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    As rotas da violncia - Como armas e munies chegam s mos debandidos brasileiros

    Em 26 de novembro passado, uma sexta-feira, um tiro de fuzil calibre 7.62

    varou as costas, rasgou os intestinos, perfurou o pncreas e atravessou oabdmen de Rogrio Cavalcante, 34, no Complexo da Mar, no Rio de Janeiro.O rombo provocado pela sada da bala no pde ser costurado pelos mdicos,por falta de pele. Seis meses antes, no shopping Cidade Jardim, em SoPaulo, assaltantes invadiram a joalheria Tiffany & Co e levaram 1,5 milho dereais em jias com a ajuda de pistolas 9 milmetros, escopetas calibre 12 esubmetralhadoras. H 32 dias, modelos idnticos foram utilizados por dezhomens encapuzados para invadir a nica agncia do Banco do Brasil emBoninal, cidade de 13 mil habitantes a 513 quilmetros de Salvador, na Bahia.

    Os crimes aconteceram em horrios diferentes, locais diferentes e de maneira diferente. Mas tm umacoisa em comum: as armas, todas elas comercializadas no mercado negro.

    Finalizada em novembro de 2006, a Comisso Parlamentar de Inqurito que investigou o trfico de armamentos emtodo o territrio nacional baseada em dados fornecidos pelo Ministrio da Justia e pela Polcia Federal concluiu que66% do material blico contrabandeado para o Brasil vem do Paraguai. O principal corredor de armas o Paraguai,no h dvidas, diz o deputado Paulo Pimenta, do PT do Rio Grande do Sul, que foi relator da CPI. De cada 100armas em posse de criminosos brasileiros, 29 foram roubadas dentro do pas (a maioria de funcionrios de empresasde segurana) e 71 chegaram por contrabando, informa uma pesquisa da RCI First Security and Intelligente Advising,empresa de Segurana Privada sediada em Nova York, especializada em anlise e gesto de risco, responsvel pelaconstruo da maioria dos 120 bunkers que existem hoje no Brasil. Dessas, 5% desembarcam por mar, vindas deoutros continentes, 8% vm da Bolvia, 17% do Suriname e a maioria absoluta, 68%, do Paraguai. Com 6,3 milhesde habitantes, o pas, que em 1870 perdeu a guerra para a aliana formada entre Brasil, Uruguai e Argentina, agoraimporta uma quantidade de armas suficiente para equipar todos os integrantes da populao.

    Sem violar qualquer lei, 19 empresas paraguaias importam pistolas Glock da ustria, fuzis AK-47 da Rssia, AR-15 dosEstados Unidos e metralhadoras genricas da China que tm coronha de plstico e com frequncia apresentamdefeitos funcionais que aborrecem os traficantes cariocas. De cada 100 armas que o Paraguai compra, 81 soimportadas legalmente, revela a pesquisa. Devidamente embalado e registrado em notas fiscais, esse armamentochega em contineres pelo porto de Paranagu, no Paran, conhecido por especialistas em segurana como o portodo Paraguai. Dali, o carregamento segue por estradas federais brasileiras at o Paraguai e entregue simportadoras. O engenheiro Ricardo Chilelli, especialista em Segurana Internacional e diretor-presidente da RCI First,revela que, assim como os chineses monopolizam o contrabando de produtos piratas, os russos controlam o

    contrabando de armas no continente. Isso faz com que as estatsticas de exportao se invertam, conta. S 17% dasexportaes de armas feitas pelo Paraguai acontecem dentro da lei. A imensa maioria, 83%, fruto do contrabando.

    Mas a mfia russa no comanda tudo sozinha, alerta o jurista Walter Maierovitch, ex-secretrio Nacional Antidrogasno governo Fernando Henrique Cardoso. Especialista em criminalidade transnacional, Maierovitch informa que asmfias russa, italiana, turca, e at faces brasileiras atuam em conjunto no trfico de drogas e armas na Amrica doSul. Embora criminosos estrangeiros dominem o vaivm de material blico no continente, quem se arrisca nastravessias para o lado brasileiro nada tm de europeu. Nessa etapa, existem dois tipos de contrabandistas: aquelesque so encarregados apenas de cruzar a fronteira e os que, alm disso, levam o carregamento at as principaiscapitais do pas.

    Na fronteira da paranaense Foz do Iguau com a paraguaia Ciudad Del Este, por exemplo, esses traficantes sobrasileiros que costumam caminhar normalmente pelas ruas, vestem roupas amarfanhadas, usam culos de grau efalam o tempo todo sobre os mseros 800 reais que ganhariam, em mdia, caso optassem por empregos regulares.Para garantir o salrio maior, entram no Paraguai em busca de armas, mantm fornecedores fixos e especializam-seno transporte dos produtos para o lado brasileiro. Armas e drogas atravessam o Rio Paran em canoas a remo e, na

    parte alta, em lanchas motorizadas, informa o promotor Rude Burkle, coordenador do Grupo de Atuao Especial deCombate ao Crime Organizado (Gaeco) de Foz do Iguau. Em solo brasileiro, outros contrabandistas cuidam daentrega das encomendas que, na maior parte das vezes, tm como destino So Paulo.

    Tudo chega por terra. Ricardo Schneider, inspetor da Polcia Rodoviria Federal (PRF) em Foz do Iguau, conta que,antes de alcanar a capital, os contrabandistas desmontam as armas e enfiam as peas em bexigas de borracha(daquelas que enfeitam festas de criana) depois de besunt-las com p de caf e graxa truques utilizados paradespistar os focinhos dos pastores alemes da PRF e os policiais de faro apurado. Tambm camuflam as armas emcaminhes de abacaxi (por causa do cheiro forte), em carregamentos de carvo (que so enormes e dificultam arevista) e em cargas de peixe: se as portas do freezer ambulante forem abertas, os peixes correm o risco deapodrecer. Caso no encontrem vestgios de armas ou drogas, os policiais podem ter de pagar indenizaes aopeixeiro ou multa se contaminarem o carregamento.

    Em automveis, os esconderijos variam bastante, adverte Schneider. No Uno Mille, por exemplo, comumesconder armas num fundo falso no porta-malas. Em carros de outras marcas, enfiam as peas no tanque degasolina para disfarar o cheiro. Frequentemente serram a lataria, ocultam os armamentos, soldam o ferro e refazem

    a pintura como fizeram h alguns meses dois paraguaios em um Mercedes Classe A na BR-277, presos perto deCascavel, no Paran. A dupla dizia que estava no Brasil para jogar golfe. Foram flagrados com um rifle Barret ponto50, prprio para atravessar blindagens.

    Olheiros a servio de traficantes passam o dia monitorando postos policiais instalados nas estradas que ligam SoPaulo ao Paraguai. Como os policiais rodovirios andam todos fardados, fcil identificar quantos tm no posto equantos esto na rua, adverte Schneider. Os criminosos localizam as viaturas e informam os comparsas por celular.Tambm telefonam para os postos para comunicar falsos acidentes. preciso acabar com a porosidade na

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    fronteira, diz Schneider. A porosidade ainda maior em Mato Grosso do Sul. S dois homens da polcia militarcirculam no lado brasileiro da fronteira de Coronel Sapucaia com Capitn Bado, conta Ricardo Rotunno, promotor deJustia de Amambai e ex-coordenador do Gaeco em Mato Grosso do Sul. L no h delegados, agentes da PolciaFederal nem da Receita Federal.

    Algumas vezes, traficantes e contrabandistas denunciam suas prprias cargas em trnsito nas estradas brasileiras,conta Ricardo Chilelli. So carregamentos com drogas misturadas com produtos qumicos e armas de poucarelevncia para os bandidos. Eles desviam a ateno da polcia, diz o especialista. Enquanto apreendem umatonelada de maconha, por exemplo, um carregamento de 200 toneladas passa despercebido. Aparentementeexagerados, os nmeros so endossados pelo volume de armamentos apreendidos nos ltimos anos pela PRF. Entre2003 e 2010, 11.035 armas e 768.929 munies foram capturadas. Durante os primeiros 12 dias de ocupao da VilaCruzeiro e do Complexo do Alemo, em novembro de 2010, no Rio de Janeiro, 518 armas foram apreendidas entreelas 140 fuzis. O relatrio de concluso da CPI que investigou o trfico de material blico no Brasil informa que h 17milhes de armas de fogo em circulao no pas - 4 milhes em poder de criminosos.

    As rotas do contrabando de armas so idnticas s do trfico de drogas. As propinas pagas por criminosos a policiaisfazem com que os caminhos e os personagens sejam os mesmos, diz Chilelli. A corrupo endmica permite que umfuzil AK-47 seja alugado em So Paulo por dirias que variam de 500 a 800 reais. Na capital paulista, cinco quadrilhasfornecem o servio de aluguel das chamadas armas longas. Um Fuzil Automtico Leve (FAL) calibre 7.62 pode sercomprado por cerca de 45.000 reais trs vezes o preo negociado na fronteira com o Paraguai e com outros pasesda Amrica do Sul (como mostra o Infogrfico).

    No Rio de Janeiro, o deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL, presidir a CPI que, aberta em 14 de maro, vaitentar descobrir como armas e munies chegam s mos dos traficantes cariocas. Segundo Freixo, as investigaesno devem se restringir aos problemas na fronteira com pases vizinhos. H indcios de corrupo nas polcias e faltasincronia entre o Exrcito e as foras locais, observa o deputado. Daqui a cinco meses a CPI deve ser concluda. Euma srie de propostas ser feita s autoridades. Em 2006, a CPI do Trfico de Armas resultou num conjunto derecomendaes ao Poder Executivo e de projetos de lei, diz o deputado e ex-relator Paulo Pimenta. Todos osprojetos esto em tramitao. Concretamente, o pacote de propostas foi responsvel pela criao de uma delegaciaespecializada em trfico de armas e munies na Polcia Federal e pelo Projeto Especializado em Policiamento deFronteira, o chamado Pefron um tipo de policiamento especfico que at agora existe em 11 cidades. pouco selevarmos em considerao a dimenso do contrabando de armas que, nas mos de criminosos, matam, causamsequelas irreversveis e agridem a populao com prejuzos incontveis.

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