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FACULDADE DOM BOSCOCURSO EDUCAÇÃO FÍSICA
EXERCÍCIOS DE FORTALECIMENTO MUSCULAR PARA CINTURA ESCAPULAR DE POLICIAIS MILITARES QUE FAZEM USO DE COLETE
CURITIBA 2012
BIANCA TABITA KORNDÖRFERJAQUELINE BUIAR DE LIMA
EXERCÍCIOS DE FORTALECIMENTO MUSCULAR PARA CINTURA ESCAPULAR DE POLICIAIS MILITARES QUE FAZEM USO DE COLETE
CURITIBA 2012
Trabalho de pesquisa apresentado como requisito parcial para Conclusão do curso de Eduação Física - Bacharelado da Faculdade Dom Bosco.
Orientador: Profº M. Eduardo Catto Gallina
EXERCÍCIOS DE FORTALECIMENTO MUSCULAR PARA CINTURA ESCAPULAR DE POLICIAIS MILITARES QUE FAZEM USO DE COLETE
Bianca Tabita KorndörferJaqueline Buiar de Lima
Orientador: Prof° M. Eduardo Catto Gallina
RESUMOA presente pesquisa tem como proposta apresentar exercícios que estabeleçam uma melhora significativa no fortalecimento na musculatura da região da Cintura Escapular para profissionais que trabalham com equipamentos pesados, que excedem 6% do seu peso corporal, caracterizado pela sobre carga. Para isto desenvolvemos exercícios específicos para fortalecer a musculatura da região escapular, responsável pela sustentação de equipamentos, como o colete balístico para os policiais militares, com o intuito de promover uma melhora na qualidade de vida desses profissionais, bem como a prevenção de possíveis lesões causadas pela sobre carga e a falta de estrutura muscular suficiente para a sustentação da mesma. Com essa musculatura mais desenvolvida é possível fazer a sustentação dos equipamentos de trabalho sem agredir os músculos, nervos e coluna vertebral, pois não há necessidade de compensação do peso. Palavras-chave: Fortalecimento, Sobre Carga, Exercícios, Cintura Escapular.
INTRODUÇÃO
Exercícios de Fortalecimento Muscular para Cintura Escapular de
Policiais Militares que fazem uso de colete.
O problema de pesquisa estabelecido neste trabalho foi: Por meio de um
trabalho de fortalecimento muscular é possível diminuir o desconforto e
prevenir lesões musculares em profissionais que trabalham com equipamentos
que geram uma sobre carga?
Esta pesquisa é de grande relevância em meio a profissionais que fazem
uso de equipamentos pesados, que excedem 6% de seu peso corporal, como
os policiais militares, proporcionando fortalecimento da musculatura que irá
suportar a sobre carga.
É uma pesquisa acessível financeiramente. É viável por serem
necessários 15 policiais militares, uma academia que se encontra no mesmo
ambiente de trabalho destes policiais, e por não ser necessário nenhum
material extra de trabalho que não os que já se encontram na academia.
Esse tema vem da preocupação das acadêmicas e interesse em
prevenir lesões musculares que possam surgir em decorrência de uma sobre
carga na musculatura, foi inspirado em casos de policiais militares e
radiologistas que desenvolveram problemas musculares devido a pouca massa
muscular para suportar o peso excessivo.
Foram encontrados alguns artigos relacionados à sobre carga e
fortalecimento muscular, porém nada específico à pesquisa nessa linha.
Esta pesquisa tem como objetivos geral e específico promover, por meio
de exercícios específicos, o fortalecimento muscular da cintura escapular de
policiais (profissionais) que fazem uso de colete, desenvolver exercícios
específicos para fortalecimento da musculatura da cintura escapular, investigar
as condições de força e resistência muscular desses indivíduos e comparar os
níveis de força desses indivíduos antes e depois do treinamento.
Sendo assim contamos com as seguintes hipóteses de resultado:
H.1. Obter resultados de fortalecimento muscular nos membros
superiores.
H.2. O trabalho poderá surtir efeito apenas nos policiais mais jovens.
H.3. O trabalho poderá surtir efeito apenas nos policiais com menor
tempo de atividade e consequente uso do colete.
H.4. O trabalho poderá surtir efeito apenas nos policiais com maior idade.
H.5. O trabalho poderá surtir efeito apenas nos policiais com mais tempo
de profissão e consequente uso do colete.
PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
COLETE BALÍSTICO: HISTÓRICO, ANATOMIA E CARACTERÍSTICAS
Desde o início da história, o homem busca criar mecanismos de defesa,
que possam protegê-lo das ameaças de seus inimigos. Inicialmente o colete
era feito de couro, coberto por algo semelhante à resina, alguns anos mais
tarde passaram a ser feitos de madeira. Com a metalurgia mais antiga surgiram
os escudos feitos de bronze e ferro. Atualmente surgiram coletes fabricados de
plástico e os próprios coletes balísticos.
Hoje o uso do colete balístico difundiu-se no meio militar, tornando-se
um equipamento obrigatório para a segurança do policial. Em pesquisa
coordenada pelo Ten. Cel. RR Martin Luiz Gomes segue que “82% dos
policiais militares feridos ou mortos em serviço o foram por disparos de arma
de fogo no tórax” (GOMES, 2010 apud PENNA, 2011).
Atualmente a policia militar tem como equipamento obrigatório dois
modelos de coletes balísticos, o colete de uso dissimulado e o colete tático. O
primeiro, como o próprio nome já diz, é de uso dissimulado, ou seja, não visível
e, portanto utilizado por baixo do fardamento (Anexo A). Este colete possui
apenas a placa balística e a capa, que protege o contato com a pele do policial,
evitando desgaste prematuro da placa. Este colete pesa em torno de 3kg e
prende-se ao corpo através de tiras que passam nos ombros e abdômen do
policial. É um colete que se ajusta um pouco melhor ao corpo por ser mais
anatômico que o colete tático.
O segundo é o colete tático, da mesma forma possui o colete balístico, o
que irá mudar neste material é apenas a capa (Anexo B). É utilizado por cima
da farda, de forma ostensiva e visível, a capa é maior e concentra todos os
equipamentos utilizados pelo policial na parte da frente. Este colete pesa em
torno de 10 kg, pois possui além da capa e placa, todo o material obrigatório
para a atividade policial, como arma, algema, munição, etc. Esta segunda
opção traz um maior desconforto para o policial pois além de não ser
anatômico, não se ajusta de maneira correta ao corpo do policial, devido ao
seu formado reto e alongado, concentra todo seu peso na região anterior do
corpo, puxando os ombros para frente e forçando a musculatura dos ombros e
região dorsal.
Recentemente um novo colete foi desenvolvido, também considerado
um colete tático por ser externo e concentrar todo seu peso na capa, este,
porém caracteriza-se pela placa balística e um suspensório, apenas três alças
que se conectam na região anterior do corpo por três travas (Anexo C). Este
modelo de colete é mais confortável por ser mais leve e mais anatômico, pois o
colete se ajusta melhor ao corpo e o suspensório não interfere, pois se apóia
apenas no colete.
Ambos geram desconforto, por menor que possa ser, e exigem uma
força maior da musculatura da cintura escapular, responsável pelo suporte
dessa carga. Segundo Merino: “Deve respeitar o peso que uma pessoa possa
levantar em situação de trabalho, no qual 90% dos homens e no mínimo 75%
das mulheres o façam sem lesão.” (WATERS, 1993 apud MERINO, 1996);
ATIVIDADE DOS POLICIAIS MILITARES, POSTURA E MOVIMENTOS
Muitas são as atividades dos policiais militares, entre elas estão as mais
diversas funções e horários de aplicação. Os policiais militares do BPTran
fazem, em grande parte das vezes, operações bloqueio, mais conhecidas como
“Blitz”. Estes policiais fazem uso do colete tático, grande parte deles o colete
estilo suspensório e uma pequena parte o colete tático estilo capa. Entre suas
funções destacamos a de seleção, abordagem, fuga e autuação dos veículos
apreendidos, todas essas funções são realizadas em pé e exigem muitos
movimentos de membros superiores.
Neste serviço específico o policial passa grande parte de seu turno
escrevendo com prancheta nas mãos, essa posição força toda a extensão dos
membros superiores, desde o punho até os ombros, causando desconforto e
dores musculares ao final do turno.
Em apostila do Curso de Formação de Agentes Penitenciários (Módulo 8
– IAUPE) encontramos a seguinte explicação para o uso do colete:
Outro ponto bastante importante e que temos que considerar é a questão do ajuste do colete ao corpo, não devendo estar muito frouxo, pois poderá causar incômodo ao usuário, se estiver muito apertado, pode comprometer a provisão de oxigênio, uma vez que dificultará a respiração e tal situação, durante um momento de tensão, poderá interferir nos reflexos e na velocidade, que são tão necessários nos confrontos armados. (IAUPE, EPPE, 2011.)
Como agravante o colete tático concentra todo o peso do equipamento
na região anterior, forçando assim os ombros para frente. Esse peso excessivo
que desloca os ombros para frente força a musculatura da cintura escapular,
podendo gerar cansaço, dores musculares e até mesmo desvios posturais.
PROFISSIONAIS QUE FAZEM USO DE SOBRE CARGA
Atualmente o Brasil conta com inúmeros profissionais, das mais diversas
áreas, trabalhando com sobrecarga, ou seja, equipamentos que tem excedido o
peso corporal do profissional. Entre esses profissionais, podemos citar os
carteiros que percorrem todos os dias cerca de 3km a 8km carregando sacolas
que pesam aproximadamente 9kg, sacola que fica pendurada nos ombros
durante todo o percurso de entrega do profissional.
Os radiologistas que por se tratar de radiação devem fazer uso de um
colete feito de chumbo, tem equivalência em chumbo de 0,25 mm Pb ou 0,50
mm Pb, possui comprimento de 100 cm, para proteger desde o tórax até os
joelhos. Este equipamento pesa em média 7 kg e a carga horária diária do
profissional fica em torno de 4h.
Os policiais militares, civis e federais utilizam basicamente os mesmo
equipamentos básicos, como colete, arma de fogo, algema e munição. O
diferencial dessas três profissões é a atividade que cada um exerce que varia
de local para local. Mesmo se tratando de atividades bem diversas, a carga
horária e a sobre carga que esses profissionais carregam é a mesma. Watkins
define o efeito negativo dessa sobrecarga como:
Os efeitos bionegativos resultam de sobrecarga insuficiente e sobrecarga excessiva. Antes da maturidade a sobrecarga insuficiente pode resultar em crescimento e desenvolvimento anormal do sistema musculoesquelético e, em adultos a sobrecarga insuficiente pode resultar em capacidade funcional diminuída dos componente musculoesqueléticos. Tal como a sobrecarga insuficiente, a sobrecarga excessiva também pode resultar em crescimento e desenvolvimento anormal do sistema musculoesquelético antes da maturidade. Além disso, a sobrecarga excessiva pode resultar em lesão nos componentes musculoesqueléticos em qualquer idade. (WATKINS, 2001, p.327)
Profissionais como os estivadores trabalham carregando sacos de grãos
ou materiais de construção, vale lembrar que acabam se tornando os
profissionais que mais sofrem com a sobre carga. Por exemplo, um saco de
cimento pesa em média 50 kg e um saco de areia em média 50 kg. Esse sobre
peso é lançado sobre os ombros para facilitar o carregamento. Esses
profissionais trabalham em torno de 6 horas a 8 horas por dia. Em seu livro Hall
explica:
Pelo fato de as articulações da cintura escapular (cíngulo do membro superior) estarem interligadas, elas funcionam, em parte, como uma única unidade na sustentação das cargas e na absorção dos choques. Entretanto, como a articulação glenoumeral proporciona apoio mecânico direto ao braço, ela sustenta cargas muito maiores que as outras articulações do ombro. (HALL, 2005, p.190)
MUSCULATURA DA CINTURA ESCAPULAR
A cintura escapular é formada por quatro ossos, duas clavículas e duas
escapulas. Essa estrutura sofreu algumas adaptações, pois as escápulas não
estão ligadas entre si. Por se tratar de uma musculatura pouco estável a
musculatura acaba sendo de grande importância para transferir força para a
coluna vertebral e a estabilidade da região escapular.
É considerada uma articulação complexa por envolver várias
articulações. Essas articulações são capazes de realizar vários movimentos,
entre eles o de elevação e depressão, adução e abdução, rotação superior e
rotação inferior dos membros superiores.
A musculatura que compõem a cintura escapular é vasta por se tratar de
uma articulação com grande amplitude de movimentos. Segundo Hall:
Os músculos escapulares desempenham duas funções gerais. Primeira, eles estabilizam a escápula para que venha a formar uma base rígida para os músculos do ombro durante o desenvolvimento de tensão. Segunda, os músculos escapulares facilitam os movimentos da extremidade superior graças ao posicionamento apropriado da articulação glenoumeral. (HALL, 2005, p.184).
Entre os músculos que compõem a cintura escapular encontramos o
músculo trapézio que está localizado na parte superior das costas, tem sua
origem abaixo do crânio na 7° vértebra cervical e sua inserção na lateral da
escapula, acrômio e espinha da escapula. Sua principal função é elevar e
retrair a escapula, e realizar a rotação da escápula. Segundo Smith et al:
O trapézio superior efetua elevação contralateral do pescoço; o trapézio médio efetua rotação para cima e adução da escápula. Rotação para cima ocorre com abdução da escápula durante a elevação do braço. À medida que o eixo de rotação move-se da raiz da espinha escapular para o processo do acrômio, o braço de força do trapézio inferior torna-se maior para rotação para cima. (BAGG e FORREST, 1988 apud SMITH et al, 1997).
O músculo subclávico está localizado logo abaixo da clavícula e tem sua
origem na 1° costela, sua inserção encontra-se no meio da superfície inferior
da clavícula. Sua função é a de trazer a medialmente até fixá-la ao osso
esterno. O músculo peitoral menor está localizado na parte superior do tórax e
origina-se na 3°, 4° e 5° costelas e tem sua inserção na extremidade do
processo coracóide (na escápula), sua principal função é, além da respiração,
a de abdução e rotação da escápula.
O elevador da escápula, como o nome indica, é um elevador da
escápula, uma ação que ele compartilha com a porção superior do trapézio e
com os rombóides. (SMITH et al, 1997). Este músculo tem a função de elevar a
escápula e mantê-la em sua posição natural origina-se no processo transverso
das quatro primeiras vértebras cervicais e insere-se na borda medial da
escápula.
Por fim o músculo rombóide, que pode ser dividido em rombóide maior e
rombóide menor, têm como principal função a adução e rotação da escápula e
ainda a de deprimir o ombro, tem sua origem nos processos espinhosos da 7°
vértebra cervical até a 5° vértebra torácica e insere-se na borda medial e
ângulo inferior da escápula.
IMPORTÂNCIA DO FORTALECIMENTO MUSCULAR PARA A SOBRECARGA
Por meio de um trabalho de fortalecimento da musculatura da cintura
escapular é possível proporcionar, aos profissionais que fazem uso de
equipamentos que caracterizam sobre carga, muitos benefícios. Entre esses
benefícios o mais importante seria a prevenção de lesões ao grupo muscular.
Essas lesões podem ter inicio pela dor muscular decorrentes do peso
excessivo em uma musculatura que não está preparada para sustentar essa
carga, se não tratada pode desenvolver várias doenças, entre elas a Sindrome
Dolorosa Miofacial e a Fibromialgia.
Segundo Lin e Kaziyama:
A síndrome dolorosa miofascial (SDM) é uma das causas mais comuns de dor músculo-esquelética. Acomete músculos, tecido conectivo e fáscias principalmente da região cervical, cintura escapular e lombar. A dor e a incapacidade geradas pelas SDMs podem ser bastante significativas. (LIN; KAZIYAMA, 2001, p.1):
Estudos mostram que não existe uma causa específica para a SDM,
mas muitos especialistas garantem que o cansaço muscular está associado.
Esse cansaço pode ser gerado pela sobre carga, peso excessivo durante
algumas horas diárias associado a movimentos repetitivos e estresse do dia a
dia.
Para Lin e Kaziyama:
A prevalência da SDM na população é difícil de ser determinada, pois os critérios de diagnóstico são clínicos e dependem do achado de pontos gatilhos e de bandas de tensão, sendo necessário que o profissional seja treinado para identificá-los. (LIN;KAZIYAMA, 2001, p.3).
Os pontos gatilhos nada mais são do que pontos que geram a dor,
quando pressionados, esses pontos geram a dor relatada pelo paciente, essa
dor é sentida diariamente e quando pressionado o ponto essa dor pode
estender-se além do local mencionado.
Dentre os inúmeros métodos de tratamento da SDM está o
fortalecimento da musculatura. Segundo Sociedade Brasileira para o Estudo da
Dor (2010, p.2): “O exercício tem mostrado benefício moderado e pode incluir
alongamentos e amplitude de movimento, fortalecimento, resistência, ou
exercícios de coordenação”.
A fibromialgia é uma doença muscular semelhante à SDM, porém com a
característica de possuir maior número de ponto de dor, ou chamado pontos
gatilho. A Sociedade Brasileira de Reumatologia explica que:
A síndrome da fibromialgia pode ser definida como uma síndrome dolorosa crônica, não inflamatória, de etiologia desconhecida, que se manifesta no sistema músculo-esquelético, podendo apresentar sintomas em outros aparelhos e sistemas. Sua definição constitui motivo de controvérsia, basicamente pela ausência de substrato anatômico na sua fisiopatologia e por sintomas que se confundem com a depressão maior e a síndrome da fadiga crônica. (SBR, 2010, p.3)
Dentre os fatores que podem gerar a fibromialgia estão o acumulo de
lesões músculo-esquelético que não são tratados devidamente e o traumatismo
provocado por esforços exagerados, como o caso da sobre carga em
determinados grupos musculares.
Marimar (2011) diz que:
Na fibromialgia há vários trigger points, que, entretanto não provocam dor referida com tanta precisão quanto na síndrome miofascial. Caracteriza-se pela presença de pontos dolorosos específicos ou
difusos; distúrbios do sono com fadiga e rigidez matinais; relação com mudanças do tempo e situações angustiantes; tendência a cronicidade. Atinge indivíduos de personalidade perfeccionista e deprimidos, em que o sistema músculo-esquelético seria o "órgão de choque". (MARIMAR, 2011. p ?)
Apesar de muitos especialistas afirmarem que a fibromialgia ainda não
tem cura, o tratamento por meio de exercícios físicos provou ser muito eficaz.
Lin e Kaziyama (2001) afirmam que:
Os exercícios diminuem a sensibilidade a dor. Os exercícios e os programas regulares de atividades físicas são fundamentais e constituem a base do tratamento da dor músculo-esquelética-crônica. Melhoram não apenas o condicionamento cardiovascular ou muscular, como também reduzem o número e a intensidade dos PGs e melhoram as medidas objetivas e subjetivas da dor em doentes com SDM e fibromialgia. (LIN;KAZIYAMA, 2001, p.13).
O trabalho de fortalecimento muscular pode não apenas auxiliar no
tratamento de lesões, mas também prevenir a ocorrência delas, pois com o
fortalecimento da musculatura o suporte da sobre carga torna-se mais eficiente
e torna nulo o risco de fadiga muscular. Assim define Przysiezny (2010):
O indivíduo treinado, fisicamente bem condicionado, que mantém posturas e movimentos corretos durante sua jornada de trabalho, que inclui intervalos apropriados para descanso; terá maior probabilidade em desempenhar suas atividades no trabalho sem prejuízo da sua saúde. (przysiezny, 2010).
EXERCÍCIOS DE FORTALECIMENTO PARA CINTURA ESCAPULAR
Com base em todos os estudos que foram realizados a respeito do
fortalecimento muscular e dos benefícios que o mesmo traz a saúde, como
forma de prevenção e auxiliar no tratamento de doenças, alguns exercícios
específicos tem a função de fortalecer a musculatura da cintura escapular, que
possui músculos com as mais diversas funções, já citadas anteriormente.
Para a realização dos exercícios propostos uma forma de aquecimento
da musculatura se faz necessário, esse aquecimento pode ser particular de
cada indivíduo, e deve envolver preferencialmente alongamentos da
musculatura da cintura escapular, com o intuito de evitar lesões no momento
da prática dos exercícios. Giam e Teh preconizam:
É essencial no mínimo três a cinco minutos de aquecimento antes de uma atividade e o relaxamento depois de cada sessão de exercícios vigorosos, pois a prevenção é particularmente importante, dado que, uma vez o problema (lesão) manifestado, ele tende a recorrer. (Giam e Teh, 1989).
Os exercícios propostos para esta pesquisa são:
Encolhimento de ombro, que tem como objetivo o fortalecimento do
músculo trapézio, responsável por toda a movimentação da escápula, como
elevação, retração e rotação, também trabalha o músculo elevador da escápula
e romboides.
Remada em pé, este exercício é fundamental para o músculo trapézio e
parte do músculo deltoide, que não é relevante para esta pesquisa. O músculo
trapézio é um dos músculos mais utilizados da cintura escapular, tendo grande
relevância em toda a movimentação desse conjunto muscular, também sendo
grandemente atingido pela sobre carga e pelo stress do dia a dia.
Desenvolvimento Dumbell com Pegada Hammer, a diferença desse
exercício para o desenvolvimento dumbell comum é apenas a pegada, essa
mudança na forma de pegar o halter altera a musculatura exigida, neste caso
conseguimos fortalecer o músculo trapézio, parte do peitoral e romboides.
Elevação Lateral e Frontal, esse exercício está mais relacionado ao
músculo trapézio, peitoral e deltoide, porém nesse exercício o fortalecimento do
músculo trapézio está mais relacionado à sua porção superior, na região do
pescoço.
Crucifixo invertido no Banco Inclinado, esse exercício é o oposto do
crucifixo comum, como o próprio nome já diz. É um ótimo exercício para
fortalecer a região da escápula, parte inferior do trapézio e romboides,
músculos trabalhados em sua porção mais próxima à escápula.
Desenvolvimento Arnold, este exercícios trabalha muito bem o músculo
trapézio e peitoral.
Vale salientar que todos os exercícios expostos trabalham outros
músculos além dos citados, porém não são relevantes para a pesquisa
apresentada. As formas de execução destes exercícios estão demonstradas
nos anexos.
METODOLOGIA
Esta pesquisa contou com participantes pertencentes a grupos especiais
por se tratar de Policias Militares, que estão lotados no Batalhão de Policia de
Trânsito, em Curitiba, exercendo funções administrativas e operacionais.
Trata-se de uma pesquisa experimental, através dela foi realizado um
trabalho de fortalecimento muscular com intuito de prevenir lesões e fadiga
através do fortalecimento de musculatura especifica que suporta a sobre carga,
neste caso a musculatura da cintura escapular. A pesquisa teve inicio com a
escolha aleatória de 15 policiais militares, entre homens e mulheres, que
possuem idade entre 25 e 40 anos, lotados no BPTran e que fazem uso do
colete tático. Esta pesquisa não apresentou cálculo do tamanho da amostra por
se tratar de pesquisa não probabilística. Foi dada oportunidade a todos os
policiais que quiseram participar da pesquisa.
Foi realizado questionário individual para avaliar dados relacionados à
condição da muscular utilizada para suportar a sobre carga do colete, bem
como interferências causadas pelo mesmo, idade e tempo de uso do colete de
cada indivíduo.
O trabalho de fortalecimento foi realizado 3 (três) vezes por semana por
um período de 8 (oito) semanas. Este trabalho objetivou principalmente
fortalecer a musculatura da cintura escapular para facilitar o uso do colete, foi
realizada uma série de exercícios específicos para essa região muscular. Após
término do trabalho de fortalecimento foi avaliado o grau de melhora da
musculatura trabalhada, por meio de testes com colete e questionários.
A avaliação dos dados foi feita por meio de análise dos questionários de
cada indivíduo antes e depois dos testes, neles foi avaliado grau de satisfação
dos indivíduos, se houve melhora na qualidade de vida de cada um, se o
treinamento gerou bem estar físico e emocional e se houve aumento de força
da musculatura. Foram criados gráficos e tabelas que demonstraram o nível de
satisfação e melhora na qualidade do trabalho desses policiais.
ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Ao término das 8 (oito) semanas de exercícios novo questionário foi
realizado com os indivíduos e os resultados foram positivos, comprovando que
o fortalecimento da musculatura responsável pela sustentação do colete é
eficaz na redução do desconforto, das dores e na prevenção de lesões.
Foi comprovado também que não existe diferença significativa entre
indivíduos do sexo feminino e masculino no que diz respeito ao desconforto e
dores gerados pela sobre carga, apesar da musculatura da região da cintura
escapular ser menos desenvolvida em mulheres, ambos os sexos avaliados
apresentaram o mesmo desconforto e dores gerados pelo colete.
Tabela 1. Indivíduos relacionados ao sexo, função que exerce e carga horária trabalhada na semana e tempo de serviço.
_______________________________________________________________
Indivíduos Sexo Função Tempo Serviço Carga Horária (anos) (h/s)
Indiv I, F Operac 6 36
Indiv. II M Operac 6 36
Indiv. III M Operac 6 36
Indiv. IV M Operac 8 36
Indiv. V F Operac 12 36
Indiv. VI M Operac 21 36
Indiv. VII M Operac 19 36
Indiv. VIII M Operac 15 36
Indiv. IX M Operac 2 36
Indiv. X M Operac 20 36
Indiv. XI F Adm 6 40
Indiv. XII F Adm 6 40
Indiv. XIII F Adm 8 40
Indiv. XIV M Adm 15 40
Indiv. XV M Adm 20 40
Gráfico 1. Relação do desconforto gerado pelo colete em policiais que trabalham no setor administrativo e no setor operacional.
Dor14%
Desconf.33%
Não sente43%
Administrativo
Dor44%Desconf
50%
Não sente6%
Operacional
Grande parte dos indivíduos que trabalham administrativamente e que
sentem algum tipo de desconforto com o uso do colete retira o mesmo durante
seu período de trabalho, voltando a usá-lo apenas nos deslocamentos para
casa ou em curtos períodos que trabalha em serviço operacional. Ainda assim
os exercícios propostos se mostraram eficientes para esses períodos em que o
uso do colete se faz necessário.
Dentre os indivíduos avaliados que sentem algum sintoma, grande parte
deles apresentou alguma doença característica do uso do colete, como a
Síndrome Dolorosa Miofascial ou a Hérnia de Disco.
Tabela 2. Disfunções apresentadas pelos policiais que apresentaram quadro de dor ou desconforto.
Indivíduo Sintoma Apresentado Disfunção Tratamento Realizado
Indiv. I Dor e Desconforto S.D.M e H.D Med. e fisioterapico
Indiv. II Dor e Desconforto H.D Medicamento
Indiv. III Dor e Desconforto Não Cons. Medicamento
Indiv. IV Desconforto Não Cons. Não realiza
Indiv. V Desconforto Não Cons. Não realiza
Indiv. VI Dor e Desconforto Não Cons Não realiza
Indiv. VII Dor e Desconforto H.D Não realiza
Indiv. VIII Dor e Desconforto H.D Med. Massoterapia
Indiv. IX Dor e Desconforto Não Cons. Medicamento
Indiv. X Desconforto Não Cons. Não realiza
Indiv. XI Desconforto Não Cons Não realiza
Um número pouco significativo dos indivíduos que possuem alguma
disfunção realizou tratamento médico específico como a fisioterapia ou
massoterapia. Grande parte dos indivíduos faz uso de medicamento relaxante
e analgésico como os relaxantes musculares, que tem ação imediata na dor,
porém que mascaram os sintomas.
Não houve relatos de dores causadas pelos exercícios ou de pioras nos
movimentos e uso do colete devido a prática dos exercícios propostos.Gráfico 2. Apresenta os resultados obtidos após as 8 semanas de prática dos
exercícios, através do questionário final.
Sentiram melhora signif39%
Sentiram pouca melhora
7%Não sentiram melhora
7%
Consideraram tempo insuf
46%
Quadro de Melhora do Indi-víduos
Verificou-se que parte significativa dos indivíduos que fazem uso de
colete balístico teve uma diminuição considerável dos sintomas que
apresentava, uma parte pouco significativa não sentiu melhoras consideráveis,
porém grande parte desses indivíduos considerou tempo insuficiente para obter
uma melhora significativa.
Dos indivíduos que não perceberam melhora significativa grande parte
está atualmente na função administrativa, fazendo pouco uso do colete
balístico. Dentre os indivíduos que sentem dor e apresentam alguma disfunção
todos apresentaram melhora significativa e redução considerável da dor, uma
pequena parte deles deixou o uso de medicamentos para relaxar a
musculatura.
CONSIDERAÇÕES FINAISO estudo realizado mostrou-se eficiente no fortalecimento da
musculatura da cintura escapular, através dele foi possível diminuir
significativamente as dores e o desconforto gerados pelo colete balístico.
Além das melhoras físicas, melhoras na qualidade de vida foram
relatadas, como a diminuição do stress e a melhoria da qualidade de sono e
alimentação, bem como a redução completa ou parcial do uso de
medicamentos analgésicos e relaxantes.
Verificou-se ainda que, mesmo para aqueles indivíduos que não
apresentaram nenhum tipo de desconforto ou dor pelo uso do colete, os
exercícios foram de grande importância, pois podem ser considerados
auxiliares no tratamento dos sintomas fortalecendo a musculatura bem como
preventivos, fortalecendo a musculatura da região e melhorando a postura do
individuo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MARIMAR, Grupo. Ergonomia e postura no trabalho. Disponível em: http://www.marimar.com.br/ergonomia/Teoria%20Ergonomia.htm. Acessado em 03 de Outubro de 2011.
MERINO, Eugenio A. D. Efeitos Agudos e Crônicos Causados Pelo Manuseio e Movimentação de Cargas no Trabalhador. Santa Catarina, 1996.
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Smith, Laura K., Weiss, Elezabeth L., Lehmkuhl, Don L. Cinesiologia Clínica de Brunnstrom. São Paulo, 1997.
Watkins, James. Estrutura e Função do Sistema Musculoesquelético. Porto Alegre, 2001.
Yeng, Lin T., Kaziyama, Helena H. S., n Teixeira, Manoel J. Sindrome Dolorosa Miofascial. São Paulo, 2001.
1. ANEXOS
ANEXO A - COLETE BALÍSTICO DE USO DISSIMULADO
ANEXO B – COLETE BALÍSTICO TÁTICO
ANEXO C – COLETE BALÍSTICO TÁTICO ESTILO SUSPENSÓRIO
ANEXO D– QUESTIONÁRIO PRÉ-TESTE
1. Idade20 25 anos 26 a 30 anos 31 a 35 anos 36 a 40 anos
2. Sexo
Feminino Masculino
3. Tempo de Serviço
5 anos 10 anos 15 anos 20 a 25 anos
4. Carga Horária Semanal
30h 35h 40h
5. Realiza Algum Tipo de Atividade Física? Quantas Vezes por Semana
Sim Não 2 vezes 3 vezes 4 ou mais vezes
6. Para quais Grupos Musculares
Somente Aeróbico MMI MMS MMS e MMI
7. Sente Algum Desconforto ou dor com o Uso do Equipamento de Segurança
Sim Não
8. Já teve algum problema muscular ou na coluna pelo uso do equipamento
Sim Não Qual? ______________________________
9. Em que região das costas sente maior dor ou desconforto
Ombros Pescoço Coluna Lombar
10.Já realizou algum tipo de tratamento
.
Sim Não Qual? ______________________________
ANEXO E– QUESTIONÁRIO PÓS-TESTE
1. Por quanto tempo esteve seguindo os exercícios desse teste
1 a 2 semanas 3 a 4 semanas 5 a 6 semanas mais de 6 semanas
2. Quantas vezes por semana seguiu os exercícios
Menos de 2 2 a 3 vezes mais de 3 vezes
3. Permaneceu fazendo uso de colete durante o período do teste
Sim Não
4. Com a prática dos exercícios aplicados você sentiu ao usar o colete?
Melhora Piora Não sentiu diferença
5. Se sentia alguma dor ao usar o colete, deixou de sentir com os exercícios
Sim Não Pouco
6. Os exercícios propostos
Amenizaram o desconforto Amenizaram as dores Melhoraram a postura de serviço Não alteraram nada
7. Os exercícios praticados trouxeram outros benefícios além dos citados
Não Sim. Qual?__________________________________
8. Pretende continuar praticando esses exercícios de fortalecimento
Sim Não
.
ANEXO F – EXERCÍCIOS DE FORTALECIMENTO
1. Encolhimento de Ombro: Para executá-lo, a pessoa deve permanecer ereta, segurando pesos (halteres) e elevando os ombros o mais alto possível, e posteriormente abaixando os ombros, sem dobrar os cotovelos.
2. Remada em Pé: Este exercício pode ser realizado com barra ou no Cross over, neste caso específico foi utilizado o Cross. Para isso a barra do Cross deverá estar presa ao último nível, na altura dos pés. Como os pés paralelos e levemente afastados deverá puxar a barra até a altura do queixo e soltá-la novamente.
3. Desenvolvimento Dumbell com Pegada Hammer: Este exercício é uma variação do Desenvolvimento Dumbell, o que muda é a pegada, e consequentemente o músculo envolvido. O desenvolvimento Dumbell comum deve ser executado sentado em um banco, começando com os halteres fixos no nível do ombro, palmas das mãos voltadas para frente. Impulsionar verticalmente para cima os halteres, até que ocorra bloqueio dos cotovelos. Abaixar os halteres de volta, até tocarem os ombros. Esse exercício com Pegada Hammer vai alterar um pouco o movimento, fazendo com que ao baixar os halteres o movimento simule um martelo, com as palmas das mãos paralelas.
4. Elevação lateral e Frontal: A posição inicial é simples, com um haltere em cada mão e com as mãos em supinação (voltadas ao corpo), e os halteres de encontro às pernas. A partir daí, deve-se elevar as duas mãos simultaneamente até a altura média do queixo, retornando em seguida a posição inicial. Para a elevação lateral o princípio é o mesmo, porém ao invés
de elevar as mãos à frente do rosto, elas devem ser elevadas na lateral do corpo.
5. Crucifixo Invertido no Banco Inclinado: Solte os braços ao lado do corpo, unindo as mãos, cada uma com um halter, na frente do corpo;O movimento será de erguer os braços, abrindo o peito, com o cotovelo estendido durante todo o movimento; O peso deve seguir a linha lateral do seu braço, cuidado para não levar muito para frente ou para trás. Suba até a altura de seus ombros e desça novamente, repetindo o movimento.
6. Desenvolvimento Arnold: Sentado com os braços posicionados em frente ao corpo e com a articulação do cotovelo em 90°, realiza um movimento abrindo os braços ao mesmo tempo elevando até encostar um halter no outro acima da cabeça, com os braços completamente esticados.