Warren Buffett, capitalista radical...Warren Buffett, o capitalista radical Perfil do terceiro homem...

7
Warren Buffett, o capitalista radical Perfil do terceiro homem mais rico do mundo, que defende que os milionários têm de pagar mais impostos

Transcript of Warren Buffett, capitalista radical...Warren Buffett, o capitalista radical Perfil do terceiro homem...

Warren Buffett, o capitalista radicalPerfil do terceiro homem mais rico do mundo, que defende

que os milionários têm de pagar mais impostos

Warren Buffett doou

praticamente toda a sua

fortuna para fins humanitários

e defende que os milionários,

como ele, têm de pagarmais impostos. Acha até

que as escolas privadas

podiam acabar, para os ricos

inscreverem os filhos no

ensino público. Além disso,

não acredita na regulação dos

mercados nem na limitaçãodos salários dos executivos

POR RANA FOROOHAR

Acredita

no lucro. Acre-

dita na justiça e na ca-

pacidade do Governode fazer com que as

pessoas vivam melhor.Mas acredita, sobre-

tudo, na sorte. «Tive toda a sorte», dizBuffett. «Começou pelo facto de ter nas-

cido neste país, por ter nascido homem,em 1930.»

Genes, sorte e local de nascimento

podem ter ajudado Buffett a tornar-seo homem mais rico do mundo. Mas, no

ano passado, a sua boa sorte também fez

dele um dos mais inesperados radicaisda América. O fervoroso capitalista exi-

ge impostos mais altos para os ricos e

mais gastos do Estado com os restantescidadãos. Embora abra mão de 99% da

sua fortuna de 45 mil milhões de dólares,

age menos por um sentimento de nobre-za e mais por um sentimento de ultraje.O país que o fez rico é brando com os mi-lionários, tem uma cultura de egoísmo e

de perda de oportunidades. «Podemosenfrentar qualquer desafio, mas não se

o povo sentir que estamos numa pluto-cracia», diz. «Temos de levar a sério o

sacrifício partilhado.»Sacrifício partilhado, para Buffett, sig-

nifica não só impostos mais altos para os

ricos mas também menos políticas de

curto prazo. Gostaria de ver os lucrosdas transações especulativas mais taxa-dos. Considera que os administradoresde instituições publicamente resgatadasdeviam ser responsabilizados por tudoo que têm, se essas suas instituições fa-

? lhassem. Só está meio a brincar quandodiz que gostaria de ver as escolas priva-das proibidas, para obrigar as famíliasricas a investir no ensino público. Ne-nhum Buffett alguma vez frequentou,em Omaha, uma escola privada, refere,com orgulho. E defende uma reformu-

lação completa dos cuidados de saúde, a

que chama «uma ténia na América», algo

que reduz ainda mais a competitividadeempresarial que os impostos.

É o oposto do darwinismo capitalis-ta, defendido por muitos conservadores

ilustres, para quem o mercado é o único

meio de distribuição de riqueza. «O sis-

tema de mercado paga-me divinamente

pelo que faço», diz Buffett, «mas isso não

significa que eu mereça uma vida melhordo que um professor, um médico ou al-

guém que combate no Afeganistão.»Não quer impedir os corretores de bol-

sa de ganharem milhões: «O capitalismolibertou mais potencial humano do quequalquer outro sistema na História.»Mas, acrescenta, «precisamos de umsistema fiscal que cuide muito bem das

pessoas que não estão bem adaptadasao sistema de mercado, mas que fazemcoisas úteis para a sociedade». Tomem

nota, agentes do mercado de capitaise predadores empresariais do mundo:os vossos impostos, mais altos, devemsubsidiar os construtores de pontes e os

educadores de infância.Em Washington, onde a teoria eco-

nómica é agora um jogo partidário, a

perspetiva de impostos mais altos e re-distribuição dos rendimentos enraivece

os republicanos e os seusaliados na banca e no mun-do empresarial. O republi-cano Mitch McConnell dis-

se, cm setembro passado, que se Buffettse sente culpado, basta que «envie um

cheque». Os republicanos propuseram,depois, uma regra que permitiria aos mi-lionários - e McConnell c um deles - pa-

garem voluntariamente mais impostos.Buffett pagou uma taxa de imposto de

apenas 11% sobre o rendimento bruto de

62,8 milhões de dólares, em 2010. Após

deduções, a maioria das quais contribui-

ções humanitárias, pagou uma taxa, ain-da baixa, de 17% sobre o seu rendimentocoletável de 39,8 milhões de dólares. Os

rendimentos das pessoas que trabalhamno seu escritório, contudo, foram alvo

de uma taxa de 30 por cento. Interrogadosobre se alguma vez encarou passar um

cheque no valor que acha que deveriamser os seus impostos, afirmou: «Já penseinisso. Mas aquilo em que mais pensei,

porque Mitch McConnell falou disso, foioferecer-me para igualar o total de con-

tribuições voluntárias feitas por todos

os membros republicanos do Congres-so. Vou pedir meças a qualquer republi-cano. E vou triplicar as de McConnell.»E ironiza: «Nem estou preocupado. » Aos

81 anos, Buffett declara estar numa posi-

ção única para falar. «Se não falar agora,quando vou falar? Como diz o meu só-

cio Charlie, é como poupar no sexo, paraquando formos velhos! »

0 mundode BuffettQuando o 1%encontra os99 por centoA sua fortunaestá avaliada em45 mil milhõesde dólares

COMPRAR E FICARUma vez, chamou à sua casa,

comp'ada por 31 500 dólares,em 1958, a loucura de Buffett.

Agora, diz que foi o seu terceiromelhor investimento (os outrosdois correspondem aos seus

casamentos)

CRUISE CONTROL'Conduz um CadillacDTS de 2006, quecomprou para apoiaro antigo administra-dor em apuras da

GM.RickWagoner.Diz que é«um bominvestimento e umcarro lindíssimo»

MEDIDAS DE AUSTERIDADE

A razão pela qual as pessoas escutam Bu-ffett é que, no que respeita a finanças,ele tem muitas vezes razão. Mas tambémtem aver com o facto de não ser como ou-tros milionários. Não vive numa luxuosailha isolada, mas em Omaha, numa casa

de cinco assoalhadas de uma rua despre-tensiosa. Comprou-a por 31 500 dólares,em 1958. O grupo que gere, o Berkshire

Hathaway, detém 76 empresas - desde

uma companhia de rebuçados a um for-necedor de eletricidade - que liberta milmilhões de dólares por mês, e detém par-ticipações significativas em muitas das

grandes empresas dos EUA, incluindoa Coca-Cola, American Express, IBM e

a Procter & Gamble. As suas despesasanuais, estima, não ultrapassarão 150mil dólares. A cantina da companhia, no

seu pequeno escritório, por onde cos-tuma circular a apagar as luzes das salas

vazias, tem uma mesa de madeira car-comida, um sofá de imitação de couro e

balcões forrados a fórmica.

Os seus hábitos de investimento são

tão austeros como a decoração. Na erada alavaneagem, foge da dívida, prefe-rindo manter sempre à mão entre 10 milmilhões e 20 mil milhões de dólares emativos - «para poder dormir mais tran-quilo», diz.

Cresceu em Omaha e Washington, fi-lho de um congressista, e chegou a ser

presidente do Clube de Jovens Republi-canos da Universidade da Pensilvânia.

Hoje, é o mais famoso apoiante do Pre-sidente Obama, um cruzado por impos-tos mais altos para os milionários. Como

escreveu, num artigo de opinião no NewYork Times, no verão passado, no qual re-feriu que a sua taxa de imposto era maisbaixa que a do seu pessoal, Washingtontem que «parar de dar palmadinhas nos

super-ricos». Os milionários, acrescen-

ta, devem pagar mais impostos - muitomais. E as empresas, certamente, nãodevem pagar menos.

O seu receio é que nesta era de capita-lismo tardio, as próximas gerações não

tenham a sorte que ele teve. É provável,diz, que o problema da desigualdade se

agrave. A solução, para ele, é óbvia: «As

pessoas que retiram dinheiro dos recur-sos das sociedades - como eu, para o meuavião - devem pagar muito por isso.»Isso significa não só impostos mais al-

tos para os ricos e um imposto sobre o

consumo extremamente progressivo, ao

estilo europeu, mas também menos es-

capatórias para as empresas. Buffett diz

que é «di sparate» afirmar que as taxas de

IRC são demasiado elevadas nos EUA e

pensa que as empresas não devem poder

repatriar lucros isentos de impostos: é

só incentivar mais fluxo de investimen-

to para o estrangeiro. Em geral, diz ele,«acho mistificador o argumento de queprecisamos de impostos mais baixos

para criar emprego, pois tivemos os im-

postos mais baixos esta década e talvez a

pior criação de emprego de sempre».

GOSTOS DA VELHA ESCOLA

Estamos em princípios de dezembro,em Omaha, e a neve bate no para-brisasdo Cadillac DTS bege de Buffett. Comum casaco desportivo simples, com o seu

dispositivo de auxílio à audição aponta-do para o lado do passageiro, leva-nos a

almoçar no Happy HollowClub. O carronão tem tração às quatro rodas e patina,

enquanto Buffett, um falador entusiasta,tira as mãos do volante para gesticular.Pergunto-lhe por que razão não tem um

motorista, e ele ri-se: «Oh, treta! As pes-soas achariam ridículo não ser eu pró-prio a conduzir.»

É domingo de manhã, e o local estácheio de famílias que parecem ter vindoda igreja. Buffett tem um rosto envelhe-

cido, mas mexe-se com agilidade. En-che um prato com batatas fritas, bacone bife grelhado. Apesar da sua dieta da

era Eisenhower, que inclui 180 mililitrosde Coca-Cola por dia, mantém-se sur-

preendentemente esguio. «Não proveibrócolos ou espargos, este ano», conta.«Formei a minha ideia de alimentaçãoaos s anos, e não a alterei.»

Os gostos culturais de Buffett são,

igualmente, da velha escola. O seu íco-ne de beleza é Sofia Loren; e seu filme

preferido A Ponte do Rio Kwai. E os seus

pontos de vista sobre redistribuição da

riqueza remontam ainda mais longe,aos tempos do democrata progressista

William Jennings Bryan (1860-1925),para quem «se legislarmos com vista a

tornar as massas prósperas, a sua pros-peridade arranjará maneira de passarpara todas as classes que estejam mais

a cima». O avô materno de Buffett eraum ardente apoiante de Bryan, mas o paiera conservador. Filho de um merceeiro

que se tornou corretor e cumpriu quatromandatos como congressista republica-no, tinha aversão a qualquer sistema de

classes, bem como a dívidas.

Apesar das divergências políticas queiriam emergir entre eles, Howard Bu-ffett era e é um herói para o filho. Comoescreve Alice Schroeder, autora de umaexcelente biografia de Buffett - Snow-ball - Howard era «o congressista me-nos dado a palmadinhas nas costas quealguma vez representou o seu Estado».

Chegou a rejeitar um aumento salarial,

porque os seus eleitores o tinham eleitocom um ordenado mais baixo. E ficavachocado com o modo como os seus paresarranjavam tachos aos amigos, familia-res e amantes e inventavam despesas.

A propensão de Howard para agir combase na sua consciência influenciou pro-fundamente o filho. O seu retrato está

no gabinete de Buffett, a par de outrostesouros - um diploma que recebeu ao

concluir um curso de Dale Carnegie so-bre «como fazer amigos e influenciar

pessoas»; um Prémio Pulitzer de 1973

por um artigo sobre má gestão financei-

ra, no Boys Town, atribuído ao OmahaSun (de que Buffett era então proprietá-rio - no mês passado, adquiriu o Omaha

World-Herald); e a Medalha Presiden-cial da Liberdade, que lhe foi atribuída

pelo Presidente Obama.O outro herói de Buffett é a sua pri-

meira mulher, Susan Thompson Buffett,

que morreu de cancro, em 2004. «Emtudo o que foi escrito sobre mim, nuncasenti que fosse feita remotamente jus-tiça à minha mulher», diz Buffett. «Erauma pessoa incrivelmente sensata e boa.Não diria o mesmo de mim.»

Conheceram-se no anos 50, atravésda irmã de Warren, Bertie, que frequen-tava a Universidade Northwestern comSusie. Casaram-se passados dois anos,

depois de Buffett ter frequentado, du-rante um período, a Columbia Business

School, em Nova lorque, e de ter idotrabalhar como investidor, primeiro emWall Street, e, a seguir, para si mesmo,em Omaha. «Foi ela quem me formou»,o que, de acordo com todos os relatos,é verdade. Susie tomava conta de tudo,desde o vestuário de Warren, da lida da

casa e da educação dos três filhos, até à

orientação da vida social do casal. A mãede Warren, Leila, era uma mulher difícil,dada a histerias e ataques verbais con-tra os filhos. Susie afastou-se, de modo a

que Warren pudesse fazer aquilo em queera bom - ganhar di nheiro.

k 0 capitalismo libertoumais potencial humanodo que qualquer outrosistema na história'

SEGUNDAOPORTUNIDADEAstnd Menks, sua

segunda mulher, umaantiga empregada do

French Café, em Omaha

UM DOCENEGÓCIOA Berkshire Hathawayadquiriu a Dairy Queen,em 1998. Buffett é

frequentemente visto

a mascar Dillyßars(chupa-chupa de

chocolate)

PODER DE ESTRELASofia Loren, nos seus

tempos áureos. «Ela era'a' mulher», diz Buffett,

que gostaria de reencar-nar como namorado daatriz

A GRANDE EXTRAVAGÂNCIADeu o nome de Indefensável aoseu jato. Diz que gasta 1 milhãode dólares por ano com as suas

viagens aéreas

RESTAURANTEComo muitas coi-

sas de que Buffett

gosta, este restau-rante de Omahaé propriedade da

sua família. Prefere

parmigianadevacae galinha

INFLUÊNCIAS DA EX-MULHER

Mas também foi responsável por trans-formações mais profundas, como a

conversão de Warren de republicano a

? democrata. Defensora dos direitos cívi-

cos, Susie envolveu-se na luta pela inte-

gração racial, no Omaha nos anos 60, ao

ponto de apoiar os negros que queriam

comprar casa, em bairros de brancos. E

levou Warren a escutar pessoas comoMartin Luther King Jr. Um discurso, em

particular, pronunciado no Grinnell Col-

lege do lowa, tornou-se um ponto de vi-

ragem para Buffett. O tema era «Manter--se acordado durante uma revolução», e

uma frase, em especial, marcou o joveminvestidor: «Pode ser verdade que a leinão muda o coração», disse King, «mas

pode conter aqueles que o não têm.» Foi

algo em que Buffett começou a meditar

profundamente. Levado por Susie, en-volveu-se mais na política liberal, con-tribuindo para acabar com as regras de

admissão antissemitas, no Omaha Club,e fazendo recolha de fundos para os de-

mocratas, a nível nacional.

Pela primeira vez, houve espaço navida de Warren para outras coisas, além

de ganhar dinheiro, e isso foi obra de Su-

sie. Mas a dicotomia acabou por resultarem separação. Depois de criados os três

filhos, Susie, que ansiava por uma vida

ligada às artes e à cultura que nunca po-deria ter em Omaha, e que queria seguiruma carreira de cantora, decidiu trocara sua casa por um apartamento, em São

Francisco. Warren concordou.

Mas Susie preocupava-se com War-

ren, que era socialmente inepto. «Tenho

sorte, quando consigo que se penteie»,disse ela. «Precisa de ajuda.» De modo

que o apresentou à sua amiga AstridMenks, empregada de umrestaurante francês local,

que acabaria por tornar-seamante de Warren e, após

a morte de Susie, sua mulher. Passados

sete anos sobre a morte de Susie, Buffettainda não se adaptou. Quando lhe per-guntamos se lamenta ter estado afastadodela nos seus últimos anos, insiste: «Nãovivíamos separados. Estivemos ligados,nos últimos anos da sua vida, talvez mais

ligados do que nunca. Tínhamos a mes-

ma visão do mundo. Só não queríamosviver da mesma maneira.»

Então, o seu rosto contorce-se e re-benta em lágrimas. «A sua morte é

- é terrível», geme, com a voz a tremer.«Ainda não consigo falar disso.» É pre-ciso algum tempo para Buffett recupe-rar. Estamos sentamos à mesa, com vista

para o campo de golfe do Happy Hollow

Club. Coloco a mão no seu braço. Acaba-

mos por passar para um tema mais fácil:

os seus investimentos.

FIGURA POPULAR Buffett fez o primeirolançamento do jogo de baseball entreos Kansas City Royals e os Houston Astros

& Tenho a certeza deque as pessoas farãomais negócios daquia 10 anos do que hoje'

ATIVOSMADE IN AMERICA

Quem ler a imprensa financeira sabe queBuffett é um «investidor de valor» - com-

pra empresas e ações cotadas por menosdo que valem. É uma capacidade que ad-

quiriu com o seu professor da Colum-bia Business School, Benjamin Graham,

cujo livro The Intelligent Investor Buffett

memorizou, no início da carreira. O in-vestimento de valor é uma tarefa queenvolve exame minucioso do balançode uma empresa. Era um trabalho parao qual Buffett - um rato de números, quetinha lido todos os livros da bibliotecapública de Omaha aos n anos e que gostade folhear os Manuais da MoodVs, nashoras livres, enquanto come batatas fri-tas - estava bem preparado.

Mesmo agora, consegue recordarquantidades prodigiosas de dados, in-cluindo o valor do Dow, em 1932. Buffettacredita que quando o mercado imobi-liário recuperar, a economia dos EUAvoltará aos carris. «Logo que voltemosa construir um milhão de casas por ano- atualmente constroem-se 685 mil - os

descrentes ficarão surpreendidos coma rapidez com que o desemprego baixa-rá neste país», prognostica. «Todos os

anos, 4 milhões de pessoas atingem os 22

anos, nos EUA. Decerto que se pode vi-ver cm casa dos pais por um tempo, mas,a dada altura, as hormonas começam a

falar mais alto.» O que vai acontecer, en-tão? «Tenho a certeza absoluta de que as

pessoas, neste país, farão mais negóciosdaqui a 10 anos do que hoje.»

É mais fácil ter uma visão otimistada América, a partir de Omaha, onde o

desemprego não ultrapassa 4% s as em-

presas familiares abundam, mas Buffettinsiste que a sua posição não é emocio-nal e sim quantitativo. A demografia bá-sica favorece os EUA em relação a quasetodos os países ricos do mundo. E coma América empresarial tão fraca e os in-ventários tão baixos, o motor do cresci-

mento, em sua opinião, terá de arrancarem breve.

Os números tem sido bons, nos últi-mos meses: os pedidos de subsídio de

desemprego diminuem, a confiança do

consumidor sobe. Boas notícias para o

Berkshire, já que a carteira de Buffett é

constituída quase exclusivamente porgrandes companhias americanas. Mes-mo no meio da crise financeira e da re-cessão que se lhe seguiu, continuou a

comprar americano. O Berkshire gastou15,6 mil milhões, nos 25 dias que se se-

guiram ao colapso do Lehman Brothers,em setembro de 2008, adquirindo mui-tos ativos baratos. Apesar de o Berkshire

ter desvalorizado 9,6% em 2008, Buffett

conseguiu fazer melhor que a esmagado-ra maioria e surgiu como uma influência

estabilizadora, durante a crise financei-

ra, falando a favor dos esforços de ges-tão do Governo. Escreveu, no New York

Times, uma carta de agradecimento ao

Querido Tio Sam pelos resgates da Admi-

nistração Obama. «Pode ver o que acon-tece quando se tem um plano B, comoaconteceu na Europa, onde as pessoasforam capazes de dar as mãos», observa.

Em 2009, quando os investidores esta-vam a retirar dinheiro dos EUA e a colo-cá-lo nos mercados emergentes, Buffett

comprou a BNSF (Burlington NorthernSanta Fe), a maior empresa ferroviáriado país, por 33 mil milhões de dólares.Revelou-se «a aquisição mais importan-te que o Berkshire alguma vez fez», su-blinha o investidor. Foi uma aposta nos

preços mais elevados da energia (que

iriam favorecer o transporte ferroviá-rio a carvão em relação às empresas de

camionagem), bem como numa retoma

geral da procura. «Com o tempo, o movi-mento de mercadorias, nos EUA, vai au-

mentar, e a BNSF terá a sua quota parte»,escreveu, no relatório anual de 2010 do

Berkshire Hathaway. «Buffett adquiriuum negócio imensamente estável, que,

previsivelmente dará lucros, por cercade metade do seu valor», diz WhitneyTilson, um gestor de fundos.

Muitos investimentos de Buffett não

são apostas apenas na América mas,também, na capacidade das empresasamericanas de continuarem a exportarcapitalismo para o mundo. Companhiascomo a American Express, Coca-Cola,Kraft e Procter & Gamble são gigantesglobais que vão buscar aos mercados

emergentes uma parte cada vez maior do

seu crescimento. Ao mesmo tempo que

pagam dividendos de forma continuada.

São, sob muitos aspetos, mais seguras

que as obrigações do tesouro dos EUA,que Buffett continua a deter como par-te do seu pé-de-meia, mas frugalmente.Prefere sempre, como referiu recente-

mente, adquirir «ativos produtivos».

ADMIRADOR DE LUTHERKING

Os investimentos de Buffett podem não

ser vistosos, mas foram quase sempreinteligentes. Embora o valor do Berkshi-

re Hathaway ainda seja um pouco infe-rior ao que valia antes da crise, muitasdas maiores empresas do grupo vão a

caminho de um ano recorde. Há 47 anos,uma ação do Berkshire Hathaway estavacotada em 19 dólares. Hoje, vale 116 914dólares.

Perguntámos a Buffett se, quando co-

meçou, o seu objetivo era ser o homemmais rico do mundo. «Sabia que queriaganhar muito dinheiro. Mas porque sa-

bia que queria ser independente. Eramuito importante para mím. O dinheiro,em si, vai todo para fins humanitários»,afirma Buffett, que, em 2006, destinou

99% da sua riqueza pessoal para esses

fins, com a maior parte a ir para a Funda-

ção Bill & Melinda Gates.

Quando não está a dar, está a ensinar.Muitos dos ricos e famosos procuram os

seus conselhos sobre negócios e filan-

tropia. Entre os visitantes recentes, con-tam-se o chefe da Fiat, John Elkann, e a

baronesa de Rothschild, que Buffett le-vou ao Piccolo's, o modesto restaurante

italiano familiar, onde estamos a jantar.«Ela adorou isto», diz Buffett.

A sua atual independência permitiu--lhe falar politicamente, nos últimos me-

ses, algo que o financeiro avesso a confli-tos evitou ao longo da maior parte da sua

carreira. Quando interrogado acerca de

algum dos poucos acontecimentos con-troversos da sua vida, Buffett refere-se à

queda na ignomínia do antigo menino de

ouro da Berkshire, David Sokol (que se

demitiu depois de revelar que comprouações de uma companhia antes de a pro-por como alvo de aquisição). E algo que«simplesmente não percebo». Atribui à

agência de notação Mood/s e ao bancode investimento Goldman Sachs - tendo

participação em ambos - um comporta-

mento duvidoso durante a crise finan-

ceira, já que ambos fizeram parte de uma

«alucinação de massas. Toda a gentesentia que as casas não podiam baixarde preço».

Ao contrário de muitos liberais, nãoacredita muito na regulação para conteros excessos das empresas. Não quer es-

magar o espírito animal de Wall Streetnem controlar a volatilidade do mercado

ou limitar os salários dos executivos porlei; uma melhor política fiscal trataria de

tudo isso, em sua opinião. Não teme quea crescente desigualdade social resulteem agitação social. «Não penso que este

seja um país com veia para a instabili-dade social. Quero dizer, o teste clássi-

co foram as eleições de 2000. Se pensarnisso, metade das pessoas da Américasentiram que tinham sido enganadas e,

no dia seguinte, todas foram trabalhar.»Mas quanto a impostos e ao descrédito

da política partidária, não poupa nas pa-lavras. Ficou horrorizado com o fracas-

so do teto da dívida, no verão passado,e desapontado com os muitos homensda finança que, tendo apoiado Obama e

recebido os benefícios dos resgates, não

estão dispostos a defender o aumentode impostos para ajudar a controlar o

défice.

Quanto ao Presidente Obama - caso

seja reeleito - Buffett gostaria de o verdizer a verdade ao povo americano so-bre o caminho a seguir. «Penso que o

povo americano reagiria bem ao sacri-fício partilhado se fosse, efetivamente,partilhado e soubesse o que esperar»,diz. Buffett considera que o Presidente

perdeu uma oportunidade de fazer isso

bem quando tomou posse. Mas acredita

que ainda o pode fazer. «Temos de dizeràs pessoas que o caminho vai ser longo.Temos muitas casas assombradas. Nãovão desaparecer. Esta recuperação háde demorar muito tempo. E a crise fi-nanceira deixou à vista muitas falhas no

nosso sistema.» Mas as falhas podem ser

corrigidas. Com as regras certas, afirma

Buffett, o nosso sistema pode voltar a

funcionar. «É como dizia Martin Luthcr

King. Não estamos a tentar mudar o co-

ração. Estamos a tentar conter aqueles

que o não têm.» E pergunta: «Não é paraisso que serve o Governo?» Q

0 que fariaWarren?As soitições doinvestidor paraestancar a crise

NÃO BAIXAR O IRC«A ideia de que as empresas ame-ricanas estão em grande desvan-

tagem em relação às do resto do

mundo por causa dos impostoselevados é uma treta»

IMPOSTOS MAIS ALTOSPARA OS RICOSBuffett gostaria de ver as pessoasque ganham dinheiro com investi-

mentos a pagar mais que aquelas

que o ganham com o trabalho

NÃO AO REPATRIAMENTODOS LUCROSPermitir que as empresas repatriemos seus lucros isentos de impostoscria uma vulnerabilidade moral

SER MAIS DUROCOM OS GESTORESDevem devolver o salário de cinco

anos se a sua empresa for alvo de

resgate; os administradores e suas

esposas devem ser responsabiliza-dos com base em tudo o que têm

ACABAR COMAS ESCOLAS PRIVADASDiz (só meio a brincar) que, sehouvesse menos destas escolas, asfamílias mais ricas investiriam nosistema educativo público

© 2DI2.TIME Inc Todos oádiiditosreaervadoí. Traduzido

d£ TNE Magaz nee pLblicadcccm autorização c?TIMF ln(