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HISTÓRIA PASSADO PRESENTE BRASIL COLÔNIA Quinta Série do Autoras: Sonia Irene do Carmo e Eliane Couto. Editora atual Segunda Edição SUMÁRIO: Aprenda a Estudar...2 Unidade I: Capítulo I: A história e o tempo...5 Quem conta essa história..7 Unidade II: Capítulo 2: - Povoando o mundo, construindo a história..13 Capítulo 3: - África: um rio continente...19 Capítulo 5: - Os índios do Brasil...28

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HISTÓRIA PASSADO PRESENTE

BRASIL COLÔNIA

Quinta Série do

Autoras: Sonia Irene do Carmo e Eliane Couto.

Editora atual

Segunda Edição

SUMÁRIO:

Aprenda a Estudar...2

Unidade I:

Capítulo I:

A história e o tempo...5

Quem conta essa história..7

Unidade II:

Capítulo 2: - Povoando o mundo, construindo a história..13

Capítulo 3: - África: um rio continente...19

Capítulo 5: - Os índios do Brasil...28

Unidade III

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Quem eram e de onde vieram...34

Capítulo 6: - A Europa feudal...36

Capítulo 7: Os reinos ibéricos..40

Capítulo 8: Por mares nunca dantes navegados...43

Unidade IV:

Os brancos chegaram...50

Capítulo 9: O que os portugueses queriam?...52

Capítulo 10: Os brancos na terra dos índios...59

Unidade V

Açúcar: o ouro branco da colônia....67

Capítulo 11: Da África canaviais: um caminho sem volta...69

Capítulo 12: Nas terras do açúcar...76

Capítulo 13: Um Brasil holandês?...81

Unidade VI

A colônia cresce e aparece...88

Capítulo 14: A conquista do Norte e do Nordeste...90

Capítulo 15: São Paulo: porta de entrada para os sertões...94

Capítulo 16: A conquista do Sul...99

Unidade VIII

A colônia: salvação do reino...104

Capítulo 17: A Coroa aperta o cerco contra a colônia...106

Capítulo 18: Realiza-se o velho sonho...110

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Unidade VIII

Liberdade ainda que tardia...120

Capítulo 19: O que vai pelo mundo...122

Capítulo 20: Todos os povos têm direito à liberdade..127

Capítulo 21: O Brasil vira reino...133

Capítulo 22: Ou ficar a pátria livre...139

Bibliografia...144

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UNIDADE I

A HISTÓRIA E O TEMPO

Na passagem pela vida, os homens de todos os tempos deixaram sinais de sua presença. Mesmo os nossos mais antigos antepassados fabricaram objetos de pedra – encontrados pelos pesquisadores em vários lugares da Terra. Esses objetos nos revelam como viviam.

Muito tempo depois, os grupos humanos pintaram cenas de caça em cavernas, que ainda podem ser vistas. (Figura1.). As ruínas de templos, monumentos, túmulos e palácios comprovam a existência de sociedades há milhares de anos. Com a invenção da escrita, as próprias palavras de pessoas que viveram há muito tempo podem ser conhecidas atualmente.

Estudar História é trazer o passado para o presente, é procurar as pistas que os homens do passado deixaram, para saber como viveram, o que fizeram, o que pensaram, as obras de arte e documentos que resistiram ao templo. Também podemos reencontrá-los nos escritos dos historiadores. Conhecer esse passado é importante para entender o mundo em que vivemos.

Figura 1. Esta pintura de animais encontrada na região do Saara (junto às fronteiras das atuais Líbia e Argélia) comprova a passagem de nossos antepassados por cavernas. Através dela podemos concluir que o pastoreio era uma atividade importante na vida dos povos que habitavam aquela região.

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O QUE É IMPORTANTE APRENDER:

Durante o estudo desta unidade, procure concentrar-se nos seguintes objetivos:

- Compreender o que é uma fonte histórica e qual é sua importância para o conhecimento da história.

- Saber em que ano começa e termina cada século, antes e depois de Cristo.

- Saber a que século pertence um ano qualquer, antes e depois de Cristo.

- Saber como elaborar linhas do tempo registrando corretamente os fatos correspondentes à determinadas datas.

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Capítulo 1: Quem conta essa história?

Todos os povos da Terra sempre se preocuparam em relembrar os fatos que ocorriam na vida de seu grupo. Aqueles que não têm escrita transmitem essas histórias oralmente. Nesse caso escolhem uma criança ou um jovem, que fica responsável por memorizar a história, palavra por palavra, a outra pessoa, que será o próximo guardião da memória de seu povo. E assim, geração após geração, guarda-se cuidadosamente a lembrança do passado.

Mas claro que a memória humana tem limites. Passadas algumas centenas de anos, partes da historia mais preciso dos fatos e, por isso, ainda hoje podemos reler palavras que foram escritas há milhares de anos. (Figura 1.)

O historiador: guardião da memória humana.

Por causa da preocupação em conservar a lembrança do que aconteceu, surgiram os primeiros historiadores, há milhares de anos, na antiga Grécia. Eles também. Como os antigos contadores de histórias, se encarregaram de transmitir a memória do passado para as gerações mais novas.

Figura 1. O papiro, produzido a partir de uma planta própria das margens do Rio Nilo, na África, foi um dos materiais usados no passado para se escrever. Na foto aparece um papiro do século IV.

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Os historiadores são, portanto, os guardiões da memória da humanidade. Seu trabalho é descobrir o máximo possível a respeito dos fatos que já aconteceram, para registrá-los e, assim, impedir que sejam esquecidos.

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Com essa finalidade, os historiadores procuram documentos, objetos, construções, relatos orais, desenhos, enfim, todas as pistas deixadas pelos homens do passado e que são chamadas fontes históricas.

Livros, jornais, inscrições escritas.(Figura) Construções, utensílios, armas, objetos de arte são fontes históricas não escritas. (Figura 2). Tanto umas como outras são de grande valor para o trabalho dos historiadores, pois lhes permitem conhecer a maneira como viviam e pensavam os povos estudados.

Figura 2: As construções também constituem fontes históricas, pois fornecem inúmeras informações ao historiador. Na foto, as ruínas do templo de Cartonem, em Atenas (Grécia), construído no século V a.C.

Dominar o tempo.

Os historiadores , quando buscam no passado os fatos que ocorreram, precisam se orientar no tempo. Para entender o que aconteceu na história, é necessário saber o que veio antes o que veio depois.

Mas essa necessidade de se orientar no tempo não existe apenas para a ciência da História. Desde os tempos mais antigos, os homens se deram conta da existência do Tempo: perceberam a claridade (o dia) e a escuridão (a noite), as épocas de calor e as de frio, as de chuva e as de seca.

Porém, só depois que a humanidade começou a praticar a agricultura é que o controle sobre o tempo se tornou uma necessidade. Era preciso prever quando viriam as chuvas, as enchentes dos rios e as secas, para não se correr o risco de perder as plantações. Por isso, não foi por acaso que a invenção do primeiro calendário se deu no Egito antigo, uma civilização que floresceu há milhares de anos onde a principal atividade era a agricultura.

O rio Nilo, que corre através do território egípcio, enche a transborda numa determinada época do ano, inundando uma larga faixa de terra. Por isso, era necessário prever quando iriam antes que as águas destruíssem tudo.

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Os funcionários dos reis egípcios mediram durante muito tempo a largura da faixa de terra que ficava inundada e perceberam que ela atingia a maior medida exatamente a cada 365 dias. Esse período de tempo passou a constituir a ano oficial dos egípcios antigos (Figura 3) Mais tarde, observando os céus, os sábios do Egito descobriram que, um pouco antes de se iniciarem as enchentes, uma das estrelas do firmamento aparecia, exatamente numa certa posição. Era ela que anunciava as inundações. Com isso, tornou-se possível organizar melhor a agricultura, pois todas as tarefas (semear, cuidar da plantação e colher) podiam ser feitas no tempo certo.

Figura 3. As águas do Rio Nilo invadem uma larga faixa de terra das margens. A medição da largura da terra inundada permitiu estabelecer o intervalo de tempo que transcorria entre uma enchente e outra.

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Figura 4.

Algumas importantes invenções e descobertas dos últimos 600 anos: XV: 1455 Invenção da Imprensa moderna (tipos móveis); XVI: 1600 Invenção do microscópio, 1608 Invenção do telescópio; XVIII 1729: Descoberta da condução de eletricidade; XIX 1826 Invenção da fotografia; XX 1928 Descoberta da penicilina; 1969 Chegada do homem à Lua.

Cada povo tem seu tempo.

Os egípcios contavam o tempo a partir do reinado de cada família real, ou dinastia.

Os gregos antigos começaram a contar o tempo a partir da primeira Olimpíada, realizada na Grécia há quase 2.800 anos. O calendário judeu conta o tempo a partir da saída dos judeus do Egito, guiados por Moisés, há mais de 5.700 anos. Os romanos antigos contavam o tempo desde a fundação da cidade de Roma, há cerca de 2.750 anos.

Os cristãos contam o tempo a partir do nascimento de Cristo. O calendário cristão, que nós usamos, é também seguido, atualmente, na maioria dos países do mundo.

-A linha do Tempo.

Para nos orientar, podemos utilizar uma linha do tempo, onde se registram fatos ocorridos e qualquer época. Veja o exemplo (Figura 4), onde registramos alguns fatos importantes dos últimos 600 anos.

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-Anos e séculos: antes e depois de Cristo

O ano 1 da Era Cristã é o ano do nascimento de Cristo. Depois de 100 anos, completou-se o século I. O século II começa no ano de 101 e termina no ano 200. E assim por diante. Veja a linha do tempo (Figura 5), onde estão registrados sete séculos depois de Cristo, mostrando o primeiro e o último ano de cada século.

Parar datar os fatos ocorridos antes do nascimento de Cristo, contamos os anos em ordem decrescente. O primeiro ano antes de Cristo é o ano a.C. (significa antes de Cristo). No ano 100 anos do nascimento de Cristo começa o século I a.C. Observe a linha de tempo (Figura 6)

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Onde aparecem registrados sete séculos antes do nascimento de Cristo, com os anos em que começa e termina cada século.

Para saber a que século pertence um ano qualquer, faz-se um cálculo simples. Por exemplo, o ano 956 corresponde a 900 anos, mais 56 anos. 900 anos são nove séculos, mas, como ainda temos mais 56 anos, estes já estão no século seguinte, isto é, no décimo século. Assim, o ano 956 pertence ao século X. (Costuma-se numerar os séculos com algarismos indo-arábicos’.) O cálculo é válido tanto para o tempo anterior a Cristo como para o posterior. Veja: o ano 1740 a.C. pertence ao século XVIII a.C.; o ano 1740 pertence ao século XVIII.

ATIVIDADES.

Atividade I – Ficha de leitura.

Na parte inicial do livro, à página 3, você encontrará as instruções para realizar este tipo de atividade, isto é, a ficha de leitura.

Faça a ficha de leitura do Capítulo 1, baseando-se no roteiro a seguir:

1. A transmissão da história antes do aparecimento da escrita.

2. O papel do Historiador.

3. As fontes de informação utilizadas pelos historiadores para a realizar seu trabalho.

4. A relação entre a prática da agricultura e a necessidade de controlar a passagem do tempo.

Atividade II – Estudo de outras fontes.

Texto Complementar:

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Infelizmente todos os documentos são deterioráveis. No decorrer dos séculos em número considerável tem sido destruído, e é freqüente dispormos apenas de fragmentos quando se pretende tratar um período longínquo. Os efeitos naturais do tempo – particularmente umidade e ar seco em demasia – são, antes de tudo, os responsáveis. A manipulação acaba também por provocar rasgões [...] e até o desaparecimento de certas folhas. Além disso, o papel atual, feito de pasta de madeira, amarelece rapidamente e torna-se quebradiço; as tintas vulgares, hoje utilizadas, são de má qualidade; [...] Os nossos escritos estão destinados – e isto, se não houver ainda a intervenção decisiva de larvas de insetos e de rataria – a desaparecer no espaço de alguns séculos! (Salmon, Pierre. História e crítica, p. 64).

1) Que problemas os enfrentam quando buscam documentos muito antigos?

2) Quais são as causas da destruição dos documentos históricos?

3) Que características dos documentos históricos da atualidade os tornam frágeis e destinados à destruição?

4) Além do que está indicado no texto, que outros fatores podem provocar a destruição ou o desaparecimento de documentos históricos?

Sugestão de atividades complementares:

Atividade III

1) Indicar:

a) há quantos séculos Cristo nasceu;

b) o século em que vivemos;

c) o ano em que terá início o século XXI.

2) Calcular o século a que pertencem os seguintes anos: 632 – 1170 – 203 – 1900 – 312 a.C. – 2140 a.C. – 809 a.C.

3). Calcular há quantos séculos ocorreram os fatos abaixo:

a) Primeira Olimpíada, em 776 a.C.

b) Assassinato de Júlio César, governante de Roma, em 44 a.C.

c) Chegada dos portugueses ao território brasileiro, ano de 1500.

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Atividade IV – Em grupos.

Esta atividades tem por objetivo a montagem de um arquivo de fontes históricas da classe.

a) Cada aluno deverá trazer para seu grupo três documentos para formar um arquivo de fontes históricas, relativas ao momento atual (registros escritos, pequenos objetos, moedas, etc.).

b) Os grupos deverão organizar os documentos trazidos, colando-os, quando for possível, em folhas de caderno ou papel sulfite. As folhas serão depois colocadas em um envelope de plástico.

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c) O professor receberá todos os envelopes e os arquivará uma pasta, que será guardada em um armário da classe ou em outra parte da escola. Objetos maiores podem ser guardados em caixas.

Observação: Sugere-se que ao final do Primeiro Grau os alunos da classe (que ainda se encontrarem na mesma escola) revejam o arquivo, comentando o que mudou nos anos que se passaram.

Atividade V.

1) Pesquise fatos importantes ocorridos nos últimos dez anos, em jornais, revistas ou entrevistando pessoas conhecidas.

2) Registre esses fatos, indicando o ano em que ocorreram.

3) Monte uma linha do tempo referente aos fatos colhidos.

INSTRUÇÕES:

Linha do Tempo:

- Desenhe, com o auxílio de uma régua, uma linha horizontal ou vertical (a linha do tempo também pode ser feita verticalmente).

- Determine a medida correspondente a cada ano, em centímetros, marcando na linha os tracinhos que separam os anos.

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- Registre os fatos, na direção dos anos correspondentes a eles. Ligue com um traço os fatos às datas.

ENCERRAMENTO DA UNIDADE

Atividade I – Em grupos.

Discutir os objetivos apresentados no início da unidade sob o título: “O que é importante aprender”. Redigir um pequeno texto sobre cada um dos temas.

Atividade II

Nesta atividade, você fará o trabalho de um historiador.

1) Procurar em caso objetos, fatos ou documentos antigos.

2) Peça às pessoas da família que informem o mais detalhadamente possível a história de cada um desses objetos, fotos ou documentos.

3) Escreva as informações obtidas.

4) Cada aluno levará para a classe os objetos, fotos e documentos que estudou, para que se organize uma exposição. Cada objeto exposto deve ser acompanhado de uma etiqueta com as explicações a respeito dele, para informação do público que visitar a exposição.

PREPARAÇÃO PARA A PRÓXIMA UNIDADE.

Esta atividade tem objetivo o conhecimento dos espaços geográficos relacionados com a unidade seguinte.

Lembrete:

O mapa a seguir chama-se _planisfério e mostra todos os continentes e águas do planeta Terra. Observa as cores: azul indica as águas, e o amarelo, as terras. As grandes massas de terra são os continentes: América, Ásia, Europa, África, Austrália e Antártica.

A linha horizontal, traçada no planisfério de um lado ao outro, é o equador. Ela serve para indicar a separação entre duas metades ou dois hemisférios da Terra: o hemisfério sul. A linha vertical é o meridiano de Greenwich (todas as linhas que se traçam verticalmente no

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planisfério são chamadas meridianos) e também divide o planisfério em dois hemisférios: o hemisfério leste ou oriental e o hemisfério oeste ou ocidental.

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Em qualquer lugar do planeta podemos nos orientar, determinando o norte, o sul, o leste e o oeste. Também no planisfério ou em qualquer mapa é possível localizar o norte, o sul, o leste e o oeste. Por exemplo, tomando como referência o oceano Atlântico, encontramos, a oriente ou leste dele, os continentes europeu e africano, e a ocidente ou oeste, o continente americano.

Analisando o planisfério e consultando também um atlas, responda:

1) Qual o oceano que está a leste do continente americano?

2) Qual o oceano que está a oeste da América?

3) Quais as partes em que se divide o continente americano?

4) Localize no planisfério o mar Mediterrâneo.

a) Esse mar banha quais continentes?

b) Como se chama a passagem entre o mar Mediterrâneo e o oceano Atlântico?

c) Indique o nome de uma ilha situada na parte oriental do mar Mediterrâneo.

5. Localize o mar Vermelho.

a) Qual é a península banhada por esse mar, a leste?

b) Qual é o continente banhado por esse mar, a oeste?

6. Qual é o rio que atravessa grande parte do continente africano, correndo de sul para norte e desaguando no mar Mediterrâneo?

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7) Como se chama o deserto que se situa na parte norte do continente africano?

8) Localize o continente europeu. Ao sul desse continente projetam-se três penínsulas para o mar Mediterrâneo. No planisfério acima, a de número 1 é a península Ibérica, a de número 2 é a Itálica é a de número 3 é a Balcânica?

a) Qual delas é a oriental?

b) Qual é a central?

c) Qual é a ocidental?

d) Qual oceano banha a península Ibérica?

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UNIDADE II

Povoando o mundo, construindo a história.

O homem surgiu na Terra há cerca de 3 ou 4 milhões de anos. Desde então, a população humana aumentou e povoou o nosso planeta, aprendendo a conviver com os mais variados problemas e desafios.

Comparado com os outros animais, o ser humano é muito frágil: não possui garras afiadas, nem dentes grandes, não é veloz; enfim não dispõe de defesas naturais para vencer os obstáculos que a natureza lhe apresenta. Mas, ao contrário dos outros animais, o homem aprendeu a fabricar ferramentas e armas (Figura 1). Assim, sem Ter defesas naturais, os seres humanos construíram artificialmente suas defesas. Inventaram veículos que lhes permitem percorrer enormes distâncias em pouco tempo; derrubaram matas para fazer plantações, construíram cidades e impérios. Tornaram-se donos do planeta, e até ameaçam destruí-lo.

Figura 1: O homem, ao contrário dos outros animais, criou instrumentos para dominar a natureza. Na foto, uma colheitadeira de cana em Jaboticabal, São Paulo.

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O QUE É IMPORTANTE APRENDER

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Durante o estudo desta unidade, procure concentrar-se nos seguintes objetivos.

- Conhecer o modo de vida dos coletores.

- Descrever a vida dos coletores – caçadores.

- Indicar o caminho pelo qual alguns grupos humanos chegaram À América.

- Explicar como os primeiros reis mantinham seu poder e sua riqueza.

- Explicar por que surgiu a escravidão.

- Explicar como se formaram os reinos e os impérios africanos.

- Identificar os produtos africanos que participavam do comércio entre diferentes regiões da África.

- Descrever as principais características dos diferentes tipos de sociedade que se desenvolveram na América.

- Explicar por que entre os índios brasileiros coletores – caçadores e horticultores.

- Explicar por que entre os índios brasileiros não havia ricos nem pobres.

- Comparar a sociedade indígena com a sociedade brasileira atual, apontando as diferenças entre ambas.

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CAPÍTULO 2

Da África ao mundo.

Hoje em dia quase todas as terras do nosso planeta estão ocupadas pelo homem. Algumas têm mais gente, outras, menos. A ocupação dos continentes pelos seres humanos levou milhares de anos. Somente a Antártica ainda não foi habitada, porque nesse continente o frio é tão intenso que não é possível permanecer lá por muito tempo.

Mapa: Áreas de origem do homem e sua expansão pela terra.

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Neste capítulo, vamos conhecer os tempos mais antigos da história da humanidade, acompanhado o caminho que os grupos humanos fizeram para povoar o mundo.

_ Tudo começou na África:

Os antropólogos (cientistas que pesquisam a origem e a evolução do homem) afirmam que nossos primeiros antepassados surgiram no sudeste da África, cerca de 3 ou 4 milhões de anos atrás (Figura 1). Eles descendiam de uma espécie animal do gênero das primatas, que também deu origem aos macacos atuais.

Inicialmente, os grupos humanos viviam com o que encontravam na natureza: frutos, raízes, caules de vegetais. Só se alimentavam de carne quando conseguiam pegar pequenos animais ou quando os encontravam mortos.

Viviam em bandos de cerca de vinte ou trinta indivíduos e eram nômades, isto é, deslocavam-se de região para outra, para evitar que os alimentos disponíveis (vegetais ou animais) se acabassem.

Utilizando pedras, ossos e pedaços de pau, fabricavam instrumentos muito simples, usados na coleta de vegetais, para cavar, cortar e raspar. Cada geração ensinava o que tinha aprendido aos mais jovens, e estes aumentavam ainda mais essa herança de conhecimentos, inventando novas maneiras de fazer utensílios e objetos.

O tempo passou. Muito tempo: mais ou menos 1 milhão e 500 mil anos. Alguns grupos aperfeiçoaram seus artefatos, produzindo armas como arcos, flechas e lanças para caçar animais maiores. Esses grupos se tornaram coletores – caçadores, isto é, continuavam fazendo a coleta de vegetais, mas também praticavam a caça a pesca. E eram nômades (Figura 2). Ao mesmo tempo, a população humana ia aumentado, ocupando outras áreas do planeta.

Da África à Ásia e à Europa.

Depois de milhares de anos, alguns grupos atingiram a Ásia e a Europa (Figura 2). Por volta de 100 mil anos atrás, grande parte do hemisfério norte ficou recoberta de gelo. (Esse fenômeno, conhecimento como gladiação, já havia ocorrido em nosso planeta em épocas remotas).

Para se proteger do frio, nossos antepassados se abrigaram em cavernas, fincando estacas no chão e cobrindo-as com peles e ramos. A presença do homem é comprovada pelas pinturas de animais e cenas de caça que até hoje podem ser vistas nesses locais (Veja p.5).

A caça, nessa época, tornou-se muito importância: dela dependia não só o alimento como também o agasalho, feito com as peles dos animais ( mamutes, renas, veados, cavalos). (Figura 3).

O fogo não podia faltar em nenhum acampamento, onde havia sempre uma fogueira acesa.

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Figura 3: Na era Glacial, o mamute foi uma das principais presas dos caçadores, o que pode Ter contribuído para a extinção desses animais.

Nem ricos, nem pobres.

Durante milhares de anos, esses nossos antepassados viveram em comunidades onde havia nem ricos nem pobres. O território que habitavam pertencia a todos os membros do grupo. O trabalho era dividido por sexo: os homens caçavam, pescavam, fabricavam as armas; as mulheres faziam coleta de vegetais.

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Assim, o trabalho das mulheres era tão importante quanto os dos homens.

Tudo o que se conseguia era repartido entre os membros do grupo e ninguém se preocupava em acumular riquezas, porque sabia que no dia seguinte a natureza ali estava para fornecer generosamente tudo de que precisavam para viver.

Rumo à América.

Provavelmente, durante a gladiação alguns grupos humanos passaram da Ásia para a América. Ainda não se sabe exatamente como conseguiram realizar essa travessia. O mais provável é que tenham passado pelo local onde hoje fica o estreito de Bering, que separa o continente americano da Ásia (Figura 1). Na época da gladiação é possível que ali tenha se formado uma passagem de terra firme, que serviu de caminho para os primeiros habitantes da América. As pesquisas mais recentes indicam que essa travessia pode Ter ocorrido há cerca de 100 mil anos.

Os descendentes desses grupos foram, no decorrer de milhares de anos, se espalhando pela América do Norte, Central e do Sul.

Navegando para a Austrália.

O último continente povoado pelo homem foi a Austrália. Talvez por volta de 30 mil anos atrás. Nessa época os homens já haviam inventado as primeiras embarcações, e alguns grupos, navegando de ilha em ilha, partiram do sudeste da Ásia e atingiram a Austrália (Figura 1).

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A agricultura: mais alimento, mais gente.

Já existiram agrupamento humanos espalhados por todo o planeta quando se iniciou a prática da agricultura.

Vamos ver agora como foi isso. Há cerca de 20 mil anos, o clima da Terra começou a mudar. A temperatura se elevou lentamente, e o gelo, acumulado durante milhares de anos, deslocou-se das regiões montanhosas para os terrenos mais baixos e derreteu, formando lagos.

A maior parte dos habitantes dessas regiões se fixou nas margens dos lagos, onde os agrupamentos humanos contavam com uma fonte inesgotável de alimentos (peixes). Assim, podendo permanecer no mesmo local, formaram as primeiras aldeias, isto é, povoados habitados por um pequeno número de moradores (figura 4). Isso aconteceu na Europa e também na América (nos lagos de México e na foz de pequenos rios deságuam no Pacífico, descendo da cordilheira dos Andes).

No decorrer de milhares de anos, na terra ocupada por esses agrupamentos sedentários (que permaneciam no mesmo local), foram se acumulando restos de vegetais e peixes usados na alimentação, restos de fogueiras, etc., que alteraram a composição do solo.

Assim, a Terra se tornou extremamente fértil. Com o tempo, os seres humanos descobriram que podiam semear os vegetais, em vez de esperar que crescessem espontaneamente na terra. Com isso, conseguiram muito mais alimentos.

Em vários locais do planeta, entre 10 e 5 mil anos atrás surgiram os primeiros povos agricultoras.

Figura 4: Nos lagos, ou às margens dos rios, construíram-se aldeias suspensas sobre palafitas. Esse tipo de construção ainda existe em muitos lugares, como na ladeia Fadiuth, no Senegal (África), mostrada na foto.

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Primeiro cidades, primeiros reis

Foi na região do Oriente Médio que se construíram as primeiras cidades, isto é, aglomerados maior concentração habitacional do que as aldeias, e onde as atividades humanas são mais diversificadas. Isso aconteceu aproximadamente há 5 mil anos.

Foi na mesma época que surgiram os primeiros reis. Os reis mandaram construir enormes e luxuosos palácios. Governavam seus reinos com a ajuda de numerosos funcionários, que administravam obras públicas e cobraram impostos da população. Formaram também os primeiros exércitos, para defender seus territórios e guerrear com os outros reis, para aumentar suas riquezas e seu poder.

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Com as guerras, começou também a escravidão. Os vencedores escravizavam os derrotados e os levavam para o seu reino, onde eles eram obrigados a trabalhar em obras públicas, minas, pedreiras ou como servidores dos palácios reais. (Figura 5)

Figura Na construção dos monumentos e palácios da Antigüidade utilizaram- se milhares de trabalhadores, muitos deles escravos. Nos fragmentos de um palácio da antiga Mesopotâmia, mostrado na foto, aprecem trabalhadores transportando madeira.

ATIVIDADES.

Atividade 1 –Ficha de leitura do Capítulo 2, baseando-se no roteiro a seguir:

1. Continente em que surgiram os primeiros antepassados do homem.

2. Modo de sobrevivência dos primeiros agrupamentos humanos.

3. Razão que levava nossos primeiros antepassados a se deslocar constantemente de um lugar para outro.

4. Relação entre o aperfeiçoamento das armas e ferramentas e a caça de animais de porte maior.

5. Soluções encontradas pelos grupos humanos para sobreviver nas regiões atingidas pela glaciação.

6. A passagem de grupos humanos da Ásia para a América.

7. Relação entre o fim da glaciação e o surgimento dos primeiros grupos humanos sedentários.

8. Diferenças entre uma cidade e uma aldeia.

9. O surgimento dos reis, das guerras e da escravidão.

Atividade II – Estudo de outras fontes.

Fotografia:

Reconstituição de uma aldeia primitiva, montada na Inglaterra, com a finalidade de estudar as condições de vida nesse tipo de agrupamento.

Foto: uma aldeia cercada por cerca e algumas casas com alguns celeiros para abrigar os animais.

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Descreva o agrupamento, considerando os seguintes aspectos:

a) tamanho;

b) número de habitantes e número de pessoas que poderiam viver nele;

c) materiais usados na construção das habitações;

d) forma de proteção do espaço da aldeia.

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CAPÍTULO 3

África: um rico continente.

Os grupos humanos que povoaram a África tiveram um desenvolvimento histórico muito variado. Alguns continuaram sobrevivendo da coleta e da caça, e ainda hoje é possível encontrar coletores – caçadores em algumas áreas do continente. É o caso, por exemplo, dos pigmeus, que habitam uma região de densas florestas, no centro da África.

Mas, no nordeste do continente, desenvolveu-se há cerca de 5 mil anos uma das mais antigas civilizações da História, a egípcia (Figura 1).

No passado, os mercadores egípcios, grupos humanos que viviam como coletores – caçadores aprenderam as técnicas de cultivo e passaram a praticar a agricultura, o pastoreio e a viver em aldeias.

Até hoje, em vários países do continente, grande parte da população habita pequenas aldeias, cada uma dirigida por um chefe (Figura 2).

Figura 2: Vista aérea de uma pequena aldeia na África.

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Mas esses agrupamentos não são isolados uns dos outros. Seus membros consideram-se participantes de conjunto maiores, as tribos, que são formadas por várias aldeias.

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Antigamente, em muitas regiões da África, as tribos se uniram, dando origem a grandes reinos e impérios.

Os impérios da África.

Os primeiros grandes reinos surgiram ao sul do Egito (no Sudão) (Figura 1) Sob sua influência, inúmeros outros reinos se formaram em diferentes regiões do continente (Figura 3)

Os reis africanos governavam conjuntos de numerosas, que lhe entregavam grande parte de seus produtos como pagamento de impostos. Com isso, os governantes e uma camada de altos funcionários garantiam seu sustento e apoderavam-se de imensas riquezas, destinadas ao comércio com outras regiões, principalmente com o Sudão: marfim, peles, plumas de aves, ébano, ouro, cobre, sal, prata, etc. (Figura 4)

Os Mulçulmanos Na África.

Um dos povos que tiveram grande influência sobre os destinos da África foram os árabes. (Localize a Arábia no mapa, na figura 3). No século VII eles fundaram a religião islâmica, que se baseava na crença em um único deus – Alá – e nos ensinamentos de seu profeta, Maomé.

Os seguidores do islamismo, já no século VIII, começaram a guerrear com os povos vizinhos, com o objetivo de expandir sua crença. Assim, chegaram a formar um grande império, que incluía todo o norte da África.

A influência dos árabes se estendeu por grande parte do território africano. No reino da Etiópia, por parte do território africano. No reino da Etiópia, por exemplo, os mercadores mulçumanos passaram a controlar o comércio, enquanto a religião muçulmana ganhava mais e mais adeptos.

O comércio dominado pelos árabes ligava a costa oriental da África ao interior e chegava até o sul do continente (Figura 5).

Figura 4 As técnicas de trabalho em bronze alcançaram um alto grau de desenvolvimento nos reinos africanos, como mostra este alto-relevo de Benin, no qual aparece o rei, rodeado, por seus guerreiros.

Porém, foi no norte do continente africano que os árabes se estabeleceram mais solidamente, introduzindo sua religião, seus costumes e dominando os povos locais.

Entre estes, viviam, nas bordas do deserto do Saara, grupos conhecidos como berberes, que eram acostumados a percorrer as rotas do deserto, mantendo contatos comerciais com os reinos negros que foram se formando, sucessivamente, mais ao sul (Figuras 3, 5 e 6).

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Figura 5: Rotas mulçumanas na África.

Figura 6: Como no passado, os caravaneiros muçulmanos cruzam o deserto do Saara, parando nos oásis para repousar e obter água.

OS berberes se converteram ao islamismo e, graças a eles, a influência muçulmana também se estendeu a todas as regiões que alcançavam. Nelas, as cidades cresceram e fundaram-se as escolas, onde se formava a camada social dominante dos diversos reinos. (Figura 7).

Figura 7: A grande mesquita (templo religioso mulçumano) na cidade de Djénné, no Mali (ao sul do Saara, na parte ocidental do continente), atesta a forte influência muçulmana na África. No século XIV esse reino tornou-se um importante centro comercial e cultural, atraindo sábios e artistas árabes.

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Nas rotas comerciais, que atravessa, várias regiões africanas, uma das mercadorias transportadas eram os escravos.

_A escravidão na África.

Na guerras que tratavam entre si, os povos africanos aprisionavam os vencidos, que se tornavam escravos. Por isso, a escravidão já existia na África, sobretudo no Sudão, desde épocas muito antigas.

Mas os escravos constituíram apenas mão-de-obra auxiliar das comunidades e, depois de algum tempo, passavam das comunidades e, depois de algum tempo, passavam a fazer delas, como se fossem seus verdadeiros membros. Nessas condições, os escravos não podiam ser vendidos e, em alguns reinos, seus filhos já nasciam livres, passando a fazer da família dos senhores de seus pais.

Com o desenvolvimento dos grandes reinos, os escravos transformaram-se em uma das mercadorias trocadas entre as diferentes regiões da África. Mas, mesmo assim, em muitas comunidades, podiam tornar-se livres.

À medida que o comércio controlado pelos árabes se desenvolveu, os escravos passaram a ser vendidos para lugares mais distantes, no Império Islâmico. Porém, o número de escravos

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vendidos ainda não era muito grande e seu comércio não chegou a modificar o modo de vida dos reinos africanos.

Isso só iria acontecer muito mais tarde, quando milhões de escravos africanos foram violentamente arrancados de terra e levados, pelos europeus, para trabalhar na América.

ATIVIDADES.

Atividade 1 – Ficha de Leitura.

Faça a ficha de leitura do capítulo 3, baseando-se no roteiro a seguir:

1. Influência dos antigos egípcios sobre os outros povos africanos.

2. Formação dos reinos da África.

3. Relação entre a formação de uma camada dominante (reis e altos funcionários) e a cobrança de impostos da população das aldeias.

4. Trecho do texto que permite concluir que nas aldeias africanas se praticava a caça e a extração mineral.

5. O domínio muçulmano no Norte da África.

6. Características da escravidão na África em cada um dos períodos seguintes:

a) antes da formação dos grandes reinos;

b) depois da formação dos grandes reinos;

c) depois da expansão dos muçulmanos; d) depois da chegada dos europeus.

Atividade II – Estudo de outras fontes.

1. O relato a seguir uma impressão positiva ou negativa da cidade de Benin? Por quê?

2. Que tipo de comparações o viajante faz entre a cidade de Benin – e os hábitos de seus habitantes – e as cidades da Europa?

Documento:

Relato de um dos primeiros viajantes europeus na Costa da África, sobre a cidade de Benin.

O palácio do rei está do lado direito da cidade (...) É um conjunto de construções que ocupa tanto espaço como a cidade de Grenoble [na França} e que é fechado de muralhas. Há várias

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divisões para os ministrados do príncipe (...) A maior parte destas casas reais são cobertas de ramos de palmeira, dispostos como tábuas quadrados. Cada canto é embelezado com uma pequena torre em pirâmide, na ponta da qual está empoleirado um pássaro de cobre a abrir as asas. A cidade é composta de trinta grandes ruas muito direitas, com vinte e seis pés de largura, além de uma infinidade de pequenas ruas transversais. As casas estão perto umas das outras e alinhadas em boa ordem. Têm tetos, guarda-ventos, balaústres, e recebem a sombra de folhas de palmeira e de bananeira, porque têm apenas um piso. (>>>) Estes povos não ficam atrás dos holandeses em limpeza. Lavam e esfregam tão bem as suas casas que elas se encontram polidas e brilhantes como um espelho. (Apud Ki- Zerbo, Joseph. História da África Negra. Viseu: Europa – América, s/d. p.207

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Sugestão de atividade complementar

Atividade III – Em grupos.

Observe a foto da página 19 que mostra uma pequena aldeia na África atual. Compare com a foto abaixo, que retrata outro aspecto do mesmo continente.

O que a comparação das fotos nos permite concluir sobre a África atual?

Figura: Cidade de Johanesburgo ( Àfrica do Sul).

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CAPÍTULO 4

Durante muito tempo, os habitantes da América continuaram vivendo em grupos de coletores – caçadores, dividindo-se em vários grupos.

Cada povo, um modo de vida

Há cerca de 7 mil anos, alguns desses grupos começaram a praticar a agricultura e a criação de animais. Com isso, mudaram seu modo de vida, passando a construir aldeias. Como produziam seus próprios alimentos, não tinham mais necessidade de se deslocar de um lugar para outro

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constantemente para renovar seus recursos de sobrevivência, podendo passar muito tempo morando no mesmo lugar; somente quando a terra se esgotava, procuravam um novo local para construir outra aldeia.

Entre os povos agricultores e pastores surgiram também as primeiras cidades no continente americano; algumas delas cidades no continente americano; algumas delas deram origem a importantes reinos e impérios. As pesquisas arqueológicas revelam a existência de três grandes civilizações americanas: a dos maias, na região onde atualmente é a Guatemala e o sul do México; a dos astecas, no planalto mexicano; e a dos _incas, no atual Peru (Figura 1)

Os povos da América.

Figura 1: Povos pré colombianos.

Apesar do surgimento desses impérios, a maior parte dos grupos humanos que viviam na América antes da chegada dos europeus era de caçadores- coletores, pastores ou agricultores.

Mas todos os povos americanos estavam isolados do restante do mundo até cerca de quinhentos anos atrás. Não sabiam que haviam outras terras para além do mar, da mesma forma que os habitantes da Europa, da Ásia e da África ignoravam a existência daquele longínquo continente que viria a se chamar América.

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OS ASTECAS

No século XV os astecas ou mexicanos habitavam uma região do vale do México. Uma parte de sua população vivia em aldeias rurais, onde a propriedade da terra era coletiva, isto é, ela pertencia a todos os membros da comunidade. Porém já existiam nítidas diferenças de riqueza no conjunto da sociedade, pois muitas terras pertenciam a uma camada social de nobres (funcionários, guerreiros e sacerdotes). (Figura2.)

A Pedra do Sol calendário asteca esculpido na rocha, demonstra o alto grau de desenvolvimento da ciência e da arte astecas.

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Os governantes dos astecas, monarcas com grandes poderes, eram eleitos sempre na mesma família. Havia ainda uma nobreza militar e várias camadas sociais e de artesãos que residiam nas cidades.

A partir de 1440, os astecas conseguiram dominar outros povos da região, formando um império que tinha como capital a cidade de Tenochtitlán, fundada um século antes, numa ilha do lago Texcoco. Tenochtitlán possuía entre 200 mil e 300 mil habitantes e constituía um importante centro comercial da região. Ali se vendia uma grande variedade de mercadorias: vestuário, artesanato de luxo, matérias-primas minerais, peles de coelho e escravos.

A guerra era extremamente importante para os astecas, que por meio dela pilhavam os povos vencidos e lhes cobravam tributos. Além disso, os guerreiros derrotados nas batalhas eram sacrificados nos templos dos deuses.

OS MAIAS

..Há cerca de 2 mil anos, os maias ocuparam o sul do México e posteriormente transferiram-se para a península do Yucatán e para a Guatemala. (Figura 1). Os historiadores só dispõem de informações detalhadas sobre o último período, que se iniciou aproximadamente mil anos atrás.

A sociedade maia se dividia em várias camadas sociais. Uma parte da população vivia em aldeias agrícolas, cultivando a terra coletivamente, mas existia também uma classe de nobres, formada por proprietários e sacerdotes. Nas cidades trabalhavam artesãos e comerciantes e havia ainda alguns escravos, que eram criminosos ou prisioneiros de guerra.

Cada cidade maia constituía um reino independente, isto é, tinha seu próprio rei e um conselho formado pelos nobres proprietários e sacerdotes. (Figura 3.) O rei tinha a seu serviço um grande número de funcionários, guardas, e chefes de aldeias.

Figura 3: Centro cerimonial do Jaguar Gigante, a construção mais alta (70 metros) das antigas civilizações americanas. Essa obra da civilização maia encontra-se em Tikal, no território da atual Guatemala.

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Os maias exportavam para os povos vizinhos sal, algodão, cacau, mel, plumas, jade e obsidiana ( rocha com a qual se faziam facas e espelhos). As mercadorias eram transportadas provavelmente por escravos, através de uma rede de estradas em grande parte calçadas com pedra. Para a navegação marítima costeira, usavam canoas feitas de um só tronco.

OS INCAS

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Na região dos Andes, há cerca de 1.200 anos, também surgiram cidades bastantes desenvolvidas. A conquista de uns povos pelos outros resultou na formação de impérios, dos quais o mais importante foi o Império Inca. (Figura 1.)

Os quíchuas ou incas dominaram a região do rio Cuzco no século XV. A cidade de Cuzco, capital do império era muito populosa e nela se erguiam imponentes templos e palácios. (Figura 4.).

Os incas tratavam os povos dominados com extremo rigor. O governo era controlado por um monarca, o inca, considerado de origem divina. Auxiliado por inúmeros funcionários, ele tinha poderes absolutos sobre seu povo. Os cargos mais importantes do império eram ocupados por membros da família do inca.

Os territórios do império dividiam-se em três partes: uma pertencia ao deus Sol, a principal divindade, isto é, estava nas mãos dos sacerdotes; outra era de propriedade do monarca; e uma terceira parte correspondia às aldeias de agricultores. Estes não podiam sair da terra que cultivavam e eram obrigados a prestar trabalho também nas terras do inca e do deus Sol.

Figura 4

Ruínas da cidade de Machu Picchu (no Peru), construída 2 690 metros acima do nível do mar, numa montanha de difícil acesso. Machu Picchu só foi descoberta em 1911, por um arqueólogo norte-americano.

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ATIVIDADES

Atividade 1 _ Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 4, baseando-se no roteiro a seguir:

1 - Primeira forma de organização das sociedades que se espalharam pelo território americano.

2 - Época em que se desenvolveu a agricultura entre alguns grupos humanos da América.

3 - As três mais importantes civilizações surgidas no continente americano.

4 - As diferentes camadas sociais existentes na sociedade asceta.

5 - Trecho do texto que comprova a seguinte afirmação: a cidade de Tenochtitlán era um importante centro comercial.

6 - Semelhanças entre a civilização dos astecas e a dos maias.

7 - A origem da riqueza dos reis, funcionários e sacerdotes na sociedade inca

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Atividade I I _ Estudo de outras fontes

TEXTO COMPLEMENTAR

O edifício mais notável da cidade ( Cuzco ) e o mais venerado de todo o império foi o Templo do Sol ou Corikancha, que os imperadores não cessavam de embelezar e enriquecer durante seus reinados. Tratava-se de um vasto recinto retangular de quatrocentos passos de perímetro, [...] construído com pedras secas perfeitamente talhadas e ajustadas umas às outras sem outra liga que o betume. A meia altura do recinto corria uma cornija de ouro de quatro palmos. As portas, que eram inteiramente revestidas de ouro, abriam para um jardim juncado de pedaços de ouro fino e com plantações de milho, cujos caules, folhas e espigas eram também de ouro. Entre essa vegetação artificial pastavam vinte lhamas de ouro em tamanho natural. No interior do jardim erguiam-se quatro santuários cujas paredes eram interior e exteriormente recobertas de placas de metal precioso. O mais espaçoso continha a imagem da divindade solar ornada com quantidades de pedrarias, da qual os espanhóis jamais puderam se apoderar. Perto dela, com o rosto voltado para a cidade que protegiam, mantinham-se as estátuas dos imperadores mortos. Eram feitas de argila, com vestimentas, adornos e até cabelos e restos de unhas dos imperadores que representavam. Os três outros santuários eram consagrados à lua (Killa), ao raio (illapa) e ao arco-íris (amaru).

(Favre, Henri. Os incas. São Paulo: Difel, 1974, p.74.)

1.O que o texto nos informa sobre as riquezas dos incas ?

2 Que divindades eram cultuadas no palácio do Templo ?

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CAPÍTULO 05

OS ÍNDIOS DO BRASIL

Recordando

Há cerca de 100 mil anos, grupos humanos chegaram ao continente, americano, atravessando o estreito de Bering, que nessa época formava um caminho de terra firme entre a América e a Ásia. Espalharam-se pelo continente americano e desenvolveram diferentes tipos de sociedades.

Figura 1: Mapa dos Povos indígenas do Brasil. Representando os Tupi- Guarani, Jê, Aruak, Karib, Pano, Tukano, Charrua, outros grupos.

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O povoamento da América do Sul se deu, há pelo menos 30 mil anos graças ao lento deslocamento de grupos humanos vindos do norte, em levas sucessivas, através da América Central. (Figura 1)

OS PRIMEIROS HABITANTES

No território brasileiro esses povos formavam diferentes nações, que podem ser classificadas em grandes grupos, ligados entre si pela mesma língua ou por línguas que têm uma origem comum. É o caso dos tupinambás e tupiniquins, que falam uma língua pertencente ao tronco lingüístico tupi. Ou dos carajás e pataxós, que falam uma língua do tronco macro-jê.

Quando os europeus chegaram, existiam mais de 3 mil nações indígenas, espalhadas pelo território brasileiro. Alguns povos dessas nações sobreviviam da coleta, da caça e da pesca (coletores-caçadores) e não se fixavam em um único local, ou seja, eram nômades. Mas existiam também aqueles que praticavam a agricultura, embora sem abandonar a caça, a pesca e a coleta. Permaneciam por algum tempo no mesmo local, mudando-se quando era necessário renovar os recursos alimentares.

COMO VIVIAM OS ÍNDIOS ?

Atualmente é difícil saber exatamente como os índios viviam no passado. Eles não utilizavam a escrita e por isso não deixaram documentos escritos informando sobre seus hábitos e sua história. Muitas das nações indígenas desapareceram, e somente as pesquisas arqueológicas Página 29 podem encontrar indícios de sua existência. (Figura 2 e boxe A).

Figura 2: Pintura pré-histórica na Lapa do Dragão, em Minas Gerais, encontrada por uma equipe de cientistas em 1977.

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Mas a história dos índios brasileiros tem sido recuperada por vários outros meios. Um deles são os escritos de viajantes estrangeiros que visitaram o Brasil, na época colonial e principalmente no século XIX. Esses escritos contêm relatos detalhados sobre os hábitos dos indígenas

Além disso, existem os estudos antropológicos sobre os povos indígenas que ainda vivem no território brasileiro. Graças a eles, podemos conhecer seus costumes e crenças, que certamente conservam algumas características do passado.

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ALDEIAS E TRIBOS

Ainda hoje, os índios vivem em tribos, formadas por conjuntos de aldeias. A organização dessas aldeias varia conforme a tribo, e as construções também diferem umas das outras. Antigamente, os tupinambás habitavam aldeias próximas do litoral, aonde viviam cerca de 2 mil pessoas. À sua volta geralmente erguia-se uma cerca para proteção contra ataques inimigos. (Figura 3)

Na Amazônia, alguns grupos habitavam uma única casa, a maloca, onde viviam umas duzentos pessoas. Cada família ocupava um canto da casa, onde pendurava suas redes. Como todos os moradores eram aparentados formavam, formavam, na verdade, uma única grande família. Ainda hoje existem comunidades indígenas, como a dos tukanos, da região do rio Negro, que constróem malocas espaçosas, onde vivem muitas pessoas aparentadas.

Em outras aldeias, construíam-se várias malocas, geralmente distribuídas em círculo. Na parte central realizavam-se as atividades grupais, como as cerimônias, os jogos, as corridas e as reuniões de guerreiros.

Muitas das tribos atuais ainda constróem suas aldeias em forma circular, como os bororós (Mato Grosso do Sul) ou os nambiquaras (rio Guaporé até as fronteiras de Rondônia). Essa disposição das malocas em círculos demonstra a importância que os índios dão às atividades grupais, realizadas no centro da aldeia.

Figura 3: Configuração de uma aldeia Tupinambá.

A CAÇA, A PESCA, A AGRICULTURA

Como antigamente, algumas tribos vivem da caça e da coleta de vegetais e não praticam a agricultura. Nesses grupos, as mulheres fazem a coleta de vegetais, mas também participam da pesca; os homens caçam e pescam.

Boxe A

As pesquisam arqueológicas revelam a existência de agrupamentos humanos que viviam no território do atual Estado do Piauí, há cerca de 30 mil anos, e outros, localizados no litoral do Atlântico, há 10 mil anos. Estes últimos eram coletores e alimentavam-se de mariscos e outros pequenos animais, cujos restos, se amontoavam, formando depósitos de conchas e objetos de pedra e de ossos (principalmente de peixes), chamados sambaquis.

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Nas tribos onde se pratica a agricultura, o trabalho também é dividido entre os homens e mulheres. Os homens caçam, armas e casas e preparam o terreno para a agricultura. Isso é feito pela derrubada da mata e queima das árvores cortadas. (Esse sistema de preparação do solo chama-se _coivara). Os tocos não são arrancados e, por isso, seguram a terra, evitando que as águas das chuvas levem a parte mais rica do solo. Além disso, as cinzas servem de adubo.

As mulheres cuidam das roças, fazem o artesanato (fabricando vasilhas, cestos, redes) e preparam a farinha de mandioca. (figura 4).

Figura 4: Nas aldeias indígenas o trabalho é dividido por sexo e as crianças ajudam os adultos realizando as tarefas mais simples. Na figura observamos uma criança indígena secando mandioca.

Apesar de construírem suas aldeias, esses grupos não permanecem muito tempo no mesmo lugar. Depois de dez ou quinze anos, mudam-se para uma área vizinha, onde fazem uma nova roça. A área abandonada volta a se cobrir de mata e fica durante alguns anos recuperando sua fertilidade.

As crianças, tanto nas comunidades de caçadores como nas de agricultores, ajudam os adultos, realizando as tarefas mais simples.

Nas aldeias indígenas não é necessário passar todo o tempo trabalhando para obter alimentos. Uma boa caçada garante o sustento do grupo durante vários dias. E mesmo entre os povos agricultores por dia de trabalho para viver bem. Assim, sobra muito tempo para os jogos, as artes, as conversas, e para contar as histórias e lendas do grupo às crianças.

Essas histórias são os mitos indígenas, que cada tribo criou e que passam de pai para filho há muitas gerações. Os mitos explicam como surgiram todas as coisas: as plantas, o Sol, a Lua, a própria tribo.

UMA SOCIEDADE IGUALITÁRIA

A terra que os índios ocupam pertence a todo o grupo. Isso significa que entre eles ninguém é o dono da terra. Apenas os objetos fabricados individualmente, como os arcos e as flechas, pertencem a quem os faz. As colheitas de cada roça são da família que a cultiva. Mas os produtos da caça e da coleta são repartidos entre todos. Ninguém se preocupa em acumular riquezas, pois a sobrevivência de todos está garantida. Por isso não há ricos nem pobres.

O CUIDADO COM A NATUREZA.

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Os indígenas consideram a terra, que produz todos os frutos e alimenta os animais, como uma boa mãe. E todos os elementos da natureza merecem cuidado e respeito. A maioria dos índios, ainda hoje, critica aqueles que destroem as matas, destruindo também a vida. É o que podemos perceber, por exemplo, na fala de um índio Terena, transcrita a seguir:

“ Nossos antepassados ensinaram a viver em harmonia com a terra. Ensinaram também que devemos tratar todos os elementos da terra com respeito, manter o equilíbrio e a harmonia que existe entre nós. Têm ensinado também a transmitir esta tradição aos nossos filhos. Nossa terra vale mais do que dinheiro. Assim como o sol ilumina e a água refresca, esta terra estará aqui para dar vida à nossa gente, aos animais e às plantas.

NINGUÉM MANDA.

Não há governo entre os indígenas. Ninguém tem poder para dominar os outros membros do grupo. É verdade que existe uma autoridade nas aldeias indígenas, um chefe conhecido atualmente pelo nome de cacique. Algumas tribos do rio Negro chamam seu chefe de morubixaba e os antigos tupinambás os denominavam tuxáua.

Mas o chefe não é mais rico do que os outros e sua autoridade se baseia apenas nas qualidades pessoais: habilidade para caçar, pescar, a coragem e a capacidade guerreira.

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Nas aldeias indígenas há também outra autoridade, o xamá, que os tupis antigamente chamavam de pajé. Eles são médicos-feiticeiros, grandes conhecedores das qualidades medicinais dos elementos da natureza. Os xamãs são os intermediários entre a tribo e o mundo sobrenatural das divindades.

A CORAGEM DO GUERREIRO

Os índios sempre valorizavam muito a coragem dos guerreiros, pois antigamente eles se confrontavam em constantes guerras.

As armas utilizadas no combate a distância são o arco e a flecha. A confecção dessas armas exige uma grande habilidade, para que a flecha atinja exatamente o alvo desejado. Na caça utilizadas no combate a distância são o arco e a flecha. A confecção dessas armas exige uma grande habilidade, para que a flecha atinja exatamente o alvo desejado. Na caça isso também é importante para que o animal morra rapidamente, sem ficar sofrendo.

Durante muito tempo, os brancos, que desconheciam os costumes e a mentalidade dos índios, acreditaram que o motivo das guerras indígenas era a disputa de terras ou de outros recursos naturais. Os pesquisadores atualmente não acreditam nisso, pois o território disponível era imenso, não havendo necessidade de disputá-lo. Alguns deles dizem que o principal objetivo dos guerreiros era a captura das mulheres e crianças da tribo rival. Elas passavam a viver como

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se fossem membros da aldeia vencedora e isso facilitava a aproximação e a aliança entre os dois grupos.

Outro costume indígena, que os brancos tinham muita dificuldade de entender, era a _antropofagia, isto é, a prática de comer carne humana que existia antigamente. Os tupinambás levavam os guerreiros vencidos para sua aldeia, onde viviam durante certo tempo e depois eram mortos numa cerimônia. Então, distribuíam algumas partes de seu corpo entre os membros da tribo, para serem comidas.

Várias crenças se relacionam com a antropofagia. Os matadores se enfeitavam como se fossem emas e outras aves, que vinham devorar o alimento oferecido. Isso significava que o guerreiro morto estava sendo devolvido à natureza. Acreditavam também que a alma do guerreiro morto se transformava num pássaro, que acompanharia o sol para sempre. E achavam ainda que, comendo a carne do valoroso guerreiro vencido, adquiram sua coragem, força e habilidade. O prisioneiro, por sua vez, compartilhava todas essas crenças e por isso aceitava a morte com serenidade.

Em outras tribos não havia o costume da antropofagia. Os prisioneiros ficavam convivendo com seus vencedores e acabavam se tornando membros da aldeia. De forma ou de outra, os indígenas nunca escravizam os vencidos.

Figura 5. A arte plumária é uma das mais importantes manifestações artísticas dos indígenas do Brasil.

A BELEZA DA ARTE INDÍGENA

Desde tempos muito antigos os homens procuram expressar suas crenças e modos de pensar por meio de obras de arte. Assim também fazem os índios. Praticam a pintura corporal e expressam-se, ainda, por meio da música, da dança, da cerâmica e dos objetos feitos com plumas de aves (arte plumária). (Figura 5) Algumas dessas formas artísticas têm um objetivo religioso. Certas danças, por exemplo, fazem parte dos rituais religiosos.

As peças de cerâmica servem para vários fins, como preparar ou guardar alimentos, ou ainda depositar os mortos (urnas funárias). (figura 6).

Figura 6: As urnas funerarias são utilizadas para receber um corpo após a morte. Na figura, urna funerária da ilha de Marajó.

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Mas há também a preocupação com a beleza dessas peças, ornamentadas com diferentes desenhos. Cada grupo criou um estilo próprio nas pinturas das cerâmicas. Na ilha de Marajó,

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por exemplo, usam-se motivos geométricos, enquanto no Amapá e em Belém há preferência por formas de animais e de seres humanos.

VIERAM DO MAR

Os vários grupos indígenas que viviam no território brasileiro nunca tinham tido contato com os homens brancos. Nem sabiam da sua existência. Nem mesmo o nome Brasil existia. Os tupinambás, que moravam no litoral, chamavam sua terra de Pindorama.

Um dia, quase quinhentos anos atrás, os tupinambás viram chegar grandes embarcações, trazendo gente muito diferente deles: usavam roupas, tinham barbas, sua pele era muito mais clara.

Se nós estivéssemos no lugar dos indígenas, naquela época, certamente estaríamos nos perguntando: Quem são esses estranhos? De onde vieram? O que querem? O que farão?

São essas as questões a que procuraremos responder nos próximos capítulos.

ATIVIDADES

Atividade I – Ficha de Leitura

Faça a ficha de leitura do Capítulo 5, baseando-se no roteiro a seguir:

1. Diferenças entre o modo de vida dos grupos indígenas coletores- caçadores e o dos horticultores.

2. Atitude que os índios geralmente têm em relação à natureza.

3. Diferença entre aldeia e tribo indígenas.

4. A vida numa aldeia indígena.

5. Interpretação sobre a guerra nas sociedades indígena.

6. O significado da antropofagia para os antigos tupinambás.

Atividade II – Estudo de outras fontes

Texto Complementar.

Sabe-se hoje que a forma de exploração do meio ambiente, os modos de suprir as necessidades, adotados pelos grupos indígenas, eram bem mais equilibrados do que os que foram implantados pelos europeus com a colonização. (...)

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Estudos recentes têm mostrado que certos costumes que têm sido rotulados de “superstições”, “ritos mágicos”, implicam atitudes muito mais racionais que as do civilizado. Assim, por exemplo, o escalonamento dos alimentos vegetais e animais, forçado pelos tabus sobre o consumo fora da época adequada, [proibição de consumo de certos alimentos em algumas épocas] permite que a natureza se refaça dos desfalques que o homem lhe inflinge. O caçador respeito a época de acasalamento dos animais, não dá caça às fêmeas quando estas estão com filhotes.

Há uma tendência a se reconhecer também, nos estudos mais recentes, uma preocupação semelhante (de evitar a extinção das espécies) em muitos outros costumes observados pelos indígenas; por exemplo, o de aproveitar apenas as plantas machas de determinadas espécies vegetais ou de só proceder à coleta de vegetais velhos, após o período de inflorescência.

(Autor anômino. “Os povos da América antes da invasão européia. Grupo de estudos indígenas Kurumim. Boletim Mensal, número 18, novembro de 1983).

1. O que esse texto pretende demonstrar a respeito dos índios?

2. Que exemplos o texto oferece para demonstrar essa idéia?

Sugestão de Atividade complementar:

Atividade III – Em grupos

Comparar as comunidades as comunidades indígenas do Brasil com a sociedade brasileira atual, sob os seguintes aspectos:

a) propriedade da terra;

b) governo;

c) relação com a natureza;

d) desejo de enriquecimento;

e) divisão do trabalho.

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ENCERRAMENTO DA UNIDADE

Atividade em grupo

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1.Discutir os objetivos apresentados no início da unidade, sob o título: “O que é importante aprender”. Redigir um pequeno texto sobre cada um dos temas.

PREPARAÇÃO PARA A PRÓXIMA UNIDADE.

Esta atividade tem por objetivo o estudo das áreas geográficas que se referem às informações da próxima unidade.

Analisando o planisfério abaixo, responder:

1 Quais são os nomes dos continentes indicados com os números 1, 2, 3, 4,.e 5 ?

2 Quais são os nomes dos oceanos indicados com as letras A, B, e C ?

3 Quais são os nomes das penínsulas indicadas com as letras D, E, e F ?

4 Um navio partiu da península Ibérica e navegou pelo oceano Atlântico em direção ao Sul. Seu objetivo é chegar à Ásia. Que continente ele terá que contornar ?

5 Um navio partiu da península Ibérica e seu objetivo é chegar à América. Que direção (norte, sul, leste, oeste, nordeste, sudeste, noroeste ou sudoeste) ele deve tomar ?

6 Localize o mar Mediterrâneo e o mar. Negro. Qual é o nome da cidade situada entre o mar Negro e o mar Mediterrâneo ? (Consulte também o mapa da p. 45.)

PLANISFÉRIO. Mapa Mundi com os continentes e Oceanos.

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UNIDADE I I I

QUEM ERAM E DE ONDE VIERAM

Os brancos chegaram à terra dos índios no final do século XV. Tinham atravessado o oceano Atlântico, vindos de Portugal um pequeno reino do continente europeu. Portanto, podemos deduzir que eles tinham desenvolvido embarcações resistentes e que sabiam como enfrentar os perigos do oceano

Para entender como e por que os europeus se aventuraram numa viagem tão longa, para chegar ao litoral do nosso país, será preciso recuar no tempo. Temos que conhecer esses povos da Europa e acompanhar sua história até o momento em que se realizou o encontro entre eles e os indígenas de Pindorama.

É o que faremos nesta unidade.

Figura 1 Desembarque de Cabral em Porto Seguro, quadro de Oscar P. da Silva.

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O QUE É IMPORTANTE APRENDER

Durante o estudo desta unidade, procure concentrar-se nos seguintes objetivos:

- Descrever a sociedade feudal.

- Compreender o papel da Igreja Católica nessa sociedade.

- Explicar como a Europa começou a mudar a partir do século XI.

- Explicar o que foi a Reconquista.

- Explicar como se formou o reino de Portugal e como nele se desenvolveu a atividade marítima.

- Relacionar a dinastia de Avis com o desenvolvimento das navegações.

- Explicar os interesses que os diferentes grupos sociais portugueses tinham no desenvolvimento da navegação.

- Indicar os fatores que possibilitaram a Portugal tornar-se pioneiro nas viagens marítimas.

- Identificar os meios utilizados pelos portugueses para realizar as trocas comerciais na costa africana.

- Relacionar a Tomada de Constantinopla pelos turcos com o plano de Portugal de chegar à Índia contornando a África.

- Relacionar a formação do reino da Espanha com a viagem de Colombo.

- Explicar as causas e a solução do conflito ocorrido entre Portugal e Espanha em razão da chegada `as terras americanas.

- Relacionar a viagem de Cabral à Índia com a chegada ao Brasil.

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CAPÍTULO 6

A EUROPA FEUDAL

Recordando

Ao longo de milhões de anos, os grupos humanos, originários da África deslocaram-se e povoaram a Terra..

Na Europa como na América, na Ásia e na África, desenvolveram-se, ao longo de milhares de anos, importantes civilizações, com grandes cidade, intensa atividade artesanal e comercial.

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Uma das mais importantes dessas civilizações teve origem na pequena cidade de Roma, na península Itálica, no século VIII a. C. (Figura1.)

Apesar da grandeza e poder do Império, Romano, ele entrou em decadência por volta do século I III III depois de Cristo e acabou sendo destruído por outros povos que viviam nas suas fronteiras.

O fim do Império Romano marca a passagem para uma época da história que é chamada de Idade Média, ou período medieval.

A SOCIEDADE FEUDAL

No lugar onde antes se estendia o Império Romano, formaram-se vários reinos. Neles, durante os séculos VI, VII, VIII E IX, formou-se um tipo de sociedade conhecida como feudalismo. (Figura 2.) Nela dominavam poderosos senhores de terras, que formavam a nobreza feudal.

Figura 1 O IMPÉRIO ROMANO NO SÉCULO III. Mapa localizando os povos Germânicos.

OS SENHORES DA TERRA E DA GUERRA

Os nobres se tornaram proprietários porque recebiam, do rei ou de outros grandes senhores, vastos territórios chamados feudos. Daí a denominação senhores feudais.

Viviam em castelos de pedra e passavam grande parte de sua vida guerreando uns contra os outros, montados a cavalo, usando pesadas armaduras de ferro e enormes lanças e espadas.

Os reis tinham poucos poderes, pois os senhores feudais mandavam em seus próprios domínios, com plena autoridade.

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Figura 2. Linha do Tempo dividida em séculos. Século V: fim do Império Romano. Séculos V ao VIII: período de formação da sociedade feudal. Séculos IX ao XIV: época feudal. Entre os séculos X e XI: desenvolvimento do comércio e das cidades.

OS CAMPONESES

Mas para que esses senhores, que pertenciam à classe dos nobres, pudessem se dedicar à guerra, era preciso que alguém trabalhasse no cultivo dos campos, na manutenção dos castelos, e na produção de armas, tecidos e utensílios.

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Essas tarefas eram realizadas pelos camponeses, que viviam em pequenas aldeias próximas aos castelos e formavam a maior parte da população da Europa. A maioria deles vivia na condição de servos. Isso significava que podiam ocupar e cultivar lotes de terras dos domínios de seus senhores, mas, em troca, lhes deviam obediência e uma grande quantidade de taxas: entregavam boa parte do que produziam a seus senhores e ainda tinham que trabalhar diretamente para eles, no castelo ou nos seus campos. Não podiam abandonar a terra que ocupavam, embora não fossem escravos. (Figura 3)

Figura 3. Os camponeses da época feudal, a maioria servos, realizavam todo o trabalho, garantindo a sobrevivência de seus senhores nobres, que se ocupavam principalmente da guerra.

QUEM TOMA CONTA DAS ALMAS ?

A Igreja Católica surgiu durante o Império Romano, e não desapareceu com seu fim. Pelo contrário, tornou-se muito poderosa na sociedade feudal.

Os bispos eram possuidores de extensos domínios feudais, recebidos como presente dos reis ou dos nobres. A religião, as orações, as cerimônias faziam parte de todos os momentos da vida, tanto da nobreza como dos camponeses.

A Igreja considerava crime grave qualquer discordância em relação às sua regras ou crenças, e o castigo ia da excomunhão até a condenação à morte numa fogueira. (Figura 4.)

Figura 4. Um profundo sentimento religioso dominava a sociedade feudal. No portal da Igreja de Sainte-Foy (França) podemos ver uma representação do Juízo Final, trabalho que reflete o medo do homem medieval diante do julgamento de Deus.

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Figura 5. Comércio Medieval Terrestre e Marítimo. Apresenta as rotas comerciais dos árabes e suas conquistas e as rotas das especiarias.

MERCADORES NO MUNDO FEUDAL

Na sociedade feudal, até o final do século X, o comércio era muito reduzido. Muitas trocas se faziam diretamente, de um produto por outro. Por isso, havia poucas moedas em circulação. Tudo o que se precisava era produzido nos próprios domínios feudais e ali mesmo era consumido.

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Nas pequenas aldeias próximas aos castelos, alguns artesãos trocavam seus produtos (tecidos, cerâmicas, armas, ferramentas de metal, arreios) pelos gêneros alimentícios que os camponeses produziam.

No entanto, havia no continente europeu duas regiões com um comércio bastante desenvolvido: eram as cidades italianas e a região ao norte da Europa, conhecida como Flandres. (Ali atualmente situam-se a Holanda e a Bélgica. (Figura 5.)

Os mercadores italianos sempre mantiveram contatos com as civilizações do Oriente, através do mar Mediterrâneo, principalmente com a famosa cidade de Constantinopla, onde chegavam preciosas mercadorias vindas da Índia e até da China. (Figura 5) Devido a esses contatos, algumas cidades italianas, como Veneza e Gênova, tornaram-se importantes centros comerciais da Europa, ainda na época feudal.

Já os mercadores da região de Flandres navegavam junto à costa do Atlântico, chegando às cidades de Lisboa e do Porto, em Portugal. Transportavam peixe, pelos e tecidos e ali faziam trocas com os comerciantes italianos, que traziam mercadorias orientais (tapetes, sedas, armas, jóias e as desejadas especiarias - pimenta, cravo, canela, noz-moscada, etc.).

MUDANÇAS NA SOCIEDADE FEUDAL

A partir do século XI, os comerciantes italianos começaram a percorrer o interior da Europa, vendendo as luxuosas mercadorias vindas do Oriente. (Figura5.) Com isso, o comércio se intensificou rapidamente e muitos mercadores de várias partes da Europa acabaram se fixando ao redor de castelos e junto a antigas cidades romanas, que não haviam desaparecido com a destruição do Império.

Figura 6. As cidades medievais tinham ruas estreitas e tortuosas. Algumas delas conservam até hoje as características da época, como Mont-Saint- Michel, na França, da qual podemos ver, na foto, um pequeno trecho de rua.

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Assim, no meio da sociedade feudal, quase exclusivamente agrícola, surgiram novas e importantes cidades. (Figura 6) Nelas habitavam os comerciantes, que formavam uma nova classe _ a burguesia. Os burgueses, que não eram proprietários de terras como os nobres, conseguiram acumular grandes fortunas com seus negócios.

Foi nessa época que se formou o reino de Portugal, que conheceremos no próximo capítulo.

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ATIVIDADES

Atividade I _ Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 6, baseando-se no roteiro a segui

1 Principal atividade econômica da sociedade feudal.

2 Características da sociedade feudal:

a) nobreza feudal e seu modo de vida;

b) os camponeses servos e suas obrigações;

c).o poder da Igreja Católica.

3 Regiões da Europa em que se desenvolvia o comércio.

4 Relação entre o desenvolvimento do comércio e o crescimento das cidades no interior da Europa feudal.

Atividade II _ Estudo de outras fontes

Documento

1 Observe as gravuras abaixo e indique qual das frases seguintes se relaciona com cada uma delas.

Figura 1. Servos.

Figura 2. O clero.

Figura 3. Família burguesa.

Figura 4 Nobreza feudal.

a) Viviam em castelos fortificados e possuíam extensos domínios territoriais.

b) Trabalhavam arduamente, cultivando os campos, consertando pontes e caminhos.

c) Ditavam as regras de comportamento da vida cotidiana, controlando e fiscalizando os atos e até o pensamento de todos.

d) O objetivo mais importante de sua vida era a guerra.

d) Viviam nas cidades e acumulavam fortunas, comprando e vendendo mercadorias.

Sugestão de atividade complementar

Atividade I

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Indique a que classe da sociedade feudal se refere cada uma das frases do exercício anterior.

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CAPITULO 7

OS REINOS IBÉRICOS

Recordando; Nos séculos XI e XII, na Europa, surgiram e cresceram novas cidades, formou-se a classe social burguesa, dedicada ao comércio e que acumulou grandes fortunas com seus negócios.

Observando o mapa da Europa, podemos identificar, na sua parte mais ocidental, a península Ibérica. Atualmente aí existem dois países: Portugal e Espanha (Figura1).

No século IV um dos grupos que invadiram o Império Romano se fixou na península Ibérica, convertendo-se ao cristianismo.

No século VIII, os muçulmanos, na sua expansão guerreira, atravessaram o estreito de Gilbratar e invadiram a península Ibérica. (Veja o mapa da p.20.) Nessa região eles ficaram mais conhecidos como mouros.

Na península Ibérica, os muçulmanos venceram os cristãos, obrigando-os a recuar para o norte. Ali se formou o pequeno reino cristão das Astúrias, que no século XI iniciou a luta para expulsar os muçulmanos da península, surgiam novos pequenos reinos, dos quais os mais importantes foram Castela e Aragão. Essa luta, conhecida como Reconquista, durou até o final do século XV (Figs. 2 e 3).

Figura 1 – Mapa político da Europa atual.

Figura 2 – Detalhe de um baixo-relevo esculpido em madeira, na catedral Toledo (Espanha), representando uma batalha entre cristãos e muçulmanos na Reconquista.

Figura 3 – Reconquista

Nobres feudais de outras regiões da Europa também participaram da luta contra os muçulmanos. Assim, Henrique de Borgonha, um nobre francês, recebeu do rei de Leão um feudo chamado Condado Portucalense, como recompensa pela auxílio prestado (Figura3B)

O reino de Portugal

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Após a morte de Henrique de Borgonha, seu filho, Afonso Henriques, lutou contra o reino de Leão e, em 1139, conseguiu a independência do condado. Assim surgiu o reino de Portugal.

Os primeiros reis de Portugal pertenciam à dinastia de Borgonha, isto é, à família de Henrique de Borgonha. O principal objetivo desses reis foi continuar a luta contra os mouros, ampliando o território do reino em direção ao sul (Figura 3C)

As terras tomadas aos muçulmanos na guerra eram doadas aos guerreiros, formando-se propriedades feudais, onde camponeses servos cultivavam oliveiras, uvas, ceada, trigo.

Mas ao litoral do pequeno reino se praticava também a pesca. Ali se desenvolveram duas cidades portuárias: Lisboa e Porto. (Figura 3D) Como vimos no capítulo anterior, essas cidades eram ponto de parada de navios italianos que vinham do Mediterrâneo carregados de mercadorias e ali se encontravam com mercadores vindos da região de flandres.( Peça orientação ao seu professor sobre o mapa da p.38.)

CASTELA AMEAÇA PORTUGAL No final do século XIV, em 1383, o reino de Portugal ficou ameaçado de passar para o domínio de Castela: a dinastia de Borgonha se extinguira, isto é, o último rei morrera sem deixar herdeiros homens. Sua filha era casada com o rei de Castela, que se julgou no direito de governar também Portugal.

Os nobres portugueses (proprietários de terras) não tinham nenhum interesse especial em defender a independência do reino, pois nada se alteraria para eles. Mas a burguesia mercantil gostaria de ter um governante que apoiasse suas atividades comerciais. Esse não era o caso do rei de Castela, que estava muito ocupado com a guerra contra os mouros.

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Por isso com a ajuda das camadas populares das cidades, a burguesia portuguesa lutou contra Castela e conseguiu garantir a subida ao trono de D.João I, conhecido como mestre de Avis, que iniciou a nova dinastia de Avis. Com ele a monarquia passou a se interessar diretamente pelo desenvolvimento do comércio português.

ATIVIDADES

Atividade I – Ficha de leitura.

Faça a ficha de leitura do capítulo 7, baseando-se no roteiro a seguir.

1) Conseqüência da invasão muçulmana do século VIII para os cristãos que habitavam a península Ibérica.

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2) Relação entre a Reconquista e a formação de Portugal.

3) Principais mercadorias produzidas em Portugal.

4) Relação entre a posição geográfica de Portugal e o desenvolvimento das cidades portuárias e do comércio português.

5) Interesse da burguesia portuguesa em impedir que seu país fosse dominado por Castela.

6) O início da dinastia de Avis e sua principal característica.

ATIVIDADE II – Estudo de outras fontes.

Texto complementar.

Existiu (...), desde as origens do reino de Portugal, uma navegação costeira e comercial que ativava portos marítimos, como Lisboa e Porto e portos fluviais de acesso ao interior, como Coimbra e Santarém. Nestas e noutras cidades desenvolveu-se uma atividade mercantil que já relacionava (Portugal) com outros países da Europa, e a burguesia comercial correspondente, da qual convém distinguir a burguesia judaica, que se dedicava predominantemente ao comércio do dinheiro e desempenhava um papel ativo na administração financeira da casa real e das grandes casas senhoriais. As produções mais características da economia portuguesa (azeite, vinho, mel, sal, peixe salgado, couros) propiciavam um comércio de exportação que trazia de retorno, entre outros produtos, cereais e têxteis.

(Saraiva, Antonio José. História da literatura portuguesa. Porto: s/d. p. 34.)

1) Em que locais o comércio e a burguesia portuguesa se devolveram?

2) O que o autor menciona a respeito da burguesia judaica em Portugal? O que isso significa?

3) Que produtos Portugal importava e que produtos exportava?

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Capítulo 8

POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS

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Recordando: Desde o início da dinastia de Avis, no final do século XIV, a Coroa portuguesa passou a estar ligada aos interesses do comércio e da burguesia

O título deste capítulo é um verso do poeta português Luís de Camões, que escreveu a famosa obra Os lusíadas, narrativa da viagem de Vasco da Gama às Índias.

As viagens marítimas portuguesas se iniciaram ainda sob o reinado de D.João I, quando se organizou , em 141, uma expedição militar para a conquista da cidade de Ceuta, no litoral africano, junto ao estreito de Gilbratar. (Figura 1, na página seguinte.) essa cidade era um centro importante do comércio muçulmano, e para lá se dirigiam as caravanas de mercadores árabes que vindos de vários pontos do território africano, traziam marfim, ouro e escravos. (Veja p. 21.)

Velas ao mar

Desse empreendimento militar participaram os três filhos do rei D.João I. Entre eles estava o infante D.Henrique. (Chamavam-se infantes os príncipes que não seriam herdeiros do trono, pois a Coroa se destinava sempre ao filho mais velho do rei).D. Henrique teria um importante papel nas viagens marítima portuguesas. (Boxe ª)

Os portugueses desenvolveram importantes inovações nas técnicas de navegação, como, por exemplo, a construção de uma embarcação típica de Portugal, a caravela, e o aperfeiçoamento de instrumentos de navegação, como a bússola e o astrolábio. (Figura 2.) Assim foi dado o impulso inicial para as conquistas marítimas.

No decorrer do século XV, Portugal se tornou o primeiro país da Europa a se lançar à conquista de terras distantes, aventurando-se através do mar Oceano, como era chamado o Atlântico.

Na época, esse era um grande desafiam pois os europeus nunca tinham navegado em alto mar, onde imaginavam existir perigosos abismos, águas ferventes, monstros e mistérios.

A

Durante muito tempo os historiadores atribuíram ao infante D.Henrique a fundação de um centro de estudos náuticos no promontório de Sagres, em meados do século XV, conhecido como Escola de Sagres. Afirmava-se que ali se reuniam matemáticos, cartógrafos, astrônomos e navegadores que orientavam as expedições marítimas portuguesas.

Figura 1 Conquistas marítimas portuguesas.

Figura 2 – A partir do século XV as caravelas começaram a explorar o oceano Atlântico, chegando a alcançar terras distantes, em outros continentes.

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Além dos obstáculos imaginários, havia as dificuldades reais a serem vencidas: tempestades, calmarias, correntes marítimas. Quando a viagem se prolongava além do previsto, faltava água potável e mantimentos. Sem contar o terrível escorbuto, doença resultante da falta de vitamina C que ataca as gengivas e chega a matar.

Por que Portugal?

Como o pequeno reino português conseguiu vencer todos esses desafios e “domar” o oceano? A posição geográfica de Portugal, junto ao Atlântico, certamente contribuiu para desenvolver as navegações. Muito antes de iniciar as expedições de conquista marítima, os portugueses já tinham grande experiência na atividade pesqueira.

Mas o que impulsionou Portugal à conquista marítima foi a existência de uma burguesia mercantil, que desejava ampliar seus negócios, e a presença de uma dinastia real (desde o governo de /D.João I), que apoiava o desenvolvimento do comércio. Somente a Coroa, isto é, o governo real, possuía os vultosos recursos financeiros necessários à organização das expedições marítimas.

Vários grupos da sociedade portuguesa, além da burguesia, também tinham interesse nas conquistas: a nobreza, porque cobiçava as terras a serem conquistadas; e a Igreja Católica, porque desejava converter ao cristianismo os povos de outros continentes.

Cada vez mais longe Depois da tomada de Ceuta (1415), os navegadores portugueses começaram a explorar o Atlântico e o litoral do continentes africano. Em 1420 ocuparam a ilha da Madeira e em 1427 atingiram o arquipélago dos Açores. (Figura 1.)

Nessas ilhas não encontraram nenhum produto de valor comercial. Mas, para tirar proveito da ocupação de suas terras, para lá enviaram colonos portugueses, que iniciaram plantações de cana-de-açúcar.

O trabalho nas plantações açucareiros era feito por escravos negros, vindos de diferentes pontos do litoral africano, que os portugueses iam pouco a pouco conquistando. (Figura 1.)

Onde chegavam, os portugueses construíam feitorias (Figura3), isto é, fortalezas que serviam para a defesa de seu domínio e funcionavam também como armazéns, onde se guardavam as mercadorias obtidas: ouro, marfim, peles, madeiras e pimenta-malagueta. Dali, essas mercadorias eram embarcadas para Portugal. O comércio ia aumentando, junto com os lucros dos audaciosos navegantes.

Figura 3 – Fortaleza construída em São Jorge da Mina, na África, nos fins do século XV.

Rumo `Índia

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No século XV, uma das mercadorias mais valiosas eram as especiarias (cravo, canela, noz-moscada, etc.), muito apreciadas na Europa para temperar e conservar os alimentos.

Mas, para chegar à Europa, esses produtos percorriam um longo caminho: mercadores árabes controlavam as rotas das especiarias desde a Índia até a cidade de Constantinopla. Ali, comerciantes italianos chegavam para comprá- las e depois revendê-las na Europa, com grande lucro. (Figura4.)

Figura 4 – O comércio entre a Europa e o Oriente no Século XV

Mapa discriminando o Império Muçulmano e a rota muçulmana.

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Em 1453, os turcos otomanos (um povo originário da Ásia) conquistaram a cidade de Constantinopla e passaram a cobrar pesados impostos dos mercadores italianos. Com isso as especiarias ficaram ainda mais caras.

Por isso, a partir da tomada de Constantinopla pelos turcos, os portugueses começaram a fazer planos para chegar à Índia, contornando o continente africano. (Figura 1) O que eles pretendiam era controlar o comércio indiano, de onde saíam as valiosas especiarias. Com isso, poderiam ficar com todos os lucros desse comércio, tirando do negócio os árabes, os turcos e os italianos.

Com esse plano, os portugueses procuraram avançar cada vez mais em direção ao sul do continente africano, agora em busca da passagem entre o oceano Atlântico e o Índico.(Figura 1)

Rumo à América

Na última década do século XV, os espanhóis também iniciaram suas viagens marítimas, como o mesmo objetivo de chegar à Índia. Mas os portugueses tinham começado suas conquistas muito antes, em 1415, com a tomada de Ceuta. Por que só agora a Espanha resolvia iniciar as conquistas marítimas?

Em primeiro lugar, porque até 1469 a Espanha ainda não existia. Como já vimos, durante a reconquista formaram-se na península Ibérica pequenos reinos cristãos que, durante séculos, lutaram para expulsar os mouros. Os mais importantes desses reinos eram Castela e Aragão. (Veja mapas da p. 41)

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Em 1469, Isabel, filha do rei de Castela, casou-se com o rei Fernando de Aragão. Com esse casamento, os dois reinos se uniram e formaram a Espanha. O principal objetivo de Fernando e Isabel era continuar a luta contra os mouros, que ainda dominavam o sul da península.

A guerra de reconquista terminou finalmente em 1492, com a expulsão definitiva dos mouros. Nesse mesmo ano, um navegante da cidade de Gênova, chamado Cristóvão Colombo, apresentou à rainha Isabel um plano para chegar ao Oriente.

Colombo sabia que a Terra é redonda e tinha certeza de que , se navegasse em direção ao Ocidente, chegaria inevitavelmente ao Oriente. Apesar das dúvidas que ainda existiam sobre a esfericidade da terra, Isabel resolveu aprovar a proposta do navegante genovês.

Assim, Colombo recebeu recursos e navios fornecidos por Isabel para realizar a viagem. Partiu em agosto de 1492, abrindo caminho através do Atlântico. (Figura 5.)

Figura 5 – As viagens de Colombo (peça orientação ao seu professor sobre o mapa).

Figura 6 – O desembarque de Colombo, quadro do pintor Theodor de Bry. Nessa obra fica claro o contraste entre o modo de vida dos habitantes da América e o dos conquistadores europeus.

O que Colombo não sabia é que, entre a Europa e a Ásia, depararia com uma grande massa de terra: o continente americano. Assim, em vez de chegar ao Oriente, como pretendia, aportou nas ilhas Bahamas, na América Central, em outubro de 1492. (Figura 6) Acreditava que estava chegando às Índias e por isso chamou os habitantes da terra de índios.

Somente depois de outras viagens para o local onde aportou Colombo, os europeus perceberam que se tratava de um continente, que recebeu o nome de América, em homenagem a um famoso navegar italiano – Américo Vespúcio.

Quem fica com a América?

A chegada a essas terras distantes da Europa e, até então, desconhecidas dos europeus logo provocou um conflito entre Espanha e Portugal. Os portugueses , que já exploravam o Atlântico havia quase um século, julgavam Ter direitos sobre as terras situadas a ocidente da Europa. A Espanha dizia o mesmo, pois Colombo havia tomado posse dos territórios onde aportou, em nome da rainha Isabel.

Com o objetivo de solucionar o conflito, os dois países apelaram para a autoridade do papa. Este propôs que todas as terras situadas a ocidente da Europa, já conhecidas ou que viessem a ser encontradas, fossem divididas entre Portugal e Espanha. Depois de muito desacordo, estabeleceu-se que o marco divisório seria uma linha imaginária (um meridiano) situada a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. As terras que estivesse a oeste dessa linha seriam da

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Espanha e as que estivesse situadas a leste dela pertenceria a Portugal. O acordo foi oficializado pelo tratado de Tordesilhas (assinado na cidade espanhola de Tordesilhas) em 1494. (Figura 7.)

Figura 7 – Mapa sobre o Tratado de Tordesilhas

Dizimando a população indígena, os espanhóis fundaram várias colônias nos seus domínios americanos, e foram favorecidos pelas imensas riquezas minerais (ouro e prata) neles encontradas.

Outros reis europeus reagiram contra o Tratado de Tordesilhas, inconformados com a pretensão de Portugal e Espanha de dividir o mundo entre si. No entanto, foram obrigados a aceitar o acordo, pois ainda não tinham condições para disputar os cobiçados territórios da África, Ásia e América.

Finalmente, a Índia

Com o Tratado de Tordesilhas, os portugueses garantiram suas futuras conquistas no Atlântico. Mas nem por isso desistiram de alcançar a Índia, seguindo o plano de contornar a África. O maior obstáculo foi vencido em 1488, quando uma expedição por Bartolomeu Dias, enfrentando um grande temporal, ultrapassou o cabo que fica no extremo sul da África. O navegador resolveu chamá-lo de Cabo das Tormentas, mas o rei de Portugal, ao receber a notícia, deu-lhe o nome de Cabo da Boa Esperança, pois finalmente os portugueses haviam encontrado o caminho para chegar à Índia. (Veja Figura 1, P.44.)

Depois disso, eles realizaram mais algumas viagens para explorar pontos do litoral lesta da África, e em 1498 atingiram a Índia, com uma expedição comandada por Vasco da Gama. (Veja Figura 1,p.44.)

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A disputa com os árabes na Índia.

A chegada dos portugueses à Índia não significava o domínio imediato da região. Fazia muito tempo que os indianos mantinham o comércio com mercadores árabes e não desejavam prejudicar suas relações com eles. Por isso, os primeiros contatos entre portugueses e indianos não foram muito amistosos. Mesmo assim, as caravelas portuguesas voltaram para Europa abarrotadas de especiarias. Os lucros foram fabulosos.

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Para impor o domínio comercial na Índia e garantir a continuidade desse lucrativo comércio. Portugal teria que enviar outras expedições ao Oriente.

Com esse objetivo, começou a ser preparada uma grande frota, comandada por Pedro Álvares Cabral e composta por treze embarcações e 1500 homens. A missão de Cabral era fundar feitorias e bases militares e impor aos indianos o comércio permanente com Portugal.

Nas terras de Pindorama

Entretanto, durante a viagem, a esquadra se afastou do continente africano e atravessou o oceano Atlântico. No dia 22 de abril de 1500 chegou às terras da América habitadas pelos índios tupis.

Ali os portugueses permaneceram por alguns dias, tentando avaliar que vantagens poderiam ser tiradas dessas terras, e no dia 2 de maio Cabral, e toda a esquadra, seguiu viagem em direção à Índia.

Na verdade, a não pela vaga esperança de encontrar ouro e prata, os portugueses não demonstraram grande interesse pela terra que tinham encontrado. Ao contrário dos indianos e africanos, que ofereciam ao comércio português valiosas mercadorias, os indígenas de Pindorama não se preocupavam em produzir nada para vender.

Agora já sabemos quem eram os estrangeiros que chegaram na terra de Pindorama. Sabemos de onde vinham. E você já deve ter uma idéia do que desejavam. Mas ainda não sabemos o que fariam depois.

É o que vamos descobrir nos próximos capítulos.

ATIVIDADES

Atividade I - Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 8, baseando-se no roteiro a seguir:

a) burguesia;

b) nobreza

c) igreja católica

2) Razões que explicam por que Portugal foi o primeiro reino europeu a empreender as viagens atlânticas.

3) Mercadorias exploradas por Portugal no litoral africano.

4) As funções das feitorias.

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5) relação entre a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453 e o plano português de chegar à Índia.

6) Objetivo e resultado da viagem de Cristovão Colombo.

7) Conflito entre Portugal e Espanha em conseqüência da chegada de Colombo à América. Solução do conflito.

8) Significado do Tratado de Tordesilhas para a Espanha.

9) Significado da viagem de Bartolomeu Dias para Portugal.

10) Importância da viagem de Vasco da Gama para Portugal.

11) Objetivos da viagem de Cabral às Índias.

Atividade II - Estudo de outras fontes.

DOCUMENTO

Trechos da carta do escrivão da esquadra de Cabral, Pero Vaz Caminha, ao rei de Portugal, falando sobre os habitantes da terra aportada.

A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixar de encobrir suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência.

(...) um deles (um dos índios que foram levados até a embarcação) fitou o colar do Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. E também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata!

(Apub Fenelon, Dea. 50 textos de História do Brasil. São Paulo: Hucitec, 1974.p. 22-3.)

1) Que costume indígena causou espanto aos portugueses?

2) Que trechos da carta indicam a esperança dos portugueses de encontrar metais preciosos na terra em que aportaram?

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ENCERRAMENTO DA UNIDADE

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ATIVIDADE I - Em grupos

Discutir os objetivos apresentados no início da unidade, sob o título: "O que é importante aprender".

Atividade II

Montar uma linha do tempo abrangendo os séculos XII, XIII, XIV, XV e XVI. Registrar nessa linha todos os fatos relatados na UNIDADE III, relativos a Portugal e às viagens marítimas.

Observação: Sugere-se que a linha tenha 20 cm de comprimento, sendo 4 cm para cada século.

PREPARAÇÃO PARA A PRÓXIMA UNIDADE

Atividade em grupos

No mapa ao lado (peça orientação ao seu professor), o Brasil atual, dividido em Estados. Observe e responda.

1) Começando por Pernambuco, em direção ao sul, observe o Estados litorâneos e suas capitais.

2) Localize no atlas da cidades de Olinda, Porto Seguro, Ilhéus, Santos e São Vicente. A que Estado pertence cada uma dessas cidades?

3) Localize a cidade de São Paulo e a cidade de São Vicente. Consulte, no atlas, o mapa do Brasil físico e responda: Qual é a serra que se encontra entre essas duas cidades?

4) Localize no atlas o Estado do Rio de Janeiro. Qual é o nome da baía que se encontra nesse Estado?

Figura - Mapa do Brasil limite com países vizinhos.

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UNIDADE IV

OS BRANCOS CHEGARAM

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Como vimos no capítulo anterior, os portugueses foram pioneiros na navegação do Atlântico. Nas viagens que fizeram no decorrer do século XV, avançaram cada vez mais em direção ao sul da África, contornando o continente e atingindo sua costa oriental. Em seguida, chegara à Índia e à China. Além disso, atravessaram o oceano e alcançaram a América em 1500.

Onde chegavam, os portugueses, como também os europeus de outros países, procuravam se apoderar das riquezas que encontrassem. Transportavam essas mercadorias para a Europa, onde as vendiam com altíssimos lucros. Além dos mercadores, também os reis ganhavam com isso, pois ficavam com uma parte dos lucros desse comércio.

Na América, Portugal se apossou de um extenso território, ao foi dado o nome de Brasil.

Para os indígenas que habitavam essas terras, a chegada de um povo estrangeiro aparentemente não traria prejuízos. O que os portugueses quiseram, no começo, foi apenas levar toras de uma madeira que os índios chamavam ibirapitanga e que os brancos conheciam como pau-brasil. plantações. E, conforme iam chegando, construíam casas, armazéns,

Mas depois de algum tempo começou a chegar um número cada vez maior de estrangeiros, que se apossavam das terras dos indígenas para fazer formavam povoados, organizavam uma força militar.

Para defender suas terras, os índios tiveram que enfrentar os brancos numa guerra desigual, em que, de um lado, se usavam arcos e flechas e, de outro, armas de fogo. (Figura 1.)

Figura 1 - Chefe dos índios coroados, numa gravura de Jean Baptiste Debret (século XIX).

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O QUE É IMPORTANTE APRENDER

- Durante o estudo desta unidade, procure concentrar-se nos seguintes objetivos:

- Compreender qual era o interesse de Portugal nas terras do Brasil e da Índia.

- Explicar por que a Coroa portuguesa não iniciou a colonização nos primeiros trinta anos após a chegada ao Brasil e por que resolveu colonizar a terra brasileira após esse período.

- Descrever as relações que se estabeleceram entre indígenas e portugueses para a exploração do pau-brasil.

- Explicar por que o sistema de capitanias hereditárias não atendeu completamente aos objetivos da Coroa.

- Compare a atitude da Coroa, dois jesuítas e dos colonos em relação aos índios.

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- Explicar por que nas regiões de cultivo de cana-de-açúcar os escravos indígenas foram substituídos por escravos africanos e por que em outras regiões continuou a escravização dos índios.

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Capítulo 9

O que os portugueses queriam ?

Recordando

Quando chegaram pela primeira vez ao Brasil com a esquadra de Pedro Álvares Cabral, os navegantes portugueses descobriram que as comunidades indígenas apenas produziam para sua sobrevivência, não possuindo mercadorias de interesse para o comércio português.

Nos primeiros trinta anos após a chegada de Cabral, as atenções de Portugal continuaram voltadas para o Oriente.

Esses primeiros anos (de 1500 a 1530) são conhecidos como período Pré- Colonial, isto, é, anterior à colonização. Durante esse tempo, o rei de Portugal, D. Manuel, enviou às terras do Brasil duas expedições (uma em 1501 e outra em 1503), com o objetivo de verificar se nelas havia ou não alguma riqueza que pudesse ser explorada.

Pau-brasil: a primeira exploração

Nas matas que se estendiam ao longo do litoral, havia uma árvore semelhante àquela que existia no Oriente, chamada de brasil, devido a sua cor avermelhada como brasa. De sua madeira extraía-se um corante que os europeus usavam para tingir tecidos. Essa árvore interessou aos portugueses, e foi ela, afinal, que deu nome à terra: Brasil.

O rei de Portugal decidiu que a madeira pertencia exclusivamente à Coroa e que só o governo tinha o direito de explorá-la. Mas para extrair e transportar o pau-brasil, era necessário investir recursos. Naquele momento, o comércio com o Oriente era muito mais importante e lucrativo e por isso, o rei preferiu conceder autorização para a exploração do pau-brasil a alguns comerciantes portugueses.

Em troca desse privilégio, os negociantes tinham que pagar uma quantia fixa à Coroa, construir feitorias e defender o litoral contra a presença de navios De outros países europeus.

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Desse modo, entre 1500 e 1530, os índios que habitavam a costa brasileira se habituaram a ver chegar, cada vez com mais freqüência, embarcações tripuladas por portugueses, e marinheiros de outros países, que vinham em busca do pau-brasil.

Os indígenas concordaram em cortar as árvores e transportar os pesados troncos até as feitorias construídas junto à praia,em troca de bugigangas (espelhos, miçangas), armas(facas) e ferramentas(machados).

A madeira cortada ficava armazenada nas feitorias, aguardando a chegada dos navios que a transportavam para a Europa. Mas, além de servir como armazéns, as feitorias portuguesas tinham o papel de marcar a presença de Portugal ao longo da costa brasileira, na tentativa de afastar navios de outros países.

Com o pau-brasil começou a exploração do trabalho indígena pelos europeus (portugueses e franceses). Para os índios, não havia diferença entre uns e outros; por outros ; por isso, algumas tribos negociavam com os portugueses e outras com os franceses. O resultado foi que os índios acabaram entrando nas lutas que franceses e portugueses travaram pelo domínio do Brasil.

Percebendo que poderia perder o domínio sobre o Brasil, o rei de Portugal decidiu enviar algumas expedições, chamadas guarda-costas, com o objetivo de atacar os navios franceses. (Boxe A)

Começa a conquista

Como vimos, nos primeiros trinta anos após a chegada de Cabral, o rei de Portugal não se interessou em conquistar a terra do Brasil, porque o comércio com o Oriente era muito mais lucrativo.

Mas em 1.530 os lucros daquele comércio já não eram tão vantajosos, pois Portugal gastava grande parte deles para impedir que outros países da Europa tomassem as áreas que controlavam e para manter o domínio sobre os povos submetidos.

Também na América os portugueses se defrontavam com os concorrentes, principalmente franceses, que não aceitavam a pretensão de Portugal de ser dono exclusivo do Brasil. Eles diziam que Portugal só teria direito àquelas terras se conseguisse povoá-las, isto é, colonizá-las.

Figura 2 Neste mapa, provavelmente desenhado por volta de 1519, em pergaminho, vemos indígenas já ocupados na exploração do pau-brasil.(Peça explicações para o seu professor)

A Uma das expedições enviadas pela Coroa portuguesa era comandada por Cristóvão Jacques. Ele encontrou, na altura da Bahia, três navios franceses e conseguiu vencê-los, após um dia de combate. A carga de pau-brasil foi aprendida e muitos tripulantes se refugiaram junto aos índios. Trezentos franceses foram presos e mortos com grande crueldade.

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Todos os esforços da Coroa para impedir a chegada de navios franceses foram inúteis. A única forma de manter o controle sobre o território brasileiro seria mesmo colonizá-lo.

O rei de Portugal sabias que, se o território fosse povoado por colonos portugueses, estes defenderiam suas propriedades, o que garantiria a posse do território para Portugal. Além disso, a exploração da terra poderia contribuir para aumentar os tesouros reais e compensar os gastos cada vez maiores com a defesa dos domínios orientais.

A primeira medida tomada pela Coroa para iniciar a colonização foi enviar uma expedição comandada por Martim Afonso de Sousa. Sua principal missão era avaliar os recursos da terra e fundar os primeiros povoados.

Martim Afonso navegou ao longo da costa, de norte a sul, aportando no litoral do atual Estado de São Paulo, onde fundou São Vicente (1432), a primeira vila portuguesa no território do Brasil. Começava a colonização do Brasil, que se prolongou por mais de três séculos. (Figura 3.)

Peça para o seu professor descrever o quadro do Pintor Benedito Calixto (1835-1927) reconstituindo a chegada de Martim Afonso de Sousa a um porto de sua capitania, conhecido como Piaçagüera.

Cana de açúcar: um bom negócio

O começo do povoamento em São Vicente não foi suficiente para afastar os franceses do litoral brasileiro. Para isso seria preciso criar povoados em vários pontos do litoral . Mas, os portugueses só morariam numa terra distante, desconhecida, se nela houvesse a possibilidade de enriquecer.

Seria necessário, então, iniciar uma atividade que fosse lucrativa para os colonos. Era o caso da plantação de cana e da produção do açúcar, uma mercadoria rara e de alto preço na Europa. Enquanto não se achassem os cobiçados metais preciosos, essa seria uma boa alternativa para aproveitar a terra.

Dividir é a solução

Mas a colonização não era um empreendimento simples, pois a grande extensão do litoral brasileiro exigia um enorme esforço de defesa.

O rei resolveu então, em 1534, dividir o território do Brasil em quinze faixas paralelas ao equador e entregar cada uma delas a um administrador,

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um capitão donatário. Doze capitães donatários receberam capitanias, que, após sua morte, passariam para seus filhos. Por isso, eram chamadas capitanias hereditárias.

Apesar da presença de outros funcionários reias, o capitão donatário tinha amplos poderes em sua capitania: podia fundar vilas, nomear auxiliares, cobrar impostos dos colonos, fazer julgamentos, conceder licença para a montagem de engenhos.

O rei também permitia que elétrons vendesse 24 índios por ano em Portugal. Isso demonstra que os portugueses se achavam no direito de escravizar os índios. E, finalmente, o donatário ficava com uma parte dos rendimentos obtidos com a exploração da capitania.

Além disso, ele se tornava proprietária de uma faixa de terra de 10 léguas de extensão. O restante das terras da capitania podia ser distribuído, em lotes chamados sesmarias, a pessoas que tivessem recursos para cultivá-las com cana-de-açúcar. Em troca, o colono proprietário da sesmaria, tinha apenas a obrigação de pagar 10 por cento (o dízimo) da sua produçãoao capitão donatário.

Por outro lado, o capitão donatário também tinha uma porção de obrigações.Devia adminitrar a capitania, promover seu povoamento e desenvolver a exploração lucrativa das terras; e ainda defender a capitania contra as tentativas de ocupação por outros países.

Entretanto, uma das tarefas mais difíceis dos capitães donatários era a própria conquista da terra, que afinal, já tinha dono: os índios. Para os colonos se fixarem nas propriedades recebidas, os índios tinham que ser expulsos. Mas eles defenderam suas terras, atacando vilas e plantações.

Esse foi um dos motivos pelos quais a maioria das capitanias não deu o resultado esperado pela Coroa portuguesa.

São Vicente e Pernambuco: a conquista garantida

Em apenas duas capitanias os donatários atingiram os objetivos estabelecidos por Portugal: São Vicente e Pernambuco.

São Vicente, doada a Martim Afonso de Sousa, foi a única capitania que recebeu ajuda financeira diretamente da Coroa portuguesa. Nela se estabeleceram plantações de cana-de-açúcar e se instalou o primeiro engenho. Além disso, os colonos vicentinos conseguiram aliar-se aos índios da região, os tupinhiquins, vivendo em paz com eles durante certo tempo.

Já a capitania de Pernambuco foi onde o povoamento português mais cresceu. Seu clima e seu solo foram muito favoráveis às plantações de cana- de-açúcar, que se multiplicaram rapidamente, atraindo novos colonos.

Além disso, a capitania de Pernambuco estava mais próxima da Europa, o que facilitava o comércio e a metrópole.

Outra razão do crescimento dessa capitania foi o fato de seu capitão donatário, Duarte Coelho, Ter trazido consigo uma imensa fortuna, acumulada no comércio com a Índia. Esse dinheiro foi

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aplicado no desenvolvimento das atividades da capitania e na manutenção de uma milícia que conseguiu praticamente acabar com os índios da região – os tupinambás. Os que sobreviveram foram escravizados pelos portugueses ou refugiaram-se em áreas mais distantes do núcleo colonial.

Vossa Majestade perderá a terra

Nas demais capitanias, a colonização, portuguesa, de início, não se firmou. Houve capitães donatários que nem chegaram a vir para o Brasil, enquanto outros abandonaram suas capitanias.

Em alguns casos, os colonos não conseguiram vencer os franceses, nem a resistência dos indígenas, que atacavam e queimavam lavouras e vilas, tentando retomar as terras que haviam perdido.

Numa carta enviada ao rei de Portugal (que na época era D. João III) em 1548, um colono dizia:

Se Vossa Majestade não assistir logo essas capitanias... não só perderemos nossas vidas e mercadorias, como também perderá Vossa Majestade a terra. (Apud Marchant, Alexander. Do escambo à escravidão. São Paulo: Nacional; Brasília: INL, 1980, p. 67.)

O rei de Portugal não desejava perder a terra do Brasil. Principalmente porque em 1545 chegaram à Europa notícias de que os espanhóis haviam encontrado as riquíssimas minas de prata de Potosí, no Peru. Isso renovava as esperanças de Portugal em encontrar metais preciosos no Brasil. Era mais um motivo para que o rei de Portugal buscasse um novo meio de defender sua colônia na América.

Um representante do rei

Diante das dificuldades dos donatários em consolidar a colonização, a Coroa portuguesa resolveu nomear um governador-geral para a colônia. Este representaria diretamente o rei e teria poderes sobre todas as capitanias.

Em 1549, Tomé de Sousa, o primeiro governador-geral, chegou ao Brasil, acompanhado de cerca de mil pessoas: funcionários, soldados, artesãos e padres.

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Ele tinha várias tarefas a cumprir: deveria visitar e fiscalizar as capitanias; organizar expedições para o interior, em busca de riquezas minerais; eliminar as tribos indígenas que resistiam à ocupação portuguesa; garantir a defesa da colônia contra ataques de concorrentes europeus.

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O governo-geral se estabeleceu na capitania da Bahia, onde Tomé de Sousa fundou a cidade de Salvador, primeira capital da colônia.

Para auxiliar o governador-geral vieram alguns funcionários reais: o ouvidor- mor (ou ouvidor-geral) encarregado dos impostos que os colonos deviam pagar à Coroa e responsável pela administração do tesouro real; e o capitão- mor da costa (ou capitão geral), aue devia defender o litoral. Figura 5 - Peça para o seu professor descrever.: Em vários pontos do litoral, construíam-se fortalezas, de onde se vigiava a costa, tentando evitar que navios de outros países atracassem no Brasil. Na foto, o forte Monte Serrate, na Bahia.

As primeiras vilas

Em todas as terras que os colonos dominavam, criavam-se fazendas e vilas. Estas, no início da colonização, localizavam-se sempre junto ao litoral, para facilitar o embarque e o desembarque das mercadorias.

As vilas eram o lugar onde os habitantes das fazendas compravam os produtos necessários ao abastecimento, a maioria importados da Europa. Também ali os senhores de engenho (proprietários de grandes canaviais e engenhos de açúcar) iam vender sua produção e comprar escravos trazidos da África.

-- Página – 57

Cada vila era a sede de um município. Na praça central se erguia uma coluna de pedra, o pelourinho, onde eram amarrados os rebeldes ou criminosos, para serem açoitados ou enforcados. O pelourinho servia para lembrar a todos os habitantes da colônia que o rei existia e queria suas ordens obedecidas.

Figura 7 – Peça para o seu professor descrever para você. Vista da vila de Santos, no século XIX, retratada pelo pintor Benedito Calixto. Apesar de já terem transcorrido três séculos de sua fundação, o pelourinho (no meio da rua) se mantinha como símbolo do poder da Coroa sobre a colônia.

Além das habitações dos colonos, outros prédios eram construídos: a igreja, a casa de arrecadação dos impostos, a cadeia, os armazéns e a câmara municipal.

Nas câmaras municipais, compostas por um juiz, três vereadores e um procurador, tomavam-se as decisões que diziam respeito ao município: decretavam-se as prisões, fixavam-se os preços de mercadorias e os impostos; organizavam-se as expedições para as matas, em busca de metais e pedras preciosas; recrutavam-se homens para reprimir rebeliões de escravos ou para escravizar índios.

Todos os membros das câmaras municipais eram escolhidos por meio de eleição, mas só podiam votar e candidatar-se aqueles que pertencesse, à categoria dos “homens bons”. Esse

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título era inicialmente privilégio da nobreza de Portugal. Mas, com o tempo, os proprietários de terra da colônia também passaram a fazer parte dessa camada privilegiada e, assim, conseguiram dominar as câmaras municipais.

Com freqüência, os membros das câmaras municipais entravam em conflito com outras autoridades, os funcionários reais. Mas geralmente esses confrontos foram tolerados pelos governadores. Afinal, os ricos proprietários de terra contribuíam para que a colonização atingisse os principais objetivos: ocupar a terra e defender a colônia, procurar metais preciosos e produzir mercadorias para que os comerciantes e a Coroa tivessem bons lucros.

Atividades

Atividade I – Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 9, baseando-se no roteiro a seguir:

1. Razões do desinteresse de Portugal em colonizar o Brasil logo após a chegada de Cabral.

2. A exploração do pau-brasil e as relações entre índios e brancos durante o período pré-colonial.

3. Razões que impediram que o sistema de capitanias atingisse os objetivos da Coroa.

4. Razões que possibilitaram que a colonização se firmasse nas capitanias de São Vicente e Pernambuco.

5. Medidas tomadas pela Coroa, em 1549, para aumentar o controle sobre a colônia.

6. Principais autoridades portuguesas, a partir de 1549:

a) na colônia;

b) nas capitanias.

7. O poder dos “homens bons” diante da autoridade dos funcionários reais.

Atividades II – Estudo de outras fontes

Documentos

A) Trecho do documento que os capitães donatários recebiam do rei de Portugal, quando lhe era doada a capitania.

Atendendo elétrons-rei que muitos vassalos, por delitos que cometem andam foragidos, se ausentam para reinos estrangeiros sendo aliás de grande convivência que fiquem antes no reino e senhorios, e sobretudo que passem para as capitanias do Brasil, que se vão de novo povoar, há por bem declará- las couto e homizio [refúgio e esconderijo] para todos os criminosos que nelas quiserem ir morar, ainda que já condenados por sentenças até em pena de morte...

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(Apud Castro, Therezinha de. História documental do Brasil, p. 48.)

1. A quem o rei está dando permissão para que venha viver na colônia?

2. Que razões teria o rei para tomar essa decisão ?

Documento

B) Carta de Tomé de Sousa ao rei de Portugal, D. João III, sobre suas atividades na colônia.

Senhor, eu cheguei a esta cidade de Salvador depois de correr a costa.(...) Todas as vilas e povoações de engenhos desta costa fiz cercar de taipa com seus baluartes e as que estavam arredadas [distantes] do mar fiz chegar ao mar e lhes dei toda a artilharia que me pareceu necessária, (...) O Espírito Santo é a melhor capitania e mais abastada que há nesta costa, mas está tão perdida como o capitão dela (...). Eu entrei no Rio de Janeiro (...) Parece-me que a V.ª deve mandar fazer ali uma povoação honrada e boa, porque já nesta costa não há rio em que entrem franceses senão neste, e tiram dele muita pimenta (...) São Vicente , capitania de Martim Afonso, é uma terra muito honrada e de grandes águas e serras e campo(...) Foi-se agora descobrindo, pouco a pouco, que esta povoação que se chama a cidade de Assunção está muito perto de São Vicente – e não devem passar de 100 léguas (...). Parece-nos a todos que esta povoação está na demarcação de V.ª (...) Os Irmãos da Companhia de Jesus [padres jesuitas]fazem nesta terra muito serviço a Deus por muitas vias (...) Têm eles grande fervor de irem pela terra a dentro, a fazer casas no sertão entre o gentio [os índios]

(Apud Saga, v. 1. São Paulo: Abril cultural, 1981. P. 117.)

1. Que providência o governador tinha tomado nas povoações que visitou ao longo da costa? Que motivos ele teria para fazer isso ?

2. Por que Tomé de Sousa recomendava ao rei que mandasse fazer uma povoação no Rio de Janeiro?

3. O que o governador dizia sobre a capitania de São Vicente?

4. Num atlas, consulte o mapa político da América do Sul e procure a cidade de Assunção. Indique a qual país ela pertence.

5. Por que o governador achava que Assunção estava dentro dos domínios de Portugal?

6. O que o governador falava sobre os Irmãos da Companhia de Jesus?

Sugestões de atividades complementares

Atividade III

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1. Um comércio em que se trocam mercadorias de grande valor por objetos de pouco valor chamam-se escambo. O comércio de pau-brasil entre portugueses e índios pode ser chamado de escambo? Por quê ?

Atividade IV – Em grupos

1. Comparar o mapa das capitanias hereditárias (pág. 54) com o mapa do Brasil atual, na página 49, dividido em estados, e responder:

a) Que mudanças se observam em relação ao tamanho do território do Brasil?

b) A fronteira da colônia, marcada pela linha de Tordesilhas, se manteve até hoje?

c) Quais os Estados atuais que estão fora dos antigos domínios portugueses?

d) Quais os Estados que mantiveram o mesmo nome das capitanias?

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CAPÍTULO 10

Os brancos na terra dos índios

Recordando

A partir de 1532, a Coroa portuguesa iniciou a colonização do Brasil, na tentativa de afastar definitivamente os franceses. Mas, para realizar de fato a ocupação, os portugueses tiveram de vencer a resistência dos índios.

Nos primeiros tempos após a viagem de Cabral, quando os comerciantes portugueses se dedicavam apenas à extração de pau-brasil no litoral brasileiro, as relações entre eles e os índios foram, em geral, amistosas.

Apesar da exploração do trabalho indígena, por meio da prática do escambo, as terras e o modo de vida dos primitivos habitantes do Brasil ainda não estavam totalmente ameaçados pela presença do homem branco.

Mas, com o tempo, os colonos começaram a escravizar os índios, forçando- os a trabalhar nas lavouras e engenhos de açúcar.

“Juro que não farei nenhum trabalho braçal”

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Por que os portugueses precisaram de escravos? Por que ele próprios não trabalharam em suas lavouras?

Os colonos que se dispunham a vir para o Brasil só tinham a intenção de enriquecer rapidamente e não estavam dispostos a trabalhar penosamente para ganhar a vida. Num documento da época, um português revela seus planos, às vésperas de embarcar para o Brasil:

Juro que não farei nenhum trabalho braçal, enquanto conseguir um só escravo que trabalhe para mim, com a graça de Deus e do rei de Portugal.

Os colonos e a Coroa só teriam os lucros esperados com a cana-de-açúcar se as plantações fossem feitas em grandes propriedades, e isso exigia uma mão- de-obra numerosa. Assim, a forma de trabalho mais adequada aos objetivos dos colonos era o trabalho escravo. O escravismo também ocorreu em colônias de outros países onde foi implantada a produção de cana-de-açúcar.

Para obter escravos, os colonos começaram a guerrear contra os índios e assim se iniciou a tragédia do extermínio desse povo, que se prolonga até os dias de hoje. Foi uma guerra desigual, pois os brancos usaram armas de fogo, e os índios, embora conseguissem vencer algumas batalhas, no final saíram derrotados. Figura 1.)

Na área conhecida como Igaraçu, nas proximidades de Olinda, travaram-se sangrentas batalhas entre portugueses e índios. Neste quadro um pintor desconhecido retratou a chegada dos portugueses a Igaraçu em 1530, ocasião em que foram mortos e expulsos uma multidão de índios.

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Mas a agressão contra os indígenas acabava resultando em problemas para os próprios colonos, pois os nativos reagiam, atacando vilas e fazendas.

Guerra ou paz ?

Quando o primeiro governador-geral (Tomé de Sousa) veio para o Brasil, ele tinha ordens da Coroa para tentar impedir os conflitos entre colonos e indígenas. Só seria permitido escravizar os índios que fossem considerados como ameaça para a segurança dos colonos. Já os índios aliados não deveriam ser perturbados pelos colonos. Tinham permissão para ocupar terras próximas aos povoados e, assim, poderiam ajudar os portugueses a destruir ou afastar As tribos consideradas inimigas.

Além disso, forneceriam gêneros alimentícios e outros materiais para construções, em troca de foices, machados, anzóis, facas, enxadas e quinquilharias. Desse modo, contribuíam para a solução de um dos problemas mais sérios da colonização, que era falta de alimentos. Os colonos, para obter o máximo de lucro com o açúcar, preferiam aproveitar toda a terra com a

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plantação de cana, não se preocupando em desenvolver lavouras voltadas para a produção de gêneros alimentícios.

Assim, na época do governador Tomé de Sousa, as relações entre colonos e índios foram relativamente pacíficas.(Figura 2) No govberno de Tomé de Sousa, os índios considerados amigos participavam ativamente da construção da cidade de Salvador. Quadro do pintor Manoel Victor Filho, Tomé de Sousa e a construção de Salvador.

“Salvar essa gente”

Para auxiliar o governo-geral nesta tarefa de aproximação com os indígenas, veio com Tomé de Sousa um grupo de padres da ordem dos jesuítas. Assim , enquanto os colonos cobiçavam as terras e o trabalho dos índios, os jesuítas desejavam conquistar-lhes as almas, tornando-os cristãos. Figura 3 mostra a reconstituição da chegada de Tomé de Sousa à Bahia. Observe o padre, logo atrás do governador, carrerrando uma cruz. A cruz acompanhava os conquistadores e colonizadores de Portugal e da Espanha aonde quer que eles fossem.

A ordem religiosa dos padres jesuítas, a Companhia de Jesus, foi fundada por um padre espanhol chamado Inácio de Loyola, em 1534. Seus membros se comportavam como verdadeiros soldados de Cristo, obedecendo cegamente às determinações dos superiores. O objetivo dessa ordem era fortalecer a Igreja Católica.

Desde o início das explorações marítimas, no século XV, a Igreja Católica tinha interesse em difundir o cristianismo entre os habitantes das terras

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que iam sendo conquistadas. Os europeus acreditavam que somente a sua religião era a verdadeira e que todos os outros povos viviam em pecado.

Muitos documentos da época revelam a intenção de converter os indígenas da América. Um trecho da carta de Pero Vaz de Caminha, por exemplo, escrita ao rei de Portugal quando a esquadra de Cabral chegou ao Brasil, diz: “ O melhor fruto que se pode tirar dessa terra me parece que será salvar essa gente”.

Isso explica por que, desde a vinda dos primeiros colonizadores para o Brasil, também vieram alguns padres.

Quando os conflitos entre colonos e índios se agravaram, a ação dos religiosos passou a ser indispensável para os portugueses, que achavam melhor Ter os indígenas como pacíficos aliados cristãos do que como inimigos.

Por todos esses motivos, o rei de Portugal incentivou a vinda dos padres jesuítas, acreditando que eles poderiam ajudar a vencer a resistência dos indígenas.

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A missão dos jesuítas era a catequese isto é, a tarefa de transformar os índios em cristãos dispostos a trabalhar para os colonos. Para realizar essa tarefa, os jesuítas entravam nas matas, ganhavam a confiança dos índios e depois fundavam uma aldeia, onde os índios passavam a viver sob a direção dos padres.

Nas aldeias ou missões jesuíticas, os índios cultivavam o solo, aprendiam técnicas artesanais européias , como a carpintaria e a tecelagem, e acabavam abandonando seus costumes e suas crenças. Por exemplo, nas comunidades indígenas, eles não precisavam de roupas, pois não tinham vergonha de viver nus. Mas, para os europeus, isso era condenável, um pecado. Assim, nas aldeias jesuíticas, os índios passavam a usar roupas e acabavam sentindo vergonha de sua nudez. (Figura 4): Nas aldeias jesuíticas, os indígenas se acostumavam a aceitar a presença do branco e sua posição de dominação.

A paz dura pouco

O segundo governador-geral foi Duarte da Costa, que governou o Brasil de 1553 a 1556. Ao contrário de Tomé de Sousa, ele não impediu que os colonos recomeçassem a guerra contra os índios, para escravizá-los.

Com ela, também começou um prolongado confronto entre colonos e jesuítas, que preferiam Ter os índios sob seu controle, nas missões.

A guerra e a escravidão crescente resultaram numa trágica mortalidade da população indígena, agravada ainda mais pelas doenças dos brancos. A gripe e a varíola, por exemplo, provocaram uma grande dizimação dos indígenas, cujo organismo não tinha nenhuma defesa contra tais epidemias. Calcula-se que, em apenas 15 anos, a população de 80 mil índios que viviam na capitania da Bahia ficou reduzida a 9 ou 10 mil.

O terceiro governador-geral, Mém de Sá, chegou à colônia em 1557 e tentou novamente impedir as guerras entre colonos e índios, estimulando o trabalho dos jesuítas para a formação de mais aldeias.

Mas a expansão das fazendas e o interesse dos colonos em aumentar o número de trabalhadores em suas lavouras resultaram em novos ataques aos índios.

Na terra dos tupinambás e tupiniquins

No local onde se estabeleceu a capitania de São Vicente, doada a Martim Afonso de Sousa, viviam duas tribos indígenas de língua tupi: os tupinambás, ao norte da vila de São Vicente, e os tupiniquins, no planalto, onde posteriormente foi fundada a vila de São Paulo (1554).

Figura 4 – Nas aldeias jesuíticas, os indígenas se acostumavam a aceitar a presença do branco e sua posição de dominação.(Peça para o seu professor descrever a figura).

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Os tupiniquins desciam a serra do Mar, de vez em quando, para obter sal e peixe no litoral. Em 1510, muitos anos antes da chegada de Martim Afonso, os índios encontraram numa dessas viagens dois marinheiros portugueses. O contato entre eles foi amigável e os portugueses casaram-se com as filhas de dois chefes tupiniquins, passando a viver nas suas aldeias.

Quando Martim Afonso de Sousa chegou, em 1532 encontrou esses portugueses, que facilitaram a formação de uma aliança entre os primeiros colonos e os índios tupiniquins.

Os índios ensinaram aos colonos portugueses os métodos de cultivo de milho e mandioca, de caça e pesca, o modo de construir cabanas e canoas. E, como a maioria dos portugueses vinha para o Brasil sem mulheres, muitos deles passaram a viver com as índias, adotando vários de seus costumes. Essas ligações originaram uma população de mamelucos, isto é, mestiços de brancos com índio.

Enquanto durou a amizade entre colonos e índios, os tupiniquins concordaram em trabalhar nas lavouras de cana-de-açúcar, em troca de ferramentas e outros objetos.

Mas, à medida que foram chegando mais e mais colonos, desenvolveu-se a plantação de cana e instalaram-se novos engenhos, aumentando a necessidade de mão-de-obra indígena. Foi então que se iniciaram os conflitos entre índios e colonos.

Subindo a serra

No entanto as condições geográficas da capitania de São Vicente não favoreciam o crescimento da atividade açucareira, pois a estreita faixa de terra plana, localizada entre o mar e a serra, não permitia a permissão de lavouras. Desse modo, os canaviais se concentraram apenas nas proximidades das vilas de São Vicente e de Santos (esta última fundada em 1545).

A escassez de terras também dificultava o cultivo de gêneros alimentícios para o abastecimento dos portugueses, e por isso os índios lhes forneciam grande parte dos alimentos.

Apertados entre o mar e a serra, os colonos logo começaram a explorar o planalto onde viviam os índios aliados. O primeiro passo para a ocupação dessa área foi a fundação de uma vila em 1553, no alto da serra (Santo André da Borda do Campo), junto à trolha utilizada pelos tupiniquins nas suas viagens ao litoral.

Pouco tempo depois, um grupo de treze jesuítas se estabeleceu no planalto, num local situado entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú. Ali fundaram, Em janeiro de 1554, o colégio de São Pauo de Piratininga, que deu origem a uma vila e posteriormente à cidade de São Paulo.

O objetivo dos jesuítas era Ter acesso às tribos indígenas do planalto, para fundar novas missões.

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Figura 5 – A primeira construção levantada no planalto de Piratinigna era um simples barracão de taipa, onde moravam os padres jesuítas, que servia também como escola.

Além de se empenharem na tarefa de cristianização dos indígenas, os jesuítas também se dedicaram à educação das crianças e dos jovens filhos dos colonos. Para isso fundaram colégios em várias vilas e cidades da colônia: São Vicente, Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro, Olinda, Ilhéus, Recife, São Luís, Santos, Belém, Alcântara, Paranaguá e Desterro.

Apesar da existência desses colégios jesuítas, poucos entre os colonos eram letrados.

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o que facilitaria também o contato entre os nativos e os colomos que se fixaramem São Paulo.

Mas a presença dos colonos no planalto logo provocou uma mudança nas relações entre índios e brancos. Como os portugueses necessitavam cada vez mais de mão-de-obra para as lavouras, começaram a incentivar as tribos aliadasa guerrear contra as outras, oferecendo-lhes armas de fogo, em troca de prisioneiros capturados. Figura 6:

Os índios que se aliavam aos portugueses participavam dos combates travados com outras tribos, ora usando suas próprias armas (arcos, flechas e lanças), ora armas de fogo fornecidas pelos colonos. Gravura de Debret.

Ao mesmo tempo, os próprios colonos passaram a atacar os tupinambás, que habitavam o litoral norte da capitania. Iniciou-se uma verdadeira guerra entre colonos e índios, que acabou envolvendo também os franceses, como veremos a seguir.

Tamoios e franceses contra os colonos portugueses

Na mesma época em que os colonos de São Vicente começaram a povoar o planalto de Piratiniga, um grupo de franceses aportou numa pequena ilha da baía de Guanabara, ali fundando o forte Coligny e um povoado. Queriam estabelecer uma colônia francesa no Brasil.

Os índios tupinambás que habitavam aquela região subdividiam-se em vários grupos, entre os quais os tamoios, que se tornaram aliados dos franceses.

DComo já vinham sofrendo constantes agressões dos colonos portugueses, os tamoios se uniram, formando a poderosa Confederação dos Tamoios, e começaram a atacar os vicentinos.

Para controlar toda essa região, os portugueses teriam que guerrear, ao mesmo tempo, contra dois adversários: os franceses e os índios. Em relação aos índios, os portugueses procuraram dar um trégua. Os padres jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega serviram de intermediários. Foram até as aldeias indígenas e conseguiram negociar um tratado de paz, transformando uma parte de seus adversários em aliados.

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Mas os portugueses ainda tinham que disputar com os frnaceses o controle sobre a região. Para isso, o governador Mém de Sá resolveu dar a seu sobrinho, Estácio de Sá, a missão de estabelecer um povoado nas proximidades do local onde estavam os franceses. Assim,e em primeiro de março de 1565 foi fundada a povoação de São Sebastião do Rio de Janeiro, que deu origem à cidade do mesmo nome.

A guerra entre portugueses e franceses se prolongou ainda por dois anos e terminou com a vitória de Mém de Sá. Os franceses acabaram se retirando do Rio de Janeiro.

Nos anos seguintes, alguns grupos de índios tamoios ainda travaram combates com os colonos portugueses, mas foram vencidos. Milhares deles tornaram-se escravos.

Com a derrota dos franceses e dos índios, os portugueses completaram a conquista de toda a faixa do litoral brasileiro que vai de Pernambuco a São Vicente.

Escravos negros no lugar dos índios

No decorrer do século XVI, as áreas plantadas com cana-de-açúcar aumentaram rapidamente, ao mesmo tempo que se instalavam novos engenhos. Assim criou-se uma necessidade cada vez mais de conseguir mão- de-obra.

No entanto, a utilização do trabalho indígena não satisfazia inteiramente aos interesses dos colonos. Vejamos por quê:

- Os índios não escravizados, que viviam nas aldeias jesuíticas, às vezes não aceitavam o punhado de bugigangas que os colonos lhes ofereciam pelos trabalhos nas lavouras e nos engenhos.

- Além disso, seu número era insuficiente para a realização de todo o trabalho.

- Os índios escravizados reagiam ao trabalho forçado e, sempre que podia, fugiam. Como conheciam muito bem as matas, dificilmente eram recapturados.

- Quando os portugueses “declaravam guerra” a uma tribo, acabavam recebendo o troco, pois os índios passavam a atacar as vilas e queimar as plantações.

- As autoridades portuguesas, representantes da Coroa, geralmente procuravam impedir as guerras contra os indígenas, para evitar os problemas que esses confrontos provocavam. Desse modo, ficava cada vez mais difícil para os colonos conseguir a quantidade de trabalhadores de que precisavam.

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Diante desses obstáculos, os colonos procuraram outra alternativa para resolver sua necessidade de mão de obra. Assim, aqueles que dispunham de condições financeiras começaram a se interessar em comprar escravos trazidos da África.

Mas a introdução do escravo africano envolveu também o interesse dos traficantes, que obtinham altíssimos lucros com esse comércio e, por isso, estimularam a substituição do escravo indígena pelo negro.(Voltaremos a esse assunto num capítulo mais à frente.)

Já existiam alguns negros no Brasil, desde a instalação do governo-geral. Mas foi a partir de 1570 que os escravos africanos começaram a chegar em maior quantidade, substituindo os índios nas lavouras de cana-de-açúcar e Nos trabalhos dos engenhos, principalmente no Nordeste.

Entretanto, como o preço do escravo negro era cinco vezes mais alto que o escravo índio, nem todos os colonos tinham condições de comprar africanos. Por, isso, nas capitanias onde não havia grande produção de açúcar, o trabalho indígena, apesar dos obstáculos acima referidos, continuou predominando durante muito tempo. Esse foi o caso, por exemplo, do Rio de Janeiro e de São Paulo e, posteriormente, do Maranhão e do Pará.

Atividades

Atividade I – Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 10, baseando-se no roteiro a seguir:

1. Relações entre brancos e índios nos primeiros tempos após a chegada de Cabral.

2. Razão das mudanças nas relações entre brancos e índios.

3. Relação entre colonos e indígenas no cultivo da cana-de-açúcar.

4. A política dos três primeiros governadores-gerais em relação aos pindios:

a) Tomé de Sousa;

b) Duarte da Costa;

c) Mém de Sá

5. Interesse da Coroa portuguesa na presença dos jesuítas da colônia.

6. Interesse dos jesuítas em participar da colonização.

7. Atitude dos indígenas da região da capitania de São Vicente em relação aos primeiros colonos.

8. Razões que levaram os colonos de São Vicente a estender sua área de ocupação para o planalto de Piratininga.

9. A Confederação dos Tamoios e o papel dos jesuítas no acordo da paz.

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10. Confrontos entre portugueses e franceses e a fundação do povoado de São Sebastião do Rio de Janeiro.

11. Razões que levaram os colonos a substituir os indígenas pelos negros agricanos nas lavouras e nos engenhos.

12. Razão que explica a manutenção do trabalho indígena em algumas capitanias.

Atividade II – Estudo de outras fontes

Documento

Relato de um diálogo entre o francês Jean de Léry e um índio tupinambá.

Uma vez um velho perguntou-me: por que vindes vós outros, mairs e perós [franceses e portugueses] buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraímos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com seus cordões de algodão e suas plumas.

Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? – Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. – Ah! Retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de qu me fala não morre? – sim, disse eu, morre como os outros (...) E perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam?

_Para seus filhos, se os têm, respondi; na falta destes, para os irmãos ou parentes mais próximos. _ Na verdade, continuou o velho (...) agora vejo que vós outros mairs e perós sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-lo também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois de nossa morte, a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.

(Apud Melatti, Julio Cezar, Índios do Brasil, p. 178.)

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1. Que diferença é possível observar entre a mentalidade do europeu e a do índio nesse diálogo?

2. Por que o velho índio achava que os mair (franceses) e perós(portugueses)eram loucos?

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Sugestão de atividade complementar

Atividade III – Em grupos

A seguir, aparecem trechos de notícias sobre conflitos com os índios em anos recentes, acompanhados das datas em que aconteceram. Após analisar cada um deles, responder às perguntas relacionadas no final.

1. (1963)

Francisco Amorim de Brito, funcionário da firma Arruda e Junqueira, de Cuiabá, organizou um bando de jagunços para expulsar os cinta-larga de suas terras em Aripuana (Mato Grosso). Com um avião, dinamitarm a aldeia. Os sobreviventes foram mortos a facão pelos jagunços que estavam em terra. Um bebê índio foi morto a tiro, enquanto sua mãe era estuprada. Em seguida ela foi amarrada a dois paus, pelos pés, e seu corpo aberto em dois, a golpes de facão.(Retrato do Brasil, v. 13, p. 17.)

2. (março de 1984)

Noventa índios txucarramãe seqüestraram a balsa utilizada na travessia do rio Xinga, interrompendo o tráfego na BR-080 (Cuiabá-Santarém); três dias depois, 130 índios guerreiros do Parque Nacional do Xingu reúnem-se aos txucarramãe e aderem ao movimento liderado pelo cacique Raoni; os índios pedem a presença do presidente da Funai, Otávio Ferreira Lima, com quem pretendem discutir a expansão do Parque Nacional do Xingu em mais 15 km ao longo da margem direita da rodovia e 60 km seguindo o rio Xingu; pedem ainda medicamentos contra malária, gripe e pneumonia, além de seringas descartáveis; Ferreira Lima diz que só negociava quando os índios devolverem a balsa e desocuparem a estrada; os txucarramãe pedem a demissão do presidente da Funai.

(Almanaque Abril, 1985.)

3. (fevereiro) de 1987)

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) denuncia o assassinato, naquela madrugada, de 3 índios xacrabás e um posseiro, na reserva de Itacarambi (MG), por 15 homens armados que teriam agido sob as ordens do grileiro Francisco de Assis Amaro.

(Almanaque Abril, 1988.)

4. (agosto de 1993)

Na Sexta-feira, 13 de agosto, (...) os índios [yanomami] participavam do shaura, um ritual onde os adultos tomam caxiri – uma aguardente feita à base de milho ou abacaxi. As crianças

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brincavam no terreiro aberto em volta do yano, a habitação coletiva dos yanomamis. Ao final da tarde, o massacre: dezenas de garimpeiros armados com espingardas calibres 12 e 20, revólveres 38 e afiados facões invadiram a aldeia atirando. Os adultos foram os primeiros A tombar, sem tempo de pegar seus arcos de acapu (madeira negra de grande resistência e flechas). As crianças foram chacinadas com requintes de crueldade – degoladas e estripadas.

(Isto É? Senhor, 25 de agosto de 1993.)

1. De acordo com o que vemos nas notícias 1 e 3, quais são os inimigos que atualmente ameaçam a sobrevivência dos índios?

2. Na notícia 2, os índios agem com o objetivo de conseguir algo. O que queriam? O que fizeram para conseguir o que desejavam?

Encerramento da Unidade

Discutir os objetivos apresentados no início da unidade, sob o título: “O que é importante aprender”. Redigir um pequeno texto sobre cada um dos temas.

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Preparação para a próxima unidade

Atividade em grupos

Peça auxílio para o seu professor.

Analisar o mapa seguinte, que mostra os caminhos dos produtos coloniais dos domínios portugueses até chegar aos países da Europa. Responder:

1. Quais os produtos coloniais originários dos domínios portugueses da África, Ásia e América ?

2. Localizar no mapa, a Holanda (Europa) e observar as rotas holandesas na Europa. Que relação comercial entre Portugal e Holanda o mapa mostra? E entre a Holanda e outros países da Europa?

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Unidade V

Açúcar: o ouro branco da colônia

No decorrer do século XVI, com a chegada de novos colonos, a área de colonização portuguesa no Brasil foi aumentando. As plantações de cana ocuparam novas terras e montaram-se mais engenhos para a produção do açúcar. Figura 1: Peça para o professor descrever sobre a figura. Moagem de cana no engenho, quadro do pintor Benedito Calixto.

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Ao contrário dos espanhóis, os portugueses não encontraram riquezas minerais na sua colônia americana. Assim, a produção de açúcar foi a alternativa para tornar a colônia lucrativa. Os colonos vendiam o açúcar aos mercadores europeus, que o revendiam na Europa com grande lucro. E a Coroa se beneficiava com os impostos cobrados aos colonos e mercadores.

Mas, na verdade, as áreas de produção açucareira se limitavam a uma estreita faixa de terra próxima do litoral, nas capitanias de Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro.

Nessas áreas se formou um tipo de sociedade em que os brancos eram os poderosos senhores da terra, e os negros, uma multidão de escravos submetida ao trabalho forçado.

Basta observar o Brasil de hoje para perceber que esse tipo de sociedade deixou marcas profundas na nossa história.

O que é importante aprender

Durante o estudo desta unidade, procure concentrar-se nos seguintes objetivos:

- Identificar os interesses envolvidos no tráfico negreiro.

- Relatar as formas de resistência dos negros africanos à escravidão.

- Explicar porque a atividade açucareira contribuiu para a formação de latifúndios.

- Descrever a vida nos engenhos.

- Explicar por que os holandeses ocuparam o nordeste do Brasil, ali permanecendo durante vários anos e por que eles finalmente lutaram para expulsar os holandeses.

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Capítulo 11

Da África aos canaviais: Um caminho sem volta

Recordando:

Quando os portugueses começaram a colonizar o Brasil, utilizaram o trabalho indígena, primeiro por meio do escambo, depois pela escravização. Mas, diante dos obstáculos que encontravam para conseguir escravos índios, começaram a comprar escravos trazidos da África.

Vender escravos: um grande negócio

Se os colonos tinham interesse em comprar escravos negros, maior interesse tinham os traficantes de escravos em vendê-los.

Desde os primeiros tempos de expansão portuguesa pelo litoral africano (século XV), os escravos negros estavam entre as “mercadorias” mais lucrativas. No início, os próprios portugueses atacavam as aldeias e capturavam os negros para vendê-los em Portugal.

Logo, porém, os traficantes começaram a estimular as guerras entre os diferentes reinos, comprando os prisioneiros dos vencedores ou de mercadores africanos. E, com o passar do tempo, algumas tribos africanas se especializaram na captura de escravos, trocando os cativos por produtos europeus (armas de fogo, munições, panos, ferragens, trigo, sal, cavalos).

Figura 1 – Peça para o professor descrever: Caravana de escravos capturados na África e sendo levados para os portos de embarque.

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O Comércio Colonial r o Tráfico Negreiro

Para obter escravos, os traficantes dispunham de vários portos na África. Os principais ficavam na costa oeste: Arguim, São Jorge da Mina, São João da Ajuda, Lagos e Luanda.

Essa área era habitada por populações que se dividiam em dois grandes grupos: na parte central viviam os sudaneses, e os territórios mais ao sul eram habitados pelos bantos. Havia, entre esses grupos, diferenças físicas e culturais(língua, costumes e religião).

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Nos primeiros tempos, antes da colonização das terras americanas, os escravos iam para Portugal trabalhar nas mais variadas tarefas: serviços domésticos, trabalhos agrícolas, carga e descarga de mercadorias nos portos.

Com a colonização da América por espanhóis e portugueses, a maior parte do tráfico passou a atender às necessidades crescentes de mão-de-obra nessas colônias.

Desde então, os traficantes trocavam os escravos na África não só pelas mercadorias da Europa, mas também por produtos das colônias americanas: tabaco, cachaça e açúcar.

Como o tráfico de escravos africanos era muito lucrativo, mercadores de outros países da Europa procuraram entrar no negócio. Por isso, portugueses, franceses, holandeses e ingleses muitas vezes disputaram o controle sobre os locais na África onde eram embarcados os negros.

Além do açúcar, principal produto colonial do Brasil nos séculos XVI e XVII, havia também na colônia a produção de cachaça e principalmente de fumo.

A cachaça era produzida em pequenas propriedades plantadas com cana-de- açúcar, onde se instalavam engenhocas ou molinetes mais simples e que exigiam menos recursos financeiros que os engenhos.

O fumo, planta nativa da América usada pelos índios, também era cultivado na colônia, mas em áreas menos valorizadas que as da cana.

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Mas o tráfico de escravos não interessava apenas aos comerciantes: a Coroa portuguesa recebia 10 por cento do valor desse comércio, e a própria Igreja justificava o tráfico, já que os negros escravizados seriam convertidos ao catolicismo.

No decorrer do tempo, o tráfico foi crescendo. É difícil saber com certeza a quantidade de africanos que foram levados de sua terra pelos traficantes europeus. Calcula-se que esse número esteja próximo de 50 milhões de negros.

A viagem: um pesadelo

No Brasil, entraram aproximadamente 3 milhões e 500 mil africanos. Brutalmente arrancados de suas comunidades e vendidos aos traficantes, os cativos ainda tinham que suportar a longa travessia do Atlântico, que durava de cinqüenta a setenta dias aproximadamente, em condições totalmente desumanas. Figura 3 – Peça para o seu professor descrever: Negros no porão de um navio negreiro. Desenho de Rugendas (século XIX)

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Grande parte dessa “carga” humana (cerca de 20 por cento) morria antes de chegar aos portos de desembarque, em Recife, Salvador e Rio de |Janeiro.

Os escravos permaneciam por vários dias nessas cidades para se recuperar da viagem, ganhar peso e adquirir um aspecto mais saudável. Do jeito que eles chegavam, seria difícil vendê-los por um bom preço. Depois ficavam expostos em mercados de escravos, à espera de compradores que os conduzissem finalmente ao seu destino.

Figura 4 – Peça explicações : Nos mercados de escravos, existentes nos principais portos da colônia, reuniam-se africanos das mais variadas procedências. Ali ficavam, aguardando os compradores. Gravura de Rugendas.

A maioria dos negros ia trabalhar nas lavouras de cana, nos engenhos de açúcar ou nas casas dos grandes fazendeiros.

Vida de escravo

Quando chegava da África, o negro se encontrava completamente solitário. Tinha sido brutalmente separado de sua família e de seu grupo e ia começar uma nova vida: a vida de escravo.

No Brasil, encontrava uma população dividida entre brancos, negros, mulatos e índios. Os brancos eram os senhores, e os negros, os escravos. Mesmo entre os africanos não encontrava amigos, nem solidariedade, pois geralmente não falavam a mesma língua, não compartilhavam os costumes ou a religião. Os colonos preferiam juntar negros originários de diferentes regiões da África, para evitar que eles se unissem, o que poderia fortalecê-los.

Além disso, aqui no Brasil, o negro tinha dificuldade em constituir uma família, pois as mulheres negras eram em número muito menor do que os homens.

Mesmo quando casados, os escravos não tinham a garantia de permanecer sempre com a família, porque seu senhor podia vendê-los separadamente, se assim o desejasse.

Upa, negrinho

Nas fazendas, como a maior parte das ligações entre os escravos não era permanente, as crianças nasciam sem saber quem era o pai. O conjunto de escravos da fazenda tornava-se sua família. Entre essas crianças havia geralmente filhos de senhores de engenhos com escravas.

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Todos os pequenos escravos conheciam dois mundos diferentes: a casa- grande, residência dos senhores, e a senzala, uma construção retangular e térrea que servia de habitação para os

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negros da fazenda. Dentro, havia apenas as camas de palha e alguns tamboretes e baús, onde se guardavam as roupas: cada escravo possuía duas camisas e duas calças ou saias, recebidas anualmente. O cômodo dos homens ficava separado do das mulheres.

Figura 5: Na parte de baixo da ilustração, o engenho onde se fabricava o açúcar. Mais acima, no centro, a casa-grande e à sua esquerda a senzala.

De dia, enquanto os escravos adultos iam trabalhar, as crianças negras e brancas brincavam juntas e aprendiam com as armas negras as mesmas canções e histórias. À noite, as crianças negras iam para a senzala e ali conviviam com os escravos, compartilhando seus costumes, crenças, rituais religiosos e momentos de lazer. Ouviam o som dos atabaques e acompanhavam os passos ligeiros da dança africana nos terreiros.

Figura 6 – Os escravos bantos, que foram encaminhados para a Bahia, trouxeram da África a capoeira, uma luta africana. Para eles, era um exercício de guerra, mas aos seus senhores parecia apenas uma dança ao som do berimbau e dos atabaques.

Mas o tempo passava depressa. Com 7 ou 8 anos , o pequeno escravo já ia para o trabalho: na casa-grande, na aprendizagem de um ofício de artesão ou nas plantações.

Se ele se tornasse um escravo doméstico, estaria mais próximo do mundo dos brancos: se fosse para o canavial, se ligaria mais ao grupo de negros da fazenda. Mas tanto num caso como no outro, o que se exigia dele era obediência e fidelidade ao seu senhor.

No entanto, isso nem sempre acontecia. Foram freqüentes as reações dos negros contra sua condição de escravos.

Pano, pão e pau

Dizia-se na colônia que os negros deviam ser tratados com três p: pano, pão e pau. Assim, apesar da obrigação de vestir e alimentar os escravos, os senhores tinham plenos direitos de castigá-los. Qualquer ato de desobediência Ou falha no cumprimento das tarefas era suficiente para que o proprietário mandasse castigar o escravo. Às vezes, ele mesmo tomava o chicote e descarregava sua ira nas costas do escravo.

Figura 7 – Peça explicações.[

Os escravos eram vítimas de castigos extremamente cruéis. Uma falta leve podia resultar em muitas chibatadas. Cena retratada por Rugendas.

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Os maus-tratos iam desde o xingamento até a morte poi açoitamento. Bofetadas, socos, pontapés també, eram muito comuns.

E o escravo ainda estava sujeito a levar pauladas ou surras com cordas e até com barras de feero. Quando a desobediência era considerada grave, o feitor chicoteava o escravo dezenas de vezes ou até mesmo centena de vezes.

Eram utilizados também instrumentos de tortura, como por exemplo o vira- mundo, onde se prendiam os pés e as mãos dos escravos, que ficavam imobilizados vários dias.

Todo esse sofrimento somava a uma grande carga de trabalho, alimentação deficiente, pouco repouso. Resultado: o escravo geralmente tinha vida curta.

Alguns escravos domésticos, dependendo dos donos que tivessem, podiam encontrar uma vida um pouco melhor.

Figura 8: Peça explicações ao seu professor: Nesta gravura de Debret(século XIX) é possível perceber as relações que se estabeleciam entre os senhores e seus escravos domésticos, situados numa mesma posição de extrema inferioridade.

O assassinato ou suicídio: trágicas vinganças

Muitas vezes, os escravos vingavam-se dos maus-tratos, usando a violência, como o assassinato de feitores ou dos próprios senhores.

Alguns negros, inconformados com a sua situação, preferiam morrer lentamente: deixavam de comer, de trabalhar e minguavam até a morte. Dizia-se, então, que o negro estava com o banzo: a saudade insuportável de sua terra e da liberdade. Morrer representava a libertação e, segundo a crença dos negros, era a única forma de voltar à África.

Outros negros chegavam a praticar o suicídio deliberado, uma forma extrema de vingança, pois a perda de um escravo significava um grande prejuízo para seu dono: além de ter custado caro, seu trabalho era muito necessário nas propriedades do senhor.

Fugir do cativeiro

Era comum a fuga individual e por isso havia até pessoas especialmente contratadas pelos proprietários para capturar escravos fugidos: os capitães-do- mato. O escravo que fosse recapturado sofria os maiores castigos e até mutilações, como a perda da orelha, parte dos pés, etc.

Figura9 - O capitão-do-mato era o chefe de uma tropa especialmente formada no início da colonização para enfrentar os indígenas. Depois o termo passou a designar os guardas pessoais dos senhores de engenho, responsáveis pela captura dos escravos fugitivos. Gravura de Rugendas.

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Quilombo: o espaço da liberdade

Muitas vezes os escravos se rebelavam ou fugiam em bandos para as matas. Em lugares de difícil acesso formavam os quilombos, que eram comunidades onde construíam casas, faziam roças de mandioca, feijão e milho, criavam alguns animais. Às vezes, índios fugidos ou ameaçados pelos colonos também se reuniam aos negros nos quilombos.

Figura 10 – Mostra as casas que ainda hoje existem algumas comunidades negras que vivem em quilombos, como este, em Libaúma, no Rio Grande do Norte.

Nas vilas próximas, os quilombolas (habitantes dos quilombos) trocavam seus produtos agrícolas por artigos de que necessitavam. Algumas vezes, atacavam fazendas e vilas próximas e libertavam outros escravos.

Existiram quilombos em todas as capitanias. Eles foram sempre cobatidos pelas autoridades e colonos, que chegavam a contratar bandos armados para atacá-los.

Diante disso, os quilombolas procuravam defender-se, lutando contra seus atacantes. Como conheciam melhor o terreno onde viviam, deslocavam-se com rapidez e lançavam-se sobre seus inimigos, de surpresa, saindo muitas vezes vitoriosos.

Em compensação, quando derrotados, os negros sobreviventes eram levados de volta às vilas, presos e condenados ao açoitamento ou até mesmo à pena de morte.

O quilombo de palmares

Foi em Alagoas, na serra da Barriga, que se formou Palmares, o quilombo mais famoso, no início do século XVII. Compunha-se de muitos mocambos, isto é, pequenos ajuntamentos de cabanas, cobertas de folhas de palmeiras. Alguns dekles se espalhavam pelos arredores da serra, outros ficavam no alto, como o mocambo dos Macacos, capital de Palmares. Nele viviam aproximadamente 5 mil pessoas, incluindo o rei do quilombo.

Os escravos raptados nas vilas e fazendas, que iam para o quilombo contra a vontade, tinham a condição de escravos, o que estava de acordo com a tradição africana. Mas podiam se tornar livres depois de algum tempo.(Veja página 22)

Durante mais de sessenta anos, Palmares resistiu a várias expedições que tentaram destruí-lo. Em 1694, o governador de Pernambuco contratou o paulista Domingos Jorge Velho para atacar o quilombo. No ataque foi utilizado um exército de 600 índios e 45 brancos.

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Os palmarinos venceram, como já havia acontecido com inúmeras tropas enviadas para combatê-los. Foi mandado então um reforço, comosto de soldados de Recife e mais um grupo de moradores dos povoados próximos do quilombo.

Depois de prolongada luta, no dia 6 de fevereiro de 1694, Palmares foi destruído.O rei, Zumbi, conseguiu escapar, juntamente com outros negros. E durante longo tempo continuaram existindo quilombos na região, formados pelos sobreviventes de Palmares.

Zumbi foi morto finalmente em 1695 e teve sua cabeça espetada num poste na praça de Recife para mostrar aos escravos que o chefe de Palmares não era imortal, como eles imaginavam.

ATIVIDADES

Atividade 1 - Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 11, baseando-se no roteiro a seguir:

1. Interesses envolvidos na introdução de negros africanos no Brasil:

a) dos traficantes;

b) da Coroa Portuguesa;

c) da Igreja Católica

d) dos colonos

2. Formas de aquisição dos negros na África.

3. Trechos do texto que indicam que o escravo negro era considerado como mercadoria.

4. A vida das crianças negras.

5. O tratamento dado aos escravos negros nos engenhos.

6. As formas de resistência dos negros à escravidão.

7. O quilombo de Palmares: localização; época em que se formou; as expedições enviadas para destruí-lo; o fim de quilombo e o castigo a Zumbi.

Atividade II - Estudo de outras fontes

Documento

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Relato de Rugendas, viajante alemão que esteve no Brasil no século XIX, sobre as condições da viagem nos navios negreiros.

Esses infelizes são amontoados em compartimentos cuja altura raramente ultrapassa cinco pés. Esse cárcere ocupa todo o comprimento e largura do porão do navio; aí eles são reunidos em número de duzentos a trezentos, de modo que para cada homem adulto se reserva apenas um espaço de cinco pés cúbicos. (...) no porão de muitos navios o espaço disponível para cada indivíduo se reduz a quatro pés cúbicos.(...). Os escravos são amontoados de encontro às paredes do navio e em torno do mastro; onde quer que haja um lugar para uma criatura humana, em qualquer que seja a posição que se lhe faça tomar, aproveita-se. O mais das vezes as paredes comportam, a meia altura, uma espécie de prateleira de madeira sobre a qual jaz uma segunda camada de corpos humanos. Todos, principalmente nos primeiros tempos de travessia, têm algemas nos pés e nas mãos e são presos uns aos outros por uma comprida corrente.

Acrescentemos a essa deplorável situação o calor ardente do Equador, a fúria das tempestades e a alimentação, a que não estão acostumados, de feijão e carne salgada, a falta de água , finalmente, conseqüência quase sempre inevitável da cobiça em virtude da qual se aproveita o menor espaço para tornar a carga mais rica, e teremos a razão da enorme mortalidade a bordo dos navios negreiros. Às vezes acontece ficar um cadáver vários dias entre os vivos. A falta de água é a causa mais freqüente da revolta de negros, mas, ao menor sinal de sedição, não se distingue ninguém; fazem-se impiedosas descargas de fuzil nesse antro atravancado de homens, mulheres e crianças. Acontece que, desvairados pelo desespero, os negros furiosos se atiram contra seus companheiros ou rasgam em pedaços seus próprios membros.

(Apud Luna, Luís. O negro na luta contra a escravidão. Rio de Janeiro: Cátedra; Brasília: INL, 1976. P. 52.)

1. Por que os navios negreiros transportavam uma quantidade tão elevada de escravos?

2. Na opinião do autor, quais eram os fatores que contribuíam para a elevada taxa de de mortalidade nos navios negreiros?

3. Por que havia falta de água durante a viagem?

Sugestão de atividades complementares

Atividade III - Em grupos

Analisar o mapa da página 70 e responder:

1. Em que lugares do território africano os portugueses tinham o monopólio do tráfico de escravos?

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2. Além de fornecer escravos para o Brasil. Os traficantes portugueses forneciam escravos para quais outras localidades?

3. A partir da observação do mapa, em quais lugares da América é possível afirmar que existiu escravidão negra?

4. A venda de escravos negros se fazia exclusivamente para a América? Justificar a resposta.

Atividade IV - Em grupos

Fazer o julgamento dos personagens envolvidos no tráfico negreiro. No julgamento deve haver um juiz, os réus, o promotor (que faz a acusação), os advogados de defesa (um para cada réu), as testemunhas e o júri.

Os réus são:

- O captor africano;

- Um rei africano que negocia escravos;

- um comerciante europeu, dono de navios negreiros;

- um rei europeu de um país que faz o tráfico;

- um representante da Igreja Católica.

Observação: Se for possível, entrevistar um advogado, ou promotor, ou juiz, para explicar como transcorre um julgamento.

Capítulo 12

Nas terras do açúcar

Recordando

Os colonos portugueses que vinham para o Brasil com recursos para iniciar o cultivo de cana-de-açúcar recebiam do capitão donatário um grande lote de terra: a sesmaria

A atividade açucareira foi extremamente compensadora para os colonos que tinham condições financeiras de instalar um engenho. Mas seu lucro era muito inferior ao dos comerciantes, que revendiam o açúcar na Europa. E a própria Coroa portuguesa também levava sua parte, pois cobrava impostos sobre a produção e o comércio do açúcar.

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Assim, explica-se por que a área de canaviais foi se ampliando, ao mesmo tempo que aumentou o número de engenhos instalados.

A principal área de produção do açúcar nos séculos XVI e XVII foi o litoral nordeste do Brasil (Pernambuco e Bahia), mas também existiram engenhos em outras capitanias.

Terra a perder de vista

Para instalar uma fazenda e produzir açúcar, o proprietário tinha que mandar derrubar as matas, preparar o solo, fazer a plantação, erguer construções e montar o engenho. Todas essas despesas só valeriam a pena se ele conseguisse produzir uma grande quantidade de açúcar. E, para tanto, o senhor de engenho precisava de muita terra: quanto maior fosse a sua fazenda, maior o lucro.

Assim, desde o início da colonização, estabeleceram-se no Brasil grandes propriedades de terra, isto é, latifúndios pertencentes a um pequeno número de proprietários. ( A palavra latifúndio vem do latim: latus significa “grande” e fundus, “terra”.)

A – O quadro abaixo mostra o número de engenhos em 1570 e 1585. Repare que em algumas capitanias há aumento e, em outras, redução da quantidade de engenhos. (Apude Machant, Alexander. Do escambo á escravidão, p. 111.) Itamaracá – 1570=1 e 1585=0 Pernambuco – 1570=23 e 1585=66 Bahia – 1570=18 e 1585=35 Ilhéus – 1570=8 e 1585=6 Porto Seguro – 1570=5 e 1585=1 Espírito Santo – 1570=1 e 1585=6 Rio de Janeiro –1570=0 e 1585=3 São Vicente – 1570=4 e 1585=4 Total – 1570=60 e 1585=122

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Figura 1 – Mapa da Área de cultivo da cana-de-açúcar – séculos XVI e XVII

Porém, nem todos os plantadores de cana eram senhores de engenho. Estes podiam ceder uma parte de sua propriedade (lotes) a outros lavradores, que ficavam obrigados a fazer a moagem da cana no engenho do proprietário. Essas terras eram chamadas fazendas obrigadas. Metade do açúcar obtido pertencia ao senhor de engenho, que ficava também com mais uma porcentagem variável, entre 5 por cento e 20 por cento.

Além disso, os engenhos ainda moíam a cana e produziam açúcar para outros proprietários que só possuíam as terras. Nesse caso, o senhor de engenho ficava com a metade da produção.

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A maior parte das terras do engenho destinava-se às plantações de cana-de- açúcar, isto é, praticava-se um tipo de agricultura especializada em um único produto. (Esse tipo de produção agrícola chama-se monocultura – palavra de origem grega: mono quer dizer “um”.)

Do canavial ao porto: a produção do açúcar

Inicialmente a palavra engenho designava apenas o conjunto de instalações onde se produzia o açúcar, na época do Brasil colonial. Era formado por vários espaços, cada um correspondente a uma das atividades necessárias à produção do açúcar. Mas o nome engenho logo passou a designar toda a fazenda, incluindo os canaviais.

Figura 2 – Mostra: A casa-grande, o engenho, a senzala e a capela formavam um único conjunto, onde se desenrolava a vida cotidiana de todos os moradores da fazenda. Ao seu redor espalhavam-se os canaviais e as roças para alimentação dos escravos.

Em alguns engenhos, chamados trapiches, a moenda era movida por bois (ração animal). Em outros, conhecidos como engenhos reais, instalados à beira de um rio, usava-se água como força motriz. Nestes conseguia-se uma produção de açúcar muito maior do que nos trapiches.

A primeira etapa na instalação de um canavial era a derrubada das matas e a preparação do terreno. Depois, plantava-se cana. Todas essas tarefas eram realizadas por escravos, que trabalhavam de 12 a 14 horas por dia.

Na colheita, utilizavam-se homens e mulheres: os homens cortavam a cana (350 feixes de 12 canas), que as mulheres amarravam. Em seguida transportavam-se os feixes nos carros de boi para a casa da moenda.

Nos engenhos, o trabalho prosseguia dia e noite sem, revezando-se duas turmas de escravos.

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Figura 3 – Mostra: Moagem de cana em engenho real, gravura do pintor Rugendas.

Figura 3-a: Moagem de cana em engenho trapiche, ilustração baseada na obra do pintor Franz Post.

A cana-de-açúcar era moída nas moendas, instaladas numa espécie de galpão. Ali, um simples descuido, o escravo podia perder uma mão ou um braço. O caldo da cana moída era levado à casa das caldeiras, despejado em grandes trechos de cobre, onde ficava fervendo. Ali, o caldo tinha que ser mexido continuamente, até engrossar.

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Nas fornalhas, onde se produzia o fogo que abastecia as caldeiras, o trabalho era ainda mais cansativo, devido ao intenso calor.

Em seguida, levava-se o melado para a casa de purgar, lugar onde era colocado em fôrmas para esfriar. Lá, o melado permanecia por vários dias e se transformava em açúcar mascavo (escuro e grosso) ou em açúcar branco, dependendo do tratamento que recebia. Quando o açúcar era desenfornado, obtinham-se pães de açúcar (nome que vinha do seu formato, semelhante a uma ponta de pão). Estes eram, então, quebrados e reduzidos a pó.

Depois de seco ao sol, o açúcar era posto em caixotes de 300 quilos, transportado para o porto mais próximo e embarcado para a Europa.

Além dos escravos, existiam nos engenhos alguns trabalhadores livres, como os mestres do açúcar, especialistas que supervisionavam todo o processo de produção. Havia ainda os feitores de escravos, que mantinham os negros sob controle, impedindo atos de rebeldia.

O poderoso senhor de engenho

O senhor de engenho, proprietário das terras, máquinas e escravos, era poderoso, temido, respeitado, servido e obedecido por todas as pessoas que viviam a seu redor, fossem livres, fossem escravas. Tinha plenos poderes de mando em seus domínios: ali sua vontade era lei.

As mulheres dos senhores de engenho (sinhás) viviam na casa-grande, ocupando-se dos filhos, dos bordados e dos escravos domésticos. Geralmente casavam-se por ordem do pai, às vezes com apenas 12 ou 13 anos de idade.

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Submetida aos caprichos e ordens do marido, era comum que a sinhá maltratasse as escravas da casa, como forma de vingança.

As crianças, filhas dos fazendeiros, também costumavam maltratar os negrinhos e negrinhas que lhes faziam companhia nas horas de brincadeira.

O que se come na colônia?

O senhor de engenho permitia que os escravos plantassem pequenas roças de feijão, mandioca e milho, principalmente para a alimentação deles próprios. Mas, quando o preço do açúcar subia, reduzia-se o espaço dessas roças, com o objetivo de aumentar a produção de cana. Por isso, às vezes chegavam a faltar alimentos para os escravos.

O abastecimento de alimentos nas vilas também foi sempre difícil e dependia, em grande parte, de produtos dos índios.

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Figura 5- Gravura de Rugendas (século XIX) retratando uma cena familiar na casa da fazenda em que as crianças negras brincam com um bebê branco.

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O senhor de engenho e sua família alimentavam-se principalmente com produtos importado de Portugal: farinha de trigo, bacalhau, azeite, manteiga, vinagre. Além disso, também vinham da Europa tecidos, armas, louças e ferramentas. Nada disso se produzia no Brasil.

O lugar do gado

No início da colonização havia nas fazendas de cana-de-açúcar um espaço reservado à criação de gado. O boi era muito utilizado nos trapiches (engenhos movidos a tração animal) e também no transporte, para puxar as carroças que conduziam a cana cortada, da plantação até o engenho.

Mas, com o passar do tempo, os senhores de engenho do Nordeste preferiram substituir as pastagens por plantações de cana, que se tornaram cada vez mais lucrativas.

Por isso, começaram a se formar fazendas, fora da área dos canaviais, exclusivamente dedicados à criação de gado, que foram se estendendo em direção ao interior do sertão nordestino. Este será o tema de um dos próximos capítulos.

Atividades

Atividade I – Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 12, baseando-se no roteiro a seguir:

1. Área onde se desenvolveu a produção açucareira.

2. Os diferentes grupos que lucravam com a produção açucareira.

3. Razões para o estabelecimento de latifúndios na produção de açúcar.

5. Razões para a implantação da monocultura nas áreas de produção do açúcar.

6. Influência dos preços do açúcar na extensão das roças de gêneros de subsistência.

7. Tipos e origens dos produtos consumidos pelo senhor de engenho e sua família.

8. Relação entre os lucros da atividade canavieira e a separação das áreas de criação de gado.

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Atividade II – Estudo de outras fontes

Texto complementar

Casa-grande, senzala, engenho e capela, um mundo de muito trabalho e pouco lazer. Aos escravos o divertimento reservava-se nos dias de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Os moradores da casa-grande, as sinhazinhas e iaiás visitavam engenhos vizinhos, passeavam de barco nos rios próximos, acompanhavam as festas religiosas. No mais, permaneciam nas casas-grandes. As sinhás supervisionando o trabalho das negras, as sinhás moças com suas mucamas, as iaiás solteironas com seus gatos de estimação passavam os dias modorrentos comendo muito doce, redondas de gordura.

O papagaio falador, o mascate com novidades e as alegres caravanas de ciganos quebravam a monotonia da vida cotidiana.

(Programa de qualificação do ensino de História do Brasil, sétima série, nov. 1987, p. 7; convênio CENP-Unesp de Araraquara.)

1. O que o texto revela sobre os divertimentos dos moradores do engenho?

2. E sobre a vida cotidiana das mulheres da casa-grande?

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Capítulo 13

Um Brasil holandês?

Recordando

Tendo conquistado tantos territórios na África, na Ásia e na América, Portugal não conseguia mantê-los sob controle, nem aproveitar todas as riquezas que deles podiam ser extraídas.

Apesar dos grandes lucros do comércio marítimo, Portugal não conseguiu desenvolver suas manufaturas, pois o governo preferia comprar tudo de que precisava em outros países, até mesmo os equipamentos para os navios. Os produtos consumidos no reino ou vendidos nas colônias eram importados da França, da Inglaterra e da Holanda. Assim, ano após ano, os lucros coloniais de Portugal acabavam indo para o exterior, como pagamento das importações ou para saldar as dívidas feitas junto a banqueiros estrangeiros.

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Além disso, o rei de Portugal cercava-se de uma numerosa corte de nobres que viviam à custa do tesouro real, recebendo generosas pensões. Também eram comuns os bailes, as festas e os banqueiros oferecidos pela Coroa a essa nobreza.

E havia ainda a enorme despesa militar para defender os territórios conquistados, contra a cobiça dos outros países europeus. Assim, em vez de enriquecer, Portugal se empobrecia. Enquanto isso, a França, a Inglaterra e a Holanda, países que não possuíam impérios coloniais tão vastos como os de Portugal, tornavam-se mais ricas. Seus governantes procuravam desenvolver as manufaturas, para exportar grandes quantidades de mercadorias, recebendo, em troca, as moedas de ouro e prata dos países compradores, principalmente Portugal e Espanha.

Holanda: sócia de Portugal no negócio do açúcar

Nos primeiros tempos da colonização do Brasil, a Holanda não constituía ainda um país independente. Juntamente com a Bélgica, formava os chamados Países Baixos, que pertenciam ao império espanhol. Mesmo assim, as cidades holandesas eram muito desenvolvidas, possuindo uma poderosa frota de navios mercantes e uma florescente manufatura de tecidos e outros produtos. Além disso, os banqueiros holandeses haviam acumulado grandes fortunas.

Isso explica o papel da Holanda na colonização do Brasil. Grande parte do dinheiro necessário para a montagem dos engenhos na colônia foi emprestada por banqueiros holandeses, e os próprios engenhos eram fabricados naquele país.

Além disso, com autorização do rei de Portugal, os navios holandeses atracavam nos portos dos domínios portugueses, onde compravam as mercadorias para revendê-las a outros países. Desse comércio participavam principalmente as especiarias, o açúcar e os escravos.

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Figura 1 –Mapa ilustrando a participação da Holanda no comércio colonial.

Holanda contra Espanha

Se a Holanda era uma grande potência marítima no século XVI e XVII, a Espanha, por seu lado, possuía o maior império do mundo em extensão. O imperador espanhol Filipe II reinava sobre grande parte da Europa, incluindo a Holanda, e possuía ainda um imenso e rico império colonial.(Figura2)

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Portugal sentia constantemente a ameaça de seu poderoso vizinho, ameaça essa que afinal se concretizou em 1580: o rei da Espanha tornou-se também rei de Portugal, durando esse domínio até 1640.

As províncias dos Países Baixos, que pertenciam ao império espanhol, sentiam-se prejudicadas pelos tributos pagos à Espanha. Por isso elas se uniram na luta pela independência.

Para enfraquecer os holandeses, Filipe I pensou em destruir seu poderio comercial, proibindo que os navios holandeses atracassem nos portos portugueses e de suas colônias.

Mas os holandeses encontraram uma saída. Fundaram a Companhia de Comércio da Índias Orientais, equipada com navios mercantes e de guerra. Atacaram e conquistaram territórios portugueses e espanhóis na África e na Ásia.

Figura 2 –O império espanhol no século XVI

Em 1578, o rei de Portugal, D. Sebastião I, morreu numa expedição militar contra os muçulmanos no norte da África. O trono foi ocupado pelo velho tio- avô do rei, que só viveu dois anos e não deixou herdeiros. O monarca da Espanha, Filipe II, logo impôs seu domínio sobre Portugal, usando o pretexto de que era neto de D. Manuel (rei que governava Portugal na época da chegada ao Brasil).

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Mais tarde, os holandeses resolveram criar outra companhia de comércio, a das Índias Ocidentais (em 1621), com a intenção de agir na América. Uma de suas iniciativas foi fundar Nova Amsterdã (em 1621), na América do Norte, que deu origem à cidade de Nova Iorque.

Os holandeses também ocuparam as Antilhas, na América Central (domínios espanhóis) e o Nordeste brasileiro, com o objetivo de controlar diretamente a fonte produtora do açúcar. Figura 4: Conquistas holandesas na Ásia, África e América.

Um Brasil holandês

A primeira tentativa holandesa de ocupação do Brasil se deu em 1624, na Bahia. Mas a conquista não se concretizou: a Espanha organizou uma esquadra formada por navios espanhóis e portugueses, que derrotou os holandeses.

Em 1630, os holandeses fizeram uma nova tentativa, dirigindo-se, dessa vez, a Pernambuco. Conseguiram dominar a capitania e instalaram a sede do governo holandês na cidade de Olinda, logo depois transferida para Recife. Num período de 24 anos, (até 1654), mantiveram uma grande área sob seu domínio, que ia desde Alagoas até o Rio Grande do Norte.

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Figura 5 –mapa: Domínio holandês no Brasil.

No início, os senhores de engenho combateram os holandeses, o que resultou na destruição de suas lavouras e na fuga de muitos escravos.

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Foi justamente nessa época que se formou o quilombo dos Palmares (veja pág. 74).

Logo os proprietários de terra perceberam que os holandeses não prejudicavam seus negócios, pois não pretendiam apoderar-se de suas propriedades. O interesse da Holanda era apenas dominar o comércio do açúcar. Assim, os senhores de engenho acabaram aceitando a presença do governo holandês.

Essa convivência pacífica se consolidou principalmente depois da chegada do governador holandês Maurício de Nassau. Este ganhou a simpatia dos proprietários de terras, facilitando a concessão de empréstimos da Companhia das Índias Ocidentais.Com eles, foram reorganizados as plantações e comprados mais escravos. Figura 6: Maurício de Nassau fundou, na ilha fluvial de Antônio Vaz, uma cidade chamada Maurícia, que se ligou à já existente cidade de Recife.

Além disso, os holandeses convidaram os proprietários a participar da administração e até permitiram que realizassem assembléias, onde apresentavam sugestões e reclamações.

No Recife realizaram-se obras para a ampliação e o calçamento das ruas e construção de pontes.

A vinda de pintores, médicos, astrônomos, e cientistas resultou em um desenvolvimento cultural até então desconhecido na região.

Portugal contra a Espanha: a Restauração

Como vimos, em 1580 a Espanha passou a dominar Portugal, e o rei espanhol tornou-se monarca dos dois países.

Em dezembro de 1640, a nobreza de Portugal atacou o palácio do governo espanhol em Lisboa, com o apoio da população da cidade, e aclamou um novo rei para Portugal: D. João IV, Duque de Bragança (descendente de antigos monarcas portugueses e que iniciou a dinastia de Bragança).

Durante um ano, Portugal teve que enfrentar o poderio militar da Espanha, mas conseguiu manter a independência.

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No entanto, os holandeses continuavam dominando muitos dos territórios portugueses na África, na Ásia e ainda ocupavam o Nordeste do Brasil. O novo governo português não tinha condições de reconquistar suas colônias, pois o país estava extremamente enfraquecido.

Os luso-brasileiros contra a Holanda

Mas os próprios holandeses começaram a enfrentar problemas no Brasil. A Companhia de Comércio das Índias Ocidentais entrou em desacordo com a política de Maurício de Nassau, que acabou sendo afastado do cargo ( 1644).

Desde então, modificaram-se totalmente as relações entre os holandeses e os proprietários de terras. A Companhia de Comércio começou cobrar as dívidas dos empréstimos que haviam feito e, se os proprietários não tivessem como pagá-las, perdiam terras, engenhos e escravos.

A Insurreição Pernambucana

Por essa razão, foram os próprios senhores de engenho, portugueses ou seus descendentes já nascidos no Brasil (luso-brasileiros), que lideraram a luta para a expulsão dos holandeses. Houve vários combates entre 1645 e 1654, destacando-se duas importantes batalhas travadas nos montes Guararapes: a primeira batalha de Guararapes, em 1648, e a Segunda batalha de Guararapes, em 1649.

Figura 7: Batalha de Guararapes, retratada num painel da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares, no Recife.

-- Página 85

Na luta contra os holandeses, conhecida como Insurreição Pernambucana, as forças conjuntas dos colonos, escravos e índios, com auxílio de Portugal, acabaram obrigando os holandeses a deixar definitivamente o Brasil em 1654.

Portugal, no entanto, contou também com o apoio da Inglaterra, que forneceu armas, munições e dinheiro. A participação desse país na expulsão dos holandeses do Brasil se explica pelo fato de os inglese estarem, nessa época, em guerra contra a Holanda.

Ainda no século XVI, a Inglaterra começou a disputar a posição de liderança no comércio marítimo, com Portugal, Espanha e Holanda, agindo diferentemente em relação a cada um desses países.

Portugal ficou nas mãos dos ingleses, por meio de tratados que transformaram o pequeno reino ibérico num país pobre, arruinado e dependente.

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Com a Espanha, o confronto foi direto. Em 1588 o rei da Espanha, Filipi II, enviou uma formidável esquadra para combater os ingleses, chamada Invencível Armada, que no entanto foi vencida.

A Holanda entrou na mira do governo inglês no século XVII . A Inglaterra proibiu o transporte de lá inglesa em navios holandeses e desenvolveu suas próprias manufaturas de tecidos.

Além disso, a Inglaterra e a Holanda acabaram também se confrontando em guerras (1652-1654 e 1665-1667), que terminaram com a vitória inglesa. Assim, a Inglaterra tornou-se a maior potência marítima da Europa.

Atividades

Atividade I – Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 12, baseando-se no roteiro a seguir:

1. Razões que explicam o empobrecimento de Portugal, apesar dos grandes lucros que obtinha com o comércio colonial.

2. Participação da Holanda no comércio colonial português.

3. Situação de Portugal e da Holanda em relação à Espanha no século XVII.

4. Objetivo de Filipe II, rei de Espanha, ao impedir que os navios holandeses atracassem nos portos de Portugal e de suas colônias.

5. Solução encontrada pela Holanda para manter sua posição no comércio colonial.

6. A reação inicial dos senhores de engenho à ocupação holandesa e suas conseqüências.

7. Razões de aceitação do domínio holandês pelos senhores de engenho.

8. Atuação do governo holandês no Brasil.

9. Razão pela qual Portugal não empreendeu a expulsão dos holandeses do Brasil logo após sua independência do domínio espanhol (1640).

10. Razões que explicam o empenho dos senhores de engenho em expulsar os holandeses, após a saída de Maurício de Nassau.

11. Forças que se aliaram na expulsão dos holandeses e participação da Inglaterra.

Atividade II – Estudo de outras fontes

Documento

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Trecho de um documento escrito por Maurício de Nassau, ao deixar o governo do Brasil, fazendo recomendações a seus sucessores.

Devem V. Sas. Abster-se de lançar novos impostos, pois os tributos geram indisposição no povo.

O povo é um rebanho de carneiros que se tosquiam, mas quando a tosquia vai até a carne, produz infalivelmente a dor e, como esses carneiros raciocinam, por isso mesmo se convertem muitas vezes em terríveis alimárias [animais].

Quanto a cobrança das dívidas da Companhia, deve-se proceder com rigor contra os negociantes,(...)

Em relação aos lavradores e aos senhores de engenho, convém proceder com mais brandura, examinando-lhes os frutos no começo das safras e concordando com eles sobre a parte que hão de entregar; no que se usará de moderação de modo que eles não fiquem inteiramente privados dos meios necessários para porem a moer os engenhos no ano seguinte.

1. Qual era a opinião de Maurício de Nassau sobre a cobrança de impostos? Por quê?

2. Ainda segundo Nassau, qual era a forma mais adequada de tratar os senhores de engenho, em relação às suas dívidas? Por quê?

3. Segundo as informações do capítulo, os sucessores de Nassau agiram conforme suas recomendações? Justifique.

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Encerramento da Unidade

Atividade I – Em grupos

Discutir os objetivos apresentados no início da unidade, sob o título: “O que é importante aprender? Redigir um pequeno texto sobre cada um dos temas.

Atividade II – Em grupos

Fazer a maquete de um engenho (abrangendo toda a propriedade), com base na planta apresentada na página 77.

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Instruções

Maquete

A base da maquete pode ser uma placa de madeira, isopor ou papelão grosso.

A placa pode ser revestida com uma camada de papel machê (massa de papel higiênico dissolvido em água, espremido e misturado a seguir com cola branca). Isso não é indispensável, mas permite criar irregularidades no “terreno”.

As divisões das várias áreas do engenho devem ser proporcionais, seguindo o modelo da planta.

A casa-grande e as construções podem ser feitas com vários materiais: placas de isopor, madeira balsa, papel cartão e até mesmo sabão em pedra esculpido. Tudo depende do material de que se dispõe e da criatividade de quem faz o trabalho.

Os terrenos de cultivo e as matas também podem ser representados com diferentes materiais: terra, areia, papel picadinho, serragem pintada e galhinhos de vegetais secos e pintados.

Preparação para a próxima unidade

Atividade em grupos

Analisar o mapa da página 87, que representa a América do Sul e o Brasil atuais, e responder:

1. Uma caravana partiu de Pernambuco e seguiu por terra, junto ao litoral, em direção a Belém. Que Estados a caravana terá que atravessar?

2. Qual é o nome do rio que atravessa os Estados de Minas e Bahia, faz divisa entre Bahia e Pernambuco e entre Sergipe e Alagoas, desaguando no Atlântico?

3. Como se chama a capital do Estado da Paraíba?

4. Natal, Fortaleza e São Luís são capitais de que Estados?

5. Se uma embarcação subir o rio Amazonas, chegará a qual país?

6. Se uma caravana partir de São Vicente , viajando por terra junto ao litoral em direção ao sul, atravessará quais Estados até chegar ao Rio Grande do Sul?

7. Como se chama a capital do Rio Grande do Sul?

8. Que países fazem fronteira com o Rio Grande do Sul, o Mato Grosso do Sul e o Paraná?

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9. Que rio teria que ser navegado para se sair de São Paulo em direção ao Mato Grosso do Sul por via fluvial?

10. Qual a serra que precisa ser transposta para se sair de São Paulo e chegar a Belo Horizonte?

11. Localize no mapa as cidades de Paranaguá, São Francisco do Sul, Curitiba, Florianópolis e Laguna. A quais estados pertencem essas cidades?

-- Página 87

Peça orientações ao seu professor sobre o Mapa: América do Sul e Brasil na Atualidade (Divisões políticas)

Unidade VI

A colônia cresce e aparece

Durante o século XVI, os portugueses apenas conseguiram garantir a posse de uma estreita faixa do litoral do Brasil, que ia da capitania de Pernambuco até a de São Vicente.

Mas o território que cabia a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas abrangia uma área muito maior: a fronteira portuguesa ia da ilha de Marajó, na foz do rio Amazonas, até a capitania de Santana, ao sul, próxima de São Vicente.

No período em que Portugal e Espanha estiveram unidos (de 1580 a 1640), as forças militares portuguesas e espanholas lutaram contra os franceses que haviam se estabelecido em algumas áreas do litoral norte da colônia. Assim, garantiram o domínio sobre a faixa litorânea que vai de Pernambuco até Belém.

Figura 1: A ocupação do litoral do Nordeste pelos portugueses foi realizada a partir do confronto militar com outros estrangeiros que também tentavam controlar a área. Por isso, várias cidades ali fu dadas tiveram origem em fortalezas.

-- Página 89

O interior do Nordeste, por sua vez, foi sendo ocupado devido à expansão da pecuária, com a formação de grandes fazendas de gado.

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Mas o avanço da colonização portuguesa não se faz apenas dentro dos limites do Tratado de Tordesilhas: no norte, padres jesuítas fundaram numerosas missões ao longo do rio Amazonas; no sul, habitantes de São Paulo de Piratininga percorreram o interior, em expedições chamadas bandeiras, que tinham como objetivo capturar e escravizar índios ou procurar metais preciosos.

A conquista da terra foi feita à custa da dizimação de milhares de índios, mortos ou escravizados pelos colonos. As tribos que restaram se embrenharam cada vez mais o oeste, buscando as regiões que ainda não tinham sido devastadas pelo branco.

O aumento da área de colonização portuguesa, foi, por outro lado, acompanhado do desenvolvimento da agricultura e da pecuária na colônia.

O que é importante aprender

Durante o estudo desta unidade, procure concentrar-se nos seguintes objetivos:

- Explicar por que a criação de gado se espalhou pelo interior do Nordeste.

- Descrever o funcionamento de uma fazenda de gado.

- Explicar qual o interesse dos franceses em ocupar territórios no litoral norte do Brasil.

- Descrever a ocupação da Amazônia pelos jesuítas.

- Explicar por que os paulistas se tornaram caçadores de índios.

- Explicar por que a Coroa portuguesa se interessou em ocupar o Sul e como foi essa ocupação.

-- Página 90

Capítulo 14

A conquista do Norte e do Nordeste

Recordando No decorrer do século XVI, a colonização portuguesa praticamente se limitava a uma estreita faixa junto ao litoral, concentrando-se principalmente na região do Nordeste, onde se desenvolveu a produção do açúcar.

No século XVII a colonização ampliou seu espaço e ultrapassou os limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas.

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Passa boi, passa boiada

Um dos fatores que permitiram aos portugueses ampliar sua área de ocupação foi a expansão da pecuária no interior no Nordeste.

Inicialmente, como vimos, havia uma área destinada à criação de gado, nas próprias fazendas de cana-de-açúcar. Durante o século XVI, no entanto, o preço que os comerciantes europeus pagavam pelo açúcar foi subindo cada vez mais e, conseqüentemente, os proprietários dos canaviais e dos engenhos perceberam que teriam mais lucros se aproveitassem totalmente suas terras com o cultivo da cana. Por isso, aos poucos, acabaram com a criação de gado em suas propriedades. Mas havia grande necessidade de gado bovino, tanto para o trabalho nos engenhos e no transporte da cana como para a alimentação dos habitantes da colônia.

Figura 1 – O carro de boi era o principal veículo utilizado no transporte de cargas no Nordeste. Gravura de Debret.

Por isso, começaram a se formar fazendas de gado, inicialmente nas proximidades dos canaviais de Pernambuco e Bahia. Depois a área de criação foi se estendendo, seguindo o curso dos rios do Nordeste, cada vez mais para o interior.

Figura 2 – Peça explicações ao professor sobre : Mapa das Áreas de Pecuária no Nordeste – Séc. XVIII

-- Página 91

Com o avanço do gado pelo sertão, a guerra dos portugueses contra os índios se intensificou. Depois de perderem suas terras, as únicas alternativas que restavam aos indígenas eram recuar, internando-se nas matas, ou então aceitar a presença do invasor, convivendo com ele, às vezes como seus escravos.

À medida que a terra ia sendo conquistada, formavam-se fazendas de gado, imensas propriedades que os fazendeiros recebiam como sesmarias(veja pág. 55) e que foram se estendendo pelo sertão nordestino no decorrer dos séculos XVII e XVIII.

Para o proprietário era mais fácil criar gado que formar um canavial. Bastava construir uma pequena casa de madeira, coberta de palha, e um curral, iniciando a criação com algumas cabeças.

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O fazendeiro precisava de apenas dez a quinze trabalhadores para cuidar de seu gado e freqüentemente não morava na propriedade. Costumava ter um administrador – o vaqueiro – e viver numa vila do litoral

Esses grandes fazendeiros de gado deram origem a uma camada social de latifundiários ricos e poderosos, que muitas vezes entraram em conflito uns com os outros.

O isolamento em que viviam os moradores das fazendas de gado contribuiu para a formação de bandos de capangas, a serviço de um ou de outro fazendeiro, que atacavam as propriedades e praticavam toda sorte de crimes.

Os vaqueiros eram trabalhadores livres e recebiam seu pagamento em crias. Após quatro ou cinco anos de serviço, tinham o direito de ficar com um em cada quatro bezerros que nasciam. Com isso, alguns vaqueiros conseguiam reunir, depois de certo tempo de trabalho, uma quantidade de animais suficiente para formar sua própria fazenda.

Além esses trabalhadores livres, havia também escravos nas fazendas de gado, embora em quantidade muito menor do que nos engenhos. Apesar da existência de alguns escravos negros, a maioria era formada por índios e mestiços. Além de lidar com os animais, os escravos se ocupavam também da plantação de roças de gêneros alimentícios.

A distância que separava essas regiões das áreas mais populosas do litoral fez com que no sertão do Nordeste surgissem modos de vida muito diferentes dos de outros lugares da colônia.

Alguns autores lembram, por exemplo, a importância do couro na vida dessas pessoas: o couro era matéria-prima para uma infinidade de objetos, desde a cama, a porta das cabanas, a roupa, até os recipientes para guardar água e comida.

Quem ficará com o Norte ?

Como já vimos, desde o início da colonização começaram a chegar navios de outros países da Europa, disputando com os portugueses partes dos seus domínios na América.

Figura 3- Peça explicações ao professor sobre o Mapa: Tentativas de ocupação por outros países.

-- Página 92

No Nordeste, até o início do século XVII, a conquista portuguesa alcançara apenas o Rio Grande do Norte, onde se fundou a cidade de Natal.

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Figura 4 – Forte dos Reis Magos, no Rio Grande do Norte. Fundado em 1598, deu origem à cidade de Natal.

Em 1612, uma expedição portuguesa avançou até o litoral do atual Estado do Ceará, onde venceu os franceses ali instalados e fundou um pequeno forte e um povoado que deu origem à cidade de Fortaleza.

Nesse mesmo ano, três navios franceses chegaram à ilha de Maranhão (atual ilha de São Luís), onde seus tripulantes ergueram o forte de São Luís, com o objetivo de formar uma colônia francesa. Planejavam ocupar toda a faixa que vai desde o Cabo de São Roque (Rio Grande do Norte) até a foz do rio Amazonas.

No ano seguinte, os portugueses começaram a atacar a colônia francesa do Maranhão, contando com um numeroso exército de índios aliados. Em 1615, os franceses e as tribos que os apoiavam foram vencidos.

Formou-se, então, um núcleo de ocupação portuguesa na região, tendo como centro o povoado que daria origem à cidade de Belém.

Em busca das riquezas da floresta

Mas a Floresta Amazônica, que se estendia a oeste de Belém, representava ainda um imenso obstáculo à colonização daquela área. De acordo com o tratado de Tordesilhas, a região pertencia à Espanha, que para lá enviou expedições em 1539 e 1541. Foram os portugueses, no entanto, que iniciaram a ocupação de toda área, em 1637, quando uma expedição portuguesa formada por setenta soldados e 1200 índios subiu o rio Amazonas e tomou posse da região para a Coroa portuguesa.

Para defendê-la foram erguidos vários fortes. Mas, para lá se dirigiram também padres franciscanos, carmelitas e principalmente jesuítas. Eles ganharam a confiança dos índios e estabeleceram inúmeras aldeias missionárias.

Figura 5 –mapa: Ocupação da Amazônia – Séculos XVII e XVIII.

-- Página 93

Os índios aldeados, isto é, reunidos nas missões, conheciam a selva, sabiam enfrentar seus perigos e navegar em seus rios para explorar as riquezas da floresta. Assim, eles passaram a realizar dois tipos principais de tarefas.

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Alguns se dedicavam à caça, pesca e agricultura, para o sustento da missão, e outros saíam para a floresta a fim de colher cravo, canela, castanha-do-pará, cacau, urucum, salsaparrilha, sementes, etc.

Esses produtos, conhecidos pelo nome de drogas do sertão, eram transportados pelos índios em canoas até Belém e, dali, exportados para a Europa. Seu comércio trazia altos lucros para as ordens religiosas estabelecidas na Amazônia, principalmente para os jesuítas.

Embora essas missões estivessem muito distantes umas das outras, foram importantes para marcar a presença dos portugueses na região, garantindo-lhes a posse desse imenso território.

Atividades

Atividade I – Ficha de Leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 14, baseando-se no roteiro a seguir:

1. Formas de utilização do gado bovino nos engenhos.

2. Razão pela qual o gado deixou de ser criado nos engenhos.

3. Área de expansão da criação de gado.

4. Diferenças entre a atividade canavieira e a criação de gado:

a) para o proprietário;

b) para o trabalhador.

5. Principal concorrente dos portugueses na ocupação dos territórios a noroeste de Natal.

6. Povoados que surgiram a partir dessa disputa, no litoral norte, no século XVII.

7. Formas de ocupação portuguesa da Floresta Amazônica no século XVII.

8. Interesse econômico dos portugueses na exploração da Floresta Amazônica.

9. O papel das missões jesuíticas para garantir a ocupação portuguesa na Amazônia.

Atividade II – Estudo de outras fontes

Texto complementar

(...) No vale amazônico os gêneros de atividade se reduzem praticamente a dois: penetrar a floresta ou os rios para colher os produtos ou capturar o peixe; e conduzir as embarcações que fazem todo o transporte e constituem o único meio de locomoção. Para ambos estava o indígena admiravelmente preparado. A colheita, a caça, a pesca já são seus recursos antes da

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vinda do branco; como pescador sobretudo, suas qualidades são notáveis, e os colonos só tiveram neste terreno de aprender com ele. Remador, também é exímio: ninguém como o índio suporta os longos trajetos, do raiar ao pôr-do-sol, sem uma pausa; ninguém espreita e percebe como ele os caprichos da correnteza, tirando dela o melhor partido; ninguém compreende tão bem o emaranhado dos cais que formam esta rede complicada e variável de época para época em que se dividem e subdividem os rios amazônicos. Empregado assim em tarefas que lhe são familiares, ao contrário do que se deu na agricultura e na mineração[...] o índio se amoldou com muito mais facilidade à colonização e domínio do branco. Não se precisou do negro.

(Prado Jr., Caio.História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1963. P. 72.)

1. Que qualidades os indígenas possuíam, que os tornaram indispensáveis à exploração da floresta pelos portugueses?

2. Por que, na região amazônica, os colonos não tiveram dificuldade em submeter os indígenas, como ocorreu em outras regiões?

Sugestão de atividade complementar

Reler o capítulo 10 (unidade IV) na p. 59. Essa leitura é importante para a compreensão do próximo capítulo.

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Capítulo 15

São Paulo: porta de entrada para os sertões

Recordando

Em meados do século XVI, os vicentinos alcançaram o planalto de Piratininga. Ali, os jesuítas fundaram o Colégio de São Paulo, que deu origem à vila do mesmo nome.

Os colonos que ocuparam o planalto de Piratinga não tinham grandes esperanças de enriquecimento, como ocorria com os que se instalaram no litoral, onde se desenvolvia a atividade açucareira.

Isso porque, naquela época, não havia condições de se produzir açúcar no planalto, devido à grande distância do litoral e a dificuldade de transporte representada pela serra do Mar. Assim, nas terras recebidas como sesmarias, nas proximidades do Colégio de São Paulo, os

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primeiros colonos cultivaram gêneros alimentícios, utilizando como mão-de-obra os índios das aldeias jesuíticas.

Além disso, os colonos paulistas iniciaram a criação de gado, produzindo carne salgada ou defumada, que era vendida no litoral (São Vicente e Santos). Assim, as terras ao redor da vila de São Paulo foram sendo povoadas pelos portugueses.

Pelos caminhos do sertão

No final do século XVI e início do século XVII, grupos de paulistas, acompanhados de índios, partiram da vila de São Paulo em busca de riquezas minerais (ouro, prata, pedras preciosas). A idéia de descobrir essas riquezas no Brasil estava sempre presente.

Não foram encontrados os cobiçados minérios, a não ser o chamado ouro de lavagem, que se acha no leito dos rios. Esse ouro não representava nenhuma grande fortuna, mas os paulistas voltavam de suas viagens trazendo inúmeros índios cativos.

Contando com mais trabalhadores para as lavouras e os campos de criação de gado, alguns paulistas ampliaram a ocupação das terras no planalto e nelas iniciaram a produção de trigo. Assim, povoaram as áreas nos arredores de São Paulo, onde surgiram as cidades de Moji das Cruzes, Santana do Parnaíba, Jundiaí, Itu e Sorocaba.

Figura 1 – Quadro do pintor Ettore Marangoni, reconstituindo a fundação de Sorocaba, que se tornou vila em 1661.

Nas fazendas maiores instalaram-se moinhos de trigo, onde se produzia farinha para ser vendida no litoral e exportada para outras capitanias (Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco). Os índios transportavam a farinha em pesados cestos colocados nas costas e desciam a pé a serra do Mar, pela antiga trilha dos índios tupiniquins. O carregamento levava dois dias tupiniquins. O carregamento levava dois dias para chegar a Cubatão, de onde seguia em canoas até São Vicente e Santos.

Apesar da prosperidade de alguns grandes plantadores de trigo em São Paulo, sua fortuna nunca se comparou com a dos senhores de engenho. Os paulistas não tinham dinheiro suficiente para substituir os escravos indígenas por africanos, como foi feito nas regiões açucareiras, e por isso dependiam inteiramente dos escravos indígenas: mulheres para plantações e colheitas e homens para o carregamento da farinha.

Com o desenvolvimento das plantações de trigo, aumentou cada vez mais a necessidade de mão-de-obra, principalmente porque era grande a mortalidade dos índios, em conseqüência do trabalho escravo e do contato com doenças trazidas pelo branco.

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Bandeirante: caçador de índios

A necessidade crescente de escravos levou os paulistas a organizar expedições, conhecidas como bandeiras, que partiam da vila de São Paulo e embrenhavam-se pelos sertões, para capturar índios.

Muitas bandeiras eram financiadas por grandes proprietários de terras paulistas, em troca da metade dos índios aprisionados.

As bandeiras tomaram diferentes direções. No início seguiam pelo vale do rio Paraíba, ou se dirigiam ao Oeste de São Paulo. Depois alcançaram outras regiões.

Na própria bandeira havia um grande número de índios, trabalhando como carregadores, cozinheiros, guias e coletores dos produtores da mata, necessários à alimentação do grupo. E tinham também a função de soldados, atividade em que usavam as próprias armas: arco e flechas.

Figura 2 – Peça explicações ao seu professor:

Numa bandeira havia colonos, índios e negros. O grupo percorria grandes distâncias, utilizando o cavalo ou canoas como meio de transporte, com o objetivo de apresar índios ou procurar riquezas minerais.

-- Página 96

A bagagem do bandeirante compunha-se de baús de couro, cheios de pólvora e chumbo, cobertas, redes e provisões de farinha. Levavam também machados, foices, facões, arcabuzes, escopetas e mosquetões. E não faltavam as cordas, para prender e conduzir os índios cativos.

À medida que os paulistas foram destruindo as comunidades indígenas nas áreas mais próximas de São Paulo, as expedições tinham que ir cada vez mais longe. Com isso, seu principal alvo tornou-se a região Sil, onde viviam os índios guaranis. Os colonos consideravam esse grupo indígena o mais eficiente como trabalhadores, pois eles praticavam a agricultura em suas aldeias.

As missões dos guaranis

Os jesuítas também se interessaram por essa nação indígena e já vinham desde 1609 organizando missões que reuniam índios guaranis no Paraguai (território pertencente à Espanha), como as de Guairá, Tape e Itatin.

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Figura 3 – Bandeiras nos séculos XVII e XVIII – Peça explicações ao seu professor.

Para os paulistas, nada melhor do que se apossar desses índios aldeados, acostumados ao contato com os europeus e com o trabalho disciplinado das missões. Prepararam o ataque, utilizando um grande número de pindios guerreiros da tribo dos tememinós, inimigos mortais dos guaranis. Entre 1621 e 1641, as missões jesuíticas do Sul foram totalmente destruídas, calculando- se em 60 mil o número de índios capturados pelos bandeirantes.

Mas grande parte deles nem chegou a São Paulo, tendo morrido de fome, cansaço ou doença durante a viagem. Para avaliarmos essa mortalidade, basta dizer que, numa das expedições, dos 7 mil índios capturados, apenas mil sobreviveram.

Uma parte dos sobreviventes era vendida a outras capitanias, para trabalhar junto com os escravos negros nas plantações e nos engenhos de açúcar. Mas um grande contingente destinava-se ao trabalho nas próprias fazendas de São Paulo e ao transporte de mercadorias para o litoral.

Mais longe, novas fronteiras

A partir de 1640, os bandeirantes encontraram dificuldades cada vez maiores para aprisionar índios. Voltaram ao Sil em 1648 e em 1676, mas os jesuítas haviam deslocado as missões para áreas mais distantes.

Os paulistas procuraram então outros caminhos, e as novas expedições dirigiram-se ao rio São Francisco e à região dos rios Araguaia e Tocantins.

Para atingir regiões tão distantes, era necessário organizar as bandeiras de modo diferente, pois não seria possível sobreviver muito tempo apenas com os recursos que levavam ou com o que podiam retirar das matas.

Por isso, antes da partida da bandeira, um grupo seguia na frente para criar postos de abastecimento ao longo do caminho. Estabeleciam-se num local, faziam plantações de feijão, milho, batatas, que iriam ser consumidas pelos membros da expedição, quando esta passasse por ali. Dessa forma, criaram-se vários núcleos de povoamento que deram origem a diversas cidades em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.

-- Página 97

Mas essas expedições eram muito mais arriscadas do que as anteriores e não deram os resultados que os paulistas esperavam. Era impossível trazer de lugares tão distantes um número muito grande de índios vivos.

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A falta de mão-de-obra acabou afetando a agricultura paulista. No final do século XVII ela começou a declinar por falta de braços e também por causa das constantes rebeliões e fugas dos índios escravizados.

A fama dos paulistas também vai longe

No decorrer do século XVII, governadores, proprietários de terras e câmaras municipais de várias capitanias, principalmente do Nordeste, contrataram os bandeirantes paulistas e seus índios guerreiros para combater rebeliões de escravos, tribos inimigas ou, ainda, europeus de outros países que disputavam com os portugueses o domínio de alguma região. Essas expedições são conhecidas por sertanismo de contrato.

A ordem é achar ouro

No final do século XVII a Coroa portuguesa passava por uma profunda crise financeira. Por isso voltou a incentivar expedições para a busca de metais preciosos.

Os paulistas organizaram então outras bandeiras com a finalidade de procurar ouro e pedras preciosas. Seu objetivo foi alcançado quando encontraram ouro na região que ficou conhecida como Minas Gerais. Esse achado iria modificar inteiramente a situação da colônia, como veremos adiante.

Figura 4 – Peça para o seu professor descrever.

Os índios aliados dos portugueses participaram, sob o comando de alguns bandeirante paulistas, de combates travados contra outras tribos, contra os quilombos ou contra os outros europeus que disputavam com a Coroa portuguesa o domínio sobre áreas no Brasil.

A- Em 1639, bandeirantes paulistas se juntaram às tropas que lutaram para impedir a ocupação da Bahia pelos holandeses. Em 1658 guerrearam contra os indígenas daquela capitania; em 1677 dizimaram uma tribo do vale do rio São Francisco; em 1680 destruíram as tribos que lutavam contra o avanço das fazendas de gado no Rio Grande do Norte e no Piauí; em 1694 o bandeirante Domingos Jorge Velho, a serviço do governo de Pernambuco, destruiu o quilombo dos Palmares (veja p. 74).

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Atividades

Atividade I – Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 15, baseando-se no roteiro a seguir:

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1. Principal dificuldade para a produção de cana-de-açúcar no planalto de Piratininga.

2. Atividades desenvolvidas pelos colonos no planalto de Piratininga nos primeiros tempos de colonização.

3. Objetivo e resultado das primeiras expedições paulistas.

4. Relação entre a produção de trigo e o surgimento de novas cidades no planalto de Piratininga.

5. A organização do trabalho na produção de trigo e no transporte de farinha.

6. Relação entre as bandeiras e a necessidade de mão-de-obra nas lavouras de trigo paulistas.

7. Características de uma bandeira.

8. Interesse dos paulistas nos índios aldeados nas missões jesuíticas do Sul e sua destruição.

9. Relação entre as bandeiras e a formação de núcleos de povoamento em áreas do interior.

10. Razão do declínio da agricultura paulista no final do século XVII.

11. A atuação dos bandeirantes no sertanismo de contrato.

12. Razão do estímulo dado pela Coroa para a busca de minerais preciosos e a descoberta de ouro.

Documento

Descrição do planalto de Piratininga pelo padre Fernão Cardim, 1585.

Piratininga(...) está do mar, pelo sertão dentro, doze léguas; é terra muito sadia, há nela grandes frios e geadas (...) é cheia de velhos mais que centenários.(...) A vila está situada em bom sítio ao longo de um rio caudal. Terá cento e vinte vizinhos [casas] com muita escravaria da terra. (...) Os padres os casam, batizam, lhes dizem as missas cantadas, fazem as procissões e ministram todos os sacramentos (...) Os moradores sustentam seis ou sete dos nossos [padres], com suas esmolas, com grande abundância: é terra de grandes campos ) que trazem cheias de vacas, que é formosura de ver. Têm muitas vinhas e fazem vinho (...), nunca vi em Portugal tantas uvas juntas como vi nestas vinhas; tem grandes figueiras de toda a sorte de figos (...) muitos marmeleiros, que dão quatro camadas, uma após outra, e há homem que colhe doze mil marmelos, de que fazem muitas marmeladas;(...) dá-se trigo e cevada nos campos: um homem semeou uma Quarta de cevada e colheu sessenta alqueiras; é terra fertilíssima, muito abastada(...) Tem grande falta de vestido, porque não vão os navios a São Vicente, senão tarde e pouco(...)

(Cardim, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil.)

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1. Em que época foi feito o relato ?

2. A partir do relato do Padre Fernão Cardim, caracterize a vila de Piratininga nos seguintes aspectos:

a) localização;

b) clima;

c) população;

d) atividades econômicas.

3. Transcreva o trecho do documento que permite concluir os moradores de Piratininga empregavam escravos indígenas em vez de negros.

Sugestão de atividade complementar

Atividade III – Em grupos

Analisar o mapa da página 96, que mostra o roteiro das expedições dos bandeirantes, e responder:

1. As bandeiras se limitaram a percorrer os territórios pertencentes a Portugal? Justifique sua resposta.

2. Pelo Tratado de Tordesilhas, os territórios onde se situavam as missões de Guairá, Itatin e Tape pertenciam a Portugal ou à Espanha?

3. Qual o objetivo das bandeiras indicadas no mapa pela cor roxa?

4. E das indicadas pela cor laranja ?

5. E das indicadas pela cor rosa?

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Capítulo 16

A conquista do Sul

Recordando

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Pela linha do Tratado de Tordesilhas, os limites das terras portuguesas na América iam, no sul, até a capitania de São Vicente, mas incluíam uma estreita faixa do litoral dos atuais Estados do Paraná e de Santa Catarina

Na época em que começou a colonização, ninguém sabia ao certo onde se situavam os limites das terras portuguesas na América, pois não existiam ainda técnicas aperfeiçoadas de medição da superfície da terra.

Nessas condições, era muito difícil determinar o lugar que ficava exatamente a 370 léguas a oeste de Cabo Verde ((linha de Tordesilhas).

Por isso, as fronteiras entre os domínios de Portugal e Espanha dependeram mais da capacidade de manter as regiões conquistadas do que do Tratado. Por isso, no Sul, foram constantes as guerras entre portugueses e espanhóis.

O estuário do Prata

Da expedição de Martim Afonso de Sousa, em 1532, participava também seu irmão, Pero Lopes de Sousa, que navegou até o rio da Prata, tomando posse da região para o rei de Portugal. Mas isso não era suficiente para o domínio, pois não se fundou ali nenhum povoado português. Em 1536, por sua vez, o rei da Espanha mandou construir na margem direita do estuário do rio da Prata uma cidade, que se chamou Buenos Aires.

Durante o período em que Portugal esteve sob o domínio da Espanha (1580- 1640), o estuário do Prata se tornou centro de um importante comércio. Numerosas embarcações navegavam ao longo da costa, de São Vicente a Buenos Aires, onde se vendiam os produtos do Brasil: açúcar, tabaco, algodão.

Navios ingleses também se dirigiam ao rio da Prata, para vender clandestinamente as mercadorias da Inglaterra aos colonos espanhóis (a Espanha não permitia que nenhum navio estrangeiro atracasse nos portos de suas colônias). Os colonos espanhóis pagavam essas mercadorias do Brasil e da Inglaterra com a prata vinda das minas do Peru.

E, desde o início do século XVII, os jesuítas começaram a fundar missões às margens do rio Uruguai onde se reuniram milhares de índios e se introduziu a criação de gado bovino, eqüino e muar.

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Figura 3 – Ruínas da igreja da missão jesuítica de São Miguel, no atual Estado do Rio Grande do Sul.

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Como vimos no capítulo anterior, os paulistas organizaram várias bandeiras que se dirigiram às missões jesuíticas do Sul, com a finalidade de aprisionar os índios missioneiros. Várias dessas missões foram destruídas pelos paulistas, e o gado ali criado ficou solto e espalhou-se pelas extensas planícies do atual Estado do Rio Grande do Sul, chamadas de campos de Viamão. Dispondo de excelentes pastagens naturais, esse gado se reproduziu rapidamente, passando a viver em estado selvagem.

A busca do ouro também conduz ao Sul

Nas suas viagens em direção ao sul, os bandeirantes também encontraram ouro de lavagem (veja página 94). Em conseqüências dessa descoberta formaram-se pequenos povoados junto ao litoral: Paranaguá ( 1648), São Francisco do Sul ( 1658), Curitiba ( 1668, Desterro (atual Florianópolis, ( 1675) e Laguna ( 1676).

Povoar para garantir a posse

Nesse período, o povoamento do Sul se fazia lentamente, graças às iniciativas dos próprios colonos.

Mas, para a Coroa portuguesa, também era importante marcar presença nessas terras. Principalmente por causa do lucrativo comércio que se fazia no estuário do Prata. Assim, em 1680, o rei de Portugal ordenou a fundação de um povoado, a colônia de Sacramento, que deveria se erguer em frente à cidade de Buenos Aires, na outra margem do estuário. (Localize no mapa, figura 2).

Sacramento tornou-se imediatamente alvo constante de ataque dos espanhóis, que consideravam a presença portuguesa uma ameaça ao controle do estuário. Nos inúmeros confrontos que ali se deram, morreram centenas de soldados e índios que lutavam ou do lado dos portugueses, ou do lado dos espanhóis. Sacramento passou a ser um peso para a Coroa portuguesa, que chegou a criar um regimento especial para fortalecer as defesas da região: o Regimento dos Dragões. Diante de todas essas dificuldades, o rei de Portugal ordenou, em 1737, a fundação de uma nova cidade: Rio Grande de São Pedro. (Localize no mapa, figura 2.)

Seus primeiros povoadores foram soldados, o que demostra a importância da defesa dessa região para a Coroa portuguesa.

Depois, para ocupar a terra, Portugal incentivou a vinda de colonos portugueses, principalmente da ilha dos Açores. Assim, em 1740 chegaram à região 40 mil açorianos. A Coroa ofereceu uma série de vantagens para atrair esses colonos: pagou a travessia do Atlântico, doou a cada família uma pequena parcela de terra, instrumentos agrícolas e animais

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de trabalho. Um de seus povoados, formado por sessenta casais em 1742, chamou-se Porto dos Casais, atual Porto Alegre. Localize no mapa, figura 2.) Graças ao trabalho dos colonos açorianos, desenvolveu-se a cultura do trigo e da vinha nessa região.

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A partir desses núcleos e também das povoações formadas mais ao norte pelos paulistas, começou o movimento de colonização do interior do Rio Grande, atraído pelas extensas planícies onde vivia o gado selvagem. Era só ocupar a terra, domesticar o gado e virar um grande fazendeiro.

No início das propriedades. Com o tempo, a propriedade dessas terras foi se legalizando, pela concessão de sesmarias. Mas, embora a sesmaria se limitasse a três léguas, ou seja 108 mil metros quadrados, os proprietários acabavam ganhando muito mais, porque pediam concessões em nome dos filhos. O resultado foi a formação de imensos latifúndios, que lá são chamados de estâncias.

ATIVIDADES

Atividade 1 - Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 16, baseando-se no roteiro a seguir:

1. Dificuldade de estabelecer os limites precisos entre os domínios portugueses e espanhóis na América.

2. Pioneirismo espanhol na ocupação do estuário do Prata.

3. Importância econômica da cidade de Buenos Aires.

4. A presença dos jesuítas no estuário do Prata.

5. O avanço dos paulistas em direção ao sul, na busca de escravos índios e de ouro. Povoados criados nesse percurso.

6. Interesse da Coroa portuguesa no estuário do Prata.

7. Povoados fundados pela Coroa portuguesa para garantir o controle sobre o Sul. Origem dos colonos trazidos pela Coroa.

8. A formação das estâncias no interior do Rio Grande do Sul.

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Atividade II - Estudo de outras fontes

Texto complementar

Por esse tempo muito povo descia para o Continente, cujas terras e gados seriam de quem primeiro chegasse.

Homens da Laguna, de São Paulo, das Minas Gerais e do Planalto curitibano desciam pelos caminhos das tropas.

Muitos navegavam os rios em busca de ouro e prata.

Muitos requeriam sesmarias. Outros roubavam terras.

Ladrões de gado aos poucos iam virando estancieiros.

Nasciam povoados nos vales e nas margens daqueles muitos rios.

As campinas andavam infestadas de aventureiros, fugitivos do Presídio e da Colônia do Sacramento, homens sem lei e sem pátria, homens às vezes sem nome. E era com gente assim que Chico Rodrigues ingressava seu bando.

Quais são teus inimigos?

Os bugres, as feras, as cobras, os castelhanos e o Regimento de Dragões.

E teus amigos?

Meu cavalo, meu mosquete, minhas garruchas, meu facão.

(...) E de homens como ele havia centenas e centenas.

As patas de seus cavalos, suas armas e seus peitos iam empurrando as linhas divisórias do Continente do Rio Grande de São Pedro.

Queremos as ricas campinas do oeste e as (...)

Pelos campos do Rio Pardo iam entrando na direção do poente, demandando as Missões. Ou desciam costeando as grandes lagoas, rumo do Prata.

E em todas as direções penetravam na terra dos minuanos, tapes, charruas, guenoas, arachanes, caaguas, guaranis e guaranás.

A fronteira marchava com eles, Eles eram a fronteira.

(Veríssimo, Érico, O tempo e o vento, p. 63.)

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1. O que atraía tanta gente de Laguna, São Paulo, Minas Gerais, planalto curitibano, para o Sul?

2. O autor se refere a bandos de aventureiros que agiam na região.

a). Quem formava esses bandos?

b). Com quem lutavam?

c). Com que armas lutavam?

d). Por que lutavam?

e). Que outros perigos enfrentavam?

3. Quem eram os castelhanos?

4. O que era Regimento dos Dragões?

5. O que significa a frase: "As patas de seus cavalos, suas armas e seus peitos iam empurrando as linhas divisórias do Continente do Rio Grande de São Pedro"?

6. Quem eram os "minuanos, tapes, charruas, guenoas, arachanes, caaguas, guaranis e guaranás"?

7. O que acontecia com eles, quando se confrontavam com os aventureiros de que fala o texto?

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ENCERRAMENTO DA UNIDADE

Atividade I - Em grupos

Discutir os objetivos apresentados no início da unidade, sob o título: "O que é importante aprender". Redigir um pequeno texto sobre cada um dos temas.

Atividade II - Em grupos

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Comparar os mapas abaixo e escrever um pequeno texto explicando as mudanças que ocorreram na ocupação da colônia no decorrer dos séculos XVI e XVII.

Brasil no século XVI

Área de ocorrência do pau-brasil - Cana-de-açúcar

Pecuária

(Peça para o seu professor descrever)

Brasil no século XVII

Área de ocorrência do pau-brasil

Pecuária

Drogas do sertão

Limites atuais

(Peça para o seu professor descrever)

-- Página 103

Preparação para a próxima unidade

Atividade I - Em grupos

Discutir as seguintes situações, respondendo às questões que as acompanham.

1. Suponha que você tivesse juntado uma grande quantidade de selos e resolvesse vendê-lo. Em que caso você ganharia mais?

a). Se houvesse apenas um comprador interessado nos seus selos.

b). Se aparecessem muitos interessados.

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2. Por quê?

3. E se fosse você o comprador dos selos, o que seria mais vantajoso?

a). Ser único comprador.

b). Que houvesse muitos outros interessados.

4. Por quê?

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UNIDADE VII

A COLÔNIA; SALVAÇÃO DO REINO

Como vimos na unidade anterior, no decorrer dos séculos XVI e XVII a área de colonização portuguesa se estendeu, graças ao desenvolvimento das atividades agrícolas e da pecuária .

Esse crescimento resultou também na propriedade dos colonos. Apesar dos impostos que tinham que pagar à Coroa, eles enriqueciam. E, embora estivessem sujeitos à autoridade dos governadores portugueses, conseguiram influir nas decisões relativas aos municípios, pois dominavam as câmaras municipais (veja página 57).

Além disso, os colonos tinham uma certa liberdade no comércio de seus produtos: a Coroa só proibia a entrada na colônia a navios de países inimigos do reino.

Mas Portugal não se beneficiou dessa prosperidade da colônia, pois o reino gastava sempre mais do que recebia e apelava constantemente para empréstimos junto a banqueiros de outros países, nunca conseguindo pagar suas dívidas. Figura 1: Terreiro do Paço, em Lisboa, retratado em quadro do pintor Dirk Stoop. A nobreza de Lisboa levava uma vida de luxo e desperdício.

-- Página 105

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A partir da Segunda metade do século XVII, Portugal tomou uma série de medidas no sentido de controlar melhor o comércio, para tentar equilibrar suas finanças. Mas, diante do rigor das autoridades portuguesas, os colonos começaram a reagir, ocorrendo os primeiros confrontos entre eles e a metrópole.

Por outro lado, para sair das dificuldades, Portugal precisava renovar suas fontes de rendimentos, encontrar novas riquezas a explorar na colônia. O velho sonho de descobrir ouro e prata se reacendeu, aumentando-se os esforços feitos para encontrar os metais preciosos. No final do século CVII, finalmente foram descobertas as minas de ouro, e, com isso, iniciou-se uma nova etapa de exploração colonial.

O que é importante aprender

Durante o estudo deste unidade, procure concentrar-se nos seguintes objetivos:

- Compreender por que, apesar da prosperidade da colônia, a metrópole não solucionou seus problemas financeiros, vivendo em constante crise.

- Explicar por que a atividade açucareira entrou em decadência a partir da expulsão dos holandeses.

- Enumerar as medidas que a Coroa portugueses tomou para tentar solucionar seus problemas e as conseqüências dessas medidas para os colonos no Brasil.

- Explicar as razões do conflito entre os colonos do Maranhão e a metrópole.

- Explicar as razões do conflito entre os proprietários de terras do Nordeste e os comerciantes portugueses de Recife.

- Relacionar os esforços empreendidos na busca de minerais preciosos e a situação da metrópole.

- Explicar as mudanças que ocorreram na colônia após o estabelecimento da atividade mineradora.

- Descrever o funcionamento da atividade mineradora.

- Explicar as medidas da metrópole para tirar o máximo proveito da extração mineral.

- Explicar os efeitos da mineração sobre a cidade do Rio de Janeiro.

-- Página 106

CAPÍTULO 17

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A Coroa aperta o cerco contra a colônia

Recordando

Durante os séculos XVI e XVII a colônia cresceu, ampliando-se a área de dominação portuguesa sobre as terras indígenas e desenvolvendo-se as atividades agrícolas e a pecuária.

A propriedade da colônia também se refletia no comércio mantido com a Europa. Nos portos coloniais havia um grande movimento de navios estrangeiros, principalmente ingleses, que chegavam carregados de mercadorias européias. Levando, na volta à Europa, açúcar, pau-brasil, algodão, fumo e cachaça, compradores aos colonos.

Por outro lado, os navios do Brasil alcançavam a África, carregando farinha, cachaça e fumo, para trocar por escravos e marfim em Angola.

Portugal em apuros

Mas a propriedade da colônia não solucionava os sérios e antigos problemas do reino português. Desde 1532, quando a Coroa resolveu colonizar o Brasil, criando as capitanias, já apareciam os primeiros sinais de decadência de seu comércio no Oriente: os gastos para manter os domínios portugueses eram maiores do que os lucros obtidos com as mercadorias orientais. Figura 1: – A mudança do império português exigia que a Coroa despendesse cada vez mais recursos financeiros. No desenho de F. Giliardi, uma cena em que se enfrentam portugueses e árabes na Etiópia (África).

Com o crescimento da produção do açúcar no Brasil, a situação de Portugal aparentemente melhorou. Mas, na verdade, os problemas não foram solucionados. A Coroa gastava seus rendimentos com a defesa dos territórios coloniais, com obras grandiosas realizadas em Lisboa e com o luxo dos nobres da corte que viviam à custa do tesouro real. Por isso, o reino dependia de constantes financiamentos de banqueiros de outros países e estava sempre endividado.

Quando Portugal passou para o domínio espanhol, em 1580, a situação do reino se agravou ainda mais. Nesse período, como você deve se lembrar, os holandeses apossaram-se de grande parte das feitorias portuguesas na África e dominaram o Nordeste brasileiro durante 24 anos (de 1630 a 1654).

Quando os holandeses foram obrigados a se retirar do Brasil, desenvolveram as plantações de cana e a produção de açúcar, nas ilhas que ocuparam nas Antilhas.

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Eles dispunham de grandes capitais, dominavam os centros fornecedores de escravos na África e tinham um poderosa frota naval para distribuir o açúcar nos portos europeus. Além disso, a Inglaterra também havia iniciado a produção de açúcar em suas colônias antilhanas. Resultado: a grande quantidade de açúcar produzido fez baixar o preço desse produto.

Assim, os plantadores da colônia tiveram que vender seu açúcar por um preço menor. Com isso ficaram em dificuldade para manter as plantações e os engenhos, principalmente porque não tinham dinheiro suficiente para comprar escravos.

A ruína dos proprietários de canaviais e engenhos resultou, afinal, na decadência de toda a região canavieira.

Para Portugal, isso representava a perda de sua mais importante fonte de recursos. A única forma de tentar equilibrar a situação seria aumentar o controle sobre o comércio com o Brasil, de forma a canalisar todos os seus lucros para o reino.

Portugal cerca a colônia

A primeira medida adotada com essa finalidade foi a criação de uma companhia de comércio formada com capitais de riscos comerciantes portugueses – a Companhia Geral do Comércio do Brasil.

Organizada em 1647, essa companhia tinha a exclusividade sobre o comércio no litoral, desde o Rio Grande do Norte até São Vicente. Se fossem encontradas embarcações de outros países nas proximidades da costa brasileira ou nos portos, a esquadra da companhia tinha ordem para destruí- las. Foi concedida uma licença especial a navios ingleses, holandeses e franceses de aportar no Brasil, desde que acompanhassem as frotas organizadas em Portugal, com destino à colônia.

Mais uma forma de controle do comércio colonial consistiu na determinação de que as embarcações, ao sair do Brasil, não parassem em nenhum outro porto estrangeiro, devendo dirigir-se diretamente a Portugal.

Outras companhias de comércio foram criadas posteriormente, sempre visando aumentar o controle da metrópole sobre a colônia.

Com as medidas adotadas, principalmente com a criação das companhias de comércio, os colonos perderam a liberdade de comerciar com outros países e foram obrigados a aceitar os preços estipulados pelas companhias. Os produtos coloniais tiveram seu preço reduzido ao máximo, a fim de aumentar os lucros dos comerciantes, ao mesmo tempo que as mercadorias

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trazidas do reino eram vendidas a preços altos e nem sempre atendiam às necessidades de consumo dos colonos.

Para evitar que as ordens reais não fossem cumpridas, os governadores (desde 1640 com o título de vice-reis) aumentaram o controle sobre as capitanias e as câmaras municipais. As tropas de soldados da Coroa estavam sempre prontas para reprimir qualquer tentativa de rebeldia dos colonos.

Mas isso não evitou que surgissem rebeliões e conflitos. Um deles se deu na capitania do Maranhão, que tinha sido fundada em 1615, depois da derrota dos franceses e de seus aliados índios (veja página 92).

O Maranhão em pé de guerra

Os colonos que povoaram o Maranhão se dedicaram ao cultivo de fumo, algodão e principalmente cana-de-açúcar. (Figura 2.) Para o trabalho nas lavouras e nos engenhos, eles lançaram mão dos indígenas das inúmeras tribos que habitavam o interior da capitania e a região Amazônica. Organizaram-se várias expedições de guerra aos indígenas, que traziam na volta grande quantidade de cativos.

Por isso, os colonos entraram em constantes conflitos com os jesuítas da região, que se esforçavam para reunir os índios nas missões.

Em 1682, a Coroa criou a Companhia de Comércio do Maranhão, que se comprometia a solucionar o problema da mão-de-obra para os colonos. Ela se encarregaria de trazer 10 mil escravos negros, num prazo de vinte anos. Em além disso, se comprometia a fornecer os produtos europeus de que os colonos necessitavam.

Entretanto, as condições estabelecidas não foram cumpridas. A situação se agravava ainda mais com a falsificação dos pesos praticada pela companhia e com a venda das mercadorias importadas a preços mais altos do que os combinados.

Figura 2. A vila de Alcântara, situada defronte da ilha de São Luís do Maranhão, era um centro residencial da aristocracia rural, enquanto São Luís funcionava como porto de escoamento das mercadorias produzidas. Na figura, vista de Alcântara, que ainda hoje mantém às características da época colonial.

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Diante disso, os maranhenses da cidade de São Luís se rebelaram. Numa noite de fevereiro de 1684, um certo senhor de engenho chamado Manuel Beckman chefiou um grupo de rebeldes, que prenderam o capitão-mor de São Luís e depuseram o governador da capitania.

Em seguida atacaram o colégio dos jesuítas com os quais viviam em conflito, por causa da disputa do controle sobre os indígenas da região.

Depois dirigiram-se para os armazéns da Companhia de Comércio do Maranhão, que foram saqueados e depredados.

Mas, com a chegada de um novo governador, os rebeldes foram presos, julgados, e seus líderes, enforcados. Tempos depois, a Companhia de Comércio do Maranhão foi extinta.

“Mascates” e proprietários em guerra

Também na capitania de Pernambuco ocorreram conflitos. Ali, a rebeldia dos colonos, proprietários de terras e engenhos, se voltou contra os comerciantes portugueses de Recife. Estes dominavam o comércio da capitania e eram chamados pejorativamente de “mascates” pelos olindenses. (Figura 3.) Assim, embora esse confronto não tenha sido diretamente com a metrópole, também reflete o descontentamento dos colonos com a exploração a que estavam submetidos.

Figura 3 – Palácio da Boa Vista, em Recife, estampa de Gaspar Barlaeus, que viveu no Brasil na época do domínio holandês.

Desde o início da colonização, a capital de Pernambuco era a cidade de Olinda, onde moravam os ricos e poderosos proprietários de terras e de escravos. (Figura 4.) A cidade era próspera, refletindo o poder e a riqueza de seus moradores. Mas, depois da saída dos holandeses, a situação mudou. Como vimos, expulsos do Brasil, os holandeses desenvolveram a plantação de cana e a produção do açúcar nas Antilhas (veja página 106).

Figura 4. – A cidade de Olinda, fundada em 1536 pelo capitão donatário Duarte Coelho, a 7 quilômetros de Recife, conserva até hoje suas características coloniais: ladeiras estreitas e tortuosas, calçadas com pedra, e algumas das mais antigas construções do Brasil Colônia.

Isso provocou a decadência da atividade açucareira no Nordeste e muitos senhores de engenho se arruinaram. Tentaram então equilibrar sua situação, pedindo empréstimos aos

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comerciantes portugueses que moravam em Recife e pagando altos juros por eles. Porém, acabavam não conseguindo pagar as dívidas.

Para os comerciantes recifenses, a única maneira de recuperar o dinheiro emprestado seria tomar as propriedades e os escravos dos devedores. Isso era difícil, porque dependia da aprovação da Câmara Municipal de Olinda, que era controlada pelos proprietários de terra. Os comerciantes não poderiam concorrer às eleições para a Câmara porque não pertenciam à categoria dos “homens bons” (veja página 57).

Contando com o apoio das autoridades portuguesas da capitania, os recifenses conseguiram, em 1703, autorização para concorrer às eleições municipais. Mas estas eram controladas pelas famílias dos grandes proprietários, que deram um jeito de impedir a vitória dos moradores de Recife.

Inconformados, os recifenses apelaram, mais uma vez, para as autoridades portuguesas. E conseguiram que Recife fosse elevada à condição de vila, em 1710. Sendo vila, e não mais um simples bairro de Olinda, Recife poderia Ter sua própria câmara municipal.

Em relação, os moradores de Olinda começaram a entrar em conflito com os recifenses, usando como pretexto os limites que seriam estabelecidos entre os dois municípios. As divergências entre as duas cidades rivais transformaram- se em conflitos armados que se estenderam até 1714. Finalmente, Recife teve confirmada sua condição de vila e acabou se tornando a capital da capitania de Pernambuco.

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Oficinas, não!

No decorrer do século XVIII, tornou-se cada vez mais rigoroso o controle da Coroa sobre a colônia. Uma das medidas nesse sentido foi a proibição de todas as atividades que poderiam significar algum prejuízo para o comércio entre Portugal e a colônia.

Desde o início da colonização, vinham se desenvolvendo o artesanato e as pequenas oficinas que fabricavam principalmente tecidos de algodão. Elas eram instaladas nas próprias residências dos fazendeiros e produziam os tecidos para as roupas grosseiras dos escravos.

Havia também a produção de cerâmicas, sabões, cordas, objetos e ferramentas de ferro, couros, e as olarias, onde se fabricavam telhas.

Algumas regiões se especializaram em certos produtos, como é o caso das esteiras, produzidas em Taubaté, na capitania de São Paulo, ou das mantas de lã usadas sobre o lombo das montarias fabricadas em Curitiba.

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A existência e o desenvolvimento dessas oficinas, principalmente as de tecidos, não interessavam a Portugal, pois concorriam com as mercadorias importadas da metrópole (utensílios de louça, instrumentos agrícolas, objetos de vidro e principalmente tecidos, que Portugal comprava da Inglaterra).

Por isso, a rainha D. Maria I, em 1785, ordenou o fechamento de todas as oficinas existentes no Brasil. A partir daquela data, só se podiam produzir os panos para as roupas dos escravos.

ATIVIDADES

Atividade I – Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 17, baseando-se no roteiro a seguir:

1. O comércio da colônia com a Europa e a África, no século XVI e parte do XVII.

2. Razões da crise econômica de Portugal desde o século XVI.

3. Relação entre a expulsão dos holandeses do Brasil e a crise da produção açucareira.

4. Significado da crise da produção de açúcar brasileiro para Portugal.

5. Medidas tomadas por Portugal para tentar equilibrar suas finanças.

6. Conseqüências da criação das companhias de comércio para a colônia.

7. A reação dos maranhenses contra a Companhia de Comercio do Maranhão.

8. Razões do conflito entre proprietários de terra de Olinda e comerciantes de Recife.

9. Significado da elevação de Recife à categoria de vila para os comerciantes portugueses e para os proprietários de terra.

10. Medida tomada por D. Maria I em relação à produção manufatureira na colônia. Razão da Coroa para tomar essa medida.

Atividade II – Estudo de outras fontes

Texto complementar

À medida que a população colonial em que aplicar suas atividades, a política de restrições econômicas se acentua. Procura-se impedir a produção de qualquer gênero que não interessasse diretamente à metrópole e seu comércio, ou que fizesse concorrência à sua

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produção nacional. Assim se deu com o cultivo da oliveira, da vinha (duas das principais riquezas de Portugal), e das especiarias (em particular da pimenta e da caneta) que vinha interferir com o comércio asiático e os interesses metropolitanos no oriente (...)

(Prado Jr. Caio. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1959, página 54.)

1. Além do controle sobre o comércio, o texto nos informa sobre outras formas de controle adotadas pela Coroa sobre a colônia. Quais são?

2. Com que objetivo a Coroa portuguesa proibia a produção de determinados gêneros na colônia?

Sugestões de atividade complementar

Atividade III – Em grupos

Comparar o que aconteceu com o preço do açúcar do Brasil após a expulsão dos holandeses com a situação discutida no exercício da página 103. Qual é a semelhança entre as duas situações?

-- Página 110

Capítulo 18

Realiza-se o velho sonho

Recordando

Desde a chegada da esquadra de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, a grande esperança dos portugueses era encontrar minas de metais preciosos, o que ficou bem demonstrado pela carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal (veja página 48)

Embora a colonização tenha se realiza com base nas plantações de cana-de- açúcar, o sonho de encontrar ouro nunca desapareceu. Os capitães donatários, os governadores-gerais e os próprios colonos freqüentemente organizavam expedições ao interior, em busca do minério.

Perseguindo o ouro

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Os colonos vicentinos, por exemplo, logo no início da colonização, saíram à procura de ouro, chegando até o litoral dos atuais Estados do Paraná e de Santa Catarina.

Como vimos, acharam apenas ouro de lavagem. (Veja página 94).

Mas essas descobertas renovavam continuamente as esperanças de encontrar minas mais ricas, estimulando os colonos a prosseguir nas buscas.

Ouro: a única solução

Quando Portugal conseguiu libertar-se do domínio espanhol, em 1640, a situação financeira do reino era muito difícil, como já vimos no capítulo anterior.

Nem o controle rigoroso dos monópolios por meio das companhias de comércio solucionou a crise em que se encontrava Portugal.

Nessa situação, a Coroa incentivou a busca de metais preciosos no Brasil, financiando expedições com esse objetivo e oferecendo títulos de nobreza a seus componentes.

Em 1693, uma bandeira dirigida por Antonio Dias Arzão, partindo de Taubaté, descobriu finalmente o minério, na região conhecida como Campo de Cataguás.

A notícia correu rápida, despertando a cobiça em todos os paulistas. Organizaram-se outras bandeiras, agora com roteiro certo, e em 1698 fundou- se, naquele lugar onde havia sido encontrada a primeira pepita de ouro, a Vila Rica de Ouro Preto. Figura 1 – Vila Rica (atual Ouro Preto), numa aquarela do século XVIII. Ao fundo aparece o prédio da Câmara e a cadeia (hoje Museu da Inconfidência).

-- Página 111

Gente de toda parte

Logo foram descobertas novas minas e fundaram-se vários povoados, espalhados por uma extensa área que passou a chamar-se Minas Gerais.

Os paulistas, pioneiros na descoberta do ouro, foram os primeiros a deslocar- se para a região. Mas a riqueza atraiu gente de todo tipo e de toda parte. Conta o padre Antonil, que esteve na colônia no século XVIII:

(...) cada ano vêm nas frotas quantidades de portugueses e de estrangeiros para passarem às Minas. Das cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil, vão brancos, pardos e pretos e muitos índios de que os paulistas se servem. A mistura é de toda a condição de pessoas: homens, mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, seculares (...) religiosos.

(Antonil, Cultura e opulência do Brasil.)

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Para se Ter uma idéia da atração exercida pelas minas, basta comparar a população da colônia do início do século XVIII, que era de aproximadamente 300 mil habitantes, e a do fim do século, que chegou a 3 milhões de habitantes.

Figura 3 – Com a descoberta do ouro, centenas de pessoas se deslocaram em direção às minas, na esperança de enriquecer. Quadro de Oscar Pereira da Silva. Entrada para as Minas

Emboabas, fora !

Quem não gostou nada da chegada dessa multidão foram os paulistas, já que tinham sido os primeiros a iniciar a exploração do minério.

A hostilidade aos “estrangeiros”, a quem os paulistas chamavam pejorativamente de emboabas, acabou se transformando em uma verdadeira guerra, que durou de 1707 a 1709.

Para a Coroa, esses confrontos resultavam em prejuízo, porque, nos períodos em que se guerreava, as minas paravam de produzir ouro. É o que se conclui de uma carta de funcionários e comerciantes do Rio de Janeiro, na qual aparece o seguinte comentário: “ O negócio das minas há muitos dias que está parado, porque andam aqueles moradores com armas nas mãos, divididos em duas facções”.

A rivalidade entre os dois grupos persistiu ainda por muito tempo E grande número de paulistas, insatisfeitos com a perda de sua posição, foi procurar ouro em ouro em outros locais. Descobriram novas minas na região de Goiás e Mato Grosso.

Controle total sobre as minas

Quando alguém descobria ouro, tinha que comunicar imediatamente às autoridades portuguesas, que dividiam a área em lotes chamados datas. O descobridor recebia uma data e passava a Ter o direito de explorar o ouro em sua propriedade. Ao rei cabia também uma data, outra ao guarda-mor e

-- Página 112

as demais eram sorteadas entre os interessados em explorá-las. A extensão de cada propriedade variava de acordo com o número de escravos que o pretendente possuía.. A parte do rei era vendida a quem oferecesse melhor preço.

Figura 4 – Gravura de Rugendas, Lavagem de ouro.

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A mineração no Brasil apresentou-se sob duas formas diferentes. O ouro encontrado nas camadas mais superficiais do solo podia ser extraído com equipamentos rudimentares, por uma pessoa trabalhando sozinha Ou ajudada por um pequeno número de auxiliares. Já nas lavras eram utilizados equipamentos que permitiam a extração do ouro de camadas mais profundas das rochas. Os donos das lavras eram os mineradores mais ricos, que possuíam um grande número de escravos.

Quando os depósitos auríferos superficiais ou de pequena profundidade começaram a se esgotar, a mineração entrou em decadência. Por falta de capacidade técnica da metrópole e dos colonos, não foi possível a utilização de outros tipos de equipamentos necessários à continuidade da extração.

O que importa são os impostos

A administração das minas foi planejada pela Coroa portuguesa, visando impedir qualquer desvio de impostos. Assim, para facilitar o controle sobre a região, em 1709 uma Carta Régia criou a capitania real de São Paulo e Minas do Ouro, região até então subordinada à capitania do Rio de Janeiro. Em 1720 separaram-se as capitanias de Minas e São Paulo, visando aumentar ainda mais o controle sobre a mineração.

Mas outras medidas também foram tomadas: as áreas de exploração do ouro estavam submetidas a uma administração especial, a Intendência das Minas, que recebia ordens diretamente do rei de Portugal. Os funcionários da Intendência eram os guardas-mores.

De todo o ouro extraído, a Quinta parte (o quinto) correspondia ao imposto devido à Coroa. Mas o controle era difícil, pois o ouro em pó ou em pepitas podia ser contrabandeado, isto é, levado para fora da região e vendido sem o pagamento do quinto.

Figura 5 – Quadro de Joaquim da Rocha Ferreira, em que se vê um funcionário real, o provedor das minas, pesando o ouro correspondente ao imposto a ser pago a Coroa.

-- Página 113

então para fiscalizar melhor a arrecadação do quinto, a Coroa decretou (1719) a criação das casas de fundição, que seriam instaladas em Vila Rica, Sabará, São João Del Rey e Vila do Princípe.

Todo o ouro extraído obrigatoriamente tinha que passar por essas casas, onde era derretido e transformado em barras, marcadas com o selo real. Ali se separava o quinto, e o resto era devolvido ao minerador, para ser negociado. A maior parte do ouro pertencente aos mineradores era vendida aos comerciantes portugueses e levada para Portugal.

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Na colônia só podia circular o ouro em barras, saído das casas de fundição. Quem fosse encontrado com ouro em pó ou em pepitas estava sujeito a perder todos os seus bens e podia até ser deportado para as colônias portuguesas da África.

As barras de ouro recolhidas pelas casas de fundição, bem como as que pertenciam aos mineradores, seguiam a caminho do Rio de Janeiro, onde eram embarcadas para Portugal.

Uma revolta em Vila Rica

Com a criação das casas de fundição, os colonos ficavam submetidos a um controle mais rígido e muitos teriam que percorrer grande distância para levar o ouro de suas minas até elas.

Em vários locais, os colonos manifestaram seu descontentamento e rebeldia. O principal movimento foi a chamada Rebelião de Vila Rica (1720), liderada pelo tropeiro português Filipe dos Santos.

Os rebeldes marcharam para Ribeirão do Carmo, onde ficava a sede do governo das minas. Como o governador não tinha forças militares suficientes para enfrentar a revolta, se comprometeu a aceitar as exigências dos colonos.

Mas logo que eles voltaram a Vila Rica, mandou prender os líderes e incendiar suas casas. A legislação portuguesa não permitia que um homem branco e livre fosse executado na colônia se consulta à Coroa. Mas, como Filipe dos Santos era apenas um humilde tropeiro, ninguém se opôs à decisão do governador, que o condenou à forca. Seu corpo foi esquartejado e as partes exibidas em postes para que o castigo servisse de exemplo aos descontentes.

Os descaminhos do ouro

Apesar do rígido controle que a Coroa estabeleceu sobre a atividade mineradora, grande quantidade de ouro foi contrabandeada. As tropas que vigiavam as estradas não conseguiam fiscalizar todos os caminhos.

O ouro desviado era empregado em grande parte na compra de gêneros alimentícios. Mas também, tinha outros destinos, como o rio da Prata, onde era trocado por mercadorias trazidas por navios ingleses.

Senhores e escravos nas minas de ouro

A maior parte das pessoas que iam para as minas não tinha nenhuma esperança de enriquecer. Eram os escravos, que, com seu trabalho exaustivo retiravam a riqueza da terra e faziam surgir e se acumular as fortunas de seus senhores.

Os primeiros escravos da região foram os índios levados pelos paulistas. Mas dentro de pouco tempo a quantidade de negros ultrapassou o número de indígenas.

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A fim de solucionar a crescente necessidade de mão-de-obra na zona mineradora, a Coroa estimulou o tráfico de africanos. Mas houve também um grande deslocamento de escravos no interior da colônia: muitos senhores de engenho, arruinados com a decadência da atividade açucareira, deixavam suas plantações para fazer fortuna na mineração e levavam seus escravos. Outros simplesmente procuravam aliviar suas dívidas, vendendo os escravos a traficantes, que os levavam para as minas.

Figura 6 – Peça para o seu professor descrever: O tansporte de escravos negros para a região das minas devia cobrir uma grande distância. Por isso, ao longo do percurso a caravana parava para descansar em pousadas, como essa mostrada numa gravura de Rugendas.

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As condições de trabalho do escravo na mineração eram piores do que nas lavouras e engenhos de açúcar. Permaneciam longas horas nas galerias perfuradas nas encostas dos morros ou dentro da água, enfrentando baixas temperaturas. Sofriam constantes acidentes de trabalho e freqüentemente morriam afogados ou soterrados nas minas.

A má alimentação era outra causa do sofrimento e morte dos escravos. Para aliviar a fome, eles tentavam ficar com um pouco do ouro extraído, com o qual compravam alimentos e complementavam a fraca ração diária dada pelo proprietário.

Aconteceu com freqüência a escravização, na África, de reis e príncipes. Há uma famosa história, provavelmente lendária, de um desses reis. Conta-se que Chico Rei foi conduzido para o Brasil num navio negreiro. Levado para as minas, trabalhava além do tempo exigido, juntando pequenos grãos de ouro, até Ter uma quantidade suficiente para comprar a liberdade. E continuou trabalhando, mais e mais, para libertar o filho e depois toda a família. Juntos, continuaram trabalhando, para conseguir ouro e libertar outros negros. Toda a tribo de Chico Rei se tornou livre.

Então, ele construiu uma igreja, para onde as mulheres levavam ouro em pó salpicado nos cabelos. Lavando os cabelos na pia de água benta, o ouro se depositava no fundo e era vendido para libertar mais escravos.

A história de Chico Rei levou alguns historiadores a acreditar que era comum a alforria (isto é, a libertação) de escravos nas minas. Mas isso, de fato, não aconteceu. A alforria foi mais freqüente para as mulheres e dava-se por meio das ligações com homens livres e brancos. Isso explica o considerável número de mulatos na região.

Já a quantidade de negros e pardos libertos só aumentou quando a atividade mineradora entrou em decadência, no fim do século XVIII.

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Essas condições precárias, somadas às doenças, resultavam numa alta taxa de mortalidade entre os escravos das minas. Seu tempo de trabalho limitava-se, em média, a sete anos, e calcula-se que morriam cerca de 7 mil escravos por ano na região.

Castigos severos

Os escravos das minas reagiam às terríveis condições de vida com fugas, assassinatos de brancos, formação de quilombos e movimentos de rebeldia.

Em resposta, os governadores da capitania tomaram medidas muito rigorosas contra os escravos rebeldes. Organizavam expedições para destruir quilombos, incentivavam o trabalho dos capitães-do-mato para recapturar os escravos fugidos, que eram punidos severamente. A própria Coroa determinou os castigos, nos seguintes termos:

Eu, El-Rei, faço saber aos que este alvará virem que (...) a todos os negros que forem achados em quilombos, estando neles voluntariamente, se lhes ponha com fogo uma marca em uma espádua com a letra F [que indicava fugido], que para este efeito haverá nas Câmaras; e se quando for executar esta pena, for achado com a mesma marca, se lhe cortará uma orelha.

(Apud Luna, Luís. O negro na luta contra a escravidão. Rio de Janeiro: Cátedra; Brasília, INL, 1976, p. 144.)

Muitas vezes, índios e garimpeiros pobres juntavam-se aos negros nos quilombos. Sendo pobres, iam para as minas geralmente sozinhos (sem escravos), só podendo se dedicar ao garimpo. Essa atividade era clandestina e perseguida, porque dela a Coroa não conseguia tirar o quinto.

Figura 7 – Feitor castigando um escravo. Debret, autor desta gravura, comenta que o castigo geralmente consistia em doze a trinta chicotadas.

Em seguida, lavavam-se as feridas com pimenta-do-reino e vinagre para acelerar a cicatrização.

Na terra dos diamantes

Foram justamente os garimpeiros que, em 1729, quando procuravam pepitas de ouro nos leitos dos rios, descobriram em suas batéias pequenas pedras brancas, os preciosos diamantes.

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A notícia foi recebida em Portugal com festas e procissões. Uma nova e fabulosa riqueza trazia esperanças de que o reino equilibraria suas frágeis finanças.

A exploração dos diamantes foi organizada com um controle ainda maior do que o das minas de ouro: o território em que se encontravam os diamantes foi demarcado e isolado completamente do restante da região, passando a chamar- se Distrito Diamantino (atual Diamantina)

Ninguém podia entrar ou sair do Distrito Diamantino sem autorização especial do funcionário real, o intendente. O mesmo aconteceu em outras áreas onde se encontraram diamantes: no rio Jequitinhonha (Minas Gerais)< rio Claro e Pilões (Goiás), no sudeste da Bahia e no alto rio Paraguai (Mato Grosso do Sul).

A exploração de diamantes era contatada por particulares, pessoas de confiança do rei, que ficavam com o direito de exclusividade sobre a riqueza extraída no seu território. Pelo contrato, não era permitido manter mais de seiscentos escravos trabalhando na mineração de diamantes, e o imposto cobrado consistia em uma taxa fixa anual correspondente a cada escravo.

Figura 8 – Extração de diamantes, numa aquarela de Carlos Julião.

Ladeiras e becos nas vilas das minas

Ao contrário da atividade açucareira, que tinha como centro a propriedade rural, a mineração foi predominantemente urbana. Logo que se descobria ouro numa área, ali se fundava um povoado de casas simples, de pau-a-pique, cobertas de folhas de palmeira, uma capela, algumas barracas de comércio.

Esses povoados ou arraiais surgiam seguindo os contornos das colinas, descendo pelos vales, e por isso suas ruas eram ladeirentas. Em pouco tempo esses arraiais foram levados à condição de vilas, algumas das quais ainda hoje conservam as características daquela época: Ribeirão do Carmo (atual Mariana), Vila Rica (atual Ouro Preto), Sabará e outras.

Figura 9 – Vista da vila de Sabará, em quadro do pintor Estêvão.

Com o tempo, construíam-se armazéns, lojas e oficinas (Figura 10) e muitas das casinhas simples deram lugar a sobrados de alvenaria, onde moravam os ricos mineradores. Mas a cidade também abrigava pessoas de outras profissões: ferreiros, sapateiros, joalheiros, carpinteiros, médicos, advogados, boticários, professores, soldados.

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Figura 10 – Com a mineração, a vida urbana se desenvolveu e multiplicaram- se as pequenas oficinas, que atendiam às necessidades da população. Nessa gravura de Debret vemos uma sapataria. Observe que nesse tipo de atividade também se utilizava o trabalho escravo.

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Na zona mineradora organizaram-se inúmeras irmandades religiosas, isto é, grupos de pessoas que formavam associações religiosas conforme a classe social a que pertenciam. Assim, existiam as irmandades dos ricos mineradores, as de escravos, as de mulatos, etc.

As igrejas da região pertenciam às irmandades, que rivalizavam entre si para fazer da sua igreja a mais bonita e mais rica.

Com isso, a arte religiosa teve um grande impulso nas minas, e surgiram numerosos artistas (pintores, escultores e arquitetos), geralmente negros ou mulatos.

O estilo em que trabalharam esses artistas é conhecido como barroco mineiro, pois era influenciado pelo estilo barroco, que predominou na Europa no século XVII.

O mais famoso desses artistas foi Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que viveu no final do século XVIII e início do século XIX. Aleijadinho esculpiu magníficas estátuas e altares em várias igrejas das cidades do ouro. Suas obras mais famosas foram a Igreja de São Francisco, construída em Ouro Preto (Vila Rica), e as esculturas dos doze profestas, que se encontram na parte externa (o adro) da igreja de Congonhas do Campo.

Juntamente com as artes plásticas, a música teve grande florescimento na região das minas. E os melhores compositores e intérpretes também eram mulatos. A música estava sempre presente nas festividades organizadas pelas irmandades ou pelas câmaras municipais.

Os caminhos para as minas

No início da ocupação e da exploração mineradora, a população enfrentou sérios problemas de abastecimento: não havia lavouras nem criação de animais, e as distâncias, muito grandes, dificultavam a chegada de alimentos para para as minas. Pagava-se alto preço por um boi ou por um fardo de farinha. Nos primeiros anos, muitos passaram fome, apesar da riqueza que possuíam.

Com o tempo, começou a se organizar o transporte de mercadorias de outras regiões: alimentos, vestuário, instrumentos de trabalho, armas e utensílios. Tudo de que os habitantes das minas precisavam tinha que vir de fora.

Mais tarde, desenvolveu-se a agricultura e a pecuária nas vizinhanças da zona mineradora, para facilitar o atendimento das necessidades dos mineiros. Abriram-se caminhos, por onde passavam não só essas mercadorias, mas também o ouro, que precisava chegar ao Rio de

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Janeiro, de onde era embarcado para a Europa. Nesses caminhos surgiram ranchos e cabanas para a pousada dos viajantes, originando-se, assim, várias cidades, como Pouso Alegre, Passo Alegre, Passo Fundo.

Outros caminhos ligavam a região das minas com o Nordeste, de onde vinha carne e couro, com que se confeccionavam as bolsas para carregar o ouro. Graças a isso, a pecuária nordestina, que antes abastecia apenas os engenhos e vilas do litoral, ganhou um grande impulso, estendendo-se pelas margens do Rio São Francisco. Mas a comunicação entre as duas regiões acabou sendo dificultada pelas autoridades portuguesas, para evitar o contrabando de ouro que passava por aqueles caminhos.

Quem é que carrega ?

Outro problema era a distância entre as minas e o Rio de Janeiro, onde era embarcado o ouro. A dificuldade tornava-se maior por causa do relevo montanhoso da região, que os cavalos não agüentavam transpor.

No início, eram os próprios escravos que faiam o carregamento. Caminhando pelas montanhas, eles levavam nas costas as sacolas de ouro e voltavam do Rio com outras mercadorias. Mas isso prejudicava a mineração, porque havia grande necessidade de escravos no trabalho de extração do ouro.

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Com o tempo, encontrou-se outra solução para o transporte das cargas da região das minas. Passaram a ser usadas mulas, pois esse animal é muito mais resistente do que o cavalo e consegue se locomover com facilidade em regiões acidentadas.

Quem fornecia as mulas para a região das minas eram os criadores do sul da colônia, da capitania do Rio Grande de São Pedro(veja página 100). A necessidade de animais nas minas estimulou a ampliação dos rebanhos e a ocupação de vastos campos no sul com a criação de gado.

Os tropeiros, isto é, condutores de tropas de animais, levavam as mulas do Rio Grande até as vilas próximas de São Paulo, principalmente a de Sorocaba. Ali se reuniam compradores e vendedores de animais e de outros produtos variados, como panos, arreios, rédeas, artigos de outro e prata, trazidos por mascates do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Figura 11 – Sorocaba, no interior de São Paulo, tornou-se um ponto de passagem de tropas que vinham do Sul. Ali realizava-se uma grande feira. Quadro de Ettore Marangoni.

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Dessas vilas, as mulas seguiam para a região das minas.

O ouro transforma a colônia

A atividade mineradora mudou inteiramente as características Da colônia. Nos primeiros tempos da colonização, os colonos praticamente não haviam se afastado do litoral, a não ser em suas buscas de ouro ou expedições para captura de índios.

Com a mineração, o centro da vida colonial passou a ser os sertões de Minas Gerais, ampliando-se extraordinariamente a extensão da área ocupada pela colonização portuguesa.

Antes, cada núcleo colonial se relacionava quase exclusivamente com a metrópole, ou seja, as áreas de povoamento português ficavam bastante isoladas umas das outras. Com a mineração , a região das minas precisava manter ligação com as outras capitanias, de onde recebia grande parte dos gêneros de que necessitava. Assim, as diferentes áreas de colonização passaram a ficar interligadas.

Figura 12 – Peça explicações ao seu professor sobre o mapa: Circulação de mercadorias no século XVIII.

Página 118

Atividades

Atividade I – Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 18, baseando-se no roteiro a seguir:

1.Importância da descoberta do ouro para a Coroa portuguesa.

2. A atração das minas e a chegada de milhares de pessoas.

3. Reação dos paulistas aos “emboabas”.

4. Distribuição das terras onde se encontrava ouro.

5. Medidas tomadas pela Coroa para garantir a arrecadação do imposto sobre o ouro.

6. Reação contra as Casas de Fundição: Rebelião de Vila Rica .

7. Condições de trabalho escravo nas minas.

8. O controle sobre a extração de diamantes.

9. Os problemas de abastecimento da região das minas nos primeiros tempos.

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10. Soluções encontradas para o problema de abastecimento.

11. O problema de transporte das cargas entre a região das minas e o porto do Rio de Janeiro.

12. Soluções encontradas para o problema do transporte.

13. As mudanças ocorridas na colônia como conseqüência da mineração.

Documento

Impressões sobre Ouro Preto (anteriormente Vila Rica de Ouro Preto), de um viajante e cientista alemão que visitou as Minas em 1850.

Atualmente ninguém mais se dedica à mineração, embora existam ainda algumas minas, cuja exploração, feita sem efici~encia, não proporciona grande rendimento. O tempo em que se arrancavam plantas com pó de ouro na raiz era já passado e, muito mais ainda, época histórica dos ricos mineiros que empoavam com ouro o cabelo dos escravos, quando estes serviam a mesa dos grandes banquetes em suas vistosas librés. Conta-se que os poderosos proprietários de minas faziam servir aos funcionários reais, em vez de sobremesa que os demais convivas recebiam, uma xícara coberta cheia de pó de ouro e, enquanto os outros se deliciavam com os doces, esses funcionários faziam deslizar o conteúdo das xícaras nos seus bolsos. Data daquele tempo também o costume de presentear os intendentes reais, quando estes visitavam uma mina particular, com o todo o ouro que durante sua permanência fosse extraído. Mas tudo isto passou. Os ricos ficaram pobres, as minas secaram, os funcionários reais caíram no olvido e ouro que ainda hoje se extrai não vai mais para as algibeiras (bolsas) dos mineiros nem dos seus imperiais visitantes, mas sim para o bolso dos ingleses, que são os acionistas das companhias que adquiriram as melhores jazidas auríferas do Brasil. [...] É uma cidade que da opulência passou a um mal disfarçado estado de miséria e perdeu sua vitalidade.(...)

(Burmeister, Hermann. Viagem ao Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia - Edusp, 1980, p. 226.)

1.Que informações do texto comprovam que em meados do século XIX a atividade mineradora tinha perdido sua importância?

2. Que informação o autor dá para indicar a antiga riqueza dos mineradores de Vila Rica?

3. De acordo com o texto, como se praticava a corrupção na região das minas?

4. O que ele informa sobre a participação dos ingleses na atividade mineradora no século XIX ?

Sugestão de atividade complementar

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Atividade III – Em grupos

Comparar a atividade mineradora com a açucareira nos seguintes aspectos:

Região da colônia em que se desenvolveu cada uma.

Tipo de povoamento colonial provocado por cada uma (rural ou urbano).

Camadas sociais que surgiram a partir de cada uma das atividades.

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Encerramento da unidade

Atividade I – Em grupos

Discutir os objetivos apresentados no início da unidade, sob o título “O que é importante aprender”. Redigir um pequeno texto sobre cada um dos temas.

Atividade II- Peça explicações para o seu professor.

Confeccione uma linha de tempo abrangendo os séculos XVII e XVIII, registrando nela os seguintes fatos, a partir das informações dos capítulos desta unidade:

Formação da Companhia de Comércio do Brasil.

Proibição da entrada de navios estrangeiros na Colônia.

Formação da Companhia de Comércio do Maranhão.

Revolta de Beckman.

Guerra dos Mascates.

Guerra dos Emboabas.

Rebelião de Vila Rica (Filipe dos Santos).

A linha pode ser dividida em intervalos de dez anos, com 2 cm para cada década. Registre os fatos em duas faixas horizontais, colocando numa delas as ações da metrópole e na outra as reações dos colonos.

Preparação para a próxima unidade

Atividade em grupos

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Esta atividade tem em vista levantar hipóteses sobre algumas questões que serão estudadas na próxima unidade. (Hipóteses são respostas provisórias, são tentativas de solução de um problema, partindo dos conhecimentos já adquiridos e do raciocínio.)

Discutir as situações abaixo, levantando hipóteses para as perguntas que se colocam em seguida.

1. Os reis europeus controlavam inteiramente a produção e o comércio de mercadorias em seus reinos.

2. Essas medidas de controle favoreceram a burguesia européia durante os séculos XVI e XVII.

3. A partir do século XVII, a burguesia, desejando ampliar seus negócios, começou a ficar descontente com o excessivo controle dos reis sobre suas atividades.

Pergunta: O que a burguesia poderia fazer para eliminar o controle que os mantinham sobre seus negócios?

4. Com relação ao comércio colonial, a burguesia da Inglaterra, que dispunha de muitos produtos para vender, não podia comerciar com as colônias de outros países (como Portugal e Espanha), pois esse comércio era proibido.

Pergunta: O que a burguesia inglesa poderia fazer para conseguir realizar o comércio com as colônias de outros países?

5. Até o final do século XVIII, o Brasil produzia quase exclusivamente produtos para exportação (açúcar, fumo, madeira, algodão, ouro). Quase tudo de que a população da colônia precisava para seu próprio consumo vinha da metrópole.

Pergunta: Se o Brasil se tornasse um país independente de Portugal, ele poderia dispensar as importações de outros países? Justifique.

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Unidade VIII

Liberdade ainda que tardia

Durante os séculos XVI, XVII e XVIII, os países da Europa conquistaram e dominaram grande parte da América, controlando também o comércio com a África e a Ásia. Primeiro foi Portugal, seguido pela Espanha. Depois, a Holanda, a França e a Inglaterra, que também entraram na corrida pelo domínio de territórios coloniais.

Figura 1 – Peça explicações ao seu professor sobre o mapa: Europa e Áreas Coloniais.

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Esse domínio resultou em grandes mudanças na sociedade européia. No decorrer de três séculos, toneladas de mercadorias coloniais, incluindo escravos, atravessaram os mares, enriquecendo os mercadores e abarrotando com imensas fortunas os tesouros reais.

Com isso, os reis dos países europeus tornaram-se cada vez mais poderosos, decidindo sozinhos os destinos de seus governados: eram reis absolutistas.

Absolutismo é um sistema de governo em que o governante não sofre nenhuma limitação ao seu poder. Ele governa segundo sua própria vontade: é ele quem faz as leis e tem a última palavra na administração da justiça. Os reis europeus do século XVII ao XIX foram, em geral, monarcas absolutistas.

Até o século XVII, esses reis e a burguesia européia conviveram em paz, cada qual tirando proveito, a seu modo, das riquezas proporcionadas pelas colônias. Mas, com o tempo, os burgueses já se sentiam suficientemente fortes para se opor à vontade dos monarcas, qu regulamentavam demais o funcionamento do comércio e a produção de mercadorias.] Por isso, a burguesia entrou em conflito com os reis absolutistas, o que provocou profundas mudanças nos países europeus.

No final do século XVIII, houve uma transformação revolucionária no modo de produzir mercadorias, com o surgimento das grandes fábricas, que tomavam o lugar das antigas oficinas artesanais.

Por outro lado, essas mudanças foram acompanhadas pelo surgimento de novos modos de pensar, que condenavam o absolutismo e a tirania dos reis. Embora essas idéias tivessem surgido na Europa, chegaram às colônias da América, induzindo os colonos a lutar contra o domínio das metrópoles. O resultado foi a independência das colônias americanas, entre o final do século XVIII e início do XIX. O Brasil, por exemplo, se tornou independente em 1822.

O que é importante aprender

Durante o estudo desta unidade, procure concentrar-se nos seguintes objetivos:

Compreender as modificações profundas que ocorreram na Europa no século XVIII, tanto no aspecto material (produção de mercadorias), como no surgimento de novas idéias.

Relacionar as novas idéias, conhecidas como Iluminismo, com a independência das colônias inglesas da América do norte e com a Revolução Francesa em 1789.

Explicar como as novas idéias influenciaram as opiniões e a ação dos colonos da região das minas no Brasil.

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Explicar os motivos que os mineiros tiveram para se rebelar contra a Coroa portuguesa.

Explicar por que Tiradentes foi o único condenado à morte entre os rebeldes mineiros.

Estabelecer as diferenças e semelhanças entre o movimento rebelde de Minas e o da Bahia.

Identificar os fatores que contribuíram para o desenvolvimento da agricultura na colônia, no final do século XVIII.

Explicar por que a família real portuguesa se transferiu para o Brasil em 1808.

Compreender o significado que a vinda da família real teve para a situação da colônia.

Explicar por que Pernambuco se revoltou contra o governo de D. Jõao VI.

Indicar quais foram os objetivos da Revolução do Porto de 1820 e explicar suas conseqüências.

Identificar os interesse dos diferentes grupos políticos brasileiros, no seu apoio a D.Pedro I.

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Capítulo 19

O que vai pelo mundo

Recordando

A Inglaterra desenvolveu seu comércio marítimo a partir do final do século XVI e tornou-se a maior potência comercial européia.

Com o desenvolvimento do comércio e da produção de mercadorias na Inglaterra, a burguesia daquele país cresceu e enriqueceu. Depois de quase um século de conflitos e guerras no país, o rei inglês teve que reconhecer, no final do século XVII, que acima da sua vontade estava o Parlamento, isto é, o conjunto de representante dos cidadãos ingleses. Como a maioria dos membros do Parlamento eram burgueses, estes passaram a dominar o governo inglês.

A Revolução Industrial

O fato de a burguesia inglesa estar à frente das decisões do reino resultou num desenvolvimento ainda maior do país, que se tornou o mais rico e poderoso da Europa. Mas para isso também contribuiu a Revolução Industrial, um processo acelarado de transformações na produção de mercadorias, ocorrido no final do século XVIII.

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Anteriormente, os artesãos, trabalhando em pequenas oficinas e com ferramentas manuais, não conseguiam produzir grandes quantidades de mercadorias. E, como a população das cidades crescia constantemente, passou a haver uma procura cada vez maior dos produtos. Além disso, também nas colônias a população aumentava e todo o seu abastecimento dependia das mercadorias européias, principalmente inglesas.

A necessidade de produzir quantidades cada vez maiores de mercadorias levou os ingleses a desenvolver os processos de produção. Muitos comerciantes começaram a organizar grandes oficinas, as chamadas manufaturas, que reuniam numerosos trabalhadores. Embora eles continuassem utilizando suas próprias ferramentas manuais, cada um se especializava numa tarefa. Assim, aumentava a velocidade da produção e a quantidade de mercadorias produzidas.

Mas o principal avanço se deu na Segunda metade do século XVIII, quando se desenvolveram a importantes inventos de máquinas, culminando com a utilização do vapor para mover os mecanismos.

Os donos das manufaturas começaram a introduzir essas máquinas nas suas oficinas, o que resultou num extraordinário aumento da produção, principalmente de tecidos de algodão. Com a substituição de ferramentas manuais por máquinas, as manufaturas se transformaram em fábricas.

Figura 1 – A instalação de fábricas alterou a paisagem, criando grandes concentrações de população, acinzentando o ar com a fumaça das chaminés. Acima, indústrias metalúrgicas em Creusot, em fins do século XIX.

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Com a Revolução Industrial surgiu uma nova classe social, a dos trabalhadores fabris, ou operários. Eles viviam numa situação de extrema exploração e miséria, pois, embora fossem livres, não tinham nenhuma garantia de direitos. Estavam inteiramente submetidos à vontade dos proprietários das fábricas. Figura 2 – Na indústria têxtil inglesa empregava-se principalmente o trabalho de mulheres e crianças, que recebiam salários inferiores aos dos homens.

A Revolução Industrial fez da Inglaterra a principal fornecedora de produtos industrializados a todo o mundo. Embora a Revolução Industrial tenha se estendido, no século XIX, a outros países da Europa, a Inglaterra conservou sua posição de liderança até meados do nosso século.

A América dos ingleses

O enriquecimento da Inglaterra também se deve à posição que aquele país conquistou no comércio colonial.

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As colônias inglesas na América do Norte começaram a ser criadas no início do século XVII, quase cem anos depois das colônias portuguesas e espanholas.

O atraso da Inglaterra na conquista de áreas coloniais é explicado pelo fato de que, no século XVI, esse país ainda não tinha condições para manter um império colonial: faltava-lhe uma marinha poderosa e bem armada e também uma monarquia forte para dirigir os empreendimentos marítimos.

Por isso naquele século, a ação dos ingleses nos mares se limitou quase exclusivamente à pirataria.

A própria Coroa inglesa se associava aos piratas, que atacavam os navios espanhóis para apoderar-se dos preciosos carregamentos de ouro e prata procedentes da América. Figura 3 – A rainha Elizabeth I, que governou a Inglaterra no século XVI, associou-se ao famoso pirata Francis Drake. Juntos compartilhavam o saque obtido nos ataques aos navios espanhóis. O quadro reproduz a visita da rainha ao navio do pirata.

No entanto, já no final do século XVI, a monarquia inglesa se empenhou em fortalecer sua marinha. E, em 1587, a rainha da Inglaterra, Elizabeth I, tomou as primeiras medidas para que seu país formasse um império colonial, enviando uma expedição às terras americanas.

Cerca de vinte anos depois, a primeira leva de colonos ingleses desembarcou na América, fundando uma colônia chamada Virgínia.

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Nos anos seguintes, outros grupos de colonos se estabeleceram em vários pontos do litoral da América do Norte, onde se fundaram treze colônias inglesas. Figura 4 : Mapa : Colônias Inglesas na América – Peça explicações ao seu professor.

Apenas nas colônias inglesas do Sul, que se dedicaram ao cultivo de fumo e depois de algodão, se estabeleceu uma colonização baseada em grandes latifúndios, trabalhados por escravos africanos. Somente essas colônias eram controladas pela Inglaterra, devido ao alto valor comercial de seus produtos.

Figura 5 – Nas colônias do Sul formaram-se grandes fazendas de algodão, trabalhadas por escravos negros. O algodão continua ainda hoje sendo um importante produto agrícola dos Estados Unidos. (Fazenda em Luisiana)

Já as colônias inglesas do Centro, e principalmente as do Norte, desenvolveram características muito diferentes.

Nas colônias do Norte se estabeleceram pequenas propriedades familiares. Seus habitantes não vinham para a América com o objetivo de fazer fortuna. Eram quase todos perseguidos por causa de suas idéias políticas ou religiosas. A América tornava-se para eles um lugar onde podiam recomeçar a vida, a salvo das perseguições.

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Como eles não produziam nenhuma mercadoria de interesse para o comércio inglês, tinha certa liberdade e até o direito de fazer suas próprias leis.

Mas, no final do século XVIII, a Inglaterra passou a necessitar de mais recursos financeiros para enfrentar as guerras contra outros países da Europa. Por isso tentou estabelecer um controle mais rigoroso sobre as colônias e passou a cobrar novos impostos sobre as mercadorias que elas importavam. Isso provocou uma profunda insatisfação dos colonos.

Novas idéias

Nessa época surgiam e ganhavam grande força idéias novas sobre a liberdade e os direitos humanos. O conjunto dessas idéias ficou conhecido como Iluminismo. Os pensadores iluministas combatiam o absolutismo dos reis e o grande poder da Igrja Católica. E defendiam, além da liberdade, a igualdade e o direito dos povos de tomar as decisões sobre seus próprios destinos, sem Ter que submeter aos caprichos dos soberanos.

Os primeiros pensadores iluministas eram franceses, mas suas idéias tiveram grande influência nos outros países da Europa e também nas colônias da América.

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O primeiro país livre da América

Quando a Inglaterra resolveu aumentar seu controle sobre as colônias americanas, ali já circulavam as idéias iluministas. E elas se tornaram uma importante arma dos colonos na propaganda revolucionária contra sua metrópole.

Após oito anos de guerra contra a Inglaterra, os colonos venceram e assim, em 1776, surgiu o primeiro país livre do continente americano: os Estados Unidos da América do Norte. O exemplo se espalhou apor todas as colônias, fazendo brotar nelas o desejo da independência. Figura 6 – Os norte- americanos comemoraram a independência erguendo mastros, em vários pontos do país, que chamavam de árvores da liberdade.

A Declaração de Independência, de 1776, foi profundamente influenciada pelas idéias iluministas.(Veja documento no final do capítulo).

França, 1789: abaixo a tirania

Essas idéias também contribuíram decisivamente para a luta contra os monarcas absolutistas na Europa, que se desencadeou com a Revolução Francesa, em 1789.

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Naquele ano, já havia um grande descontentamento de várias camadas da população da França com a tirania do rei Luís XVI: eram os burgueses, artesãos, operários e camponeses que sustentavam com altos impostos o luxo da monarquia e da corte.

Contudo, havia também aqueles que se beneficiavam com a situação: a alta nobreza e alto clero, isto é, os que ocupavam importantes posições na corte real, na administração do reino ou na Igreja Católica da França. Estes não pagavam impostos e recebiam muitos outros privilégios concedidos pelo rei. Os nobres proprietários, por sua vez, dominavam as terras mais férteis e exploravam o trabalho dos camponeses, entre os quais ainda havia um milhão de servos, que viviam como na época feudal (veja pág. 37).

Num grande e prolongado movimento revolucionário, os burgueses, apoiados pelas outras camadas populares da sociedade francesa, conseguiram dominar o governo e eliminar os privilégios da nobreza e do alto clero. Figura 7 – Uma das primeiras ações dos revolucionários franceses foi a tomada da Bastilha, antiga fortaleza que servia de prisão aos condenados políticos e simbolizava o poder absolutista do rei.

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Atividades

Atividade I – Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 19, baseando-se no roteiro a seguir:

1. A luta da burguesia inglesa contra o absolutismo no século XVII. (Consulte também a introdução da unidade VIII, p. 121.)

2. Relação entre o crescimento da população das cidades européias e colônias e as transformações nos métodos de produção de mercadorias.

3. As diferenças entre a produção artesanal, manufatureira e fabril.

4. A situação dos operários fabris nos primeiros tempos da industrialização.

5. Diferenças entre as colônias inglesas da América localizadas no Sul e as localizadas no Norte.

6. Motivo de descontentamento dos colonos americanos.

7. As idéias iluministas : o que combatiam e o que defendiam.

8. Relação entre as idéias iluministas e a Revolução de Independência das colônias inglesas da América.

9. Conseqüências da Revolução Francesa para o rei, a nobreza e a burguesia daquele país.

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Atividade II – Estudo de outras fontes

Documento

Trechos da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, redigida por Thomas Jefferson.

Consideramos[...] que todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo criador de certos direitos inalienáveis, que, entre estes, estão a vida, a liberdade e busca da felicidade: [...] que sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-se em tais princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade.

(Jefferson, Thomas. Escritos políticos. São Paulo: Ibrasa, 1964, p. 4.)

1. quais são os direitos fundamentais do homem, segundo a Declaração de Independência dos Estados Unidos?

2. Como um povo deve agir para com um governo que não respeita esses direitos?

Sugestão de atividade complementar

Atividade III – Em grupos

Essa atividade tem por objetivo auxiliar a compreensão do capítulo seguinte.

Discutir as situações e responder às perguntas que se seguem:

1. No comércio entre países, o que você acha que vale mais: produtos agrícolas ou produtos industrializados? Por quê ?

2. Entre vinhos e tecidos, qual desses dois produtos você acha que vale mais ? Por quê ?

3. O que aconteceria a um país se ele comprasse produtos no exterior mais valiosos do que os que tem para vender?

4. Num determinado país começa a se desenvolver a indústria de automóveis. Cada automóvel custa para o comprador uma quantia equivalente a 8 mil dólares. Os compradores também podem encontrar à venda automóveis importados, mas eles custam 12 mil dólares. Esse preço alto se explica porque é cobrada uma alta taxa alfandegária. Pergunta: Qual dos dois tipos de carros a maioria das pessoas preferiria?

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5. Em certo momento, o governo daquele país, resolve facilitar a importação de automóveis, cobrando uma taxa menor. O carro importado passa a ser vendido por 6 mil dólares. Pergunta: Nessa situação, qual dos dois tipos de carros a maioria das pessoas preferirá comprar? O que poderia acontecer, então, com as fábricas de automóveis do país?

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Capítulo 20

Todos os povos têm direito à liberdade

Recordando

Desde a Segunda metade do século XVII, a Coroa portuguesa “apertou o cerco” contra sua colônia, aumentando o rigor da fiscalização e impondo o monopólio comercial, na tentativa de compensar a crise que o reino enfrentava.

Apesar da grande quantidade de riquezas que chegavam a Portugal procedentes de seus territórios ultramarinos, o pequeno reino foi, aos poucos, se tornando cada vez mais dependente da Inglaterra.

Um fato que marcou profundamente essa dependência foi um tratado firmado entre Portugal e Inglaterra em 1703, (Tratado de Methuen). Nele se estabelecia o seguinte: daquela data em diante Portugal abriria seus portos para a entrada de tecidos ingleses, sem o pagamento de nenhuma taxa, enquanto a Inglaterra daria preferência aos vinhos portugueses, que pagariam uma taxa menor do que os franceses.

Para Portugal, as conseqüências desse tratado foram muito desfavoráveis, pois as poucas manufaturas de tecidos que existiam no reino não conseguiram agüentar a concorrência dos tecidos ingleses. Como estes não pagavam impostos alfandegários, podiam ser vendidos a preços mais baixos do que os panos portugueses. Diante disso, grande parte das manufaturas de Portugal tiveram que fechar suas portas.

Ao mesmo tempo, Portugal comprava muitos outros produtos ingleses e não vendia o suficiente para pagar essas importações. Então, grande quantidade de ouro tinha que sair do reino, como pagamento das dívidas com a Inglaterra. E isso só foi possível porque, desde o final do século XVII, Portugal contava com o ouro da colônia brasileira. Figura 1 – No século XVIII, a Inglaterra já era a mais poderosa potência comercial e marítima da Europa. Na figura, o porto inglês de Bristol, onde se concentrava grande parte do comércio colonial, como o tráfico de escravos negros. (Peça para o seu professor descrever.)

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Até mais ou menos 1760, a produção de ouro de Minas Gerais aumentou aceleradamente. Mas, a partir dessa época, as jazidas começaram a se esgotar e a produção decaiu ano a ano. Figura 2 – Peça explicações sobre o quadro estatístico.

É claro que os impostos, que correspondiam a um quinto de todo o ouro extraído, também diminuíram, reduzindo os rendimentos da metrópole. Em conseqüência, a fiscalização sobre os colonos se tornou ainda mais rigorosa. As autoridades portuguesas não acreditavam que a mineração estivesse entrando em decadência e atribuíam a queda de impostos a um aumento do contrabando.

O Marquês de Pombal tenta salvar o reino

Em 1750 o rei D. José I, de Portugal, escolheu como ministro um homem originário da pequena nobreza, chamado Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido pelo título de Marquês de Pombal.

O controle sobre o ouro do Brasil foi uma das principais formas que Pombal adotou para tentar solucionar os problemas de Portugal.

O marquês de Pombal se tornou muito poderoso no reino, e uma de suas mais importantes ações foi contra os jesuítas. O poderio da ordem religiosa, tanto em Portugal quanto na América, levou o ministro a expulsar os jesuítas, não só do reino mas também da colônia, em 1759, confiscando todos os bens da ordem. No Brasil, as aldeias jesuíticas passaram a ser dirigidas por um “diretor” nomeado pelas autoridades da colônia.

Pombal acabou perdendo sua posição de poder e prestígio depois da morte de D. José I, em 1777, quando subiu ao trono D. Maria I. Ele se retirou para um pequeno povoado do interior de Portugal, que recebeu seu nome (Pombal), e morreu em 1782.

Uma de suas medidas visava garantir a quantidade de ouro paga como imposto. Para isso foi estabelecido, em 1762, que esse imposto não poderia ser inferior a 100 arrobas por ano.

Naquele mesmo ano, foi realizada a primeira derrama, isto é, a cobrança forçada, feita pelos soldados portugueses, que iam de casa em casa apreendendo os objetos de ouro para completar as 100 arrobas do imposto devido. Em 1768 houve a Segunda derrama.

Mas, como a produção de ouro decaía ano a ano, a colônia ficava devendo quantidades cada vez maiores de impostos atrasados.

Outra medida de Pombal se relacionava com o contrabando de ouro,. Investigando como ele era feito, as autoridades portuguesas concluíram que os ourives eram os principais responsáveis, pois confeccionavam objetos (jóias e imagens religiosas) com ouro que não passava pelas casas de fundição.

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Para impedir esse tipo de contrabando, um decreto real de 1766 mandou fechar as oficinas de ourivesaria e proibiu o trabalho dos ourives que não tivessem licença do governo. Além disso, foram proibidas as importações de qualquer ferramenta usada no trabalho de ourivesaria.

Idéias revolucionárias fervilham na colônia

Diante das demonstrações de força e das medidas repressivas aos colonos, a população das minas se tornou cada vez mais revoltada.

Nessas condições, as idéias revolucionárias vindas da América do Norte e da França eram bem recebidas entre os colonos. A Coroa tentava impedir, por todos os meios, que essas idéias chegassem aqui. Para isso, proibia a entrada de livros considerados “perigosos” e também não permitia o funcionamento de tipografias na colônia.

Mas muitos filhos das ricas famílias de mineradores iam estudar nas universidades européias. Lá participavam dos intensos debates da época, em que se confrontavam os iluministas e os defensores do absolutismo. De volta à colônia, os jovens divulgavam as idéias que adquiriam na Europa e que correspondiam exatamente aos interesses de liberdade dos colonos.

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Além disso, a independência das colônias inglesas da América do Norte tornou-se um exemplo que poderia ser seguido.

Começa a conspiração

Em 1788, a rainha D. Maria I, de Portugal, decidiu realizar mais uma derrama na colônia, repetindo o que havia sendo feito em 1762 e 1768. Desde então, a produção de ouro era cada vez menor e as dívidas da colônia cresceram rapidamente, atingindo cerca de 382 arrobas. A dívida era maior que a produção total de ouro num ano.

Naquela data, a rainha enviou um novo governador para Minas Gerais, que vinha com ordens de realizar a cobrança, em data não anunciada.

A decisão da Coroa causou mais revolta entre os colonos, sobretudo em Vila Rica, a maior e mais importante cidade colonial na época.

Figura 3 – Vila Rica 9atual Ouro Preto) conservou suas características coloniais e em 1933 foi tombada pelo Patrimônio Histórico, tornando-se uma cidade monumento.

Em Vila Rica, teve início uma conspiração contra o domínio português. O grupo de conspiradores era formado por pessoas das camadas altas e médias da sociedade mineradora: mineradores, intelectuais, padres, militares, comerciantes.

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O que sabemos sobre os conspiradores de Vila Rica é o que está registrado no processo de julgamento (autos da davassa), ou seja, consiste no que as autoridades portuguesas conseguiram descobrir. Assim, conhecemos o nome dos conspiradores: o padre José da Silva de Oliveira Rolim, o alferes Joaquim José da Silva Xavier (o Tiradentes), o padre Carlos Correia de Toledo, Inácio José de Alvarenga Peixoto (poeta e minerador), José Álvares Maciel Filho (filho do capitão-mor de Vila Rica), Luís Vieira da Silva, cônego de Mariana, e os poetas Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manoel da Costa. Participavam ainda do movimento o comerciante Domingos de Abreu Vieira, Joaquim Sílvério dos Reis e João Rodrigues de Macedo.

Peça para o seu professor descrever: Casa de Cláudio Manoel da Costa, em Ouro Preto (antiga Vila Rica), onde se fizeram reuniões de conspiradores.

Logo começaram a circular na vila uns folhetos criticando o governador de Minas, Visconde de Barbacena.

O que pretendiam os conspiradores?

Todos os conspiradores concordavam em algumas questões: queriam a eliminação do monopólio comercial português, que impedia os colonos de comerciar com outros países do mundo; o desenvolvimento das manufaturas; e o incentivo da produção agrícola.

Mas sobre outros pontos havia discordâncias: discutiram se o novo país teria escravos ou não, e não conseguiram chegar a um acordo, pois entre os conspiradores havia proprietários de escravos. Também quanto ao tipo de governo que se instalaria depois da independência, havia diferentes opiniões: a maioria, influenciada pela independência dos Estados Unidos, desejava que aqui também se instaurasse uma república. Outros preferiram a monarquia.

Pensou-se também na bandeira do novo país: num fundo branco, o desenho de um triângulo, traçado em vermelho, simbolizando a Santissíma Trindade e a inscrição, em latim, libertas quae sera tamen (“liberdade ainda que tardia”).

O movimento estava marcado para o dia da derrama, ao qual os rebeldes se referiam como o dia do batizado.

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Entre os conspiradores havia um minerador chamado Silvério do Reis (também comandante da tropa em São João del Rei). Ele devia uma enorme quantia à Coroa e, se o movimento fosse vitorioso, ficaria livre da dívida.

Silvério dos Reis, no entanto, preferiu um modo menos arriscado de resolver seu problema. Como assistira às reuniões, conhecia todos os detalhes e segredos do movimento. Então, resolveu revelar o que sabia ao governador Barbacena, que recebeu também outras denúncias sobre a conspiração.

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Diante das informações obtidas, o governador suspendeu a derrama à última hora, apanhando os conspiradores de surpresa e iniciando as prisões.

Os prisioneiros de Vila Rica foram transferidos para o Rio de Janeiro, onde seria o julgamento. Iniciou-se a devassa, isto é, uma investigação rigorosa sobre a conspiração. Figura 4 – Os conspiradores presos em Vila Rica foram transferidos para o Rio de Janeiro, onde seria realizado o julgamento. Jornada dos mártires, quadro do pintor Antonio Parreiras.

Pouco a pouco, submetidos à tortura, os prisioneiros confessaram. Somente um resistiu: o poeta Tomás Antônio Gonzaga.

O poeta Cláudio Manoel da Costa foi encontrado morto na prisão: pairam dúvidas sobre se ele cometeu suicídio ou se foi assassinado.

Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, depois de três interrogatórios, resolveu confessar, mas inocentou os outros prisioneiros. Assumiu sozinho a responsabilidade do movimento e apresentou-se como seu chefe, embora fosse apenas um propagandista da conspiração.

Nascido em 1746, Joaquim José ficou órfão de pai e mãe quando ainda era criança, tendo sido educado por seu padrinho, um cirurgião que arrancava dentes. Com ele, o menino aprendeu a profissão que lhe valeu o apelido: Tiradentes. Foi membro da Sexta Companhia de Dragões da Capitania de Minas Gerais, onde ocupou o posto de alferes (que corresponderia atualmente a segunda-tenente).

O julgamento: uma farsa

Havia 34 acusados no processo, que se concluiu em 1792. Alguns foram condenados à forca, outros ao degredo, isto é, seriam expulsos do Brasil e levados para a África, de onde não poderiam voltar.

Mas, na realidade, o julgamento era uma farsa: a rainha D. Maria I, havia assinado um documento secreto a, dois anos antes do julgamento, recomendando o perdão àqueles que apenas haviam participado das reuniões ou só tivessem conhecido da conspiração. Os mais ativos deveriam ser enviados a Angola, Benguela ou Moçambique, na África. A forca ficaria reservada àqueles que tivessem propagado o movimento, tentando conquistar novos adeptos.

Essas determinações continuaram secretas durante o julgamento e só foram conhecidas depois de dadas as sentenças. Assim, a modificação das penas apareceu como perdão da “bondosa” rainha.

De acordo com as determinações de D. Maria I, apenas a um conspirador caberia a pena máxima, a morte na forca: Tiradentes, que havia sido o propagandista da rebelião. Sua execução deveria servir de exemplo para que nunca mais os colonos tivessem a ousadia de rebelar-se contra a Coroa.

No momento em que foi anunciado o perdão da rainha, a alegria tomou conta dos condenados, que chegaram a dar vivas a D. Maria I.

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Peça para o seu professor descrever: Figura 4 – Os conspiradores presos em Vila Rica foram transferidos para o Rio de Janeiro, onde seria realizado o julgamento. Jornada dos mártires, quadro do pintor Antonio Parreiras.

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Por que Tiradentes?

Desse modo, Tiradentes foi aquele que costumamos chamar de “bode Espiatório”, ou seja, o que leva a culpa e o castigo pelos outros, para servir de exemplo.

Em parte Tiradentes contribuiu para isso, assumindo sozinho a responsabilidade pelo movimento. Mas havia outras razões para que somente ele fosse condenado. De todos os conspiradores, era o menos importante, o mais pobre, o mais desconhecido. Seu papel no movimento não foi tão destacado como o de outros, limitando-se quase exclusivamente à propaganda contra a Coroa. Sobre Tiradentes pesou também a atitude dos companheiros, que nada fizeram para inocentá-lo ou diminuir-lhe a culpa.

Diante disso tudo, apenas a sentença contra ele foi mantida: Tiradentes seria enforcado, teria a cabeça cortada e exibida sobre uma estaca no centro de Vila Rica; seu corpo seria esquartejado e as partes exibidas nos lugares da capitania que mais freqüentava; sua casa, em Vila Rica, seria destruída e o solo salgado.

Na manhã de 21 de abril de 1792, Tiradentes foi conduzido à forca.(Figura 5.) – Execução de Tiradentes, quadro de Guignard.

Na época, os conspiradores foram considerados inconfidentes, isto é, infiéis à Coroa. Daí o nome de Inconfidência Mineira, dado ao movimento. Hoje ele é chamado também de Conjuração Mineira (conjuração significa “conspiração”).

A Rebelião dos Alfaiates

Além da Conjuração de Minas Gerais, surgiram outros movimentos contra a Coroa, na Bahia e no Rio de Janeiro. I da Bahia se destaca por Ter sido o único que teve uma grande participação das camadas populares (artesãos, escravos e libertos, pretos e mulatos).

Como em Minas, as idéias iluministas incendiavam a imaginação dos baianos, inspirando-lhes o desejo de lutar e de libertar-se do domínio português.

Os objetivos dos rebeldes baianos, no entanto, não se limitavam a conseguir a independência. Pretendiam fazer grandes transformações na vida da capitania: formação de um governo republicano, abertura dos portos aos navios de todos os países, abolição da escravidão.

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No dia 12 de agosto de 1798, os revolucionários pregaram nas paredes das igrejas e em outros locais da cidade de um manifesto onde expunham suas intenções. (Figura 6.) Igreja da praça da Piedade, na Bahia (século XIX). Gravura de Charles Ribeyrilles.

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A conjuração baiana também ficou conhecida pelo nome de Rebelião dos Alfaiates, porque, além de haver vários alfaiates entre os rebeldes, um dos líderes era um escravo alfaiate.

Naquele ano, a conspiração era o assunto mais importante do povo do Salvador. Em toda a parte, nas ruas, nos salões, nos quartéis, faziam-se reuniões e planos para a revolução.

Mas, como aconteceu com a Conjuração Mineira, as autoridades também receberam várias denúncias e a notícia chegou ao Rio de Janeiro. A repressão estava preparada e já eram conhecidos os nomes de alguns rebeldes.

As prisões se sucederam rapidamente: onze escravos, cinco alfaiates, seis soldados, dois tenentes, um sargento, um carpinteiro, dois ourives, um bordador, um pedreiro, um cirurgião, um comerciante e um professor.

Entre os escravos, havia cinco alfaiates, um sapateiro, um carpinteiro e um barbeiro. Os outros cinco eram escravos de aluguel (ou de ganho).

Na hora das condenações, a penalidade máxima ficou para os conspiradores de origem mais humilde: quatro deles foram enforcados e esquartejados no dia 8 de novembro de 1799. Outros réus foram condenados à prisão ou ao degredo para a África.

Atividades

Atividade I – Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 20, baseando-se no roteiro a seguir:

1. A dependência de Portugal em relação à Inglaterra.

2. Declínio da produção do ouro no Brasil.

3. Medidas tomadas pelo Marquês de Pombal para impedir a redução dos rendimentos da Coroa.

4. Relação entre os jovens que iam estudar na Europa e a circulação das idéias revolucionárias na colônia.

5. Acontecimento que provocou o desencadeamento da conspiração em Minas Gerais.

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6. As denúncias e a prisão dos conspiradores.

7. A farsa do julgamento dos conspiradores.

8. Razões que explicam a condenação à morte somente de Tiradentes.

9. Comparação entre a Conjuração Mineira e a Rebelião dos Alfaiates (semelhanças e diferenças), nos seguintes aspectos:

a) posição social dos conspiradores;

b. objetivos da conspiração;

c. condenações.

Atividade II – Estudo de outras fontes

Documento

Autos da devassa de Minas Gerais:

Vicente Vieira da Mota (...) jurou sobre os Santos Evangelhos, em que pôs sua mão direita dizer a verdade.

Disse que sabe por ser público em toda esta Vila Rica, que o Alferes Joaquim José da Silva, por alcunha – o Tiradentes – andava falando pelas tabernas, quartéis, por onde se achava, que estas Minas Gerais podiam vir a ser uma república. Em certa ocasião, indo Tiradentes à sua casa conversou longamente sobre a beleza, formosura e riqueza deste país de Minas Gerais, asseverando que era o melhor do mundo porque tinha em si ouro e diamantes, acrescentando que bem podia ser uma república livre e florescente. A testemunha lhe respondeu: - “Pois quê? Assim como sucedeu com a América Inglesa”? Tiradentes retrucou – “Justamente. E ainda melhor, pelas maiores comodidades que tem”. A testemunha então disse: - “Ora, não seja doido! Isto é loucura”. Você anda fazendo alguma que lhe há de ainda disparar em algumas dores de cabeça”.(...)

(Apud Coletânea de documentos históricos para o primeiro grau – Quinta a oitava séries, p. 33.)

1. Que crime o relato da testemunha indica Ter sido praticado por Tiradentes?

2. Como no relato aparece a influência da Independência dos Estados Unidos e das idéias republicanas?

3. De que modo a testemunha procura demonstrar que não compartilhava as idéias dos conspiradores?

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Capítulo 21

O Brasil vira reino

Recordando:

As idéias revolucionárias surgidas na Europa no século XVIII também se difundiram pela América, que naquela época era inteiramente formada por colônias de países europeus. Depois da Independência dos Estados Unidos, o desejo de liberdade se intensificou ainda mais. No Brasil, ele se manifestou na Conjuração Mineira e na Rebelião dos Alfaiates.

O fracasso dessas conspirações não impediu que a idéia de liberdade se fortalecesse cada vez mais. No entanto, foram acontecimentos ocorridos na Europa que acabaram contribuindo para a independência do Brasil.

França e Inglaterra: grandes rivais

Como vimos, na Revolução de 1789, a burguesia francesa conquistou o poder. Mas nos outros países europeus, vizinhos da França, os reis absolutistas temiam as idéias revolucionárias que se difundiam por toda a parte. Por isso, travaram guerras contra o governo francês, com o objetivo de fazer tudo voltar ao que era antes.

Assim, a burguesia francesa se sentia constantemente ameaçada pelos países vizinhos, inimigos da revolução. Para garantir o poder que haviam conquistado, os burgueses precisavam de um governante forte, que representasse bem seus interesses.

Esse papel foi desempenhado por um jovem militar, Napoleão Bonaparte, que acabou se tornando imperador da França em 1804.

Um dos objetivos de Napoleão era fazer a França a maior potência da Europa. Mas, para isso, ele teria que se confrontar com a Inglaterrra, o mais rico e poderoso país europeu naquela época.

Visando enfraquecer a economia inglesa, Napoleão armou um plano: ele sabia que os ingleses precisavam vender suas mercadorias. Assim, supôs que derrotaria o país rival, se conseguisse dominar os outros países da Europa, para obrigá-los a cortar o comércio com a Inglaterra. Comandando seus exércitos, Napoleão conquistou vários países e depôs seus soberanos, colocando outros reis nos tronos. E impôs o chamado Bloqueio Continental, isto é, o isolamento entre o continente europeu e a Inglaterra, que é uma ilha.

Portugal ameaçado

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Entre os países que Napoleão, queria dominar estava Portugal. Por isso, em 1807, pesava sobre esse reino uma ameaça: ou o governo português concordava em romper o comércio com a Inglaterra, como exigia Napoleão, ou os exércitos franceses invadiram o país.

A rainha de Portugal, D. Maria I, enlouquecera, e seu filho, D. João, tornara- se o regente do trono. Diante da ameaça francesa, D. João ficou numa situação complicada. Não podia aceitar as imposições de Napoleão, porque Portugal era antigo aliado da Inglaterra. Por outro lado, se não atendesse às exigências do imperador francês, teria que enfrentar seus exércitos.

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Peça explicações ao professor.

Figura 1.Domínios Coloniais no Final do Século XVIII.

Figura 2.Bloqueio Continental

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Cedendo às pressões da Inglaterra, D. João reunião sua numerosa corte de nobres e fugiu para o Brasil.

Enquanto os soldados de Napoleão se aproximavam de Lisboa, a corte partia para a colônia, navegando sob a proteção de embarcações inglesas.(Figura 4)

O Rio de Janeiro em alvoroço

No dia 22 de janeiro de 1808, os navios que transportavam a família real e a corte portuguesa chegaram ao Brasil, aportando inicialmente em Salvador e dirigindo-se depois para o Rio de Janeiro, que era a capital da colônia.

Mas a vinda de aproximadamente 15 mil pessoas criava sérios problemas para a cidade: como arrumar casas para tanta gente? Apesar das obras feitas às pressas, muitos moradores foram simplesmente despejados de suas casas, requisitadas para acomodar os fidalgos do reino.

A presença da família real no Brasil trouxe grandes mudanças para a colônia e principalmente para a cidade do Rio de Janeiro. O regente criou a Impressão Régia, isto é, tipografia onde se imprimiram os primeiros jornais oficiais do Brasil, a Real Fábrica de Pólvora, o Banco do Brasil, duas escolas de medicina(no Rio e em Salvador) e a Academia Real Militar. Foram inaugurados um teatro, uma academia de belas-artes, o Jardim Botânico e uma biblioteca pública, onde se guardaram os 14 mil livros trazidos do reino em 1808.

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O Brasil aberto ao mundo

O primeiro ato de D. João, ainda em Salvador, foi a assinatura de um decreto, em 28 de janeiro de 1808, que abriu os portos brasileiros às nações amigas, permitindo, portanto, que navios de outros países aportassem no Brasil. Até então, como já vimos, os comerciantes portugueses tinham o monopólio do comércio com a colônia.

A partir daquela data, centenas de embarcações estrangeiras começaram a chegar, abarrotadas de mercadorias antes desconhecidas da população da colônia. Na volta levavam os porões cheios de produtos brasileiros: algodão, milho, arroz, açúcar, tabaco, couro, madeiras, etc.

Além disso, numerosos comerciantes estrangeiros (ingleses, franceses e de outras nacionalidades) instalaram-se nas cidades da colônia, abrindo lojas, oficinas e escritórios.

Quem mais se beneficiou com a abertura dos portos foram os comerciantes ingleses, sobretudo depois de 1810. Naquele ano D. João firmou com a Inglaterra dois tratados, que concediam vantagens especiais aos ingleses: o Tratado de Aliança e Amizade; e o Tratado de Comércio e Navegação. As mercadorias inglesas, ao entrarem no Brasil, deveriam pagar uma taxa de apenas 15 por cento enquanto as de outros países pagavam 24 por cento. Os próprios comerciantes portugueses pagavam 16 por cento.

Para o Brasil, esse tratado foi desastroso. Embora D. João tivesse suspendido a antiga proibição de instalar manufaturas, não havia estímulo para o desenvolvimento de indústrias, pois as mercadorias inglesas eram vendidas por preços muito baixos.

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O Brasil vira reino

Embora o exército de Napoleão tenha sido derrotado em 1811, D. João não voltou para Portugal, que passou a ser governado por um comandante inglês até 1820.

A permanência de D. João no Brasil era fundamental para que a Coroa pudesse controlar de perto a única fonte de recursos que ainda não tinha: os impostos aqui arrecadados. Se o regente fosse embora, Portugal corria o risco de perder definitivamente a colônia, o que aceleraria ainda mais sua ruína, iniciada tanto tempo antes.

E, já que o governo português pretendia ficar definitivamente no Brasil, a condição de colônia deveria ser alterada, para facilitar as relações diplomáticas com os demais países. Assim, num decreto de 1815, D. João ordenava:

Primeiro –Que (...) o Estado do Brasil seja elevado à dignidade, preeminência e denominação de Reino do Brasil.

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Segundo – Que os (...) reinos de Portugal, Algarves e Brasil formem dora em diante um só e único reino debaixo do título de Reino Unido de Portugal, e do Brasil, e Algarves.

Desde essa data, as capitanias passaram a chamar-se províncias. O Brasil deixava de ser colônia e unia-se ao reino de Portugal. Mas não ficava independente.

A Revolução de 1817 em Pernambuco

Apesar das mudanças trazidas com a vinda da família real para o Brasil, muitos brasileiros ainda desejavam romper definitivamente com a situação colonial.

Para Pernambuco, por exemplo, a presença da monarquia no Brasil não trouxera nenhum benefício. Os proprietários de terras do Nordeste estavam enfrentando sérias dificuldades: no início do século XIX as principais lavouras da região (açúcar e algodão) estavam com seus preços de exportação muito reduzidos.

Por outro lado, apesar da maior liberdade de comércio com os outros países, os comerciantes portugueses do Recife, apelidados de “marinheiros”, Continuavam como intermediários no comércio de importação e exportação. Eles rebaixavam os preços de mercadorias brasileiras que se destinavam ao exterior, revendendo-as depois com grande lucro, e vendiam as mercadorias estrangeiras por preços altíssimos. (Figura 5.)

Peça explicações ao seu professor sobre: Vista da Alfândega de Recife, no século XIX. Ali aportavam navios de várias partes do mundo, trazendo mercadorias estrangeiras e levando os produtos do Brasil, principalmente açúcar e algodão.

Essa situação aguçava uma antiga rivalidade entre brasileiros (proprietários de terras) e portugueses(comerciantes), manifestada já em outras ocasiões, como na Guerra dos Mascates.(Veja p. 108)

Além disso, os proprietários de terras, já de longa data, estavam sempre devendo dinheiro aos comerciantes e vivendo sob constante ameaça de perder suas propriedades.

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Para agravar ainda mais a situação, uma seca intensa atingiu o Nordeste, prejudicando a lavoura algodoeira e a produção de gêneros alimentícios, o que provocou seu encarecimento.

E, como se não bastasse tudo isso, com a mudança da corte portuguesa para o Brasil, novos impostos foram criados, com o objetivo de cobrir as despesas da família real, sustentar o luxo da corte, manter o exército, garantir o pagamento de numerosos funcionários e promover obras na cidade do Rio de Janeiro.

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Para se Ter uma idéia desse aumento de impostos, basta dizer que em 1820 a Coroa arrecadava cinco vezes mais impostos do que em 1808.

Viva a pátria! Mata marinheiro!

Nessas condições, o descontentamento dos proprietários de Pernambuco acabou se transformando numa revolução contra a Coroa.

As idéias iluministas e o exemplo de independência dos Estados Unidos mais uma vez inspiram o movimento contra o domínio português e a tentativa de criar no Brasil uma república semelhante à norte-americana.

Em 1817, começou a conspiração, da qual participaram senhores de engenho, padres, comerciantes brasileiros, militares e advogados. As camadas populares (artesãos, funcionários públicos, empregados no comércio, biscateiros) também aderiram ao movimento: eram os mais prejudicados pelo aumento dos preços de gêneros. Mas a direção ficou nas mãos dos grandes proprietários.

O governador de Pernambuco sabia o que estava ocorrendo, porque recebia constantes denúncias. Então, para liquidar a rebelião, mandou prender alguns de seus líderes.

Mas as prisões, em vez de acabarem com o movimento, tiveram um efeito contrário: a revolta explodiu. Os soldados nos quartéis apoiaram a rebelião e o governador teve que entregar o governo aos revolucionários.

O Brasil que os revolucionários queriam

A revolução parecia vitoriosa. Instalou-se um governo provisório em Pernambuco, do qual participavam um senhor de engenho, um comerciante, um militar e um padre . Deveria ser implantada a república, e seriam garantidas as liberdades de opinião, de imprensa e de religião. Além disso, se realizariam eleições e se elaboraria uma Constituição.

Apesar dessas idéias avançadas, os revolucionários não pensavam em abolir a escravidão imediatamente. Queriam um país livre de Portugal, mas não desejavam perder seus escravos.

O governo revolucionário de Pernambuco enviou representantes às outras capitanias do Nordeste e ao exterior, com a finalidade de conseguir apoio para o movimento. (Figura 6)

O Campo das Princesas do Recife. Ao fundo se vê o antigo palácio do governo, ocupado pelos rebeldes de 1817 por cerca de dois meses (de 6 de março a 19 de maio).

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Atividades

Atividade I – Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 21, baseando-se no roteiro a seguir:

1. Os interesses da burguesia francesa, após a Revolução de 1789 e subida de Napoleão ao poder.

2.Relação entre o projeto de Napoleão de transformar a França em maior potência européia e o Bloqueio Continental à Inglaterra.

3. A situação de Portugal diante das ameaças de Napoleão. Solução adotada.

4. Significado do decreto de abertura dos portos assinado por D. João VI ao chegar ao Brasil.

5. Tratados de 1810 com a Inglaterra:

a) o que determinavam;

b) a quem favoreciam;

c) a quem prejudicavam.

6. Razões que levaram D. João a permanecer no Brasil, apesar da derrota de Napoleão.

7. Problemas de Pernambuco no início do século XIX.

8. Camadas sociais que participaram da Revolução de 1817 em Pernambuco.

9. A vitória inicial e o desfecho do movimento rebelde.

Atividade II – Estudo de outras fontes

Texto complementar

A partir de 1808 De tudo trouxeram os ingleses desde as primeiras viagens: fazendas de algodão, lã e seda; peças de vestuário, alimentos, artigos de armarinhos, móveis, vidros, cristais, louças, porcelanas, panelas de ferro, cutelaria, quinquilharia, carruagens, etc.

(...) A Inglaterra dominava no comércio exterior brasileiro e comerciantes ingleses passaram a dominar no comércio interno. Sobrepujaram os portugueses nesse comércio, o que provocou grande animosidade dos comerciantes lusos contra eles (...)

(Holanda, Sérgio Buarque de. (Coord.) História geral da civilização brasileira. Vol. II – O Brasil monárquico. Rio de Janeiro - São Paulo: Difel, 1976, p. 76 e 92.

1. O que explica a presença no Brasil de uma grande quantidade de mercadorias inglesas, depois de 1808?

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2. Por que os comerciantes portugueses ficaram descontentes com a presença dos ingleses no comércio brasileiro?

Sugestão de atividade complementar

Atividade III – Em grupos

Esta atividade tem como objetivo preparar o estudo do próximo capítulo.

1. O que significava para os comerciantes portugueses o decreto de abertura dos portos (1808)? E os tratados de 1810, firmados com a Inglaterra? Eles perdiam ou ganhavam com essas medidas? Por quê?

2. E o reino de Portugal? Perdia ou ganhava com as referidas medidas? Por quê?

3. O que é uma Constituição?

4. Nas monarquias absolutistas não havia Constituição. Seria fácil ou difícil que os soberanos absolutistas aceitassem uma Constituição. Seria fácil ou difícil que os soberanos absolutistas aceitassem uma Constituição em seus reinos? Por quê?

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Capítulo 22

Ou ficar a pátria livre...

Recordando

Quando a família real portuguesa embarcou com sua numerosa corte para o Brasil, Portugal estava ameaçado pelos soldados de Napoleão, que já marchavam em direção a Lisboa.

A família real, fugiu, mas o povo português teve que lutar contra os exércitos de Napoleão, o que foi feito com o auxílio de tropas britânicas, comandadas por um general inglês. Somente em 1811 os franceses foram definitivamente derrotados. Portugal ficou, até 1820, sob a tutela da Inglaterra.

Apesar da vitória, a invasão napoleônica significou, além da perda de vidas, a destruição dos campos de cultivo e, conseqüentemente, falta de alimentos para a população.

Portugal sob o comando da Inglaterra

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Tudo isso apenas agravava os problemas que já vinham de muito tempo. Desde o século XVII, os monarcas portugueses firmavam acordados e tratados com a Inglaterra, na tentativa de obter ajuda financeira. Com isso, o reino se “enterrava” cada vez mais.

Depois da vinda da família real para ao Brasil, o reino ficou numa situação ainda mais difícil. A abertura dos portos brasileiros às nações amigas (1808) e a concessão de taxas mais baixas para as mercadorias ingleses (1810) foram medidas que arruinaram o comércio português.

Depois da vinda da família real para o Brasil, o reino ficou numa situação ainda mais difícil. A abertura dos portos brasileiros às nações amigas (1808) e a concessão de taxas mais baixas para as mercadorias inglesas (1810) foram medidas que arruinaram o comércio português.

Uma revolução em Portugal

O descontentamento dos portugueses acabou explodindo numa rebelião, em 1820, na cidade do Porto. As tropas portuguesas, com o apoio da população, conseguiram livrar-se do governante inglês e formaram um governo revolucionário.

Seu principal objetivo era elaborar uma Constituição para Portugal. O rei D. João, que estava no Brasil, deveria assiná-la a comprometer-se a respeitá-la. Para escrever a Constituição foram convocadas as “cortes”, isto é, a assembléia dos representantes das várias camadas da população do reino. Já não era o rei que estava no governo e sim as cortes.

O movimento, conhecido como Revolução Constitucionalista do Porto, também afetava o Brasil, que, como vimos, fazia parte, desde 1815, do Reino Unido(Brasil, Portugal e Algarves).

Em várias províncias do Brasil, os governos locais, fiéis a D. João, foram substituídos por juntas constitucionais, diretamente subordinadas às cortes. Além disso, as províncias elegeram representantes brasileiros para participar dos trabalhos das cortes em Lisboa.

Os portugueses, por sua vez, exigiram que D. João voltasse a Portugal e que a sede do reino se transferisse novamente para lá. O rei adiou quanto pôde esse retorno, mas afinal partiu (26 de abril de 1821), acompanhado de 3 mil pessoas – os servidores da família real e os funcionários dos altos cargos públicos. Levou também em sua bagagem uma vultosa quantia de dinheiro, retirada do Banco do Brasil.

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Peça para o seu professor descrever.

Figura 1 – Cena de uma sessão das cortes de Lisboa, reconstituída pelo pintor Oscar Pereira da Silva.

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Mas deixou seu filho, D. Pedro, como regente. A ele D. João aconselhou, antes de partir, que, caso o Brasil tivesse que se separar de Portugal, ele, Pedro, ficasse com a coroa, em vez de a deixar cair nas mãos de “alguns desses aventureiros”.

A desilusão nas cortes de Lisboa

Os deputados brasileiros nas cortes de Lisboa procuraram garantir a já adquirida liberdade de comércio nos portos do Brasil e uma situação de igualdade diante de Portugal. Mas eles não conseguiram aprovar suas propostas, porque estavam em minoria: eram 50 contra 130 portugueses.

Os deputados portugueses, por sua vez, tinham objetivos bem diferentes. Desejavam que o Brasil retornasse à situação de simples colônia e que Portugal voltasse a Ter o monopólio do comércio com o Brasil.

Para evitar qualquer rebelião no Brasil, as cortes enviaram reforços militares para o Rio de janeiro, Pernambuco e Bahia.

Um Brasil independente. Mas para quem?

Aos brasileiros restava tentar livrar-se de vez do domínio de Portugal. A maioria das outras colônias americanas (da Espanha e da Inglaterra) tinham travado uma prolongada luta contra suas metrópoles e se tornado países independentes. Em todos eles organizaram-se governos republicanos.

Aqui no Brasil também havia aqueles que desejavam uma república, onde as províncias tivessem grande autonomia, isto é, independência para tomar decisões. Essas pessoas eram conhecidas como liberais radicais e pertenciam, em geral, às camadas das classes médias das cidades: funcionários, médicos, advogados, jornalistas, padres, professores.

As idéias revolucionárias da França do século XVIII deram origem ao liberalismo. Os liberais lutavam principalmente pela participação dos cidadãos nas decisões políticas e por isso se opunham ao absolutismo. Defendiam a existência de uma Constituição, que controlasse o poder dos governantes e estabelecesse as regras para a participação dos cidadãos nas decisões do governo.

Havia ainda os grandes proprietários de terras e ricos comerciantes brasileiros, principalmente de Minas, Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco, que também queriam um Brasil independente, mas governado por um monarca. Seu maior temor era de que houvesse uma guerra pela independência, com a participação das camadas populares e de escravos. Se isso ocorresse, eles temiam perder seus privilégios, principalmente se houvesse a abolição da escravidão.

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O príncipe: um aliado Enquanto isso, as cortes de Lisboa tentavam, por todos os meios, fazer o Brasil voltar à situação de colônia. Assim, em decretos de primeiro e de dezoito de outubro de 1821, as cortes determinaram que D. Pedro voltasse a Portugal, para assumir sua condição de herdeiro do trono português.

Para o Brasil, o retorno do príncipe significaria voltar irremediavelmente à antiga condição de colônia. Para evitar que isso ocorresse, os brasileiros optaram por aliar-se ao príncipe regente para que ele fizesse a independência, sem nenhum risco para sua situação privilegiada.

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Alguns deles atuavam nas lojas maçônicas, que tiveram bastante influência na luta pela independência do Brasil.

As associações maçônicas têm origem muito antiga, na época medieval. Mas foi na Inglaterra, no início do século XVIII, que os pedreiros profissionais se associaram num clube, a Grande Loja de Londres.

Da Inglaterra, a maçonaria se difundiu para outros países europeus e também chegou à América.

No Brasil, fundaram-se as primeiras lojas maçônicas no início do século XIX e sua maior influência se deu Nordeste.

Entre os membros da maçonaria encontravam-se figuras de grande destaque, como José Bonifácio de Andrada e Silva e o próprio príncipe D. Pedro.

A entrada na organização, só permitida aos homens, ainda hoje se faz em meio a cerimônias e rituais secretos.

Então, “eu fico”

Entre essas pessoas estava José Bonifácio de Andrada e Silva, que pertencia a uma abastada família de comerciantes de São Paulo. Foi ele quem escreveu ao príncipe, como representante dos paulistas, recomendando-lhe que não voltasse a Portugal.

Para impressionar masi D. Pedro e convencê-lo a ficar, preparou-se um manifesto, com milhares de assinaturas, que lhe foi entregue no dia 9 de janeiro de 1822.

Diante da pressão dos brasileiros, o príncipe decidiu ficar no Brasil, desconsiderando as ordens do governo de Lisboa. Em seguida, escolheu José Bonifácio para ser seu ministro.

Enfim, a separação

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Na prática, o Brasil já estava independente, tinha seu próprio governo, não obedecia mais às ordens das cortes de Lisboa.

No entanto, para se impor como governante do Brasil, D. Pedro precisava do apoio de todas as províncias.

Para isso, realizou-se uma viagem a São Paulo, onde foi muito bem recebido, com festas, fogos de artifício e missas. Em seguida, foi até Santos. Quando retornava da longa viagem (que só podia ser feita, na época, a cavalo ou no lombo de mula), encontrou, nas proximidades do riacho do Ipiranga, mensageiros que vinham do Rio de Janeiro. Eles traziam documentos e cartas enviadas por José Bonifácio e pela princesa D. Leopoldina (esposa de D. Pedro).

As cartas contavam que novas ordens tinham chegado de Lisboa, rebaixando a autoridade do príncipe a mero representante das cortes portuguesas no Brasil. Também alertavam D. Pedro de que as tropas estavam se preparando para impor, pela violência, a vontade do governo de Lisboa.

Figura 2: Quadro mostrando a princesa D. Leopoldina, reunida com o Conselho do Estado, no dia 2 de setembro de 1822, diante dos documentos chegados de Portugal. Em pé, à direita, José Bonifácio de Andrada e Silva. Óleo de Georgina de Albuquerque.

-- Página 142

D. Pedro enfurecido, tomou a decisão tão esperada por aqueles que desejavam uma independência sem revolução. Ele declarou: “É tempo: independência ou morte! Estamos separados de Portugal”. Era o dia 7 de setembro de 1822. (Figura 3).

Após a proclamação, D. Pedro compôs a música do Hino da Independência, com letra de Evaristo da Veiga. A cena foi reconstituída neste óleo de Augusto Bracet.

As reações dos portugueses

A notícia da independência foi chegando às varias províncias, mas nem sempre era bem recebida. Em algumas delas existiam as juntas constitucionais, compostas de portugueses (veja p. 139), que permaneceram fiéis ao governo de Portugal. Contavam com as tropas portuguesas e podiam resistir à independência, enfrentando o exército brasileiro.

As tropas fiéis a D. Pedro, por sua vez, tinham um pequeno contingente de soldados mal preparados. Por isso, D. Pedro precisou contratar soldados mercenários e comandantes estrangeiros, principalmente ingleses. Mas a participação da população nas guerras pela independência travadas nas províncias da Bahia, do Ceará, Piauí e Pará, também foi decisiva para a vitória de D. Pedro.

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A independência do Brasil só foi reconhecida posteriormente: em 1824, pelos Estados Unidos; em 1825, por Portugal, mediante uma indenização de 2 milhões de libras esterlinas; e, em 1826, pela França e pela Inglaterra.

O apoio da Inglaterra a D. Pedro I ligava-se ao interesse em manter a liberdade de comércio obtido desde 1808, quando da vinda da família real para o Brasil, e garantir as taxas preferenciais de importação, que vigoravam deste o Tratado de Comércio de 1810. (Veja p. 135).

Atividade I – Ficha de leitura

Faça a ficha de leitura do capítulo 22, baseando-se no roteiro a seguir:

1. Situação econômica e política de Portugal após a vida da família real para o Brasil.

2. Objetivos das cortes de Lisboa, em relação ao Portugal e ao Brasil.

3. Divergências entre deputados brasileiros e portugueses nas cortes de Lisboa.

4. As diferentes opiniões de grupos políticos brasileiros em relação à independência.

5. Razão do interesse dos proprietários de terras em aliar-se ao príncipe regente para fazer a independência.

6. Acontecimentos que provocaram o rompimento definitivo dos laços coloniais entre o Brasil e Portugal.

7. Razões de resistência à independência em algumas províncias do Brasil.

8. Interesse da Inglaterra na independência do Brasil.

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Atividade II – Estudo de outras fontes

Texto complementar

ZA opinião pública do Rio de Janeiro passou a ser, principalmente no segundo semestre de 1821, constantemente assediada, não só pelos novos, como pelos panfletos que começavam a ser publicados: chegavam a ser afixados nos muros e distribuídos nas ruas documentos que condenavam as corte e pediam a permanência de D. Pedro no Brasil. (...)

Embora o povo não tivesse participado das articulações que levaram ao 7 de setembro, os acontecimentos de 1821-1822 contaram com sua participação intensa, no Rio e em algumas Capitais. Na imensa maior parte do Brasil, essencialmente rural, tais acontecimentos evidentemente passaram despercebidos, a não ser por alguns membros da elite agrária.

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Porém, no Rio, Salvador e Recife, as camadas humildes foram bastante atingidas pelo clima agitado, exceção feita aos escravos, para quem pouco importava a nacionalidade das chibatas e grilhões. Se o povo não participou foi por Ter sido conscientemente alijado do processo pelos grupos dominantes que o temiam; o que não impediu de ficar a par dos fatos, tomar posição diante deles e apresentar reinvidicações.(...)

(Mendes Junior, Antonio; Roncari, Luiz e Maranhão, Ricardo. Brasil História – Texto e Consulta, v. 2. São Paulo: Brasiliense, 1977. P. 151.)

1. De que forma a população do Rio de Janeiro tomava conhecimento dos fatos ligados ao movimento da independência?

2. Por que esse movimento não apresentava interesse para os escravos?

3. O que impediu que a população mais pobre tivesse uma participação importante no processo de independência?

Encerramento da Unidade

Atividade I – Em grupos

1. Discutir os objetivos apresentados no início da unidade, sob o título: “O que é importante aprender”. Redigir um pequeno texto sobre cada um dos temas.

Atividade II – Em grupos

Esta atividade tem como objetivo fazer uma síntese da História do Brasil Colonial.

1. Como viviam os habitantes do Brasil na época em que os europeus chegaram?

2. Qual foi o primeiro produto do território brasileiro explorado pelos portugueses?

3. Por que o cultivo da cana e a produção de açúcar foram as atividades escolhidas pelos portugueses para iniciar a colonização do Brasil?

4. O que aconteceu com os indígenas em decorrência da ocupação do território brasileiro pelos portugueses?

5. Em que capitanias da colônia mais se desenvolveu a atividade açucareira?

6. Como os portugueses conseguiram trabalhadores para desenvolver as plantações e a produção de açúcar?

7. Que países europeus representaram ameaça para o domínio português no Brasil? Justificar.

8. Qual a atividade que favoreceu o povoamento do interior nordestino? E do Sul?

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9. Qual a atividade que favoreceu a ocupação da Amazônia?

10. Qual a atividade que favoreceu a ocupação da região de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso?

11.Por que a partir da segunda metade do século XVII Portugal modificou as regras do comércio com o Brasil? ?Como ficou nessa época a relação entre a colônia e a metrópole?

12. Quais foram as reações (e onde ocorreram) dos colonos contra essas medidas impostas pela Coroa?

13. Qual o primeiro país em que ocorreu a transformação nos métodos de produção de mercadorias conhecida como Revolução Industrial? Em que século?

14. Quais foram os movimentos que tiveram por objetivo libertar o Brasil do domínio português? Que idéias influenciaram esses movimentos?

15. Qual foi o significado da vinda da família real para a situação colonial do Brasil?

16. O que explica que o Brasil independente tenha se tornado uma monarquia, ao contrário de todos os outros países da América, onde se organizaram governos republicanos?

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