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A S S E M B L E I A D A R E P Ú B L I C A
REQUERIMENTO Número /XII ( .ª)
PERGUNTA Número /XII ( .ª)
Assunto: Implementação do projeto Key for Schools Portugal
Destinatário: Ministério da Educação e Ciência
Exma. Senhora Presidente da Assembleia da República
O Governo português, através do Instituto de Avaliação Educativa I. P. (IAVE), estabeleceu um protocolo de
cooperação com o Banco BPI, a GlobeStar Systems Inc., a Novabase Business Solutions e a Porto Editora
Lda., para aquisição e implementação do projeto designado por Key for Schools Portugal, concebido e
fornecido pelo Cambridge English Language Assessment (integrado na Universidade de Cambridge).
O referido projeto consiste na aplicação obrigatória aos alunos do 9º ano da rede escolar pública, particular e
cooperativa do teste diagnóstico Key for Schools, desenhado para certificar o nível A2 da língua inglesa de
acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (QECRL). O teste também é
disponibilizado facultativamente a alunos de outros níveis de escolaridade, entre os 11 e os 17 anos. Todos os
alunos que realizem o teste podem obter, mediante pagamento de 25 euros por aluno, um certificado em
língua inglesa passado pelo Cambridge English.
O Projeto teve início no ano letivo 2013/2014 e, nos termos do referido protocolo de cooperação, é
automaticamente renovado nos anos letivos 2014/2015 e 2015/2016. Todas as necessidades logísticas e
operacionais para assegurar a aplicação do teste ficam a cargo do IAVE. Os encargos financeiros resultantes
do contrato com a Universidade de Cambrige para o fornecimento dos testes são da responsabilidade das
quatro empresas subscritoras do protocolo de cooperação.
Esta operação envolveu em 2013/2014 mais de cem mil alunos, na sua grande maioria do 9º ano, constituindo
a maior sessão de sempre em todo o Mundo de um exame do Cambridge English, o que torna Portugal um
dos maiores clientes daquele produto fornecido pelo mencionado departamento da Universidade de
Cambridge.
Da experiência do ano letivo 2013/2014, apenas 8 por cento dos cerca de 102 mil alunos que realizaram o
teste Key for Schools não frequentavam o 9.º ano (em que o teste foi obrigatório) e somente 20 por cento dos
alunos do 9.º ano que fizeram o teste pediram o certificado do Cambridge English.
Os resultados em 2013/2014 terão ficado aquém das expetativas. No entanto, para este ano letivo de
2014/2015, apesar dos resultados do ano anterior, o IAVE optou por introduzir o exame PET (Preliminary
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English Test), correspondente ao nível B1, com maior grau de dificuldade. Os professores continuam com
currículos de inglês a cumprir que nada têm a ver com este exame, por isso, em cima das metas curriculares
ainda têm que acrescentar a preparação para o exame.
O Ministério da Educação constituiu para o ano letivo 2013/2014 uma bolsa de professores classificadores
(componente escrita) e examinadores orais voluntários que envolveu cerca de 1100 docentes. Para o presente
ano letivo, serão necessários cerca de 2200 professores classificadores e examinadores orais. Porém, a
participação dos professores de Inglês na correção dos testes e nas provas orais passa a ser obrigatória, por
determinação unilateral do Governo.
Desta forma, os professores veem o período de trabalho docente acrescido com novas tarefas, mas sem
qualquer retribuição ou compensação por esse trabalho, sendo certo que a correção dos testes e as provas
orais fazem parte de um projeto encomendado e pago a uma entidade externa, o Cambridge English,
fornecedora desse produto, sendo os certificados pagos pelos próprios alunos.
Das experiências conhecidas de outros países, só em Portugal é que os professores não são remunerados,
sendo obrigados a participar na correção dos testes. No resto do Mundo os classificadores são remunerados
pelo Cambridge English e os examinadores de orais são pagos pelos centros de exames nacionais (no caso
português seria o IAVE).
Atendendo ao exposto, e ao abrigo das disposições constitucionais e regimentais aplicáveis, o Grupo
Parlamentar do Bloco de Esquerda vem por este meio dirigir ao Governo, através do Ministério da Educação e
Ciência, as seguintes perguntas:
1. Com base na experiência de 2013/2014, qual o balanço que o Governo faz do processo de avaliação da
aprendizagem da língua inglesa fornecido ao sistema de ensino português pelo Cambridge English
Language Assessment, com o apoio logístico e operacional do IAVE e pago por empresas privadas
nacionais?
2. O que levou o Governo a alterar o modelo de bolsa voluntária de professores classificadores para o de
envolvimento obrigatório dos professores de Inglês na correção de testes e nas provas orais?
3. Considera o Governo razoável e legítimo obrigar os professores de Inglês, com agravamento dos seus
períodos de trabalho docente, a prestar trabalho como professores classificadores e examinadores sem
qualquer remuneração ou compensação, para um processo de avaliação fornecido por uma entidade
externa que é paga para esse efeito e cujos certificados são pagos pelos próprios alunos?
4. No caso da generalidade dos alunos que fazem o teste virem a requerer o certificado, seria obtida uma
verba na ordem dos 2,5 milhões de euros. A que se destina o montante resultante da venda dos
certificados, tendo em conta que a operação logística e operacional é da responsabilidade do IAVE e o
financiamento do produto fornecido pelo Cambrige English é assegurado por empresas privadas?
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Palácio de São Bento, 24 de fevereiro de 2015.
O deputadoLuís Fazenda