Wanessa de Castro Artigo Educon 092011
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COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO NO CONTEXTO DA
EDUCAÇÃO DO CAMPO
Artigo que será apresentado no V Colóquio Internacional Educação e
Contemporaneidade, em setembro/2011.
Wanessa de Castro i
Márcio Ferreira ii
Eixo temático 8: Tecnologia, Mídias e Educação
Resumo:
Novos caminhos rumo a uma perspectiva de formação de educadores vinculada às causas, aosdesafios, à cultura e à história de resistência dos povos do campo são construídos pela
Licenciatura em Educação do Campo da UnB, a LEdoC-UnB. Este artigo tem como objetivoapresentar os alguns elementos desta formação, dando ênfase às estratégias de produção deconhecimento ligadas às tecnologias da informação, comunicação e expressão. Apresenta,também, parte de pesquisa que está em curso onde os educandos constroem conhecimentosacerca da educação mediada por computador a partir da produção de objetos de aprendizagemvinculados à sua realidade no campo.
Palavras-chave: Educação do Campo; Tecnologias de Informação, Comunicação eExpressão; Formação de Educadores.
Abstract: New roads to the prospect of teacher training linked to the causes, challenges, culture and
history of peoples' resistance of the field are constructed by the Rural Education Degree fromUNB, the LEdoC-UnB. This article aims to present the elements of this training, withemphasis on strategies of production of knowledge related to information technology,communication and expression. It also presents part of research that is underway in whichlearners build knowledge about education mediated by computer from the production of learning objects linked to their reality in the field.
Keywords: Rural Education; Information Technology, Communication and Expression;Training for educators.
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COMUNICAÇÃO E TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO NO CONTEXTO DA
EDUCAÇÃO DO CAMPO
Introdução
O século XXI se apresentou cheio de novidades que nunca se havia imaginado noinício do século anterior. Uma nova revolução tecnológica veio se construindo no decurso das
últimas décadas dos anos de 1900. Esta revolução é chamada por Castells (2003) de Terceira
Revolução Industrial, ou a Era do Informacionalismo e iniciou-se na década de 1970. A título
de lembrança as outras duas revoluções industriais foram: a primeira, aquela que resultou da
invenção da máquina a vapor, no século XVII, e se caracterizou pela substituição das
ferramentas manuais por máquinas; a segunda revolução surgiu como consequência do
aproveitamento da produção fabril de grande escala.
Muito se evoluiu, nestas últimas décadas, em todas as áreas do conhecimento e osmeios de comunicação sofreram grandes transformações influenciando, de maneira mais
significativa, nas relações sociais e comerciais. Enfim, podemos dizer que o mundo mudou
rapidamente nos últimos tempos e a educação tem se transformado a passos muito lentos.
Por outro lado, apesar de toda transformação ocorrida, os alimentos continuam sendo
produzidos no campo e não se pode prescindir de sua produção agrícola e pecuária. O campo
tem papel crucial na sobrevivência de todas as pessoas, muito pouco se tem feito para o bem-
estar dos sujeitos que ali vivem, trabalham, estudam. A maior parte das políticas públicas que
se tem estabelecido é voltada para o meio urbano, bem como aquelas voltadas à educação
escolarizada. Assim, ano após ano, as pessoas são obrigadas a saírem do campo, local onde
construíram suas raízes, para estudar na cidade ou em outras comunidades distantes, por falta
de opções em suas próprias comunidades.
Apesar disso, temos presenciado uma quebra do silenciamento1 sobre o campo
brasileiro nas pesquisas sociais e educacionais, silenciamento este que acontece a partir da
mobilização de educadores do campo organizados, pesquisadores, universidades e educadores
inseridos em movimentos sociais espalhados por todo o país, sujeitos esses que se colocam a
serviço da construção de uma verdadeira Educação do Campo, que esteja vinculada a um
novo projeto de nação para o Brasil.
Nesta perspectiva,
Este movimento de Educação do Campo está ajudando a produzir um novo olhar
1 Termo utilizado por Arroyo, Caldart e Molina na apresentação do livro “Por uma educação básica docampo”, p.08, Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.
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para o campo. E faz isso em sintonia com toda uma nova dinâmica social devalorização deste território e de busca de alternativas para melhorar a situação dequem vive e trabalha nele. Uma dinâmica que vem sendo construída por sujeitos que já não aceitam que o campo seja lugar de atraso e de discriminação, mas simconsideram e lutam pra fazer dele uma possibilidade de vida e de trabalho paramuitas pessoas, assim como a cidade também deve sê-lo; nem melhor nem pior,apenas diferente; uma escolha. (UnB-FUP, 2009a, p. 5)
Uma destas iniciativas em prol de uma educação do campo contextualizada, voltada
para a construção e reconhecimento de saberes plurais, também denominados por Boaventura
de Sousa Santos (MORAES, 2008, p. 20) como ecologia de saberes, é a Licenciatura em
Educação do Campo, que já acontece em algumas universidades públicas brasileiras, dentre as
quais, a Universidade de Brasília.
O texto que se segue é o relato ainda preliminar do trabalho que é fruto de um projeto
de pesquisa de doutoramento na área de Educação e Ecologia Humana da Universidade de
Brasília. Como o projeto está em andamento, ainda não é possível apresentar resultados finais, porém vários conhecimentos têm sido desencadeados a partir do processo já iniciado e
tencionamos apresentá-los neste paper . O artigo foi dividido em cinco partes em que
tratamos, em primeiro lugar, de fazer uma apresentação da Licenciatura em Educação do
Campo – UnB com a finalidade de contextualizar a pesquisa em realização.
A seguir, trazemos a importância do uso das Novas Tecnologias de Informação,
Comunicação e Expressão no contexto da educação do campo e justificamos a necessidade
da realização da pesquisa ora apresentada. Dando sequência, no tema Formação docente
para atuar com educação mediada por computador, é delimitada a concepção de educação
e de uso das tecnologias com as quais trabalhamos. Mais à frente, o leitor terá contato com
uma explicação sucinta sobre o percurso metodológico que está sendo adotado nesta
investigação ainda em construção. Por fim, são delineados limites e perspectivas das novas
estratégias formativas a partir do quadro retratado e das expectativas dos sujeitos envolvidos
na pesquisa e na formação como um todo.
A Licenciatura em Educação do Campo na UnB
A Licenciatura em Educação do Campo da Universidade de Brasília – LEdoC –
habilita educadores para atuarem nos anos finais do Ensino Fundamental e também no Ensino
Médio, por meio de uma estratégia de formação docente que tem como principal
característica a formação multidisciplinar, capacitando estes educadores para o
desenvolvimento de práticas docentes em grandes áreas de conhecimento. Além disso, o
curso tem como perspectiva a preparação de educadores para uma atuação profissional que
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vai além da docência, ou seja, inclui também a formação para a gestão dos processos
educativos que acontecem na escola e na comunidade, bem como para produção de materiais
específicos para o trabalho em escolas do campo (UnB-FUP, 2009a).
Como características essenciais diferenciadoras em relação a outras licenciaturas é que
a metodologia, por ter como foco grupos sociais do campo, utiliza-se da Pedagogia daAlternância2, tendo diferentes tempos e espaços formativos em sua execução. Existem os
períodos de formação que acontecem na universidade proponente, denominados Tempo
Escola, e existem os períodos de formação nas comunidades rurais das quais se originam estes
sujeitos, chamados de Tempo Comunidade, nos quais são desenvolvidas práticas educativas
em diferentes áreas de conhecimento, com a presença e o acompanhamento dos docentes da
universidade que é responsável por sua oferta. Além disso, já existem registros de uso do
ciberespaço como espaço de interlocução em complemento a estes dois tempos formativos. A
intencionalidade pedagógica desta metodologia é oportunizar, durante a própria formaçãodestes estudantes, a construção de práticas como agente de desenvolvimento rural nas
diferentes áreas de atuação para as quais estão sendo preparados a atuar como profissionais da
educação (UnB-FUP, 2009b).
Fazer esta contextualização mostra-se relevante ao principalmente pelo fato de que a
Licenciatura em Educação do Campo, pelas especificidades que a compõem, carece de uma
atenção especial às questões relativas aos recursos utilizados nos processos educativos. Esses
recursos quase sempre são produzidos por sujeitos que nada sabem do campo, de suas
especificidades, do público que vai atender, da realidade em que será utilizado.
Normalmente, trazem subjacentes ideologias que não casam com a identidade cultural e social
dos sujeitos envolvidos, não são elaborados para e pelos sujeitos do campo. Sobre este tema
Arroyo traz uma reflexão bastante pertinente, quando diz que:
É urgente rever essa cultura e estrutura seletiva e perguntar: que estrutura deescola dará conta de um projeto de educação básica do campo? A estruturaque tenha a mesma lógica do movimento social, que seja inclusiva,democrática, igualitária, que trate com respeito e dignidade as crianças, jovens e adultos do campo, que não aumente a exclusão dos que já são tãoexcluídos. Tarefa urgentíssima para a construção da educação básica do
campo: criar estruturas escolares inclusivas3 (ARROYO, 2004, p.86).
Quando Arroyo fala desta necessidade de rever as estruturas, fala não somente dos
2 A Pedagogia da Alternância atribui grande importância à articulação entre momentos de atividade no meiosocioprofissional do jovem e momentos de atividade escolar propriamente dita, nos quais se focaliza oconhecimento acumulado, considerando sempre as experiências concretas dos educandos (TEIXEIRA,BERNARTT & TRINDADE, 2008, p.229).
3 Grifo do autor.
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prédios físicos, mas de tudo aquilo que circunda e compõe a escola do campo, ele deixa isto
bem claro, quando diz que “a questão que teremos de nos colocar é: que escola, que
concepção e prática pedagógica dará conta do direito à educação básica” (idem, p.73) desses
sujeitos do campo? De acordo o autor, há um enorme descompasso entre o avanço da
consciência dos direitos, promovido pela mobilização dos movimentos sociais organizados, ea educação escolar propriamente dita. Isto porque os sujeitos do campo sabem de seus
direitos, mas esses lhes são negados por uma série de fatores, dentre eles, a falta de formação
contextualizada para atuação nas escolas do campo.
As escolas do campo precisam construir currículos que privilegiem os saberes
construídos por cada comunidade, mas precisam também ter como foco os saberes
necessários a uma cidadania planetária, os saberes que preparam para a produção e o trabalho,
que preparam para a emancipação, para a justiça, para a realização plena do ser humano como
humano (idem, pp. 82-83) e que lhe dê o direito de se constituir cidadão que deseja continuar no campo e ter possibilidade de sobreviver e viver com dignidade a partir do seu próprio
trabalho e da sua própria produção. Ainda sobre esta questão dos saberes nos falam Santos,
Meneses & Nunes (2005) ao argumentarem que:
Ao longo dos séculos, as constelações de saberes foram desenvolvendoformas de articulação entre si e hoje, mais do que nunca, importa construir um modo verdadeiramente dialógico de engajamento permanente,articulando as estruturas do saber moderno/científico/ocidental àsformações nativas/locais/tradicionais de conhecimento. O desafio é, pois, deluta contra uma monocultura do saber, não apenas na teoria, mas como uma
prática constante do processo de estudo, de pesquisa-ação. Como Nandy(1999) refere, o futuro não está no retorno a velhas tradições, pois nenhumatecnologia é a neutra: cada tecnologia carrega consigo o peso do modo dever e estar com a natureza e com os outros. O futuro encontra-se, assim, naencruzilhada dos saberes e das tecnologias. (p. 54)
Como diz Nandy (idem), nenhuma tecnologia é neutra, todas elas trazem em si as
ideologias de quem as cria, mas também trazem as ideologias de quem as utilizas e para quê
utiliza. Depende de cada usuário os usos que faz, as intenções ao utilizar, os objetivos do uso
enfim. Infelizmente, as Tecnologias de Informação, Comunicação e Expressão (NTICE's)
ainda estão nas mãos de poucos, embora muitos programas busquem a inclusão digital dosmenos favorecidos. Na LEdoC foi criado um componente curricular denominado
Comunicação e Tecnologias da Informação que tem como objetivo principal instrumentalizar
os educandos com conhecimentos acerca do uso destas tecnologias, seja para
desenvolvimento da comunidade, seja para melhoria do trabalho pedagógico.
As escolas do campo, na maior parte dos casos, ainda prescindem do uso do
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computador e da Internet por diversos fatores: falta de equipamentos e conectividade,
ausência de formação dos docentes para utilização desta tecnologia, descaso dos governos em
relação às escolas do campo por acharem que no campo não seja necessária a utilização de
redes digitais, caindo no debate simplista de que as “escolinhas rurais” não precisam disto.
Prover as escolas do campo de equipamentos, conectividade e formação para uso destastecnologias propiciaria maiores possibilidades de se fazer um casamento dos saberes locais
dos sujeitos do campo com os saberes globais.
É preciso dotar de oportunidades de conhecimento de mundo e de desenvolvimento as
comunidades campesinas e o ciberespaço pode ser este interlocutor, trazendo aos sujeitos do
campo informações que auxiliem na melhoria da produção agrícola familiar, na
comercialização de sua produção, na busca de tecnologias sociais apropriadas para suas
comunidades. Faz-se necessário que pensemos em estratégias que promovam este
desenvolvimento rural sem que os sujeitos do campo tenham que abandonar seu lócus devivência, estudo e produção para ir em busca destes conhecimentos.
O uso de Novas Tecnologias de Informação, Comunicação e Expressão no contexto da
educação do campo
Um grande passo para o avanço das escolas do campo em direção ao atendimento
destas necessidades foi dado a partir da instalação de Casas Digitais nas comunidades
assentadas da reforma agrária, das quais fazem parte os educandos da LEdoC, turma 2. A
Casa Digital4 é um telecentro equipado com dez computadores, mobiliário, impressora,
webcam e servidor, além de tecnologia de transmissão de voz pela Internet. É um projeto
fruto de parceria entre o Ministério das Comunicações e o Ministério do Desenvolvimento
Agrário, que conta com a LEdoC-UnB como parceira na formação dos gestores destas casas,
na região Centro-oeste.
Ao longo de nosso trabalho docente na LEdoC surgiram indagações que nos fizeram
refletir sobre uma maneira de promover a inclusão, na escola do campo, de tecnologias de
produção de materiais didático-pedagógicos digitais, também denominados objetos de
aprendizagem, que sejam elaborados a partir da realidade citada e construídos pelos sujeitos
4 O projeto Territórios Digitais faz parte do Programa Territórios da Cidadania. Os Territórios Digitais consistena implantação de Casas Digitais – espaços públicos e gratuitos com acesso a computadores e Internet – emassentamentos, escolas agrícolas, comunidades tradicionais, sindicatos e Casas Familiares Rurais. Em 2008,serão alcançados os primeiros Territórios da Cidadania. A partir de 2009 e até 2010, a meta do projeto é ter Casas Digitais nos 120 territórios do Programa.
Fonte: http://www.nead.org.br/index.php?acao=princ&id_prin=67
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que constituem esta realidade. Estas indagações se tornaram o que denominamos questões de
pesquisa, que são: de que forma seria possível a construção/elaboração de materiais didático-
pedagógicos digitais e objetos de aprendizagem pelos graduandos da educação do campo,
como elementos de sua formação, mas também como forma de disseminação de informações
e conhecimentos às demais comunidades campesinas? Poderiam estes materiais serem produzidos nas Casas Digitais de suas próprias comunidades, nos chamados Tempo
Comunidade?
Pensamos nesta construção baseada em uma concepção trazida por Santos, Meneses &
Nunes (2005) em que,
O conceito de “construção” é aqui um recurso central para a caracterizaçãodo processo de produção tanto do conhecimento como dos objetostecnológicos. Construir, nessa perspectiva, significa pôr em relação e eminteração, no quadro das práticas socialmente organizadas, materiais,instrumentos, maneiras de fazer, competências, de modo a criar algo que não
existia antes, com propriedades novas e que não pode ser reduzido à somados elementos heterogêneos mobilizados para a sua criação. Não faz sentido,assim, a oposição entre o real e o construído, tantas vezes invocada paraatacar os estudos sociais e culturais da ciência e da tecnologia. O que existe – conhecimento, objetos tecnológicos, edifícios, estradas, obras culturais – existe porque é construído (2005, p.42).
Desta forma, além de dotarmos os sujeitos de informações que subsidiariam suas
práticas pedagógicas, traríamos a possibilidade de atender a vários desafios e propostas de
ação elaborados a partir das Conferências por uma Educação Básica do Campo (ARROYO,
CALDART & MOLINA, 2004, pp. 165-174) . Alguns deles são:
Debater o papel da educação no processo de construção do novo projeto de
desenvolvimento;
Multiplicar este debate em todas as escolas do meio rural e urbano e nas demais
instância educativas;
Compreender as raízes dos povos do campo (valores, moral, tradição, etnias,
festas, religiosidade popular, histórias da luta do povo, símbolos, gestos,
mística...) e incentivar produções culturais próprias, sensibilizando a sociedade
para valorizá-las;
Construir trabalho pedagógico, específico e articulado, com técnicos,
pesquisadores e educadores para que busquem conhecer e respeitar os valores
culturais dos povos do campo, de acordo com as suas regiões, tendo como eixo a
construção do conhecimento e o processo participativo;
Garantir acesso à cultura tecnológica contemporânea, desde que apropriada;
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Buscar apoio à produção e à divulgação de materiais didáticos e pedagógicos que
tratem de questões de interesse direto das pessoas que vivem no campo;
Constituir uma rede de educadores e educadoras do campo, organizando um
banco de dados com registros de experiências, pesquisas, publicações para
facilitar o intercâmbio das mesmas; Reorganizar as formas, os currículos e os métodos dos cursos de formação de
educadores/educadoras, para que atendam à Educação Básica e à Educação
Especial, tendo como referência a realidade do campo;
Produzir e publicar materiais de apoio pedagógico às escolas do campo.
Tais desafios apresentam-se como as melhores justificativas para a construção deste
projeto de pesquisa que ora se apresenta. Desse conjunto de elementos surge o objetivo geral
desta pesquisa que é: investigar de que forma seria possível a construção/elaboração de
materiais didático-pedagógicos digitais e objetos de aprendizagem pelos graduandos da
educação do campo, como elementos de sua formação, mas também como forma de
disseminação de informações e conhecimentos às demais comunidades campesinas.
Como desdobramento deste objetivo geral, traçamos os seguintes objetivos
específicos:
Realizar levantamento de experiências, no Brasil e no exterior, de uso do
computador na educação do campo;
Construir uma proposta de estratégias e metodologias transdisciplinares de
produção de objetos de aprendizagem baseada nos conhecimentos do campo e
para os sujeitos do campo;
Produzir, juntamente com os sujeitos do campo, materiais pedagógicos digitais
nos Tempos Comunidade;
Promover a catalogação e divulgação destes materiais na Rede Mundial de
Computadores com a finalidade de subsidiar o trabalho pedagógico de outras
comunidades campesinas gerando, assim, a multiplicação de experiências bem
sucedidas e como forma de fortalecer a Educação do Campo; Pesquisar a atuação dos sujeitos em formação a partir da produção e utilização dos
materiais produzidos.
Discutir todas estas questões e construir bases teóricas que respondam e subsidiem
esta proposta de pesquisa requer trazer estudiosos que têm escrito sobre temas de extrema
relevância para a investigação que se intenta realizar. Para isto, tentamos propiciar diálogos
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entre os autores que mostrem a importância de se construir alternativas de formação de
educadores do campo subsidiadas por práticas pedagógicas inovadoras, que tenham como
base uma educação emancipadora, voltada para a realidade do campo e que seja pautada nos
paradigmas da complexidade e da transdisciplinaridade, visando a formação integral dos
sujeitos envolvidos. Sobre esta formação, em sua proposta de formação integral, Saturnino dela Torre e O. Barrios (2002)
concebem a formação como mudança e têm como referentes ou pressupostos teóricos da mudança como organizadora conceitual darealidade e princípio de construção do conhecimento; a consciência comoconstruto que faz presente o que estava ausente, visível o invisível, possívelo imaginário, a conformação ou tensão inferencial que está na origem detoda mudança; a complexidade como qualidade inerente à ação, ao pensamento e sentimento humanos; a comunicação como veículo deexpressão e realização. (...)É a comunicação, em seu sentido mais amplo,que nos humaniza (2002, p. 78 apud MORAES, 2008, p.215).
Formação docente para atuar com educação mediada por computador
Um dos grandes desafios dos cursos de formação docente na atualidade é construir
práticas pedagógicas inovadoras de modo a privilegiar os saberes necessários a uma cidadania
planetária e que se utilize de ferramentas atuais, instigadoras e prazerosas em seu trabalho
pedagógico. Isto porque a maioria dos docentes foi formada em um paradigma educacional
diferenciado, em que era importante que se seguisse uma lista de conteúdos estanques,
descontextualizados da realidade dos educandos e pela simples memorização desses
conteúdos, que mais tarde não teriam uso na vida da maioria das pessoas que os aprendiam.
Com o advento das redes de computadores e, principalmente, da Internet, esta memorização
tornou-se obsoleta, já que a qualquer momento se pode ter acesso a qualquer conteúdo que se
necessite ou queira pela Web.
Como permanecer com metodologias tradicionais nos processos educativos com tanta
oferta de informações aos sujeitos fora dos ambientes educacionais? As aulas têm se tornado
desinteressantes e massivas quando não trazem para dentro da sala de aula e dos espaços
educativos o uso de tecnologias digitais e muitos professores não têm percebido isto.Associam o insucesso escolar e a indisciplina aos educandos, dizendo que eles não valorizam
o aprendizado e que “não querem aprender nada”. Entretanto, o que se tem notado nas escolas
que se abriram aos processos educativos mediados pelo computador e pelas tecnologias
digitais é que os estudantes se mostram totalmente motivados e estimulados, participando dos
processos educativos, muitas vezes, como protagonistas, trazendo contribuições significativas
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por se perceberem conhecedores das ferramentas utilizadas.
Oliveira (2006) afirma que a compreensão das múltiplas relações em que o indivíduo
está inserido deverá ter como proposta de educação um modelo completamente diferente
daquele que se tem caracterizado em nossa sociedade, em que se compreende o fenômeno
educativo como pura transmissão do saber, colocando o aprendiz como mero receptor deinformações, incapaz de desenvolver a criticidade sobre informações e saberes trabalhados,
por isso mesmo, alheio à necessidade de transformação da realidade social vigente.
Também nosso sábio Paulo Freire (1996) afirma que
A Educação que se impõe aos que verdadeiramente se comprometem com alibertação não pode fundar-se numa compreensão dos homens como seres‘vazios’ a quem o mundo ‘encha’ de conteúdos; não pode basear-se numaconsciência espacializada, mecanicistamente compartimentada, mas noshomens como ‘corpos conscientes’ e na consciência como consciênciaintencionada ao mundo. Não pode ser a do depósito de conteúdos, mas a da
problematização dos homens em suas relações com o mundo (p.67).Em nosso ponto de vista, a formação docente precisa restituir ao educador a
possibilidade de controlar seu trabalho, de construir seu saber, de produzir novas práticas
pedagógicas consonantes com os novos tempos, de buscar a função social da escola onde ele
atua, de definir com que concepção de educação ele trabalha, o que exige, segundo Arroyo
(2000), a redefinição da função do especialista (docente), supostamente responsável pelo
controle do produto e da função social da escola e que na sociedade atual necessita se situar
em um novo paradigma, com novos sujeitos envolvidos, que pensam diferente, se relacionam
diferente e aprendem diferente daqueles aprendidos na maior parte dos cursos de formação
docente.
As novas tecnologias de informação, comunicação, e expressão – NTICE's – em
especial o computador e o acesso à Internet, têm proporcionado aos indivíduos novas formas
de aprender e de pensar. A expansão de possibilidades nessas formas de aprendizagem não
prescinde da relação educativa e do importante papel do mediador/facilitador como
articulador dos saberes a serem construídos pelos sujeitos (CASTRO, 2007, p. 92). O papel do
educador precisa se transformar como e com tanta velocidade quanto se transformam as
formas de aprendizagem.
O docente deveria ser, em sua essência, um pesquisador e deveria ser um constante
aprendiz, um formulador de problemas e dúvidas que incitem os educandos, deveria ser um
parceiro no processo de construção de conhecimentos. Segundo Fagundes (2006), as novas
funções do educador são exigentes: ele precisa tornar-se um orientador confiável, um
negociador nas buscas de problematização e testagens das informações disponíveis nas fontes
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da rede mundial e, sobretudo, nas buscas de novas respostas. Para Moraes (1997) a qualidade
educativa é possível, pois,
as instrumentações eletrônicas, se adequadamente utilizadas em educação, poderão se constituir em ferramentas importantes capazes de colaborar paraa melhoria da qualidade do processo de aprendizagem, estimulando a criação
de novos ambientes educacionais e de novas dinâmicas sociais deaprendizagem, colaborando, assim, para o surgimento de certos tipos dereflexões mentais que favorecem a imaginação, a intuição, a capacidadedecisória, a criatividade, aspectos estes fundamentais para a sobrevivênciaindividual e coletiva (MORAES, 1997, p. 09).
O trabalho com NTICE's implica mudanças que não passam apenas pelo querer dos
docentes, passam por todo o sistema e dependem, para terem sucesso, de formação adequada
para uso de tecnologias em sala de aula, de transformação na organização da escola e dos
espaços educativos, na dinâmica de sala de aula (o que também tem a ver com o número de
alunos por turma), no papel do educador e dos educandos e na relação de todos eles com o
conhecimento. Uma questão fundamental que nos traz Valente sobre a formação docente é
que:
Sem o conhecimento técnico será possível implantar soluções pedagógicasinovadoras e vice-versa; sem o conhecimento pedagógico os recursostécnicos disponíveis serão adequadamente usados? (2005, p.23)
A esta complexa questão ele mesmo responde que é necessário se observar dois
aspectos importantes na implantação das NTICE's na educação:
Em primeiro lugar, o domínio do técnico e/ou do pedagógico não deve acontecer
de modo estanque, um separado do outro. O melhor, de acordo com Valente (op.
cit.), é quando os conhecimentos técnicos e pedagógicos crescem juntos,
simultaneamente, um demandando novas ideias do outro.
O segundo aspecto diz respeito à especificidade da cada tecnologia com relação às
aplicações pedagógicas. O educador deve conhecer o potencial que as tecnologias
e mídias têm a oferecer e como pode ser explorado nas situações educativas.
Valente (2005) ainda diz que é a experiência pedagógica do educador que vai ajudá-lo
a investigar e descobrir se o uso do computador está ou não contribuindo para a construção de
novos conhecimentos. É o docente que vai compatibilizar as necessidades dos educandos e os
objetivos pedagógicos traçados pelo coletivo envolvido.
Percurso metodológico...
A compreensão da ciência como uma atividade que é parte da cultura e quetem uma história é central para dar sentido às ações desenvolvidas pelos
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investigadores. De fato, por muito “objetiva” que se pretenda que sejaqualquer investigação, esta nunca é neutra, pois a formulação das hipóteses,a seleção das abordagens, as linguagens e imagens utilizadas para arealização e interpretação dos resultados da investigação são inseparáveisdas influências culturais que os cientistas incorporam e que as instituições e políticas científicas contribuem para reproduzir ou transformar. (SANTOS,MENESES, & NUNES, 2005, p. 57)
Por acreditarmos que em uma pesquisa não há neutralidade, como bem arrazoam
Santos, Meneses & Nunes (idem), pensamos esta pesquisa em uma perspectiva
transdisciplinar e participante, com envolvimento direto dos sujeitos pesquisados e
pesquisadores, transformando o movimento de ação-reflexão-ação um constante ciclo de
mudança e desenvolvimento do sujeito coletivo envolvido. Santos, Meneses e Nunes nos
auxiliam na compreensão desta ideia quando dizem que
O próprio ato de conhecer, como não se cansaram de nos lembrar osfilósofos ligados ao pragmatismo, é uma intervenção sobre o mundo, que
nos coloca neste e aumenta a sua heterogeneidade. Diferentes modos deconhecer, sendo necessariamente parciais e situados, terão conseqüênciasdiferentes e efeitos distintos sobre o mundo. (SANTOS, MENESES, & NUNES, 2005, p.42)
A intenção primeira nesta investigação é a de desenvolver uma pesquisa de base
teórico-epistemológico-metodológica transdisciplinar (MORAES & VALENTE, 2008) e que
se propõe: construtivista, interacionista fundada na intersubjetividade dialógica, dinâmica,
não-linear, interativa, sociocultural, afetiva, transdisciplinar e aberta.
Desse modo e para trazer a discussão ao campo da práxis, estamos realizando,
inicialmente, uma pesquisa bibliográfica que servirá de base para a construção da prática
pedagógica e auxiliará no levantamento de estratégias que possam auxiliar na produção dos
objetos de aprendizagem. Também está sendo realizado um levantamento de experiências, no
Brasil e no exterior, de uso do computador na educação do campo que nos auxilie na
construção das estratégias metodológicas que permearão esta investigação.
Concomitante à pesquisa bibliográfica e à pesquisa por experiências nesta área, está
sendo realizada uma investigação acerca das comunidades e educandos que fazem parte da
pesquisa, de modo a realizar um levantamento das especificidades destes para que o trabalho
seja contextualizado.
Por fim, e ao mesmo tempo, vem se constituindo o sujeito/pesquisador coletivo junto
às comunidades em que se concretizará a pesquisa propriamente dita. A partir dessa
constituição a pesquisa passará a ser do pesquisador coletivo, inserido em uma investigação-
ação em que pesquisador e sujeitos se entrecruzem numa relação dialógica de investigação e
produção de conhecimento. E onde o objetivo maior passa pela mudança da situação atual, a
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transformação de forma libertadora e crítica (BARBIER, 2004).
Limites e perspectivas das novas estratégias formativas
Até o presente momento, a pesquisa tem se desenvolvido nos chamados Tempo
Escola, em que os estudantes estão presentes fisicamente na Universidade, e que oscomponentes curriculares são trabalhados a partir da matriz curricular delineada. A turma
escolhida em que está acontecendo a pesquisa é a denominada Turma 2 e que se encontra,
neste momento, em seu quinto Tempo Comunidade. Esta ocorrência se deve ao fato de que as
Casas Digitais das comunidades envolvidas estão em fase de implantação e implementação, o
que ainda dificulta a pesquisa in locu.
Com a implementação das Casas Digitais um novo espaço de interação e construção
de conhecimentos poderá concretizar, ou seja, o ciberespaço e a utilização das redes sociais e
dos ambientes virtuais de aprendizagem poderão se tornar: novos espaços de interação,
espaços de autoria, de divulgação de suas produções, de pesquisas, enfim, os educadores em
formação poderão usufruir da Internet e seus recursos também como espaços de formação. Já
está instalado e sendo preparado para uso do ciberespaço como mais um espaço formativo o
Ambiente Virtual de Aprendizagem Moodle, que servirá de aporte para os diálogos diversos
necessários ao trabalho no Tempo Comunidade, seja espaço para relações internas da
Licenciatura ou mesmo para divulgação de suas ações na rede Web, o que possibilitará
contatos com pares em localidades as mais diversas.
Torna-se necessário destacar, ao pensarmos em trazer os resultados obtidos até o
momento, que os sujeitos envolvidos na pesquisa, em sua quase totalidade, nunca haviam
utilizado um computador antes das experiências desta formação. Os processos desencadeados,
até o momento e a partir do componente curricular Comunicação e Tecnologias da
Informação, são: aulas nos quatro semestres letivos que desencadearam a capacidade de:
criação de apresentações em editores para este fim; produção de vídeos a partir de filmagens
amadoras ou de programas com utilização de imagens; utilização das NTICE's nas aulas e
apresentações de seminários; registro das realidades vivenciadas no campo e a partir de sua
cultura com apoio do computador; armazenamento de arquivos diversos na Web. Vale lembrar
ao leitor que antes das referidas aulas a capacidade de expressão relacionada a elementos de
sua cultura como dança, místicas, música era apenas física e agora, com apenas quatro
semestres de trabalho em uma área que traz uma carga horária ínfima em comparação aos
demais componentes curriculares, os educandos desenvolveram a capacidade de expressão
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pelos meios digitais, o que potencializa e promove a divulgação às expressões de sua cultura.
O caminho até a conclusão desta pesquisa ainda é longo e tortuoso devido a inúmeros
fatores que estão bem mais relacionados à exclusão social histórica pela qual passam os
sujeitos envolvidos do que pela resistência ou pela falta de habilidade inicialmente
apresentada.
Referências
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i. Wanessa de Castro, Doutoranda
Universidade de Brasília (UnB) – Programa de Pós-graduação em Educaçã[email protected] ii. Márcio Ferreira, DoutorandoUniversidade de Brasília (UnB) – Programa de Pós-graduação em Educaçã[email protected]