wELCOmE EUROpA - Universidade de Coimbra · adolescente marroquino desembarcado na Andaluzia —...

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CICLO INTEGRADO DE CINEMA, DEBATES E COLÓQUIOS NA FEUC DOC TAGV / FEUC INTEGRAÇÃO MUNDIAL, DESINTEGRAÇÃO NACIONAL: A CRISE NOS MERCADOS DE TRABALHO WELCOME EUROPA UM FILME DE BRUNO ULMER 2006 MÉXICO: OS DEPORTADOS DA "TERRA DE NINGUÉM" CURTA METRAGEM DE GWEN LE GOUIL, JEAN-LAURENT BODINIER E ANNE VIGNA 2008

Transcript of wELCOmE EUROpA - Universidade de Coimbra · adolescente marroquino desembarcado na Andaluzia —...

  • CICLO INTEGRADO DE CINEmA, DEBATES E COLÓQUIOS NA FEUC

    DOC TAGV / FEUC

    INTEGRAçãO mUNDIAL, DESINTEGRAçãO NACIONAL:

    A CRISE NOS mERCADOS DE TRABALhO

    wELCOmE EUROpAUm FILmE DE BRUNO ULmER

    2006

    méxiCO: Os DEpOrTADOs DA "TErrA DE ninGUém"CURTA mETRAGEm DE GwEN LE GOUIL,

    JEAN-LAURENT BODINIER E ANNE VIGNA2008

  • CICLO INTEGRADO DE CINEmA, DEBATES E COLÓQUIOS NA FEUC

    DOC TAGV / FEUC

    INTEGRAçãO mUNDIAL, DESINTEGRAçãO NACIONAL:

    A CRISE NOS mERCADOS DE TRABALhO

    http://www4.fe.uc.pt/ciclo_int/2007_2008.htm

    sEssãO 13

    A EUROpA DAS FRONTEIRAS DO ESpAçO SChENGEN:

    AS SUAS RIQUEzAS, AS SUAS DERIVAS, AS SUAS CONTRADIçõES

    wELCOmE EUROpA (2006)

    Um FilmE DE brUnO UlmEr

    méxICO: OS DEpORTADOS DA "TERRA DE NINGUém" (2008)

    CUrTA mETrAGEm DE GwEn lE GOUil,

    JEAn-lAUrEnT bODiniEr E AnnE ViGnA

    DEbATE COm:

    ANA GOmES (EUrODEpUTADA)

    RUI pENA pIRES (isCTE)

    JOãO mARIA ANDRé (FlUC)

    TEATrO ACADémiCO DE Gil ViCEnTE

    30 DE mAiO DE 2008

  • pArTE i

    wELCOmE EUROpA: ALGUNS TExTOS, ALGUNS DEpOImENTOS 05

    pArTE ii

    ALGUmAS NOTAS SOBRE A EUROpA E SOBRE AS mIGRAçõES 11

    pArTE iii

    CICLO INTEGRADO DE CINEmA, DEBATES E COLÓQUIOS NA FEUC

    DOC TAGV / FEUC

    INTEGRAçãO mUNDIAL, DESINTEGRAçãO NACIONAL:

    A CRISE NOS mERCADOS DE TRABALhO

    prOGrAmA 2007 - 2008 29

  • © Welcome Europa, 2006.

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    pArTE i

    wELCOmE EUROpA: ALGUNS TExTOS, ALGUNS DEpOImENTOS

    wELCOmE EUROpA

    Prix du meilleur long documentaire au Festival de BanffSélectionné en compétition au Festival du Film de SUNDANCE

    Prix du jury interreligieux remis par l’Eglise catholique suisseet la Fondation Templeton au Festival Visions du Réel, Nyon

    Sinopse

    Milhares de imigrantes clandestinos calcorreiam as metrópoles europeias à procura de um emprego ou de um golpe de sorte do destino. Só se fala deles no Telejornal quando 10 deles morrem num contentor ou 150 são expulsos “em voo charter”. Citam-se apenas números, não nomes. Welcome Europa acompanha o percurso caótico de oito jovens curdos, marroquinos e romenos que tentam chegar a Paris, Amsterdão ou a Madrid. Sozinhos, sem vistos, lutam diariamente pela sobrevivência. A única sorte que podem ter é um chuveiro e uma refeição quente. A pobreza ou a repressão política leva-os ao exílio, para que as suas famílias possam sobreviver nos seus países de origem. Mas o sonho de um Eldorado europeu dissipa-se logo que entram na Europa. Na rua, sem referências familiares, entregues a si mesmos, as estratégias de sobrevivência contam-se pelos dedos duma mão; mendicidade, tráfico de droga, roubo. E acabam por colocar a questão: prostituir-se ou não? Para estes homens heterossexuais, frequentemente pais de família, o dilema é devastador. Os que caem nem sempre se levantam. Os que sobrevivem interrogam-se se são ainda homens.

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    Nota de intenção do realizador

    “Compreendi isso muito bem: para que alguns vivam, outros devem morrer”. A última frase do filme, pronunciada como uma sentença de morte por Mehmet, jovem curdo, retido em Calais, incapaz de alcançar a Inglaterra, depois de milhares de provações de sobrevivência que, dia após dia, o obrigam a abandonar-se um pouco mais. Eu nunca teria acreditado, na véspera da rodagem, que a morte estaria tão presente. A morte do sonho, é claro, a partir do momento em que, passada a fronteira, se verifica que a Europa não corresponde às promessas: sem papéis, nada de trabalho e liberdade condicionada... A morte da alma também, muito antes da morte do corpo, quando, à força de escolhas dilacerantes entre roubo, tráfico de droga, mendicidade ou prostituição, a identidade se desvanece e conduz estes jovens em deriva à questão: “Sou ainda um homem?”. É sobre esta questão essencial, a dissipação da identidade, da masculinidade, que tracei o fio narrativo de Welcome Europa. Uma narrativa personificada em dez personagens, entre as quais, Allal — o adolescente marroquino desembarcado na Andaluzia — apanhado na vertigem da urgência de vias de sobrevivência, empurrado pelos seus pares para contradições violentas, Igor — jovem romeno, “viajante da má vida” — cujos múltiplos caminhos percorridos na Europa o levaram a recriar a sua identidade masculina no papel de Kelly, um travesti em que ele reencontra a imagem da mulher, mas também aquela, mais inesperada, do pai e da mãe... Prova de uma solidão profunda que mesmo as improváveis amizades de estrada não conseguem jamais preencher.

    Bruno Ulmer

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    Carta de um jovem curdo da Turquia à mãe

    Querida mãe,

    Não sei por onde começar, nem como contar-te. Em primeiro lugar, fazem-me muita falta a mãe e a nossa aldeia. A minha viagem à procura de uma vida melhor começou há 2 anos. Tudo ia ser melhor... Fiquei desiludido logo no meu primeiro dia na Alemanha. Aqui, a vida não é como nos contaram. Desde que estou neste país, fui muito sacrificado e sofri muito. Tinham-nos dito que a vida aqui era fácil. Um bom trabalho, uma bonita casa e uma bela vida... É agora que sei que tudo isto é só para os alemães. O lugar para estrangeiros para onde me levaram parecia um estábulo. Não tivemos nem uma boa refeição, nem uma cama lavada. Sonhávamos com um banho de chuveiro. Davam-nos 30 euros por mês. Apenas 30 euros! Fiquei lá três meses. Não tinha autorização de estada, nem parentes próximos. Não encontrei trabalho. Fiquei sem dinheiro nenhum. Dormi na rua. Neste país da Europa que diziam que era o paraíso, acabei, por causa da sujidade, por apanhar piolhos. Um dia, encontrei um homem. Deu-me de comer e dinheiro. Seguidamente, convidou-me para ir a sua casa. Fui com ele. Já não me lembrava há muito tempo duma boa cama, dum bom sono e duma boa refeição quente... O homem propôs-me que tivesse relações sexuais com ele. Foi demasiado duro aceitar aquilo. Mas eu não tinha outra solução. Fiquei algumas semanas na casa deste Alemão. Teve o seu prazer e mandou-me embora. Estava sem dinheiro. Voltei às longas noites sem sono, sem fim. Continuei com esta actividade abjecta com outras pessoas. Já estava atolado no pântano da Europa. Porque não havia ninguém que me desse a mão. Mas acredite, minha querida mãe, não disse às pessoas com quem tive relações por dinheiro que eu era curdo. Dizia que era grego ou espanhol. Lembras-te, mãe, do gato preto da aldeia? Aquele que preferiu morrer porque não tinha encontrado o amor e a afeição? Como ele, já não consigo suportar mais a minha vida. Interrogo-me às vezes se sou ainda um homem. Dizes que qualquer falta tem reparação. Mas nenhuma das coisas que fiz se repara ou se apaga. Teria querido, mesmo por uma última vez, vê-la, abraçá-la, chorar. Mesmo por uma última vez, teria querido ouvir a sua voz, mãe. Mas creio que é demasiado tarde para tudo isso. Querida mãe, fazem-me muita falta a mãe e os outros daí. Como curdo, resisti. Porque nos ensinaram sempre que viver é resistir. Mas resistir até quando?

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    Relatos de alguns testemunhos

    Bogdan, romeno, que encontrei em Espanha

    Aqui, em Espanha, em toda a Espanha... Metade da população da Roménia vive aqui. Quando cheguei, encontrei-me sem abrigo, sem dinheiro, sem nada. Tenho feito tudo o que é possível para sair desta situação, respeitando a lei. Mas, finalmente, vi que assim não resultava. Para ganhar dinheiro procurei ser arrumador de automóveis, fazer coisas que não incomodavam ninguém ou que não violavam a lei. Estou a tentar contar-vos que agora, para conseguir sobreviver, vamos todos os fins-de-semana para sítios onde se propõe às pessoas satisfazer alguns dos seus prazeres. Para ganhar algum dinheiro, comprar roupa e comida para, pelo menos, dois ou três dias. Mas não se consegue fazer nada com este dinheiro. Mal chega para sobreviver. Para estar vivo, mas não como todas as outras pessoas. É talvez a vontade de Deus. Não se sabe onde é que isto nos leva. Não tenho casa, passo o meu tempo nos clubes. Sou estrangeiro e, às vezes, nem sequer tenho o direito de respirar no meio deles. Porque é o seu país e eu não tenho nenhum direito aqui. Prefiro que me matem para acabar com isto. Não vou conseguir aguentar isto por muito mais tempo.

    Karim, argelino, que encontrei em Amesterdão

    Aqui, a coisa mais difícil é que já não há sentimentos. Nada de ternura. Aqui tu vês, tu sentes realmente... que és estrangeiro. Estou aqui há dois anos e parece que já passaram vinte anos. Sem ter encontrado qualquer ternura. Dois anos e pareço um vagabundo. É verdade. Digo-te a verdade, não te quero mentir. Há pessoas dispostas a ajudar-me, mas são uns ímpios. Não te ajudam em nome de Deus. É como prestar um serviço a alguém. É toma lá, dá cá. Não sei se me compreendes. Não te ajudam só porque estás na miséria. É necessário abrir os olhos. Esperam sempre qualquer coisa em troca. Nenhuma ajuda é dada em nome de Deus. Compreendes-me? Aqui, é difícil obedecer a Deus. Cada um é livre. Ninguém te diz: “O que fazes é vergonhoso.” Não tens a família nem os vizinhos

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    para to dizer. Aqui, há os bares e as discotecas. No meu país também, mas não a este ponto. Aqui, é por toda a parte. Em Amsterdão, há o bairro “vermelho”, e tudo isso... O deboche, o grande deboche. Como em Paris ou em Roma. Por toda a parte. É verdade que permanecer um homem, não é fácil. Um verdadeiro homem, que ajuda a família, que lhe envia dinheiro. Eu, quanto a mim, não consegui mandar-lhe dinheiro. É realmente difícil continuar a ser um homem, que é um princípio sagrado. Há coisas que um homem não pode renegar. Deve continuar a ser sempre um homem. Podes fazer certas coisas, mas outras… já nem sei. Se um homem quer que vás com ele… Tu és um homem e não uma puta.

    Mehmet, curdo da Turquia, que encontrei em França

    No nosso país, há uma fórmula mágica: “Viver é resistir!” Têm-se uma dívida para com o nosso povo e deve manter-se a nossa honra. Pelo povo curdo e pelos povos do Médio Oriente, deve levar-se uma vida digna. Por eles, pode dormir-se nos caixotes de lixo, sob as pontes, na rua, morrer de fome... Estou aqui, mas tenho sofrido. Verdadeiramente muito. Teria querido permanecer no meu país. Quero partir daqui para a Inglaterra. Mas como?… Olhei para a Europa, para Roma, que imaginava ser o coração da civilização. Via os monumentos, os vestígios históricos e, virando o olhar, vi os que dormem nos parques. Compreendi que na Europa, seria difícil para mim. Vim para aqui e deparei-me com... o sofrimento das pessoas do Médio Oriente. Até esqueci a fome e tudo o que eu próprio tinha sofrido. Vi a vida que tinham e fiquei doente. Chorei, porque a humanidade perdeu a sua dignidade. Como ser humano, no meio da Europa, tive vergonha. Tive vergonha de mim. Mas o que eu vi aqui, a maneira como vivem... são coisas que não se admitem, que não tolero. São vidas insanas. A minha moral e a minha educação política não me permitem falar disso, mas queria dizer que... bem… Eis então o que vi: um garoto de 15 anos ir com um homem de idade para uma relação abominável. Vi isso na Gare do Norte. E compreendi uma coisa: cada um pode ter muito bem a sua bandeira, mas é por toda a parte igual no mundo. Para que alguns permaneçam vivos, outros devem morrer. Compreendi isso perfeitamente.

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    O realizador Bruno Ulmer

    Bruno Ulmer começou a sua vida profissional como médico. Antes de se tornar cineasta, trabalhou para agências de comunicação e organizações humanitárias. Desde há uma dezena de anos, escreve e realiza documentários sobre questões sociais. Em 2002, define e precisa a sua opção como documentalista interrogando o real com os recursos próprios da linguagem cinematográfica. Bruno é, igualmente, artista plástico, tendo já exposto em Nova Iorque, Paris, Sófia, Amesterdão. Actualmente, tem em preparação dois documentários, um sobre os adolescentes gangsters de Los Angeles e da República de São Salvador (os "MARAS") e o segundo sobre o Cinema Cubano durante a Revolução castrista. Por último, está em fase de concluir o guião duma longa-metragem ("FRATRES") para o cinema.

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    pArTE ii

    ALGUmAS NOTAS SOBRE A EUROpA E SOBRE AS mIGRAçõES

    A viragem à direita da Europa

    Entrevista com Dominique Reynié, doutorado em Sciences PO, Paris

    P. Vislumbra nos recentes resultados eleitorais da Grã-Bretanha e da Itália algumas características comuns?

    R. Reconheço um movimento de viragem à direita, não somente em Roma ou em Londres, mas é o que se observa à escala da Europa. Isto traduz uma viragem à direita espectacular do eleitorado europeu.

    Desde 2007, já houve dez eleições gerais: França, Estónia, Finlândia, Polónia, Bélgica, Dinamarca, Grécia, Irlanda, Espanha e Itália. Por toda a parte, onde a direita estava no poder, no poder continuou. Em Itália, tomou o poder. A única excepção é a Espanha, onde a esquerda se manteve no poder.

    Em alguns destes países, onde havia uma esquerda importante, como na Finlândia, na Bélgica ou, mesmo, na Grécia, os partidos sociais-democratas ou socialistas registaram derrotas particularmente importantes.

    É este ambiente que se vive nas eleições de Roma e nas eleições de Londres. E isso confirma o que se verifica desde 1996 na Europa, um fenómeno tendencialmente generalizado e radicalizado. Não é somente a direita a suceder a si própria, mas, mais ainda, é a direita a alcançar essa posição com propostas políticas mais duras.

  • 12

    P. O que é que alimenta esta tendência?

    R. Sem contar com os movimentos conjunturais, a direita parece estar em vantagem. Quando a conjuntura económica é sobretudo boa, há um apelo de liberalização, de desregulação, a que a esquerda não vem responder, salvo excepção, de forma convincente.

    A esquerda que se sai bem é a esquerda apelidada de “social-liberal”, que consegue manter a direita à distância nos temas ditos sociais.

    Poder-se-ia pensar que o contexto de crise económica, no qual me parece que se entrou, seria mais favorável à esquerda, na medida em que gera uma nova exigência de redistribuição, mas, mesmo aí é a direita que aproveita. Soube metamorfosear-se pondo mais a tónica em propostas de protecção identitária e de segurança e, obviamente, na questão da imigração.

    Um dos elementos determinantes é o envelhecimento demográfico das sociedades europeias, com a inerente maior relevância dos medos e ansiedades.

    P. Pensa que se assiste à emergência de novas figuras da direita europeia?

    R. Gianni Alemanno, em Roma, é tipicamente uma figura da direita europeia ascendente. Desde há algum tempo que se vê desenvolver este tipo de perfil. Inserindo-se na direita clássica, abandona a referência à ideologia de extrema-direita, aceitando participar em coligações, mas aportando sempre, de maneira radical, temas como a segurança e a imigração.

    Estas figuras políticas utilizam, de forma muito mais eficaz, porque as pessoas estão desprevenidas, os temas que os diferenciam da esquerda social-democrata.

    Dominique Reynié, “Une droitisation à l'échelle de l'Europe”, Le Monde, 4 de Maio de 2008.

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    “Harragas”, em busca de um futuro melhor, custe o que custar

    De há três anos para cá, não deixa de crescer na Argélia o número dos que pretendem emigrar clandestinamente para a Europa. Jovens e determinados, estão prontos para enfrentar todos os riscos por uma vida melhor.

    Chamam-lhes “harragas”, palavra derivada “de ultrapassar” e “queimar” (no sentido de “queimar etapas” e, sem dúvida, a vida). Não há dia nenhum em que a imprensa não faça eco destas tentativas desesperadas de argelinos que pretendem emigrar clandestinamente, dada a dificuldade de obterem vistos. Raros são os que têm êxito em passar para o outro lado do Mediterrâneo. Uns são interceptados ainda em pleno mar, outros repescados já como cadáveres. Outros ainda, muitos outros, são dados como desaparecidos.

    De há três anos para cá, o fenómeno dos “harragas” tem vindo a explodir na Argélia. Orão, capital regional do Oeste, já não é a única Meca dos que pretendem partir. Annaba, próximo da fronteira tunisina, faz-lhe já concorrência.

    Com efeito, os 1200 quilómetros de costa da Argélia são na totalidade um convite ao exílio. O número de “harragas” argelinos interceptados — por conseguinte, salvos — pela guarda costeira quintuplicou desde 2005: de 335, passaram a 1016, em 2006, e a 1568, em 2007, de acordo com as autoridades argelinas.

    São numerosos os “multi-reincidentes”, termo ajustado, dado que estes pretendentes ao exílio são levados a tribunal quando se deixam apanhar. No entanto, nada os trava, nem mesmo o pino do Inverno, o mar e as noites glaciais, que aumentam consideravelmente os riscos.

    As suas histórias são todas semelhantes. São seis, dez, às vezes quinze, entre os 18 e os 30 anos, frequentemente habitantes de um mesmo bairro, a porem em prática o projecto de partida. Um passador acena-lhes com um emprego em Espanha ou em Itália. É a eles, candidatos ao exílio, que compete arranjar um barco de 5 ou 6 metros, um motor, coletes de salvamento, um GPS e bidões de gasolina.

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    Ficando à espera de que as condições meteorológicas sejam propícias, escondem o barco na areia, numa praia pouco frequentada. Chegada a altura, partem, sem mesmo dizerem adeus às famílias, sem dúvida para não lhes causar angústia.

    “Contrariando as evidências, o que anima estes ‘harragas’ não é um impulso de morte, mas sim de vida”, sublinha Mustapha Benfodil, jornalista em GR Watan, que investigou esta realidade na região de Orão. Com efeito, para partir, custa aos “harragas”, no mínimo, o equivalente a 1000 euros por pessoa, ou mesmo o dobro, em função da qualidade do barco, do motor, do passador, etc. “Não arriscariam uma tal quantia se não acreditassem que tinham uma séria possibilidade de êxito”, insiste Benfodil. Os “harragas” constituem, doravante, “um verdadeiro negócio para os grupos organizados de tráfico humano”, considera o jornalista. Os angariadores dispõem de cumplicidades no país de partida (a Argélia) e nos países de chegada (geralmente Espanha e Itália). “São profissionais que sabem perfeitamente que mandam estes jovens para o fracasso ou para a morte. “Eu vi ‘harragas’ largados no mar com um motor sem condições nenhumas. No entanto, estes jovens não eram suicidas”, conta. Contrariamente ao que se diz, os “harragas” não são desempregados. Muitos têm um emprego; por vezes são mesmo estudantes ou funcionários com um certo estatuto social na sua cidade ou na sua região. Embora minoritárias, as mulheres são cada vez mais numerosas a tentar, também elas, a travessia do Mediterrâneo. Uns e outros dizem-se persuadidos de que na Europa a sua vida será melhor e, sobretudo, que não têm nada a perder.

    Para o sociólogo Zin-Eddine Zemmour, professor na Universidade de Orão, estes “harragas” não são uns sonhadores. “De certa maneira, são empreendedores, personagens heróicas, que sabem perfeitamente o que fazem”, diz-nos.

    Para ele, estes pretendentes a emigrantes “integraram completamente o risco nos seus cálculos”, mas têm razões objectivas para querer partir, sendo a primeira o baixo nível dos salários na Argélia. “Isso gera frustrações no trabalho. Sabem que um emprego não é sinónimo de independência”, observa o sociólogo.

  • 15

    Deixar a casa dos pais, ter um alojamento próprio e casar é aqui um luxo. O custo de vida é muito elevado, a Argélia produz pouco — excepto gás e petróleo — e importa quase tudo. Ora, o salário mínimo na zona Leste situa-se nos 12000 dinares (menos de 120 euros). “A Argélia fez a escolha política de manter os salários extremamente baixos, na esperança de atrair as empresas estrangeiras”, lamenta Zine-Eddine Zemmour. Para ele, se se quer ter a possibilidade de reter os jovens na Argélia, é necessário atribuir ao trabalho o seu justo valor, multiplicando o nível dos salários “pelo menos por três”.

    O outro factor que incentiva os imigrantes é que os países europeus fecham frequentemente os olhos ao trabalho clandestino, tal é a falta de mão-de-obra. Em Espanha e em Itália, muitos dos campos de acolhimento transitórios em que são concentrados os clandestinos transformaram-se em centros de recrutamento, onde os empregadores de trabalho clandestino os vêm buscar. “Os jovens imigrantes sabem-no e, muito frequentemente, em vez de fugirem destes campos, alinham no jogo, principalmente quando desembarcam na Europa sem papéis, na perspectiva de a prazo haver uma pequena esperança de obter um desses empregos”, explica ainda este sociólogo.

    Há alguma possibilidade de os inúmeros “harragas” dados como desaparecidos estarem ainda vivos? Será que alguns estão na prisão na Tunísia, em Marrocos ou na Líbia, depois de terem andado à deriva no mar, a bordo dos seus barcos e de terem sido, em seguida, apanhados pela guarda costeira de um país vizinho? Kamel Belabed, porta-voz de umas cinquenta famílias de Annaba, está persuadido disso.

    Ele, que perdeu um filho no mar, em Abril de 2007, mantém uma pequena esperança. Também pede aos países mediterrânicos que façam esforços na troca de informações, para pôr termo à incerteza dos pais. A primeira coisa a fazer, aos seus olhos, seria proceder a um recenseamento dos emigrantes desaparecidos no mar. “Será necessário contactar as famílias, ouvir os seus testemunhos e recolher fotografias de cada ‘harraga’”, diz.

  • 16

    Mas na Argélia o problema complica-se devido ao terrorismo. Sobre os jovens dados como desaparecidos recai também a suspeita de estarem na clandestinidade a engrossar as fileiras islamistas armadas. As autoridades argelinas também não têm pressa nenhuma em fazer investigações, ainda que se digam conscientes da gravidade do problema dos “harragas”.

    Outra coisa urgente a fazer incumbiria basicamente aos países europeus. “Dever-se-ia fazer testes de ADN aos corpos apanhados no mar. É muito frequentemente a única maneira de poder identificar os cadáveres tornados irreconhecíveis por estarem semanas ou meses na água”, sublinha Kamel Belabed.

    Sempre que se sabe que em Espanha ou em Itália se incineram corpos de desconhecidos encontrados numa praia sem se fazer testes de ADN, diz Kamel Belabed com amargura: “Aí está, eis assim famílias que jamais poderão fazer o seu luto”. Fica desesperado quando, todos os dias, se fala na cooperação mediterrânica. O seu desejo mais ardente? “Que se comece, então, por dar um rosto humano a esta União para o Mediterrâneo, de que tanto nos falam!”

    Florence Beaugé, “Haragas, un avenir à tout prix”, Le Monde, 17 de Maio de 2008.

    Também em Marrocos, Tunísia e Líbia

    Os países vizinhos da Argélia também estão confrontados com o problema dos “harragas”, mas em menor escala. Em Marrocos, o fenómeno reduziu-se muito nestes últimos anos, uma vez que a acção das autoridades marítimas contra a emigração clandestina foi consideravelmente reforçada. Até ao final dos anos 90, os cidadãos marroquinos partiam de Nador, a Norte, enquanto os sahraouis e os subsarianos partiam de Tarfaya, El-Ayoun ou Dakhla, na costa Atlântica no Sul. Os marroquinos eram em número consideravelmente superior aos subsarianos, o que já não é o caso hoje.

    O fecho totalmente hermético, a partir de Outubro de 2005, dos enclaves

  • 17

    espanhóis de Ceuta e de Melilla — depois de terem sido tomados de assalto por centenas de subsarianos desesperados — fez cair em cerca de 70% o número dos que pretendem emigrar. Continuam a acontecer tragédias como a de 29 de Abril, em que 29 clandestinos (essencialmente africanos) morreram em circunstâncias controversas, tendo a ONG “Amigos e Famílias das Vítimas da Imigração Clandestina” acusado o exército marroquino de ter provocado o seu afogamento.

    Na Tunísia, numerosos tentam a sua chance a partir das cidades do Sahel (Sousse, Sfax, Monastir). Não há dados oficiais, mas os habitantes das localidades costeiras (Teboulba e Chebba, nomeadamente) encontram regularmente barcos vazios nas águas tunisinas, com roupas, documentos de identidade e dinheiro a bordo. Não se trata somente de magrebinos, mas também de subsarianos. A 10 de Maio foi mesmo organizada, em Ksiebet El-Mediouni, uma cerimónia de homenagem a estes desaparecidos, intitulada “As embarcações da dignidade”. Com os seus 1700 Km de costa, a Líbia é, simultaneamente, uma terra de acolhimento e de trânsito. É mesmo considerada pela Europa como a placa giratória da imigração clandestina. É necessário dizer que a pequena ilha italiana de Lampedusa está apenas a 300 Km de Trípoli, em linha recta.

    Num total de 5,5 milhões de habitantes, a Líbia conta com 1,7 milhões de imigrantes, na sua maior parte clandestinos. As autoridades líbias tentam satisfazer o pedido dos Europeus contendo a Sul este “indesejáveis” e proibindo-lhes o acesso a Trípoli e à costa mediterrânica.

    Não se contam líbios entre os que pretendem emigrar: a Líbia é mesmo o único país da região que tem êxito ao conseguir manter no país os seus filhos e a fazer com que retornem do estrangeiro. Os jovens líbios obtêm rápida e facilmente vistos para a Europa, ao contrário dos seus irmãos magrebinos.

    Florença Beaugé (com Fella Adimi), “Au Marroc, en Tunisie et en Lybie aussi”, Le Monde, 17 de Maio de 2008.

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    A loucura financeira não nos deve governar

    Esta crise financeira não é fruto do acaso. Não era impossível prevê-la, como o pretendem hoje altos responsáveis do mundo das finanças e da política. O toque de alarme tinha sido dado, já há anos atrás, por pessoas lúcida s. A crise traduz, de facto, o fracasso dos mercados pouco ou mal controlados e mostra-nos, uma vez mais, que estes não são capazes de auto-regulação. Recorda-nos, igualmente, as inquietantes desigualdades de rendimentos que não deixam de aumentar nas nossas sociedades e lança sérias dúvidas sobre a nossa capacidade de empenhamento num diálogo credível com as nações em desenvolvimento, no que se refere aos grandes desafios mundiais.

    Os mercados financeiros tornaram-se cada vez mais opacos e a identificação dos que suportam e avaliam os riscos revela-se um desafio titânico. O sector bancário, dito “de sombra”, pouco ou não regulamentado, não deixou de crescer durante os últimos vinte anos. Os grandes bancos participaram num jogo de “criação e distribuição” de produtos financeiros extremamente complexos e embarcaram na transacção, sob uma embalagem bastante duvidosa, de dívidas ligadas a empréstimos imobiliários de alto risco. Esquemas de prémios injustificados, uma visão excessivamente de curto prazo e evidentes conflitos de interesses incentivaram as transacções especulativas.

    Os empréstimos hipotecários duvidosos, baseados erradamente na ideia de que os preços do imobiliário continuariam a aumentar sucessivamente e a permitir assim reembolsar a dívida contratada, são apenas sintomas duma crise mais ampla de governança financeira e de práticas comerciais. As três maiores agências de notação do mundo classificaram esta engraçada categoria de valores como relativamente sem risco. Um banco de investimento ganhou milhares de milhões de dólares a especular na baixa dos títulos dos “subprimes”, mas vendendo-os aos seus clientes, o que resume de maneira mais do que eloquente, a perda de qualquer ética no mundo dos negócios!

    Tínhamos sido avisados dos perigos desta situação. Alexander Lamfalussy e o “Comité dos Sábios”, num relatório sobre os mercados de valores mobiliários

  • 19

    europeus (2001), sublinhou a relação entre a aparente eficácia acrescida destes mercados e o preço a pagar em matéria de estabilidade financeira. Paul Volker, alguns anos antes, tinha também expresso a sua apreensão. Paul Krugman apontou igualmente o dedo às ameaças crescentes resultantes de entidades financeiras não controladas, há mais ou menos uma década. Em 2003, Warren Buffett apelidou os produtos derivados de “armas financeiras de destruição maciça”.

    Um relatório do Banco de Inglaterra sobre a estabilidade financeira pôs em evidência o fosso perigoso existente entre os credores e as consequências das suas decisões. O problema reside no modelo actual de governança económica e empresarial centrado numa parca regulamentação, num controlo inadequado e numa oferta de bens públicos demasiado fraca.

    A crise financeira demonstra, de forma muitíssimo clara, que o sector financeiro é incapaz de auto-regulação. É imperativo melhorar o controlo e o quadro regulamentar dos bancos. É necessário reexaminar igualmente os quadros regulamentares dos instrumentos financeiros. A utilização de instrumentos financeiros (como os CDO, Collateral Debt Obligations, obrigações ligadas a activos financeiros diversos) deve ser regulamentada. Todas as instituições financeiras deveriam, como os bancos, manter reservas mínimas; e a capacidade de endividamento não pode continuar a ser ilimitada. Por último, os esquemas de prémios devem ser reexaminados, a fim de evitar incentivar a assunção de riscos sobre enormíssimos montantes sem uma certa prudência.

    No que diz respeito às consequências desta crise sobre a economia real, parece que os peritos económicos do mundo inteiro foram atingidos por um acesso de timidez. Quase todos os organismos de previsão económica revêem em baixa as suas perspectivas de crescimento dos países desenvolvidos para 2008 e 2009. Mas ninguém ousa dizer claramente se a Europa está ameaçada ou não de uma recessão económica. Certos sintomas, contudo, não enganam. No caso da União Europeia, uma recessão este ano, ou no próximo, teria consequências dramáticas.

  • 20

    A desigualdade crescente de rendimentos tem-se alargado paralelamente ao crescimento contínuo do sector financeiro. É verdade que o progresso tecnológico contribui de maneira significativa para que diferenças cada vez mais acentuadas de rendimentos favoreçam a mão-de-obra altamente qualificada. No entanto, políticas incorrectas tiveram igualmente um impacto essencial neste domínio. O capital financeiro representa actualmente quinze vezes o produto interno bruto (PIB) de todos os países. A dívida acumulada das famílias, das empresas financeiras e não financeiras e das autoridades públicas americanas representa mais de três vezes o PIB dos Estados Unidos, ou seja, o dobro do valor registado aquando da quebra bolsista de 1929.

    O mundo da finança acumulou uma massa gigantesca de capital fictício, mas que muito pouco benefício traz para a condição humana e para a preservação do ambiente. Esta crise financeira permitiu delimitar ligeiramente melhor as alarmantes disparidades de rendimentos que se acentuaram continuamente durante as últimas décadas. A ironia da história é que os salários e os prémios de numerosos quadros empresariais atingiram níveis extremamente elevados, enquanto o rendimento das suas sociedades estagnava ou mesmo se reduzia. O desafio ético é por conseguinte fundamental!

    Os mercados livres não podem desprezar a moral social. Adam Smith, pai do laisser-faire económico, escreveu igualmente a Teoria dos Sentimentos Morais (PUF, 1999) e Max Weber definiu a relação entre a dureza do trabalho e os valores morais, por um lado, e o progresso do capitalismo, por outro. O capitalismo decente (ou seja um capitalismo que respeita a dignidade humana, para utilizar as palavras de Amartya Sen) requer uma intervenção pública eficaz. A procura do lucro constitui a essência da economia de mercado. Mas quando tudo está à venda, a coesão social deteriora-se e o sistema desmorona-se. A crise financeira actual reduz a capacidade de o Ocidente iniciar um diálogo mais construtivo com o resto do mundo sobre os desafios mundiais, sobre a gestão dos efeitos da globalização e sobre o aquecimento do planeta — enquanto a extraordinariamente forte expansão económica da Ásia coloca novos desafios, numa dimensão sem precedentes.

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    Os aumentos espectaculares dos preços da energia e dos produtos alimentares vem agravar os efeitos da crise financeira e é um mau agoiro. É muito significativo que os fundos especulativos tenham contribuído para o aumento dos preços dos produtos alimentares de base. Os cidadãos dos países mais pobres serão os mais atingidos. Corremos o risco de nos encontrarmos perante uma miséria sem precedentes, uma proliferação de Estados em falência, perante fluxos migratórios mais importantes e ainda perante mais conflitos armados.

    Alguns gritam alto e a bom som que a Europa dispõe de “economias sólidas”, com melhor controlo financeiro e melhor regulamentação que os Estados Unidos. Poder-se-á dizer que é, em parte, assim. Mas não podemos esquecer os problemas crescentes nos mercados imobiliários no Reino Unido, em Espanha e na Irlanda e o marasmo económico que se espalha por toda a parte na Europa. Pensemos igualmente no nacionalismo económico e no populismo, que têm andado, ambos, de vento em popa.

    As instâncias de decisão europeias, tanto a nível da União como a nível nacional, devem dar uma resposta firme à actual crise financeira. Temos necessidade de pragmatismo, de abertura de espírito e de cooperação para alcançar objectivos comuns.

    A Europa deve estudar estas realidades e identificar as consequências previsíveis no terreno no longo prazo, a fim de elaborar propostas dirigidas à comunidade internacional para permitir debelar as causas profundas desta crise.

    É tempo de criar um comité europeu para a crise, reunindo representantes políticos de alto nível, antigos chefes de Estado e de governo e ministros das Finanças, bem como os economistas mais importantes e os peritos financeiros de todos os continentes. Este comité deve assumir como tarefa:

    — Proceder a uma análise detalhada da crise financeira no contexto mais vasto do que o que tentamos aqui descrever;

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    — Identificar e avaliar os riscos socioeconómicos que comporta a crise financeira para a economia real, em especial na Europa;

    — Propor uma série de medidas ao Conselho da UE a fim de evitar ou de limitar estes riscos;

    — Apresentar ao Conselho de Ministros, aos Estados-Membros do Conselho de Segurança da ONU, ao Director Geral do FMI e a todas as autoridades e instâncias relevantes uma série de propostas destinadas a limitar os efeitos da crise e preparar uma conferência financeira mundial com o objectivo de repensar as regras da finança internacional e a governança no contexto das realidades económicas mundiais.

    Em 2000, todos nós acordámos em fazer da União Europeia a região mais competitiva do mundo. Esta ambição foi reiterada em 2005. Devemos garantir que a competitividade da Europa seja sustentada e não minada pelos mercados financeiros. Devemos agir e rapidamente: para os nossos concidadãos, para mais investimentos, para mais crescimento económico, para a justiça social, para mais oportunidades de empregos e, em suma, para um futuro melhor para todos os europeus.

    Jacques Delors, Jacques Santer (antigos Presidentes da Comissão Europeia); Helmut Schimdt (antigo chanceler

    alemão); Massimo d’Alena (Itália), Lionel Jospin (antigo primeiro-ministro francês); Pavvo Lipponen (Finlândia),

    Goran Persson (Suécia), Poul Rasmusen (Dinamarca), Michel Rocard (França), Daniel Daaianu (Roménia), Hans

    Eichel (Alemanha), Par Nuder (Suécia), Ruari Quin (Irlanda), Otto Graf Lambsdorff (Alemanha) antigos ministros

    da Economia e/ou Finanças, “La finance folle ne doit pas nous gouverner”, Le Monde, 21 de Maio de 2008.

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    QUE EUROpA?

    Mário Soares

    A Europa Política pela qual tanto tenho lutado - principalmente quando fui presidente do Movimento Europeu Internacional - e em que acredito não avança nem recua: está parada e incerta quanto ao futuro. Sofre de paralisia irremediável - para não dizer da mediocridade - de alguns dos seus actuais dirigentes. A Europa dos Cidadãos tornou-se uma miragem. Apesar de o Parlamento Europeu, que em princípio representa os cidadãos europeus dos diversos Estados que compõem a União, ter ganho alguma consistência e credibilidade nesta última legislatura. No entanto, todos parecem esperar

    por melhores tempos, que não chegam nem, aliás, se anunciam. Antes pelo contrário. Por isso, não falam no futuro. Falam em resistir aos desastres do presente. Como fez em Aix-la-Chapelle a sr.ª Merkel quando se referiu à necessidade de "resistir às tempestades"... As diferentes crises - financeira, económica, energética, ambiental, agora, alimentar - cruzam-se e interinfluenciam-se, perante a incapacidade geral para lhes fazer frente, com propostas inovadoras. No Ocidente e nos países emergentes, o epicentro das crises surgiu na América do Norte, estando agora, paulatinamente, a contagiar a Europa e a infiltrar-se nos outros continentes, adquirindo acentos trágicos, como a fome, em muitos países de África. Uma União Europeia activa - e com um rumo claro como agente global - faz falta ao mundo, actualmente, tanto no plano geostratégico, político e económico, como ao planeta, para defesa dos equilíbrios ecológicos essenciais, reconhecidamente ameaçados. Mas como ser um protagonista global, se não se vê - nem se sente - qualquer dinamismo, vontade política ou a proposta de rumo certo, entre os seus dirigentes mais destacados?

    A França hesita, marcada pela permanente inconstância do Presidente Sarkozy. Na verdade tão depressa faz namoro a Bush - ainda?!... -, reafirmando as suas convicções atlantistas e a sua devoção à NATO (atolada como está no Afeganistão!), como procura retornar à velha entente cordiale, apesar do incurável eurocepticismo

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    inglês - com o Labour e Brown muito infelizes com a recente derrota ocorrida em final de ciclo - como volta a ensaiar um passo de dança, na cerimónia em Aix-la-Chapelle, de homenagem ao europeísmo da sr.ª Merkel, com a intenção de repor em marcha o indispensável "motor franco-alemão"... É inconstância a mais, em tão pouco tempo! Para não falar do seu projecto inicial da União para o Mediterrâneo, que mete água por todos os lados, visto não agradar nada à Alemanha nem muito menos aos chefes de Estado árabes... Por outro lado, a Itália - um país que sempre foi profundamente europeísta, e que tem razões para o ser - tornou-se, com as últimas eleições, motivo de grande preocupação. Não foi só a vitória surpreendente de Silvio Berlusconi. Foi, sobretudo, a vitória de Boni e de Fini, o separatista e o ex-fascista, incómodos aliados de Berlusconi, para além de uma vitória de um fascista puro e duro em Roma, pela primeira vez, desde o fim da guerra, de seu nome Gianni Alemanno... Pobre Europa! Que saudades do duo Kohl/Mitterrand - tendo em Roma, como primeiro-ministro, o europeísta Betino Craxi... 2. Israel comemora 60 anos como Estado. A sua criação ocorreu em 1948, após a vitória dos Aliados na II Guerra Mundial e em consequência dela. Foi, de algum modo, a recompensa feita pela Europa democrática a um povo - os judeus - martirizado e vítima do Holocausto, organizado com requintes de inesquecível malvadez, e tendo em vista eliminá-los, como povo. Não o conseguiram, felizmente, apesar de todos os sofrimentos irreparáveis que causaram. Tratando-se de um povo historicamente perseguido pela intolerância dos cristãos e dos islâmicos, sempre simpatizei com os judeus, que tanto ajudaram à consolidação e expansão de Portugal e que, depois, foram expulsos, mortos, ou convertidos à força em "cristãos- -novos", no tempo de D. Manuel I, em 1496. Depois veio o fanático D. João III, cujo cognome foi o Piedoso, talvez por ter criado a Inquisição e autorizado os autos-de-fé, de má memória. Aliás, a intolerância religiosa contra os judeus, que se prolongou em Portugal e em Espanha, praticamente até ao liberalismo, foi uma das principais causas da "decadência dos povos peninsulares", como demonstrou numa das célebres Conferências do Casino o grande Antero de Quental. Hoje, continua a haver quem pense que o "choque das civilizações" - ou das religiões, que as influenciam - é inevitável. É uma concepção malthusiana da história, destrutiva do humanismo, para mim, inaceitável. Deve-se- -lhe opor a Aliança das Civilizações, dinamizada

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    pelo conhecimento recíproco do outro, pe-lo respeito pelo que é diferente, e pelo diálogo, na igualdade. É, por isso, que penso, como amigo do povo judaico - que ao longo da minha vida política sempre demonstrei ser -, que Israel não se deve defender contra o terrorismo recorrendo a uma espécie de terrorismo de Estado ou cedendo à tentação do "olho por olho, dente por dente". É um caminho extremamente perigoso - como tantos judeus reconhecem - e que no limite poderá vir a pôr em risco a própria existência do Estado de Israel. O que representaria um recuo civilizacional e geopolítico inaceitável. 3. Leopoldo Calvo-Sotelo faleceu há três dias em Madrid, inesperadamente, com 82 anos, vítima de uma paragem cardíaca. Conheci-o bem, antes durante e depois de ter sido presidente do Conselho de Ministros, sucedendo a Adolfo Suárez e precedendo Felipe González. Foi um dos artífices da transição democrática de Espanha, um político discreto, diligente e de grande carácter. Era, justamente, presidente do Governo quando ocorreu, em 23 de Fevereiro de 1981, o golpe sedicioso de Tejero, que ocupou as Cortes e sequestrou, durante 18 longas horas, o presidente do Governo Calvo-Sotelo. Portou-se com dignidade e coragem, mantendo, num momento particularmente difícil, o equilíbrio das instituições democráticas. Vivi com imensa emoção esse acontecimento, que guardo vivo na memória. Constituiu um momento dramático da história da transição espanhola. Era então primeiro-ministro, em Portugal, Francisco Pinto Balsemão, com o qual mantive um contacto permanente, como líder da oposição. A minha filha estava em Madrid, como jornalista, face às Cortes. Foi das primeiras jornalistas a entrar no Parlamento, uma vez frustrado o golpe. Leopoldo Calvo-Sotelo era sobrinho do político monárquico Calvo-Sotelo, assassinado nas vésperas da guerra civil. Pertencia a uma família rica da burguesia ilustrada. A sua irmã era casada com o meu amigo Fernando Morán, do grupo de Tierno Galván, que seria ministro dos Negócios Estrangeiros num dos governos de Felipe González. Daí alguns dos laços que nos uniam. Aproveito a oportunidade para apresentar à sua viúva, com quem tive o privilégio de conversar, em diversas circunstâncias, e aos filhos, as minhas sentidas condolências. A Espanha perdeu um dos seus políticos de referência.

    Mário Soares, Que Europa, Diário de Notícias, 6 de Maio de 2008.

    Artigo, gentilmente cedido pelo autor e pelo jornal.

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    pOBREzA E DESIGUALDADES

    Mário Soares

    Não posso dizer que tenha ficado surpreendido com o Relatório da União Europeia (Eurostat) e o trabalho, coordenado pelo Prof. Alfredo Bruto da Costa, do Centro de Estudos para a Intervenção Social (CESIS), intitulado "Um olhar para a pobreza em Portugal", divulgados há dias, que coincidem em alertar para o facto de a "pobreza e as desigualdades sociais se estarem a agravar em Portugal". Surpreendido não fiquei. Mas chocado e entristecido, isso sim, por Portugal aparecer na cauda dos 25 países europeus - a Roménia e a Bulgária ainda não fazem parte da lista - nos índices dos diferentes países, quanto à pobreza e às desigualdades sociais e, sobretudo, quanto à insuficiência das políticas em curso para as combater. Recentemente, cerca de 20 mil cidadãos portugueses, impulsionados pela Comissão Justiça e Paz, dirigiram à Assembleia da República um apelo aos legisladores para aprovarem uma Lei que considere a pobreza uma violação dos Direitos Humanos. Foi uma manifestação de consciência cívica e de justa preocupação moral - que partilho - quanto à pobreza crescente na sociedade portuguesa. E acrescento: a revolta quanto às escandalosas desigualdades sociais, que igualmente crescem, fazendo de Portugal, trinta e quatro anos depois da generosa Revolução dos Cravos, o país da União Europeia socialmente mais desigual e injusto, ombreando, à sua escala, naturalmente, com a América de Bush... Ora, a pobreza e a riqueza (ostensiva e muitas vezes inexplicável) são o verso e o reverso da mesma moeda e o espelho de uma sociedade a caminho de graves convulsões. Atenção, portanto. Eu sei que o mal-estar social e as dificuldades relativas ao custo de vida que, hoje, gravemente afectam os pobres, mas também a classe média - e se tornaram, subitamente, muito visíveis, por força da comunicação social - vêm de fora e têm, evidentemente, causas externas. Entre outras: o aumento do preço do petróleo, que acaba de atingir 135 dólares o barril; a queda do dólar, moeda, até agora de referência; o subprime ou crédito malparado, em especial concedido à habitação (a bolha imobiliária); a falência inesperada de grandes bancos internacionais e as escandalosas remunerações que se atribuem os gestores e administradores; o aumento insólito do preço dos géneros alimentares de

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    primeira necessidade (cereais, arroz, carne, peixe, frutas, legumes, leite, ovos, etc.); a desordem geostratégica internacional (com as guerras do Afeganistão, do Iraque e do Líbano, a instabilidade do Paquistão, o eterno conflito israelo-palestiniano e as guerras em África); o desequilíbrio ambiental que, a não ser de imediato corrigido, põe o Planeta em grande risco; a agressiva concorrência dos países emergentes, que antes não contavam; etc... Tudo isto configura uma situação de crise profundíssima a que a globalização neoliberal conduziu o Mundo, como tantas vezes disse e escrevi. Uma crise financeira, em primeiro lugar, na América, que está a alargar-se à União Europeia, podendo vir a transformar-se, suponho, numa crise global deste "capitalismo do desastre", pior do que a de 1929. Uma crise também de civilização que está a obrigar-nos a mudar de paradigma, tendo em conta os países emergentes, e os seus problemas internos específicos, uma vez que o Ocidente está a deixar de ser o centro do mundo. Não alimentemos ilusões. Claro que com o mal dos outros - como é costume dizer--se - podemos nós bem. É uma velha frase que hoje deixou, em muitos casos, de fazer sentido. Vivemos num só Mundo em que tudo se repercute e interage sobre tudo. No entanto, no nosso canto europeu, deveremos fazer tudo o que pudermos, numa estratégia concertada e eficaz, para combater a pobreza - há muito a fazer, se houver vontade política para tanto - e também para reduzir drasticamente as desigualdades sociais. Até porque, como têm estado a demonstrar os países nórdicos - a Suécia, a Dinamarca, a Finlândia - as políticas sociais sérias estimulam o crescimento, contribuem para aumentar a produção e favorecem novos investimentos. Este é o objectivo geostratégico para o qual deveremos caminhar, se quisermos evitar convulsões e conflitos. Depois de duas décadas de neoliberalismo, puro e duro - tão do agrado de tantos que se dizem socialistas, como desgraçadamente Blair - uma boa parte da Esquerda dita moderada e europeia parece não ter ainda compreendido que o neoliberalismo está esgotado e prestes a ser enterrado, na própria América, após as próximas eleições presidenciais. A globalização tem de ser, aliás, seriamente regulada, bem como o mercado, que deve passar a respeitar regras éticas, sociais e ambientais. Em Portugal, permito-me sugerir ao PS - e aos seus responsáveis - que têm de fazer uma reflexão profunda sobre as questões que hoje nos afligem mais: a pobreza; as desigualdades sociais; o descontentamento das classes médias; e as questões prioritárias, com elas relacionadas, como: a saúde,

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    a educação, o desemprego, a previdência social, o trabalho. Essas são questões verdadeiramente prioritárias, sobre as quais importa actuar com políticas eficazes, urgentes e bem compreensíveis para as populações. Ainda durante este ano crítico de 2008 e no seguinte, se não quiserem pôr em causa tudo o que fizeram, e bem, indiscutivelmente, para reduzir o deficit das contas públicas e tentar modernizar a sociedade. Urge, igualmente, fortalecer o Estado, para os tempos que aí vêm, e não entregar a riqueza aos privados. Não serão, seguramente, eles que irão lutar, seriamente, contra a pobreza e reduzir drasticamente as desigualdades. Já uma vez, nestes últimos anos, escrevi e agora repito: "Quem vos avisa vosso amigo é." Há que avançar rapidamente - e com acerto - na resolução destas questões essenciais, que tanto afectam a maioria dos portugueses. Se o não fizerem, o PCP e o Bloco de Esquerda - e os seus lideres - continuarão a subir nas sondagens. Inevitavelmente. É o voto de protesto, que tanta falta fará ao PS em tempo de eleições. E mais sintomático ainda: no debate televisivo da SIC que fizeram os quatro candidatos a Presidentes do PPD/PSD, pelo menos dois deles só falaram nas desigualdades sociais e na pobreza, que importa combater eficazmente. Poderá isso relevar - dirão alguns - da pura demagogia. Mas é significativo. Do que sentem os portugueses. Não lhes parece?...|

    Mário Soares, Pobreza e Desigualdades, Diário de Notícias, Lisboa, 27 de Maio de 2008.

    Artigo, gentilmente cedido pelo autor e pelo jornal.

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    pArTE iii

    CICLO INTEGRADO DE CINEmA, DEBATES E COLÓQUIOS NA FEUC

    DOC TAGV / FEUC

    INTEGRAçãO mUNDIAL, DESINTEGRAçãO NACIONAL:

    A CRISE NOS mERCADOS DE TRABALhO

    prOGrAmA 2007 - 2008

    Justificação de um tema

    Os docentes da disciplina de Economia Internacional, em colaboração com os estudantes do Núcleo de Estudantes de Economia da Faculdade de Economia e com o apoio da Coordenação do Núcleo de Economia, escolheram para o seu Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC de 2007-2008 o tema Integração Mundial, Desintegração Nacional: A Crise nos Mercados de Trabalho.

    A economia globalizada vive hoje dois aparentes paradoxos que a podem tornar de uma mais difícil compreensão. Por um lado, o crescimento da produtividade do trabalho na indústria transformadora nos países desenvolvidos e em desenvolvimento, que promete fazer subir fortemente os padrões de qualidade de vida das populações mesmo à escala mundial, e, por outro, a concorrência desenfreada e feroz a nível planetário que ameaça os níveis salariais, os níveis de emprego e as condições de vida. Quanto aos níveis de emprego, basta lembrar que a situação actual deixa para bem longe a crise dramática de 1929, pois nunca o volume de desempregados foi tão elevado e nunca o desemprego foi de tão longa duração como agora. A este aparente paradoxo, mas que lhe está intimamente ligado, junta-se um outro: a produção é cada vez mais globalizada, numa economia cada vez mais planetária, cada vez mais desregulamentada, enquanto a força de trabalho que garante essa mesma produção

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    é assente em relações laborais definidas em bases nacionais. Porque é assim, assiste-se cada vez mais à flexibilização e à precariedade das relações contratuais nacionais, havendo casos de normas mínimas que lembram as do início do séc. XX. Dentro desta lógica, a (re)qualificação da força de trabalho, em vez de ser fruto de uma garantia colectiva e de uma das funções do Estado, torna-se numa responsabilidade e num custo individual, numa altura em que os sistemas de ensino e formação nacionais se adaptam, também eles, a esta mesma lógica.

    Por tudo isto podemos dizer que a economia globalizada pode ser caracterizada por três tipos de contradição: um aumento espectacular da capacidade produtiva e a redução do volume de emprego; um forte aumento na taxa de crescimento da produtividade do trabalho decorrente de inovações tecnológicas sucessivas e a baixa do número de postos de trabalho; e, por último, um crescimento elevado das trocas internacionais, o que de forma crescente aprofunda as interdependências económicas e financeiras, e a redução paralela do papel das grandes instituições na regulação mundial da economia.

    A situação de crise nos mercados de trabalho surgida pela presença destes elementos contraditórios complica-se ainda mais quando, face às economias desenvolvidas, se contrapõem, num sistema de mercado, países de baixos salários e forte capacidade tecnológica com comportamentos que nada têm a ver com mercado. As pressões sobre os níveis de emprego e de salários agudizam-se ainda mais quando à opacidade activa de uns (a China, por exemplo) se responde com uma ainda maior desregulamentação à escala nacional pelos outros, pelas nações mais desenvolvidas. Por exemplo, a globalização, mesmo com a imobilidade do trabalho, introduz tal violência nos mercados de trabalho que muitas vezes os trabalhadores da electrónica no México, na Malásia e nos Estados Unidos não só estão, às vezes, a produzir as mesmas peças, como também estão a trabalhar para as mesmas empresas e a competir pelos mesmos empregos e, por essa via, a pressionarem à escala global os salários à baixa.

    Quanto à União Europeia, salienta o Prémio Nobel da Economia Joseph Stiglitz, “Infelizmente, a Europa tem uma política económica que está a travar as

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    batalhas da geração passada, pois está mais preocupada com a inflação do que com a criação de emprego e o crescimento económico, tem um banco central com um mandato que incide na inflação e tem um Pacto de Estabilidade que prejudica a capacidade de lançar um política orçamental estimulante”. Mais, o objectivo central da Estratégia de Lisboa de 2000 de tornar a União Europeia no espaço económico mais dinâmico e competitivo do mundo baseado no conhecimento já não aparece sequer nos textos da Estratégia de Lisboa renovada em 2005.

    Vejam-se igualmente as transformações que os “modernizadores da Europa” querem trazer ao Estado- Providência e que é um exemplo do que estes entendem como Modelo Social Europeu. Como caso ilustrativo temos as famosas leis “Hartz” de inspiração neoliberal, concebidas pelo artesão da flexibilidade na Volkswagen e aplicadas na Alemanha por Schroeder, em 2002, em quatro vagas: redução dos custos do trabalho e dos subsídios, incitação a aceitar um emprego abaixo das suas qualificações profissionais sob pena de sanções, desregulação e encorajamento do individualismo económico. A medida mais emblemática delas todas, a lei Hartz IV, nunca tão actual como agora, reduz para 12 meses (contra os anteriores 32 meses) o período de subsídio de desemprego. Para além deste período, dito de longa duração, o desempregado recebe um subsídio de 350 euros, se viver sozinho. Mas também, a lei Hartz VI, que gerou manifestações de milhares de pessoas nas ruas que protestavam contra o facto de, por exemplo, um beneficiário poder ser obrigado a mudar para um apartamento mais pequeno, em função dos seus rendimentos de beneficiário. De costas voltadas para o emprego, para o desemprego e para a pobreza. De costas voltada para a pobreza, e são disto um bom exemplo, como assinala recentemente o jornal Le Monde, a existência de 7 milhões de alemães que têm a pobreza como o seu quotidiano. Mas se passarmos da Alemanha para a França encontramos também aqui um número equivalente: 7 milhões e 136 mil pobres, equivalente a 12,1 por cento da população total. Relativamente a estes últimos números, diz-nos, em 1 de Setembro de 2007, o actual Alto-comissário da Solidariedade Social e contra a Pobreza do governo francês, Martin Hirsch: “o silêncio que acompanha a divulgação destes dados é impressionante. Nem um só jornal os publicou… Este silêncio é infelizmente significativo. Como se a pobreza não fosse uma variável digna de interesse. Ora, uma

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    variável que se ignora é também uma variável sobre a qual não se quer nem agir nem muito menos dar contas”. De costas voltadas também para as questões do emprego e do desemprego, para além do que foi dito é também um bom exemplo o facto de a Europa continuar a estar completamente desprotegida contra o fenómeno das deslocalizações, mesmo no espaço comunitário. Ignora-se mesmo Adam Smith, para quem o homem é a “mercadoria” mais difícil de exportar, porque o capital circula, as mercadorias circulam e os homens, esses, têm raízes. Como assinala Danièle Linhart: “o desemprego total ou parcial organiza à sua maneira em cada país, as privações… Estar sem emprego na Alemanha, nos Estados Unidos, na França, na Bélgica não é, sem dúvida, exactamente igual, mas o mesmo sentimento de amputação está presente nestes homens e nestas mulheres que, perdendo o seu trabalho, perderam o seu sentimento de legitimidade para viverem numa sociedade que não é feita para eles. Quaisquer que sejam estas sociedades, bem diferentes, em muitos dos seus aspectos, é isto que têm em comum, o de serem sociedades que não são feitas para quem não tem trabalho”.

    Neste contexto, qual tem sido o enquadramento das instituições internacionais? Retenham-se três exemplos ilustrativos:

    1. Alan Greenspan, face à multiplicidade de crises financeiras, num debate entre os banqueiros centrais para determinar o que deveria ser a política monetária ideal para lhes dar resposta, explica em 2002 como é que um banco central deve reagir e aqui pasme-se com a sugestão: sobretudo, não fazer nada.

    2. Se nos virarmos para o Banco dos Bancos Centrais, o Banco de Pagamentos Internacionais, não encontramos melhor resposta. William White, o seu chefe do departamento económico e monetário, entende que uma finança liberalizada provoca uma instabilidade cuja gestão preventiva exige uma política monetária sistematicamente desfavorável ao crescimento e ao emprego.

    3. Se nos viramos para o Fundo Monetário Internacional não modificamos a opinião que temos sobre as funções actuais das Instituição Internacionais, pois segundo esta Instituição a crise não tem nada a ver com o modo como as reformas

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    têm sido tratadas, mas sim devido ao facto de não terem sido levadas demasiado longe e durante mais tempo, sendo certo que as reformas permanecem sempre incompletas. Enfim, sintetizando a crítica ao modelo subjacente, parece-nos que podemos concordar com Rodrick para quem todas estas instituições só conhecem três verbos: privatizar, liberalizar, flexibilizar.

    Esta imobilidade intencional das instituições ou a actuação dentro de toda esta lógica, esta “tirania dos mercados”, para utilizar uma expressão de Bourguinat, aliada aos aparentes paradoxos e aos três elementos contraditórios acima assinalados, arrasta consigo largos milhões de desempregados. Muitos destes são fruto de deslocalizações de actividades produtivas à escala mundial, dos Estados Unidos, passando pelo México, por toda a restante América Latina, pela Europa, pela África até à Ásia, em nome da verdade dos preços de mercado. Estas deslocalizações realizam-se numa lógica idêntica à que existe na gestão de carteira de títulos nos mercados financeiros. As empresas arbitram entre territórios, como arbitram entre activos industriais e financeiros, tudo com o objectivo de melhorar a rentabilidade, que não coincide necessariamente nem com o aumento da produção nem com a criação de emprego. Mais, pelo facto de os salários constituírem a ser a variável de ajustamento numa empresa, assiste-se a uma transferência de parte dos riscos do empresário para o trabalhador. Normalmente, os despedimentos são concebidos, não por necessidades da actividade produtiva, mas como uma forma de melhorar os resultados e o valor das suas acções.

    Toda esta realidade resulta da aplicação do Liberalismo, que Alain Laurent tão bem sintetiza: “corrente de pensamento que deseja desregulamentar, privatizar, liberalizar as trocas, fazer respeitar o direito de propriedade e reduzir drasticamente o campo de intervenção da lei e do Estado”. Este modelo aparece assim oposto ao Estado dos trinta gloriosos anos de crescimento, assente em estratégias empresariais e em políticas governamentais que promoviam a repartição dos ganhos de produtividade, garantindo a inclusão social, o crescimento sustentado da procura e por essa via o estimulo ao investimento. Este foi o círculo virtuoso do capitalismo que o liberalismo passo a passo tem vindo a afundar e neste seu trajecto tem sido determinante a globalização com tudo o que a acompanha.

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    Por todas estas razões podemos afirmar que a divisão internacional do trabalho ganha novos contornos e a problemática dos direitos laborais ganha uma outra dimensão, incompatível, cremos nós, com a tese de que se pode criar mais emprego criando mais facilidade de desemprego, a menos que se pense fazer do espaço mundo, um espaço onde domina a subcontratação, as deslocalizações permanentes, a produção partilhada como no México (as Maquiladoras), e onde haveria dispersas pelo planeta algumas ilhotas de alta qualidade de vida. Mesmo este espaço não resistiria à brutalidade duma economia assim mundializada em que as relações laborais e salariais são assentes em bases nacionais, mas quase que individualizadas e, por isso, cada vez mais tensas, a darem sinais de cada vez menos controláveis. Como exemplo, lembremo-nos das cidades a arder em França ou na Inglaterra, lembremo-nos dos milhares de estudantes na rua contra a lei do primeiro emprego, em França. Classes sociais diferentes, reacções diferentes, mas a mesma recusa, o mesmo mal-estar.

    Contra a noção de que o mercado é tudo, não nos devemos esquecer que é melhor para todos que a concorrência internacional esteja assente no que de melhor fornece cada sistema educacional, cada sistema organizativo das condições e dos métodos de trabalho e na utilização das mais criativas inovações, em vez dos baixos salários e das más condições de vida dos trabalhadores. Salários baixos podem fazer com que as empresas sejam competitivas a curto prazo, mas não estabelecem as bases para a criação de uma sociedade realmente inclusiva. Cremos mesmo que afirmar que salários baixos, que más condições de vida e de trabalho ou ambientais são vantagens comparadas, e tem sido este o fundamento da globalização, é afinal assentar a virtude da globalização na desigualdade real do direito à qualidade de vida. Cremos que nem Adam Smith nem David Ricardo defenderiam os suportes teóricos da actual globalização.

    As pressões da globalização crescente sublinham que a questão crítica que as sociedades industriais têm enfrentado durante todo o séc. XX e com muito mais razão têm que enfrentar e resolver hoje é a de assegurarem que os ganhos na produtividade do trabalho sejam largamente partilhados, traduzindo-se assim o crescimento económico na inclusão social e num quadro globalizado mas regulado.

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    Tratar-se-á assim de recriar o conceito de Estado-Providência num contexto de economias globalizadas? O papel central para tratar esta importante questão está nas políticas públicas nacionais assim como na sua articulação que deverá ser conduzida a nível das instâncias internacionais. Julgamos ser por isso que autores como Edward Gresser ou Robert Reich nos vêm dizer que face à economia globalizada deve estar, em cada espaço nacional, subjacente a criação de um contrato social novo, organizado não tanto em torno da segurança do trabalhador mas sim da segurança familiar, isto é, para os trabalhadores e para as suas famílias”.

    São estas as razões que nos levaram a escolher este tema como tema do Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC e para o qual convidámos especialistas nacionais e estrangeiros que nos vêm dar conta das suas interrogações e das suas eventuais respostas à problemática do tema Integração Mundial, Desintegração Nacional: A Crise nos Mercados de Trabalho.

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    pROGRAmA 2007 - 2008

    Sessão 115 de Setembro de 2007 A rede mundial da precariedade no trabalho: Um exemplo na construção navalBoas Vindas de João Sousa Andrade (Coordenação do Núcleo de Economia/FEUC)e Alexandre Leal (Presidente do Núcleo de Estudantes de Economia da AAC)Filme/Documentário: Mundo Moderno, de Malek Sabrina e Arnaud Soulier, 2005 (84')Abertura de José Alberto Soares da Fonseca (Presidente do Conselho Directivo da FEUC)Conferência de Mário Soares sobre A Globalização e o RestoComentários de José Manuel Pureza (FEUC) e Luís Moura Ramos (FEUC) Sessão 28 de Outubro de 2007Globalização e marinha mercante: A rede mundial da precaridade no trabalhoConferência de François Lille (Conservatoire des Artes et Métiers, Paris)sobre Mercantilização Mundial do Trabalho Contra os Direitos FundamentaisComentários de Mário Ruivo (Pres. do Conselho Científico das Ciências do Mar e do Ambiente da FCT)Filme/Documentário Navios da Vergonha de Malcolm Guy e Michelle Smith, 2006 (75')Comentários e Debate com François Lille, Mário Ruivo e Álvaro Garrido (FEUC)

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    Sessão 35 de Novembro de 2007Globalização e deslocalizações: As dificuldades na reprodução da relação salarialAbertura de Rui Namorado (Vice-Presidente do Conselho Científico da FEUC), Margarida Antunes (FEUC) e Alexandre Leal (Presidente do Núcleo de Estudantes de Economia da AAC)Conferências de El Mouhoub Mouhoud (Universidade de Paris Dauphine e Director do projecto internacional do CNRS Développement des recherches Economiques Euro méditerranéennes, França) sobre Deslocalizações das empresas e vulnerabilidade dos territórios: Antecipar os choques da mundialização e de Edward Gresser (Director, Project on Trade and Global Markets, Progressive Policy Institute, Estados Unidos da América) sobre Estado abastado, trabalhadores preocupados: A Carolina do Norte na Economia MundialComentários de Margarida Antunes e Paulo Pedroso (ISCTE)Filme/Documentário Como é Que Se Pode Resistir: Histórias de Trabalhadores Numa Fábrica Americana, de Alexandra Lescaze, 2004 (60')Comentários e Debate com Edward Gresser, El Mouhoub Mouhoud,Paulo Pedroso e Margarida Antunes (moderadora)

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    Sessão 410 de Dezembro Globalização e mercado de trabalho: As assimetrias na Repartição, Nacional e Mundial Filme/Documentário Maquilapolis: Cidade de Fábricas, de Vicky Funari e Sergio de la Torre, 2005 (70')Filme/Documentário Nós Não Jogamos Golfe Aqui e Outras Histórias de Globalização, de Saul Landau, 2007 (35')Abertura de Luís Peres Lopes (FEUC) e Pedro Silva (Núcleo de Estudantes de Economia da AAC)Comentários e Debate com Jorge Leite (FDUC), Margarida Chagas Lopes (ISEG-UTL) e Luís Peres Lopes (moderador)Conferência de Branko Milanovic (Banco Mundial, Carnegie Endowment for International Peace)sobre Global income inequality e de Erik Reinert (Presidente da The Other Canon Foundation, Noruega) sobre How rich countries got rich… and why poor countries stay poorComentários de Margarida Chagas Lopes (ISEG-UTL) e de Luís Peres Lopes (FEUC)Debate com a participação de Branko Milanovic, Erik Reinert, Margarida Chagas Lopes e Luís Peres Lopes

    Sessão 513 de Dezembro de 2007Globalização e deslocalizações: A Europa sem mecanismos de protecção ao empregoBoas Vindas de José Soares da Fonseca (Presidente do Conselho Directivo da FEUC) e Alexandre Leal (Presidente do Núcleo de Estudantes de Economia da AAC)Filme/Documentário O Elefante, a Formiga e o Estado, de Jean Michel Meurice e Christian Dauriac, 2004 (90')Debate com José António Correia Pereirinha (ISEG-UTL), Pedro Hespanha (CES/FEUC) e Clara Murteira (moderadora, FEUC)

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    Sessão 610 de Janeiro de 2008Desemprego e novas formas de violência nas sociedades modernas: As grandes tensões sociaisAbertura de Alexandre Leal (Presidente do Núcleo de Estudantes de Economia da AAC)Filme/Documentário O Emprego do Tempo, de Laurent Cantet, 2001 (134')Comentários de António Gama (FLUC), Pedro Pita (FLUC, Delegado Regional do Ministério da Cultura) e Rui Namorado (FEUC)

    Sessão 718 de Janeiro de 2008Paraísos Fiscais, Infernos Sociais: O Encerramento da Metaleurop NordAbertura de Alexandre Leal (Presidente do Núcleo de Estudantes de Economia da AAC) e António Casimiro (CES/FEUC)Conferência de Jean-Louis Martin (Dirigente sindical da Metaleurop Nord, França) Filme/Documentário Metaleurop: A Outra Guerra, de John Paul Lepers, coprodução de Canal+, 2003 (60')Filme/Documentário Glencore: A Multinacional dos Flibusteiros da Economia, de Patrice des Mazery, coprodução de Canal+, 2004 (39')Comentários de Saldanha Sanches (FDUL), João Proença (UGT), Ulisses Garrido (CGTP-IN) e António Casimiro (Moderador)

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    Sessão 821 de Fevereiro de 2008Globalização e concorrência no mercado de trabalho: Nos limites do intolerávelAbertura de Pedro Silva (Núcleo de Estudantes de Economia da AAC)Conferência de Adriano Vaz Serra (FMUC), sobre Violência não visível nas sociedades modernasFilme/Documentário O Método, de Marcelo Pinero, 2006 (115')Debate com Adriano Vaz Serra (FMUC), Adelino Fortunato (FEUC) e Lina Coelho (FEUC)

    Sessão 928 de Março de 2008Para uma outra Política Económica, para uma outra Europa, para uma Europa SocialAbertura de José Murteira (Conselho Directivo da FEUC) e Alexandre Leal (Presidente do Núcleo de Estudantes de Economia da AAC)

    Conferências de João Ferreira do Amaral (ISEG-UTL), sobre Política Económica, Competitividade e Estado Social e Henri Sterdyniak (OFCE, Paris), sobre Que Europa Social Comentários de João Cravinho (BERD) e João Sousa Andrade (FEUC)Filme/Documentário: Desemprego e Precariedade: A Europa Vista pelos Desfavorecidos, de Catherine Pozzo di Borgo, 2003 (77')Abertura de João Sousa Andrade e Ana Luísa Cardoso (Núcleo de Estudantes de Economia da AAC)Comentários e Debate com João Ferreira do Amaral, Henri Sterdyniak, João Cravinho e João Sousa Andrade

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    Sessão 1011 de Abril de 2008As mobilidades no espaço da União Europeia: As novas linhas de tensãoConferências de Jacques Mazier (Universidade de Paris Norte) sobre Globalização e Desigualdade: Crescimento Lento, Quem Ganha e Quem Perde e Joaquín Arriola Palomares (Universidade do País Basco/EHU) sobre A Nova Imigração na Europa: Precariedade e Hierarquização do Trabalho no Novo Modelo Europeu de AcumulaçãoComentários de José Reis (FEUC) e João Amado (FDUC)Filme/Documentário El Ejido, A Lei do Lucro, de Jawad Rhalib, 2007 (80')Debate com Jacques Mazier, Joaquín Arriola Palomares, José Reis e João Amado

    Sessão 1118 de Abril de 2008Globalização e Mercados de Trabalho: A perspectiva dos Países em Vias de DesenvolvimentoAbertura de José Murteira (Conselho Directivo da FEUC) e Alexandre Leal (Presidente do Núcleo de Estudantes de Economia da AAC)

    Conferências de Machiko Nissanke (School of Oriental and African Studies, SOAS, Universidade de Londres) sobre Por uma Globalização a Favor dos Países em Vias de Desenvolvimentoe Stefaan Marysse (Universidade de Antuérpia) sobre O Debate do Rendimento Mínimo Garantido na África do Sul: Uma Perspectiva ComparadaComentários de Jochen Oppenheimer (Prof. do ISEG-UTL aposentado) e Margarida Proença de Almeida (EEG-UM)Filme/Documentário A Outra Europa, de Poul-Erik Heilbuth, 2006 (60')Debate com Machiko Nissanke, Stefaan Marysse, Joaquim Romero Magalhães (FEUC), Jochen Oppenheimer e Joaquim FeioAbertura de Joaquim Feio (Conselho Directivo da FEUC) e Catarina Brás (Núcleo de Estudantes de Economia da AAC)

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    Sessão 1216 de Maio de 2008Modelo Social Europeu em Crise: Algumas questõesAbertura de Alexandre (Núcleo de Estudantes de Economia da AAC)Conferência de David Howell (Milano The New School for Management and Urban Policy, Nova Iorque)Comentários de Joaquim Feio (FEUC) e Stuart Holland (FEUC; University of Roskilde, Dinamarca)Filme/Documentário Fucking Sheffield, de Kim Flitcroft, 2006 (60')Abertura de Alexandre (Núcleo de Estudantes de Economia da AAC)Debate com David Howell, Joaquim Feio e Stuart Holland

    Sessão 1330 de Maio de 2008 A Europa das Fronteiras do Espaço Schengen: As Suas Riquezas, as Suas Derivas, as Suas ContradiçõesFilme/Documentário México: Os Deportados da Tierra de Nadie, de Gwen Le Gouil, Jean-Laurent Bodinier e Anne Vigna, 2008 (20')Filme/Documentário Welcome Europa, de Bruno Ulmer, 2006 (90')Debate com Ana Gomes (Eurodeputada), Rui Pena Pires (ISCTE) e João Maria André (FLUC)

    Sessão 14 - Encerramento21 de Junho de 2008 Uma Antevisão da Europa Actual?Filme/Documentário Metrópolis, de Fritz Lang, 1927 (153')Debate com Manuel Portela (FLUC), Jean Michel Meurice (Realizador de cinema)e João Bénard da Costa (Cinemateca Nacional)

  • © Mexique: les déportés de la "Tierra de nadie", 2008.

  • © Mexique: les déportés de la "Tierra de nadie", 2008.

  • Globalização é um daqueles termos que passaram directamente da obscuridade

    para a ausência de sentido, sem qualquer fase intermédia de coerência.

    Mas deixem-me dizer apenas o seguinte: a globalização é também muito importante

    e é totalmente consistente com mais e melhores empregos,

    salários decentes e empregos decentes.

    Robert Reich, ministro do trabalho da Administração Clinton

  • Defino globalização como a liberdade para o meu grupo de investir onde quiser,

    o tempo que quiser, para produzir o que quiser, comprando e vendendo onde quiser,

    suportando o mínimo de obrigações possíveis em matéria de direito do trabalho

    e de convenções sociais.

    Asea Brown Bovery (Presidente do grupo ABB, 12ª empresa mundial)

    Juntem o pior do capitalismo com o pior do comunismo e terão uma ideia

    do rumo que a globalização está a tomar.

    Alain Supiot

  • Ciclo organizado pelos docentes da disciplina de Economia Internacional

    da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

    Colaboração do Núcleo de Estudantes de Economia da Associação Académica de Coimbra

    Apoio da Coordenação do Núcleo de Economia da FEUC

    Com o apoio das instituições:

    Caixa Geral de Depósitos

    Fundação Luso-Americana

    Fundação para a Ciência e Tecnologia

    Fundação Calouste Gulbenkian

    Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC

    DOC TAGV / FEUC

    Integração Mundial, Desintegração Nacional:

    a Crise nos Mercados de Trabalho

    Textos seleccionados, traduzidos e organizados por:

    Júlio Mota, Luís Peres Lopes e Margarida Antunes

    A Comissão Organização agradece o apoio dado a esta sessão por:

    Martine ZACK, Canal ARTE

    Fabienne Rieffel, Canal ARTE

    Hélène Badinter, cineasta

    Son et Lumière, produtora de Welcome Europa

    Gwen Le Gouil realizador de Mexique : les déportés de la Tierra de Nadie

    Diário de Noticias

    Dr. Mário Soares