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1 ETNOCONHECIMENTO DE PESCADORES DE TRES COMUNIDADES DO MUNICÍPIO DE MONTE ALEGRE, PARÁ, BRASIL Arthur Cássio de Sousa Cardoso 1* ; Edvane de Lourdes Pimentel Vieira²; Charles Hanry Faria Junior 3 1 [email protected] . Mestrando em Aquicultura/ Universidade Nilton Lins - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). ² [email protected] Mestrando em Aquicultura/ Universidade Nilton Lins - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). 3 [email protected] Professor do Bacharelado em Engenharia de Pesca/ Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). RESUMO O trabalho analisou o conhecimento ecológico sobre mudanças na composição e abundância, bem como os alimentação dos recursos pesqueiros explorados pelos pescadores de comunidades do município de Monte Alegre, Pará. O estudo foi realizado no município de Monte Alegre, Pará, nas comunidades Jurunduba e Jussarateua e Pariçó. A coleta dos dados foi feita a partir de entrevistas, auxiliadas por formulários semiestruturados. De forma individual, por comunidade, todos os pescadores de Jurunduba acham que houve diminuição na quantidade de peixes disponíveis nos ambientes que utilizam para a pesca, em Jussarateua 55% e em Pariço 94%. Os pescadores listaram 10 grupos de espécies, onde as mais citadas quanto a sua diminuição foram o tambaqui (Colossoma macropomum), o pirarucu (Arapaima gigas) e curimatã ( Prochilodus sp). Os pescadores foram enfáticos em afirmar que os lagos são mais produtivos e são os ambientes que tem maior quantidade de espécies diferentes (78%), seguido dos rios (12%). Quando questionados sobre seus conhecimentos a respeito dos hábitos alimentares dos peixes encontrados nestas comunidades, foi verificado que estes pescadores possuem um amplo conhecimento sobre o tipo de alimento que cada espécie consome, isso mostra que os pescadores artesanais possuem um detalhado conhecimento sobre a ecologia das espécies de peixes exploradas e do meio ambiente em que vivem, e que esse conhecimento influencia suas decisões sobre as estratégias. Assim, é verificado que existe uma forte relação intrínseca destes moradores com os recursos naturais, que servem de base para a sua convivência nestes ambientes.

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ETNOCONHECIMENTO DE PESCADORES DE TRES COMUNIDADES DO MUNICÍPIO DE MONTE ALEGRE, PARÁ, BRASIL

Arthur Cássio de Sousa Cardoso1*; Edvane de Lourdes Pimentel Vieira²; Charles Hanry Faria Junior3

1 [email protected]. Mestrando em Aquicultura/ Universidade Nilton Lins - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). ² [email protected] Mestrando em Aquicultura/ Universidade Nilton Lins - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). 3 [email protected] Professor do Bacharelado em Engenharia de Pesca/ Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).

RESUMO

O trabalho analisou o conhecimento ecológico sobre mudanças na composição e abundância, bem como os alimentação dos recursos pesqueiros explorados pelos pescadores de comunidades do município de Monte Alegre, Pará. O estudo foi realizado no município de Monte Alegre, Pará, nas comunidades Jurunduba e Jussarateua e Pariçó. A coleta dos dados foi feita a partir de entrevistas, auxiliadas por formulários semiestruturados. De forma individual, por comunidade, todos os pescadores de Jurunduba acham que houve diminuição na quantidade de peixes disponíveis nos ambientes que utilizam para a pesca, em Jussarateua 55% e em Pariço 94%. Os pescadores listaram 10 grupos de espécies, onde as mais citadas quanto a sua diminuição foram o tambaqui (Colossoma macropomum), o pirarucu (Arapaima gigas) e curimatã (Prochilodus sp). Os pescadores foram enfáticos em afirmar que os lagos são mais produtivos e são os ambientes que tem maior quantidade de espécies diferentes (78%), seguido dos rios (12%). Quando questionados sobre seus conhecimentos a respeito dos hábitos alimentares dos peixes encontrados nestas comunidades, foi verificado que estes pescadores possuem um amplo conhecimento sobre o tipo de alimento que cada espécie consome, isso mostra que os pescadores artesanais possuem um detalhado conhecimento sobre a ecologia das espécies de peixes exploradas e do meio ambiente em que vivem, e que esse conhecimento influencia suas decisões sobre as estratégias. Assim, é verificado que existe uma forte relação intrínseca destes moradores com os recursos naturais, que servem de base para a sua convivência nestes ambientes.

Palavras-chave: Ecossistema; Pesca; Etnociência.

ABSTRAT

The study was carried out in the county of Monte Alegre, Pará, in the Jurunduba and Jussarateua communities. The study was carried out in the municipality of Monte Alegre, Pará, in the communities of Jurunduba and Jussarateua and Pariçó. The data collection was done from interviews, aided by semi-structured forms. In an individual way, by community, all fishermen of Jurunduba think that there was a decrease in the quantity of fish available in the environments that they use for fishing, in Jussarateua 55% and Pariço 94%. The fishermen listed 10 groups of species, where the most cited, as for its decrease were tambaqui (Colossoma macropomum), pirarucu (Arapaima gigas) and curimatã (Prochilodus sp.). Fishermen were emphatic in claiming that lakes are more productive and are environments that have a greater amount of different species (78%), followed by rivers (12%). When questioned about their knowledge about the dietary habits of fish found in these communities, it was verified that these fishermen have a wide knowledge about the

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type of food that each species consumes, this shows that the artisanal fishermen have a detailed knowledge about the ecology of the species exploited fish and the environment in which they live, and that this knowledge influences their decisions about strategies. Thus, it is verified that there is a strong intrinsic relation of these dwellers with the natural resources, that serve as basis for their coexistence in these environments.

Key words: Ecosystem; Fishing; Ethnoscience.

INTRODUÇÃO

Os ecossistemas aquáticos amazônicos apresentam uma grande heterogeneidade ambiental e uma alta diversidade de espécies de peixes associados que demandaram estratégias de captura diferenciada e, portanto, contribuíram para a característica multiespecífica da atividade pesqueira regional (NAVY e BHATTARAI, 2009). Porém, o processo de desenvolvimento tecnológico das artes de pesca, a intensificação da atividade e o uso desordenado de aparelhos de maior poder de captura, tornaram a atividade pesqueira uma das principais causas de impactos, mudanças ambientais e perda de biodiversidade nos ecossistemas aquáticos (JACKSON et al. 2001; ANTICAMARA et al., 2011).

Nessa visão, os níveis de captura e esforço de pesca são bem diferenciados de acordo com a categoria de pesca e de pescadores (DIEGUES, 1995; FURTADO, 1993). A pesca tradicional, geralmente realizada por ribeirinhos em complementação à atividade agrícola, é frequentemente apresentada como uma atividade de baixa produtividade, baixa taxa de rendimento (FAO, 1975) e classificada como de subsistência. Porém, essa classificação possui interpretações diferentes (SCHUMANN e MACINKO, 2007), pois mesmo apresentando baixa produtividade, possui um potencial para reduzir a biodiversidade e esgotar os recursos pesqueiros (PINNEGAR e ENGELHARD, 2007), o que demanda investigação científica para seu melhor entendimento.

No âmbito científico, o estudo dos saberes das populações locais vem sendo intensamente realizado a partir da etnociência, que “parte da linguística para estudar o conhecimento das populações humanas sobre os processos naturais, de forma a descobrir a lógica subjacente ao conhecimento humano do mundo natural, as taxonomias e classificações totais” (DIEGUES, 2004). Um importante exemplo da aplicação da etnociência são os estudos sobre o conhecimento local (CEL) de populações humanas acerca de seus recursos, onde recentemente tem recebido bastante atenção na literatura cientifica na área de ecologia, manejo e conservação (BROOK e MCLACHLAN, 2008; HUNTINGTON, 2011).

Os estudos sobre o conhecimento das populações locais acerca dos recursos naturais estiveram inicialmente relacionados à investigação dos conceitos e classificações, em grande parte, desenvolvidos com povos indígenas (POSEY, 1987). E como as populações ribeirinhas mantêm contato direto com o ambiente natural e exploram a natureza com base num conjunto de crenças e saberes no uso dos recursos naturais, fundado nas tradições culturais e na relação empírica com o meio ambiente (THÉ, 2003), o conhecimento local passou a ter função chave no fornecimento de informações cruciais para o manejo dos recursos pesqueiros locais e ações conservacionistas (CORTEZ, 2010).

Principalmente quando entendemos como o homem se apropria de maneira peculiar dos ambientes produtivos e do mundo em que vive, através do conhecimento que tem da natureza que explora para sobreviver e do seu trabalho. O que dá a grupos de pescadores um conhecimento acurado e compatível com o conhecimento ictiológico acadêmico (MALDONADO, 1986; MARQUES, 2001).

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Desta forma, as informações sobre a etnoecologia passaram a ser importantes para o manejo dos recursos pesqueiros, porém ainda são insuficientes, apesar do grande esforço para obtenção de dados sistematizados de pesquisadores e instituições de pesquisa, (BEGOSSI et al., 2006). Nessa ótica, este trabalho apresenta uma análise do conhecimento ecológico que pescadores de comunidades do município de Monte Alegre, Pará, possuem sobre o recurso explorado.

2- MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo O estudo foi realizado no município de Monte Alegre (Fig. 1), localizado na porção noroeste

do Estado do Pará (OLIVEIRA JÚNIOR, 1999), mais especificamente nas comunidades Jurunduba e Jussarateua e Pariçó, localizadas à margem esquerda do rio Gurupatuba, que banha a cidade de Monte Alegre (FURTADO et al., 1998).

Figura 1. Localização da área de estudo, município de Monte Alegre, estado do Pará, Brasil. Fonte: Pallos, et al. (2016).

Coleta de dados

Primeiramente foram feitas visitas informais nas residências de pescadores nas comunidades elencadas para o estudo, com o intuito de esclarecer os objetivos da pesquisa, conhecer as famílias dos pescadores, seu cotidiano e, identificar o número de pescadores residentes em cada comunidade e definir estratégias para a coleta de dados.

Para a coleta foram realizadas entrevistas, mediante o uso de formulários semiestruturados para a obtenção dos dados relativos a pesca, aspectos biológicos e ecológicos da ictiofauna conhecida pelos pescadores, dados socioeconômicos, tempo dedicado a pesca, tecnologia e estratégias de pesca utilizadas, como descrito por Rebelo (2008). Como procedimento complementar, foram realizadas observações direta e o registro fotográfico.

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Os dados coletados foram armazenados em planilha eletrônica na base de dados Access 2010 para consulta e posterior análise dos dados, sendo os resultados apresentados mediante o emprego de ferramentas da estatística descritiva (REIS, 1998; MILONE, 2004).

3- RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram entrevistados 75 pescadores, sendo 15 da comunidade Jurunduba, 27 de Jussarateua e 33 de Pariçó, com idades entre 23 a 81 anos. Quando perguntado aos pescadores das comunidades se houve a diminuição da quantidade de peixes nos locais de pesca, 61 (81%) relataram ter observado uma diminuição nos estoques pesqueiros nestas regiões.

De forma individual, por comunidade, todos os pescadores de Jurunduba acham que houve diminuição na quantidade de peixes disponíveis nos ambientes que utilizam para a pesca, em Jussarateua 55% e em Pariço 94%.

Os pescadores listaram 10 grupos de espécies (contêm uma ou mais espécies com a mesma denominação), onde as mais citadas quanto a sua diminuição foram o tambaqui (Colossoma macropomum), o pirarucu (Arapaima gigas) e curimatã (Prochilodus sp) (Fig. 2).

Acarí

Aracú

Curim

atã Pacú

Pirapitin

ga

Piraru

cu

Surubim

Tambaqui

Jaraqui

Mapará

Tucunaré

0

5

10

15

20

25

30

Jurunduba Jusarateua Pariço

Espécies de peixes

Cita

ção

dos p

esca

dore

s

Figura 2. Diminuição da quantidade de peixes nos locais de citadas pelos entrevistados.

Os pescadores exploram comercialmente 22 grupos de espécies, das quais, nove são bagres e 13 peixes de escama. Entre os bagres: acari (Loricariidae), cujuba (Oxydoras niger), dourada (Brachyplatystoma rousseauxii), filhote (Brachyplatystoma filamentosum), jaú (Zungaro zungaro), mapará (Hypophthalmus spp.), piramutaba (Branchyplatystoma vaillant), pirarara (Phractocephalus hemioliopterus), surubim (Pseudoplatystoma spp.). Entre os peixes de escama: aracú (Anostomidae), aruanã (Osteoglossum spp.), braquinha (Curimatidae), carauaçú acará-açu (Astronotus), curimatã (Prochilodus nigricans), jaraqui (Semaprochilodus spp.), jatuarana (Brycon spp.), pirapitinga (Piaractus brachypomus), pacú (Mylossoma spp.; Myleus spp.), pescada (Plagioscion spp.), sarda (Pellona spp.), tambaqui (Colossoma macropomum) e tucunaré (Cichla spp.). Esses grupos de espécies também são comumente capturadas em Santarém (ISAAC et al., 1996; LIMA et al., 2016), o que mostra a abrangência e importância dessas espécies para o mercado local e regional.

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Os pescadores das comunidades de Jurunduba e Jussarateua exploram 20 grupos de espécies enquanto os da comunidade de Pariçó exploram somente 10 grupos, mostrando que os pescadores dessa comunidade são aparentemente mais especializados. Quando arguidos sobre o melhor período sazonal para se realizar a atividade de pesca, a maioria dos pescadores de Jurunduba indicaram como os melhores períodos são a cheia (40%) e a enchente (40%), na comunidade Jussarateua os melhores períodos são a enchente e a vazante (100%) e o período da vazante (71%) em Pariço. Esse maior destaque observado para os períodos e enchente e de vazante se deve ao conhecimento do comportamento de mobilidade das espécies de peixes migradoras têm ao longo da subida das águas, por parte dos pescadores, que sabem quando e por onde os peixes se deslocam para os ambientes alagados para proteção e alimentação durante a enchente, assim como no momento de vazante, quando os peixes saem desses ambientes em função da redução do nível das águas, aproveitando para otimizar as capturadas (CUNHA, 2011).

Em relação aos piores períodos para a pesca, os pescadores das comunidades de Jurunduba (86%) e Jussarateua (55%) destacarm o período de seca, enquanto os de Pariço mencionaram a cheia como pior época para se pescar (46%). De acordo com Soares et al. (2009), o aumento da área alagada permite a ampliação de habitats e, assim, os peixes encontram refúgio tornando-se menos vulneráveis a pesca. No período da seca a retração das águas e concentração dos peixes nos poços e igarapés facilita a pesca, porém, isto não é observado pelos comunitários das comunidades de Jurunduba e Jussarateua, o que pode estar relacionado com a pequena quantidade de espécies residentes (não migradoras - sedentárias) exploradas nestes locais e o maior número de espécies migradoras exploradas.

Nas três comunidades o melhor turno para a realização das atividades de pesca é o noturno. A preferência por esse período se deve ao maior número de espécies disponíveis no ambiente, uma vez que a grande maioria das espécies possuem hábitos crepusculares ou noturnos para caçar suas presas.

Os ambientes mais utilizados para a pesca são os lagos (78%), seguido dos rios (12%). Resultado que demonstra o conhecimento que os pescadores têm acerca da distribuição das espécies que exploram, uma vez que estes locais possuem águas ricas em nutrientes e partículas em suspensão (JUNK, 1984), possuindo uma grande diversidade de espécies que são amplamente utilizadas para a subsistência quanto para o comercio (LOWE-MCCONNEL, 1999). Tais áreas constituem um dos mais importantes sistemas aquáticos amazônicos em termos de biodiversidade de peixes e valor comercial (SIOLI, 1984). Os lagos de várzeas desempenham um papel fundamental no ciclo de vida de várias espécies migradoras, atuam como área de berçário essencial para a sobrevivência de larvas, como fonte de alimento e abrigo para várias espécies (COX-FERNANDES e PETRY, 1991; LOWEMCCONNEL, 1999), além destes ambientes favorecem a atividade pesqueira, sendo esta a atividade responsável pela principal fonte de proteína e renda para muitas comunidades ribeirinhas (QUEIROZ e CRAMPTON, 2004).

Apesar de não conhecerem cientificamente que estes ambientes são fundamentais para o desenvolvimento de muitas espécies de peixe, uma vez que possuem alto teor de nutrientes que são constantemente renovados, favorecendo a diversidade de espécies de vegetação que contribuem na alimentação dos peixes (JUNK, 1986), os pescadores foram enfáticos em afirmar que os lagos são mais produtivos e são os ambientes que tem maior quantidade de espécies diferentes.

Quando questionados sobre seus conhecimentos a respeito dos hábitos alimentares dos peixes encontrados nestas comunidades, foi verificado que estes pescadores possuem um amplo conhecimento sobre o tipo de alimento que cada espécie consome (Tab. 1). Resultados semelhantes foram verificados por Rebelo (2008), concluindo que as comunidades ribeirinhas possuem conhecimentos consistentes e condizentes com resultados científicos de analises de conteúdo estomacal.

Tabela 1. Espécies de peixes frequentemente encontradas e seus hábitos alimentares, segundo a observação dos comunitários da comunidade de Jurunduba, Jussarateua e Pariço.

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Espécies Jurunduba Jussarateua PariçoAlimento consumido

Acarí (Hypostomus affinis) Barro, frutos, limo e lodo

Barro, frutos, limo e lodo

Barro, detrito e limo

Aruanã (Osteoglossum bicirrhosum) Insetos Peixe, Inseto -

Aracu (Leporinus agassizi) Frutos e insetos Frutos, insetos e peixes pequenos

Capim, limo, frutos e peixes

pequenosCarauaçu (Astronotus sp.) Caranguejo, camarão

e Peixes pequenosCrustáceos, ensetos e

peixes -

Curimatã (Prochilodus sp) Limo e lodo Barro e limo Limo e lodoPacú (Piaractus mesopotamicus) Camarão e frutos - -

Pescada (Plagioscion squamosissimus)

Camarão, caranguejo, insetos e peixes

pequenos- -

Pirapitinga (Piaractus brachypomus)

Frutos e peixes pequenos - -

Surubim (Pseudoplatystoma fasciatum)

Camarão e peixes pequenos - -

Tambaqui (Colossoma Macropomum) Frutos Capim, frutos e limo

Caranguejo, capim, frutos,

limo,Tucunaré (Cichla spp.) Peixes pequenos Frutos Insetos e peixes

pequenos

Isso mostra que os pescadores artesanais possuem um detalhado conhecimento sobre a ecologia das espécies de peixes exploradas e do meio ambiente em que vivem, e que esse conhecimento influencia suas decisões sobre as estratégias de pesca em função dos hábitos alimentares das espécies, padrões de deslocamentos dos peixes e do conhecimento sobre os diferentes ambientes existentes nos rios (SILVANO, 2004; LEME e BEGOSSI, 2004).

4- CONCLUSÃO

Os habitantes destas três comunidades do município de Monte Alegre mostraram ter um grande conhecimento sobre a dinâmica do ambiente em que estão inseridos, e de todos os seus processos ecológicos. Esta intrínseca relação com os recursos naturais permitiu a população acumular conhecimentos que os auxiliam em suas atividades do cotidiano e principalmente como forma de sobrevivência.

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