asseguram-se de que a pessoa afectada receba os líquidos e a alimentação adequados por via endovenosa.

Porque é que os ictos só afectam um lado do corpo?

Os ictos (acidentes vasculares cerebrais) habitualmente lesam somente um lado do cérebro. Uma vez que os nervos no cérebro se cruzam para o outro lado do corpo, os sintomas aparecem no lado do corpo oposto ao lado do cérebro que sofreu a lesão.

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No caso de um icto em evolução, podem administrar-se anticoagulantes como a heparina; no entanto, estes medicamentos não são úteis quando se trata de um icto estabelecido. Mais ainda, geralmente não se costumam administrar a pessoas com uma pressão arterial alta e nunca a pessoas com hemorragia cerebral, porque aumentam o risco de derrame de sangue no cérebro.

As investigações recentes sugerem que a paralisia e outros sintomas podem ser prevenidos ou regredir se durante as 3 horas posteriores ao início do icto forem administrados certos fármacos que dissolvem os coágulos, como a estreptoquinase ou o activador tecidular do plasminógeno. Deve efectuar-se um exame rápido para determinar se a causa se deve a um coágulo ou a uma hemorragia, a qual não pode tratar-se com este tipo de fármacos. Actualmente estão a ser experimentadas novas medidas que possam melhorar as possibilidades de um desenlace favorável, como o bloqueio dos receptores de certos neurotransmissores no cérebro.

Com um icto estabelecido, produz-se a morte de certa quantidade de tecido cerebral; o restabelecimento do fluxo sanguíneo não consegue recuperar a função do tecido cerebral morto. Por isso a cirurgia não costuma ser eficaz. No entanto, numa pessoa cujas artérias carótidas estejam obstruídas em mais de 70 % e que tenha sofrido um icto pequeno ou um acidente isquémico transitório, pode reduzir-se o risco de futuros ictos eliminando a obstrução.

Para reduzir tanto o edema como o aumento de pressão no cérebro nas pessoas com um icto agudo, podem ser administrados fármacos como o manitol ou, em raras ocasiões, os corticosteróides. Uma pessoa afectada por um icto muito grave pode necessitar de um respirador artificial, quer porque tenha desenvolvido uma pneumonia, quer para ajudar a manter uma respiração adequada.

Tomam-se todas as medidas necessárias para prevenir o desenvolvimento das úlceras causadas por pressão na pele e presta-se muita atenção à função intestinal e urinária.

Muitas vezes devem tratar-se outras perturbações associadas, como uma insuficiência cardíaca, uma arritmia, a pressão arterial alta e uma infecção pulmonar. Uma vez que depois de um icto costumam desenvolver-se alterações no estado anímico (especialmente a depressão), os familiares e amigos devem informar o médico se detectarem que o doente parece deprimido. (Ver secção 7, capítulo 84) A depressão pode tratar-se com fármacos e psicoterapia.

Reabilitação

A reabilitação intensiva pode ser eficaz porquanto ajuda muitas pessoas a ultrapassarem a deterioração de uma parte do tecido cerebral. Outras partes do cérebro podem encarregar-se das tarefas que antes eram executadas pela parte lesada.

A reabilitação inicia-se quando se tiver estabilizado a pressão arterial, o pulso e a respiração. Médicos, terapeutas e enfermeiras combinam a sua experiência para manter a um nível adequado o tónus muscular do doente, prevenir as contracções musculares e as úlceras por pressão (que podem resultar da permanência prolongada na cama na mesma posição) e ensiná-lo a caminhar e a falar de novo. A paciência e a perseverança são fundamentais.

Depois da alta hospitalar muitas pessoas beneficiam de uma reabilitação continuada num hospital ou num centro de cuidados de enfermagem, num centro de reabilitação a horas convenientes ou na sua própria casa.

Os fisioterapeutas e os terapeutas ocupacionais podem sugerir formas de comportamento e atitudes para fazer com que a vida e a segurança em casa se tornem mais fáceis para a pessoa incapacitada.

Hemorragia intracaniana

Uma hemorragia intracraniana é um derrame de sangue no interior do crânio.

A hemorragia pode ocorrer no interior do cérebro ou à volta dele. As que se produzem no interior do cérebro têm

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as seguintes denominações em função da área em que ocorrem: se for no interior do cérebro, denominam-se hemorragias intracerebrais; entre o cérebro e o espaço subaracnóideo, hemorragias subaracnóideas; entre as camadas do revestimento do cérebro, hemorragias subdurais, e as que se produzem entre o crânio e o revestimento do cérebro são hemorragias epidurais. Independentemente de onde ocorre a hemorragia, as células cerebrais ficam destruídas. Do mesmo modo, devido ao facto de o crânio não permitir a expansão dos tecidos que contém, um derrame de sangue aumenta de forma rápida e perigosa a pressão no cérebro.

Causas

O traumatismo craniano é a causa mais frequente de hemorragia intracraniana nas pessoas com menos de 50 anos. (Ver secção 6, capítulo 75)

Outra das causas é uma malformação arteriovenosa, uma anomalia anatómica nas artérias ou nas veias no cérebro ou à volta do mesmo. Uma malformação arteriovenosa pode estar presente desde o nascimento, mas só se pode conhecer a sua presença se os sintomas se manifestarem. A hemorragia a partir de uma malformação arteriovenosa pode causar colapso e morte súbita, e geralmente tende a ocorrer em adolescentes e adultos jovens.

Às vezes a parede de um vaso pode debilitar-se e inchar; tal circunstância denomina-se aneurisma. As paredes delgadas de um aneurisma podem romper-se e causar uma hemorragia. Um aneurisma no cérebro é outra causa de hemorragia intracaniana, o que constitui um icto hemorrágico.

Hemorragia intracraniana Observe-se a herniação de uma estrutura denominada o uncus temporal através da tenda do cerebelo.

Aneurisma da artéria comunicante posterior no polígono de Willis

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Hemorragia intracerebral

Uma hemorragia intracerebral (um tipo de icto) é consequência de um derramamento de sangue no tecido cerebral.

Sintomas e diagnóstico

Uma hemorragia intracerebral começa subitamente com dor de cabeça seguida de sintomas de uma perda progressiva de funções neurológicas, como debilidade, incapacidade para se mover (paralisia), torpor, perda da fala ou da visão e confusão. São frequentes as náuseas, os vómitos, as crises convulsivas e uma perda de consciência que pode ocorrer em poucos minutos. O médico pode diagnosticar, frequentemente, uma hemorragia intracerebral sem necessidade de efectuar provas de diagnóstico, mas habitualmente, quando suspeita que se tenha produzido um icto, costuma efectuar uma tomografia axial computadorizada (TAC) ou uma ressonância magnética (RM). Ambos os exames ajudam o médico a diferenciar um icto isquémico de outro hemorrágico. Também podem revelar a quantidade de tecido cerebral que foi afectado e se há um aumento de pressão noutras áreas do cérebro.

Em geral, não se efectua uma punção lombar, a menos que o médico considere que o doente pode ter uma meningite ou alguma outra infecção e que não se disponha de provas imagiológicas, ou então que estas não tenham revelado qualquer anormalidade.

Prognóstico e tratamento

O tratamento do icto hemorrágico é semelhante ao do icto isquémico, com duas diferenças importantes no caso de hemorragia: não se administram anticoagulantes e a cirurgia pode salvar a vida do doente, embora costume deixá-lo com sequelas neurológicas graves. O objectivo da cirurgia nestes casos é a eliminação do sangue acumulado no cérebro e a diminuição da pressão intracraniana, que está aumentada.

A forma mais perigosa de icto é a hemorragia intracerebral. Geralmente o icto é extenso e catastrófico, especialmente se o doente estava afectado por uma hipertensão arterial crónica. Mais de 50 % das pessoas com

Localização das hemorragias cerebrais

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hemorragias extensas morrem em alguns dias. As que sobrevivem costumam recuperar a consciência e alguma função cerebral ao mesmo tempo que o organismo vai absorvendo o sangue derramado. Os problemas tendem a persistir, mas a maioria das pessoas com hemorragias pequenas costuma recuperar de forma significativa.

Hemorragia subaracnóidea

Uma hemorragia subaracnóidea é um derramamento de sangue que se produz de repente no espaço compreendido entre o cérebro e a camada que o rodeia (espaço subaracnóideo). (Ver secção 6, capítulo 59)

A origem habitual da saída de sangue é a ruptura de um vaso sanguíneo enfraquecido (quer seja por uma malformação arteriovenosa, quer por um aneurisma). Quando um vaso sanguíneo está afectado por aterosclerose ou por uma infecção, pode produzir-se a ruptura do mesmo. Tais rupturas podem ocorrer em qualquer idade, mas são mais frequentes entre os 25 e os 50 anos. Raramente uma hemorragia subaracnóidea é devida a um traumatismo craniano.

Sintomas

Os aneurismas que ocasionam hemorragias subaracnóideas não costumam apresentar sintomas antes da ruptura. Mas, às vezes, os aneurismas comprimem um nervo ou produzem um pequeno derrame de sangue antes da ruptura importante e, como consequência, dão um sinal de alarme, como uma dor de cabeça, dor na cara, visão dupla ou outros problemas visuais. Os sinais de alarme costumam ocorrer entre minutos e semanas antes da ruptura. Esses sintomas devem ser comunicados ao médico o mais cedo possível para que possa tomar medidas oportunas a fim de prevenir uma hemorragia maciça.

A ruptura costuma produzir uma dor de cabeça repentina e intensa, seguida, muitas vezes, de uma perda de consciência de curta duração. Algumas pessoas ficam permanentemente em estado de coma, mas é mais frequente que despertem e tenham uma sensação de confusão e de sonolência. O sangue e o líquido cefalorraquidiano à volta do cérebro irritam a membrana que o envolve (meninges) e isso provoca dores de cabeça, vómitos e enjoos. Também costumam manifestar-se flutuações frequentes na frequência cardíaca e respiratória, às vezes acompanhadas de convulsões. Em horas ou mesmo minutos, a pessoa pode sentir-se de novo sonolenta e confusa. Cerca de 25 % destas pessoas têm problemas neurológicos, habitualmente paralisia num lado do corpo.

Diagnóstico

O diagnóstico de uma hemorragia subaracnóidea costuma estabelecer-se através de uma tomografia axial computadorizada (TAC), que revela o lugar onde se produziu a hemorragia. A punção lombar, se for necessário praticá-la, pode revelar a presença de sangue no líquido cefalorraquidiano. Nas 72 horas seguintes costuma efectuar-se uma angiografia para confirmar o diagnóstico e para servir de orientação no caso de ser necessário praticar uma intervenção cirúrgica.

Prognóstico

Cerca de um terço das pessoas que têm uma hemorragia subaracnóidea falecem durante o primeiro episódio em virtude de uma lesão cerebral extensa. 15 % morrem em poucas semanas devido a uma nova hemorragia. Às vezes, pode acontecer que uma pequena área sangrante se feche por si mesma e que não se veja na angiografia, o que é sinal de um bom prognóstico. Por outro lado, se não se intervém sobre o aneurisma, as pessoas que sobrevivem após 6 meses têm mais 5 % de probabilidades, cada ano, de que se verifique outro episódio de hemorragia.

Inúmeras pessoas recuperam muitas ou a totalidade das funções mentais e físicas depois de uma hemorragia subaracnóidea. No entanto, às vezes ficam sequelas de problemas neurológicos.

Tratamento

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A pessoa que possa ter sofrido uma hemorragia subaracnóidea é hospitalizada imediatamente e aconselhada a que evite qualquer esforço. Para controlar as dores de cabeça intensas administram-se analgésicos. Por vezes coloca-se um tubo de drenagem no cérebro para diminuir a pressão.

A cirurgia sobre o aneurisma, quer seja para isolar ou obstruir o mesmo, quer para reforçar as paredes da artéria debilitada, reduz o risco de que se produza uma hemorragia mortal mais tarde. Trata-se de uma cirurgia difícil e, apesar do procedimento cirúrgico utilizado, o índice de mortalidade é muito alto, especialmente em pessoas que se encontram num estado de estupor ou de coma. Existem controvérsias acerca do melhor momento para a intervenção e esta decidir-se-á em função das características de cada pessoa. A maioria dos neurocirurgiões recomenda que a intervenção se efectue dentro dos 3 dias posteriores ao início dos sintomas. Se a intervenção se retarda 10 dias ou mais, reduzem-se os riscos que a cirurgia comporta, mas, em contrapartida, aumentam as probabilidades de uma nova hemorragia.

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