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Texto 1 16 de maio de 1966 AS VOLTAS DO MEU CORAÇÃO Que noite horrível! A pior da minha vida... Penso, repenso, choro, grito, urro, estapeio o travesseiro e começo tudo de novo. Tenho que fazer uma escolha. Uma escolha que só depende de mim. Alfredo e Bobby me querem. Dizem que me amam. Acho que só gostam de mim. Mas gostam bastante. Mais do que o suficiente para me fazer feliz. Não posso mais ficar neste não-sei-o-que-quero... Muito bem. Vamos lá. Enfrentar de cara. De frente. Com tudo. O que quero? Quem quero? Nem posso choramingar tanto. Fazer tamanha cara de coitadinha, de infeliz. Afinal, tenho 16 anos e tenho dois apaixonados. De plantão. Fazendo cenas por minha causa. Quase se estapeando em público. Minhas amigas, morrendo de inveja. Me achando uma sortuda. Dois caras legais querendo me namorar firme. Por que não posso ficar com os dois? Sei muito bem o porquê: portanto, vamos parar com esta bobagem. Alfredo não é muito bonito. É alto, magricela. Cara inteligente. De óculos. Tem 21 anos, é homem feito. Tem seu carro, tem dinheiro, estuda engenharia na Poli* . Está no 3º ano. Bom aluno, estudioso, responsável. Ótima pessoa. O herói da minha mãe. Aliás, o herói de todas as mães do pedaço. Me acham uma louca desvairada por não estar com ele de vez. Bobby também não é muito bonito. Mas tem um quê especial. Um ar maroto, bem safado. Conquistador. Todo cheio de vozes, de sussurros, um sorriso de derreter. Irresistível quando quer. Desenha bonito e passa o tempo todo com seus papéis, lápis e tintas. Nem pensa em faculdade. Vive duro e sempre se vira pra conseguir algum. Consegue, quase sempre. Na minha casa não faz o menor sucesso. É tocar a campainha que torcem o nariz. Quando telefona, se pudessem, diriam que não estou. Mas quando entra, se derretem com seu charme, suas piadas. Melhor companhia não COLÉGIO SÃO PAULO - TERESÓPOLIS CSP –Reforço Teresópolis, 04 de agosto de 2016. Aluno (a): __________________________ Nº: ____ Turma:________ Disciplina: Língua Portuguesa Professora: Maria Isabel Pereiro

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Texto 1

16 de maio de 1966

AS VOLTAS DO MEU CORAÇÃO

Que noite horrível! A pior da minha vida... Penso, repenso, choro, grito, urro, estapeio o travesseiro e começo tudo de novo. Tenho que fazer uma escolha. Uma escolha que só depende de mim. Alfredo e Bobby me querem. Dizem que me amam. Acho que só gostam de mim. Mas gostam bastante. Mais do que o suficiente para me fazer feliz. Não posso mais ficar neste não-sei-o-que-quero... Muito bem. Vamos lá. Enfrentar de cara. De frente. Com tudo. O que quero? Quem quero?

Nem posso choramingar tanto. Fazer tamanha cara de coitadinha, de infeliz. Afinal, tenho 16 anos e tenho dois apaixonados. De plantão. Fazendo cenas por minha causa. Quase se estapeando em público. Minhas amigas, morrendo de inveja. Me achando uma sortuda. Dois caras legais querendo me namorar firme. Por que não posso ficar com os dois? Sei muito bem o porquê: portanto, vamos parar com esta bobagem.

Alfredo não é muito bonito. É alto, magricela. Cara inteligente. De óculos. Tem 21 anos, é homem feito. Tem seu carro, tem dinheiro, estuda engenharia na Poli* . Está no 3º ano. Bom aluno, estudioso, responsável. Ótima pessoa. O herói da minha mãe. Aliás, o herói de todas as mães do pedaço. Me acham uma louca desvairada por não estar com ele de vez.

Bobby também não é muito bonito. Mas tem um quê especial. Um ar maroto, bem safado. Conquistador. Todo cheio de vozes, de sussurros, um sorriso de derreter. Irresistível quando quer. Desenha bonito e passa o tempo todo com seus papéis, lápis e tintas. Nem pensa em faculdade. Vive duro e sempre se vira pra conseguir algum. Consegue, quase sempre. Na minha casa não faz o menor sucesso. É tocar a campainha que torcem o nariz. Quando telefona, se pudessem, diriam que não estou. Mas quando entra, se derretem com seu charme, suas piadas. Melhor companhia não tem.

A verdade, acho, é que não estou apaixonada por nenhum deles. Ou não sei o que é amar. Como é que a gente se sente de verdade? O que acontece por dentro e por fora? Se soubesse, não estava nesta baita indecisão. Amanhã cedinho tenho que ter a resposta. Escolha escolhida. Ficar com um e largar o outro. Disso, não tenho dúvidas. Só disso. Mas ficar com qual?

Queria um sinal do destino. Uma pista. Vou passar a noite em claro, esperando. Por esse sinal e porque estou uma pilha de nervos. Não vou conseguir dormir de nenhum jeito... É muita aflição, muito nervoso, muito medo de errar. Faço outra vez a listinha dos prós e dos contras? Dos pontos positivos e negativos de cada um deles? Por que não? Faço.

ABRAMOVICH, Fanny. As Voltas do Meu Coração. 3ª ed., São Paulo. Atual, 1988, p.78.

*POLI: Escola de Engenharia Politécnica da Universidade de São Paulo.

COLÉGIO SÃO PAULO - TERESÓPOLIS CSP –Reforço Teresópolis, 04 de agosto de 2016. Aluno (a): __________________________ Nº: ____ Turma:________ Disciplina: Língua Portuguesa Professora: Maria Isabel Pereiro

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01-

Elabore títulos para cada um dos parágrafos abaixo:

a) 2º parágrafo:

b) 3º parágrafo:

c) 6º parágrafo:

02-A frase “Nem posso choramingar tanto.” nos mostra que a personagem não se via com o direito de se sentir triste. Por quê?

03-Se resolvesse seguir a opinião da mãe, qual dos dois pretendentes a garota escolheria? Justifique sua resposta com frases do texto.

04-Quando descreve os dois rapazes, a personagem coloca em oposição a situação de cada um. Complete o quadro:

ALFRE BOB

a) Tem dinheiro

b) Estuda engenharia na Poli

c) É um herói para a mãe da menina

r

A

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05-"Queria um sinal do destino, uma pista." A adolescente deseja:(A) uma pista para passar a noite em claro, esperando.(B) uma solução mágica, milagrosa, para sua indecisão.(C) esperar a noite para se acalmar.(D) uma decisão dos dois para a resolução de sua aflição.(E) uma decisão de sua mãe.

06-Retire do 1º parágrafo expressões ou frases que mostrem as seguintes atitudes da menina:

a) indecisão:

b) coragem:

07--Identifique OPINIÃO ou FATO:

a) ( ) "É alto, magricela. Tem 21 anos."

b) ( ) "Ótima pessoa."

c) ( ) "Melhor companhia não tem."

d) ( ) "... passa o tempo todo com seus papéis, lápis e tintas."

08-"... gostam bastante. Mais do que o suficiente para me fazer feliz." Você acha que ser querido, apenas, basta? Justifique sua opinião.

AA

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Texto 2EU, ETIQUETA

Em minha calça está grudado um nome que não é meu de batismo ou de cartório, um nome... estranho.Meu blusão traz lembrete de bebida que jamais pus na boca, nesta vida. Em minha camiseta, a marca de cigarro que não fumo, até hoje não fumei.Minhas meias falam de produto que nunca experimenteimas são comunicados a meus pés.Meu tênis é proclama colorido de alguma coisa não provadapor este provador de longa idade.Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro, minha gravata e cinto e escova e pente, meu copo, minha xícara,minha toalha de banho e sabonete, meu isso, meu aquilo,desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens,letras falantes, gritos visuais,ordens de uso, abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade,e fazem de mim homem-anúncio itinerante,

com outros seres diversos e conscientes de sua humana, invencível condição.Agora sou anúncio, ora vulgar ora bizarro,em língua nacional ou em qualquer língua (qualquer, principalmente).E nisto me comprazo, tiro glória de minha anulação.Não sou - vê lá - anúncio contratado.Eu é que mimosamente pago para anunciar, para venderem bares festas praias pérgulas piscinas, e bem à vista exibo esta etiquetaglobal no corpo que desistede ser veste e sandália de uma essência tão viva, independente,que moda ou suborno algum a compromete.Onde terei jogado forameu gosto e capacidade de escolher, minhas idiossincrasias tão pessoais,tão minhas que no rosto se espelhavam, e cada gesto, cada olhar,cada vinco da roupa resumia uma estética?Hoje sou costurado, sou tecido, sou gravado de forma universal,

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escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda.É doce estar na moda, ainda que a moda seja negar minha identidade,trocá-la por mil, açambarcando todas as marcas registradas, todos os logotipos do mercado.Com que inocência demito-me de ser eu que antes era e me sabiatão diverso de outros, tão mim-mesmo, ser pensante, sentinte e solidário

VOCABULÁRIO

saio da estamparia, não de casa, da vitrina me tiram, recolocam, objeto pulsante mas objetoque se oferece como signo de outros objetos estáticos, tarifados.Por me ostentar assim, tão orgulhoso de ser não eu, mas artigo industrial, peço que meu nome retifiquem.Já não me convém o título de homem. Meu nome novo é coisa.Eu sou a coisa, coisamente.

(Em Corpo. 5ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1984.)

proclama: anúncio. reincidência: teimosia.

premência: urgência. itinerante: que viaja.

açambarcando: apropriando-se. bizarro: extravagante, esquisito.

(me) comprazo: (me) agrado. idiossincrasia: maneira pessoal de ver e sentir de cada pessoa.

retifiquem: corrijam.

pérgulas: passeios ou abrigos feitos em jardins.

1) O poema foi dividido em cinco partes. Identifique-as, relacionando as colunas:( 1 ) Do verso 1 ao 27 ( 2 ) Do verso 28 ao 39( 3 ) Do verso 40 ao 54 ( 4 ) Do verso 55 ao 61( 5 ) Do verso 62 ao 74( ) A indagação do poeta sobre seu gosto, opinião, manias.( ) A constatação de ter-se tornado um verdadeiro homem-anúncio preso ao que anuncia. ( ) A percepção do poeta de seu afastamento da condição humana - para estar na moda. ( ) A visão que o poeta tem de si: um objeto-qualquer, outro artigo industrial.( ) O lamento do poeta e a perda da própria essência por exibir a etiqueta em todos os lugares.

2)Assinale o verso que demonstra que qualquer objeto do narrador serve de propaganda:(A) "Hoje sou costurado, sou tecido." (B) "Eu sou a coisa."(C) "Estou, estou na moda." (D) "Eu é que mimosamente pago."(E) "Agora sou anúncio."

3)"Em minha camiseta, a marca de um cigarro..."Como se sente o homem pressionado pelas marcas e etiquetas? Por quê? Retire do texto uma passagem que justifica a sua resposta.

4) Justifique o título do texto:

EU, ETIQUETA.