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    ARTIGOS

    Arquivos Brasileiros de Psicologia; Rio de Janeiro, 66 (2): 17-35 17

    Pers cogitivos de criaas e adolescetes com

    dislexia a WISC-IIIi

    Camila Cruz-RodriguesI

    Tatiaa Potrelli MeccaII

    Darlee Godoy de OliveiraIII

    Kare UekiIV

    Orlado Fracisco Amadeu BueoV

    Elizeu Coutiho de MacedoVI

    Pers cognitivos de crianas e adolescentes com dislexia na WISC-III

    RESUMO

    A avaliao cognitiva na Dislexia do Desenvolvimento faz parte do processo diag-nstico e auxilia no planejamento de intervenes ecazes, permitindo identicar operl de diculdades e facilidades em funo do desempenho em tarefas especcas.O estudo investigou o perl na WISC-III de 123 participantes com Dislexia do Desen-volvimento. A idade variou de 8 a 14 anos, sendo 83 (67,5%) meninos e 40 (32,5%)meninas, de escolas privadas (52,8%) e pblicas (47,2%). A anlise de conglomera-dos revelou trs pers diferentes, em funo do desempenho na WISC-III. A anlisede varincia (ANOVA) revelou diferenas entre os subgrupos nas medidas gerais eentre os escores dos subtestes na maioria dos grupos. No houve diferena de sriee idade entre os grupos. O grupo com maior diculdade nos subtestes da WISC-IIItinha maior concentrao de participantes de escola pblica. Os resultados indicam

    heterogeneidade no perl cognitivo de crianas e adolescentes dislxicos.

    Palavras-chave: Dislexia; Transtorno de Leitura; Cognio; Inteligncia; WISC.

    Cognitive proles of children and adolescents with dyslexia on WISC-III

    ABSTRACT

    Cognitive assessment in Development Dyslexia is of paramount important because itis a part of the diagnostic criteria and it can assist in the planning of eective inter-ventions allowing to identify a prole of diculties and facilities on the specic tasks.

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    This aim of this study was to investigate the prole on the WISC-III. For such, 123participants with developmental dyslexia were assessment. The age ranges from 8to 14 years old, with 83 (67,5%) boys and 40 (52,5%) girls, belonging to private(52,8%) and public (47,%) schools. Clusters analysis showed 3 proles according toWISC-III measures. ANOVA showed dierences between all groups in the IQ mea-sures and in majority of the subtests. No dierences were found between groups in

    age and grade. Furthermore, there was a higher number of subjects in public schoolsin the group with lower performance in the WISC-III subtests.

    Keywords: Dyslexia; Reading Disorder; Cognition; Intelligence; WISC.

    Perles cognitivos de los nios y adolescentes con dislexia en la WISC-III

    RESUMEn

    La evaluacin cognitiva en la dislexia evolutiva forma parte del proceso de diagns-tico y puede ayudar en la planicacin de las intervenciones ms efectivas permitin-dole identicar el perl de dicultades y facilidades sobre la base del rendimiento entareas especcas. El estudio investig el perl de 123 participantes con dislexia deldesarrollo en la WISC-III. La edad oscil entre 8 y 14 aos, con 83 chicos (67,5%) y40 nias (32,5%), en escuelas privadas (52,8%) y pblicas (47,2%). El anlisis deconglomerados revel tres perles diferentes dependiendo de la performance en laWISC-III. El anlisis de varianza (ANOVA) revel diferencias entre los subgrupos enmedidas generales, as como entre los puntajes de las subpruebas en la mayora delos grupos. No hubo diferencias en el grado y la edad entre los grupos. El grupo con

    la mayor dicultad en las subpruebas de WISC-III tuvo la mayor concentracin de losparticipantes de la escuela pblica. Los resultados indican heterogeneidad en el perlcognitivo de los nios y los adolescentes dislxicos.

    Palabras clave: Dislexia; Trastorno de la lectura; Cognicin; Inteligencia, WISC.

    Itroduo

    Os diversos problemas que podem ocorrer durante a aquisio da aprendizagem

    acadmica formam uma categoria ampla e complexa, decorrente de diversas cau-

    sas e fatores ambientais, afetivos e biolgicos, que podem estar presentes simulta-

    neamente (S. E. Shaywitz & B. A. Shaywitz, 2008). No entanto, os transtornos de

    aprendizagem, que abarcam as habilidades de leitura, escrita e matemtica, carac-

    terizam-se pelo carter desenvolvimental e pela origem neurobiolgica. Dentre os

    transtornos de aprendizagem, o Transtorno de Leitura, denominado tambm de Dis-

    lexia do Desenvolvimento, o mais estudado e caracteriza-se por diculdades per-

    sistentes na leitura nos nveis da decodicao e uncia em indivduos que possuem

    habilidades intelectuais preservadas, motivao e condies de escolarizao ade-

    quadas (APA, 2003; Fletcher, 2009; Lyon & S. E. Shaywitz, 2003).

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    Apesar de tratar-se de um transtorno especco, um quadro que pode abarcardcits cognitivos diversos, associados presena de alteraes de linguagem oral,

    motricidade, percepo auditiva e visual (Barbosa, Miranda, Santos, & Bueno, 2009;Bishop & Adams, 1990). Nesse sentido, algumas linhas de pesquisa tm apontado

    evidncias para hipteses causais da dislexia. Dentre elas, destacam-se a hiptese

    fonolgica (Boder, 1973), a hiptese cerebelar (Baillieux et al., 2009), a hiptese dodcit atencional visual (Valdois, Bosse, & Tainturier, 2004) e a hiptese magnoce-lular (J. Stein, 2001), alm do modelo de mltiplos dcits da dislexia, o qual pro-

    pe um desempenho contnuo multivariado, caracterizado por habilidades cognitivasrelacionadas leitura (Menghini et al., 2010; Pennington, 2006).

    Distinguir os quadros de Dislexia do Desenvolvimento das demais diculdades de

    aprendizagem fundamental durante o processo de avaliao diagnstica e para a

    conduo de tratamentos adequados, uma vez que os fatores etiolgicos desses qua-dros so distintos. Enquanto as diculdades de aprendizagem acadmica apresentam

    como causa fatores ambientais e/ou afetivos, a dislexia apresenta diculdades espe-ccas de leitura, apesar do nvel de inteligncia adequado e ausncia de problemas

    emocionais, ambientais e sensoriais capazes de explicar essas diculdades. A Asso-ciao Americana de Psiquiatria, que publicou recentemente a 5 edio do Manual

    Diagnstico e Estatstico dos Transtornos Mentais DSM-V (APA, 2013), prope osseguintes critrios para diagnstico dos Transtornos Especcos da Aprendizagem: a)

    persistncia das diculdades de aprendizagem, apesar da proviso de intervenes-alvo nas habilidades em dcit; b) mensurao das habilidades acadmicas subs-

    tancialmente abaixo do esperado para a idade cronolgica e prejuzos decorrentes do

    dcit acadmico; c) incio dos sintomas nos primeiros anos escolares, que podem

    se tornar manifestos conforme o aumento das demandas de aprendizagem excedeas capacidades limitadas; d) excluso de outras desordens, como decincia intelec-tual, atraso de desenvolvimento global e neurolgico, viso e audio no corrigidas,

    adversidades psicossociais e falta de oportunidade educacional.

    Consequentemente, os procedimentos diagnsticos do Transtorno de Leitura (Disle-xia do Desenvolvimento) podem ocorrer por excluso dos critrios classicatrios.

    Enfoques estatsticos so utilizados para estabelecer quando uma discrepncia sig-nicativa, sendo o principal deles a discrepncia de mais de dois desvios-padro

    entre o rendimento acadmico e o Quociente Intelectual (QI) (APA, 2003). Dessemodo, o Quociente Intelectual, alm de ser um elemento fundamental no processo

    diagnstico, a m de excluir a presena de decincia intelectual relacionada a pre-

    juzos de leitura e escrita, pode auxiliar tambm na identicao de um perl de pos-sveis foras e fraquezas cognitivas que direcionam o planejamento de intervenes

    (Clercq-Quaegebeur et al., 2010).

    No que se refere avaliao do nvel de inteligncia, estudos indicam haver discre-pncia entre o nvel de inteligncia verbal (QIV) e o nvel de inteligncia executiva

    ou no verbal (QIE), obtidos a partir das Escalas Wechsler de Inteligncia (Arduini,Capellini, & Ciasca, 2006). De acordo com Simes (2002), as Escalas Wechsler de

    Inteligncia so as principais referncias e as medidas mais utilizadas para avaliaocognitiva de crianas e adolescentes. Trata-se de baterias de avaliao da intelign-

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    cia cristalizada, que a capacidade de recordar e de utilizar informaes adquiridasdurante a vida a partir do processo de educao formal (Horn, 1965). A partir da

    aplicao dessas escalas possvel realizar comparaes intragrupo ou entre grupos,alm de identicar o nvel global de aptido cognitiva. Podem-se observar dcits

    especcos, caso haja um desempenho inferior em uma tarefa, quando comparado

    ao desempenho geral, bem como se existem evidncias de um atraso global. Osndices especcos obtidos na WISC-III se mostram mais relevantes clinicamente, namedida em que podem fornecer pers especcos de determinados grupos. Simes

    (2002) aponta que discrepncias entre o QIV e o QIE so comumente utilizadas comomarcador de especializao hemisfrica, dcits de processamento e diculdades de

    aprendizagem. A partir dos estudos de Kaufman (1994), a ideia da discrepncia entre

    QIVQIE ou vice-versa.

    Na literatura so referidos diversos estudos que indicam discrepncias e pers espec-

    cos em crianas com Dislexia do Desenvolvimento. Os achados referentes ao estudorealizado por Mott e Silva (1987) mostraram que, de modo geral, a discrepncia

    entre QIV e QIE est relacionada com desempenho acadmico. Dessa forma, quando

    o QIV inferior ao QIE, h maior incidncia de prejuzo no desempenho acadmico.

    Essa relao diminui quando o QIE inferior ao QIV. Vale ressaltar que tais discre-pncias no foram conclusivas para a nalidade de classicao diagnstica. Entre-tanto, tal observao pode ser relevante durante a conduo de avaliao cognitiva,

    uma vez que a presena de dcits de linguagem pode estar associada a um qua-dro de Dislexia do Desenvolvimento. Portanto, a denio clssica de discrepncia

    considera apenas uma das possveis correlaes: crianas com nveis baixos de QI,consequentemente, apresentaro baixos nveis de leitura, e tais diculdades sero

    explicadas pelo baixo nvel de QI, e no por serem um Transtorno de Aprendizagem.

    Esse critrio tende a favorecer a identicao da dislexia em crianas com altos nveisde QI e diculdades de leitura de menor gravidade. Nesse sentido, pode acabar por

    excluir os casos mais graves de dislexia que porventura apresentem QI mais baixo.

    De acordo com Peterson e McGrath (2009), apesar de a discrepncia entre o nvel de

    leitura e o de QI estar includa na denio tradicional da dislexia, tal comparao podeno se aplicar em muitas crianas dislxicas, uma vez que tanto medidas de QI verbal

    quanto de QI no verbal so moderadamente correlacionadas s medidas de leiturae de linguagem. Apesar de a causa dessa correlao no ter sido ainda esclarecida, o

    nvel intelectual pode inuenciar o desenvolvimento da linguagem e da leitura, bemcomo o nvel de leitura e linguagem pode inuenciar o desempenho em testes de inteli-

    gncia. Essa premissa observada principalmente em subtestes que avaliam memriaoperacional verbal e inteligncia cristalizada, pois requerem habilidades relacionadas

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    manipulao de estmulos auditivos verbais e aquisio de conhecimento, esta ltimasendo fortemente inuenciada pela leitura (Griths & Snowling, 2002).

    Kaufman (1981) identicou um perl especco no desempenho de alguns subtestes

    da WISC-III de indivduos com dislexia. Foram observados maiores prejuzos nos sub-

    testes Cdigo, Aritmtica, Informao e Dgitos, evidenciando um perl denominadoACID (Kaufman, 1981). Desses subtestes, apenas o Cdigo no pertence Escala

    Verbal. Posteriormente, Kaufman (1994) props um segundo perl que pode estar

    presente nos transtornos da aprendizagem, no qual os resultados apontam para pre-

    juzos no subteste Procurar Smbolos, ao invs do subteste Informao, denominandoeste segundo grupo de SCAD (Procurar Smbolos, Cdigo, Aritmtica e Dgitos).

    Thomson (2003) avaliou 252 crianas e adolescentes com a WISC-III, e os resulta-

    dos de seu estudo mostraram que 40% dos participantes com dislexia apresentaram

    o perl ACID, enquanto 50% apresentaram o perl SCAD, sendo que 68% apre-

    sentaram escores baixos em Dgitos e Cdigos e 62% apresentaram rebaixamentonesses dois ltimos, juntamente com o subteste Procurar Smbolos. Ao se vericar o

    desempenho por ndices fatoriais, observou-se que 80% dos dislxicos apresentaram

    desempenho inferior em Velocidade de Processameto, que calculado a partirdos subtestes Cdigos e Procurar Smbolos, bem como em Resistcia Distra-

    o, que obtido a partir dos subtestes Aritmtica e Dgitos. Esses resultados se

    relacionam com o perl SCAD.

    O estudo de Clercq-Quaegebeur et al. (2010) objetivou investigar o perl neuropsi-colgico de 60 crianas francesas diagnosticadas com dislexia a partir da WISC-IV.

    Os resultados mostraram que nos ndices fatoriais Compreeso Verbal(compostopelos subtestes Semelhanas, Vocabulrio e Compreenso) e Raciocio Percep-tual(composto por Cubos, Conceitos Figurativos e Raciocnio Matricial), os desempe-nhos apresentaram-se na mdia, enquanto no ndice Memria Operacioal(com-

    posto por Dgitos e Sequncias de Nmeros e Letras) foi observado um desempenho

    geral limtrofe, e, por m, no ndice Velocidade de Processameto(composto porCdigos e Procurar Smbolos), o desempenho geral foi abaixo da mdia. Figueiredo

    (2002) tambm ressalta que os resultados de estudos com pers devem ser inter-

    pretados com parcimnia, pois o perl ACID, por exemplo, tambm observado emcasos de Transtorno de Dcit de Ateno e Hiperatividade.

    A literatura referente ao desempenho de crianas e adolescentes no observa umpadro de respostas especco na WISC-III (DAngiulli & Siegel, 2003), embora indi-

    que que esse grupo clnico apresenta pior desempenho nos subtestes Dgitos e Arit-

    mtica. Tais subtestes demandam processos cognitivos como a memria operacional,envolvendo principalmente o componente da ala fonolgica e o executivo central

    (Baddeley, 2000), sendo tais dcits relacionados manifestao de um problema

    no nvel de representao fonolgica (Snowling, 2001). Alm disso, Maehler & Schu-chardt (2009) mostram que crianas com dislexia que tm baixo QI apresentam as

    mesmas alteraes de memria operacional observadas naquelas que tm QI mdio

    ou superior mdia, retomando a importncia de se discutir o nvel de inteligncia

    com o uso da WISC nos Transtornos de Aprendizagem. O estudo de DAngiulli & Sie-

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    gel (2003) aponta prejuzo em todos os subtestes verbais e nos subtestes Cubos,Completar Figuras e Cdigo em crianas com dislexia. Assim, os objetivos desteestudo foram: vericar o perl cognitivo de indivduos dislxicos a partir das poten-cialidades e diculdades nos diferentes subtestes da WISC-III; investigar a existnciade possveis pers diferentes dentro de uma mesma categoria diagnstica a partir

    da anlise de conglomerados; e comparar os desempenhos dos grupos em funo daheterogeneidade dos mesmos.

    Mtodo

    Participantes

    Participaram da pesquisa 123 crianas e adolescentes com diagnstico de Dislexia doDesenvolvimento, sendo 83 (67,5%) meninos e 40 (32,5%) meninas. Desse grupo,65 (52,8%) so alunos de escolas particulares, enquanto 58 (47,2%) so de esco-las pblicas. A faixa etria variou entre 8 e 14 anos (M=10,65; DP=1,63), sendo 70(57%) do Ensino Fundamental I e 53 (43%) do Ensino Fundamental II. Os critrios

    de incluso no estudo foram: idade mnima de 8 anos, nvel de inteligncia mdioou superior mdia, atraso de pelo menos dois anos no desempenho em testes deleitura e prejuzo em tarefas de conscincia fonolgica.

    Foram excludas crianas com doenas neurolgicas ou psiquitricas, bem como com

    atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, quociente de inteligncia total (QIT) menor

    que 80, transtorno de dcit de ateno e hiperatividade (TDAH) ou outros distrbios dodesenvolvimento. Foi realizada entrevista de anamnese com todos os responsveis, a mde excluir participantes com problemas de aprendizagem de origem psicossocial. Todosos participantes foram submetidos a uma bateria de testes neuropsicolgicos para ava-

    liao de inteligncia, ateno, memria, motricidade, funes executivas, linguagem,leitura e escrita. Por meio desses procedimentos, foram selecionados os participantes quepreencheram os critrios diagnsticos para o Transtorno de Leitura indicados pela Asso-ciao Americana de Psiquiatria no Manual Diagnstico e Estatstico dos Transtornos Men-tais (DSM-IV-TR) (APA, 2003). A participao de todos os participantes foi voluntria, e ospais ou responsveis assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A

    Tabela 1 apresenta a descrio da amostra em funo das variveis idade e srie escolar.Tabela 1: Nmero de participantes de acordo com srie escolar e faixa etria

    Srie Idade

    8 9 10 11 12 13 14 Total (%)

    2 6 7 2 1 16 (13,0)

    3 5 12 10 1 28 (22,8)

    4 15 11 9 1 26 (21,1)

    5 1 12 3 2 18 (14,7)

    6 4 4 8 16 (13,0)

    7 2 1 5 2 10 (8,1)

    8 3 5 1 9 (7,3)

    Total (%) 11 (8,9) 24 (19,5) 24 (19,5) 29 (23,6) 11 (8,9) 21 (17,1) 3 (2,5) 123

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    Instrumentos

    Para incluso dos participantes na amostra, foi realizada uma avaliao de habilida-

    des de conscincia fonolgica, leitura e escrita, a partir dos seguintes instrumentos:

    Bateria de Avaliao de Leitura e Escrita BALE (Macedo, F. C. Capovilla, Diana, &

    Covre, 2002; Seabra & F. C. Capovilla, 2010), Prova de Conscincia Fonolgica PCF(A. G. S. Capovilla & F. C. Capovilla, 1998), Teste de Desempenho Escolar TDE

    (Stein, 1994) e Conscincia Fonolgica: Instrumento de Avaliao Sequencial CON-

    FIAS (Moojen et al., 2003).

    O nvel intelectual e o perl cognitivo foram avaliados a partir da Escala Wechsler

    de Inteligncia para Crianas WISC-III. Foram aplicados os seguintes subtestes:

    Arranjo de Figuras, Cdigo Parte B, Cubos, Completar Figuras, Vocabulrio, Seme-

    lhanas, Aritmtica e Dgitos (Figueiredo, 2002).

    Procedimento

    O projeto foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa (CEP/UPM, processo n

    947/10/06, CAAE 0051.0.272.000-06, e CEP/UNIFESP, processo n 1510/05). Aps

    a assinatura do TCLE, foi realizada uma entrevista de anamnese com os pais ou

    cuidadores dos participantes. Aps essa etapa, os participantes foram submetidos

    a avaliao neuropsicolgica, realizada individualmente em uma sala adequada, em

    trs sesses de 1 hora e 30 minutos cada.

    Os resultados foram analisados inicialmente por meio de estatsticas descritivas, cal-

    culando-se as mdias e desvios-padro. A partir disso, foi feita a anlise de con-glomerados do tipo K-Means, com o objetivo de identicar possveis diferenas de

    pers entre os dislxicos. Em seguida foi realizada uma ANOVA para comparao

    do desempenho entre os grupos, com anlise de pares Least Signicant Dierence

    (LSD). Para todos os testes estatsticos, o nvel de signicncia adotado foi de 5%.

    Resultados

    Primeiramente foi realizada a avaliao de linguagem e leitura. No CONFIAS osparticipantes apresentaram desempenho equivalente ao nvel silbico-alfabtico

    (M=47,00; DP=5,66) e alfabtico (M=56,40; DP=8,96), observado em crianas da

    1 srie, conforme dados de normatizao do instrumento (M=51,00; DP =11,85).

    Na tarefa de leitura e compreenso de sentenas escritas (TCSE), os participantes

    apresentaram desempenho mdio baixo (M=35,23; DP=7,12), pois foi semelhante

    ao esperado para crianas pertencentes 1 srie (M=33,00; DP=7,46). No TDE a

    mdia dos participantes na prova de leitura foi de 38,51 pontos, que tambm corres-

    ponde ao desempenho mdio observado em crianas de 1 srie. Foram observadas

    correlaes positivas, signicativas, porm de baixa magnitude entre o QI Total e

    o desempenho em conscincia fonolgica (r=0,32; p=0,008) e em leitura (r=0,32;

    p=0,005). Dados semelhantes foram observados entre o QI de Execuo de cons-

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    cincia fonolgica (r=0,39; p

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    anlise de conglomerados revelaram a presena de trs grupos com pers diferentes.

    O primeiro grupo foi composto por 48 participantes, o segundo por 52 e o terceiro

    por 23 participantes.

    Anlise de varincia mostrou que os trs grupos no diferem em habilidades de

    conscincia fonolgica (F[2,64]=2,361; p=0,103) e leitura (F[2,64]=2,697; p=0,075). AFigura 2 apresenta as mdias de cada subgrupo em funo das trs medidas gerais

    obtidas na WISC-III, sendo elas o QI Verbal, o QI Execuo e o QI Total.

    Conforme mostra a Figura 2, o subgrupo 1 apresenta desempenho mdio inferior

    nas escalas de QI Verbal (M=87,35; DP=7,67) e QI Total (M=89,60; DP=6,59) e

    desempenho mdio no QI Execuo (M=94,10; DP=9,08). Logo, esse grupo tem

    maiores diculdades em tarefas que envolvem aspectos verbais em relao aos no

    verbais, sendo que a classicao mdio inferior do QI Total pode reetir o baixo

    desempenho na escala verbal. J o subgrupo 2 apresenta desempenho mdio no

    QI Verbal (M=105,46; DP=8,40), no QI Execuo (M=109,35; DP=10,36) e no QI

    Total (M=107,78; DP=7,00), indicando ausncia de discrepncias entre habilidades

    especcas. Por m, o subgrupo 3 apresenta desempenho superior tanto no QI Verbal

    (M=125,23; DP=11,07) como no QI Execuo (M=124,43; DP=10,83) e, consequen-

    temente, no QI Total (M=127,61; DP=8,84). Nesse sentido, os participantes desse

    subgrupo possuem capacidades cognitivas mais desenvolvidas.

    A m de se vericarem diferenas entre os subgrupos nas trs medidas de QI, foram

    conduzidas Anlises de Varincia. A ANOVA revelou que os subgrupos de dislxi-

    cos diferem signicativamente no funcionamento intelectual geral (F[2,120]=222,20;

    p

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    Alm das diferenas observadas nas escalas gerais, tambm foram analisadas dife-

    renas entre os trs subgrupos nos subtestes da WISC-III. A ANOVA de medidas

    repetidas foi realizada a m de vericar a magnitude dessas diferenas. Os valores

    de mdia, desvio-padro, bem como os valores das diferenas e signicncias, so

    apresentados na Tabela 2.

    Anlisespost hoc por pares LSD revelaram diferenas signicativas entre o subgrupo 1

    e os demais subgrupos nos escores dos subtestes especcos da WISC-III, sendo que os

    participantes do subgrupo 1 apresentaram escores inferiores em relao ao subgrupo2 (p

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    A m de ilustrar esses diferentes pers, a Figura 3 apresenta as mdias da pontuao

    ponderada de cada subgrupo ao longo dos subtestes.

    Anlise dos pers em funo do tipo de escola revelou que a quantidade de partici-

    pantes de escolas pblicas diminuiu do subgrupo 1 para o subgrupo 3 da seguinte

    forma: subgrupo 1 com 62,5% dos participantes, subgrupo 2 com 44,2% e, por m,

    subgrupo 3 com 21,7%. Embora tenha sido observada essa diferena na frequncia

    de alunos de escolas pblicas e particulares em cada subgrupo, resultados obtidos a

    partir do teste de Qui-Quadrado mostraram que no h uma associao signicativa

    entre o tipo de escola e o desempenho no QI Verbal (X2(46)=55,27; p=0,16), no QI

    Execuo (X2(41)=53,81; p=0,08) e no QI Total (X2(46)=60,53; p=0,07). Isso indica

    que as caractersticas do perl cognitivo desses indivduos com dislexia no esto

    associadas ao tipo de escola.

    Discusso

    O objetivo principal deste estudo foi vericar o perl cognitivo de indivduos dislxi-

    cos a partir das potencialidades e diculdades nos diferentes subtestes da WISC-III.

    As anlises estatsticas conduzidas possibilitaram vericar os escores nos subtestes

    e de QI, e, alm disso, foram identicados trs pers cognitivos nos dislxicos em

    funo do desempenho na WISC-III.

    As medidas de QI da amostra total encontram-se na faixa mdia em relao aos

    dados normativos da WISC-III, corroborando os critrios diagnsticos do Transtorno

    de Leitura no DSM-IV (2003). Participantes dislxicos apresentam capacidade inte-

    Figura 3. Mdia dos pontos ponderados por subgrupo.

    10

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    5

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    2

    1

    Semelhanas

    Aritmtica

    Vocabulrio

    Dgitos

    CompletarFiguras

    CdigoCubos

    ArranjodeFiguras

    Grupo 1

    Grupo 2

    Grupo 3

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    lectual preservada, com desempenho mdio ou superior ao da faixa etria e de esco-larizao nos escores de QI Verbal, QI Execuo e QI Total. As mdias dos escores

    de QI Verbal e QI Execuo da amostra indicam discrepncia signicativa entre eles,

    sendo que a pontuao foi maior em QI Execuo. Esses dados esto de acordo comaqueles obtidos em outros estudos, como os de Arduini et al. (2006) e DAngiulli &

    Siegel (2003), que apontam menor nvel de QI Verbal em dislxicos. Ainda que a pre-sena de tal discrepncia isoladamente no seja conclusiva para ns de classicaoou diagnstico clnico, os dados do presente estudo apontam para a heterogeneidade

    de pers cognitivos na dislexia, corroborando o estudo de Salles e Parente (2006).

    fundamental considerar que a dislexia um transtorno complexo e que se carac-

    teriza por dcits em diferentes funes cognitivas. Essas alteraes podem levar diculdade de leitura, o que d suporte ao modelo de mltiplos dcits da dislexia,

    o qual prope um desempenho contnuo multivariado, caracterizado por habilidades

    cognitivas relacionadas leitura (Menghini et al., 2010; Pennington, 2006).

    A diversidade de pers vericada pela anlise de conglomerados reete a heteroge-neidade cognitiva presente na dislexia e evidenciada pela diferena estatisticamente

    signicativa entre as mdias de QI Verbal e QI Execuo na amostra geral. Esse

    dado corrobora achados prvios, constantemente relatados na literatura (Arduini et

    al., 2006; DAngiulli & Siegel, 2003; Ingesson, 2006; Simes, 2002). De acordo comKibby (1999, citado por Kibby & Cohen, 2008), o nvel de inteligncia verbal (QIV), a

    memria operacional verbal e as habilidades de conscincia fonolgica esto envolvi-

    dos na decodicao de pseudopalavras, e tais habilidades podem ser preditoras desucesso na aquisio da linguagem escrita.

    Em relao s mdias dos escores ponderados nos subtestes, na amostra total foramvericados melhores desempenhos nas tarefas de Semelhanas, Vocabulrio, Completar

    Figuras e Cubos. Por outro lado, as mdias mais baixas foram observadas em Aritmtica,

    Dgitos, Cdigos e Arranjo de Figuras. Em sntese, o perl dos dislxicos que participa-ram do presente estudo similar ao perl ACID (Kaufman, 1981; Thomson, 2003).

    De acordo com Simes (2002), os subtestes Semelhanas e Vocabulrio avaliam

    competncias de integrao lingustica e de expresso do pensamento. O subteste

    Semelhanas, especicamente, avalia a capacidade de criao de relaes lgicas,de sntese e de integrao de categorias de conhecimentos expressos verbalmente.

    J o desempenho em Vocabulrio decorrente de habilidades distintas, sendo algu-

    mas relacionadas habilidade de linguagem oral e outras relacionadas linguagem

    escrita. Alguns estudos tm observado pobre nvel de vocabulrio em crianas dis-lxicas, em funo de prejuzos nas habilidades de compreenso de leitura (Aaron,

    Joshi, & Quatroche, 2008; Seabra & Dias, 2012) e, consequentemente, menor expo-

    sio leitura, conforme o Efeito Mateus (Stanovich, 1986). No entanto, o raciocnio,a preciso do pensamento, a denio e a elaborao de discurso so habilidades que

    podem estar preservadas em participantes com dislexia, o que pode inuenciar no

    desempenho adequado nessa tarefa, como observado no presente estudo.

    Melhores desempenhos nos subtestes Completar Figuras e Cubos indicam desen-

    volvimento adequado de habilidades visuoperceptivas e visuoconstrutivas (Simes,

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    2002). No primeiro, so avaliados especicamente reconhecimento de objeto, discri-minao visual e habilidades para diferenciar detalhes. O segundo requer organiza-o perceptual, com nfase em raciocnio visuoespacial, para que o indivduo realizeuma montagem de cubos idntica ao modelo apresentado (Mader, Thais, & Ferreira,

    2004). Os achados do presente estudo mostraram que, juntamente com Semelhan-

    as e Vocabulrio, esses dois subtestes mostraram maiores mdias em relao aorestante, sugerindo que os participantes apresentam maior facilidade nessas tarefas,

    embora o estudo de DAngiulli & Siegel (2003) tenha mostrado pior desempenho emtarefas verbais e nos subtestes de execuo Cubos, Completar Figuras e Cdigo.

    Apesar de os subtestes Aritmtica e Dgitos comporem a escala de Resistncia Dis-trao da WISC-III, tais tarefas demandam simultaneamente habilidades de memria

    operacional. Levando-se em considerao o modelo de memria operacional de Bad-deley (2000), crianas com dislexia podem apresentar prejuzo em tarefas que envol-vam o subcomponente da ala fonolgica, tais como repetio de dgitos, sequncias

    e listas de palavras (Kibby & Cohen, 2008). Alm disso, na maioria dos casos, os dis-lxicos apresentaram habilidades preservadas que dependem dos subcomponentesesboo visuoespacial, executivo central e/ou buer episdico (Kibby & Cohen, 2008;Kibby, Marks, Morgan, & Long, 2004). Uma vez que a base etiolgica da dislexia ,

    em 67% dos casos, decorrente de dcits fonolgicos primrios (Boder, 1973) e taisdcits so relatados na denio da Associao Internacional de Dislexia (Lyon & S.E. Shaywitz, 2003), os dcits de memria operacional podem ser decorrentes das

    pobres habilidades de discriminao e manipulao fonolgica. Portanto, os dcitssimultneos de memria operacional verbal e processamento fonolgico comprome-tem a decodicao durante a leitura de palavras. Dcits de memria de trabalho

    tambm podem comprometer a compreenso leitora de sentenas e textos (Verhoe-ven & Van Leeuwe, 2008).

    O baixo desempenho observado no subteste Cdigos, que faz parte da escala deVelocidade de Processamento, pode ser observado em outros estudos, que apontam

    a presena de prejuzos motores e visuoespaciais associados dislexia. Embora osprejuzos mais comumente associados ao quadro sejam relacionados ao processa-mento fonolgico, alguns autores formularam a hiptese cerebelar da dislexia. Essahiptese se baseia no fato de existirem diferenas estruturais neurais entre dislxicos

    e bons leitores, que se relacionam com a constituio morfolgica, funcional e desem-penhos comportamentais (Nicolson & Fawcett, 1990; Ramus et al., 2003; Stoodley& Stein, 2006). Assim, crianas dislxicas podem apresentar dcits em tarefas sim-

    ples de equilbrio motor, tapping taskse de integrao bimanual. Essas diculdadesseriam justicadas pela ausncia de automatizao de tarefas motoras e necessidadede deslocamento signicativo de recursos atencionais para realizao de tais tarefas,

    que lenticam a execuo e diminuem a preciso (Nicolson & Fawcett, 1990). Outrahiptese explicativa da dislexia que pode ser importante para compreender o pre-

    juzo dos sujeitos no subteste Cdigos a do dcit de ateno visual (Valdois et al.,

    2004). Uma vez que dislxicos podem apresentar pobres habilidades de busca visualde smbolos e estas se correlacionam com o desempenho em leitura de palavras enomeao automtica rpida, possvel perceber que comprometimentos relacio-

    nados leitura podem ser decorrentes de falhas nos processos atencionais visuais.

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    A anlise de conglomerados permitiu identicar subgrupos com nveis distintos dedesempenho. O subgrupo 1 apresentou menores escores em todos os subtestes,em comparao com os outros subgrupos. Observou-se que 58% dos participantesdesse subgrupo so estudantes de escolas pblicas. Tal desempenho inferior pode

    ser explicado tanto pela presena da dislexia quanto pelas condies ambientais da

    escolarizao pblica. Estudos tm mostrado que a menor exposio leitura, oreduzido acesso a servios pblicos de avaliao interdisciplinar com ns diagnsti-

    cos em neurodesenvolvimento e o diagnstico tardio de Transtornos de Aprendiza-gem so fatores de risco que podem prejudicar em maior intensidade o desenvol-vimento cognitivo (Cruz-Rodrigues, Barbosa, Toledo-Piza, & Mello, 2009; Griths &

    Snowling, 2002). Nesse sentido, tais fatores podem ter colaborado para o aumentoda lacuna de conhecimentos das crianas, o que, por sua vez, pode ter reetidodiretamente no nvel de inteligncia. Uma vez que a WISC-III um instrumento de

    avaliao da inteligncia cristalizada, os resultados obtidos por esse grupo sofreminuncia, sobretudo, da educao e da experincia cultural, que so dependentes

    de boas habilidades de leitura. Ou seja, ler menos no afeta negativamente apenaso desenvolvimento da leitura, mas tambm inuencia o desenvolvimento da lingua-gem e do QI, conforme descrito por Arduini et al. (2006) e Ferrer, B. A. Shaywitz,Holahan, Marchione e S. E. Shaywitz (2010). Portanto, fornecer melhor qualidade

    de estimulao cognitiva no ambiente escolar, com enriquecimento de vocabulrio(Nagy & Townsend, 2012) e ensino de estratgias de compreenso lingustica orale escrita (McKeown, Beck, & Blake, 2009), em vez da mera exposio ao material

    escrito, pode favorecer o desenvolvimento intelectual e lingustico de crianas comdiculdade de aprendizagem (Ferrer et al., 2010). Essa inuncia ambiental tambmpode ser vericada com outro dado da anlise de subgrupos, pois 77% dos dislxicos

    do subgrupo 3 so de escola particulares, sendo esse o grupo com maiores mdiasnos subtestes e, consequentemente, nas escalas de QI.

    Considerando que no foram encontradas diferenas entre os subgrupos 2 e 3 paraos subtestes de Cdigos e Dgitos, tais resultados sugerem que as habilidades rela-cionadas a essas tarefas podem estar reduzidas em dislxicos com diferentes nveis

    de desempenho intelectual. Conforme Maehlern & Schuchardt (2009), crianas comtranstornos de aprendizagem que tm baixo QI apresentam o mesmo nvel de altera-es de memria operacional que aquelas com QI mdio ou superior mdia. Tal dado

    refora a hiptese de que o desempenho em tarefas de memria operacional auditivae integrao visuomotora decorrente dos dcits associados dislexia. De maneirageral, integrando as informaes dos pers de desempenho nos subtestes, podem ser

    sugeridos programas de interveno cognitiva em habilidades de memria operacio-nal e integrao visuomotora para todos os subgrupos, sendo que a intensidade e afrequncia das atividades devem ser maiores, especialmente no subgrupo 3, por ser o

    grupo com maior comprometimento. Por outro lado, uma vez que o subgrupo 1 possuimelhores habilidades intelectuais e menores dcits de memria de trabalho, procedi-mentos de interveno psicopedaggica focados no desenvolvimento de estratgias de

    compreenso de leitura e de habilidades de estudo podem ser mais adequados.

    Os dados obtidos neste trabalho reforam a ideia de heterogeneidade da dislexia

    (Fletcher, Coulter, Reschly, & Vaughn, 2004; Hendriksen et al., 2007; Kavale & For-

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    ness, 2000) e retomam os mltiplos fatores que inuenciam a aprendizagem (Kaefer,2006). Alm disso, evidenciam a importncia da investigao interdisciplinar (Bar-bosa et al., 2009; Bishop & Snowling, 2002; Salles & Parente, 2006) e da anlise casoa caso (Salles & Parente, 2008), devido s variaes nas caractersticas neuropsicol-gicas anteriormente descritas. Salienta-se a importncia da investigao do perl de

    desempenho por meio de uma bateria de funes neuropsicolgicas e da exploraoqualitativa do desempenho nos diferentes subtestes da WISC, que um dos instru-mentos mais utilizados para avaliao da inteligncia.

    Portanto, investigar o perl de desempenho em uma bateria de funes neuropsicolgi-cas uma questo fundamental para a realizao de diagnstico diferencial da dislexiae para o planejamento de processos de interveno bem-sucedidos em crianas comdiculdades de leitura e escrita. Como possibilidade de desdobramento do presente tra-balho, sugere-se a conduo de estudos de interveno que enfatizem tanto habilidadesfonolgicas (Oliveira, Lukasova, & Macedo, 2010) como outros componentes cognitivos

    relacionados leitura, tais como a memria operacional (Kibby & Cohen, 2008; Menghiniet al., 2010) e automatizao visuomotora (S. E. Shaywitz & B. A. Shaywitz, 2008).

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    Arquivos Brasileiros de Psicologia; Rio de Janeiro 66 (2): 17 35

    Cruz-Rodrigues, C., Mecca, T. P., Oliveira, D. G., Ueki, K., Bueno, O. F. A., Macedo, E. C.,

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    Submetido em: 21/09/2013Revisto em: 23/03/2014Aceito em: 29/03/2014

    Edereos para correspodcia

    Camila [email protected]

    Tatiana Pontrelli [email protected]

    Darlene Godoy de Oliveira, Karen Ueki

    [email protected]

    Orlando Francisco Amadeu [email protected]

    Karen [email protected]

    Elizeu Coutinho de [email protected]

    I. Docente. Curso de Psicologia. Universidade Presbiteriana Mackenzie. So Paulo.Estado de So Paulo. Brasil.

    II. Docente. Curso de Especializao em Psicopedagogia. Universidade PresbiterianaMackenzie. So Paulo. Estado de So Paulo. Brasil.

    III. Doutoranda. Programa de Ps-Graduao em Distrbios do Desenvolvimento.Universidade Presbiteriana Mackenzie. So Paulo. Estado de So Paulo. Brasil.

    IV. Psicloga. Universidade Presbiteriana Mackenzie. So Paulo. Estado de SoPaulo. Brasil.

    V. Docente. Departamento de Psicobiologia. Escola Paulista de Medicina. UniversidadeFederal do Estado de So Paulo (UNIFESP). So Paulo. Estado de So Paulo. Brasil.

    VI. Docente. Programa de Ps-Graduao em Distrbios do Desenvolvimento.Universidade Presbiteriana Mackenzie. So Paulo. Estado de So Paulo. Brasil.

    i Os autores agradecem o apoio nanceiro do CNPq, da CAPES e da FAPESP.

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]