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WOLFGANG AMADEUS MOZART 1756 1791 “Subitamente, o Brasil ganhou um novo mito. E surpreendentemente não é um fulminante jogador de futebol ou um sambista, mas um músico europeu erudito. Mozart. O tema surgiu quando as trinta có- pias do filme Amadeus passaram a conquistar res- peitáveis filas nos cinemas brasileiros. Foi o início da Mozartmania”. Além de grandes bilheterias, o austríaco Wolf- gang Amadeus Mozart (1756-1791) passou a ser responsável por uma surpreendente corrida às seções de música erudita nas lojas de discos. Segundo Re- nato Pons, encarregado de vendas na loja Breno Rossi, no centro de São Paulo, “há mesmo uma fe- bre de Mozart”. Se antes do lançamento do filme eram vendidos no máximo cindo discos do composi- tor, por dia, hoje, a demanda anda em torno dos dez ou quinze, com acirrada preferência pela trilha sonora de Amadeus. Para o maestro Julio Medaglia, regente-titular da Sinfônica Municipal, Amadeus traz algumas inverdades, como a mediocridade de Salieri, que ele diz ser um bom compositor. Mas considera a “febre” mozartiana muito positiva. (Folha de São Paulo, 11/7/85). De fato, o próprio autor da peça Amadeus, o dramaturgo Peter Shaffer, que a adaptou para o cinema chama-a “uma fantasia baseada em fato. Não é uma biografia cinematográfica de Mozart e nunca pretendeu ser”. Mozart foi um famoso menino-prodígio, pois aos 4 anos de idade já tocava de cor al- gumas composições ao cravo, e aos 5 anos compôs um minueto. Em 1762, com apenas 6 anos, começou a excursionar pela Europa em companhia da irmã Marianne e do pai. O êxito que alcançaram em Viena foi apoteótico. Ninguém sem can- sava de admirar aquele prodígio de 6 anos que tocava cravo com a mestria de um artista con- sumado. Os nobres disputavam-no e até o Imperador chegou a colocar-se à sua esquerda para passar as páginas durante a execução de obras que Mozart tocava à primeira vista ou com pouquíssima preparação. O poeta Konrad F. Von Pufendorf dedicou-lhe um poema no dia de Natal. Era dedicado “Ao pequeno cravista de 6 anos de Salzburgo” e parafraseava o seguinte dístico de Ovídio: “Surge um gênio celeste, mais veloz do que os seus anos, e suporta com dificuldade o dano da ingrata demora”. Uma das qualidades de Mozart-criança, que mais chamava a atenção dos que o ouviam, era a sua capacidade de improvisação, de desenvolver qualquer tema que lhe apresentassem, transformando-o conforme o inspirava a sua inesgotável fantasia. Um número, que costuma- va fazer sempre e deixava estupefatos os que o ouviam, e viam: o pequeno Mozart cobria o teclado com um pano que o impedia de ver as teclas e tocava assim com a mesma facilidade e perfeição como sem as estivesse a ver (Enciclopédia Salvat dos Grandes Compositores). A sua criatividade não cessou na infância e sim multiplicou com o passar dos anos, produzindo todas as formas de música ao mesmo tempo, tornando-se um dos artistas mais

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WOLFGANG AMADEUS MOZART 1756 – 1791

“Subitamente, o Brasil ganhou um novo mito.

E surpreendentemente não é um fulminante jogador de futebol ou um sambista, mas um músico europeu erudito. Mozart. O tema surgiu quando as trinta có-pias do filme Amadeus passaram a conquistar res-peitáveis filas nos cinemas brasileiros. Foi o início da Mozartmania”.

Além de grandes bilheterias, o austríaco Wolf-gang Amadeus Mozart (1756-1791) passou a ser responsável por uma surpreendente corrida às seções de música erudita nas lojas de discos. Segundo Re-nato Pons, encarregado de vendas na loja Breno Rossi, no centro de São Paulo, “há mesmo uma fe-bre de Mozart”. Se antes do lançamento do filme eram vendidos no máximo cindo discos do composi-tor, por dia, hoje, a demanda anda em torno dos dez ou quinze, com acirrada preferência pela trilha sonora de Amadeus.

Para o maestro Julio Medaglia, regente-titular da Sinfônica Municipal, Amadeus traz algumas inverdades, como a mediocridade de Salieri, que ele diz ser um bom compositor. Mas considera a “febre” mozartiana muito positiva. (Folha de São Paulo, 11/7/85). De fato, o próprio autor da peça Amadeus, o dramaturgo Peter Shaffer, que a adaptou para o cinema chama-a “uma fantasia baseada em fato. Não é uma biografia cinematográfica de Mozart e nunca pretendeu ser”.

Mozart foi um famoso menino-prodígio, pois aos 4 anos de idade já tocava de cor al-gumas composições ao cravo, e aos 5 anos compôs um minueto.

Em 1762, com apenas 6 anos, começou a excursionar pela Europa em companhia da irmã Marianne e do pai. O êxito que alcançaram em Viena foi apoteótico. Ninguém sem can-sava de admirar aquele prodígio de 6 anos que tocava cravo com a mestria de um artista con-sumado. Os nobres disputavam-no e até o Imperador chegou a colocar-se à sua esquerda para passar as páginas durante a execução de obras que Mozart tocava à primeira vista ou com pouquíssima preparação. O poeta Konrad F. Von Pufendorf dedicou-lhe um poema no dia de Natal. Era dedicado “Ao pequeno cravista de 6 anos de Salzburgo” e parafraseava o seguinte dístico de Ovídio: “Surge um gênio celeste, mais veloz do que os seus anos, e suporta com dificuldade o dano da ingrata demora”.

Uma das qualidades de Mozart-criança, que mais chamava a atenção dos que o ouviam, era a sua capacidade de improvisação, de desenvolver qualquer tema que lhe apresentassem, transformando-o conforme o inspirava a sua inesgotável fantasia. Um número, que costuma-va fazer sempre e deixava estupefatos os que o ouviam, e viam: o pequeno Mozart cobria o teclado com um pano que o impedia de ver as teclas e tocava assim com a mesma facilidade e perfeição como sem as estivesse a ver (Enciclopédia Salvat dos Grandes Compositores).

A sua criatividade não cessou na infância e sim multiplicou com o passar dos anos, produzindo todas as formas de música ao mesmo tempo, tornando-se um dos artistas mais

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notáveis que o mundo já conheceu. Das 626 composições de Mozart, fazem parte: 49 sinfo-nias, 23 óperas, 20 missas, 45 sonatas para piano e violino, 27 concertos para piano, 29 quar-tetos de cordas, 17 sonatas para piano, 66 árias e outras produções musicais.

* A explicação dos gênios precoces é um problema, da esfera bio-psíquica que ainda de-

safia a Ciência. Mas, à luz da Doutrina Espírita, entendemos perfeitamente que os fenômenos de inteli-

gência precoce são provas evidentes da pré-existência da alma e da possibilidade de sua evo-lução através de vidas sucessivas ou reencarnações.

“Não se pode negar que há muitos casos de gênios cujos parentes mais próximos reve-laram algum dote intelectual, fato que fala a favor da teoria da transmissão hereditária. Por exemplo, nas famílias de Bach, de Mozart, de Liszt, o talento musical se revelou em várias gerações e num grande número de indivíduos”.

“Mas, nesses casos, o que ocorre é a aproximação de almas afins, que são atraídas umas para as outras por pendores semelhantes e que antigas relações uniram. Na programação da reencarnação o Espírito escolhe, de acordo com a sua necessidade e o seu merecimento, uma família que ofereça condições propícias, tanto do ponto de vista material (equipamento here-ditário dos futuros pais), como do espiritual (lei da afinidade), para o desempenho de sua missão (As crianças geniais à luz do Espiritismo, Hércio Arantes, Anuário Espírita, 1970)”.

Sabemos que os Espíritos influenciam em nossos pensamentos mais do que imagina-mos, pois o intercâmbio entre os Dois Mundos – material e espiritual – é muito intenso.

Assim, mesmo as criaturas mais inteligentes, com grande capacidade própria, não fo-gem a essa lei natural de sintonia metal. Daí, a afirmativa correta: todos são médiuns.

A propósito, quando Kardec perguntou aos Espíritos: “– Os homens de inteligência e de gênio haurem sempre suas idéias de sua própria natu-

reza íntima?”, obteve a clara resposta: “– Algumas vezes as idéias vêm de sue próprio Espírito, mas, freqüentemente, elas lhe

são sugeridas por outros Espíritos que os julgam capazes de as compreender e dignos de as transmitir. Quando eles não as encontram em si apelam à inspiração; é uma evocação que fazem sem suspeitarem”. (O Livro dos Espíritos, Questão 462).

Sobre a sensibilidade mediúnica de Mozart, Sylvio Brito Soares, em seu livro Grandes Vultos da Humanidade e o Espiritismo, fez um estudo aprofundado, do qual transcreveremos apenas alguns tópicos:

“Marcel Brion afirma que havia no garoto Mozart duas personalidades, uma igual a dos demais meninos, quando brincava e fazia suas travessuras, e outra quando visitado pelo de-mônio sagrado da música, pois nessas ocasiões era presa de estranho êxtase, e em seu ser vi-brava música, unicamente música”.

“Pert Peternell, em sua obra intitulada Mozart, faz esta sensata pergunta: - Quem de fato falava, uma criança ou um grande Espírito por seu intermédio?” “Na obra Vida de Mozart, escrita por Holmes, há a transcrição de uma de suas cartas,

que nos dá a conhecer os mistérios da sua inspiração musical”: “Dizeis que desejarias saber qual o meu modo de compor e que método sigo. Não te

posso verdadeiramente dizer a esse respeito senão o que se segue, porque eu mesmo nada sei e não posso explicar”.

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“Quando estou em boas disposições e inteiramente só, durante o meu passeio, os pen-samentos musicais me vêm com abundância. Ignoro donde procedem esses pensamentos e como me chegam; nisso não tem a minha vontade a menor intervenção”.

Outro aspecto interessante da personalidade de Mozart, sempre analisada pelos estudio-sos, foi a sua evidente ingenuidade, ou mesmo puerilidade. Alguém chegou considerá-lo co-mo portador de “sublime inocência”.

Numa das cartas de Leopold Mozart ao seu filho, assim ele o advertiu: “É verdade que, quando se tem bom coração, se está acostumado a exprimir-se livremente e com naturalida-de; mas isto é um erro. E é precisamente o teu bom coração que te impede de enxergar os defeitos daqueles que, tendo uma grande opinião a teu respeito, cobrem-te de elogios e de adulações, de modo que tu lhes dê o teu afeto e a tua confiança”. Após a transcrição dessa carta, o Dr. Bernhard Paumgartner, em sua monografia, assim concluiu: “De fato, frente aos egoísmos do mundo, Mozart se viu constantemente desarmado”. (“O Gênio e a criança: em torno de Amadeus”. O Estado de São Paulo, 8/9/85).

Se muitos não se conformam com essa “inocência” aliada à genialidade, ao contrário, sob a ótica espírita, esse traço de personalidade o engrandece, pois reflete uma alma mais elevada, bastando lembrarmo-nos da advertência de Jesus: “Deixai vir a mim as criancinhas, e não as impeçais; porque o reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham”.

De fato, pelas virtudes já conquistadas e pela sua inteligência, Mozart já habita um pla-neta mais evoluído do que a Terra, conforme suas comunicações mediúnicas recebidas na França, em fins do século passado.

Tais comunicações, em forma de entrevistas, foram publicadas na Revue Spirite, de Pa-ris, fundada e dirigida por Allan Kardec, nas edições de maio de 1858 e maio de 1859.

Curiosamente, a exuberante genialidade de Mozart tem despertado, na mente de muitos pesquisadores de sua vida e obra, a idéia de que ele não pertencia ao nosso mundo... Veja-mos, por exemplo, dois comentários: um do escritor Marcel Brion, citado no livro Grandes Vultos da Humanidade e o Espiritismo; e outro, de Grover Sales, ao redigir uma crônica es-pecial para o encarte dos dois discos: Amadeus – Trilha Sonora Original (Fantasy, 1984) que se seguem, pela ordem:

“A graça angelical de sua música leva-nos a dizer que por vezes ele não era da Terra”. “É pródiga a história em crianças prodígios, em todos os campos, embora poucas – co-

mo Yehudi Menuhin – pareçam florescer em gênio adulto, e nenhuma supera Mozart, cujos dons desde os três anos de idade até sua morte, poucos meses antes de seu 36º. aniversário, estejam além da compreensão, como se ele tivesse sido um mutante ou um visitante muito rápido de um outro planeta”.

* Encerrando nosso breve estudo, suscitado pelo excelente filme Amadeus, reproduzire-

mos da Revista Espírita alguns diálogos das referidas entrevistas, realizadas com o Espírito de Mozart:

- Qual o mundo que habitais? Aí és feliz? - Júpiter. Ali desfruto uma grande calma; amo a todos que me rodeiam. Não sentimos o

ódio. Respondendo à pergunta de um músico: Que é melodia? Ele assim se expressou: - Para ti é muitas vezes uma lembrança da vida passada; teu Espírito recorda aquilo que

entreviu num mundo melhor. No planeta Júpiter, onde habito, há melodia em toda parte: no murmúrio das águas, no ciciar das folhas, no canto do vento; as flores rumorejam e cantam;

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tudo produz sons melodiosos. Sê bom; alcança esse planeta por tuas virtudes. Bem escolhes-te, cantando Deus: a música religiosa auxilia a elevação da alma. Como eu gostaria de vos poder inspirar o desejo de ver esse mundo onde somos tão felizes! Aí somos todos caridosos; tudo é belo! A natureza tão admirável! Tudo nos inspira o desejo de estar com Deus.

Antecedendo a entrevista publicada em maio e 1859, sob o título “Música de Além-Túmulo”, Kardec prestou o seguinte esclarecimento:

“O Espírito de Mozart acaba de ditar ao nosso excelente médium, Sr. Bryon-Dorgeval, um fragmento de sonata. Como meio de controle, o médium o fez ouvir por diversos artistas, sem lhes indicar a origem, mas lhes perguntando apenas a cor que achavam no trecho. Cada um nele reconheceu, sem hesitação, o cunho de Mozart. O trecho foi executado na sessão da Sociedade de 8 de abril último, em presença de numerosos conhecedores, pela senhorita de Davans, aluna de Chopin e distinta pianista, que teve a gentileza d nos emprestar o seu con-curso. Como elemento de comparação, a senhorita de Davans executou uma sonata de Mo-zart, composta quando vivo. Todos foram unânimes em reconhecer não só a perfeita identi-dade do gênero, mas a superioridade da composição espírita”.

Das 11 questões apresentadas a Mozart, transcreveremos as seguintes: - Reconheceis como tendo sido ditado por vós o trecho que acabamos de ouvir? - Sim. Muito bem. Eu o reconheço perfeitamente. O médium que me serviu de intérpre-

te é um amigo que me não traiu. - Qual dos dois trechos preferis? - Sem comparação, o segundo. - Por quê? - A doçura e o encanto nele são mais vivos e, ao mesmo tempo, mais delicados. Nota: São, realmente, estas as qualidades reconhecidas no trecho. - A Música do mundo que habitais pode comparar-se à nossa? - Tereis dificuldades de compreender. Temos sentidos que ainda não possuis. Ao final da entrevista, Kardec colocou essa interessante observação: “O fragmento da sonata ditada pelo Espírito de Mozart acaba de ser publicado. Pode ser

adquirido no Escritório da Revue Spirite, na livraria espírita do Sr. Ledoyen, Palais Royal, Galérie d´Orléans, 31. Preço: 2 francos. Será remetida franqueada contra vale postal daquela importância”.